MULHERES EM BUSCA DE SEUS DIREITOS: UMA ANÁLISE DAS PESCADORAS DE GOVERNADOR CELSO RAMOS Adriana Eidt RESUMO Com o avanço em relação às leis trabalhistas em diversas áreas, procuro ver como esses atingiram algumas mulheres que trabalham com pesca em Governador Celso Ramos,localizado à 50 km de Florianópolis.Pescadoras que,contando suas trajetórias e experiências,procuraram estabelecer seu espaço,em locais onde a predominância do gênero masculino prevalece,e buscam seus direitos por exercerem a profissão,que muitas vezes era somente vista como uma extensão do trabalho doméstico. Palavras chaves:Gênero – Trabalho – Pesca 1.INTRODUÇÃO Desde o último século, viemos acompanhando a trajetória das mulheres na inclusão da sociedade, seja ela pelo seu voto ou pelo mercado de trabalho. Porém, ainda encontramos desigualdade quando falamos de acesso a certas categorias e remuneração. No mundo da pesca artesanal, isso não é diferente. Os direitos trabalhistas femininos na pesca artesanal só foram introduzidos em 1979, o acesso ao registro da pesca,e também o direito a previdência social,aposentadoria,entre outros benefícios.Passados mais de trinta anos,ainda encontramos pescadoras com dificuldades a acessar esses benefícios,logo mais explicaremos o por que. Para obter o registro no Ministério da Pesca e Aqüicultura/MPA,é necessário que o presidente da Colônia confirme a atividade da pescadora junto ao MPA.Mas o conceito de pescador para muitos,é aquele que trabalha no mar,o que não acontece com muitas trabalhadoras do ramo. As mulheres na pesca estão relacionadas a atividade coletora e extrativista,como a coleta de mariscos,moluscos e camarões,ou outras atividades realizadas na terra,como concerto e armação de redes,processamento do pescado,etc.(LEITÃO.Maria do Rosário,2012).Isso pode ser um modo pejorativo de ver a pesca,mas a Lei 11.959,de 29 de junho de 2009,diz que “a atividade pesqueira compreende todos os processos de pesca,explotação e exploração,cultivo,conservação, processamento,transporte,comercialização e pesquisa dos recursos pesqueiros”.Isso significa,que várias atividades desenvolvidas grande parte pelas mulheres,ainda não foi incorporada no modelo de pesca adotado por muitos presidentes de Colônias. Esse trabalho também é visto “como extensão do trabalho doméstico,sendo “invisível” aos olhos dos homens”.(LIMA,et.al,2010).E percebemos que envolve questões sociais […] Existe, nas sociedades capitalistas, toda uma ideologia de supervalorização do trabalho remunerado, (masculino) (feminino).(LAGO,Mara,1986).Nisso,nos em detrimento questionamos do trabalho o que domestico consideramos “trabalho”,qual o conceito que temos de trabalho,e como se aplica na divisão das funções.O por que atribuir que mulheres de pescadores simplesmente estão ajudando seus maridos,o que diferencia na hora de dizer que essas são profissionais ou não.Essa é a observação feita também por Sara Moreira Soares,em seu artigo: ”A pergunta que permeia muitas das indagações a respeito da presença feminina na pesca é: a mulher trabalha ou ajuda? Essa é uma questão que engendra discussões, pois as pescadoras da comunidade Cristo Rei, embora tenham consciência da importância de seu trabalho na pesca, por vezes, classificam esse mesmo trabalho como “ajuda”, ou seja, nem sempre visualizam seu próprio trabalho como sendo protagonista, visão que acaba reforçando a idéia de “ajuda” nas atividades desenvolvidas pelas pescadoras, ao passo que as mesmas atividades desenvolvidas por homens que pescam juntos, não se enquadram nessa categoria.” (SOARES,Sara M;2011) Então,por que em alguns casos classificar o trabalho da mulher como ajuda e do homem como trabalho?Muitos destes não exercem as mesmas funções?Aliás,a maioria dessas pescadoras tem uma jornada dupla,cuidam da casa,dos filhos,e exercem as funções da pesca.Então pensamos o que elas poderiam fazer para reivindicar seus direitos,como ter acesso a eles,e como são informadas de seus direito e o que fazem para obtê-lo.E também como fazer perceber que essa ajuda equivale a um trabalho que com o passar dos anos pode equivaler a uma aposentadoria como qualquer trabalhador.Por isso é importante verificar a validade da lei,como ela tá sendo implantada e como muitos pescadores vêem essa lei.E também verificar pelo lado jurídico,o que dizem advogados sobre as leis aplicadas aos pescadores. Apesar disso,existem articulações de mulheres pescadoras,como por exemplo em Pernambuco,onde mulheres já foram presidentes de colônia.Em Governador Celso Ramos encontramos Naca,que também já foi presidente de colônia.É importante ressaltar nesse envolvimento: “Formar ou vincular-se a organizações é, muitas vezes, uma exigência para se poder atuar em prol de interesses coletivos, na defesa da terra e do ambiente, assim como para alcançar políticas compensatórias e de apoio à renda. De fato, embora as mulheres possam efetivamente participar das decisões relativas à produção familiar, dividir a administração do barco com os companheiros ou assumi-la integralmente, carecem, no geral, de voz nas organizações. Nesse quadro, importa compreender como as mulheres estão construindo identidades novas e reivindicando reconhecimento, em condições de vulnerabilidade econômica, política e cultural.”(MANESCHY,Maria et. al.,2012) Outras situações favoráveis são oficinas que aconteceram com as pescadoras.Uma delas foi em Ganchos,em 2010,onde se reuniram cerca de 30 pescadoras para discutir questões de direitos,alimentação,saúde,etc.Nesse encontro elas puderam trocar experiências,contando como chegaram na pesca e como vivem seu dia a dia.Novamente uma outra reunião será realizada pelos meados de março de 2016,novamente em Governador Celso Ramos.A princípio uma das pautas é ver o que aconteceu nesses últimos anos,se essas pescadoras se articularam de alguma forma,como enxergam seus direitos agora,se estão indo atrás deles,etc. O que não podemos é ignorar o envolvimento dessas mulheres no contexto da pesca,por isso procurarei ver seus papéis desenvolvidos e como estão buscando seu reconhecimento,se conseguiram buscá-lo. 2.A CAMPO Figura 1:Naca pescando (Foto Rosário Andrade) Minha interação com o tema iniciou no momento que comecei a participar do NAVI (Núcleo de Antropologia Visual e Estudos de Imagem) da UFSC,onde tem um grupo que trabalha com pesca e gênero.Comecei a participar das reuniões e depois parti para o campo.O local era Governador Celso Ramos,onde conheci Nair,conhecida como Naca,Neuza e Maria. Como estudo antropologia,pensei primeiramente na observação participante,que é um assunto muito debatido.Sobre o tema,posso referir: O observador participante coleta dados através de sua participação na vida cotidiana do grupo ou organização que estuda.Ele observa as pessoas que está estudando para ver as situações com que se deparam normalmente e como se comportam diante delas.Entabula conversações com alguns ou com todos os participantes desta situação e descobre as interpretações que eles tem sobre os acontecimentos que observou.(BECKER,H. S.,1999) Fui acompanhada da professora Maria do Rosário Andrade,da UFPE,que já conhecia as pescadoras,e inicialmente me apresentou Naca.Comecei a observar seus modos de vida,como era seu trabalho com a pesca.Em seu rancho Naca trabalhava a rede,tem um barco com seu nome,e ali passava muitas horas ao dia. Resolvi utilizar imagens fotográficas para registrar esses momentos,pois no NAVI trabalhamos com a imagem como texto,como uma forma de transmitir esse campo.Ou podemos dizer também: “A imagem não é só objeto,representante legítimo de um apropriarse,mas ela se converte em experiência e é incluída densamente no que estou chamando aqui de processo,ou seja,um desdobramento articulado de pensamento e ação que constrói e reconstrói num continnum uma experiência específica”(GROISMAN,2006). Outro recurso utilizado foram as imagens através do vídeo,onde registramos entrevistas,pois conversando com essas mulheres podemos conhecer a trajetória destas mulheres,situações que passaram em suas vidas inseridas no mundo da pesca,o nascimento de seus filhos nesse contexto,etc. 3.ENTREVISTAS As entrevistas se desenvolveram entre 2012 e 2013,em diversas visitas realizadas em Governador Celso Ramos.Alguns foram no rancho de Naca,outros em sua casa,nos momentos que apareciam Maria e Neuza para falarem também. Em várias dessas entrevistas ouvimos a trajetória de Naca,que começou a pescar quando tinha 11 anos,quando saía com ele de canoa.Na década de 80,só ela e mais duas pescadoras conseguiram tirar a carteira de pesca na comunidade.Ela já contribuía com a colônia desde 1975,o que fazia ter alguns benefícios como dentista,etc.Na época o presidente da colônia não tinha noção que atividades como limpar e descamar faziam parte da pesca,e eram inseridas na lei,por isso só essas conseguiram. Quando tentou pela primeira vez tirar o seguro defeso,que é um benefício pago ao pescador artesanal que fica proibido de exercer a atividade pesqueira durante o período de defeso de alguma espécie,não consegui por que o presidente da colônia alegou que ela recebia pensão do marido morto.Esse faleceu quando tinha 35 anos,mas uma coisa não teria a ver com a outra.Ela procurou uma advogada do INSS em São João Batista,que conhecia seu sobrinho.Em outubro de 2006 recebeu seu primeiro salário.Teve que pedir uma declaração do presidente dizendo quantos anos que ela tinha de pesca para pedir aposentadoria,levou os documentos e em 17 dias já estava aposentada.Segundo ela o que ajudou no processo da tiragem de carteiras foi quando o presidente Lula disse que a mulher do pescador,filha ou filho,que ajudasse sem ter outra fonte de trabalho poderias ter acesso aos benefícios.Para regularizar sua situação freqüentou vários cursos entre eles um para fazer redes na UNIVALI,que é a universidade do Vale do Itajaí,sendo que conhecia mais de redes que seu professor.Outro curso foi o de maricultura na EPAGRI,que é Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,em 2002,de 40 horas.Um Curso de motores marítimos,na Epagri também,em 2001.Em dezembro de 2004 participou do 1° Encontro Nacional das trabalhadoras da pesca e da agricultura,realizado em Brasília.Nesse encontro conheceu muitas trabalhadoras da área,entre elas uma pescadora do sertão da Bahia que era pobre,e deu duas blusas para ela.Muitas foram as situações vividas por essa mulher,que empenhou grande parte da sua vida na pesca,e por qual tem uma grande paixão. 5.CONCLUSÕES Conhecendo essas mulheres,percebemos que com o tempo estas foram se empoderando,tendo noção de sua força e autonomia.Estas que diariamente acordavam cedo,iam pescar,cuidavam de seus filhos,da casa,etc.O certo não seria chamar de benefícios o que elas ganham,e sim de direitos,pois trabalham por anos nessa função e deveriam sim receber,pois a condição é insalubre,adquirem doenças,dores nas costas,nas mãos.Trabalhar com pesca pode ser perigosos,mas mesmo assim elas encaram diariamente e vão a luta.Com novas associações,estas estão tendo conhecimento das suas condições e conhecem situações de outras pescadoras,praticando a sororidade entre elas,percebendo que uma pode ajudar a outra. 6.REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1.LEITÃO,Maria do Rosário de Fátima Andrade;INÁCIO,Pedro Henrique Dias.”Pesca,Gênero e Políticas Púbicas:Uma introdução à história da articulação de mulheres pescadoras de Pernambuco.In “Gênero e trabalho:Diversidade de experiências em educação e comunidades tradicionais” Editora mulheres (2012). 2.SCOTT,Joan.Gênero:Uma categoria útil para análise histórica.Gender: a useful category of historical analyses. 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