A época da chegada dos europeus, no século XV, o território da América do Sul era ocupado de forma irregular por diversos povos. Na região oeste, cortada de norte a sul pela cordilheira dos Andes, estavam os incas, que construíram um império de vastas proporções e cultura florescente. Ali, a densidade demográfica era relativamente alta, comparável à dos territórios maia e asteca. As demais regiões eram escassamente povoadas por diversos outros povos. Um deles eram os tupis, denominação que engloba numerosos grupos indígenas que tinham em comum o mesmo tronco linguístico e o fato de serem nômades. Tanto os incas como os tupis — a exemplo do que ocorreu com os povos da Mesoamérica — tiveram sua história bruscamente alterada em virtude da chegada dos invasores europeus. 1. ANTES DOS INCAS A primeira sociedade complexa a florescer no território do atual Peru, por volta do ano 1000 a.C., ficou conhecida como chavin, denominação dada por historiadores e arqueólogos que estudam a região. Dela sabe-se que era uma sociedade agrícola — cuja principal atividade econômica consistia no cultivo do milho — e que dominava também a técnica de construção de templos, pirâmides e canais de irrigação. No primeiro milênio de nossa era, a sociedade chavin deu lugar a outras sociedades. Ao longo desse período, a região conheceu grande desenvolvimento com a ampliação dos canais de irrigação até as terras áridas próximas do litoral e com a expansão das áreas cultivadas nas encostas da cordilheira — por meio da construção de terraços, degraus formados por pedras na vertical e terra na parte horizontal. A partir do século VIII, dois centros de difusão cultural ganharam destaque. O mais importante deles foi a cidade de Tiauhanaco, nas margens do lago Titicaca; o outro, a cidade de Houari, localizada mais ao norte. Ambas se tornaram centros de grandes sociedades, que desapareceram no século XII por razões ainda desconhecidas. Sua cultura seria herdada pelos impérios Chimu e Inca, que se formaram em seguida. Os chimus estabeleceram-se na costa setentrional, onde desenvolveram a agricultura irrigada por meio de canais e aquedutos. Deram início, no século XIV, a um processo de expansão que os levou ao controle de longa área do litoral andino. Em meados do século seguinte, no entanto, foram absorvidos pelo Império Inca e perderam sua independência. 2. UM IMPÉRIO FLORESCENTE Quando, em 1532, os espanhóis iniciaram a conquista da região onde hoje se encontra o Peru, os incas constituíam um império grandioso, cujo centro era a cidade de Cuzco. Acredita-se que, nessa época, dentro de suas fronteiras viviam cerca de 10 milhões de pessoas. Primeiras conquistas Os incas apareceram tardiamente na história dos povos andinos. Não há consenso entre os historiadores quanto às suas origens. E possível que eles fossem um dos grupos que compunham o povo quíchua, cujo idioma era falado numa ampla região dos Andes. Mas sabe-se que, no século XII, eles viviam ao redor de Cuzco. A tradição inca atribuía a um de seus ancestrais, Manco Capac, o papel de fundador do Império. Ele e seus sucessores passaram a adotar o título de Inca, nome de uma antiga divindade andina. A partir de certo momento, os incas começaram a dominar diversas cidades da região, dando início à sua expansão. Depois de 1463, subjugaram a sociedade chimu, que controlava o litoral. Em seguida, incorporaram os caras (no território que hoje corresponde ao Equador) e os aimarás, nas margens do lago Titicaca, bem como as regiões setentrionais da Argentina e do Chile atuais. A sucessão de conquistas resultou, em algumas décadas, na formação do Império. Uma das características interessantes dessa sociedade é que, ao dominar os diversos povos andinos, os incas fizeram a síntese das tradições culturais da região. Um de seus governantes mais importantes foi Tupa Yupanqui, que criou um serviço de mensageiros que ligava as diversas partes do Império e estruturou uma burocracia e um exército capazes de manter o controle inca sobre grande parte dos Andes. Yupanqui morreu em 1493, um ano depois da chegada de Colombo à América. Seu filho e sucessor, Huaina Capac, governou até 1528. Durante mais de trinta anos de governo, Huaina enfrentou prolongadas guerras nas fronteiras do norte. Ao morrer (não está descartada a hipótese de assassinato), o trono passou a ser disputado por Huáscar e Atahualpa, dois de seus filhos. Essa divisão facilitaria mais tarde a conquista do Império pelos espanhóis. Os filhos do Sol Os incas tinham um governo forte e centralizado. A sucessão no poder se dava na família do governante, mas o herdeiro não era necessariamente filho do Inca, e sim o parente considerado mais capaz para assumir o cargo. Por isso, ao final de cada governo, havia grande disputa entre os herdeiros. Uma vez vitorioso, o novo Inca comparecia ao Templo do Sol, onde era entronizado. Investido de poderes exclusivos, ninguém podia encará-lo. No início, os incas eram vistos como filhos do Sol. Mas Huaina Capac, por exemplo, se fez reconhecer como a própria encarnação do Sol e foi adorado como deus vivo. O Estado inca constituía, portanto, uma teocracia. O território do Império era dividido em quatro partes por duas linhas imaginárias que se cruzavam no centro da capital, Cuzco, a qual, acreditavam, era o "umbigo do mundo". Cada uma dessas partes se subdividia, para fins administrativos, em frações decimais, nas quais a população era agrupada em unidades de 10 mil, mil, cem e, por fim, dez famílias. Havia um funcionário que se encarregava de cada uma das quatro unidades. As unidades inferiores também eram dirigidas por burocratas. Todos esses funcionários formavam uma pirâmide administrativa em cujo topo ficava o Inca. O Império contava com uma vasta rede de estradas e pontes, cuja extensão chegava a 16 mil quilômetros. Em determinados pontos dessa rede havia estabelecimentos, os tampu, que serviam simultaneamente de postos de correio, de centros de produtos artesanais e de armazéns. O Império também era dotado de um eficiente serviço de comunicações, que permitia não só receber ou enviar informações com rapidez, mas também deslocar tropas com relativa velocidade para qualquer parte do território. Lavradores, pastores e artesãos A agricultura, principal atividade econômica, dependia em boa parte dos terraços construídos nas encostas da cordilheira e de um sistema de canais para transportar água de fontes localizadas, muitas vezes, a quilômetros de distância. Os incas cultivavam mais de quarenta espécies vegetais, entre elas, abóbora, vagem, algodão, milho, batata, batata-doce, mandioca, amendoim e abacate. A maioria da população era formada por camponeses, agrupados em comunidades chamadas ayllu — a célula básica da sociedade inca. O ayllu reunia pessoas ligadas por laços de parentesco e pela crença de descender de um mesmo antepassado mítico, simbolizado por um totem. Cada comunidade tinha seu chefe, o curaca, responsável pela distribuição da terra, pela organização dos trabalhos coletivos e pela resolução de conflitos. Os integrantes do ayllu recebiam lotes de terra em diversas partes do Império, o que tornava possível explorar as diferentes condições de clima e de solo para obter grande variedade de produtos. A terra era propriedade do Inca, que, por meio dos curacas, a entregava às famílias para cultivo. Cada casal, ao se constituir, recebia um lote. As terras destinadas ao pastoreio, por sua vez, eram usadas coletivamente. Nelas criavam-se a alpaca, que fornecia lã, e o lhama, utilizado como meio de transporte. A domesticação desses animais fez dos Andes a única região da América pré-colombiana onde se praticou o pastoreio. Explorando ao mesmo tempo a agricultura, o pastoreio e o artesanato, as comunidades incas eram praticamente auto-suficientes. E importante lembrar que no Império Inca não se praticava o comércio nem havia moedas. Os servos do Inca A escravidão não era praticada entre os iscas, mas havia os chamados "dependentes perpétuos" (gana), ligados aos curacas e ao Inca. Eles não podiam ser trocados ou vendidos, como os escravos, e tinham importância econômica secundária. Ao lado disso havia a mita, uma antiga obrigação de prestar trabalho ao curaca e aos deuses locais, revestida de caráter religioso. Depois da formação do Império Inca, essa obrigação passou a ser prestada também ao Inca, o Filho do Sol. A mita recaía sobre todas as pessoas casadas, que deveriam cuidar das terras e dos rebanhos do Inca e ainda desempenhar as funções que lhes fossem designadas: no exército, nas oficinas de trabalhos artesanais, na construção e manutenção de estradas, pontes e edifícios. Tudo isso exigia rigoroso controle da população, para se chegar com precisão à real quantidade de mão-de-obra disponível. Em virtude dessa necessidade, era comum proceder-se a recenseamentos minuciosos, realizados periodicamente por funcionários especializados. Para garantir os resultados dos censos, esses funcionários empregavam um sistema numérico decimal e registravam os dados em um instrumento denominado quipo, formado por cordinhas de diferentes cores e com vários tipos de nós. Em algumas áreas do Império havia armazéns apropriados para guardar os produtos obtidos pela mita. Os estoques acumulados destinavam-se ao abastecimento do exército ou ao auxilio da população, em caso de desastres naturais. Nessa eventualidade, os mais velhos, as viúvas e os órfãos eram os primeiros a se beneficiar da distribuição de alimentos e de roupas. Cultura e técnica Os incas, diferentemente dos povos da Mesoamérica, não criaram uma escrita formal. O quipo desenvolvido por eles era eficiente, mas tratava-se de um sistema de contabilidade. Sua tradição cultural era transmitida oralmente, tarefa reservada aos chamados amawta, cujos relatos serviram de matéria-prima para as crônicas registradas depois que os espanhóis introduziram a escrita entre eles. O calendário inca dividia o ano em doze meses. No entanto, apresentava curiosa particularidade: enquanto o ano era solar, os meses eram lunares, o que ocasionava a diferença de alguns dias entre os dois cômputos. Os incas dominavam perfeitamente a técnica de obtenção do bronze (uma liga de cobre e estanho) e da platina, e sabiam trabalhar o ouro e a prata. Não conheciam o ferro, a roda e o torno. Para o fabrico de armas e ferramentas utilizavam a pedra. Com esse arsenal técnico, a sociedade inca construiu um império dotado de cidades, palácios, templos, estradas e estrutura administrativa, que provocou a admiração dos espanhóis, estimulando sua cobiça por metais preciosos. O Império destruído Apesar da grandiosidade de seu império, a sociedade inca acabou se revelando bastante frágil diante do invasor espanhol. Para isso contribuiu o descontentamento dos povos subjugados pelo Império que acabaram se aliando aos invasores. Outro fator de fragilização foi a disputa do poder entre os irmãos Huáscar e Atahualpa depois da morte do Inca Huaina Capac, em 1528. A luta ainda prosseguia em 1532, quando os espanhóis, chefiados por Francisco Pizarro, chegaram à região. A resistência inca durou quarenta anos e só foi vencida, em 1572, com o assassinato de seu último governante, Tupac Amaru. Antes dessa data, porém, desde 1543, o território do Império já tinha sido incorporado pela administração colonial espanhola, constituindo o Vice-Reino do Peru. 3. A GRANDE NAÇÃO TUPI Os primeiros habitantes que os portugueses encontraram ao desembarcar em terras americanas adotaram, em geral, uma atitude amistosa em relação aos conquistadores. Estes, ao perceber que eles falavam entre si línguas parecidas e tinham certos hábitos semelhantes, chamaram os indígenas de tupis. Os portugueses não sabiam, no entanto, que os tupis não eram um só grupo, mas englobavam numerosos povos, com grande diversidade cultural e religiosa. Foi exatamente com esses indígenas do litoral que os portugueses mantiveram maior contato e aprenderam as primeiras regras de sobrevivência no continente que então começavam a explorar. No interior do território viviam também diversos outros povos, chamados pelos conquistadores de tapuias. Estes eram mais hostis, falavam uma língua difícil de ser compreendida e rejeitavam qualquer tipo de aproximação. Por isso, o contato que os portugueses mantiveram com eles foi bem menor. As origens Existem diferentes explicações para a procedência dos tupis que povoavam extensas regiões da América conquistada pelos portugueses. No início do primeiro milênio a.C., provavelmente eles habitavam o sudoeste da Amazônia, entre os atuais territórios de Rondônia, do Amazonas e da Bolívia. Daí, teriam iniciado um lento movimento migratório em várias direções. Outra versão dos estudiosos sugere que os tupis eram, possivelmente, originários dos contrafortes dos Andes ou do planalto do trecho médio dos rios Paraguai e Paraná, de onde se deslocaram para o litoral atlântico, seguindo para o norte. Sabe-se, porém, que eles englobavam vários povos, como os tupinambás, os tamoios, os tabajaras, os carijós, os potiguaras e os guaranis, estes nas regiões meridionais. Divisão do trabalho Os tupis se organizavam em tribos compostas de unidades menores, as aldeias, que mantinham entre si interesses comuns. Nas aldeias havia normalmente de 500 a 600 pessoas, que viviam em grandes habitações ou malocas coletivas, cuja estrutura de madeira recebia uma cobertura de folhas de palmeira. Em geral, o número de habitações variava de 4 a 7 por aldeia, cada uma delas abrigando um grande grupo familiar. A poligamia era prática comum entre os chefes e os guerreiros mais destacados. A divisão do trabalho era feita de acordo com o sexo e a idade. As mulheres, além dos afazeres domésticos, ocupavam-se da agricultura e da coleta e colaboravam na pesca. Encarregavam-se da preparação do cauim — bebida fermentada à base de mandioca — e de muitas atividades artesanais, como tecer redes, trançar cestos, fazer tapetes etc. Além da derrubada da mata e da preparação da terra para o plantio, os homens ocupavam-se da caça, da pesca e do fabrico de canoas, armas de guerra e instrumentos de trabalho. Deviam erguer as habitações, defender a aldeia, tomar parte na guerra e executar os prisioneiros, se sua tribo praticava a antropofagia. Também eram os homens que exerciam a função de curandeiros. Guerra e antropofagia A finalidade da guerra, entre os indígenas, era manter o domínio tribal sobre os territórios ocupados, vingar a morte de parentes, ou ainda fazer prisioneiros para o ritual antropofágico. A antropofagia servia para expressar o ódio ao inimigo e a vontade de adquirir as qualidades de bravura do guerreiro morto. Entre os antigos tupinambás, o prisioneiro de guerra era propriedade daquele que o tinha capturado. O proprietário podia mesmo dá-lo de presente a outros indivíduos, parentes seus. Mas o prisioneiro não se destinava a produzir bens para seu proprietário; este, depois de algum tempo, sacrificava-o no ritual antropofágico, ganhando assim mais um nome. As crianças ajudavam os pais em algumas atividades e realizavam tarefas correspondentes à sua idade, como cuidar dos irmãos menores ou espantar os pássaros das plantações no período que antecedia a colheita. Uma agricultura rudimentar Os tupis viviam da coleta, da caça e da pesca, dominavam a cerâmica e praticavam uma agricultura rudimentar. Essas atividades implicavam a exploração dos recursos do meio ocupado por eles até o esgotamento. Por isso, de tempos em tempos (geralmente de três a cinco anos), os grupos indígenas eram forçados a se deslocar para outra região em busca de melhores condições de vida. A agricultura era uma atividade predominantemente feminina, excetuando-se a derrubada das árvores e a preparação da terra para o plantio, que cabiam aos homens da tribo. A limpeza do terreno era feita por meio da queimada, prática denominada coivara, que mais tarde seria adotada também pelos colonizadores. Os principais produtos da lavoura indígena eram a mandioca, o milho e a batata-doce. Mas sua dieta alimentar, variando de uma região para outra, incluía feijão, amendoim, pimenta, caju, banana e outros vegetais. Os tupis não conheciam os metais. Em certas atividades, usavam machados de pedra e utensílios de madeira, de dentes, conchas etc. Suas armas de guerra eram arcos, flechas, lanças e escudos feitos de madeira. Alguns povos faziam uso da zarabatana, um tubo longo por meio do qual disparavam dardos envenenados. Para obter fogo, friccionavam uma peça de madeira dura contra outra, mais macia. Construíam suas canoas com troncos ou cascas de árvores e não utilizavam nenhum animal para transporte ou tração. Morubixaba: o chefe de aldeia Segundo o historiador Júlio César Melatti, a maior unidade política entre os tupis consistia na aldeia. Cada aldeia era politicamente independente, só reconhecendo a autoridade de seu chefe. Por isso, às vezes ocorriam conflitos armados entre as aldeias de uma mesma tribo. Toda aldeia tinha um chefe, geralmente chamado de morubixaba. Para desempenhar essa função, os membros da comunidade escolhiam quem tivesse uma grande parentela e revelasse coragem, ponderação e dotes oratórios, entre outras qualidades. Nos períodos de normalidade, o chefe tinha poucas atribuições, mas durante as guerras esperava-se que demonstrasse valentia e capacidade de comando, sob pena de ser afastado da função. No entanto, o poder político não estava concentrado no morubixaba. Na verdade, a instituição política mais importante entre os tupis consistia no "conselho dos principais", formado pelos chefes das grandes famílias e pelos homens mais respeitados da aldeia, como os guerreiros. Esse conselho tomava as principais decisões, como a mudança de seu povo para outro território, as estratégias empregadas em caso de guerra e a definição de alianças com outros grupos. O processo de escolha do chefe e suas obrigações variavam de um grupo para outro. Mas um aspecto era comum às diversas sociedades indígenas: a condição de chefe não lhe conferia privilégios. Do ponto de vista religioso, os tupis tinham crenças que combinavam traços do animismo e do politeísmo. Acreditavam, por exemplo, que, além do ser humano, todos os outros seres da natureza — como árvores, animais etc. — também eram dotados de alma (animismo). Adoravam alguns deuses (politeísmo), como Tupã, identificado com o raio e com o trovão, e acreditavam na existência da vida após a morte e na reencarnação; temiam os gênios, os demônios e os espíritos dos mortos causadores de catástrofes, que precisavam ser apaziguados por meio de oferendas. O pajé, ou xamã, espécie de mago e sacerdote, presidia as cerimônias e era capaz de entrar em contato com forças invisíveis, adivinhar o futuro e curar as doenças. E impossível saber hoje, com precisão, quantos índios havia no Brasil por ocasião da chegada dos portugueses. As estimativas variam de um milhão a seis milhões. Uma coisa, porém, é certa: seja qual for esse número, ele baixou continuamente até chegar a cerca de 70 ou 80 mil, em 1957, conforme cálculos do antropólogo Darcy Ribeiro. Nas últimas décadas do século XX, a população indígena voltou a crescer, aproximando-se hoje de 700 mil pessoas. Diversidade linguística Acredita-se que, à época da chegada dos portugueses, em 1500, mais de 1 000 línguas nativas eram faladas pelos indígenas. Muitas acabaram desaparecendo ao longo dos anos, o que dificulta sua identificação. No entanto, atualmente se sabe que ainda existem cerca de 170 línguas vivas. Uma das mais recentes classificações feitas por estudiosos do assunto considera que os indígenas do Brasil pertencem a quatro troncos linguísticos, de acordo com suas semelhanças e diferenças. Os historiadores empregam essa mesma classificação para agrupar e situar os povos indígenas do passado. Na ordem provável de tamanho, os quatro troncos são os seguintes: tupi, jê, karib e aruaque. O tronco tupi abrange o maior número de povos. À época da chegada dos portugueses, esses povos espalhavam-se por quase todo o litoral, pela região do atual estado do Rio Grande do Sul e pela zona centro-sul da Amazônia. O tronco jê compreendia também numerosos povos, além dos jês propriamente ditos: botocudos, cariris, entre outros. Eles habitavam o grande planalto central brasileiro, desde o Maranhão até o alto Paraguai. Os povos dos dois troncos menores, aruaque e karib, por sua vez, ocupavam a vasta região amazônica, com ramificações para outras partes da América do Sul: os aruaques para o oeste e os karib para o norte. Outros povos, como os panos, os tucanos, os ianomâmis e os guaicurus, não foram classificados em nenhum dos troncos por terem traços muito particulares.