1 Mass Media: um enfoque político-social Andréia Zulato Marçolla-Moreira1 José Geraldo Fernandes de Araújo2 1 – A COMUNICAÇÃO NO CONTEXTO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO De todas as mudanças tecnológicas que as sociedades tradicionais do mundo subdesenvolvido têm sofrido nas últimas décadas – mudanças na produção de energia, nos métodos agrícolas, nas técnicas industriais, na natureza dos armamentos – são as mudanças relacionadas com a comunicação que revelaram ser as mais fundamentais e penetrantes em seus efeitos sobre a sociedade humana. Todas as reviravoltas nas economias, nas políticas e nas estruturas sociais das novas nações – como pode-se observar diariamente em jornais - têm suas origens numa alteração radical nas percepções do homem comum, durante séculos, têm sido tradicionais no que diz respeito à natureza humana e à extensão do mundo em que vivem. Essas mudanças têm sido feitas por intermédio da comunicação e do transporte moderno. O desenvolvimento da moderna comunicação, é um dos fenômenos do desenvolvimento econômico. Os meios de divulgação de massa e suas respectivas organizações ganharam difusão a fim de suplementar e complementar os canais orais da sociedade tradicional. O desenvolvimento deles corre paralelo ao de outras instituições da sociedade moderna, tais como escolas e indústrias e está intimamente relacionado com o crescimento de alguns dos índices de crescimento social e econômico em geral, tais como alfabetização, renda per capita e urbanização. Todos os elementos essenciais de uma sociedade desenvolvem-se conjuntamente. Pode acontecer, num dado período, que um elemento se desenvolva mais rapidamente do que outros, mas a longo prazo, esses desenvolvimentos se equiparam. Assim, quando um país atingiu estágio relativamente adiantado de desenvolvimento dos meios de comunicação de massa (mass media), pode-se crer, que sua renda per capita, sua proporção de habitantes urbanos, sua percentagem de alfabetizados, seus produtos industriais, sua proporção de crianças freqüentando escolas, são também relativamente altos. Quando se depara com um país 1 Jornalista, Mestranda em Extensão Rural, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG 2 Professor da Universidade Vale do Rio Doce, Governador Valadares, MG. 2 em que renda, urbanização, alfabetização, industrialização, freqüência escolar e outros fatores sociais são relativamente grandes, então é quase certo que o número de aparelhos receptores de rádio, a circulação de jornais e o fluxo de informações por todo país serão também grandes. Segundo Harold Laswell, citado por LERNER & SCHRAMM (1973), cada sociedade necessita investigar seu meio ambiente, obter consenso sobre decisões importantes e socializar seus novos membros. Para atender a esses propósitos ela forma observadores, repórteres, professores, desenvolvendo um sistema de tomada de decisão e de liderança. A estrutura social, de acordo com SCHRAMM (1965), reflete a estrutura e o desenvolvimento da sociedade, e visualiza muito bem a interação entre comunicação e desenvolvimento. De acordo com o autor, um sistema mais eficiente de comunicação facilita o desenvolvimento industrial, e este torna mais fácil o desenvolvimento das comunicações. Quanto mais as pessoas se sentem capazes de tomar parte nas atividades políticas, mais sentirão a necessidade de educação e informação. Quanto mais informação recebem , mais interessadas estarão nos acontecimentos políticos. O autor ainda expõe que a história típica de desenvolvimento dos meios de comunicação, em países onde estão mais avançados, é uma cadeia de interação em que a educação, a indústria, a urbanização, a renda nacional, a participação em políticas e os meios de comunicação coletivos desenvolveram-se todos juntos, estimulando-se reciprocamente. Todavia, no caso brasileiro, em que as condições de desenvolvimento são muito diferentes daquelas que prevaleceram em países hoje mais adiantados, a posição dos meios de comunicação de massa apresenta algumas perspectivas especiais, segundo expõem SILVA & MELO (1985): “Na sociedade brasileira, as relações entre Estado e indústria cultural são marcadas por um grande poder de controle político e econômico desde sobre aquela e por conflitos aparentemente injustificáveis já que, em princípio, tanto um quanto outra defendem os interesses dos grupos sociais. Ao contrário do que ocorre nos países capitalistas centrais em que a indústria cultural é parte integrante e efetiva da sociedade civil, no Brasil a presença do Estado nos meios de comunicação é muito mais ostensiva.” O desenvolvimento dos meios de comunicação de massa é, naturalmente, um dos requisitos para a modernização da sociedade, ao mesmo tempo, sinais dela. Mas os meios de comunicação social tradicionais continuaram a exercer sua influência, mesmo depois do aparecimento dos jornais e das transmissões radiofônicas. Os canais interpessoais de 3 comunicação desempenham importante papel por serem intermediários dos efeitos dos meios de comunicação de massa até nas sociedades mais adiantadas. 2 – TRANSFORMAÇÕES E MUDANÇAS SOCIAIS MACEDO & FONSECA (1985), argumentam que os veículos de comunicação de massa são agentes da transformação social. O tipo específico de transformação que se pretende que eles condicionem é a passagem a novos costumes e novas práticas e, em alguns casos, a novas relações sociais. Por trás dessas modificações, deve, necessariamente, haver transformações substanciais e concepções, crenças, técnicas e normas sociais. De acordo com SODRÉ (1984), não existe desenvolvimento econômico, nem um processo de transformação sócio-econômica sem informação. Ela é a necessidade comum a todo e qualquer processo. PASQUALI (1973), argumentando sobre as contradições entre comunicação e informação, expõe que não é uma estrutura social que determina a “posteriori” seus meios preferenciais de comunicação, mas a preponderância de um ou outro sistema comunicativo configura este ou aquele tipo de conveniência, comunidade ou sociedade. O predomínio da comunicação sobre a informação corresponde a uma sociedade de público, ao passo que ao predomínio de informação sobre a comunicação corresponde uma sociedade de massas. É coerente referir que o desenvolvimento dos meios de comunicação relacionam-se diferentemente com renda, urbanização e alfabetização em culturas e lugares diferentes, indicando que, de alguma forma, eles estão desempenhando diferentes papéis no desenvolvimento de diferentes regiões e nações. Ou, até mesmo, possam estar desempenhando diferentes papéis em diferentes estágios de desenvolvimento. 3 – O DESENVOLVIMENTO DA MÍDIA IMPRESSA, DA TELEVISÃO E DO RÁDIO Segundo SILVA (1983), após o golpe militar de 1964, a economia brasileira sofreu uma série de modificações, para completar a participação do Brasil no capitalismo monopolista internacional, processo iniciado na segunda metade da década de 50. Ela passa de forma hegemônica de acumulação de capital e monopolista. Isto faz com que se ampliasse, consideravelmente, o contingente de classe média, incluindo-se nela até alguns setores do 4 operariado mais especializado. Desta forma, gerou-se um desenvolvimento econômico e consequentemente um desenvolvimento da produção cultural nacional, em virtude da ampliação do mercado de consumo de bens simbólicos. Assim, a indústria cinematográfica nacional teve grande impulso neste período, o mesmo ocorrendo com a indústria fonográfica, editorial, televisiva, inclusive com a colocação de produtos brasileiros no mercado internacional. Estas modificações, porém, não foram suficientes para levar o sistema de comunicação, bem como o sistema cultural a todas as classes que compõem a sociedade brasileira. Mesmo o rádio e a televisão, que conseguem atingir grande contingente da população, deixaram de lado boa parte da população, principalmente da zona rural e nos Estados Norte e Nordeste. A crise econômica pós-64 provoca transtornos na indústria cultural do país, como um todo, a partir de 1975. A classe média, principal setor de consumo dessa indústria, está entre as maiores vítimas da crise econômica que se estende até hoje. Em conseqüência sendo produtos não essenciais, os discos, livros, filmes passam a ser menos consumidos. A situação dos grandes meios de comunicação, como o jornal, o rádio e a televisão reflete o próprio estágio de desenvolvimento do país, apesar da TV ter se reafirmado como veículo neste período. Como expõem MACEDO & FONSECA (1985), como todos os países subdesenvolvidos, o Brasil depara com problemas como o analfabetismo, que atinge grande parte da população adulta, com uma vasta extensão territorial, aliada a uma distribuição de renda completamente desnivelada, além da existência de diferentes padrões culturais mantidos por desníveis regionais acentuados. Há ainda que se levar em consideração o fato dos meios de comunicação sofrerem grande influência internacional e de haver uma interferência direta do Estado, ou na forma de anunciante, ou na forma de subsidiador puro e simples, em todos os campos de produção cultural, do cinema ao teatro, da televisão aos jornais, das revistas ao folclore. Obviamente, a estrutura dos meios de comunicação de massa funciona de acordo com esse quadro. MATTOS (1996), argumenta que o Estado sempre exerceu um papel ativo no desenvolvimento e regulação dos meios de comunicação de massa e, como resultado desta ação, o que existe hoje, ou o que deixou de existir, no terreno da política de comunicação, foi criado nas últimas três décadas. Durante o período de 1964 a 1988, segundo o autor, o Estado criou várias agências reguladoras, destacando-se o Ministério das Comunicações. A criação deste ministério, em 1967, contribuiu não apenas para a implantação de importantes mudanças 5 estruturais no setor das telecomunicações, como também para a redução da interferência de organizações privadas sobre agências reguladoras e crescimento da influência oficial no setor. Em contrapartida, isto facilitou a ingerência política nos veículos, interferindo até mesmo no conteúdo. 3. 1 –Jornais De um modo geral, os meios de comunicação de massa no Brasil possuem uma programação e uma audiência caracteristicamente urbana. O jornal, por exemplo, além de ser um veículo tipicamente urbano é também um privilégio da elite, já que grande parte da população brasileira não lê jornais, o que pode ser observado pelo pequeno número das tiragens dos jornais brasileiros. Enquanto nos países desenvolvidos há um crescimento paralelo dos jornais em relação aos meios audiovisuais (rádio e TV) e nos países em desenvolvimento o crescimento do rádio e da televisão superou em muito a produção de jornais, que permaneceu estacionária ou apresentou crescimento vegetativo, no Brasil ocorreu diferente. Nas três últimas décadas, houve uma regressão no consumo diário de jornais. Segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), citado por MELO (1985), registraramse flutuações nas tiragens dos jornais, mostrando que o brasileiro lê cada vez menos jornais. De acordo com MACEDO & FONSECA (1985), no início da década de 50 havia para cada 100 habitantes em todo o país uma proporção de 10,6 jornais diários. Essa medida caiu para 5,4 no início da década de 60, chegando a 3,5 jornais diários no início de 70. A situação permaneceu inalterada na década de 80. Pode-se ainda detectar uma relação divergente entre o crescimento da população, principalmente urbana, e a tiragem dos jornais diários. Enquanto a população cresce, os exemplarem diminuem. Como exemplo: em 1952 a tiragem diária era de 5.750.000 jornais; dez anos depois a população brasileira aumentou cerca de 20 milhões, enquanto isso, a tiragem dos jornais decrescia para 3.837.000 exemplares. Nas décadas de 50 e 60, a população urbana cresceu em aproximadamente 20% sem que as tiragens de jornais viessem a ser afetadas. O crescimento da população urbana ocorreu, não por um processo natural de desenvolvimento econômico, mas pelo fenômeno do êxodo rural, que foi desencadeado em virtude da estrutura agrária do país que não oferece condições ao homem de permanecer no campo. Assim, este aumento da população urbana através de inchamento das metrópoles, que acolhem, em sua periferia, em condições subumanas, os habitantes expulsos do campo. Tratase de um contingente migratório constituído por analfabetos, que reforça o exército de 6 desempregados e subempregados urbanos, marginalizados do consumo e, consequentemente, incapazes de se converterem em leitores de jornais. Outro fator que influi na diminuição das tiragens de jornais é o modelo econômico vigente nas últimas décadas, pautado pelo arrocho salarial, o eu reduz drasticamente a capacidade de consumo dos trabalhadores urbanos, tornando o jornal um produto economicamente inacessível à grande maioria da população. Outro fator foi o regime político imposto em 1964 pela oligarquia militar que caracterizou-se pela castração política, tornando o exercício político um privilégio dos poucos civis que se afinam coma doutrina de segurança nacional, além de concentrar esforços para a despolitização das classes trabalhadoras e das novas gerações. Isso fez com que a sociedade civil se ausentasse da participação nos destinos do país durante duas décadas, o que criou um compromisso inconsciente de grande maioria da população no tocante ao exercício da cidadania, o que torna, em certo sentido, supérflua a leitura do jornal diário. Por outro lado, fez surgir um outro tipo de imprensa, a imprensa alternativa. O agravamento das condições econômicas e sociais da população pobre é constante em todo o período pós-64, havendo, apenas, variações de intensidade em épocas ou regiões diferentes. Esse agravamento leva o povo a se manifestar, protestar. E o poder político atua de diversas formas para impedir essas manifestações, especialmente através da repressão violenta. No fim da década de 70, houve uma multiplicação de impressos mimeografados ou em off-set nos bairros da periferia das grandes cidades, principalmente em São Paulo. Rivers, Miller e Gangy, citados por MATTOS (1996), desenvolveram uma estruturamodelo para o estudo das relações entre Estado e os veículos de comunicação. Nesta estrutura, eles indicaram meios através dos quais o impacto do governo sobre os veículo pode ser estudado. Adaptando este modelo, podemos dizer que, no Brasil os instrumentos de controle pelos quais o Estado pode exercer sua influência na mídia impressa ou na mídia eletrônica incluem todas as técnicas e processos. Dentre os principais mais utilizados estão: legislação, ações judiciais, ameaças oficiais, pressões políticas e econômicas, bem como a censura policial. De acordo com SALLES (1985), os jornais brasileiros, quase todos são locais. Mas há exceções. Nas grandes capitais há sempre um jornal que além do domínio local detém a grande força política do interior. Por exemplo, “O Estado de Minas” não é somente o jornal mais importante de Minas Gerais, embora, segundo o autor, na região de Uberaba e Uberlândia a “Folha de São Paulo” tenha maior penetração. O próprio “O Estado de São Paulo” tem grande 7 penetração na região, e inclusive o “Jornal do Brasil” e “O Globo” vendem mais. Alguns jornais regionais, dada sua importância em nível nacional, acabam por extravasar sua importância tão-somente local. São exemplos clássicos “O Estado de São Paulo”, “Folha de São Paulo”, “Jornal do Brasil” e “O Globo”, embora, nem sempre tenham uma circulação efetivamente nacional. SALLES(1985) ainda expõe que com o passar dos anos, vários jornais foram extintos: o “Diário de Notícias”, que foi durante muito tempo o jornal de maior circulação no Brasil, o “Correio Paulistano”, o “Diário de São Paulo”, o “Correio do Povo de Porto Alegre”, sendo que no sul do país o jornal que predomina é o “Zero Hora”, muito bem conceituado nacionalmente. A imprensa dita “nobre” cresceu. Um exemplo disso é a liderança de “O Globo” e o crescimento da Gazeta Mercantil, que quando tem suas páginas prontas, estas são fotografadas e reproduzidas em fac-símile, e através do sistema de mocroondas da Embratel enviadas a uma série de Estados. 3.2- Televisão No que diz respeito especificamente à televisão, de acordo com MACEDO & FONSECA (1985), mais de 50 milhões de brasileiros passam boa parte de seu tempo diante de um receptor de TV. Tecnicamente, o Brasil possui uma televisão de mais alta qualidade, igualando-se a televisões de países mais desenvolvidos. Porém, isto não significa que o avanço intelectual chegou junto com o técnico. A televisão brasileira cresceu assustadoramente após o movimento militar de 64 e hoje assegura um controle estratégico de todo o território nacional. A expansão técnica e ideológica se deu dependente da indústria norte-americana e atrelada a seus centros multinacionais de produção de programas e notícias, como pode ser evidenciado por MATTOS (1996): “Os governos militares, resultantes do golpe de 1964, afetaram os meios de comunicação de massa porque, no contexto do crescimento econômico do País, centralizado na rápida industrialização, baseada em tecnologia importada e capital externo, coube aos veículos de comunicação, principalmente a TV, o papel de difusores da produção de bens duráveis e não-duráveis. Os governos pós-1964 promoveram um desenvolvimento econômico rápido, baseado num tripé formado pelas empresas estatais, empresas nacionais e corporações multinacionais. Em 1980, o Estado possuía oitenta e duas das duzentas maiores empresas não-financeiras do País, que se caracterizavam também como grandes anunciantes nos meios de comunicação. Desde o princípio dos anos 8 setenta, o governo tem sido identificado como o maior anunciante individual do Brasil. (...) Promovendo reformas bancárias e estabelecendo leis e regulamentações específicas, o Estado aumentou sua participação na economia, como investidor direto em uma série de empresas públicas e passou a ter à sua disposição, além do controle legal, todas as condições para influenciar os meios de comunicação, através de pressões econômicas.” No que se refere à “Rede Globo de Televisão”, no campo jornalístico, a consolidação da emissora se completou com a criação do “Jornal Nacional”, em 1969, que vem substituir o noticiário radiofônico de preferência popular. De acordo com LINS E SILVA (1985), os critérios de seleção de informação, aliados à identificação profunda existente entre a emissora e o regime militar, por certo foram fatores decisivos para a linha editorial oficialista que marcaria o desempenho do “Jornal Nacional” durante toda a década de 70, “tempos de milagres econômicos, ufanismo nacionalista e consolidação do império global”. Lins e Silva ainda expõe, citando Carvalho, que foi nesses tempos, em 1973, que o presidente Médici deu uma definição perfeita, ainda que involuntária do que era então o Jornal Nacional: “Sinto-me feliz, todas as noites, quando ligo a televisão para assistir ao jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranqüilizante, após um dia de trabalho.” MOTA(1992) também afirmou que o telejornalismo global, “veículo da ideologia ufanista que marcou os anos 70”, voltou-se na época, para a consolidação de um “padrão de qualidade”, seguindo as determinações técnicas do diretor geral, Bonifácio Sobrinho. Faziam parte deste padrão a gravação e a transmissão em VT dos telejornais, para evitar erros no ar, e a cuidadosa edição de todo o material, não só para evitar problemas com a transmissão de fatos sem a necessária censura, como padronizar as falas e as posturas dos repórteres: “O texto no telejornal passou por um tratamento de expurgo de elementos considerados desnecessários, visando-se a total objetividade e imparcialidade do repórter. Uma das grandes preocupações de Armando Nogueira, diretor do telejornalismo global, foi a de eliminar elementos conotativos do noticiário e torná-lo o mais neutro possível. “Repórter da Globo não sente, não reage, não induz o entrevistado”. Dentro do aspecto telejornalístico, é importante também ressaltar que não basta ver as notícias, é preciso que alguém nos diga o que estamos vendo, pois a notícia pode ter várias interpretações. Segundo MOTA (1992), a notícia ganha na televisão uma característica 9 significativa própria, onde a produção de sentidos vai depender da possibilidade de um dos elementos do conjunto preponderar sobre os outros. Diferentemente dos jornais escritos, os jornais televisionados unem textos falados e imagens e sons. O texto falado por apresentadores, repórteres, comentaristas, entrevistados, vai disciplinar imagens, sons, ruídos, desenhos e outros materiais gráficos, como mapas e vinhetas. MOTA(1992), ainda analisa que o noticiário da TV exerce um papel crucial na reprodução hegemônica de poder, como fonte mais importante de conhecimentos em uma cidade, país ou no mundo. Ao legitimar as relações desiguais de poder, o telejornalismo constrói um consenso, ou seja, transforma em senso comum uma visão ideológica da realidade. Chauí, citado por MOTA (1992), argumentou que o telejornalismo se constitui em powerholder, ou aparato ideológico das relações desiguais de poder. Ao falar sobre a televisão brasileira em seu artigo na Revista de Comunicação3, o jornalista Fernando Barbosa Lima afirma que, no campo tecnológico, a TV brasileira caminhou com surpreendente velocidade, como por exemplo, o advento do vídeo-tape, a TV a cores, a ligação instantânea de todo o Brasil, via Embratel, e a conexão mundial pelos satélites. Tecnicamente, o país tem hoje uma televisão da mais alta qualidade, e, mesmo sendo do terceiro mundo, o Brasil está em pé de igualdade com a técnica da televisão dos países mais adiantados. Segundo o jornalista, o avanço técnico não representou o avanço intelectual e questiona: “até que ponto a televisão está contribuindo para melhorar o nível cultural do povo brasileiro? Ela está sendo usada para ajudar os brasileiros? Ela tem sido a melhor vendedora de bebidas, cigarros, sabonetes, etc., porque ela não vende idéia?” ROCCO (1989), afirma que a televisão é sem dúvida o veículo da era eletrônica que maior penetração já teve, introduzindo-se em todas as casas, entre todas as pessoas, praticamente em todos os cantos do planeta: “A televisão é hoje parte do cotidiano, parte do referencial de vida de quase todos os homens. Não se pode negar a evidência de um fato. E, se assim é, estudos vários, de natureza interdisciplinar, que observem recortes diversos, sociológicos, psicológicos, históricos, pedagógicos, lingüísticos, entre outros, têm que ser incentivados. Tais estudos devem procurar dar conta, por exemplo, das relações entre um vínculo novo e o homem, sobretudo quando tal veículo passa a ser parte integrante e integradora entre o sujeito e o seu entorno sociocultural”. 3 Revista de Comunicação – Ano 1 – no. 1 – 1985- p.27 10 Entretanto, para Barbosa Lima, é triste reconhecer que a televisão não tem a permanente preocupação de ajudar o povo, significando ser a dona do poder, representando a voz da verdade. 3.3 – Rádio No que se refere ao rádio, este é o segundo veículo em importância no Brasil, estando presente em mais de 60% dos domicílio de todo o país (MACEDO & FONSECA, 1985). Isto significa que apesar de esvaziamento de audiência sofrido com a chegada da TV na década de 50, o rádio recuperou-se e encontrou seu novo caminho, e hoje, detêm uma força incontestável junto aos outros meios de comunicação de massa. Em termos de poder de alcance, é mais importante que a televisão, já que TV tem dificuldades para atingir os meios rurais devido a falta de energia elétrica e a imprensa se depara com o analfabetismo. O rádio é o único veículo de comunicação coletiva que abrange com mais expressão e eficácia o meio rural. Em termos gerais, no que diz respeito ao impacto cultural, o rádio está muito abaixo da TV, pois grande parte de seus próprios rumos são decididos por sua (TV) influência. A situação do rádio, em termos de influência internacional, é em muitos aspectos, similar à televisão. No que se refere a anunciantes, embora não haja dados disponíveis, pode-se ter como segura a maior participação dos patrocinadores, cujo capital é de origem estrangeira, sendo muito mais importante, também, a presença do Estado. Referente ao conteúdo da programação, embora a presença das músicas americanas ainda seja intensa, pode-se afirmar que mais de 60% do tempo de programação cultural é brasileira, distribuída entre músicas, noticiários, reportagens, programas educativos, entrevistas, esportes, programas religiosos, entre outros(MACEDO & FONSECA, 1985). No Brasil o rádio tem tendência a se regionalizar, inserido em suas programações o simbolismo característico de cada área, mas ainda sofre pressão dos grandes centros que teimam ditar normas de comportamento, sem a discussão sobre o melhor caminho para o desenvolvimento de todas as regiões do país. 11 4 –MÍDIA E INDÚSTRIA CULTURAL Há mais de quarenta anos o sociólogo canadense, Marshal MacLuhan4 tentou convencer a humanidade de que o mundo caminhava inevitavelmente para a sua transformação em “aldeia global” e que os povos avançavam para a integração num abraço mundializado. Poucos acreditaram na sua previsão e muitos cépticos enterraram suas teorias, como evidenciam alguns teóricos, quando expõem que os processos de globalização e mundialização não só estão tendo impacto na base econômica e política das sociedades, mas também nas dinâmicas sociais e culturais refletidas nas imagens, nas mensagens e nos referentes simbólicos projetados pelos meios de comunicação de massa. Dentro do contexto da chamada indústria cultural pode ser analisado que os meios de comunicação de desenvolveram no Brasil e na América Latina, sobre a proteção da iniciativa privada, que precisava incentivar a população a consumir, como pode ser evidenciado por SILVA (1986), expondo: “(...) os meios de comunicação de massa têm como base o processo comunicativo e aparecem nas sociedades urbanos-industriais contemporâneas e capitalistas como um sub-processo, a indústria cultural, inserindo-se no processo mais abrangente de desenvolvimento industrial, que pelo fato de ser penetrado pelo modo de produção capitalista, consegue acompanhar o processo geral de produção em massa, ou seja, tem a capacidade de produzir e/ou reproduzir em massa os símbolos surgidos em decorrência das relações sociais prevalecentes nas sociedades modernas”. A autora ainda expõe que o objetivo dos meios de comunicação de massa, enquanto indústrias da cultura e enquanto concentram tecnologia na produção, é aperfeiçoar a mensagem como “objeto” de consumo no sentido de facilitar o seu consumo. Daí surgiram os conflitos, já que a maioria da população não tem condições de adquirir os produtos difundidos pelos meios de comunicação de massa, pois a distribuição de renda no país não acompanhou o desenvolvimento industrial. De acordo com COELHO (1995), para os adversários da indústria cultural – aqueles que Umberto Eco5 chamou de apocalípticos: os que vêem na indústria cultural um estado avançado de “barbárie cultural” capaz de produzir ou acelerar a degradação do homem - essa função seria a alienação. Inversamente, para os adeptos dessa indústria, ou os que a toleram 4 5 MACLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensão do homem. São Paulo, Cultrix:`1964. ECO, H. Apocalípticos e Integrados. São Paulo, Perspectiva: 1987. 12 os integrados - essa função central seria a mesma de toda produção cultural: a relevação, para o homem, das significações suas e do mundo que o cerca. De um lado, portanto, estão os que acreditam, como Adorno e Horkheimer6, que essa indústria desempenha as mesmas funções de um Estado fascista, “estando na base do totalitarismo moderno ao promover a alienação do homem, entendida como um processo no qual o indivíduo a não meditar sobre si mesmo e sobre a totalidade do meio social circundante, transformando-se em simples produto alimentador do sistema social que o envolve.” Do outro lado, os que defendem a idéia segundo a qual a indústria cultural é o primeiro processo democratizador da cultura, ao colocá-la ao alcance da massa – sendo, portanto, instrumento privilegiado no combate dessa mesma alienação. GUARESCHI (1991), afirma que conhecer é poder e a comunicação, inserida no processo atual dos meios de comunicação social, implica uma relação com o tipo de sociedade existente. O autor ressalta ainda que, se é a comunicação que constrói a realidade, quem detém a construção dessa realidade, detém também o poder sobre a existência das coisas, sobre a difusão das idéias, sobre a criação da opinião pública: “A comunicação e a informação passam a ser alavancas poderosas para expressar e universalizar a própria vontade e os próprios interesses dos que detém os Meios de Comunicação. O monopólio da propriedade privada da terra, os latifúndios, se prolongam no monopólio do poder político como dominação e passam a abranger, logicamente, o monopólio dos Meios de Comunicação Social, a serviço da dominação ideológica”. BORDENAVE (1988), argumenta que é próprio da comunicação contribuir para a modificação dos significados que as pessoas atribuem às coisas. É justamente através da modificação de significados, que a comunicação acaba por colaborar na transformação das crenças, dos valores e dos comportamentos. “Daí o imenso poder da comunicação. Daí o uso que o poder faz da comunicação”. CARDOSO (1985), atual primeira-dama do Brasil, ao analisar a Teoria da Comunicação, fez um paralelo com a também chamada Teoria da Marginalidade e a Teoria da Dependência, focalizando aspectos como efeitos políticos nos processos de industrialização 6 ADORNO, T.W. & HORTKHEIMER, M. “A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de massa”. In: Teoria da cultura de massa. Org. L.C. Lima. RJ, Paz e Terra: 1978. (Os primeiros teóricos da comunicação na década de 1940 a utilizar a expressão “indústria cultural” tal como hoje é entendida.) 13 tardia nos países periféricos, sendo questões relevantes para o entendimento de nossa realidade: “A teoria disponível, e especialmente a perspectiva marxista de interpretação, dá uma tal ênfase sobre os aspectos homogeneizadores e principalmente sobre os aspectos alienantes da imposição de informações, do controle realizado pelos meios de comunicação, que só nos permite compreender sua atuação como instrumentos da cultura de uma classe dominante. Os meios de comunicação de massa insistem em utilizar e reproduzir a cultura dominante na sociedade, isto é, aquilo que é de certa maneira hegemônico. São os instrumentos privilegiados de manutenção desta hegemonia. Esta postura que deve muito à Escola de Frankfurt e que foi uma contribuição muito importante, foi também uma reafirmação de uma esperada passividade das massas. A partir dessa concepção dos meios de comunicação de massa, tudo nos levava a descrever uma sociedade que caminha para a homogeneização e que irá corresponder às descrições da literatura de ficção científica. Uma sociedade passiva, intensamente controlada, e onde o Estado se agiganta para controlar, cada vez mais, a vida privada dos cidadãos.” Como expõe GUARESCHI (1990), a tal chamada homogeneização cultural que já se está praticando há muito nos Estados Unidos ameaça agora tomar conta de todo o mundo. Em toda a parte a cultura local está enfrentando o afogamento que os excedentes dos meios de comunicação de massa, produzidos com finalidade ideológica e comercial, estão causando: “A Televisão está quase que, exclusivamente, montada para satisfazer às necessidades de mercado dos produtos de bens de consumo que patrocinam e financiam a programação. O material de programação está planejado, especialmente, para assegurar e prender audiências massivas nas peias e delícias de consumismo. Poucas sociedades possuem a força industrial, a competência técnica e a força moral para resistir aos assaltos eletrônicos de TV comercial... O que é menos aparente, mas não menos real, são as características negativas da parafernália eletrônica que estão sendo introduzidas nas comunidades pobres, através do globo.” No que se refere ao papel consumista dos meios de comunicação de massa, percebe-se que este prepara o caminho, constrói a infra-estrutura de dependência e ajuda as corporações multinacionais a vender seus produtos. Através da propaganda de massa, o indefeso homem do Terceiro Mundo (subdesenvolvimento), cai na armadilha do consumismo e muda seu comportamento para adaptar-se aos propósitos e objetivos da indústria estrangeira. 14 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Os meios de comunicação de massa no Brasil, no que diz respeito aos aspectos tecnológicos, desenvolveram rapidamente, podendo fazer frente aos meios dos países industrializados, porém, cresceram em favor da iniciativa privada, da classe no poder, em detrimento das aspirações da população. Tal desenvolvimento foi devido ao capital estrangeiro, que também dita as normas da economia no país, e em seu nome difundiu suas mensagens. O jornal que teve grande participação na formação da sociedade brasileira, a partir da década de 50 se modernizou de acordo com os padrões dos países desenvolvidos, aliou-se ao poder governamental e se corrompeu. Contentou-se com a divisão do bolo publicitário, adaptou sua linguagem a um público específico e deixou de lado a grande massa da população alfabetizada, mas que não tinha poder aquisitivo. A televisão teve seu crescimento incrementado na época do milagre econômico, e, mesmo com a crise econômica, continuou a crescer. Tecnologicamente está entre as mais bem aparelharadas do mundo, e a competência de seus profissionais é indiscutível. Porém, percebese que ela está a serviço da iniciativa privada e também do Estado, um de seus maiores clientes publicitários e seu controlador. Vende, como ninguém: bebidas, cigarros, carros. Mas o seu potencial educacional, conscientizador, ainda é muito discutido e duvidoso. O rádio, dos três veículos, é o que tem maior capacidade de atender a um país que tem uma vasta extensão territorial como o Brasil. Entretanto também está ligado a compromissos publicitários, que representa a segunda força, no sentido de incentivar o consumo. Além disso, o rádio ainda está muito preso às normas ditadas pelos grandes centros. O que se pode perceber é que os nossos meios de comunicação encontram-se pouco preocupados com o desenvolvimento da sociedade brasileira como um todo, seja na divulgação cultural ou nas idéias e técnicas essenciais para o nosso desenvolvimento. O que não pode ser esquecido é a necessidade de haver um empenho dos meios de comunicação de massa em atingir a toda a população brasileira, garantindo a promoção do bem-estar social e, consequentemente, orientar e conscientizar o povo a se mobilizar no sentido de uma mudança do quadro político, social e econômico da nação. Não há como negar, em tempos atuais, que qualquer realidade seja filtrada pela comunicação. Começando pela política, que a usa como arma indispensável na conquista do 15 poder. A economia também está ligada à comunicação porque, ela mesma, é um meio de produção, além de servir como base de sua expansão através da publicidade e propaganda. A comunicação, além disso, confunde-se com ideologia, pois ela é o veículo principal de sua materialização. Quanto à indústria cultural, não há como negar a sua força e que fazemos parte dela. No mundo atual, tudo gira em torno do consumo aliado a interesses políticos, econômicos ou pessoais. O que fazer então? Uma reforma ou uma revolução? Como disse, COELHO(1995), contextualizando a televisão, “ainda precisamos de uma reforma agrária no ar.” Enquanto ela ainda não é possível, o caminho é continuar procurando os meios de pôr em prática uma ação cultural e uma ação política capazes de tornar as pessoas mais aptas a aproveitar a exposição forçada aos meios de comunicação de massa e a influir decisivamente no debate sobre a produção e o uso desses meios, de modo a evitar a consolidação de uma sociedade cuja reflexão crítica foi paralizada, a chamada “sociedade sem oposição”, descrita por MARCUSE (1967). 6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M. A Comunicação de Massa no Brasil. Belo Horizonte, Júpiter: 1971. BORDENAVE, J.E.D. O que é comunicação? 11a. edição. São Paulo, Brasiliense: 1988. CARDOSO, R. Sociedade Civil e Meios de Comunicação no Brasil. In: Comunicação e Transição Democrática. Org. José Marques de Melo. Porto Alegre, (Intercom), Mercado Aberto:1985. COELHO, T. O que é indústria cultural. Brasiliense, São Paulo:1995. GUARESCHI, P. A. Comunicação e Poder. A presença e o papel dos meios de comunicação de massa estrangeiros na América Latina. Petrópolis, Vozes: 1990. GUARESCHI, P.A . A realidade da comunicação -visão geral do fenômeno. In: Comunicação e Controle Social. Coord. P. A. Guareschi. Petrópois, Vozes : 1991. LAGE, N. Ideologia e Técnica da Notícia. Petrópolis, Vozes: 1982. LERNER, D. e SCHARMM, W. Comunicação e Mudança nos Países em Desenvolvimento. São Paulo, Melhoramentos: 1973. LINS E SILVA, C.E. Muito Além do Jardim Botânico.- Um estudo sobre a audiência do Jornal Nacional da Globo sobre trabalhadores. São Paulo, Summus: 1985. . MACEDO, M.R.J. & FONSECA, M.A.R. Os meios de Comunicação de Massa e a Transformação Social. Juiz de Fora, UFJF:1985. (monografia de graduação) MARCUSE, H. Ideologia da Sociedade Industrial. RJ., Zahar: 1967 MATTOS, S. O controle dos meios de comunicação. Salvador, EDUFBA: 1996. MELO, J. M. Para uma leitura crítica da comunicação. São Paulo, Edições Paulinas: 1985. MOTA, C.M.L. A produção de sentidos no telejornalismo. Brasília – DF: UNB, 1992 (dissertação de mestrado). PASQUALI, A. Sociologia e Comunicação. Petrópolis, Vozes: 1973. 16 ROCCO, M.T.F. Linguagem Autoritária - Televisão e Persuasão São Paulo: Brasiliense, 1989. SALLES, M. Meios de Comunicação e Integração Nacional. In: Comunicação e Transição Democrática. Org. José Marques de Melo. Porto Alegre (Intercom), Mercado Aberto: 1985. SCHARMM, W. Desrrolho de la Comunicación y desarrolho económico. Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas da OEA. Centro Interamericano de Comunicação. San José (Costa Rica): 1965. SILVA, C. E. L. Comunicação Transnacional e Cultura Brasileira. In: Comunicação e Sociedade. São Paulo, Intercom: 1983. SILVA, C. E. L. & MELO, J. M. “Estado, Sociedade e Meios de Comunicação de Massa no Brasil”. In: Comunicação e Transição Democrática. Porto Alegre, (Intercom), Mercado Aberto: 1985. SILVA, L. M. N. de M. “Segurança e Desenvolvimento”: a Comunicação do Governo Medici”. In: Comunicação e Desenvolvimento. Rio de Janeiro, Intercom: 1986. SODRÉ, M. Papel da Imprensa: multiplicador de idéias e acelerador dos movimento. In: Imprensa e Desenvolvimento. Org. José Marques de Melo. São Paulo, ECA.USP: 1984.