AVALIAÇÃO DOS SURTOS DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS
NOTIFICADOS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO NOS ANOS DE 2009 E 2010.
EVALUATION OF FOODBORNE DISEASE OUTBREAKS REPORTED TO
HEALTH SURVEILLANCE OF RIO DE JANEIRO CITY IN THE PERIOD OF 2009
AND 2010.
Norma Castelo Branco Schiavo1, Renata França Castro Santos2, Sonia Maria Ramos3, Liane
Ferreira de Menezes4
Resumo
A Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro tem atribuição de garantir a saúde da população no
que tange à produção e consumo de alimentos. Para tal objetivo, aplica a legislação sanitária
vigente e, como órgão regulador, realiza o controle de produtos e serviços relacionados à
alimentação. No período de 2009/2010, efetuou atendimento a 134 surtos notificados de
doença transmitida por alimentos (DTA), mediante avaliação de todos os dados previamente
fornecidos pelos envolvidos, avaliação técnica dos locais de ocorrência e análise laboratorial
dos alimentos incriminados. O presente estudo pretende demonstrar os procedimentos
técnicos adotados, a identificação dos agentes etiológicos, os locais de origem e as áreas da
cidade onde ocorreram os casos.
Palavras chave: DTA, surto, alimento, Vigilância Sanitária
Summary
Health Surveillance in Rio de Janeiro city is the local department responsible for a healthy
population food production and consuming. In pursuit of this achievement, it applies sanitary
laws to guarantee food safety and proper handling and services. During 2009 / 2010 it has
investigated 134 reported foodborne illness outbreaks by taking technical procedures to
interview the contaminated food consumers, inspect the indicated places and perform
laboratory analysis for foodborne pathogens identification. This study aims to demonstrate all
the technical procedures adopted in order to identify the harmful agents, the city areas where
the events occurred and places of origin.
Key words: foodborne illness, outbreak, food, Health Surveillance
Nas etapas de produção, processamento, empacotamento, transporte, preparação,
armazenamento ou distribuição de alimentos, quer seja na indústria, no comércio ou mesmo
em nos domicílios, estes podem ser expostos à contaminação. Falhas na cadeia de produção
ou exposição prolongada à temperatura inadequada podem permitir a sobrevivência e a
proliferação de bactérias patogênicas e fungos, além de criar condições favoráveis à produção
de toxinas, dando origem às doenças transmitidas por alimentos (DTA).
_______________________
1
Médica Veterinária - Gerente V da Gerência de Investigação de Doenças de Origem Alimentar da SVFSA
Médica Veterinária - Gerente III da Gerência de Pronto Atendimento em Fiscalização Sanitária de Alimentos da
SVFSA
3
Médica Veterinária - Gerente IV da Gerência de Monitoramento da Qualidade de Produtos da SVFSA
4
Médica Veterinária – Secretario II do Serviço de Georreferenciamento do Núcleo de Planejamento da
S/SUBVISA
Subsecretaria de Vigilância e Fiscalização Sanitária e Controle de Zoonoses do Município do Rio de
Janeiro(SUBVISA). Superintendência de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Alimentos (SVFSA).
Autor a ser contactado: Norma Castelo Branco Schiavo
Endereço: Rua do Lavradio, 180 – 7º andar. Lapa – Rio de Janeiro – Brasil.
CEP: 20230-070.
E-mail: [email protected]
2
É expectativa da população que sua saúde esteja garantida e por isso confia na ação de
regulação sanitária dos alimentos produzidos nas esferas industrial ou comercial visando
proteção contra as doenças. Essa proteção depende de um lado, de produtores de alimento que
cumpram as boas práticas de produção e os requisitos para se garantir um produto saudável e
livre de contaminantes, de outro lado, uma rápida detecção e controle de surtos, do
conhecimento de seus agentes e fatores responsáveis pela doença. (BRASIL, 2011) A
Vigilância Sanitária Municipal tem como atribuição executar as ações técnicas pertinentes,
com a gestão, o monitoramento e a avaliação do programa de controle de surtos de DTA,
consolidando os dados e enviando-os para alimentação do sistema de informação estadual.
Para melhor desenvolver tais atividades, a Superintendência de Vigilância e Fiscalização
Sanitária de Alimentos criou a Gerência de Investigação de Doenças de Origem Alimentar
(GIDOA).
Esta unidade orienta a captação, análise e direcionamento de todos os procedimentos
relacionados às investigações de DTA, até sua conclusão (RIO DE JANEIRO, 2011). O
presente trabalho tem por objetivo avaliar os surtos de DTA notificados no município do Rio
de Janeiro, distribuídos nas diversas áreas programáticas (AP), identificando os locais de
ocorrência, relacionando os alimentos envolvidos, o número de pessoas acometidas e os
patógenos mais encontrados nas análises laboratoriais realizadas a partir das amostras
coletadas no decorrer das investigações.
No período de 2009 a 2010, a Vigilância Sanitária do Município do Rio de Janeiro
recebeu 134 notificações de surto de DTA, envolvendo mais de 700 pessoas, distribuídos em
toda a cidade. A maior incidência ocorreu na AP3.1, que concentra parte dos bairros da zona
da Leopoldina, e na AP4, que abrange os bairros da zona oeste do Rio, com 14 surtos
confirmados, acometendo cerca de 300 pessoas em 2009. No ano de 2010, mais de 400
pessoas foram envolvidas em 11 episódios de surtos na área programática da AP1 (bairros do
Centro e adjacências) e novamente na AP4, locais com grande concentração de
estabelecimentos comerciais. A partir do recebimento das notificações, diversas ações foram
deflagradas tais como a inspeção sanitária dos locais de ocorrência dos eventos, a coleta de
amostras de água e/ou alimentos suspeitos para exames laboratoriais, a investigação
epidemiológica com os manipuladores de alimentos, e a adoção de ações corretivas imediatas,
necessárias para a interrupção da fonte de transmissão do surto, visando o controle e a
prevenção de novos episódios.
Os resultados das análises laboratoriais demonstraram, conforme Tabela 1, que
bactérias do grupo dos coliformes termotolerantes foram as principais responsáveis pelos
surtos de DTA ocorridos no período avaliado – 2009 e 2010. Os alimentos mais comumente
implicados nos eventos foram os produtos de origem animal e a água de consumo. Os
restaurantes e as residências foram os locais onde ocorreu o maior número de episódios, com
destaque ainda para bares e lanchonetes que mantiveram os mesmos índices de ocorrência nos
dois anos estudados. As inspeções sanitárias dos locais envolvidos nos episódios de surtos de
DTA apontaram desde deficiências estruturais até falhas na aplicação das boas práticas de
fabricação de alimentos, fatores estes que possibilitaram a ocorrência dos surtos. Dentre as
principais irregularidades observadas, destacaram-se: instalações inadequadas, falta de asseio
na manipulação e no acondicionamento de alimentos, produtos com prazo de validade
expirado, vetores e pragas nas áreas de produção, alimentos expostos em temperatura
ambiente e fluxograma de produção e armazenamento incorretos, favorecendo a
contaminação cruzada dos alimentos.
Considerando que as DTA são responsáveis por sérios problemas de saúde pública e
expressivas perdas econômicas, é fundamental que todas as notificações sejam investigadas
objetivando identificar formas de interromper a transmissão, prevenindo assim a ocorrência
de novos casos, e garantir a segurança dos alimentos.
2
Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual Integrado de Prevenção e Controle de Doenças
Transmitidas por Alimentos (Manual VE-DTA). Fundação Nacional de Saúde. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manualdta.pdf. Acesso em: 10 de julho de 2011.
RIO DE JANEIRO. Município. Decreto Nº 33.360 de 17 de janeiro de 2011 - Dispõe sobre a
Estrutura Organizacional da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil. Diário Oficial do
Município, 2011.
Surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos Notificados na Cidade do Rio de Janeiro
em 2009 e 2010
Nº de
Nº de
Eventos Pessoas
Locais (%)
Alimentos (%)
Patógenos (%)
Restaurante – 30
Domicílio – 27
Bar / Lanchonete – 8
Supermercado – 8
Asilo / Orfanato / Creche – 7
Padaria / Confeitaria – 7
Estabelecimento de Saúde – 5
Estabelecimento de Ensino – 4
Outros tipos de comércio – 4
Produtos Cárneos – 27
Água – 23
Pescados – 10
Cereais – 10
Vegetais – 7
Massas – 7
Sobremesas – 6
Laticínios – 5
Outros ali mentos – 5
Coliformes termotolerantes - 53
Coliformes Totais – 27
Staphylococcus – 13
Clostridium sulfito redutor – 7
no
61
↑ 294
009
73
010
↑ 441
Restaurante – 34
Domicílio – 32
Bar / Lanchonete – 8
Asilo / Orfanato / Creche – 6
Estabelecimento de Ensino – 6
Padaria / Confeitaria – 5
Supermercado – 5
Estabelecimento de Saúde – 2
Outros tipos de comércio – 2
Água – 34
Produtos Cárneos – 29
Pescados – 9
Laticínios – 7
Vegetais – 5
Cereais – 5
Sobremesas – 4
Massas – 4
Outros alimentos – 3
Coliformes Totais – 54,5
Coliformes termotolerantes 36,5
Staphylococcus – 9
Tabela 1: Detalhamento dos eventos avaliados no período de 2009 e 2010.
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Trabalho - SOVERGS