Artigo Original/Original Article/Artículo Original ESPONDILODISCITE INFECCIOSA: HOUVE EVOLUÇÃO NOS RESULTADOS DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO? INFECTIOUS SPONDYLODISCITIS: HAS THERE BEEN ANY EVOLUTION IN THE DIAGNOSTIC AND TREATMENT OUTCOMES? ¿ESPONDILODISCITIS INFECCIOSA: HUBO EVOLUCIÓN EN LOS RESULTADOS DEL DIAGNÓSTICO Y TRATAMIENTO? Carlos Fernando Pereira da Silva Herrero1, Anderson Luís do Nascimento1, Rafael Pinheiro Cunha1, João Paço Vaz de Souza1, Marcelo Henrique Nogueira-Barbosa, Helton Luiz Aparecido Defino1. RESUMO Objetivo: Avaliar os resultados clínicos e radiológicos do tratamento de pacientes portadores de espondilodiscite. Métodos: Os exames de imagem utilizados neste estudo foram radiografias simples e ressonância magnética da coluna vertebral. Resultados: Foram avaliados os dados de 33 pacientes, sendo 10 (30,3%) do sexo feminino e 23 (69,7%) do sexo masculino. O tempo médio gasto para o diagnóstico foi de 4 meses e 28 dias (DP ± 1 mês e 28 dias) e 19 pacientes (57,5%) apresentavam déficit neurológico. O tratamento cirúrgico foi realizado em 22 pacientes (66,6%) e três pacientes (9,1%) apresentaram complicações decorrentes do tratamento cirúrgico. Conclusões: Apesar do avanço tecnológico nos exames complementares, o diagnóstico precoce da espondilodiscite continua sendo um desafio. No entanto, o tratamento medicamentoso associado ao procedimento cirúrgico apresenta bons resultados. Descritores: Discite; Coluna vertebral; Fusão vertebral; Diagnóstico; Manifestações neurológicas. ABSTRACT Objective: To evaluate the clinical and radiological results of treatment of patients with spondylodiscitis. Methods: Imaging exams used in this study were plain radiographs and magnetic resonance imaging of the spine. Results: Data from 33 patients, 10 (30.3%) females and 23 (69.7%) males were evaluated. The average time to diagnosis was four months and 28 days (SD ± 1 month and 28 days) and 19 patients (57.5%) presented neurological deficit. Surgical treatment was performed in 22 patients (66.6%) and three patients (9.1%) had complications from the surgery. Conclusions: Despite technological advances in complementary exams, early diagnosis of spondylodiscitis remains a challenge. However, drug treatment associated with surgery shows good results. Keywords: Discitis; Spine; Spinal fusion; Diagnosis; Neurologic manifestations. RESUMEN Objetivo: Evaluar los resultados clínicos y radiológicos de tratamiento de pacientes con espondilodiscitis. Métodos: Las pruebas de imagen utilizadas en este estudio fueron las radiografías simples y resonancia magnética de la columna vertebral. Resultados: Los datos de 33 pacientes, 10 (30,3 %) del sexo femenino y 23 (69,7%) del sexo masculino fueron evaluados. El tiempo medio hasta el diagnóstico fue de 4 meses y 28 días (DE ± 1 mes y 28 días) y 19 pacientes (57,5%) tuvieron déficit neurológico. El tratamiento quirúrgico se realizó en 22 (66,6%) pacientes y 3 (9,1%) tuvieron complicaciones de la cirugía. Conclusiones: A pesar de los avances tecnológicos en los exámenes complementares, el diagnóstico precoz de espondilodiscitis sigue siendo un desafío. Sin embargo, el tratamiento farmacológico asociado con la cirugía presenta buenos resultados. Descriptores: Discitis; Columna vertebral; Fusión vertebral; Diagnóstico; Déficits neurológicos. INTRODUÇÃO Espondilodiscite é o termo utilizado para descrever a infecção que acomete o disco intervertebral, corpo vertebral ou o arco posterior da vértebra. É uma doença que possui um início insidioso e evolução lenta, com sintomas vagos na apresentação (dor e febre), o que resulta na dificuldade de um diagnóstico precoce.1 O tratamento envolve a administração medicamentosa e a intervenção cirúrgica, sendo esta por meio de estabilização da coluna vertebral e remoção do tecido infectado.1 A incidência anual da espondilodiscite varia de 0,5 a 2,5 casos por 100.000 habitantes. E, apesar da rara ocorrência, tem sofrido um aumento devido a melhoria nas técnicas diagnósticas,2 uso de drogas intravenosas e procedimentos invasivos da coluna verte- bral.3 O avanço nas técnicas diagnósticas e cirúrgicas, associado à evolução da terapia antimicrobiana são responsáveis pela diminuição da morbidade e mortalidade da doença.1 No entanto, a realização do diagnóstico precoce e a determinação do tratamento ideal continuam sendo um desafio. O objetivo deste artigo é avaliar a apresentação clínica e radiológica, os agentes patológicos, o tratamento e as complicações associadas com a infecção piogênica da coluna vertebral. MATERIAL E MÉTODOS Este é um estudo observacional retrospectivo de pacientes com o diagnóstico de infecção piogênica da coluna vertebral tratados pela equipe de cirurgia da coluna vertebral do Hospital das Clínicas da 1. Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo (USP) Ribeirão Preto, SP, Brasil. Trabalho realizado no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil. Correspondência: Av. dos Bandeirantes 3900, 11º andar, Ribeirão Preto, SP, Brasil. 14048-900. [email protected] Recebido em 31/03/2014, aceito em 15/09/2014. http://dx.doi.org/10.1590/S1808-18512014130400442 Coluna/Columna. 2014;13(4):294-7 ESPONDILODISCITE INFECCIOSA: HOUVE EVOLUÇÃO NOS RESULTADOS DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO? Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no período de 1984 a 2013. Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa local, o estudo foi conduzido por meio da revisão dos prontuários médicos e exames de imagem do Serviço de Arquivo Médico (SAME) do hospital. Os pacientes foram incluídos apenas se apresentassem a doença compatível com infecção vertebral e evidência de acometimento nas radiografias simples ou ressonância magnética. O diagnóstico foi considerado definitivo quando o organismo era isolado a partir do material proveniente da vértebra acometida, do espaço discal intervertebral ou do abscesso epidural; quando o resultado da hemocultura era positivo ou quando os exames de imagem não apresentavam dúvidas após a avaliação de um radiologista especialista. Os pacientes que não preenchiam nenhum dos critérios acima foram excluídos do estudo, assim como os pacientes portadores de infecção pós-operatória de cirurgia da coluna vertebral. A avaliação clínica incluiu idade, sexo, os sinais e sintomas na apresentação inicial do paciente, o tempo gasto do início dos sintomas ao primeiro atendimento em nosso hospital, a presença de comorbidades associadas, os exames laboratoriais antes e depois do tratamento, o tipo de tratamento empregado e as complicações decorrentes da infecção e do tratamento. Os exames de imagem utilizados neste estudo foram radiografias simples e/ou ressonância magnética da coluna vertebral. Por se tratar de um estudo retrospectivo, o seguimento considerado na avaliação do resultado do tratamento foi o último atendimento do paciente registrado no prontuário médico em nosso serviço. O resultado foi classificado da seguinte maneira: • Excelente: sobrevida e desaparecimento de todos os sinais e sintomas da infecção, sem a presença de disfunção; • Bom: sobrevida e desaparecimento de todos os sinais e sintomas da infecção, porém com disfunção residual leve que não impede o paciente de realizar as atividades diárias regulares; • Regular: sobrevida e desaparecimento de todos os sinais e sintomas da infecção, porém com disfunção residual que incapacita o paciente de realizar as atividades diárias regulares; • Ruim: nos casos de infecção persistente ou óbito. Os dados foram armazenados em uma planilha de dados e os resultados apresentados por meio de porcentagem. A análise estatística foi realizada utilizando o software SAS JMP®. RESULTADOS Foram avaliados os dados de 33 pacientes, sendo 10 (30,3%) do sexo feminino e 23 (69,7%) do sexo masculino. A idade na apresentação variou de 11 a 82 anos com média de idade de 52 anos e 11 meses (DP+/-5,45). Todos os casos foram diagnosticados como espondilodiscite. O sintoma inicial foi de lombalgia crônica em 13 pacientes (39%), lombociatalgia em sete pacientes (21%), dorsalgia em seis pacientes (18%) e cervicalgia em apenas dois pacientes (6%), ou seja 28 (85%) pacientes apresentaram como sinal inicial dor na região da coluna acometida. Outros sintomas iniciais corresponderam apenas a cinco pacientes (15%). (Figura 1) Apenas nove (27,2%) dos casos de espondilodiscite foram diagnosticados dentro dos primeiros dois meses de início dos sintomas. O tempo médio do início dos sintomas ao primeiro atendimento em nosso serviço variou de sete dias a 24 meses, com uma média de quatro meses e 28 dias. (Figura 2) No momento do atendimento inicial, 19 pacientes (57,5%) apresentavam déficit neurológico; causado por compressão da medula espinhal com paraplegia em três (15,7% dos pacientes com déficit, cauda equina em dois (10,5% dos pacientes com déficit) e pela compressão isolada das raízes em 14 (73,6% dos pacientes com déficit). A frequência de alterações neurológicas foi maior em pacientes com infecção da coluna torácica com sete pacientes (21,2%), seguida, em ordem descendente, pela coluna lombar (18,1%), transição lombosacro (6%), transição cervical (6%), coluna toracolombar e sacro (6,1%) cada um deles. Com relação às comorbidades, nove pacientes apresentavam diabete melito, doença concomitante mais frequente. Seis pacientes Coluna/Columna. 2014;13(4):294-7 295 Número de pacientes 15 13 10 8 5 3 0 a gi al vic r Ce a ia ia ia so lgi it lg lg lg pe lta fic ico rsa ba e ba de m febr ocia m De ológ Do o o a b L + L rd ur m ne Pe Lo Figura 1. Apresentação avaliação clínica inicial. 27% 24% 21% 6% 6% 3% 6% 3% 0% 0 2 4 6 8 10 12 14 0% 16 0% 18 3% 0% 20 22 24 Figura 2. Distribuição do tempo de primeiro atendimento porcentagem de atendimentos versus meses. (18,1%) eram etilistas crônicos. Aproximadamente 67% dos pacientes apresentavam duas ou mais comorbidades, sendo que apenas 9,1% tinham o diagnóstico prévio de neoplasia. Nenhum paciente de nosso estudo adquiriu a infecção no hospital, ou seja, não desenvolveram a infecção após procedimento cirúrgico, como discografia, cateterização epidural ou bloqueios para o tratamento da dor. Para 24 dos pacientes com discite, o foco foi aparentemente hematogênico. A porta de entrada mais comum foi o trato urinário (33,3%), a pele (24,2%), o trato gastrointestinal (21,2%), foco pulmonar (15,1%) e endocartide (3%) dos pacientes com infecção em outros focos. A localização da lesão por segmento e por níveis estão mostradas nas Figuras 3 e 4 respectivamente. A infecção geralmente envolveu dois ou mais corpos vertebrais contíguos e o espaço discal intervertebral interveniente. O acometimento de vértebras não contiguas ocorreu em um caso. Em 12 casos (36,3%) a infecção acometeu apenas um segmento, em seis (18,1%) dos casos a infecção acometeu mais de um segmento adjacente. Em dois pacientes (6%), a infecção apresentou-se com o acometimento de uma única vértebra, com o colapso do corpo vertebral, assemelhando-se a fraturas por compressão. A cultura dos espécimes obtida por meio de TC percutânea ou biópsia da coluna vertebral, disco intervertebral ou abscesso paravertebral foram positivas, junto com a identificação dos espécimes de bactérias, em 24 (72,7%) dos pacientes. (Figura 5) O patógeno mais comum encontrado foi o Estafilococos Aureus. (Figura 4) A contagem de leucócitos foi determinada em todos os pacientes, enquanto a velocidade de hemossedimentação (VHS) foi determinada em 31(93,9%) pacientes, sendo maior que o valor normal (10) em todos pacientes. O valor de proteína C reativa (PCR) foi determinado em 21 pacientes (63,6%), apresentando valor maior que o normal em 19 pacientes (90,4% dos pacientes com exame). Apenas 12 (36,3%) de 31 pacientes apresentavam elevação da contagem de leucócitos. O tratamento medicamentoso definitivo foi utilizado em 25 (75,7%) dos pacientes. Definimos como terapia antimicrobiana 296 40% Localização segmentos infectados 35% Porcentagem das regiões acometidas 30% DISCUSSÃO 25% 20% 15% 10% 5% 0% l ica rv Ce r ba m Lo o cr sa bo m Lo o cr Sa a cic rá To r ba m olo c ra To Figura 3. Distribuição dos casos, porcentagem de pacientes por região da coluna infectada. Culturas 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% ) e p a jk ra) osis oli ra as eri us ids tiv ltu l ltu s s E. C acha on rm ure arw rium ga cu rcu m cu illu A o e M o e l o o c . e t ide . c N d a m ub c S p m S r u b e a E e e T (h (h ra cte S. is+ rynrb Ps M. ltu ba as iae ela r+ sit Cu Co on ero on t p cte m n e a lm e E er Sa pn tob ap la ine did sie Ac n b Ca kle Figura 4. Distribuição dos resultados das culturas e agentes bacterianos isolados nos casos estudados. Qualidade de Vida 40% Porcentagem dos resultados 30% 20% 10% 0% A complicação cirúrgica ocorreu em apenas três pacientes, sendo os três casos de piora do quadro clínico já debilitado, com um desses evoluindo para óbito, perfazendo um total de 9,1% de complicações. Bom Excelente Regular Ruim Figura 5. Distribuição da qualidade de vida pós-tratamento nos casos estudados em porcentagem. definitiva a medicação administrada segundo o resultado de um quadro de sensibilidade do agente etiológico a determinadas drogas. O tratamento cirúrgico foi realizado em 22 pacientes (66,6%), sendo o debridamento e artrodese anterior com enxerto autólogo associados a fixação posterior a técnica de escolha utilizada. Em 11 pacientes a remoção do tecido infectado foi realizada pela abordagem combinada via anterior e posterior, em nove pacientes a abordagem utilizada foi somente a posterolateral e em dois pacientes foi realizado apenas a drenagem do abscesso . Apesar de retrospectivo, nosso estudo permitiu a avaliação e seguimento adequado dos pacientes, com descrição meticulosa dos dados médicos provenientes de um valioso banco de dados presente no Serviço de Arquivo Médico (SAME). Oferecendo assim o desenvolvimento de conclusões significativas. Embora rara, a espondilodiscite é a principal manifestação da osteomielite hematogênica em pacientes acima dos 50 anos,4,5 e representa 3% a 5% de todos os casos de osteomielite. Em nossa série 66,6% dos pacientes apresentavam mais de 50 anos de idade com uma idade média de 52 anos e 11 meses. A predominância do sexo masculino nesta série de pacientes 72,7% e está de acordo com os resultados encontrados na literatura. Outros estudos encontraram uma incidência de 51% a 81%.6,7 Apesar do grande avanço tecnológico dos exames diagnósticos, um grande desafio da infecção piogênica da coluna vertebral continua sendo a realização precoce do diagnóstico. Isto foi evidenciado pela média de 4 meses e 28 dias do tempo decorrido do início dos sintomas até o diagnóstico e início do tratamento. Em outros estudos este tempo foi de 1 mês e 24 dias.8 Dos achados iniciais, o sintoma presente com maior frequência foi a dor, em 31 pacientes (94%), seguida pelo déficit neurológico em 19 pacientes (57,5%). Esta proporção de pacientes com déficit neurológico foi 32% maior do que demonstrado em estudo prévios.8 As culturas sanguíneas foram positivas em 24 pacientes (72,7%), resultado semelhante ao evidenciado por outros estudos.9-12 Existe evidência de que a taxa de exames positivos pode ser aumentada caso as culturas sejam colhidas durante o pico de aumento de temperatura ou após a biópsia percutânea do disco infectado.13-15 Em nosso estudo o agente etiológico mais comumente isolado foi o Staphylococcus aureus (27%), enquanto na literatura a predominância dessa bactéria chegou a variar entre 42% a 84%.16 O patógeno pode infectar a coluna vertebral por três vias: hematogênica, inoculação direta ou a partir de tecidos contíguos. A via arterial é a predominante, permitindo a infecção a partir de focos distantes. Vinte e quatro dos nossos casos (72,7%) apresentaram espondilodiscite e infecção em outro órgão concomitantemente, apoiando o argumento da via hematogênica. O uso abusivo de drogas injetáveis também é considerada fator predisponente,16 no entanto não encontramos nenhum caso em nosso estudo. No presente estudo, os testes laboratoriais como a contagem de leucócitos aparentemente não foram sensíveis no diagnóstico da espondilodiscite, uma vez que estavam elevados em apenas nove dos pacientes (27,2%), porém a velocidade de hemossedimentação (VHS) e proteína C reativa (PCR) apresentou-se aumentados em 31 (100% dos que colheram exame) e 19 pacientes (90,4% dos pacientes que tinham exame colhido), respectivamente, demonstrando uma sensibilidade aumentada. Os leucócitos tipicamente não estão elevados nas infecções da coluna vertebral.8 De acordo com relatos da literatura, o aumento da contagem de leucócitos varia de apenas 13% a 60% (14a 21). Os níveis de VHS em outros estudos encontram-se elevados, variando de 73% a 100%,16-24 compatíveis com os resultados apresentados nesse artigo. Como previamente relatado em outros estudos,9,25,26 a RNM é a modalidade de exame mais sensível (93% a 96%) e mais específica (92% a 97%) para a detecção precoce da espondilodiscite. Além disso, permite não só a diferenciação entre discite piogênica, neoplasia e tuberculose, fornecendo melhor definição dos espaços paravertebral e epidural, como a avaliação de compressões dos elementos neurais.27,28 Em nosso estudo 24 pacientes (72,7%) foram submetidos à RNM, levando subsequentemente ao diagnóstico correto. A associação de comorbidades com a presença da espondilodiscite infecciosa está bem descrita na literatura.8 E, em nosso estudo, todos pacientes apresentavam no mínimo uma comorbiColuna/Columna. 2014;13(4):294-7 ESPONDILODISCITE INFECCIOSA: HOUVE EVOLUÇÃO NOS RESULTADOS DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO? dade, sendo que 11 pacientes (33,4%) apresentavam uma comorbidades e 22 pacientes (66,6%) duas comorbidades. Diabete e hipertensão arterial (HAS) foram as comorbidades mais frequentes nos pacientes com espondilodiscite na nossa experiência. A HAS foi a doença mais comum ocorrendo em 14 pacientes (42,4%), seguida por nove pacientes (27,2%) com diabetes. Outras séries evidenciaram o papel da diabete melito como um fator de risco para o desenvolvimento de infecções na coluna.29-31 A localização mais comum para a espondilodiscite foi a coluna lombar 39%, seguida pela coluna torácica 27% e transição lombosacro com 15%, a transição toracolombar representou 9%, coluna cervical 6% e o sacro apenas 3%. A distribuição de déficit neurológico, segundo o segmento acometido, foi de sete pacientes (21,2%) de infecções na coluna torácica seguida pela coluna lombar com seis pacientes (18,1%) e coluna cervical com dois pacientes (6,1%). O risco de déficit neurológico avaliando-se cada segmento da coluna acometido como grupo, apresentou-se maior na coluna cervical e sacral (100%), porém como o número de pacientes foi pequeno, esse valor não possui significância estatística, já a coluna torácica apresentou 77% de pacientes, em oposição à coluna lombar 46%. Estes achados estão de acordo com relatos prévios de que as infecções mais cefálicas apresentam a chance maior de paraplegia.31 Um dado que nos chamou a atenção foi a ausência de abscessos primários em nosso estudo, dado que difere muito de outros achados na literatura.2,32-36 O ponto principal no tratamento da espondilodiscite é a administração endovenosa de antibióticos seguida pela administração de antibióticos orais, juntamente com a imobilização da coluna vertebral. No entanto, um grande debate na literatura é a duração da terapia, sendo que menos de 4 semanas de duração está associada com 25% de recorrência.20,37 Assim, o tratamento de escolha optado pelos autores foi de quatro a seis semanas de antibiótico 297 endovenoso seguido de complementação com 6 semanas de medicação oral. Não houve relato de recorrência em nosso estudo. Nossa conduta foi reservar o debridamento cirúrgico para os pacientes que precisaram de drenagem do abscesso, descompressão do canal vertebral e estabilização da coluna vertebral. O procedimento de escolha, em acordo com outros autores,19,31 é a descompressão anterior e artrodese com enxerto ósseo autólogo seguida da fixação posterior. O objetivo da reconstrução é manter o alinhamento, prevenindo a deformidade, alcançar a artrodese e descomprimir o canal vertebral.19,24,38 Assim como em outras séries,16,19,38,39 a taxa de complicação com este procedimento foi baixa em nosso estudo. Um paciente apresentou complicações TVP e pneumonia, um paciente evoluiu com complicações clínicas e óbito após 13 dias e um dos pacientes apresentou quebra do implante após 3 anos, perfazendo um total de 9,1% de complicações. Conforme classificação previamente apresentada de qualidade de vida, nosso estudo apresentou 13 pacientes como excelentes (39,3%); nove pacientes como bom (27,2%), sete pacientes como regular (21,2%) e apenas quatro pacientes como ruim (12,1%). (Figura 5) CONCLUSÃO De acordo com os resultados encontrados em nosso estudo, apesar do avanço tecnológico nos exames complementares, o diagnóstico precoce da espondilodiscite continua sendo um desafio. No entanto, mesmo com o atraso no diagnóstico definitivo e isolamento do agente etiológico específico, o tratamento medicamentoso associado ao procedimento cirúrgico apresenta bons resultados. Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo. REFERÊNCIAS 1. 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