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Veículo: Correio Braziliense Data: 12/06/2013 Pág: Online
Satélite americano consegue, pela primeira vez, captar chamas rasteiras
Com isso, sistema de previsão dos incêndios na Amazônia deve se tornar mais
preciso.
Nos últimos anos, os cientistas conseguiram desenvolver métodos que ajudam a
prever o risco de Queimadas nas Florestas. Para isso, eles usam dados como a
situação atual das matas e a temperatura em terra e nos oceanos. Esse conjunto de
informações, fornecido por satélites, permite traçar projeções sobre quais regiões
estarão mais secas e quentes nos meses seguintes, logo mais suscetíveis às
chamas. O problema é que essas técnicas ainda são muito imprecisas, e tentativas
de melhorá-las são constantes.
Uma boa notícia nesse sentido acaba de ser divulgada pela Nasa. Pela primeira vez,
a agência espacial dos Estados Unidos conseguiu registrar, na Floresta Amazônica,
o fogo sub-bosque, um tipo de incêndio lento e rasteiro que consome a vegetação e,
geralmente, passa longe das vistas dos satélites, porque não ultrapassa a copa das
árvores. Como a situação presente ajuda muito a projetar o que ocorrerá no futuro, o
feito deve tornar as estimativas mais próximas da realidade.
Os sensores do satélite Terra conseguiram registrar a duração dos incêndios
rasteiros e o tempo que a mata levou para se recuperar. A Nasa estima que esse
tipo de fogo tenha atingido 85,5 mil quilômetros quadrados da floresta entre 1999 e
2010, o equivalente a 2,8% de toda a região, incluindo a de países vizinhos (de 3
milhões de quilômetros quadrados).
A área atingida é maior do que o desflorestamento causado pela agricultura: 4,5 mil
quilômetros quadrados entre agosto de 2011 e julho do ano passado, de acordo com
dados do Inpe. "A Florestas Amazônica é muito vulnerável ao fogo, devido à
frequência de focos de Desmatamento e de manuseio de terra na fronteira da
floresta, mas nunca soubemos a extensão regional ou a frequência desses incêndios
sub-bosque", afirmou Doug Morton, do Centro de Vôo Espacial Goddard, da Nasa.
Para que um incêndio tenha início, basta uma fogueira mal apagada ou uma ponta
de cigarro acessa jogada no chão coberto pela vegetação. "Você pode olhar para
uma reserva indígena onde não há desflorestamento e ver enormes incêndios subbosque. A presença humana na fronteira com os desflorestamento leva a um risco
de incêndios quando as condições do Clima são apropriadas para as Queimadas",
explica Morton. A queimada de lixo, a presença de carros e a agricultura também
são fatores que contribuem para a formação das labaredas.
Dados conflitantes
Atualmente, para prever o risco de incêndios, a agência espacial utiliza, além do
Terra, o satétile NOAA (sigla em inglês para Administração Atmosférica e Oceânica),
que mede a temperatura dos oceanos. Como foi registrado um calor maior no
Atlântico recentemente, os especialistas acreditam que as Queimadas no Brasil
devem ser mais intensas no fim deste ano. Dos estados que comportam parte da
Amazônia, apenas o Maranhão deve sofrer menos com o problema. Segundo a
Nasa, Pará e Mato Grosso serão os mais atingidos pelas chamas, seguidos por
Rondônia, Amazonas e Acre. Isoladamente, Mato Grosso é responsável por mais de
40% de todos os focos registrados pelo sistema da Nasa desde 2000: a média do
estado é de quase 50 mil pontos de queimada por ano.
No Brasil, o monitoramento fica por conta do sistema Aqua, um conjunto de seis
instrumentos, também da Nasa, que coletam informações sobre as nuvens, a
evaporação dos oceanos, o vapor d'água na atmosfera e a precipitação no planeta.
De acordo com o levantamento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), o número de focos em 2013 deve ser um pouco abaixo da média esperada
para a região amazônica.
A diferença nos números não é surpreendente, de acordo com Alberto Setzer,
responsável pelo monitoramento de Queimadas do Inpe. "Existe um método que
eles usam para fazer essa previsão, assim como há dezenas de grupos no Brasil e
no mundo fazendo o mesmo", compara o brasileiro. A margem de erro do modelo
norte-americano, ressalta Setzer, é bastante grande. "Se o método deles ou
qualquer outro funcionasse muito bem, as pessoas os usariam para se preparar.
Mas essa ciência de fazer previsão do tempo com meses de antecedência ainda é
muito incerta", lamenta o especialista.
Apesar de as pesquisas apontarem o Clima como um fator que facilita muito a
ocorrência de Queimadas na Amazônia, os incidentes não são expontâneos. A seca
pode ser o combustível que mantém as chamas acesas, mas o gatilho dos focos tem
origem humana. "Um modelo nunca vai conseguir prever quando um maluco vai
começar a queimar. Isso não tem nada a ver com o Clima, é uma coisa
imprevisível", aponta Setzer.
Nos próximos anos, o modelo da Nasa também deve incluir dados do Experimento
de Clima e Recuperação de Gravidade, ou simplesmente Grace, como é chamado
outro satélite. Os sensores desse equipamento produzem estimativas sobre a
umidade no solo com meses de antecedência. A ferramenta pode tornar as
previsões sobre as Queimadas mais precisas. "As medições do Grace proporcionam
informações precisas e únicas sobre o nível de água na terra, o que muda
completamente o modo como olhamos para a previsão de incêndios", assegurou em
um comunicado à imprensa Isabella Velicogna, pesquisadora da Universidade da
Califórnia.
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