CURSOS SUPERIORES TECNOLÓGICOS
EM – ECONOMIA E MERCADO / PROF. FÁBIO URIARTE
O PROBLEMA ECONÔMICO
http://www.duplipensar.net/artigos/2008-texto/o-problema-economico.html
Rodrigo Constantino - Publicado em 16.06.2008
"Segundo Marx, para acabar com os males do mundo, bastava distribuir; foi fatal;
os socialistas nunca mais entenderam a escassez." (Roberto Campos)
Qual a essência do problema econômico? Por que devemos entender de economia? O prêmio
Nobel F. Hayek explicou em seu livro Individualism and Economic Order, publicado em 1948, que o
problema econômico surge assim que propósitos diferentes competem pelos recursos disponíveis.
Os custos devem ser levados em consideração, e custos significam nada além das vantagens que
seriam derivadas do uso de determinados recursos em outras direções, ou seja, o "custo de
oportunidade". Tudo isso é bastante evidente, mas é incrível como tanta gente ignora esta lição
básica sobre economia, incluindo alguns economistas.
O precursor da Escola Austríaca, Carl Menger, explicou em seu livro Princípios de Economia
Política, que "os bens cuja oferta é maior que a demanda não constituem objeto da economia
humana, e por isso os denominamos bens não econômicos". Quando se trata desses tipos de
bens, os homens praticam o "comunismo". Menger explica: "Nas aldeias banhadas por rios que
fornecem mais água do que a necessária para o atendimento das necessidades dos moradores,
cada indivíduo vai ao rio e tira tanta água quanto quiser; nas selvas, cada um apanha sem
cerimônia tanta lenha quanto precisar; da mesma forma, cada um deixa entrar em sua casa tanto
ar e tanta luz quanto quiser". Em outras palavras, o problema econômico está ausente quando há
total abundância de determinado recurso. Ele surge apenas quando temos escassez de recursos,
i.e., recursos finitos. E sempre que esse for o caso, válido para a imensa maioria de recursos
naturais disponíveis, o cálculo econômico é necessário.
Hayek argumenta então, que esse cálculo econômico para o uso racional dos recursos disponíveis
não é viável em uma economia com planejamento central, ou seja, socialista. As informações e o
conhecimento existentes na sociedade estão dispersos entre os milhões de indivíduos. Como esse
conhecimento será utilizado é uma questão fundamental para a eficiência do sistema econômico.
O conhecimento de circunstâncias particulares de tempo e lugar jamais poderia existir num ente
agregado qualquer. O arbitrador que ganha com essas assimetrias de conhecimento, através dos
preços diferentes praticados, exerce uma função essencial para o funcionamento econômico. A
idéia de que a assimetria de informações impede a livre concorrência é totalmente falsa, já que
nem mesmo faria sentido falar em concorrência real caso houvesse perfeita simetria de
conhecimento. Os problemas econômicos, afinal, surgem sempre como conseqüência de
mudanças. Se todos soubessem de tudo, nenhum plano individual seria necessário para corrigir
decisões erradas anteriores.
O fluxo contínuo de bens e serviços é mantido por ajustes constantes feitos diariamente de acordo
com circunstâncias desconhecidas no dia anterior. Um planejamento central com base em
estatísticas jamais poderia substituir esses ajustes realizados com base no conhecimento disperso
e assimétrico dos indivíduos. A descentralização é crucial para garantir o uso adequado desse
conhecimento. A questão da comunicação desse conhecimento disperso é resolvida através dos
preços livres, que informam cada agente sobre a oferta e demanda dos diferentes recursos
disponíveis. O empresário não tem necessidade de conhecer tudo sobre vários setores para
entender que o preço de um insumo importante para seu negócio está subindo, alertando que há
mais demanda para esse bem particular. Ele fará então os ajustes com base nessa informação, que
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já é um resultado da interação dos milhões de agentes do mercado.
Eis como o mecanismo de preços soluciona o problema da informação pulverizada na sociedade. O
fato de essa solução não ser uma construção deliberada da mente humana, mas sim uma evolução
natural sem um design humano, incomoda aqueles que tratam economia como uma ciência
natural. Mas essas pessoas ignoram que a beleza do mecanismo está justamente em não
depender de uma mente brilhante que controle todas as decisões. A divisão de trabalho, que tem
sido fundamental para o progresso de nossa civilização, é possível justamente por conta desse
método de preços livres. Os avanços nas ciências naturais levaram muitos economistas a uma
postura arrogante acerca do problema econômico. Como é possível obter certas leis físicas através
da observação empírica de fenômenos naturais, então se concluiu que era possível fazer o mesmo
nas ciências sociais complexas, como a economia. Os positivistas passaram a acreditar que era
possível impor de cima para baixo as decisões de alocação dos recursos disponíveis, ignorando
justamente o mecanismo que torna viável e eficiente esta alocação.
Aquilo que torna possível uma alocação eficiente dos recursos é a competição, um processo
dinâmico na busca pela satisfação dos desejos e demandas dos consumidores. Estes desejos não
podem ser tratados como dados disponíveis e estáticos, pois dependem do valor subjetivo de cada
indivíduo, e estão sempre em mutação também. A função da competição é justamente nos
ensinar quem pode nos servir melhor, e essa resposta nunca é fixa. O problema econômico é o
problema de fazer o melhor uso dos recursos que temos, e não faz sentido falar numa situação
hipotética onde um "mercado perfeito" existiria. O problema é justamente fazer o melhor uso
através das pessoas existentes, com seu conhecimento limitado e específico. Somente uma
competição dinâmica com preços livres permite os ajustes necessários para uma tendência rumo
ao equilíbrio. O grande erro dos economistas clássicos foi partir de um equilíbrio hipotético, como
se os dados fossem conhecidos, e tudo não passasse de um problema de cálculo racional ex post
facto, com os custos dados. E foi justamente esse lado falho dos clássicos que Marx utilizou em
suas teorias.
Os argumentos de Hayek mostram a impossibilidade do cálculo racional sob o sistema socialista de
planejamento central. Não é do interesse particular do livro em questão atacar os fins pregados
pelo socialismo, mas apenas mostrar que os meios defendidos não atendem de forma alguma
esses fins. Como Mises já havia demonstrado antes mesmo de Hayek, o uso econômico dos
recursos disponíveis é possível somente se o mecanismo de preços for respeitado não apenas para
os bens finais, como para todos os intermediários também. Os fatores de produção vão competir
para diferentes fins, e somente os preços livres podem informar qual o melhor uso de tais fatores,
de acordo com as demandas mais urgentes dos consumidores.
Se o preço do milho começa a disparar no livre mercado, isso informa aos produtores que este
insumo está sendo demandado com mais urgência em indústrias competitivas, como a produção
de etanol, por exemplo. Somente assim os produtores podem saber que é preciso aumentar sua
produção e oferecer mais alimentos. Caso contrário, com medidas intervencionistas do governo
que impeçam a livre formação de preço, essa preciosa informação não chegará aos produtores, e
o resultado será a escassez de milho no mercado. Como este caso, existem milhares de outros
exemplos que podemos citar para mostrar como o mecanismo de preços em toda a cadeia
produtiva é crucial para o funcionamento eficiente da economia.
Quando uma autoridade central determina o uso dos recursos, sem levar em conta os preços de
mercado, não fica evidente o custo dessa alocação ineficiente, justamente porque se trata de um
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custo de oportunidade, ou seja, como esse recurso poderia estar sendo mais bem utilizado em
outro lugar. A miopia que Bastiat chamou a atenção, sobre aquilo que não se vê de imediato, é o
grande aliado dos governos, que geram alocações ineficientes, mas nem sempre visíveis no curto
prazo. Como o nexo causal de longo prazo exige profundo entendimento de economia, os leigos
acabam vítimas dessa miopia, inocentando o governo de seus constantes desperdícios de recursos
escassos. Quanto custa para o pagador de imposto americano, por exemplo, ter um robô
pousando em Marte? Erra quem afirma que basta verificar o orçamento da missão. Esse é apenas
o somatório dos preços de mercado naquele momento para os insumos utilizados. Mas não leva
em conta o custo de oportunidade, ou seja, onde esses recursos poderiam ter sido utilizados pela
iniciativa privada. Como as decisões do governo não costumam levar em conta essas alternativas,
até porque a missão da NASA não objetiva o lucro, fica impossível saber ao certo o seu custo
verdadeiro.
As escolhas de alocação de recursos pelo governo, com critérios arbitrários que independem dos
preços de mercado, e as escolhas dos consumidores não são fins compatíveis. No extremo, que
seria o socialismo com planejamento central, os consumidores teriam que aceitar qualquer
decisão proveniente dos governantes, como de fato ocorreu na União Soviética. Faltavam os
produtos mais desejados nas prateleiras, enquanto o governo lançou o satélite Sputnik para
impressionar os americanos. Com certeza não era do interesse dos consumidores russos tal
escolha! Em Cuba existem os mesmos problemas. As demandas reais dos consumidores ficam
totalmente dissociadas das decisões tomadas pelos planejadores centrais, até porque estes não
têm como saber quais são as reais demandas, uma vez que o mecanismo de informação foi
eliminado. Ou seja, mesmo assumindo que os planejadores fossem pessoas inteligentes e bem
intencionadas, ainda assim o mecanismo de planejamento central seria catastrófico. Adotando a
premissa mais realista de que o poder corrompe e que os governantes são egoístas e limitados
intelectualmente, o resultado é ainda pior.
A frase de Roberto Campos na epígrafe vai ao cerne da questão: os socialistas simplesmente
ignoram o conceito de escassez, absolutamente indispensável para se falar em economia. O
mesmo Roberto Campos, ao afirmar que os marxistas partem de uma crença num estado natural
de abundância, conclui que nada mais simples para eles, portanto, do que pregar a economia de
Robin Hood: tirar dos ricos para dar aos pobres. E de fato vemos isso o tempo todo. Os socialistas
sempre se esquecem dos recursos escassos e do que permite sua eficiente alocação, preferindo
demandar mais gastos públicos o tempo todo. Todos os males serão resolvidos com mais gastos
do governo.
É preciso melhor saúde, logo, mais governo. É preciso melhor educação, logo, mais governo. É
preciso preservar a Amazônia, logo, mais governo. É preciso dar crédito aos pequenos
empresários, logo, mais governo. É preciso garantir esmolas para os pobres, logo, mais governo. É
preciso uma aposentadoria "digna" para todos, logo, mais governo. E por aí vai, numa lista
realmente infindável de demandas, assumindo que os recursos brotam em árvores. Poucos param
para pensar sobre o problema econômico diante disso tudo. Pelo contrário, quem ousa levantar
essa questão é logo chamado de insensível. Quem aborda a importância dos lucros e preços livres
é visto como lacaio dos interesses do capital. Uma falsa dicotomia se faz presente, como se o lucro
fosse inimigo dessas demandas. E o contrário: sem a busca por lucros numa economia com livre
concorrência, essas demandas nunca serão atendidas de forma adequada. Mas para compreender
este fato da realidade, é preciso ter algum conhecimento sobre economia. Em resumo, é preciso
abandonar o romantismo e compreender a essência do problema econômico, para reconhecer
qual o melhor mecanismo de uso dos recursos escassos.
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EM-005-O Problema Econômico