UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL
CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE
LEITE BOVINO NA MICRORREGIÃO SERIDÓ DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
JOSÉ GERALDO BEZERRA GALVÃO JÚNIOR
MACAÍBA/RN – BRASIL
ABRIL/2012
JOSÉ GERALDO BEZERRA GALVÃO JÚNIOR
CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE
LEITE BOVINO NA MICRORREGIÃO SERIDÓ DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Dissertação apresentada à Universidade
Federal do Rio Grande do Norte – UFRN,
Unidade Acadêmica Especializada em Ciências
Agrárias, Programa de Pós-Graduação em
Produção Animal, como parte das exigências
para a obtenção do título de Mestre em
Produção Animal.
Orientador: Prof. Dr. Adriano Henrique do Nascimento Rangel
Co-Orientador: Profª Dra. Madga Maria Guilhermino
MACAÌBA/RN – BRASIL
ABRIL/2012
COMITÊ DE ORIENTAÇÃO
Adriano Henrique do Nascimento Rangel, Dr. Sc.
Orientador
Magda Maria Guilhermino, Dr. Sc.
Co-orientador
Josimar Torres Gomes, Dr. Sc.
Co-orientador
Catalogação da publicação na fonte
Biblioteca do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RN
Câmpus Nova Cruz
G182c
GALVÃO JÚNIOR, José Geraldo Bezerra.
Caracterização dos sistemas de produção de leite bovino na
microrregião Seridó do estado do Rio Grande do Norte. / Jose
Geraldo Bezerra Galvão Júnior. – Macaíba, 2012.
78f.
Orientador: Prof. Dr. Adriano Henrique do Nascimento Rangel
Dissertação (Dissertação em Ciências Agrárias). –
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Macaíba, 2012.
1. Laticínios – Dissertação. 2. Produção de leite – Dissertação.
3. Produtos de animais - Dissertação. I. RANGEL, Adriano
Henrique do Nascimento. II. GUILHERMINO, Madga Maria
III.Título.
UFRN
CDU: 637.112(0813.2)
CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE BOVINO NA
MICRORREGIÃO SERIDÓ DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
por
JOSÉ GERALDO BEZERRA GALVÃO JÚNIOR
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM
PRODUÇÃO ANIMAL (PPGPA), UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO
NORTE COMO REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
MESTRE
ABRIL, 2012
© JOSÉ GERALDO BEZERRA GALVÃO JÚNIOR
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
O autor aqui designado concede ao curso de Pós-Graduação em Produção Animal da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte permissão para reproduzir, distribuir,
comunicar ao público, em papel ou meio eletrônico, esta obra, no todo ou em parte, nos
termos da Lei.
Assinatura do Autor:______________________________________________________
APROVADA POR:______________________________________________________
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Adriano Henrique do Nascimento Rangel
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Henrique Rocha de Medeiros
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Luciano Patto Novaes
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Sérgio Marques Júnior
JOSÉ GERALDO BEZERRA GALVÃO JÚNIOR
CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE BOVINO NA
MICRORREGIÃO SERIDÓ DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Dissertação apresentada à Universidade
Federal do Rio Grande do Norte – UFRN,
Unidade Acadêmica Especializada em Ciências
Agrárias, Programa de Pós-Graduação em
Produção Animal, como parte das exigências
para a obtenção do título de Mestre em
Produção Animal.
APROVADA EM: 27/04/2012
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________
Prof. Dr. Adriano Henrique do Nascimento Rangel (UFRN)
Presidente (Orientador)
__________________________________________
Prof. Dr. Henrique Rocha de Medeiros (UFRN)
Examinador
___________________________________________
Prof. Dr. Luciano Patto Novaes (UFRN)
Examinador
___________________________________________
Sérgio Marques Júnior (UFRN)
Examinador (Membro externo)
Dedico mais este resultado aos meus
pais, irmãs, minha noiva e meus
sogros, por tudo que contribuíram
nesta jornada.
“É triste pensar que a natureza fala e
que o gênero humano não a ouve”.
Victor Hugo
AGRADECIMENTOS
À minha mãe Maria Francisca, por sua dedicação estando sempre ao meu lado na minha
vida e na minha carreira, amando, torcendo, cuidando e incentivando. Por ter sempre
acreditado em mim;
Ao meu pai, José Geraldo, por ter participado deste trabalho, na condição de guia rural,
informando a localização das propriedades selecionadas para o desenvolvimento da
pesquisa;
Às minhas irmãs Ana Amélia e Elvira Cristina por estarem sempre ao meu lado me
ajudando e apoiando, em todos os momentos;
À Ana Tereza Vasconcellos, por está fazendo parte de minha vida, contribuindo com sua
amizade, amor e atenção, ajudando sempre em qualquer dificuldade;
Aos orientadores Magda Maria Guilhermino e Adriano Henrique do Nascimento Rangel,
pelas discussões propostas, pela animação e pelos apertos para que pudéssemos cumprir
nossas metas;
Aos professores que lecionaram e contribuíram na nossa formação, no decorrer dos
semestres letivos, especialmente: Adriano Rangel, Aurino Simplício, Gualter Guenther,
Janete Gouveia, Elizângela Cunha, Francisco das Chagas (Titico), Gelson Difante, Magda
Guilhermino, Marcone Costa, Luciano Patto, Henrique Rocha, Lílian Giotto e Emerson
Aguiar;
Aos colegas do IFRN – Campus Currais Novos que contribuíram plenamente para que eu
pudesse alcançar mais este mérito, agradecimento especial a Rady Dias, André Amaral,
Paulo Gustavo, Danilo Cortez e Fernando Antônio, Leonardo Marciano e Ronaldo Falcão.
Em nome destes, estendo meus agradecimentos aos demais;
Aos colegas da turma 2010: Alano Luna, Cynthia Gabriela, João Virgínio, Mirela Guerra,
Renata Coutinho, Vanessa Nunes e Vitor Bruno, pela amizade conquistada, pelas
discussões, confraternizações, congressos e pelo sucesso que estamos tendo;
Aos servidores e colaboradores da Coordenação do Programa de Pós-graduação,
especialmente: Elenice e Ivana;
Aos colegas das turmas 2009 e 2011: Aline Portela, Manoel Neto, Samara Suenya,
Virgínia Barbosa, Miguel Ângelo, Eduardo César, Alberto Luiz, Carla Lailane, Dyego
Leite, Igor Aureliano, Iralice Medeiros, José André, Joyce Uchoa, Juliana Justino, Kacia
Beatriz, Karin Kurkjian, Lívia Correia, Mayara Leilane, pelos momentos que pudemos
compartilhar nossas ideias, principalmente nas disciplinas de Seminários I e II;
À Aldilene Dantas (estatística) pela contribuição oferecida, muito obrigado;
Aos que no momento não foram citados, mas que se sentem contemplados com estes
agradecimentos, o meu muito obrigado.
LISTA DE TABELAS
Pág.
TABELA 01: Produção mundial de leite de diferentes espécies de animais 2010/2011................................................................................................
TABELA 02: Produção mundial de leite de vaca – 1990/2010.....................................
18
19
TABELA 03: Produção de leite, vacas ordenhadas e produtividade animal no Brasil
– 1980/ 2010 ...........................................................................................
20
TABELA 04: Condições de uso da terra ....................................................................... 34
TABELA 05: Área total das propriedades ....................................................................
34
TABELA 06: Número total de animais do rebanho bovino, número de vacas do
rebanho e número de vacas em lactação ................................................. 36
TABELA 07: Resultados zootécnicos dos rebanhos ..................................................... 37
TABELA 08: Destino do leite produzido .....................................................................
38
TABELA 09: Agrupamento dos estabelecimentos da amostra conforme o seu índice
de desenvolvimento rural – IDR .............................................................
51
TABELA 10: Ranking dos estabelecimentos da amostra com base no seu IDR...........
57
LISTA DE GRÁFICOS
Pág.
GRÁFICO 01:
Importações e Exportações de produtos lácteos pelo Brasil,
2003/2011 .................................................................................... 21
GRÁFICO 02:
Evolução da produção de leite na Região Nordeste, 1990/2010 .
GRÁFICO 03:
Produção de leite bovino (Mil litros) e números de vacas
ordenhadas no Estado do Rio Grande do Norte, 1974/2010 ....... 24
GRÁFICO 04:
Situação de acesso à assistência técnica rural .............................
39
GRÁFICO 05:
Distribuição dos entrevistados quanto ao nível de escolaridade .
40
GRÁFICO 06:
Estabelecimentos que representam a classe 01 de acordo com o
seu IDR ........................................................................................ 52
GRÁFICO 07:
Estabelecimentos que representam a classe 02 de acordo com o
seu IDR ........................................................................................ 53
GRÁFICO 08:
Estabelecimentos que representam a classe 03 de acordo com o
seu IDR ........................................................................................ 55
GRÁFICO 09:
Estabelecimentos que representam a classe 04 de acordo com o
seu IDR ........................................................................................ 56
23
APÊNDICE
Pág.
APÊNDICE 01:
Modelo de questionário aplicado na pesquisa ............................
60
APÊNDICE 02:
Comprovante de envio de artigo para revista
63
APÊNDICE 03:
Artigo enviado para publicação .................................................. 64
APÊNDICE 04:
Gado bovino em pastagem nativa .......................................................
78
APÊNDICE 05:
Xique-xique – alternativa alimentar no período da seca .....................
78
APÊNDICE 06:
Capineira de capim elefante ................................................................
78
APÊNDICE 07:
Queimadas e solo exposto à erosão .....................................................
78
APÊNDICE 08:
Alimento volumoso passando do ponto ideal de corte .......................
78
APÊNDICE 09:
Superpastejo em pastegem cultivada ..................................................
78
CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE BOVINO NA
MICRORREGIÃO SERIDÓ DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Galvão Júnior, José Geraldo Bezerra. CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE
PRODUÇÃO DE LEITE BOVINO NA MICRORREGIÃO SERIDÓ DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO NORTE. 2012. 78f. Dissertação (Mestrado em Produção Animal:
Sistemas de Produção Sustentável no Semiárido) – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN), Macaíba-RN, 2012.
RESUMO: Objetivou-se contribuir com uma leitura das características e diversidades dos
sistemas de produção de leite bovino na microrregião Seridó do Estado do Rio Grande do
Norte, discutir os aspectos sociais, econômicos, zootécnicos e ambientais relacionados com
a atividade primária da produção de leite. Foram selecionados, aleatoriamente, 28
estabelecimentos agropecuários que desempenhavam a atividade da bovinocultura leiteira
com posterior aplicação de questionário estruturado nos meses de setembro e outubro de
2011. Os dados foram analisados com aplicação de medidas de análise descritiva e
determinação do índice de desenvolvimento rural (IDR). Os resultados demonstraram que
53,57% dos entrevistados eram proprietários da terra, a mediana da área das propriedades
correspondeu a 135 hectares, a mediana do número de animais no rebanho bovino foi de 51
cabeças, com número mínimo de 11 e máximo de 350 cabeças nos estabelecimentos da
amostra, 85,72% dos estabelecimentos tinham até 23 vacas em lactação, 100% realizavam
ordenha manual com bezerro ao pé, produtividade média de 3,91 litros de leite/vaca/dia,
92,86% dos entrevistados não produziam silagem e/ou fenação, 64,29% não tinham acesso
à assistência técnica, a idade média dos entrevistados foi 51±10,85 anos de idade, 78,57%
tinham apenas ensino fundamental incompleto. A média geral do IDR calculado da
amostra em análise correspondeu a 0,43±0,11 numa escala de 0 a 1. Os estabelecimentos
foram agrupados em 04 classes, baseando-se no seu IDR. O IDR médio em cada dimensão
foi 0,43, 0,55 e 0,34, respectivamente para econômico/zootécnico, social e ambiental. A
determinação do índice de desenvolvimento rural - IDR encontrado para a amostra
conseguiu agregar os estabelecimentos hierarquicamente. Conclui-se que é necessária à
inclusão de melhores práticas de manejo do rebanho, escrituração zootécnica, assistência
técnica e reorganização fundiária e práticas de preservação ambiental.
PALAVRAS-CHAVE: assistência técnica, propriedade, rural, social.
Galvão Júnior, José Geraldo Bezerra. CHARACTERIZATION OF THE PRODUCTION
SYSTEMS OF BOVINE MILK IN THE MICROREGION SERIDÓ THE STATE OF RIO
GRANDE DO NORTE. 2012. 78f. Master Science Degree in Animal Science: Sustainable
Production Systems in Semiarid. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Macaíba-RN, 2012.
ABSTRACT: The objective was to contribute to a reading of the characteristics and
diversity of production systems from bovine milk in the microregion Seridó of Rio Grande
do Norte, discuss the social, economic, environmental and husbandry-related primary
activity of milk production. We randomly selected 28 agricultural establishments that
performed the activity of dairy bovine culture with subsequent application of a structured
questionnaire during September and October 2011. Data were analyzed with application of
measures of descriptive analysis and determination of the index rural development (IRD).
The results showed that 53.57% of the interviewees were owners of the land, the median
area of the properties amounted to 135 hectares, the median number of animals in the herd
was 51 head, with minimum 11 and maximum of 350 heads establishments in the sample,
85.72% of establishments had maximum 23 cows in lactation, 100% performed manual
milking with suckling calves, average productivity of 3.91 liters / cow / day, 92.86% of
the interviewees did not produce silage and / or hay, 64.29% had no access to technical
assistance, the average age of interviewees was 51 ± 10.85 years, 78.57% had only
elementary education. The average of the IRD computed in the test sample amounted to
0.43 ± 0.11 on a scale 0-1. The sites were grouped into 04 classes, based on your IRD. The
average IRD in each dimension was 0.43, 0.55 and 0.34, respectively for economic /
husbandry, social and environmental. The determination of the rate of rural development IDR found for the sample could add establishments hierarchically. It is necessary that the
inclusion of best practices in herd management, bookkeeping zootechnical, technical
assistance and reorganization practices in land and environmental preservation.
KEY WORDS: technical assistance, property, rural, social.
SUMÁRIO
1.
REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................................
17
1.1.
PRODUÇÃO E CONSUMO DE LEITE NO MUNDO ............................................
18
1.2.
PRODUÇÃO DE LEITE NO BRASIL ......................................................................
19
1.3.
CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS NORDESTINOS DE PRODUÇÃO DE
LEITE..........................................................................................................................
21
O SEMIÁRIDO POTIGUAR E SEUS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE ...
23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................
26
1.4.
2.
PERFIL DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE BOVINO NO
SEMIÁRIDO NORDESTINO ....................................................................................
29
2.1.
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................
30
2.2.
MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................
31
2.2.1.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ......................................................
31
2.2.2.
AMOSTRAGEM.........................................................................................................
32
2.2.3.
COLETA DOS DADOS..............................................................................................
33
2.2.4.
ANÁLISE DOS DADOS............................................................................................
33
2.3.
RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................
33
2.3.1.
CARACTERÍSTICAS DAS PROPRIEDADES........................................................
33
2.3.2.
CARACTERÍSTICAS DO REBANHO E DO MANEJO ADOTADO....................
35
2.3.3.
CARACTERÍSTICAS SOCIAIS................................................................................
40
2.4.
CONCLUSÃO.............................................................................................................
41
REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS.....................................................................................
3.
43
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA BOVINOCULTURA LEITEIRA NO
SEMIÁRIDO NORDESTINO..................................................................................... 45
3.1.
INTRODUÇÃO...........................................................................................................
46
3.2.
MATERIAL E MÉTODOS.........................................................................................
47
3.2.1.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO......................................................
47
3.2.2.
AMOSTRAGEM.........................................................................................................
48
3.2.3.
COLETA DOS DADOS..............................................................................................
48
3.2.4.
ANÁLISE DOS DADOS............................................................................................
49
VARIÁVEIS ZOOTÉCNICAS E ECONÔMICAS..................................................................
49
VARIÁVEIS SOCIAIS.............................................................................................................
50
VARIÁVEIS AMBIENTAIS.....................................................................................................
50
3.3.
RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................. 51
3.3.1.
CLASSE 01.................................................................................................................
52
3.3.2.
CLASSE 02.................................................................................................................
53
3.3.3.
CLASSE 03.................................................................................................................
54
3.3.4
CLASSE 04.................................................................................................................
55
3.4.
CONCLUSÃO............................................................................................................
57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................
59
APÊNDICES...................................................................................................................
60
1. REFERENCIAL TEÓRICO
A pecuária leiteira é uma atividade de grande importância para o desenvolvimento
econômico de diversas regiões brasileiras além de permitir a fixação do homem no campo,
reduzindo as pressões sociais nas áreas urbanas e de contribuir para minimização do
desemprego e da exclusão social (MILINSKI, et al., 2008).
A grande maioria do leite produzido no Brasil é proveniente de sistemas que
exploram vacas não especializadas, mantidas em pastagens tropicais mal manejadas,
ocorrendo severa restrição nutricional destes animais no período da seca. A suplementação
com concentrados é muitas vezes feita de forma inadequada, tanto em termos quantitativos
como qualitativos. O resultado é a pequena escala de produção, índices zootécnicos
medianos e a baixa rentabilidade do setor (MARTINEZ, 2011).
As atividades agrícolas conduzidas com fins lucrativos devem ser contabilizadas
para periódicas análises do desempenho econômico e técnico. Entretanto, poucas são as
propriedades rurais de pequeno e médio porte que contabilizam suas atividades para
posterior análise econômica, e, por isto, não conhecem seus custos de produção de leite,
especialmente os custos fixos. Assim, a inexistência de fontes de informações confiáveis
levam os produtores à tomada de decisão condicionada à sua experiência, à tradição, ao
potencial da região, à falta de outras opções e à disponibilidade de recursos financeiros e
de mão-de-obra. Quando a rentabilidade é baixa, o produtor percebe, mas tem dificuldade
em quantificar e identificar os pontos de estrangulamento do processo produtivo
(OLIVEIRA et al., 2001).
Com base no exposto, objetivou-se com este trabalho contribuir com uma leitura
das características e diversidades dos sistemas de produção de leite bovino na microrregião
Seridó do Estado do Rio Grande do Norte, com o intuito de visualizar suas limitações e
potencialidades.
Os objetivos específicos foram:
1) Discutir os aspectos sociais, econômicos, zootécnicos e ambientais relacionados
com a atividade primária da produção de leite bovino no Seridó Potiguar;
2) Propor estratégias que possam contribuir para melhorias da pecuária leiteira na
região em estudo.
Este trabalho é composto por três capítulos, o primeiro relacionado ao referencial
teórico; o segundo referente ao estudo do perfil dos estabelecimentos produtores de leite
17
bovino em um município na região Semiárida Potiguar e o terceiro relacionado à
determinação de um índice de desenvolvimento rural das propriedades estudadas, baseado
nos aspectos sociais, econômicos, zootécnicos e ambientais.
1.1. PRODUÇÃO E CONSUMO DE LEITE NO MUNDO
De acordo Heiden (2011), conforme os dados da FAO, relativos a junho de 2011,
estima-se que nos últimos quatro anos, a produção mundial de leite de vaca, búfala, cabra,
ovelha e camela cresceram, em média, 1,7% ao ano, apresentando crescimento menor nos
países desenvolvidos e maior nos países em desenvolvimento, de 0,7% e 2,8% ao ano,
respectivamente. As Tabelas 01 e 02 representam, respectivamente, a produção mundial de
leite de diferentes espécies animais 2010/2011 e a produção mundial de leite de vaca no
período de 1990 – 2010.
Os mercados emergentes são responsáveis por cerca de 96% do aumento mundial
do consumo. Os principais líderes do crescimento da indústria mundial de produtos lácteos
– 95,8% nos últimos quatro anos – são os mercados emergentes, como a Índia, Paquistão,
China e Oriente Médio. Estes mercados estão vivendo hoje um crescimento acelerado do
consumo de leite e outros produtos lácteos líquidos por conta do crescimento da população,
aumento da renda familiar, novos hábitos alimentares e maior conscientização e oferta de
produtos lácteos (PASCOWITCH, 2009).
Tabela 01: Produção mundial de leite de diferentes espécies de animais - 2010/2011
Espécie
TOTAL
Vaca
Búfala
Cabra
Ovelha
Camela
Volume de produção
(toneladas)
2010
2011*
720.980.007
735.505.664
599.615.097
610.247.100
92.514.917
95.439.057
16.646.618
17.231.269
10.025.106
10.333.863
2.178.269
2.354.133
% do total
82,9
13
2,3
1,4
0,3
* 2011 – Estimativa
Fonte: FAO/Faostat
Elaboração: Embrapa Gado de Leite
Atualização: janeiro/2012
18
Tabela 02: Produção mundial de leite de vaca – 1990/2010.
Ano
1990
1995
2000
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Volume produzido
(toneladas)
479.063.355
464.338.770
490.168.848
544.060.813
560.081.348
572.646.452
583.135.236
586.239.893
599.615.097
Diferença %
-3,1
5,6
11
2,9
2,2
1,8
5,3
2,3
Fonte: FAO/Faostat
Elaboração: Embrapa Gado de Leite
Atualização: janeiro/2012
1.2. PRODUÇÃO DE LEITE NO BRASIL
A cadeia produtiva do leite no Brasil é reconhecidamente uma das mais
importantes, principalmente no que se refere à geração de renda e empregos. Com
proporções continentais e grandes diferenças climáticas, de solo e pastagens, o Brasil
apresenta diferenças pronunciadas quanto aos sistemas de produção, com regiões e
propriedades altamente tecnificadas, até sistemas rudimentares, que, apesar da baixa
escala, podem viabilizar a subsistência de milhares de famílias (VALLEÉ, 2008).
Complementando Yamaguchi et. al (2006), relatam que o Brasil apresenta cadeia
produtiva do leite distribuída por todo o país, com expressiva heterogeneidade durante o
processo de produção. Produtores mais especializados se concentram em bacias leiteiras
tradicionais como as dos estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Paraná. Inúmeros
pequenos produtores de leite estão distribuídos por todo o território nacional e muitas
famílias dependem exclusivamente dessa atividade. A região Nordeste, conforme dados do
Censo Agropecuário (IBGE, 2006), os principais estados produtores são Bahia,
Pernambuco e Ceará.
A produção de leite no Brasil passou de 11,2 bilhões de litros, em 1980, para 14,1
em 1989, apresentando um aumento de 2,9 bilhões de litros por período. De 1990 a 1999, o
país alcançou a produção de 19 bilhões, correspondendo a um crescimento de 4,5 bilhões
de litros. Essa tendência de crescimento da produção de leite no país continua crescendo de
maneira que em 2005 o país alcançou a casa dos 25 bilhões de litros de leite produzidos
19
(COSTA, 2006). A Tabela 03 destaca a evolução da atividade leiteira no Brasil de 1980 –
2010.
Em estudos desenvolvidos pelo Centro de Estudos em Economia Aplicada –
CEPEA (2012), considerando-se a produção brasileira de leite próxima a 31 bilhões de
litros em 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE,
2010), uma queda de 2,2% do índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-Leite) entre
2010 e 2011 e um volume exportado de 123 milhões de litros de leite, tem-se que as
importações representaram cerca de 4% da oferta nacional de leite no ano passado.
Tabela 03: Produção de leite, vacas ordenhadas e produtividade animal no Brasil – 1980/ 2010*.
Ano
1980
1990
2000
2010
*2011
Volume produzido
Mil litros
11.162
14.484
19.767
30.715
32.296
Vacas ordenhadas
Cabeças
16.513
19.073
17.885
22.925
23.508
Produtividade
(litro/vaca/ano)
676
759
1.105
1.340
1.374
Fonte: IBGE/Pesquisa da Pecuária Nacional
Elaboração: Embrapa Gado de Leite (Adaptado).
Atualização: fevereiro/2012
* 2011 Estimativa
As exportações em equivalente leite representaram apenas 0,4% do total produzido
no país, considerando-se a queda do ICAP-Leite/CEPEA em 2011. Este cenário foi
ocasionado basicamente pela forte valorização do Real frente ao Dólar, que acabou
deixando o produto nacional mais caro frente aos demais países produtores, reduzindo a
competitividade brasileira (CEPEA, 2012). O Gráfico 01 representa as relações entre
importação e exportações de produtos lácteos no Brasil no período de 2003 a 2011.
A aquisição de leite no 4º trimestre de 2011 foi de 5,9 bilhões de litros, aumento
tanto com relação ao 4º trimestre de 2010 e ao 3º trimestre de 2011, respectivamente de
5,4% e de 10,7%. Da quantidade adquirida, a grande maioria foi feita por estabelecimentos
federais (92,9%). O principal estado em aquisição de leite foi Minas Gerais com 24,8% de
participação nacional. O Rio Grande do Sul adquiriu 15,3% de todo o leite negociado no
período, ultrapassando São Paulo (11,6%). A aquisição de Paraná foi de 11,3%,
aproximando-se da de São Paulo (IBGE, 2012).
20
Gráfico 01: Importações e Exportações de produtos lácteos pelo Brasil, 2003/2011.
Apesar do leve aumento de preços em fevereiro, a margem bruta do produtor de
leite reduziu neste início de 2012, com o encarecimento da alimentação concentrada e da
mão de obra. Devido aos reajustes de insumos com milho e farelo de soja, a dieta
concentrada teve aumento de 11% na média dos estados de RS, SC, PR, SP, MG e GO
entre dezembro e janeiro. Além disso, o aumento do salário mínimo de 14% a partir de
janeiro pesou nos custos do pecuarista leiteiro, tendo em vista que na maioria das vezes o
pagamento de funcionários é indexado ao salário mínimo (CEPEA, 2012). Estas variações
de matéria-prima alimentar nos grandes centros de produção também afetaram a realidade
econômica dos sistemas de produção animal no semiárido em função da dependência
destes insumos na suplementação alimentar dos rebanhos nordestinos.
1.3. CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS NORDESTINOS DE PRODUÇÃO DE
LEITE
No Semiárido nordestino a pecuária representa um importante fator de segurança
alimentar e econômica para os agricultores familiares da região. A criação de bovinos,
caprinos, ovinos, suínos e aves, isolada ou conjuntamente, representou e representa nos
sertões, um importante meio de acumulação de riqueza ou poupança desses produtores
(LIMA, et al., 2009).
21
Conforme defendido por Carvalho Filho, et. al (2002), a irregularidade, no tempo e
no espaço, do regime pluviométrico da região, somada à excessiva fragmentação fundiária,
aos limitados recursos naturais e de capital, reflete-se no baixo e oscilante desempenho dos
agroecossistemas assentados na produção de leite, configurando frequentes crises
socioeconômicas de ciclos plurianuais.
Na região semiárida brasileira a pecuária enfrenta o desafio do ambiente: secas
periódicas, irregularidades pluviométricas, escassez de alimentos, limitando uma
exploração em melhores condições da atividade leiteira, uma vez que esta exige produção e
oferta regulares de alimentos de qualidade. O alto custo dos concentrados comerciais no
mercado nordestino tem sido apontado como um dos fatores limitantes à viabilidade
econômica das explorações leiteiras regionais (LIMA et al., 2011). Além disso, a ausência
de planejamento na produção de volumosos para alimentação dos ruminantes contribui nas
variações dos resultados econômicos e zootécnicos destes sistemas de produção instalados
na região.
A região semiárida do Nordeste brasileiro tem a vegetação Caatinga como o
principal suporte forrageiro dos rebanhos. Em épocas de secas prolongadas, em
determinadas áreas como a mesorregião Central potiguar, as cactáceas nativas,
particularmente o xiquexique [Pilosocereus gounellei (A. Weber ex K. Schum.) Byl ex
Rowl.] e o mandacaru (Cereus jamacaru DC.) ao lado de outras opções alimentares, têm
sido utilizadas como recursos forrageiros estratégicos na composição das dietas dos
ruminantes. Essas plantas habitam em condições edafoclimáticas caracterizadas por
elevadas temperaturas, precipitações pluviométricas irregulares, baixa e média fertilidade
natural do solo (SILVA et al., 2010).
Não obstante sua pequena expressão no cenário nacional, tanto em volume de leite
produzido, como quanto nos níveis de produtividade correntes, resultantes de limitações
climáticas e estruturais seculares – 90% das propriedades possuem áreas inferiores a 100
ha – agravadas pelo baixo uso de tecnologias apropriadas, o agronegócio regional do leite,
ainda que majoritariamente informal, muito mais que seu peso econômico, em termos de
abastecimento, assume papel social de extrema relevância, constituindo-se, com
frequência, numa das únicas perspectivas de sustentabilidade e de inserção no mercado
para milhares de pequenas propriedades de base familiar disseminadas pelo espaço
semiárido nordestino (CARVALHO FILHO, et al., 2002). O Gráfico 02 apresenta a
evolução da produção de leite na região Nordeste do Brasil desde 1990 até 2011.
22
Assim como em outras regiões e no Brasil em geral, coexistem dois tipos de
mercado de lácteos, ambos de grande expressão econômica, conhecidos como formal e
informal em que, no primeiro, (possivelmente majoritário na região semiárida), o leite e
seus derivados não sofrem praticamente qualquer tipo de fiscalização sanitária ou tributária
por parte do governo (CARVALHO FILHO, et al., 2002). Ainda existe grande número de
queijarias que absorvem a produção de leite de determinadas regiões destinando-o à
produção de derivados como queijo de coalho, queijo de manteiga, manteiga e nata, sem
passarem pelo acompanhamento de inspeções sanitárias e atuando na informalidade, mas
que ainda representam a manutenção de várias famílias envolvidas na cadeia produtiva.
Gráfico 02: Evolução da produção de leite na Região Nordeste, 1990/2010.
Fonte: IBGE / Pesquisa da Pecuária Municipal
Elaboração: Embrapa Gado de Leite
2011* Estimativa
1.4. O SEMIÁRIDO POTIGUAR E SEUS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE
O Estado do Rio Grande do Norte está situado no extremo oriente do Brasil, tendo uma
área de 53.015 km², representando 0,6% do território brasileiro e 3,4% do nordestino, com
uma população de 2,7 milhões de habitantes. Seu território é subdividido em 167
municípios. O Estado tem um clima semiárido, que envolve quase 90% do território, um
regime pluviométrico bastante irregular e uma temperatura média de 30°C (SANTOS,
2010).
23
A vegetação predominante é a Caatinga hiperxerófila arbustiva e subdesértica do
Seridó, vegetação seca com arbustos e árvores baixas ralas de xerofilismo acentuado. Há
abundância de cactáceas espinhentas, como o xique-xique, cardeiro, jureminha,
macambira, coroa de frade e plantas de baixo porte, a exemplo da jurema branca, jurema
preta, marmeleiro, pereiro, velame, catingueira, mofumbo, angico, imburana, juazeiro,
aroeira, faveleira e quixabeira (AZEVEDO, 2005).
O Estado do Rio Grande do Norte conta, atualmente, com um rebanho efetivo de
aproximadamente 1.640.000 animais distribuídos entre bovinos, caprinos e ovinos. Esses
animais estão localizados em mais de 70.000 estabelecimentos rurais, onde predominam as
pequenas propriedades. Mais de 60% desses animais possuem aptidão leiteira, ramo da
pecuária que vem se constituindo em um dos subsetores da agropecuária que mais se
desenvolve no estado, sobretudo pela agricultura familiar, que atualmente responde por
mais de 50% da produção de leite do Estado (CONAB, 2008).
Segundo dados do IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal 2010, o Brasil possui
aproximadamente 210 milhões de cabeças de bovinos e a região Nordeste detêm 13,7%
desse rebanho. O rebanho bovino do RN corresponde a 0,5 e 3,7%, respectivamente, do
rebanho brasileiro e da região Nordeste. A produção de leite no estado em 2010
correspondeu aproximadamente a 229 milhões de litros, equivalente a 0,75% da produção
nacional, com um total de 258 mil vacas ordenhadas, nos dando uma média de
produtividade/animal/ano correspondente a 890 litros. Podemos observar no Gráfico 03 a
evolução da produtividade de leite no Estado do Rio Grande do Norte de 1974 a 2010.
Gráfico 03: Produção de leite bovino (Mil litros) e números de vacas ordenhadas no Estado do Rio
Grande do Norte, 1974/2010.
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal – 1974/2010.
24
É com base na produção leiteira que a maioria da população rural do Seridó
subsiste, assim como boa parte da urbana. O volume de produção gerado, assim como a
renda circulante, e o número de agentes envolvidos na atividade evidenciam a importância
econômica, social, cultura e até política da mesma (AZEVEDO, 2005).
O debate sobre políticas para ampliação de mercados para o leite no RN tem como
um dos seus pontos de destaque os mercados institucionais gerados pelas políticas públicas
de segurança alimentar e nutricional do governo do estado e do Ministério do
Desenvolvimento Social (MDS), que tem no leite um dos seus principais produtos por ser
um alimento de alto valor nutricional. O Rio Grande do Norte é pioneiro na implantação de
políticas de segurança alimentar, pelo estímulo ao consumo de leite. Há 20 anos, criou o
Programa do Leite, sendo inclusive referência nacional na política para redução da
insegurança alimentar, estruturante e de grande alcance, por promover também o
desenvolvimento do setor leiteiro do Estado (EMATER/RN, 2010).
2- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos, o Brasil vem apresentando resultados positivos quando tratamos
sobre a cadeia produtiva da bovinocultura de leite. Porém, os números ainda não são
satisfatórios quando observamos o potencial desta atividade produtiva no país. As
discussões quanto à heterogeneidade dos sistemas, nível organizacional, agentes
envolvidos, condições sociais e trabalhistas, qualidade de vida no meio rural, dentre outros,
direcionam-nos a buscar formas e estratégias que possam contribuir para uma reflexão do
caminho a ser trilhado para o alcance de um “status” produtivo adequado.
No semiárido nordestino esses fatores tornam-se potencializados quando os
relacionamos com as condições ambientais instaladas na região, principalmente quanto à
distribuição das chuvas e sua regularidade, pressão sobre a vegetação da Caatinga e
degradação dos solos. Este cenário contribui efetivamente nos baixos índices produtivos e
econômicos que não atendem às necessidades do sistema produtivo.
Nestas condições, ter claramente o conhecimento aprofundado de cada sistema
produtivo vem a ser norteador para a tomada de decisões para a sua manutenção e
profissionalização.
25
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28
2. PERFIL DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE BOVINO NO SERIDÓ
POTIGUAR.
RESUMO: Objetivou-se neste estudo caracterizar os sistemas de produção de leite bovino
instalados na região Semiárida Potiguar, baseado nos aspectos sociais, econômicos e
zootécnicos, visando contribuir na manutenção e aprimoramento da atividade leiteira na
região. Foram selecionados, aleatoriamente, 28 estabelecimentos agropecuários que
desempenhavam a atividade da bovinocultura leiteira com posterior aplicação de
questionário estruturado nos meses de setembro e outubro de 2011 e os dados analisados
com aplicação de medidas de análise descritiva. Os resultados demonstraram que 53,57%
dos entrevistados eram proprietários da terra, a mediana da área das propriedades
correspondeu a 135 hectares, a mediana do número de animais no rebanho bovino foi de 51
cabeças, com número mínimo de 11 e máximo de 350 cabeças nos estabelecimentos da
amostra, 85,72% dos estabelecimentos tinham até 23 vacas em lactação, todos aplicavam a
técnica de ordenha manual com bezerro ao pé, com produtividade média de 3,91 litros de
leite/vaca/dia, 92,86% dos entrevistados não produziam silagem e/ou fenação, 64,29% não
tem acesso à assistência técnica, a idade média dos entrevistados foi 51±10,85 anos de
idade, 78,57% tinham apenas ensino fundamental incompleto, 96,43%, 100% e 85,71%
dos estabelecimentos tinha água encanada, energia elétrica e cisternas instalados,
respectivamente. Conclui-se que é necessária à inclusão de melhores práticas de manejo do
rebanho, escrituração zootécnica, assistência técnica e reorganização fundiária.
PALAVRAS-CHAVE: bovinocultura, Caatinga, escrituração, Nordeste, rebanho.
ABSTRACT: The objective of this study was to characterize the production systems of
bovine milk installed in the semiarid Potiguar region, based on social, economic and
husbandry order to contribute to the maintenance and improvement of dairy farming in the
region. We randomly selected 28 agricultural establishments that performed the activity of
dairy bovine culture with subsequent application of a structured questionnaire during
September and October 2011 and the data analyzed with application of measures of
descriptive analysis. The results showed that 53.57% of the interviewees were owners of
the land, the median area of the properties amounted to 135 hectares, the median number
of animals in the herd was 51 head, with minimum 11 and maximum of 350 heads
establishments in the sample, 85.72% of establishments had a maximum of 23 cows in
lactation, all applied the technique of hand milking with suckling calves, with an average
productivity of 3.91 liters / cow / day, 92.86% of interviewees did not produce silage and /
or hay, 64.29% have no access to technical assistance, the average age of interviewees was
51 ± 10.85 years old, 78.57% had only primary education, 96.43% , 100% and 85.71% of
establishments had running water, electricity, and cisterns installed, respectively. It is
necessary that the inclusion of best practices in herd management, bookkeeping
zootechnical, technical assistance and land reorganization.
KEYWORDS: cattle, Caatinga, bookkeeping, Northeast, herd.
29
2.1. INTRODUÇÃO
A atividade da bovinocultura leiteira desenvolvida no Semiárido nordestino, na sua
grande maioria, é composta por estabelecimentos familiares, com baixo nível de inovação
tecnológica e sazonalidade da produção, em função dos períodos chuvoso e seco ao longo
do ano.
O regime de criação animal predominante são o extensivo e o semi-intensivo, no
qual os animais utilizam a vegetação nativa do bioma Caatinga para sua mantença e
produção. No sistema extensivo é baixo o investimento em instalações, tendo o suporte
alimentar baseado em pastos nativos e suplementação concentrada e mineral, quando
existente, nem sempre é adequada, além de baixo controle reprodutivo e sanitário o que
conduz à baixa produtividade de leite por animal. No sistema semi-intensivo os animais
sofrem maior controle pelo criador, normalmente, sendo fornecida suplementação
volumosa e concentrada no cocho, comumente utilizada no período seco ou durante todo o
ano, os animais passam parte do dia estabulados, existe uma preocupação na melhoria do
suporte forrageiro com a implantação de áreas para produção de volumosos sob irrigação e
enriquecimento dos pastos nativos, há melhor controle sobre os aspectos sanitário e
reprodutivo e, nestas condições, os índices produtivos são melhores em relação ao sistema
extensivo.
O uso de áreas de baixios (aluvião) e açudes são utilizados para produção de
alimentos volumosos para uso na suplementação da dieta. Nos períodos de secas
prolongadas, os recursos naturais são tão exauridos que, em determinadas situações os
animais não têm acesso à água para suprir suas necessidades hídricas. Em certas
localidades de difícil acesso, os próprios moradores passam dificuldades para sobreviver.
Um forte entrave relacionado aos sistemas de produção de leite na região está
relacionado com o baixo nível de capacidade gerencial dos produtores. Na maioria dos
estabelecimentos não são contabilizados custos e/ou receitas, bem como a escrituração
zootécnica da atividade. Diante desta realidade, é quase que impossível à realização de
planejamento para investimentos no setor, sem o conhecimento de uma certeza futura.
A utilização dos recursos naturais da região já vem apresentando sinais de desgaste e
esgotamento. O corte da vegetação nativa para a venda de lenha visando à obtenção
alternativa de renda está afetando drasticamente a cobertura vegetal sobre o solo, aliado a
30
falta de práticas conservacionistas do seu uso, ofertando condições para a aceleração do
processo erosivo sobre o solo.
A contaminação das fontes de água (açudes, barragens, poços, rios, etc.) com lixo,
efluentes líquidos e sólidos (humano e animal), agrotóxicos e adubos químicos está se
tornando cada vez mais comum tanto no meio rural quanto urbano, não se constatando uma
preocupação pela população no uso e conservação deste recurso fundamental e valioso.
A taxa de lotação animal nos pastos nativos acima da recomendação contribui, ainda
mais, no processo de esgotamento dos recursos forrageiros, afetando diretamente a
rentabilidade produtiva do sistema. A otimização do uso dos recursos para o alcance de
níveis satisfatórios de produção precisam ser fundamentados, evitando-se a maximização
do uso e esgotamento dos recursos naturais disponíveis ao setor produtivo.
Analisando-se as condições sociais e econômicas dos envolvidos com o setor produtivo
da bovinocultura, é necessária uma análise e reflexão sobre que realidade estas pessoas
vivem, principalmente, em relação aos fatores sociais, trabalhistas, saúde e educação.
O desenvolvimento de pesquisas voltadas ao conhecimento da estrutura e da
distribuição espacial da pecuária leiteira no Brasil é de grande relevância para definição de
políticas de infraestrutura, transporte, logística, análise de viabilidade de projetos de
desenvolvimento regional e setorial e de programas de colonização e assentamento. É
também importante para o estabelecimento de estratégias em vigilância sanitária,
rastreabilidade, avaliação de risco geográfico de doenças e estudos de dinâmica do setor
agropecuário (ZOCCAL, et al. 2006).
O estudo da caracterização do perfil dos sistemas de produção de leite bovino na Região
Seridó do RN passa pela investigação das inter-relações entre os elementos discutidos
acima. Diante disso, este estudo objetivou caracterizar os sistemas de produção de leite
bovino instalados na região Semiárida Potiguar, baseado nos aspectos sociais, econômicos
e zootécnicos visando contribuir na manutenção e aprimoramento da atividade leiteira no
município.
2.2. MATERIAL E MÉTODOS
2.2.1. Caracterização da área de estudo
O trabalho foi realizado no município de Acari, mesorregião Central Potiguar e
microrregião Seridó Oriental do Estado do Rio Grande do Norte. Conforme dados do
31
Censo Demográfico – 2010, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
- IBGE, o município possui uma área territorial de 608,57 km², com densidade
demográfica de 18,13 habitantes/km² e população total de 11.035 habitantes, sendo que
apenas 19,3% dos indivíduos são residentes no meio rural, que corresponde a 2.129
habitantes.
A sede do município tem uma altitude média de 270m e apresenta coordenadas
06°26’9,6” de latitude sul e 36°38’20,4” de longitude oeste, distando da capital cerca de
219 km, sendo seu acesso, a partir de Natal, efetuado através das rodovias pavimentadas
BR-226 e BR-427 (Beltrão et al., 2005).
No último Censo Agropecuário (IBGE, 2006), o setor rural era composto por 363
estabelecimentos agropecuários, com área média de 143,1 hectares (ha), sob diferentes
sistemas de uso e produção, sendo identificado que 63% (229) dos estabelecimentos
produziram leite. O efetivo de rebanho bovino correspondia a 15.247 cabeças, sendo
ordenhadas 3.802 vacas com produção de 4.182.000 litros/leite/ano.
2.2.2. Amostragem
A amostra contemplou 28 propriedades rurais que desempenhavam a atividade da
bovinocultura leiteira. Para a seleção das propriedades tomou-se por base um cadastro
existente no Escritório Local do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio
Grande do Norte – EMATER/RN, em que as propriedades foram selecionadas
aleatoriamente buscando-se abranger às quatro regiões do município (norte, sul, leste e
oeste).
2.2.3. Coleta dos dados
A pesquisa foi realizada nos meses de setembro e outubro de 2011 com aplicação
de questionários estruturados e entrevista direta aos produtores. A elaboração dos
questionários buscou levar em consideração questões quantitativas e qualitativas que
abordassem as dimensões zootécnica, econômica e social, vislumbrando alcançar um
resultado instantâneo da realidade dos fatores envolvidos na atividade produtiva. Na
dimensão zootécnica foram abordadas as seguintes questões: número total de animais do
rebanho bovino, número total de vacas no rebanho, número de vacas produzindo leite,
produção diária de leite, número de ordenhas diárias, padrão genético do rebanho, formas
suplementação alimentar, produção de silagem e/ou feno, assistência técnica obtida,
32
práticas de manejo sanitário e disponibilidade de energia elétrica para produção. Na
dimensão social foram aplicados os seguintes questionamentos: participação em cursos
voltados para a atividade, escolaridade do entrevistado, idade do entrevistado, proximidade
de unidade escolar na comunidade, tempo que desenvolve a atividade, disponibilidade de
água encanada na moradia, unidade de atendimento à saúde na comunidade,
associativismo, disponibilidade de cisterna para água de consumo humano e realização de
tratamento na água de consumo humano. Na dimensão econômica foram indagadas as
seguintes questões: área total da propriedade, condição no uso da terra, obtenção de renda
em outras atividades, destinação do leite produzido, preço de comercialização do leite.
O questionário foi aplicado por um único entrevistador, buscando-se minimizar os
efeitos da aplicação sobre a resposta do entrevistado, tendo a mesma sequência dos
questionamentos em todas as entrevistas.
2.2.4. Análise dos dados
Os dados obtidos nas entrevistas foram organizados em planilha eletrônica do
Microsoft Office Excel 2010, tendo sido obtidas variáveis dos tipos qualitativas e
quantitativas, cabendo sempre que necessárias transformações para análise utilizando-se a
estatística descritiva: média aritmética, desvio-padrão, mediana, porcentagem e valores
mínimo e máximo.
2.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.3.1. Características das propriedades
Os resultados obtidos relacionados ao aspecto de condições de uso da terra estão descritos
na Tabela 04. Observa-se que da amostra trabalhada 53,57% (15) das unidades produtivas
eram exploradas pelo seu proprietário. Uma questão relevante a ser discutida é a forma de
acesso à propriedade, sendo em 53,33% (08) obtidas através de herança, fator que pode
caracterizar a continuidade das gerações no desenvolvimento da atividade. Em estudo
desenvolvido por Sant’ana & Costa (2004) em três municípios da mesorregião de São José
do Rio Preto-SP, constataram que quase 60% dos chefes de famílias trabalhavam na
propriedade rural dos pais e sua quase totalidade recebeu alguma herança na forma de terra
dos pais ou, em frequência bem menor, do sogro (a). Em vários depoimentos constata-se
33
que eles também contribuíram na aquisição ou ampliação desse patrimônio, quando
trabalhavam com os pais.
Ainda neste aspecto, outro fator deve ser analisado quando observadas as outras
formas de uso da terra, em que “o morador”, representa 46,15% (06) dos entrevistados.
Este formato de uso da terra caracteriza-se, geralmente, quando o proprietário da terra não
reside no estabelecimento e tem sua renda principal advinda de outra atividade. Para que a
propriedade não fique improdutiva ela é disponibiliza ao morador que passa a residir na
propriedade e retirar o seu sustento e de sua família das atividades lá desenvolvidas ou
recebe algum pagamento pelos serviços prestados. Em contrapartida, o proprietário passa a
ser recompensado pelo morador com algum benefício da produção, como por exemplo, o
manejo do seu rebanho, além da manutenção do seu patrimônio, a terra.
Tabela 04: Condições de uso da terra.
Proprietário
Herança
Compra
Assentamento
Outras formas de uso
Morador
Parceiro
Cedida
Arrendamento
15
08
05
02
13
06
03
03
01
53,57%
53,33%
33,33%
13,33%
46,43%
46,15%
23,08%
23,08%
7,69%
Na Tabela 05 verifica-se a distribuição das unidades de produção de leite quanto ao
aspecto da sua área total. Quando questionados quanto ao tamanho da área da propriedade
alguns entrevistados não tiveram conhecimento para informá-la, correspondendo a 25%
(07) da amostra, outros tinham a informação apenas das medidas em “braças”, unidade de
medida linear que equivale a 2,20 metros.
Tabela 05: Área total das propriedades
Tamanho da propriedade (hectares)
Até 50
De 51 a 100
De 101 a 200
Acima de 200
Não informada
Total
FREQ.
05
04
06
06
07
28
%
17,86
14,29
21,43
21,43
25,00
100,00
34
O conhecimento da área e características da propriedade rural é indispensável ao
seu planejamento, sendo norteador na determinação do tipo de exploração e na capacidade
de suporte para o rebanho, principalmente, quando se tem como suporte forrageiro a
vegetação nativa. Outro aspecto que deve ser observado é a preservação obrigatória da
reserva legal, sendo para o bioma Caatinga correspondente a, pelo ao menos, 20% da área
total da propriedade. Nas entrevistas, apenas em um sistema de produção foi informado
que havia a delimitação respeitada, o que nos conduz a repensar os meios de
conscientização e atuação prática para melhorias destes sistemas neste quesito.
As propriedades com área conhecida representaram 75% (21) da amostra, sendo
32,15% (9) com área até 100 ha e 42,86% (12) acima de 100 ha. As dimensões dos
empreendimentos foram 12 e 1200 ha para o menor e maior, respectivamente, e mediana
da área das propriedades com área conhecida equivalente a 135 hectares.
2.3.2. Características do rebanho e do manejo adotado
Os rebanhos identificados durante a pesquisa correspondem a animais mestiços sem
padrão racial definido (SRD) proporcionado pelos sucessivos acasalamentos ao longo do
tempo entre diferentes raças. O número de bovinos no rebanho variou de 11 até 350
cabeças para o menor e maior rebanho, respectivamente, e mediana de 51 cabeças. A
Tabela 06 destaca as informações de tamanho do rebanho bovino, número de vacas do
rebanho e número de vacas em lactação. Partindo da informação do número total de
animais do rebanho foi identificado que a soma das classes 01 e 02 com representatividade
até 60 cabeças, representa 67,85% (19) dos rebanhos da amostra e a classe 05 equivale a
14,29% (4) dos rebanhos acima de 120 cabeças. A identificação do rebanho total da
propriedade é um dado fundamental, pois com ele é possível executar o planejamento geral
da propriedade em todos os aspectos, sendo mais especificamente relacionado com o
manejo sanitário, alimentar, reprodutivo, área, infraestrutura, mão-de-obra e insumos em
geral para a produção.
O número de vacas do rebanho pode representar potencial reprodutivo e produtivo
para o estabelecimento que desenvolve a produção de leite, tendo nela o principal
componente na composição da renda obtida, além da possibilidade de venda e troca de
animais. Para esta condição, os valores mínimo e máximo foram 04 e 73 cabeças de vacas
no rebanho, respectivamente. Damos destaque às classes 06 e 07, que juntas representam
35
71,43% (19) das propriedades estudadas que compreendem o número de até 27 vacas no
rebanho.
Tabela 06: Número total de animais do rebanho bovino, número de vacas do rebanho e número de
vacas em lactação.
Número total de animais do rebanho bovino
CABEÇAS
FREQ.
11 a 30
10
31 a 60
09
61 a 90
04
91 a 120
01
Acima de 120
04
28
Número total de vacas do rebanho
CABEÇAS
FREQ.
4 a 15
13
16 a 27
07
28 a 39
04
40 a 51
02
52 a 63
01
64 a 73
01
28
Número de vacas em lactação
CABEÇAS
FREQ.
2 a 12
18
13 a 23
06
24 a 34
02
35 a 45
02
28
CLASSES
01
02
03
04
05
Total
CLASSES
06
07
08
09
10
11
Total
CLASSES
12
13
14
15
Total
%
35,71
32,14
14,29
3,57
14,29
100,00
%
46,43
25,00
14,29
7,14
3,57
3,57
100,00
%
64,29
21,43
7,14
7,14
100,00
Para o número de vacas em lactação obteve-se o valor mínimo de 02 e máximo 42
vacas em lactação. As classes 12 e 13 representam o percentual de 85,72% (24) das
propriedades em estudo, refletindo rebanhos com até 23 animais em lactação.
A ordenha manual com bezerro ao pé foi identificada em todas as propriedades do
estudo. Em 22 (78,57%) propriedades a ordenha era realizada uma única vez ao dia,
enquanto nas 06 (21,43%) propriedades restantes eram feitas duas vezes ao dia. O manejo
com apenas uma ordenha diária pode estar relacionado pelo interesse, por parte do criador,
em obter a produção de leite para a manutenção do sistema produtivo, assim como a
obtenção
de
crias
com
melhor
desenvolvimento,
podendo
ser
utilizadas
na
complementação da receita do estabelecimento. Já no manejo com duas ordenha diárias o
36
produtor visualiza claramente o interesse a produção de leite, tendo as crias como um coproduto da atividade. Nesta realidade, cabe a cada produtor definir, de acordo com sua
análise, qual o tipo de manejo a ser mantido na sua atividade produtiva.
Os dados de produção de leite dos rebanhos coletados na pesquisa estão
apresentados na Tabela 07. Nela, destacou-se, principalmente, a informação da média de
produção diária por vaca que foi de 3,91 L/vaca/dia, considerando-se uma lactação de 300
dias e o intervalo de partos de 01 ano, a produção média seria de 1173 litros/vaca/ano,
resultado inferior ao publicado por Zoccal (2012), com resultados de 1340 litros/vaca/ano
em 2010 e 1374 litros/vaca/ano estimados para 2011, referentes à produção média
nacional. Estudos desenvolvidos por Zoccal (2008), relacionados à cadeia produtiva do
leite no estado do Ceará apresentam resultados semelhantes, tendo nos rebanhos com
produção de até 50 litros/dia a produtividade de 3,5 litros de leite por vaca em lactação por
dia.
Tabela 07: Resultados zootécnicos dos rebanhos.
Variáveis
Número de vacas do rebanho – cabeça
Número de vacas em lactação – cabeça
Produção de leite diária – litro/dia
Preço do litro de leite vendido – R$/litro
Média de produção por vaca – litro/dia
Média
22,89
13,36
52,21
0,81
3,91
Desvio Padrão
16,59
10,10
44,21
0,05
-
O percentual de vacas em lactação em relação ao número total de animais do
rebanho, como também em relação ao número de vacas do rebanho são parâmetros para
definir a eficiência reprodutiva e produtiva na produção de leite. De acordo com
recomendações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, o número
de vacas em lactação deve ser, no mínimo, 40% do número total de animais do rebanho
e 75% do número total de vacas. Neste estudo o percentual médio de vacas em lactação
representou 18,71% em relação ao número total de animais do rebanho e 58,37% em
relação ao número total de vacas do rebanho, ambos abaixo da recomendação citada.
Ainda segundo Faria (2007), o índice de vacas em lactação em relação ao número de
animais do rebanho, quando bem conduzidos, deveria ser entre 50 e 55% e o percentual de
vacas em lactação em relação ao total de vacas do rebanho de 80 a 85%, índices que se
distanciam mais ainda dos identificados na amostra.
Os resultados identificados na pesquisa demonstram que a composição do rebanho,
especificamente, quanto ao número de vacas e seu percentual em lactação estão abaixo dos
37
recomendados. A situação apresentada pode estar relacionada às dificuldades enfrentadas
pelos criadores nos aspectos dos manejos alimentar, sanitário e reprodutivo o que acarreta
desequilíbrios na evolução do rebanho.
O sistema de criação adotado em todas as propriedades avaliadas foi do tipo semiintensivo, tendo a vegetação nativa como suporte forrageiro, principalmente, no período
chuvoso do ano, quando há maior disponibilidade de alimento e, no período seco
(estiagem), o principal volumoso utilizado é o capim elefante (Penissettum purpureum)
fornecido no cocho. Ainda com relação ao manejo alimentar foi constatado que 60,71%
(17) dos entrevistados já haviam participado de alguma atividade relativa à conservação de
forragens na forma de feno e silagem. Porém, quando indagados sobre a prática destas
técnicas como estratégia alimentar para sustentação do rebanho 92,86% (26) informaram
não executá-las na propriedade.
O destino da produção de leite está representado na Tabela 08. Nela observa-se um
papel muito forte do agente intermediário da venda do leite (atravessador), que
correspondeu a 67,86% (19) dos estabelecimentos e 70,93% do volume de leite produzido
adquirido por este segmento do mercado. Segundo Durr & Costa (2008) os atravessadores
são definidos como todos os pequenos comerciantes no interior dos municípios que
compram produtos dos agricultores e/ou que vendem para o consumidor local. O resultado
deste formato de coleta apresenta resultados positivos, no caso do leite, quando este é
destinado aos estabelecimentos com registro de inspeção sanitária, podendo garantir
melhores condições de higiene no processamento do produto. Porém, isto só é possível
quando o transporte é realizado dentro das condições ideais de higiene e temperatura.
Tabela 08: Destino do leite produzido.
Destino da produção de leite
Queijeira
Laticínio
Atravessador
Consumo próprio
Total
Freq
%
04
02
19
03
28
14,29
7,14
67,86
10,71
100,00
% do leite
produzido
19,50
7,93
70,93
1,64
100,00
Entendemos como negativo o decréscimo no valor pago por litro de leite ao
produtor, que teve preço médio de venda equivalente a R$ 0,81±0,05, para dedução dos
custos do transporte no valor pago ao produtor. Dependendo do volume de leite coletado, o
38
intermediário (atravessador) pode até alcançar melhor rentabilidade na sua atividade do
que o produtor de leite. A coleta de leite em maior escala para abastecimento de
“queijeiras” que não possuem os padrões mínimos de higiene também pode ser
considerado um fator impactante para este segmento da cadeia. Ainda com relação ao
destino da produção de leite foi observado que 10,71% (03) produtores tinham a produção
de leite voltada para o consumo pela família, que equivalia a apenas 1,64% do volume de
leite produzido.
A assistência técnica rural é indefinidamente um componente de extrema
importância para o desenvolvimento da atividade agropecuária em geral, sendo
caracterizado como um agente de transformação da realidade do campo. Neste estudo,
como observado no Gráfico 04, os resultados quanto ao acesso direto à assistência técnica
foi desanimador, tendo 64,29% (18) dos entrevistados informado não receber qualquer
acompanhamento técnico, seja ele particular ou público. Resultado semelhante foi
apresentado pelo Sebrae/GO (2010), em estudo desenvolvido junto à 540 propriedades
rurais nas regiões oeste e noroeste de Goiás identificou que 70% das propriedades não tem
acesso à consultoria e assistência técnica. Lima et al. (2011), em avaliação a um projeto de
assistência técnica em Quixeramobim/CE, constataram que a falta de recursos financeiros,
técnicos despreparados e descontinuidade na assistência técnica foram fatores que tiveram
efeitos negativos sobre os resultados produtivos e na acreditação da assistência por parte
dos produtores.
Gráfico 04: Situação de acesso à assistência técnica rural.
39
Sendo o Brasil um país eminentemente agrícola e desejando despontar dentre os
maiores produtores mundiais no agronegócio, torna-se necessário o investimento na
disponibilização de assistência técnica em quantidade e qualidade adequadas para atender a
este público, que se encontra esquecido na sua simples realidade produtiva, sem aplicação
das novas ferramentas tecnológicas disponíveis que possam proporcionar-lhes melhores
respostas produtivas e econômicas.
Os resultados alcançados junto aos produtores com relação à escrituração
zootécnica do rebanho demonstraram que apenas 46,43% (13) realizam anotações, mesmo
assim com deficiências, dando ênfase principalmente às vacinações preventivas contra
febre aftosa e raiva, impulsionadas, principalmente, pela obrigatoriedade na sua execução.
Conforme destaca Lima et. al (2011), as propriedades rurais no Nordeste, independente de
tamanho ou nível de conhecimento do proprietário, geralmente apresentam dificuldades na
implementação das recomendações técnicas desenvolvidas para o setor o que afeta
resultados zootécnicos e econômicos mais satisfatórios nestes estabelecimentos.
2.3.3. Características sociais
Partindo para a análise das características relacionadas ao fator humano envolvido
na atividade produtiva do leite, apresenta-se no Gráfico 05 a distribuição referente ao nível
de escolaridade dos entrevistados na pesquisa. Observou-se o predomínio de entrevistados
com ensino fundamental incompleto, correspondente a 78,57% da amostra.
Gráfico 05: Distribuição dos entrevistados quanto ao nível de escolaridade.
40
Associando-se o fator escolaridade à idade dos entrevistados, que apresentou média
de 51±10,85 anos de idade, podemos tecer à conclusão de que o acesso e permanência em
relação à educação pelo homem do campo no período anterior aos anos 70 eram precários.
Resultados semelhantes foram obtidos por Gomes (2011) estudando sistemas de produção
de leite bovino no Cariri paraibano, em que 84% dos representantes da amostra possuíam
apenas ensino fundamental e/ou médio.
Analisando os resultados do Censo Demográfico 2010, foi destacado por Brasil
(2011) que em 2010, 9,6% da população brasileira com 15 anos ou mais não era
alfabetizada. A taxa de analfabetismo era maior nas faixas de idade mais elevadas – a
população com 60 anos ou mais concentrava o maior percentual de analfabetos (26,5%),
seguida pela faixa etária entre 50 e 59 anos (13,8%). Nas faixas mais jovens, este
percentual caiu para 2,2% entre 15 e 19 anos e para 3,4% para a população entre 20 a 29
anos. Isso demonstra que a dificuldade de acesso à escola antes encontrada, de alguma
forma vem diminuindo nos últimos anos.
A infraestrutura que possa contribuir para o bem estar social e qualidade de vida no
meio rural obtidos no estudo demonstrou resultados bastante positivos, tendo 96,43% (27),
100% (28) e 85,71% (24) dos estabelecimentos, respectivamente, com água encanada,
energia elétrica e cisternas instaladas. Os fatores que contribuíram significativamente para
a melhoria destes índices foi o desenvolvimento de programas governamentais para
melhoria das condições de moradia e redução da pobreza rural, como o Programa de
Desenvolvimento Solidário (PDS), Luz para Todos e Um Milhão de Cisternas (P1MC). De
acordo com informativo do Ministério de Minas e Energia – MME (2012), de 2003 até
janeiro de 2012 já foram beneficiadas 2,9 milhões de famílias no meio rural com acesso à
energia elétrica, sendo 1,4 milhão na região Nordeste.
2.4. CONCLUSÃO
A atividade produtiva do leite bovino na região estudada apresenta deficiências na
sua organização fundiária e nos aspectos zootécnicos e sociais. Diante disso,
vislumbrando-se o alcance de resultados mais satisfatórios, torna-se necessária à inclusão
de melhores práticas de manejo do rebanho, sobretudo, no aspecto alimentar,
melhoramento genético do rebanho, escrituração zootécnica e assistência técnica visando o
desenvolvimento profissional dos envolvidos no setor e alcance de melhores índices
produtivos.
41
No aspecto social é conveniente desenvolver um trabalho de reorganização
fundiária, de forma que facilite aos usuários da terra à sua posse. Além disso, contribuir
para a melhoria da qualidade de vida rural, de forma que as famílias permaneçam no
campo com segurança, retirando o seu sustento da terra, na tentativa de minimizar cada vez
mais o êxodo, em direção aos centros urbanos, daqueles que desenvolvem alguma
atividade no setor rural.
42
REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS
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Quadrimestral.
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DURR, J.; COSTA, F.A. Cadeias produtivas de base agrária e desenvolvimento regional: o
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43
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Disponível
em:
<http://www.cnpgl.embrapa.br/nova/informacoes/estatisticas/producao/tabela0232.php>.
Acesso em: 10 mar. 2012.
44
3. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA BOVINOCULTURA LEITEIRA NA
REGIÃO SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE
RESUMO: A maioria dos estudos desenvolvidos com o intuito de avaliar a rentabilidade
das atividades agropecuárias levam em consideração apenas análises econômicas e índices
produtivos, esquecendo-se de avaliar os aspectos sociais e ambientais que envolvem a
atividade. O objetivo deste estudo foi desenvolver um índice que defina integral e
instantaneamente o nível de desenvolvimento dos sistemas de produção de leite bovino na
região semiárida do Nordeste brasileiro, baseado nas dimensões econômico/zootécnica,
social e ambiental, que possam contribuir para o desenvolvimento de estratégias
direcionadas ao fortalecimento destes sistemas produtivos. Foram selecionados,
aleatoriamente, 28 estabelecimentos agropecuários que desempenhavam a atividade da
bovinocultura leiteira com posterior aplicação de questionário estruturado nos meses de
setembro e outubro de 2011. A determinação do Índice de Desenvolvimento Rural – IDR
foi determinado pela média aritmética do índice médio de cada propriedade nas três
dimensões estudadas. A média geral do IDR calculado da amostra em análise correspondeu
a 0,43±0,11 numa escala de 0 a 1. Para melhor análise dos índices, os estabelecimentos
foram agrupados em 04 classes, baseando-se no seu IDR. O IDR médio em cada dimensão
foi 0,43, 0,55 e 0,34, respectivamente para econômico/zootécnico, social e ambiental. A
determinação do índice de desenvolvimento rural - IDR encontrado para a amostra
conseguiu agregar os estabelecimentos hierarquicamente, de forma que seja possível o
desenvolvimento de ações vinculadas aos indicadores que apresentaram os piores índices.
PALAVRAS-CHAVE: hierarquização, ambiental, social, dimensão.
ABSTRACT: Most studies with the aim of evaluating the profitability of agricultural
activities take into account only economic analysis and productive indexes, neglecting to
assess the social and environmental aspects that involve the activity. The objective of this
study was to develop an index that set fully and instantly the level of development of
production systems from bovine milk in the semiarid region, of the Brazilian Northeast
based on the economic dimensions / zootechnical, social and environmental, that may
contribute to the development of strategies directed to the strengthening of productive
systems. We randomly selected 28 agricultural establishments that performed the activity
of dairy bovine culture with subsequent application of a structured questionnaire during
September and October 2011. The determination of the Index Rural Development - IDR
was determined by the arithmetic average of each property in the three dimensions studied.
The average computed in the IDR of test sample amounted to 0.43 ± 0.11 on a scale 0-1.
For better analysis of the indices, the sites were grouped into 04 classes, based on your
IDR. The average IDR in each dimension was 0.43, 0.55 and 0.34, respectively for
economic / husbandry, social and environmental. The determination of the rate of rural
development - IDR found for the sample could add establishments hierarchically, so that it
is possible the development of actions linked to the indicators that showed the worst rates.
KEYWORDS: hierarchy, environmental, social, dimension.
45
3.1. INTRODUÇÃO
Um grande aumento na demanda de produção animal é esperado nas próximas
décadas, estando este atrelado ao aumento da população mundial e seus níveis de consumo.
A segurança alimentar e a disponibilidade da água serão outras prioridades para a
humanidade no século 21. No mesmo período, o mundo irá experimentar uma mudança
nas condições climáticas que causará mudanças no clima local, que terá um impacto sobre
a agricultura local e global.
Numa perspectiva geral, as áreas semiáridas são caracterizadas pelo desequilíbrio
entre oferta e demanda de recursos naturais, frente às necessidades básicas das populações
que nelas habitam. De forma específica, essas porções territoriais apresentam feições
variadas, submetidas a condições particulares de clima, solo, vegetação, relações sociais de
produção e, em consequência, a distintos modos de vida (BRASIL, 2004).
As consequências do modelo extrativista predatório se fazem sentir principalmente
nos recursos naturais renováveis da Caatinga. Assim, já se observa perdas irrecuperáveis
da diversidade florística e faunística, aceleração do processo de erosão e declínio da
fertilidade do solo e da qualidade da água pela sedimentação. No que tange à vegetação,
pode-se afirmar que acima de 80% da Caatinga são sucessionais, cerca de 40% são
mantidos em estado pioneiro de sucessão secundária e a desertificação já se faz presente
em, aproximadamente, 15% da área (DRUMOND et al., 2000). Tal situação pode ter sido
ocasionada pela atividade humano, tais como desmatamento de áreas para uso de lenha e
para plantio de culturas anuais e superlotação das áreas com a criação animal.
O semiárido nordestino é caracterizado pela ocorrência de diversas variáveis que se
associam à desertificação, dentre as quais se destacam: os baixos índices pluviométricos, a
irregularidade das precipitações no tempo e no espaço; a ocorrência de ventos quentes e
secos; a intermitência sazonal das drenagens; a forte incidência de radiação solar; a baixa
capacidade de retenção de água; a antiga e intensa ocupação da terra; a utilização de
técnicas rudimentares de uso do solo. (OLIVEIRA-GALVÃO et al., 2003).
O clima tropical semiárido no Brasil caracteriza-se basicamente pelo regime e pela
quantidade de chuvas, definido pela escassez, pela irregularidade e pela concentração das
precipitações pluviométricas. A pluviosidade é concentrada em um curto período de cerca
de três meses, durante o qual ocorrem fortes chuvas de curta duração. A agricultura
familiar explorada em áreas com essa característica chega a oferecer sustento mínimo para
46
as famílias nos períodos de chuva, mas está sujeita a perdas totais na época de seca
(BRASIL, 2005).
A rentabilidade da atividade pecuária está diretamente ligada aos índices obtidos,
uma vez que todos eles têm influência direta na produção e consequentemente nos lucros
do produtor. Assim, produtores e técnicos devem estar atentos para identificar os índices
que estão apresentando maior influência negativa no desempenho da atividade, para assim
identificar os gargalos e, por conseguinte, maximizar a produção e minimizar os custos
(LOPES, et al., 2009).
Segundo Bergamaschi (2011), a produção leiteira no Brasil é uma atividade
predominantemente extrativista. Ela está baseada na exploração dos fatores de produção,
como terra, animais, forragens e mão de obra. Apesar das muitas alternativas tecnológicas
validadas e disponíveis, poucas são incorporadas ao processo produtivo pela falta de
conhecimento, de orientação ou por impossibilidade financeira. Para que haja a
especialização da atividade, é necessária a incorporação de técnicas que possibilitem o
aumento da produção e da produtividade, seja por meio de área, animal ou homem.
A maioria dos estudos desenvolvidos com o intuito de avaliar a rentabilidade das
atividades agropecuárias levam em consideração apenas análises econômicas e índices de
produção, não sendo comuns avaliações dos aspectos sociais e ambientais que envolvem a
atividade em estudo.
O objetivo deste estudo foi desenvolver um índice que defina integral e
instantaneamente o nível de desenvolvimento dos sistemas de produção de leite bovino na
região semiárida do Nordeste brasileiro, baseado nas dimensões socioeconômica,
zootécnica e ambiental, que possam contribuir para o desenvolvimento de estratégias
direcionadas para o fortalecimento destes sistemas produtivos.
3.2. MATERIAL E MÉTODOS
3.2.1. Caracterização da área de estudo
O trabalho foi realizado no município de Acari, mesorregião Central Potiguar e
microrregião Seridó Oriental do Estado do Rio Grande do Norte. Conforme dados do
Censo Demográfico – 2010, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
- IBGE, o município possui uma área territorial de 608,57 km², com densidade
demográfica de 18,13 habitantes/km² e população total de 11.035 habitantes, sendo que
47
apenas 19,3% dos indivíduos são residentes no meio rural, que corresponde a 2.129
habitantes.
A sede do município tem uma altitude média de 270m e apresenta coordenadas
06°26’9,6” de latitude sul e 36°38’20,4” de longitude oeste, distando da capital cerca de
219 km, sendo seu acesso, a partir de Natal, efetuado através das rodovias pavimentadas
BR-226 e BR-427 (BELTRÃO et al., 2005).
No último Censo Agropecuário 2006 realizado pelo IBGE (2006) o setor rural era
composto por 363 estabelecimentos agropecuários, com área média de 143,1 hectares (ha),
sob diferentes sistemas de uso e produção, sendo identificado que 63% (229) dos
estabelecimentos produziram leite. O efetivo de rebanho bovino correspondia a 15.247
cabeças, sendo ordenhadas 3.802 vacas com produção de 4.182.000 litros/leite/ano.
3.2.2. Amostragem
A amostra contemplou 28 propriedades rurais que desempenhavam a atividade da
bovinocultura leiteira. Para a seleção das propriedades tomou-se por base um cadastro
existente no Escritório Local do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio
Grande do Norte – EMATER/RN, em que as propriedades foram selecionadas
aleatoriamente buscando-se abranger às quatro regiões do município (norte, sul, leste e
oeste).
3.2.3. Coleta dos dados
O questionário foi aplicado por um único entrevistador, buscando-se minimizar os
efeitos da aplicação sobre a resposta do entrevistado, tendo a mesma sequência dos
questionamentos em todas as entrevistas.
A pesquisa foi realizada nos meses de setembro e outubro de 2011 com aplicação
de questionários estruturados e entrevista direta aos produtores. Na elaboração dos
questionários levou-se em consideração questões quantitativas e qualitativas que
abordaram as dimensões zootécnica, econômica, social e ambiental, vislumbrando alcançar
um resultado instantâneo da realidade dos fatores envolvidos na atividade produtiva. O
questionário foi aplicado por um único entrevistador, buscando-se minimizar os efeitos da
aplicação sobre a resposta do entrevistado, tendo a mesma sequência dos questionamentos
em todas as entrevistas.
48
3.2.4. Análise dos dados
Os dados obtidos nas entrevistas foram organizados em planilha eletrônica do
Microsoft Office Excel 2010, tendo sido obtidas variáveis dos tipos qualitativas e
quantitativas divididas em três dimensões, sendo elas econômico/zootécnicas, sociais e
ambientais.
O processo de construção do Índice de Desenvolvimento Rural (IDR) considerou
32 indicadores, como descritos a seguir:
Variáveis zootécnicas e econômicas
 X1: Posse da terra: proprietário = 1, outro = 0;
 X2: Conhecimento da área da propriedade: Sim = 1; Não = 0;
 X3: Número total de animais do rebanho bovino, número total de vacas no
rebanho e número de vacas produzindo leite = (nº de animais do rebanho)(menor rebanho da amostra)/(maior rebanho da amostra)-(menor rebanho da
amostra) para cada variável;
 X4: Percentual de vacas no rebanho = (% de vacas do rebanho)-(menor % de
vacas da amostra)/(maior % de vacas da amostra)-(menor % de vacas da
amostra);
 X5: Escrituração zootécnica: Sim = 1; Não = 0;
 X6: Produção diária de leite = (nº de litro de leite do rebanho)-(menor produção
de leite da amostra)/(maior produção de leite da amostra)-( menor produção de
leite da amostra);
 X7: Produtividade de leite = (produtividade leiteira do rebanho)-(menor
produtividade leiteira da amostra)/(maior produtividade leiteira da amostra)(menor produtividade leiteira da amostra);
 X8: Número de ordenhas diárias: 01 por dia = 0; 02 por dia = 1;
 X9: Fornecimento de concentrado aos animais: Sim = 1; Não = 0;
 X10: Produção se silagem e/ou feno: Sim = 1; Não = 0;
 X11: Capacitação sobre silagem e/ou feno: Sim = 1; Não = 0;
 X12: Renda de outras atividades: Sim = 1; Não = 0;
 X13: Assistência técnica: Sim = 1; Não = 0;
49
 X14: Energia elétrica para produção: Sim = 1; Não = 0;
 X15: Falta de pasto no período de estiagem: Sim = 0; Não = 1.
A equação para cálculo do índice para esta dimensão segue descrito abaixo:
Variáveis sociais
 X16: Escolaridade do entrevistado: analfabeto = 0; ensino fundamental incompleto
= 0,25; ensino fundamental completo = 0,50; ensino médio incompleto = 0,75;
ensino médio completo ou mais = 1;
 X17: Idade do entrevistado: menor ou igual a 40 anos = 1; entre 41 e 50 anos =
0,50; maior que 50 anos = 0;
 X18: Unidade escolar próxima à propriedade: Sim = 1; Não = 0;
 X19: Tempo na atividade produtiva do leite = (nº de anos na atividade)-(menor
tempo na atividade da amostra)/(maior tempo na atividade da amostra)-(menor
tempo na atividade da amostra);
 X20: Água encanada em casa: Sim = 1; Não = 0;
 X21: Unidade de saúde próxima à propriedade: Sim = 1; Não = 0;
 X22: Participa de atividade associativa: Sim = 1; Não = 0;
 X23: Cisterna para água de consumo humano: Sim = 1; Não = 0;
 X24: Tratamento na água de consumo humano: Sim = 1; Não = 0;
A equação para cálculo do índice para esta dimensão segue descrito abaixo:
Variáveis ambientais
 X25: Destino de águas servidas: Adequado = 1; Inadequado = 0;
 X26: Controle de pragas na lavoura: alternativo = 1; não pratica = 0,50; agrotóxico
= 0;
 X27: Destino do lixo doméstico: coletado = 1; enterrado = 0,67; céu aberto = 0,33;
queimado = 0;
50
 X28: Conhecimento de técnica de prevenção e combate da erosão: Sim = 1; Não =
0;
 X29: Manejo da vegetação quanto ao desmatamento: não desmata = 1; corte e
coivara = 0,5; queima = 0;
 X30: Realiza corte de lenha e/ou produção de carvão na propriedade: Sim = 0; Não
= 1;
 X31: Mourões e estacas são obtidos na propriedade: Sim = 1; Não = 0;
 X32: Tem alguma área plantada com a finalidade de produção de madeira: Sim =
1; Não = 0;
A equação para cálculo do índice para esta dimensão segue descrito abaixo:
A determinação do Índice de Desenvolvimento Rural – IDR foi calculado pela
média aritmética do índice de cada propriedade em cada uma das três dimensões estudadas,
que reflete de forma consolidada a situação das 28 propriedades da amostra, segundo os 32
indicadores analisados nas 03 dimensões consideradas.
( IDRZE + IDRS + IDRA)
3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A média geral do IDR calculado da amostra em análise correspondeu a 0,43±0,11
numa escala de 0 a 1. Para melhor análise dos índices, os estabelecimentos foram
agrupados em 04 classes, baseando-se no seu IDR, conforme demonstrado na Tabela 09.
Tabela 09: Agrupamento dos estabelecimentos da amostra conforme o seu índice de
desenvolvimento rural – IDR.
Classe
IDR
IDR
01
02
03
04
0,25 - 0,65
0,54 - 0,65
0,43 - 0,53
0,32 - 0,42
< 0,32
Econômico
+ zootécnico
0,42
0,58
0,43
0,41
0,25
Social
Ambiental
Média
0,55
0,73
0,65
0,42
0,40
0,34
0,50
0,35
0,30
0,23
0,43
0,60
0,48
0,38
0,29
Número de
propriedades
28
05
07
12
04
51
Em análise de cada dimensão que compõe o IDR percebeu-se que a ambiental
apresentou o pior índice, equivalente a 0,34. Já a social foi a que apresentou melhor
desempenho – 0,55, superior à média geral do IDR e a dimensão econômico/zootécnica
correspondente a 0,42 ficando aproximada à média geral do IDR da amostra. Para todas as
dimensões os índices foram decrescentes da classe 01 a 04.
As classes 01 e 02, que representam 43% dos estabelecimentos amostrados,
apresentaram IDR superior à média geral da amostra, enquanto as classes 03 e 04 (57% dos
estabelecimentos amostrados) tiveram médias inferiores ao IDR médio da amostra. A
seguir, iremos discutir cada classe, detalhando as principais variáveis que contribuíram nos
seus agrupamentos em cada dimensão estudada.
3.3.1. Classe 01
Esta classe é formada por 05 estabelecimentos (6, 7, 9, 11 e 20) da amostra, nela
estão os melhores índices médios para cada dimensão e IDR = 0,60. No gráfico 06, é
apresentado o IDR e o índice de cada dimensão em cada estabelecimento nesta classe.
Gráfico 06: Estabelecimentos que representam a classe 01 de acordo com o seu IDR
Na dimensão econômico/zootécnica obteve IDR médio 0,58, apresentando as seguintes
características: 80% dos entrevistados eram proprietários da terra; todos tinham
conhecimento da área do estabelecimento; a média do número de cabeças do rebanho foi
63±25 cabeças, o número médio de vacas no rebanho era 22±10 cabeças, o percentual de
vacas no rebanho correspondeu a 35% do total, média de vacas em lactação de 14±6
52
cabeças, produção média de 57±26 litros/dia, produtividade média equivalente a 4,1 litros
de leite/vaca/dia e a maioria realizava 02 ordenhas diárias; todos forneciam concentrado ao
rebanho; a maioria recebia assistência, tinham renda de outras atividades e não produziam
silagem e/ou feno. Segundo Bett & Silva (2009), a tecnificação, mesmo que simples,
porém bem gerenciada, trás benefícios à produção leiteira nos regimes de economia
familiar.
O IDR na dimensão social para esta classe foi 0,73, apresentando as seguintes
características: 02 entrevistados possuíam ensino médio completo, a idade média do grupo
foi 53 anos de idade e média de 33 anos na atividade rural. O tempo de atividade na
bovinocultura de leite demonstra que os estabelecimentos que compõem este grupo já se
encontram bem estabelecidos, o que garante sua estabilidade. Todos dispunham de água
encanada em casa, cisterna para água de consumo humano e associados à cooperativa e/ou
associação.
Na dimensão ambiental, com IDR médio 0,50, as características mais marcantes
para este resultado foram que: todos tinham conhecimento de alguma forma de prevenção
e controle da erosão do solo, não realizavam corte de madeira para produção de lenha e/ou
carvão e os mourões e estacas eram obtidos no próprio estabelecimento.
3.3.2. Classe 02
Esta classe é formada por 07 estabelecimentos (3, 4, 5, 12, 21, 25 e 28) da amostra
com IDR = 0,48. No gráfico 07 demonstramos o IDR e o índice de cada dimensão em cada
estabelecimento desta classe.
Gráfico 07: Estabelecimentos que representam a classe 02 de acordo com o seu IDR.
53
Nesta classe a dimensão econômico/zootécnica, média 0,43, apenas 01 dos 07
entrevistados não era o proprietário da terra e este também não tinha conhecimento da área
total do estabelecimento. A média de animais no rebanho era de 56±72 cabeças, o
percentual médio de vacas no rebanho equivalia a 48% e o número médio de vacas em
lactação de 11±13 cabeças. A produção média diária de leite era de 45±60 litros/dia e
produtividade média de 4,1 litros/vaca/dia.
Na dimensão social, média 0,65, apenas 01 dos entrevistados apresentava ensino médio
completo, os demais tinham apenas o ensino fundamental incompleto. A idade média
correspondeu a 45 anos de idade e média de 22 anos na atividade rural, todos dispunham
de água encanada para uso doméstico e cisterna para água de consumo humano.
Para a dimensão ambiental todos os estabelecimentos demonstraram o destino
inadequado de águas servidas, o lixo produzido era disposto a céu aberto ou queimado, a
maioria utilizava agrotóxico na lavoura, a maioria desconhecia alguma técnica de combate
à erosão e apenas 01 estabelecimento não realizava a extração de estacas e mourões na
propriedade.
3.3.3. Classe 03
A classe 03 foi composta por 12 estabelecimentos (2, 8, 10, 13, 16, 17, 18, 19, 22, 23,
24, e 27), que corresponderam a 43% do número de propriedades da amostra.
A dimensão econômico/zootécnica teve como informações mais relevantes as seguintes:
a maioria dos entrevistados não eram donos da terra; a média de animais do rebanho
apresentou alta variabilidade, sendo de 96±101 cabeças, o número médio de vacas no
rebanho era 25±14 cabeças, percentual médio de vacas no rebanho de 36%±16%, número
médio de vacas em lactação equivalente a 16±11 cabeças, produção média diária de 63±46
litros de leite/dia e produtividade média de 3,8 litros/vaca/dia; metade não fazia
escrituração zootécnica; a maioria fornecia alimento concentrado; nenhum executava a
prática da conservação de forragem, apesar de mais da metade já ter tido acesso às
informações técnicas; a maioria não tem acesso à assistência técnica pública e a maioria
possui renda de outras fontes. O índice médio da classe nesta dimensão foi 0,41. O gráfico
08 representa os 12 estabelecimentos que compõem a classe com seus respectivos índices.
54
Gráfico 08: Estabelecimentos que representam a classe 03 de acordo com o seu IDR.
Na dimensão social apresentou índice médio 0,42. Os entrevistados apresentaram ensino
fundamental incompleto, média de idade 50±10 anos, tempo na atividade de 24±14 anos;
não há unidade educacional próximo aos estabelecimentos e a maioria não realiza
tratamento na água de consumo humano.
No aspecto ambiental o destino da água servida era inadequado; o destino do lixo era a
queima; os entrevistados desconhecem técnicas de controle da erosão; quando desmatam
os restos vegetais são queimados. O índice médio desta dimensão foi 0,30.
3.3.4 Classe 04
A classe 04 foi a que apresentou os piores índices em todas as dimensões com IDR
médio da classe igual a 0,29, sendo composto por 04 estabelecimentos (1, 14, 15 e 26).
Na dimensão econômico/zootécnico apresentou as seguintes características: apenas 02
entrevistados são proprietários, mas todos têm conhecimento da área da propriedade;
número médio de animais do rebanho é de 34±19 cabeças, vacas no rebanho 14±6 cabeças,
percentual de vacas no rebanho 44%±12%, número de vacas produzindo leite 10±8
cabeças, produção diária de leite 28±12 litros, produtividade 3,3 litros/vaca/dia; não
realizam escrituração zootécnica; praticam apenas 01 ordenha ao dia; nenhum faz reserva
estratégica de alimento na forma de silagem e/ou feno, não tem conhecimento sobre a
técnica, afirmam faltar alimento para os animais no período de estiagem e possuem renda
de outras fontes.
55
Na dimensão social todos possuem apenas ensino fundamental incompleto, idade média
de 59±13 anos e idade média na atividade de 23±21 anos; não há unidade educacional e de
saúde próximos aos estabelecimentos e não realizam tratamento na água de consumo
humano. O IDR médio nesta dimensão foi 0,40.
Na dimensão ambiental o destino da água servida é inadequado; todos realizam controle
de pragas e doenças nas lavouras com uso de agrotóxicos, o destino do lixo produzido na
propriedade é a queima; nenhum entrevistado tem conhecimento de técnicas de combate à
erosão e queimam os restos vegetais provenientes do desmatamento. O IDR desta
dimensão foi 0,23. O gráfico 09 representa os quatro estabelecimentos que compõem a
classe com seus respectivos índices.
Gráfico 09: Estabelecimentos que representam a classe 03 de acordo com o seu IDR.
Com base no IDR da amostra dos estabelecimentos pode-se entender que os
sistemas de produção em análise precisam buscar meios para mudança da sua realidade
atual. Vistos os índices obtidos, assim como as características discutidas em cada classe
nota-se que as classes 01 e 02, podem manter-se na atividade e podendo alcançar melhores
resultados. Porém, sendo necessário à realização de ajustes nos seus sistemas de produção.
As classes 03 e 04, no âmbito da amostra, estão em patamares bem inferiores, precisando
evoluir na maioria dos seus indicadores para manterem-se no mercado, principalmente, na
dimensão ambiental. A Tabela 10, que segue, apresenta o ranking dos estabelecimentos
trabalhados com base no seu IDR.
56
Tabela 10 – Ranking dos estabelecimentos da amostra com base no seu IDR.
Propriedades
IDR
Ranking
Classe
11
7
6
9
20
21
28
4
5
12
25
3
22
13
8
24
23
10
18
27
19
2
17
16
14
26
15
1
0,65
0,62
0,60
0,59
0,56
0,51
0,51
0,48
0,47
0,47
0,47
0,44
0,42
0,42
0,42
0,40
0,39
0,38
0,37
0,37
0,35
0,34
0,34
0,34
0,32
0,32
0,28
0,25
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
1
1
1
1
1
2
2
2
2
2
2
2
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
4
4
4
4
Econômico +
zootécnico
0,63
0,57
0,64
0,52
0,55
0,32
0,48
0,47
0,53
0,30
0,32
0,61
0,54
0,62
0,51
0,32
0,21
0,49
0,30
0,32
0,44
0,42
0,26
0,46
0,29
0,21
0,21
0,25
Social
Ambiental
0,64
0,79
0,79
0,87
0,55
0,59
0,67
0,84
0,82
0,56
0,64
0,41
0,35
0,39
0,63
0,70
0,69
0,27
0,38
0,31
0,36
0,35
0,43
0,23
0,54
0,43
0,43
0,26
0,69
0,50
0,38
0,38
0,58
0,63
0,38
0,13
0,06
0,54
0,44
0,29
0,38
0,25
0,13
0,19
0,25
0,38
0,42
0,48
0,25
0,25
0,31
0,31
0,13
0,31
0,31
0,25
3.4. CONCLUSÃO
A determinação do índice de desenvolvimento rural - IDR encontrado para a amostra
conseguiu agregar os estabelecimentos hierarquicamente, de forma que seja possível o
desenvolvimento de ações vinculadas aos indicadores que apresentaram os piores índices.
Para isso, é necessário ser realizado um programa de incorporação ou revitalização dos
valores fundamentais que venham a contribuir para a manutenção equilibrada dos sistemas
de produção de leite no Semiárido nordestino.
As práticas zootécnicas e de preservação e conservação ambiental precisam ser
reavaliados para garantir que estes sistemas de produção se sustentem a médio e longo
prazo, sem comprometer os recursos não renováveis da natureza, principalmente, nas
classes 03 e 04.
57
A incorporação de ações educacionais de cunho permanente é de necessidade imediata,
assim como capacitação específica aos agentes que atuam diretamente com a cadeia
primária da produção de leite. Com estas ações o alcance às melhores condições sociais,
econômicas e ambientais, certamente, podem ser alcançadas.
58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Estado do Rio Grande do Norte: diagnóstico do município de Acari. Ministério de Minas
e Energia. Recife, 2005.
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2011.
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Nacional. (Documento Base, 1).
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Caatinga. Petrolina, 2000. 23 p. (Documento de discussão). Disponível em: <
http://www.semiarido.org.br/UserFiles/file/Estrategias%20para%20uso%20sustentavel%2
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Brasil:
uma
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2003.
Disponível
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<
http://www.ibama.gov.br/ojs/index.php/braflor/article/viewFile/87/86> Acesso em: 1° mar.
2012.
59
APÊNDICE
APÊNDICE 01: Modelo de questionário aplicado na pesquisa
CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO NA MICRORREGIÃO
SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE
Mestrando: José Geraldo Bezerra Galvão Júnior
Questionário nº:
Entrevistado:
Propriedade:
Data aplicação:
Função:
Comunidade:
Hora inicial:
Apelido:
Distância à cidade:
A. INDICADORES ECONÔMICOS E ZOOTÉCNICOS
1 - A propriedade é sua?
( ) Compra
( ) Herança ( ) Doada
( ) Outro:
( )
SIM
( ) Arrendamento ( ) Parceria ( ) Cedida
( ) Meeiro
( )
NÃO
( ) Outro:
2- Sabe qual o tamanho da propriedade (área/ha)? ( ) SIM, Quanto: ________ ( ) NÃO.
3- Número total de animais do rebanho bovino (vacas, touros, bezerros, novilhas, etc.):
________________________________________________________________________
4- Número total de vacas do rebanho (incluindo novilhas, vacas paridas e apartadas):
________________________________________________________________________
5- Número de vacas produzindo leite: _________________________________________
6- Qual a raça predominante das vacas do curral? _______________________________
7-
Faz anotações sobre os animais do rebanho? ( ) SIM ( ) NÃO.
8- Quais as informações que são anotadas? (vacinas, doenças, data do parto, sexo da cria,
peso do leite, etc.)
Reprodutivas: ___________________________________________________________
Produtivas: ______________________________________________________________
Sanitárias:_______________________________________________________________
9- Quantos litros de leite está produzindo por dia (kg/leite) ________________________
10- Preço do litro de leite vendido (quando processa, qual o preço de venda por produto)
________________________________________________________________________
11- Como é feita a ordenha (
) Manual (
) Mecânica
60
12- Quantas ordenhas são realizadas por dia?
(
) 01
( ) 02
(
13- O que faz com o leite?
( ) Atravessador ( ) Porta a porta ( ) Laticínio
( ) VENDE
( ) PROCESSA ( ) Queijo ( ) Manteiga ( ) Iogurte ( ) Outro:
14-
) 03
( ) Outro:
Fornece concentrado aos animais (milho, soja, farelo trigo, torta) – ( ) SIM ( )
NÃO.
15-
Em que época fornece? ( ) Ano todo ( ) Só na seca
16-
Já produziu ou produz silagem e/ou feno:
17-
Já participou de alguma palestra sobre fenação e/ou silagem?
( ) SIM
( ) NAO
(
) SIM
(
)
NAO
18-
Fornece capim no cocho? ( ) SIM
( ) NÃO
19-
Possui renda de outra atividade: (
20-
Se SIM, quais as outras fontes de renda?
) SIM
( ) NAO
( ) Aposentadoria ( )Pensão ( ) Programas sociais
( ) Aluguel
( ) Outro:
________________________________________________________________________
___
21-
Recebe
visita
(assistência)
técnica
permanente
(EMATER,
BANCO,
COOPERATIVA)________________________________________________________
B. INDICADORES SOCIAIS
22-
Estudou até que série?_________________________________________________
23-
Qual a sua idade hoje? ________________________________________________
24-
Quantas pessoas moram na casa? ________________________________________
25-
Tem escola próxima na localidade (na comunidade): ( ) SIM ( ) NAO
26-
Já faz quanto tempo que é produtor de leite (anos) __________________________
27-
Possui água encanada em casa (fazenda)? _________________________________
28-
De onde vem a água?: _________________________________________________
29-
Possui energia elétrica em casa? ( ) SIM ( ) NÃO
30-
Possui energia elétrica para produção (irrigação, forrageira, etc.)? (
) SIM (
)
NÃO
31-
Tem posto de saúde próximo: ( ) SIM ( ) NÃO
32-
É sócio de cooperativa ou associação? ( ) SIM ( ) NÃO
61
C. INDICADORES AMBIENTAIS
33- Tem cisterna para água de beber (pessoas): ( ) SIM ( ) NÃO (FOTO)
34- Se NÃO, bebe de onde? _______________________________________________
35- – Faz algum tratamento na água de beber? ( ) SIM ( ) NÃO
36- Se SIM, qual o tratamento? ____________________________________________
37- Qual o destino da água usada na casa (pia, banho, lavagem de tambores e pratos)
( ) vala aberta
( ) fossa séptica/sumidouro (
) estação de tratamento (
) Outro
_______________ (FOTO)
38- Como é feito o controle de pragas na lavoura? _____________________________
39- O lixo produzido na propriedade vai para onde? _____________________ (FOTO)
40- Conhece alguma forma de evitar o aparecimento de erosão (voçorocas, barrocas) no
solo (curvas de nível, cultivo em faixas, barramentos)? ( ) SIM ( ) NÃO
41- Usa agrotóxico na lavoura (
) SIM (
) NÃO ( ) NÃO PLANTA
42- Qual (is) os produtos utilizados? _________________________________________
43- Quem recomenda o uso e a forma de usar? _________________________________
44- O que faz com as embalagens vazias? _____________________________________
45- Quando corta a vegetação de uma área para plantio o que faz com os restos das
árvores? (queima, enleira, picota) _____________________________________________
46- Produz ou deixa produzir carvão na propriedade: (
47- Cozinha em: (
) Fogão à lenha (
) SIM ( ) NÃO
) Gás ( ) Carvão
( ) Outro:______________
48- Os mourões e estacas das cercas são retiradas da propriedade (
) SIM (
) NÃO
49- Quais os tipos de plantas mais usados? _____________________________________
50- Tem alguma área que você plantou para cortar madeira (estacas, mourões ou lenha)
(
) NÃO (
) SIM – Qual a planta: __________________________________________
51- Tem alguma área cercada que não usa para nada (pasto, madeira, caça, etc.) –
RESERVA LEGAL _______________________________________________________
52- Falta pasto na seca (
) SIM (
) NÃO
53- Se SIM, porque falta? _________________________________________________
Hora do término da aplicação:__________
62
APÊNDICE 02: Comprovante de envio de artigo para revista
63
APÊNDICE 03: Artigo enviado à Revista: SEMINA: CIÊNCIAS AGRÁRIAS (EISSN 7679 – 0359.
PERFIL DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE BOVINO NO SERIDÓ POTIGUAR
PROFILE OF PRODUCTION SYSTEMS IN BOVINE MILK SERIDÓ POTIGUAR
José Geraldo Bezerra Galvão Júnior; Adriano Henrique do Nascimento Rangel; Magda Maria
Guilhermino; Josimar Torres Gomes; Henrique Rocha de Medeiros; Luciano Patto Novaes
Resumo
Objetivou-se neste estudo caracterizar os sistemas de produção de leite bovino instalados na região
Semiárida Potiguar, baseado nos aspectos sociais, econômicos e zootécnicos, visando contribuir na
manutenção e aprimoramento da atividade leiteira na região. Foram selecionados, aleatoriamente,
28 estabelecimentos agropecuários que desempenhavam a atividade da bovinocultura leiteira com
posterior aplicação de questionário estruturado nos meses de setembro e outubro de 2011 e os
dados analisados com aplicação de medidas de análise descritiva. Os resultados demonstraram que
53,57% dos entrevistados eram proprietários da terra, a mediana da área das propriedades
correspondeu a 135 hectares, a mediana do número de animais no rebanho bovino foi de 51
cabeças, com número mínimo de 11 e máximo de 350 cabeças nos estabelecimentos da amostra,
85,72% dos estabelecimentos tinham até 23 vacas em lactação, todos aplicavam a técnica de
ordenha manual com bezerro ao pé, com produtividade média de 3,91 litros de leite/vaca/dia,
92,86% dos entrevistados não produziam silagem e/ou fenação, 64,29% não tem acesso à
assistência técnica, a idade média dos entrevistados foi 51±10,85 anos de idade, 78,57% tinham
apenas ensino fundamental incompleto, 96,43%, 100% e 85,71% dos estabelecimentos tinha água
encanada, energia elétrica e cisternas instalados, respectivamente. Conclui-se que é necessária à
inclusão de melhores práticas de manejo do rebanho, escrituração zootécnica, assistência técnica e
reorganização fundiária.
PALAVRAS-CHAVE: bovinocultura, Caatinga, escrituração, Nordeste, rebanho.
64
Abstract
ABSTRACT: The objective of this study was to characterize the production systems of bovine milk
installed in the semiarid Potiguar region, based on social, economic and husbandry order to
contribute to the maintenance and improvement of dairy farming in the region. We randomly
selected 28 agricultural establishments that performed the activity of dairy bovine culture with
subsequent application of a structured questionnaire during September and October 2011 and the
data analyzed with application of measures of descriptive analysis. The results showed that 53.57%
of the interviewees were owners of the land, the median area of the properties amounted to 135
hectares, the median number of animals in the herd was 51 head, with minimum 11 and maximum
of 350 heads establishments in the sample, 85.72% of establishments had a maximum of 23 cows
in lactation, all applied the technique of hand milking with suckling calves, with an average
productivity of 3.91 liters / cow / day, 92.86% of interviewees did not produce silage and / or hay,
64.29% have no access to technical assistance, the average age of interviewees was 51 ± 10.85
years old, 78.57% had only primary education, 96.43% , 100% and 85.71% of establishments had
running water, electricity, and cisterns installed, respectively. It is necessary that the inclusion of
best practices in herd management, bookkeeping zootechnical, technical assistance and land
reorganization.
KEYWORDS: cattle, Caatinga, bookkeeping, Northeast, herd.
Introdução
A atividade da bovinocultura leiteira desenvolvida no Semiárido nordestino, na sua grande
maioria, é composta por estabelecimentos familiares, com baixo nível de inovação tecnológica e
sazonalidade da produção, em função dos períodos chuvoso e seco ao longo do ano.
O regime de criação animal predominante são o extensivo e o semi-intensivo, no qual os
animais utilizam a vegetação nativa do bioma Caatinga para sua mantença e produção. No sistema
extensivo é baixo o investimento em instalações, tendo o suporte alimentar baseado em pastos
nativos e suplementação concentrada e mineral, quando existente, nem sempre é adequada, além de
baixo controle reprodutivo e sanitário o que conduz à baixa produtividade de leite por animal. No
sistema semi-intensivo os animais sofrem maior controle pelo criador, normalmente, sendo
fornecida suplementação volumosa e concentrada no cocho, comumente utilizada no período seco
ou durante todo o ano, os animais passam parte do dia estabulados, existe uma preocupação na
melhoria do suporte forrageiro com a implantação de áreas para produção de volumosos sob
irrigação e enriquecimento dos pastos nativos, há melhor controle sobre os aspectos sanitário e
reprodutivo e, nestas condições, os índices produtivos são melhores em relação ao sistema
extensivo.
O uso de áreas de baixios (aluvião) e açudes são utilizados para produção de alimentos
volumosos para uso na suplementação da dieta. Nos períodos de secas prolongadas, os recursos
65
naturais são tão exauridos que, em determinadas situações os animais não têm acesso à água para
suprir suas necessidades hídricas. Em certas localidades de difícil acesso, os próprios moradores
passam dificuldades para sobreviver.
Um forte entrave relacionado aos sistemas de produção de leite na região está relacionado com
o baixo nível de capacidade gerencial dos produtores. Na maioria dos estabelecimentos não são
contabilizados custos e/ou receitas, bem como a escrituração zootécnica da atividade. Diante desta
realidade, é quase que impossível à realização de planejamento para investimentos no setor, sem o
conhecimento de uma certeza futura.
A utilização dos recursos naturais da região já vem apresentando sinais de desgaste e
esgotamento. O corte da vegetação nativa para a venda de lenha visando à obtenção alternativa de
renda está afetando drasticamente a cobertura vegetal sobre o solo, aliado a falta de práticas
conservacionistas do seu uso, ofertando condições para a aceleração do processo erosivo sobre o
solo.
A contaminação das fontes de água (açudes, barragens, poços, rios, etc.) com lixo, efluentes
líquidos e sólidos (humano e animal), agrotóxicos e adubos químicos está se tornando cada vez
mais comum tanto no meio rural quanto urbano, não se constatando uma preocupação pela
população no uso e conservação deste recurso fundamental e valioso.
A taxa de lotação animal nos pastos nativos acima da recomendação contribui, ainda mais, no
processo de esgotamento dos recursos forrageiros, afetando diretamente a rentabilidade produtiva
do sistema. A otimização do uso dos recursos para o alcance de níveis satisfatórios de produção
precisam ser fundamentados, evitando-se a maximização do uso e esgotamento dos recursos
naturais disponíveis ao setor produtivo.
Analisando-se as condições sociais e econômicas dos envolvidos com o setor produtivo da
bovinocultura, é necessária uma análise e reflexão sobre que realidade estas pessoas vivem,
principalmente, em relação aos fatores sociais, trabalhistas, saúde e educação.
O desenvolvimento de pesquisas voltadas ao conhecimento da estrutura e da distribuição
espacial da pecuária leiteira no Brasil é de grande relevância para definição de políticas de
infraestrutura, transporte, logística, análise de viabilidade de projetos de desenvolvimento regional
e setorial e de programas de colonização e assentamento. É também importante para o
estabelecimento de estratégias em vigilância sanitária, rastreabilidade, avaliação de risco
geográfico de doenças e estudos de dinâmica do setor agropecuário (ZOCCAL, et al. 2006).
O estudo da caracterização do perfil dos sistemas de produção de leite bovino na Região Seridó
do RN passa pela investigação das inter-relações entre os elementos discutidos acima. Diante disso,
este estudo objetivou caracterizar os sistemas de produção de leite bovino instalados na região
Semiárida Potiguar, baseado nos aspectos sociais, econômicos e zootécnicos visando contribuir na
manutenção e aprimoramento da atividade leiteira no município.
66
Material e métodos
1. Caracterização da área de estudo
O trabalho foi realizado no município de Acari, mesorregião Central Potiguar e
microrregião Seridó Oriental do Estado do Rio Grande do Norte. Conforme dados do Censo
Demográfico – 2010, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE, o
município possui uma área territorial de 608,57 km², com densidade demográfica de 18,13
habitantes/km² e população total de 11.035 habitantes, sendo que apenas 19,3% dos indivíduos são
residentes no meio rural, que corresponde a 2.129 habitantes.
A sede do município tem uma altitude média de 270m e apresenta coordenadas 06°26’9,6”
de latitude sul e 36°38’20,4” de longitude oeste, distando da capital cerca de 219 km, sendo seu
acesso, a partir de Natal, efetuado através das rodovias pavimentadas BR-226 e BR-427 (Beltrão et
al., 2005).
No último Censo Agropecuário (IBGE, 2006), o setor rural era composto por 363
estabelecimentos agropecuários, com área média de 143,1 hectares (ha), sob diferentes sistemas de
uso e produção, sendo identificado que 63% (229) dos estabelecimentos produziram leite. O efetivo
de rebanho bovino correspondia a 15.247 cabeças, sendo ordenhadas 3.802 vacas com produção de
4.182.000 litros/leite/ano.
2. Amostragem
A amostra contemplou 28 propriedades rurais que desempenhavam a atividade da
bovinocultura leiteira. Para a seleção das propriedades tomou-se por base um cadastro existente no
Escritório Local do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte –
EMATER/RN, em que as propriedades foram selecionadas aleatoriamente buscando-se abranger às
quatro regiões do município (norte, sul, leste e oeste).
3. Coleta dos dados
A pesquisa foi realizada nos meses de setembro e outubro de 2011 com aplicação de
questionários estruturados e entrevista direta aos produtores. A elaboração dos questionários
buscou levar em consideração questões quantitativas e qualitativas que abordassem as dimensões
zootécnica, econômica e social, vislumbrando alcançar um resultado instantâneo da realidade dos
fatores envolvidos na atividade produtiva. Na dimensão zootécnica foram abordadas as seguintes
questões: número total de animais do rebanho bovino, número total de vacas no rebanho, número
de vacas produzindo leite, produção diária de leite, número de ordenhas diárias, padrão genético do
rebanho, formas suplementação alimentar, produção de silagem e/ou feno, assistência técnica
67
obtida, práticas de manejo sanitário e disponibilidade de energia elétrica para produção. Na
dimensão social foram aplicados os seguintes questionamentos: participação em cursos voltados
para a atividade, escolaridade do entrevistado, idade do entrevistado, proximidade de unidade
escolar na comunidade, tempo que desenvolve a atividade, disponibilidade de água encanada na
moradia, unidade de atendimento à saúde na comunidade, associativismo, disponibilidade de
cisterna para água de consumo humano e realização de tratamento na água de consumo humano.
Na dimensão econômica foram indagadas as seguintes questões: área total da propriedade,
condição no uso da terra, obtenção de renda em outras atividades, destinação do leite produzido,
preço de comercialização do leite.
O questionário foi aplicado por um único entrevistador, buscando-se minimizar os efeitos
da aplicação sobre a resposta do entrevistado, tendo a mesma sequência dos questionamentos em
todas as entrevistas.
4. Análise dos dados
Os dados obtidos nas entrevistas foram organizados em planilha eletrônica do Microsoft
Office Excel 2010, tendo sido obtidas variáveis dos tipos qualitativas e quantitativas, cabendo
sempre que necessárias transformações para análise utilizando-se a estatística descritiva: média
aritmética, desvio-padrão, mediana, porcentagem e valores mínimo e máximo.
Resultados e discussão
1. Características das propriedades
Os resultados obtidos relacionados ao aspecto de condições de uso da terra estão descritos na
Tabela 04. Observa-se que da amostra trabalhada 53,57% (15) das unidades produtivas eram
exploradas pelo seu proprietário. Uma questão relevante a ser discutida é a forma de acesso à
propriedade, sendo em 53,33% (08) obtidas através de herança, fator que pode caracterizar a
continuidade das gerações no desenvolvimento da atividade. Em estudo desenvolvido por Sant’ana
& Costa (2004) em três municípios da mesorregião de São José do Rio Preto-SP, constataram que
quase 60% dos chefes de famílias trabalhavam na propriedade rural dos pais e sua quase totalidade
recebeu alguma herança na forma de terra dos pais ou, em frequência bem menor, do sogro (a). Em
vários depoimentos constata-se que eles também contribuíram na aquisição ou ampliação desse
patrimônio, quando trabalhavam com os pais.
Ainda neste aspecto, outro fator deve ser analisado quando observadas as outras formas de
uso da terra, em que “o morador”, representa 46,15% (06) dos entrevistados. Este formato de uso
da terra caracteriza-se, geralmente, quando o proprietário da terra não reside no estabelecimento e
tem sua renda principal advinda de outra atividade. Para que a propriedade não fique improdutiva
68
ela é disponibiliza ao morador que passa a residir na propriedade e retirar o seu sustento e de sua
família das atividades lá desenvolvidas ou recebe algum pagamento pelos serviços prestados. Em
contrapartida, o proprietário passa a ser recompensado pelo morador com algum benefício da
produção, como por exemplo, o manejo do seu rebanho, além da manutenção do seu patrimônio, a
terra.
Tabela 04: Condições de uso da terra.
Proprietário
Herança
Compra
Assentamento
Outras formas de uso
Morador
Parceiro
Cedida
Arrendamento
15
08
05
02
13
06
03
03
01
53,57%
53,33%
33,33%
13,33%
46,43%
46,15%
23,08%
23,08%
7,69%
Na Tabela 05 verifica-se a distribuição das unidades de produção de leite quanto ao aspecto
da sua área total. Quando questionados quanto ao tamanho da área da propriedade alguns
entrevistados não tiveram conhecimento para informá-la, correspondendo a 25% (07) da amostra,
outros tinham a informação apenas das medidas em “braças”, unidade de medida linear que
equivale a 2,20 metros. O conhecimento da área e características da propriedade rural é
indispensável ao seu planejamento, sendo norteador na determinação do tipo de exploração e na
capacidade de suporte para o rebanho, principalmente, quando se tem como suporte forrageiro a
vegetação nativa.
Tabela 05: Área total das propriedades
Tamanho da propriedade (hectares)
Até 50
De 51 a 100
De 101 a 200
Acima de 200
Não informada
Total
FREQ.
05
04
06
06
07
28
%
17,86
14,29
21,43
21,43
25,00
100,00
69
Outro aspecto que deve ser observado é a preservação obrigatória da reserva legal, sendo para o
bioma Caatinga correspondente a, pelo ao menos, 20% da área total da propriedade. Nas
entrevistas, apenas em um sistema de produção foi informado que havia a delimitação respeitada, o
que nos conduz a repensar os meios de conscientização e atuação prática para melhorias destes
sistemas neste quesito.
As propriedades com área conhecida representaram 75% (21) da amostra, sendo 32,15%
(9) com área até 100 ha e 42,86% (12) acima de 100 ha. As dimensões dos empreendimentos foram
12 e 1200 ha para o menor e maior, respectivamente, e mediana da área das propriedades com área
conhecida equivalente a 135 hectares.
2. Características do rebanho e do manejo adotado
Os rebanhos identificados durante a pesquisa correspondem a animais mestiços sem padrão
racial definido (SRD) proporcionado pelos sucessivos acasalamentos ao longo do tempo entre
diferentes raças. O número de bovinos no rebanho variou de 11 até 350 cabeças para o menor e
maior rebanho, respectivamente, e mediana de 51 cabeças. A Tabela 06 destaca as informações de
tamanho do rebanho bovino, número de vacas do rebanho e número de vacas em lactação.
Partindo da informação do número total de animais do rebanho foi identificado que a soma
das classes 01 e 02 com representatividade até 60 cabeças, representa 67,85% (19) dos rebanhos da
amostra e a classe 05 equivale a 14,29% (4) dos rebanhos acima de 120 cabeças. A identificação do
rebanho total da propriedade é um dado fundamental, pois com ele é possível executar o
planejamento geral da propriedade em todos os aspectos, sendo mais especificamente relacionado
com o manejo sanitário, alimentar, reprodutivo, área, infraestrutura, mão-de-obra e insumos em
geral para a produção.
O número de vacas do rebanho pode representar potencial reprodutivo e produtivo para o
estabelecimento que desenvolve a produção de leite, tendo nela o principal componente na
composição da renda obtida, além da possibilidade de venda e troca de animais. Para esta condição,
os valores mínimo e máximo foram 04 e 73 cabeças de vacas no rebanho, respectivamente. Damos
destaque às classes 06 e 07, que juntas representam 71,43% (19) das propriedades estudadas que
compreendem o número de até 27 vacas no rebanho.
Para o número de vacas em lactação obteve-se o valor mínimo de 02 e máximo 42 vacas
em lactação. As classes 12 e 13 representam o percentual de 85,72% (24) das propriedades em
estudo, refletindo rebanhos com até 23 animais em lactação.
A ordenha manual com bezerro ao pé foi identificada em todas as propriedades do estudo.
Em 22 (78,57%) propriedades a ordenha era realizada uma única vez ao dia, enquanto nas 06
(21,43%) propriedades restantes eram feitas duas vezes ao dia. O manejo com apenas uma ordenha
diária pode estar relacionado pelo interesse, por parte do criador, em obter a produção de leite para
70
a manutenção do sistema produtivo, assim como a obtenção de crias com melhor desenvolvimento,
podendo ser utilizadas na complementação da receita do estabelecimento. Já no manejo com duas
ordenha diárias o produtor visualiza claramente o interesse a produção de leite, tendo as crias como
um co-produto da atividade. Nesta realidade, cabe a cada produtor definir, de acordo com sua
análise, qual o tipo de manejo a ser mantido na sua atividade produtiva.
Tabela 06: Número total de animais do rebanho bovino, número de vacas do rebanho e número de
vacas em lactação.
Número total de animais do rebanho bovino
CLASSES
01
02
03
04
05
Total
CABEÇAS
11 a 30
31 a 60
61 a 90
91 a 120
Acima de 120
%
35,71
32,14
14,29
3,57
14,29
100,00
CLASSES
06
07
08
09
10
11
Total
CABEÇAS
4 a 15
16 a 27
28 a 39
40 a 51
52 a 63
64 a 73
%
46,43
25,00
14,29
7,14
3,57
3,57
100,00
CLASSES
12
13
14
15
Total
FREQ.
10
09
04
01
04
28
Número total de vacas do rebanho
FREQ.
13
07
04
02
01
01
28
Número de vacas em lactação
CABEÇAS
FREQ.
2 a 12
18
13 a 23
06
24 a 34
02
35 a 45
02
28
%
64,29
21,43
7,14
7,14
100,00
Os dados de produção de leite dos rebanhos coletados na pesquisa estão apresentados na
Tabela 07. Nela, destacou-se, principalmente, a informação da média de produção diária por vaca
que foi de 3,91 L/vaca/dia, considerando-se uma lactação de 300 dias e o intervalo de partos de 01
ano, a produção média seria de 1173 litros/vaca/ano, resultado inferior ao publicado por Zoccal
(2012), com resultados de 1340 litros/vaca/ano em 2010 e 1374 litros/vaca/ano estimados para
2011, referentes à produção média nacional. Estudos desenvolvidos por Zoccal (2008),
relacionados à cadeia produtiva do leite no estado do Ceará apresentam resultados semelhantes,
71
tendo nos rebanhos com produção de até 50 litros/dia a produtividade de 3,5 litros de leite por vaca
em lactação por dia.
Tabela 07: Resultados zootécnicos dos rebanhos.
Variáveis
Número de vacas do rebanho – cabeça
Número de vacas em lactação – cabeça
Produção de leite diária – litro/dia
Preço do litro de leite vendido – R$/litro
Média de produção por vaca – litro/dia
Média
22,89
13,36
52,21
0,81
3,91
Desvio Padrão
16,59
10,10
44,21
0,05
-
O percentual de vacas em lactação em relação ao número total de animais do rebanho,
como também em relação ao número de vacas do rebanho são parâmetros para definir a eficiência
reprodutiva e produtiva na produção de leite. De acordo com recomendações da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, o número de vacas em lactação deve ser, no
mínimo, 40% do número total de animais do rebanho e 75% do número total de vacas. Neste
estudo o percentual médio de vacas em lactação representou 18,71% em relação ao número total de
animais do rebanho e 58,37% em relação ao número total de vacas do rebanho, ambos abaixo da
recomendação citada. Ainda segundo Faria (2007), o índice de vacas em lactação em relação ao
número de animais do rebanho, quando bem conduzidos, deveria ser entre 50 e 55% e o percentual
de vacas em lactação em relação ao total de vacas do rebanho de 80 a 85%, índices que se
distanciam mais ainda dos identificados na amostra.
Os resultados identificados na pesquisa demonstram que a composição do rebanho,
especificamente, quanto ao número de vacas e seu percentual em lactação estão abaixo dos
recomendados. A situação apresentada pode estar relacionada às dificuldades enfrentadas pelos
criadores nos aspectos dos manejos alimentar, sanitário e reprodutivo o que acarreta desequilíbrios
na evolução do rebanho.
O sistema de criação adotado em todas as propriedades avaliadas foi do tipo semiintensivo, tendo a vegetação nativa como suporte forrageiro, principalmente, no período chuvoso
do ano, quando há maior disponibilidade de alimento e, no período seco (estiagem), o principal
volumoso utilizado é o capim elefante (Penissettum purpureum) fornecido no cocho. Ainda com
relação ao manejo alimentar foi constatado que 60,71% (17) dos entrevistados já haviam
participado de alguma atividade relativa à conservação de forragens na forma de feno e silagem.
Porém, quando indagados sobre a prática destas técnicas como estratégia alimentar para
sustentação do rebanho 92,86% (26) informaram não executá-las na propriedade.
O destino da produção de leite está representado na Tabela 08. Nela observa-se um papel
muito forte do agente intermediário da venda do leite (atravessador), que correspondeu a 67,86%
(19) dos estabelecimentos e 70,93% do volume de leite produzido adquirido por este segmento do
72
mercado. Segundo Durr & Costa (2008) os atravessadores são definidos como todos os pequenos
comerciantes no interior dos municípios que compram produtos dos agricultores e/ou que vendem
para o consumidor local. O resultado deste formato de coleta apresenta resultados positivos, no
caso do leite, quando este é destinado aos estabelecimentos com registro de inspeção sanitária,
podendo garantir melhores condições de higiene no processamento do produto. Porém, isto só é
possível quando o transporte é realizado dentro das condições ideais de higiene e temperatura.
Tabela 08: Destino do leite produzido.
Destino da produção de leite
Queijeira
Laticínio
Atravessador
Consumo próprio
Total
Freq
%
04
02
19
03
28
14,29
7,14
67,86
10,71
100,00
% do leite
produzido
19,50
7,93
70,93
1,64
100,00
Entendemos como negativo o decréscimo no valor pago por litro de leite ao produtor, que
teve preço médio de venda equivalente a R$ 0,81±0,05, para dedução dos custos do transporte no
valor pago ao produtor. Dependendo do volume de leite coletado, o intermediário (atravessador)
pode até alcançar melhor rentabilidade na sua atividade do que o produtor de leite. A coleta de leite
em maior escala para abastecimento de “queijeiras” que não possuem os padrões mínimos de
higiene também pode ser considerado um fator impactante para este segmento da cadeia. Ainda
com relação ao destino da produção de leite foi observado que 10,71% (03) produtores tinham a
produção de leite voltada para o consumo pela família, que equivalia a apenas 1,64% do volume de
leite produzido.
A assistência técnica rural é indefinidamente um componente de extrema importância para
o desenvolvimento da atividade agropecuária em geral, sendo caracterizado como um agente de
transformação da realidade do campo. Neste estudo, como observado no Gráfico 04, os resultados
quanto ao acesso direto à assistência técnica foi desanimador, tendo 64,29% (18) dos entrevistados
informado não receber qualquer acompanhamento técnico, seja ele particular ou público. Resultado
semelhante foi apresentado pelo Sebrae/GO (2010), em estudo desenvolvido junto à 540
propriedades rurais nas regiões oeste e noroeste de Goiás identificou que 70% das propriedades não
tem acesso à consultoria e assistência técnica. Lima et al. (2011), em avaliação a um projeto de
assistência técnica em Quixeramobim/CE, constataram que a falta de recursos financeiros, técnicos
despreparados e descontinuidade na assistência técnica foram fatores que tiveram efeitos negativos
sobre os resultados produtivos e na acreditação da assistência por parte dos produtores.
Sendo o Brasil um país eminentemente agrícola e desejando despontar dentre os maiores
produtores mundiais no agronegócio, torna-se necessário o investimento na disponibilização de
73
assistência técnica em quantidade e qualidade adequadas para atender a este público, que se
encontra esquecido na sua simples realidade produtiva, sem aplicação das novas ferramentas
tecnológicas disponíveis que possam proporcionar-lhes melhores respostas produtivas e
econômicas.
Gráfico 04: Situação de acesso à assistência técnica rural.
Os resultados alcançados junto aos produtores com relação à escrituração zootécnica do
rebanho demonstraram que apenas 46,43% (13) realizam anotações, mesmo assim com
deficiências, dando ênfase principalmente às vacinações preventivas contra febre aftosa e raiva,
impulsionadas, principalmente, pela obrigatoriedade na sua execução. Conforme destaca Lima et.
al (2011), as propriedades rurais no Nordeste, independente de tamanho ou nível de conhecimento
do proprietário, geralmente apresentam dificuldades na implementação das recomendações técnicas
desenvolvidas para o setor o que afeta resultados zootécnicos e econômicos mais satisfatórios
nestes estabelecimentos.
3. Características sociais
Partindo para a análise das características relacionadas ao fator humano envolvido na
atividade produtiva do leite, apresenta-se no Gráfico 05 a distribuição referente ao nível de
escolaridade dos entrevistados na pesquisa. Observou-se o predomínio de entrevistados com ensino
fundamental incompleto, correspondente a 78,57% da amostra.
Associando-se o fator escolaridade à idade dos entrevistados, que apresentou média de
51±10,85 anos de idade, podemos tecer à conclusão de que o acesso e permanência em relação à
educação pelo homem do campo no período anterior aos anos 70 eram precários. Resultados
semelhantes foram obtidos por Gomes (2011) estudando sistemas de produção de leite bovino no
Cariri paraibano, em que 84% dos representantes da amostra possuíam apenas ensino fundamental
e/ou médio.
74
Gráfico 05: Distribuição dos entrevistados quanto ao nível de escolaridade.
Analisando os resultados do Censo Demográfico 2010, foi destacado por Brasil (2011) que
em 2010, 9,6% da população brasileira com 15 anos ou mais não era alfabetizada. A taxa de
analfabetismo era maior nas faixas de idade mais elevadas – a população com 60 anos ou mais
concentrava o maior percentual de analfabetos (26,5%), seguida pela faixa etária entre 50 e 59 anos
(13,8%). Nas faixas mais jovens, este percentual caiu para 2,2% entre 15 e 19 anos e para 3,4%
para a população entre 20 a 29 anos. Isso demonstra que a dificuldade de acesso à escola antes
encontrada, de alguma forma vem diminuindo nos últimos anos.
A infraestrutura que possa contribuir para o bem estar social e qualidade de vida no meio
rural obtidos no estudo demonstrou resultados bastante positivos, tendo 96,43% (27), 100% (28) e
85,71% (24) dos estabelecimentos, respectivamente, com água encanada, energia elétrica e
cisternas instaladas. Os fatores que contribuíram significativamente para a melhoria destes índices
foi o desenvolvimento de programas governamentais para melhoria das condições de moradia e
redução da pobreza rural, como o Programa de Desenvolvimento Solidário (PDS), Luz para Todos
e Um Milhão de Cisternas (P1MC). De acordo com informativo do Ministério de Minas e Energia
– MME (2012), de 2003 até janeiro de 2012 já foram beneficiadas 2,9 milhões de famílias no meio
rural com acesso à energia elétrica, sendo 1,4 milhão na região Nordeste.
Conclusão
A atividade produtiva do leite bovino na região estudada apresenta deficiências na sua
organização fundiária e nos aspectos zootécnicos e sociais. Diante disso, vislumbrando-se o alcance
de resultados mais satisfatórios, torna-se necessária à inclusão de melhores práticas de manejo do
rebanho, sobretudo, no aspecto alimentar, melhoramento genético do rebanho, escrituração
75
zootécnica e assistência técnica visando o desenvolvimento profissional dos envolvidos no setor e
alcance de melhores índices produtivos.
No aspecto social é conveniente desenvolver um trabalho de reorganização fundiária, de
forma que facilite aos usuários da terra à sua posse. Além disso, contribuir para a melhoria da
qualidade de vida rural, de forma que as famílias permaneçam no campo com segurança, retirando
o seu sustento da terra, na tentativa de minimizar cada vez mais o êxodo, em direção aos centros
urbanos, daqueles que desenvolvem alguma atividade no setor rural.
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APÊNDICE 04: Gado bovino em
APÊNDICE 07: Queimadas e solo exposto
pastagem nativa.
à erosão.
APÊNDICE 05: Xique-xique – alternativa
APÊNDICE 08: Alimento volumoso
alimentar no período da seca.
passando do ponto ideal de corte.
APÊNDICE 06: Capineira de capim
elefante
APÊNDICE 09: Superpastejo em
pastegem cultivada.
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