ÀS VÉSPERAS DA COPA, UM TURISTA EM APUROS
Essa é uma história real, prenúncio de acontecimentos na Copa do Mundo que
ocorrerá em alguns dias.
Martins é um amigo europeu de longa data, que mora na Espanha há seis anos e
representa umas empresas européias. Se programou para visitar a AGRISHOW que é
a maior feira do Agronegócio da América Latina e, logicamente, não com a
antecedência necessária para ter preços melhores na rede hoteleira na região de
Ribeirão Preto e nós o ajudamos a encontrar algo com custo x benefício adequados.
Como a globalização ensinou, pela internet, o Martins comprou suas passagens,
alugou um veículo da mesma empresa que se sente seguro na Europa e com um GPS
acoplado para facilitar sua vida durante a estada no Brasil.
Ao chegar ao aeroporto paulista de Cumbica- apelidado carinhosamente de
“Cumplica”, por volta das 18 horas, começou a conhecer um pouco da “INFRAZERO”,
pois até conseguir pegar as malas e o veículo alugado foram mais de três horas e
meia!
Chegou ao Flat reservado, nos Jardins, a cozinha “terceirizada” não serve jantar e o
mesmo teve que pedir lanche no quarto.
Dia seguinte, depois do café da manhã, pegou seu GPS e digitou o endereço do hotel
onde ele iria se hospedar em Jaboticabal, próximo a Ribeirão, já que a capacidade
hoteleira da cidade e arredores estava esgotada devido a feira, e pé na estrada.
Estrada bem diferente daquelas da Europa nos quesitos qualidade e segurança, mas
de um modo geral, razoável. Ainda na Grande São Paulo, a primeira “portagem” ou
praça de pedágio na região de Perus. Notou que, diferentemente de outros países, o
veículo não possuía aquele “TAG” que se acumula e debita no cartão de crédito, na
entrega do carro à locadora. Abriu o vidro e sacou o cartão de crédito e débito, pois
havia lido que quanto menos se transportasse dinheiro, melhor. A atendente informapara espanto do nosso amigo- que não aceita cartões e o mesmo responde
estarrecido: “- Como não? Então posso pagar com dólares ou euros?” Com a negativa,
foi obrigado a encostar num local nada seguro, entre as faixas de rolagem do pedágio,
enquanto a funcionária da concessionária da rodovia preenchia formulários com os
documentos do nosso amigo em mãos. Após 25 minutos, ele foi informado que teria
cinco dias para pagar um boleto em banco. Resolvido? , nem tanto. Foi avisado que
havia mais 10 pela frente e que em todos o procedimento seria o mesmo.
Irritado, questionou onde haveria um banco ou centro comercial para sacar um valor
em reais e seguir viagem de modo mais confortável. Com a indicação, colocou os
dados no GPS e foi em frente. Mas estranhou a falta de infraestrutura da praça de
pedágio daqui, pois na Europa, perto da mesma existem postos de serviços, bancos,
serviços de apoio ao usuário, etc...
Saiu da estrada atendendo a rota traçada pelo GPS e, depois de uns dez minutos, o
aparelho perdeu sinal. Pensou... “Como assim, perda de sinal?” Enquanto tentava
intuir para o lado correto e mexendo no aparelho na tentativa que o serviço voltasse,
acabou indo para um local onde uma ocorrência policial estava em curso. Dois
veículos da polícia com seus policiais militares de armas em punho abordavam umas
10 ou 12 pessoas que estavam sendo vitoriadas junto com seus veículos suspeitos.
Apavorado, fez um retorno e tentou voltar para a rodovia. Mais à frente, o sinal do
GPS voltou. Ainda parou para perguntar para uma moça no semáforo, que empunhava
uma bandeira de um lançamento imobiliário, mas desistiu, pois quando ela levantou o
rosto, chorava copiosamente, o que o deixou mal, imaginando que a mesma deveria
estar com muitos problemas mais graves que o dele.
Nosso herói, finalmente acha o shopping, mas como era domingo, teve certa
dificuldade para adentrar ao mesmo naquela manhã. No primeiro caixa eletrônico, uma
mensagem que o cartão “Multibanco” dele não possuía convênio com aquela
instituição financeira. Num segundo, uma mensagem de que o limite estaria excedido
ou deveria ser liberado anteriormente e apenas na quarta tentativa conseguiu êxito
para sacar o recurso que necessitava... E foi a manhã toda...
Seguiu viagem e logo mais à frente, um belo posto Graal onde almoçou muito bem, foi
bem servido, recarregou as energias e pode seguir para seu destino final.
À noite, foi ao Restaurante do Dedão em Jaboticabal, indicado por mim, onde foi
muitíssimo bem recebido e pode saborear um Bife à Parmegiana maravilhoso.
Tudo isso, porque ele fala o Português! Agora, imagine em Russo, que além da língua
pátria fala só Inglês e que tente fazer o mesmo, seguindo para Itu onde a delegação
de sua seleção vai ficar?
Sem contar que a Seleção Portuguesa ficará hospedada em Campinas que estava em
abril com 20.000 casos de dengue...
Mas a Copa vai passar e vamos ver que legado e que imagem nosso país deixará.
A única coisa que pude sentir foi: Vergonha. E pedi desculpas inúmeras vezes pelos
dissabores de quem veio aqui tentar fazer negócios.
Sérgio Cintra
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Artigo - Ambiental MS