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ÉTICA, TERRORISMO E
CRIMINALIDADE
Ricardo Vélez Rodríguez
Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa” da UFJF.
Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do PEN Clube.
Professor Emérito da ECEME Rio de Janeiro.
[email protected]
Escrevo este breve comentário sob o impacto de duas notícias: o fuzilamento,
na Indonésia, do cidadão brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, 53 anos, acusado
de tráfico internacional de entorpecentes e a morte, em Bangu, no Rio de Janeiro, da
menina Larissa de Carvalho, 4 anos, por bala perdida. Confronto esses dois fatos com
as estatísticas que os jornais lembram. Indonésia: aproximadamente 250 milhões de
habitantes. Homicídios por ano nesse país: aproximadamente 15 mil. Brasil:
aproximadamente 200 milhões de habitantes. Homicídios por ano: mais de 50 mil. No
final de semana passado, o ex-cónsul brasileiro em Jacarta, que há vários anos reside
na Indonésia, dava entrevista à Globo News dizendo que esse é um país bem mais
seguro do que o Brasil.
Marco Archer Cardoso Moreira, o brasileiro fuzilado na Indonésia, condenado por tráfico de
entorpecentes.
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Algo anda errado quando a Presidente toma as dores pela execução do
traficante brasileiro, sem que paralelamente o seu governo pareça se incomodar com a
terrível estatística que nos envergonha, de 50 mil cidadãos assassinados por
compatriotas todos os anos. Convenhamos que, no nosso caso, a coisa é pior do que
na Indonésia: pratica o Brasil a “pena de morte” extraoficial contra os seus cidadãos,
imposta pelos marginais ou por forças policiais despreparadas, que disparam a toque
de caixa, como ocorreu na Baixada Fluminense, em 2 de agosto do ano passado,
quando uma patrulha assassinou pelas costas a jovem Haíssa Vargas Motta, de 22
anos. Sou contra a pena de morte. Acho que esse instituto legal deve desaparecer da
face da Terra. Já temos violência suficiente com o que se passa nas guerras pelo
mundo afora. Mas também sou contra a dupla moral do governo brasileiro, que toma
as dores de um sentenciado à pena capital em outro país por tráfico de drogas e ignora
a sorte de milhares de cidadãos barbaramente executados, na sua própria pátria, sem
culpa provada, sem direito a defesa e sem juízo.
A menina Larissa de Carvalho, 4 anos, morta por bala perdida em Bangu, no Rio de Janeiro,
Os parâmetros brasileiros de violência são insustentáveis para qualquer país
civilizado. O nosso índice de 24,3 homicídios por 100 mil habitantes (dados de 2012) é
injustificável de todo ponto de vista. Países que sofreram grandes conflitos como a
Espanha, com uma guerra civil que, na década de trinta do século passado, deixou
mais de um milhão de mortos, hoje têm patamares de violência bem menores do que
os nossos. Em 2013, o índice de homicídios por cem mil habitantes na Espanha foi de
0,64. Enquanto isso, 154 pessoas são assassinadas por dia no Brasil, sendo que jovens
do sexo masculino e negros constituem a maior parte das vítimas. Entre 2002 e 2012
foram executados na guerra informal brasileira 556.000 cidadãos, cifra muito superior
ao total de mortos nos conflitos que assolam atualmente o mundo. O Brasil é, hoje, em
números absolutos, líder global de assassinatos.
Identifico duas causas para o grave fenômeno que nos assola: a cultura do
Patrimonialismo e a crise de valores morais em que mergulhou a nossa sociedade.
Quanto à primeira causa, a mentalidade patrimonialista que privatiza o bem
público para poucos, fez da res publica “coisa nossa”, num esquema mafioso que faz
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com que o Estado somente preste serviços aos altos burocratas e aos políticos,
deixando ao relento o resto dos brasileiros, a grande maioria deles, diga-se de
passagem. Lula, Dilma e a cúpula da cleptocracia se tratam no Hospital Albert Einstein,
com tudo a que um cidadão do primeiro mundo tem direito. Os cidadãos brasileiros,
com plano de saúde ou sem ele, morrem na fila de espera, antes de serem atendidos.
O PT nivelou por baixo a saúde da população, tornando todos os serviços péssimos,
tanto os do SUS quanto os dos planos. O ministro da saúde conseguiu, semana
retrasada, a proeza de debitar na conta do cidadão que paga plano o não
funcionamento dos mesmos.
Quanto à segunda causa, a ladroagem institucionalizada, inspirada na ideologia
gramsciana, conseguiu a proeza de destruir as bases da moral social, atacando os
valores que davam sustentação à nossa sociedade. Longe de ter equacionado a
educação para a cidadania, os petralhas conseguiram derrubar a escala de valores
morais em que assentava o nosso convívio coletivo, suscitando o ódio entre os
cidadãos e atacando instituições tradicionais como a família, a religião e o culto aos
heróis da nossa história, tendo-os substituído por marginais e facínoras, com cujos
nomes são rebatizados pontes, praças, ruas e espaços públicos. Nesse crescendo de
dialética da destruição logo mais sucumbiremos todos, se as coisas continuarem pelo
caminho escolhido pelos arquitetos do caos.
Nesse contexto de anomia e de demolição axiológica e institucional, torna-se
impossível ao nosso país fazer frente ao terrorismo islâmico, que assoma as garras
pelo mundo afora assassinando uma média de 100 mil cristãos por ano notadamente
na África, fuzilando a queima roupa jornalistas na Europa, tendo iniciado essa guerra (a
terceira conflagração mundial) em 2001, com os ataques de Al-Qaeda aos Estados
Unidos.
Somente com um grande esforço dos cidadãos deste país, o Brasil conseguirá
se soerguer dessa vala em que foi jogado, na última década, pelo populismo
irresponsável travestido de salvador da pátria.
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