REVISTA DA PROCURADORIA GERAL DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE ESTUDOS ISSN: 1519-0226 R. PGE Belém/PA Nº 14/15 jan./jun.- jul./dez. 2006 Revista da Procuradoria Geral do Estado do Pará © Copyright by Governo do Estado do Pará, 2006 Comissão Editorial: José Aloysio Cavalcante Campos; Ari Lima Cavalcanti; Carla Afonso de Nóvoa e Carolina Ormanes Massoud. Publicação semestral PROCURADORIA GERAL DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE ESTUDOS Rua dos Tamoios, n. 1671 - Batista Campos 66.25-540 Belém-Pará Telefax (0xx)91 241-1702 [email protected] Carolina Ormanes Massoud Procuradora do Estado Diretora do Centro de Estudos ISSN: 1519-0226 Projeto Gráfico e Impressão: Procuradoria Geral do Estado do Pará / Imprensa Oficial do Estado do Pará Normalização bibliográfica: Maria Rosa Ferreira Lourenço CRB2/324 Capa: Edson Lamarão Corrêa Foto: João Ramid (praia na Ilha do Marajó) Revisão de texto: Antônio Duval A. do E. Santo Tiragem: 500 exemplares Os conceitos e opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade exclusiva de seus autores. REVISTA DA PROCURADORIA GERAL DO ESTADO DO PARA. Belém: Imp rensa Oficial do Estado, 2006. (semestral) ISSN: 1519-0226 1. Direíto-Periódicos. I. Procuradoria Geral do Estado. II. Centro de Estudos CDD: 340.05 CDU: 34(05) APRESENTAÇÃO REGISTROS DE NOSSA ATUAÇÃO - AGRADECIMENTOS Temos a honra de lançar mais uma edição da Revista da Procuradoria Geral do Estado do Pará. Com efeito, é grande a satisfação pela edição destes números, em único volume, pois 2006 foi um ano de conquistas para a classe. Contamos hoje com 11 (onze) novos Procuradores, devidamente aprovados em concurso público, e já foi publicado o edital para a realização de novo concurso para provimento de 15 (quinze) cargos de Procurador do Estado. Além disso, foi publicado o edital para provimento de 120 (cento e vinte) cargos, em nível administrativo, para compor o quadro de servidores do órgão. Em breve, com o apoio do Governo do Estado, iniciaremos a construção de prédio anexo, cujo projeto já está concluído, tendo sido desapropriados dois imóveis (um com obras iniciadas) para melhor desenvolvimento de nossas atividades. Por outro lado, as conquistas da classe foram significativas. Foi aprovada a Lei Complementar n° 056/2006, que modificou a Lei Complementar n° 041/2002 e que, entre outros aspectos, criou o Fundo da Procuradoria Geral do Estado do Pará, cuja receita será destinada á implementação de projetos para a capacitação de pessoal e o reaparelhamento do órgão, além do estabelecimento de uma gratificação de cinco por cento incidente sobre a economia gerada pela desconstituição de condenações transitadas em julgado. Foi editada, ainda neste ano, emenda constitucional à Constituição Estadual permitindo o recebimento pelos procuradores dos honorários de sucumbência. Ademais, a Lei Complementar n° 056/2006 previu a criação de áreas com competências especializadas, a fim de melhorar a defesa do interesse público. Para fins de registro e agradecimento aos governadores abaixo citados que, no limite das necessidades de toda a administração estadual, fortaleceram com as medidas abaixo o órgão de defesa do Estado. Desde sua instituição em 1986 funcionava em imóveis alugados. O atual prédio sede foi inaugurado em dezembro/98 no segundo governo Almir Gabriel. A partir de 2000 ocorreu a ampliação de nosso espaço: 2000 - inauguração em novembro/2000 da Coordenadoria Setorial Brasília; 2001 desapropriação e reforma de imóvel contíguo pela Trav. Pe. Eutíquio. A partir de 2003, o Governador Simão Jatene autorizou as desapropriações dos seguintes imóveis: prédio contíguo pela Rua dos Tamoios para instalação de garagem para cerca de 40 automóveis, nominado como anexo 02; 2004-desapropriação de imóvel contíguo pela Trav Pe. Eutíquio como início de obras do anexo 03; 2006- desapropriado imóvel pela Rua Conselheiro Furtado (atualmente em tratativas para pagamento da indenização) possibilitando o aumento da garagem bem como de novas instalações destinadas às novas coordenadorias criadas pela Lei n° 056/06 e para suportar o aumento de pessoal e serviços; 2006 - Instalação da Setorial Brasília, a partir de junho/06, em novo imóvel com área quadruplicada e projetada para receber aquela coordenadoria. Destacamos abaixo, as principais alterações legislativas, de iniciativa da PGE, a partir de 2002, que contribuíram fundamentalmente para a profissionalização de nossas atribuições, para o fortalecimento da carreira dos procuradores e demais servidores. • Em 2002 - Lei n° 041/02 - instituição da carreira, criação de procuradorias especializadas, criação de cargos, reestruturação administrativa, instituição da dedicação exclusiva com proibição ex nunc da advocacia privada; • Em 2005 - Lei n° 050/05 - criação da gratificação pelo assessoramento às indiretas (considerando que esta atuação foi institucionalizada legalmente sem a correspondência vencimental), criação do conselho superior da PGE com eleição direta dos conselheiros, permissão da advocacia privada (como a maioria dos Estados - atualmente cerca de 70% do quadro de procuradores optaram pela dedicação exclusiva); • Em 2006 - Lei n° 056/06 - permissão constitucional para cobrança dos honorários de sucumbência que serão repartidos entre procuradores (75%, dos quais 3% serão destinados à Associação de Procuradores), servidores (5%) e constituição de fundo para reaparelhamento estrutural e funcional do órgão (20%); instituição de gratificação de produtividade de 5% incidente apenas sobre os valores que impliquem economia para o erário a partir de sentenças condenatórias transitadas em julgado; reajuste de 30% incidente apenas sobre o vencimento base parcelado entre 2006 e 2009; instituição da corregedoria como setor específico (antes conduzida pelo gabinete do SUB PGA); • Em 2006 - Lei n° 6.813/06 - organização legal da carreira de servidor da área administrativa da PGE, com estabelecimento de remuneração compatível com nossas responsabilidades e respondendo aos vários anos de reivindicações da categoria. Registramos ainda, com o único e estrito objetivo de registro, bem como fazer justiça aos procuradores do Estado e demais servidores que foram parceiros nesta administração iniciada em 1999, algumas medidas que foram adotadas com o intuito de emprestar ritmo profissional ao órgão e que, julgamos, contribuíram para o alcance de nossos resultados positivos, principalmente na queda acentuada das condenações contra o Estado e na atuação preventiva e orientadora da instituição. • Permanente controle do passivo das indiretas com articulações diretas e preventivas com os respectivos setores jurídicos e administradores; • Permanente articulação com a administração dos recursos orçamentários e financeiros no sentido de avaliar a evolução dos precatórios e sua repercussão no orçamento gerai, •Articulação, na forma da legislação em vigore sem quebra da ordem dos precatórios (a PGE NÃO realiza acordos judiciais para pagamento fora da ordem das requisições de pagamento). de acordos em demandas em que inevitável a condenação do Estado;Insistência com a administração para mudar comportamentos e posturas que implicam geração de riscos e passivos para o erário, com a geração, inclusive, de regras internas que desautorizam o oferecimento de recursos judiciais graciosos (exemplo: teto salarial, incorporações de gratificação etc); • Imediata instrução á administração por ocasião da mudança de legislação federal para que faça as devidas adaptações ou tome novas medidas (lei do idoso, super simples, divisão do Estado, regras eleitorais, deíiciontes físicos, legislação florestai etc); •Articulação direta do gabinete, junto com procuradoios, com as secretarias estatais e administração indireta para aproximar os serviços da PGE e mantê-los sempre á disposição Esta orientação aplica-se aos setores de licitação, recursos humanos, jurídico e inclusive chefias de gabinete (como agir na remessa de provocações judiciais e evitar demora e riscos na defesa do Es lado); Constante investimento no acervo do Centro de Estudos para permitir permanente atualização legislativa, doutrinária e jurisprudencial aos procuradores. Realização de palestras de procuradores do Estado sobre temas específicos, visando a reciclagem bem como discussão de novas regras legais; • Realização permanente de eventos em nosso auditório com a visita de juristas renomados (Cândido Dinamarco, Ministro Gilmar Mendes, Ministro José Delgado, Ministro Antônio Pádua Ribeiro, Prof. Humberto Theodoro Jr, Ministra Cármem Lúcia Rocha, Prof. Adilson Dallari, Prof. CassioScarpinellã Bueno, Prof. Marcelo Abelha, Prof. Diogo de Figueiredo Moreira Neto e outros tantos) permitindo melhor aproveitamento por todos os procuradores. Nestas ocasiões são convidados juizes, procuradores de justiça, membros do ministério público federal, desembargadores, advogados de estatais, consultores jurídicos do Estado; • Constante divulgação de instruções aos senhores procuradores quer em razão do surgimento de novas leis, bem como mudança de jurisprudência nas cortes estaduais e superiores; • Valorização do servidor vinculado à atividade meio por intermédio de constante diálogo, treinamento e oferecimento de novos serviços (a PGE, por exemplo, depois de muita insistência, conseguiu o ingresso de procuradores do Estado e demais servidores na COIMPA-cooperativa que congrega servidores do judiciário estadual e ministério público estadual - em que são ofe recidos inúmeros benefícios); • Posturas proativas, juntamente com iniciativas de procuradores do Estado, com o fim de se antecipar a algumas situações ou de se posicionar preventivamente diante de outras, estimulando os diversos setores da PGE a buscar esse posicionamento. Exemplos: confecção da primeira legislação nacional que permite a fiscalização dos royalties sobre recursos naturais; oferecimento de sugestões para a questão do carbono no Estado; defesa do consumidor; comunidades quilombolas; declaração de inconstitucionalidade do usucapião estadual; iniciativa da legislação de precatórios de pequeno valor etc; • Estreito relacionamento institucional com membros do judiciário, ministério público, servidores desses órgãos, oficiais de justiça, cortes superiores com o objetivo de estimular a boa e respeitosa convivência; • Participação da PGE no CONFAZ, COTEPE, Colégio de Procuradores Gerais (com participação de procuradores do Estado), ANAPE, e em outras discussões nacionais em que foram proferidas palestras por integrantes da PGE; • Controle ativo e preventivo, pelo gabinete do Procurador Geral, das principais demandas judiciais estaduais e em tramitação nas cortes superiores; • Constituição de grupos de estudos para tratar de questões específicas de interesse da administração ou para elaboração de teses de defesas ou reavaliação destas com o objetivo de manter atualizada nossa linha de atuação em prol do interesse da administração pública. ESTIMULAR O RELACIONAMENTO ENTRE GABINETE E PROCURADORES, POIS É PRINCIPALMENTE DESTES O CRÉDITO DE NOSSOS RESULTADOS. Deixar fluir, deste entrosamento, as idéias e sugestões, cabendo ao gabinete adotar as providências para implementá-las. Também deste relacionamento advém a capacidade para distribuir determinados processos aos procuradores que melhor poderão produzir respostas positivas. Deixar portas abertas. Em continuidade ao aprimoramento do trabalho que vem sendo desenvolvido, vale registrar o seguinte fato: as condenações contra o Estado, convoladas em requisições de pagamento, foram reduzidas de forma significativa, pois, tomando-se o ano de 2002 (quando foram expedidos 222 precatórios), pode ser verificada uma linha descendente levando em conta que neste exercício os precatórios somam apenas 59. Em nossa atuação no Supremo Tribunal Federal é digno de registro o deferimento de duas Argüições de Descumprimento de Preceito Fundamental provocadas pela Procuradoria Geral, ADPF 33 e 47, com julgamento de mérito da primeira e liminar na segunda. Trata-se do primeiro julgamento da espécie servindo de parâmetro para as demais, segundo o próprio STF. Encerra-se o exercício de um segundo período na administração da PGE (o primeiro iniciou em 1999 e encerrou em 2002), em que todos os nossos resultados positivos, quer no âmbito estadual quer no federal, decorreram de ampla aliança interna, envolvendo a participação, mesmo, de procuradores e administração. Sem a intervenção, a iniciativa, a boa vontade, o talento e o profissionalismo dos procuradores do Estado nossas vitórias estariam no limite do ordinário, no limite do cumprimento do dever. Entretanto fomos além e ousamos estabelecer metas extraordinárias e destas nos aproximamos, e em alguns casos, fomos além. Vencemos onde ninguém havia vencido e produzimos referência e matéria para escrever este capitulo de nossa história. Junto dos procuradores, os servidores da área administrativa da PGE, merecem igual registro pelo companheirismo e parceria. Sem seu esforço e compromisso estes resultados estariam comprometidos. Um pouco da vida e de nossa essência ficará nos processos, nos livros, nos corredores, nas discussões acadêmicas, nos conflitos típicos do homem. Restará a leveza do dever cumprido e da tarefa concluída, ainda que a conclusão tenha sido limitada, por vezes, pela tentativa e pela iniciativa. A liberdade do compromisso assumido e executado permitirão a todos os integrantes deste órgão, a partir de 2007, olhar para trás e respirar o alívio profundo, ao mesmo tempo que, levantando os olhos para o novo horizonte, intuir a certeza de que há muito ainda a conquistar. Não alcançamos nosso limite, mas, na execução de nossas atribuições e no desafio de sonharmos, sabemos que ainda estamos longe de tocá-lo. Para esta edição, buscamos encontrar no interior do Estado uma imagem que representasse um pouco da nossa cultura. Escolhemos uma paisagem da Ilha do Marajó, maior ilha flúvio-marítima do mundo, para mostrar as belezas da nossa terra. Além de artigos elaborados por integrantes da carreira, esta edição conta com a honrosa colaboração de respeitado profissional do Direito, que gentilmente cedeu trabalho de sua autoria. Por fim, cumpre registrar que esta publicação foi patrocinada pelo Banco do Estado do Pará (BANPARÁ), que tem sido constante parceiro desta Procuradoria Geral em iniciativas voltadas ao aprimoramento profissional dos advogados públicos e, consequentemente, à valorização do servidor público. Deus nos abençoe. Belém, 1o de dezembro de 2006. JOSÉ ALOYSIO CAVALCANTE CAMPOS Procurador Geral do Estado do Pará SUMÁRIO DOUTRINA A APLICAÇÃO DO MÉTODO DE CASO NO ESTUDO DAS FONTES FORMAIS DO DIREITO: A INVESTIGAÇÃO DE SUA IMPORTÂNCIA PARA A HARMONIA DO SISTEMA NORMATIVO, A PARTIR DA SITUAÇÃO HIPOTÉTICA QUE ENFRENTOU A RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA DO COMERCIANTE E FABRICANTE DE PRODUTO DEFEITUOSO EM ACIDENTE DE CONSUMO. 17 Dennis Verbicaro Soares CANCELAMENTO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DECORRENTE DE NULIDADES, INDEPENDENTE DE AÇÃO JUDICIAL. POSSIBILIDADE Ibraim Rocha CONSIDERAÇÕES SOBRE OS DIREITOS HUMANOS DA FAMÍLIA Sérgio Resende de Barros DO PRAZO DE DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO DE CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS DESTINADAS AO FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL Sérgio Oliva Reis ESTUDO SOBRE A LEI N° 11.232, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005 Carla Afonso de Nóvoa Carol Gentil Uliana Robina Monteiro Pimentel A LIVRE INICIATIVA EM FUNÇÃO DO PRINCÍPIO DA REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 Elísio Augusto Velloso Bastos A NOVA LEI DE FALÊNCIAS E SUA IMPORTÂNCIA PARA O PODER PÚBLICO Anete Penna de Carvalho Carol Gentil Uliana O ÔNUS DA PROVA EM MATÉRIA TRIBUTARIA EM FACE DA PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS Vládia Pompeu Silva A TRIBUTAÇÃO DO ATO ILÍCITO Ary Lima Cavalcanti 37 49 57 9 93 119 137 153 MANIFESTAÇÃO POSSIBILIDADE DO USO DE LOGOMARCAS, SÍMBOLOS E DEMAIS ITENS DE COMUNICAÇÃO VISUAL QUE IDENTIFICAM O CHEFE DO PODER EXECUTIVO DURANTE O PERÍODO ELEITORAL 167 Tatiana Donza Cancela de Carvalho