I
UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
NORIVAL MANTOVANI
ALIANÇAS ESTRATÉGICAS NO VAREJO: UM ESTUDO SOBRE AS
ASSOCIAÇÕES DE FARMÁCIAS DO BRASIL E SUA INFLUÊNCIA
SOBRE A COMPETITIVIDADE DOS AFILIADOS
São Caetano do Sul
2010
II
FICHA CATALOGRÁFICA
Mantovani, Norival
Contribuição para a compreensão do modelo de Associativismo utilizado no Brasil pelas Farmácias Independentes,
como forma de conseguir aumentar a competitividade perante as grandes redes de farmácias / Norival Mantovani. 2010.
104 f.
Dissertação (Mestrado em Administração) –Universidade
Municipal de São Caetano do Sul, São Caetano do Sul, 2010.
Orientação de: Prof. Dr. Sérgio Feliciano Crispim
1. Indústria Farmacêutica - Brasil 2. Farmácias Independentes - Brasil 3. Competitividade.
III
NORIVAL MANTOVANI
ALIANÇAS ESTRATÉGICAS NO VAREJO: UM ESTUDO SOBRE AS
ASSOCIAÇÕES DE FARMÁCIAS DO BRASIL E SUA INFLUÊNCIA
SOBRE A COMPETITIVIDADE DOS AFILIADOS
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
em Administração da Universidade Municipal de São
Caetano do Sul como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Administração.
Área de Concentração:
Organizacional
Orientador:
Professor
Feliciano Crispim
São Caetano do Sul
2010
Gestão
e
Inovação
Doutor
Sérgio
IV
UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL
Campus II – R. Santo Antonio, 50 – Centro – São Caetano do Sul - SP
Reitor: Prof. Dr. Silvio Minciotti
Pró-Reitor de Pós-graduação e Pesquisa: Prof. Dr. Eduardo Camargo Oliva
Gestor de Curso – Mestrado em Administração: Prof. Dr. Mauro Neves Garcia
Dissertação
defendida
em
____/_________/_____,
constituída pelos professores:
Prof. Dr. Geraldo Luciano Toledo
Prof. Dr. Silvio Minciotti
Prof. Dr. Sergio Feliciano Crispim
pela
Banca
Examinadora
V
Dedico este trabalho aos meus
amados entes queridos que têm
sido a alavanca de sustentação das
minhas ações, dando-me incentivo
e vigor para o alcance dos meus
objetivos.
VI
Agradecimentos
Sempre que pensamos em agradecimentos vêem em nossa mente uma
infinidade de pessoas que, de alguma forma, passaram por nossa vida durante
o período do Mestrado. Mas são muitas pessoas, nem todas com o mesmo
peso de participação, porém, todas com a mesma intenção: ajudar, orientar,
colaborar etc. Não posso fazer referência a todas essas pessoas, até para não
correr o risco de esquecer-me de algumas, todavia, farei referência àquelas
que, sendo lembradas, representarão o carinho extensivo às demais.
Foi um período muito difícil, pois além dos compromissos decorrentes do
curso de mestrado, enfrentei sério problema de saúde, podendo continuar
nesta vida terrena graças à benevolência e segunda oportunidade que me foi
oferecida pelo nosso Bom Deus, que é a quem eu tributo os meus mais
profundos e sinceros agradecimentos.
Neste ano de 2010, além de pretender completar o Mestrado, estarei
completando 40 anos de casado com a Marilda, minha esposa, companheira e
namorada que, além de me tolerar durante toda a trajetória conjugal, foi uma
grande impulsionadora e estimuladora para que eu fosse firme e não desistisse
do cumprimento do desafio. Ainda no âmbito doméstico, devo um
agradecimento muito afetuoso à minha filha Patricia, que além de estimuladora
ainda foi aquela pessoa que esteve presente no meu dia-a-dia, acompanhando
e torcendo pelo meu sucesso. De igual forma, embora dentro do seu perfil de
torcer sem demonstrar a mesma euforia da irmã, devo render meus
agradecimentos ao meu filho Norival Junior.
No âmbito acadêmico algumas pessoas tiveram um peso significativo.
Em primeiro lugar devo fazer reverência ao meu Orientador, Professor Sérgio
Crispim, que participou intensamente de todas as etapas do meu mestrado,
sendo parte como Professor e parte como Orientador; figura muito especial,
sensata, inteligente e cheia de sabedoria que nunca se furtou de rever um
trabalho, marcar uma reunião, dar um telefonema, enviar um e-mail etc., enfim,
foi e continua sendo uma pessoa com participação exponencial em meu
aprendizado, a quem terei sempre o prazer de poder considerá-lo um
verdadeiro amigo. Outros três professores tiveram uma passagem marcante: A
VII
Professora Ana Cristina de Faria que além da sabedoria transmitida em suas
aulas, motivação em todos os momentos em que ela sentia uma queda em
minha energia, ofereceu-me o privilégio de ser seu parceiro em um artigo que
foi aprovado e apresentado no XVII Congresso Brasileiro de Custos. Dois
outros professores, Maria de Carmem (Carminha) e Leandro Prearo que,
trabalhando conjuntamente, foram, ao mesmo tempo, vigorosos e pacientes em
orientar-me na Disciplina de Pesquisa Metodológica. Sem exceções, todos os
demais professores com os quais tive a oportunidade de conviver, devo meus
agradecimentos pelos ensinamentos transmitidos e vínculo de amizade criado,
não podendo deixar de fazer uma menção especial às pessoas da secretaria,
em particular a Sra. Marlene, a quem taxei de “meu anjo da guarda”, seja pela
retidão no cumprimento do dever, seja na orientação e ajuda no
encaminhamento dos assuntos a ela atinentes.
Não poderia deixar de fazer referência a todos os colegas de mestrado
pela consideração, amizade e respeito mútuos, desejando muitas felicidades a
todos.
No campo profissional devo reverenciar e agradecer a figura do dono da
empresa em que trabalho, Sr. Álvaro Gomes Junior, que compreensivamente
prestigiou a minha realização do curso e deu sua permissão para que eu
pudesse ausentar-me do trabalho sempre que as atividades do mestrado assim
exigissem.
Enfim, reitero meus agradecimentos a todos e peço a Deus para
conservá-los sempre com este espírito de solidariedade e amizade, com muita
saúde!
VIII
TABELAS
Pg.
1 – Redes de Associações Afiliadas à Febrafar (2009)
3
2 – Resultados Quantitativos dos Questionários Enviados
78
3 – Coeficientes de Variação
80
4 – Teste de Kolmogorov Smirnov
83
5 – Teste KMO e Bartlett
85
6 – Teste MSA (Measures of Sampling Adequacy)
85
7 – Teste de Comunalidade
86
8 – Variância Total Explicada
87
9 – Matriz de Componentes Rotacionada
88
FIGURAS
1 – Forças que Dirigem a Concorrência na Indústria
11
2 – O Triângulo: Três Opções Diferentes de Estratégia
15
3 – Características das Três Opções de Posicionamento Estratégico
17
4 – O Impacto da Mudança Tecnológica Incremental e de Ruptura
21
5 – Outliers (Dados Atípicos)
90
QUADROS
1 – Grandes Eventos da Área Farmacêutica
35
2 – Objetivos de Aplicação da Técnica de Análise Fatorial Exploratória
53
3 – Assertivas do Instrumento de Pesquisa
77
4 – Premissas subjacentes ao uso da Análise Fatorial Exploratória
83
IX
SUMÁRIO
1
Introdução
1.1
Origem do Estudo
1.2
Problematização do Tema
1.3
Objetivo do Estudo
1.4
Justificativa do Estudo
1.5
Delimitação do Estudo e Vinculação à Linha de Pesquisa
2
Referencial Conceitual
2.1
Estratégia e Competitividade
2.1.1 Porter e a Análise Estrutural das Indústrias
2.1.2 Delta Model de Hax e Wilde II
2.1.3 Disciplina dos Líderes de Mercado de Treacy e Wiersema
2.1.4 O Dilema da Inovação de Clayton Christensen
2.1.4.1 Por que a boa administração pode conduzir aofracasso
2.1.5 A Importância das Alianças Estratégicas e Redes de Cooperação
2.1.6 Centrais de Compras e Negócios
3
O Setor de Farmácias
3.1
Antecedentes Históricos sobre as Farmácias
3.2
A Evolução da Farmácia no Brasil
3.3
O Setor de Farmácia na Atualidade
3.3.1 Classificação dos Produtos
3.3.2 Cadeia de distribuição de medicamentos e demais produtos
para as farmácias
3.3.3 Varejo de Medicamentos
4
Metodologia
4.1
Amostra e Sujeitos da Pesquisa
4.2
Entrevistas Realizadas
4.3
Instrumento da Pesquisa
4.4
Resultados da Pesquisa Quantitativa de Campo
4.4.1 Análise e Discussão dos Resultados
4.4.2 Análise Descritiva da Pesquisa
4.4.3 Análise Descritiva dos Respondentes
4.4.4 Estatísticas Descritivas
4.5
Análise Fatorial Exploratória
4.5.1 Pressupostos de Aplicação da Técnica de Análise
Fatorial Exploratória
PG.
1
1
1
3
5
5
6
6
11
15
17
20
20
22
26
30
30
35
38
39
41
44
51
54
54
76
77
77
77
78
79
81
82
X
4.5.2
4.5.3
4.5.4
5
6
6.1
Aplicação da Técnica de Análise Fatorial Exploratória
Testes e Estatísticas de Adequação da Análise Fatorial
Nomeação dos Fatores
Resultados e Conclusões da Pesquisa
Considerações Finais
Limitações da Pesquisa e Recomendações para Futuros Estudos
Referências Bibliográficas
Apêndice
84
85
91
93
98
99
99
103
XI
Alianças Estratégicas no Varejo: Um Estudo sobre as Associações de
Farmácias do Brasil e sua influência sobre a Competitividade dos
Afiliados.
Resumo
As farmácias independentes têm nas associações uma alternativa para
preservar a competitividade face às grandes cadeias. Entre as várias
alternativas, o modelo que vem prevalecendo no Brasil é o das Centrais de
Negócios (Compras e Serviços), que surgiram com o fim de gerar ganhos na
escala dos associados. Dado este contexto, este trabalho teve como objetivo
conhecer os serviços prestados pelas associações de farmácias e seus
benefícios às farmácias integrantes e identificar a percepção dos gestores
dessas farmácias independentes sobre esses serviços prestados pelas
associações. A pesquisa exploratória baseada em entrevistas com dirigentes
dessas centrais, associações e profissionais da área identificou os serviços
prestados pelas associações. Na segunda fase da pesquisa foi feito um
levantamento (survey) com 3.061 farmácias independentes e afiliadas as
associações, tendo sido instrumentalizado com um questionário composto de
30 assertivas. Como técnica de mensuração dos resultados optou-se pela
Análise Fatorial Exploratória, com o objetivo de identificar a estrutura das
variáveis avaliadas. Os resultados indicam que as farmácias independentes,
após ingressarem em associações, passam a obter vantagens nas compras
conjuntas e nas demais atividades operacionais. Enquanto independentes,
suas ações de marketing eram muito tímidas ou praticamente inexistentes, e a
partir da associação, são desenvolvidos programas cooperados junto à mídia,
além de material promocional. Também passa a haver uma padronização das
fachadas e layouts das lojas, marcando de forma mais acentuada sua presença
face à concorrência. Também o treinamento dos funcionários e a padronização
dos métodos de trabalho destacam-se como melhorias derivadas da ação
cooperada das farmácias.
Palavras-chave: Centrais de Negócios. Alianças Estratégicas. Setor de
Farmácias. Competitividade.
XII
Abstract
The independent drugstores have in the associations an alternative to preserve
the competitiveness face to the great chains. Among the several alternatives,
the model that it is prevailed in Brazil it is of the Central of Business (Shopping
and Services), which emerged in order to generate gains in range of members.
Given this context, this work was objective about the services provided by
pharmacy associations and benefits to pharmacies and to identify members'
perception
managers
of
independent
pharmacies
on
these
services
associations. The exploratory research based on interviews with leaders of
these plants, associations and professionals identified the services provided by
associations. In the second phase of research was a survey (survey) with 3061
pharmacies independent and affiliated associations, has been instrumental with
a questionnaire consisting of 30 claims. As a measure the results we opted for
exploratory factor analysis, with to identify the structure of variables. The results
indicate that the independent pharmacies, after joining in associations, are to
obtaining the joint purchasing and other operational activities. While
independent, their marketing activities were very shy or virtually non-existent,
and from the association, cooperative programs are developed with the media,
and material. It shall be a standardization of the facades and layouts of stores,
marking a more pronounced presence in the face of competition. Also the staff
training and standardization of methods of work are as improvements resulting
from the action cooperative pharmacies.
Key words: Central of Businesses. Strategic alliances. Drugstores Sector.
Competitiveness.
1
Alianças Estratégicas no Varejo: Um Estudo sobre as Associações de
Farmácias do Brasil e sua influência sobre a Competitividade dos
Afiliados
1 Introdução
1.1 Origem do Estudo
As grandes redes de farmácias e drogarias, em função de seu enorme
poder de barganha e modelos de gestão mais profissionalizados, têm
intensificado a concorrência e trazido enorme pressão sobre as farmácias
independentes, e principalmente para aquelas de menor porte localizadas nos
grandes centros consumidores. No sentido de se proteger, as farmácias
independentes têm no cooperativismo e associativismo uma alternativa para
preservar a competitividade face às grandes cadeias. Entre as várias
alternativas de associativismo o modelo que vem prevalecendo no Brasil é o
das centrais de negócios, que representam uma evolução das centrais de
compras. As centrais de compras surgiram como modelo de organização de
pequenos varejistas que tinham por fim obter ganhos na escala de compra
junto aos fornecedores. As centrais de negócios, além do propósito de obter
melhores condições negociais, incorporam um leque de possibilidades de
serviços aos associados, como centro de distribuição e/ou logística integrada,
análises de mercado, desenvolvimento de marcas próprias, comunicação
integrada, formação de recursos humanos, etc. Dado este contexto, a origem
deste projeto de pesquisa está na necessidade de se buscar, dentro da
amplitude de possibilidades estratégicas de negócios neste setor, as
alternativas
que
atendam
às
pequenas
farmácias,
preservando
sua
competitividade e estimulando a concorrência. O associativismo pode ser uma
alavanca para impulsionar este tipo de pequeno negócio com características
paritárias, possibilitando uma competição em igualdade de condições.
1.2 Problematização do tema
O ambiente competitivo do varejo tem sido impactado por uma série de
tendências que levam ao acirramento da concorrência e exigem importantes
2
mudanças estratégicas. Entre as tendências podem ser destacadas: a
globalização de negócio dos fabricantes e também dos varejistas; a
comoditização crescente de produtos e tecnologias disponíveis; a crescente
concentração na indústria e no varejo; e o desafio crescente de entregar mais
valor aos consumidores, ou seja, mais por menos, entre outras. No contexto do
varejo observa-se uma crescente busca dos consumidores por mais
conveniência e a decorrente expansão dos formatos de lojas de vizinhança. Na
disputa pelos clientes do varejo há uma polarização entre as grandes cadeias,
que concentram parcelas crescentes do sistema de distribuição e caracterizamse por gestão profissionalizada e grande escala de compra, e as pequenas
cadeias ou varejistas independentes.
O setor de farmácias do Brasil, composto por mais de 55 mil farmácias,
também vem sendo palco de mudanças profundas. As redes de farmácias, em
função do maior poder de barganha e profissionalização, têm levado grande
vantagem sobre as farmácias independentes e ocupam cada vez mais espaço
no mercado, principalmente nos grandes centros consumidores.
É neste cenário de mudanças que as centrais de compras, que têm
evoluído para o conceito de centrais de negócios e serviços, emergem,
particularmente nos últimos cinco anos, como uma revolução invisível nos
sistemas de distribuição em geral, operando através do modelo associativista.
As centrais de compras, ou de negócios, são agrupamentos de operadores
independentes criados para a obtenção de ganhos de escala de compra,
desenvolvimento de sinergias em centrais de distribuição, e suprimento de
serviços compartilhados visando ganhos de competitividade que não seriam
possíveis sem alianças estratégicas.
As associações, quando se iniciam, de forma geral criam as Centrais de
Compras, que têm como função primordial reunir grupos de farmácias
independentes e exercer as atividades de suprimentos, objetivando obter
preços mais baixos por meio da compra de grandes lotes de produtos que
possibilita uma paridade competitiva frente às grandes redes. Neste sentido as
centrais de compras podem se constituir na solução dos problemas
enfrentados pelas farmácias independentes, principalmente se as associações
apresentarem um leque de serviços complementares que tragam uma efetiva
3
melhora na rentabilidade e conseqüente aumento de competitividade dessas
farmácias. (SOUZA, 2007).
Dado este contexto propõe-se a investigação do seguinte problema
de pesquisa:
Qual é a contribuição das Associações de Farmácias (Centrais de
Negócios – Compras e Serviços) para a melhoria da competitividade das
farmácias independentes a elas associadas?
1.3 Objetivo do Estudo
Neste ambiente de acirrada concorrência, funcionando efetivamente no
modelo associativista, operam atualmente no Brasil 32 associações de
farmácias independentes, federadas à Febrafar – Federação Brasileira das
Redes Associativistas de Farmácias, que reúnem 3.061 farmácias espalhadas
por 12 estados brasileiros e mais o Distrito Federal (FEBRAFAR, 2009),
conforme a tabela 1 abaixo:
Tabela 1: Redes de Associações Afiliadas à Febrafar (2009)
FEBRAFAR - REDES ASSOCIADAS
Febrafar - Total de Farmácias no Brasil
Rede
Cidade
3061
U.F.
Região Nordeste
% Região
% Brasil
1279
100,00
41,78
FARMANOSSA
Fortaleza
CE
464
36,28
15,16
MULTMAIS
Salvador
BA
296
23,14
9,67
UNIFARMA
Natal
RN
317
24,78
10,36
Salvador
BA
137
10,71
4,48
João Pessoa
PB
65
5,08
2,12
% Região
% Brasil
894
100,00
29,21
BOA FARMA
REDEMAIS FARMA
Região Sudeste
CITYFARMA
MULTIDROGAS
FARMES
Rio de Janeiro
RJ
136
15,21
4,44
S.J. do Rio Preto
SP
120
13,42
3,92
Praia do Suá
ES
66
7,38
2,16
4
FARMA & CIA
São Paulo
SP
61
6,82
1,99
Ribeirão Preto
SP
58
6,49
1,89
BLUEFARMA
Catanduva
SP
53
5,93
1,73
REDE ATUAL
Rio de Janeiro
RJ
52
5,82
1,70
FARMA 100
S.B.do Campo
SP
44
4,92
1,44
Bambuí
MG
39
4,36
1,27
Bauru
SP
37
4,14
1,21
Limeira
SP
34
3,80
1,11
Campinas
SP
34
3,80
1,11
Três Pontas
MG
33
3,69
1,08
DROGA REDE
Poços de Caldas
MG
32
3,58
1,05
FARMAFORT
Sorocaba
SP
31
3,47
1,01
NETFARMA
Descalvado
SP
27
3,02
0,88
SISFARMA
S.J. do Rio Preto
SP
20
2,24
0,65
Taubaté
SP
17
1,90
0,56
% Região
% Brasil
728
100,00
23,78
DROGARIA TOTAL
ENTREFARMA
BIODROGAS
FARMAVIP
FARMÁXIMA
UAI
FARMAVALE & CIA
Região Sul
AGAFARMA
Porto Alegre
RS
328
45,05
10,72
Itajaí
SC
139
19,09
4,54
HIPER FARMA
Curitiba
PR
104
14,29
3,40
TCHÊ FARMÁCIAS
Pelotas
RS
60
8,24
1,96
MAXIFARMA
Curitiba
PR
39
5,36
1,27
Foz do Iguacú
PR
30
4,12
0,98
Londrina
PR
28
3,85
0,91
% Região
% Brasil
100
5,23
FARMA & FARMA
COOPERFARMA
DROGAMAIS
Região Centro-Oeste
160
NOSSA REDE
Goiânia
GO
106
66,25
3,46
ECONOMIA
Brasília
DF
54
33,75
1,76
Elaborada pelo Autor
Por outro lado, as redes de farmácias constituídas sob um mesmo CNPJ
somam cerca de 300 empresas, reunindo aproximadamente 9.000 farmácias
em todo o território brasileiro. Não existe uma regra estabelecida quanto ao
5
número mínimo de farmácias que permite classificar um agrupamento de
farmácias como uma rede, todavia, para delimitar dimensões competitivas, a
ABRAFARMA – Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias
considera que as redes caracterizam-se por agrupamentos de no mínimo 6
farmácias sob um mesmo CNPJ.(ABRAFARMA, 2009).
Não obstante os esforços que têm sido realizados observa-se um
crescimento lento no número de associações voltadas à melhoria das
condições das suas afiliadas, conduzindo-nos ao seguinte objetivo de pesquisa
alinhado ao problema acima exposto:
Identificar a opinião dos gestores de farmácias independentes
afiliadas a Associações (Centrais de Negócios – Compras e
Serviços) sobre a contribuição dos serviços por elas prestados
para o aumento da competitividade.
1.4 Justificativas do Estudo
O presente estudo nasceu do interesse pelo destino das farmácias
independentes,
que
em
tese
sobrevivem
em
condições
competitivas
desvantajosas em relação às grandes redes constituídas, não somente pelo
seu pequeno porte, mas também pela dificuldade em implementar uma gestão
mais profissionalizada. Neste sentido este projeto justifica-se por pelo menos
três pontos importantes:
- Exploração de alternativas para a sobrevivência das pequenas
farmácias,
e
em
especial
aquelas
localizadas
nos
grandes
centros
consumidores, caracterizados por concorrência mais acirrada em função da
presença marcante das grandes redes.
- Replicação das conclusões do estudo a outros setores do varejo que
enfrentam situação semelhante ao das farmácias.
- Geração de benefícios econômicos e sociais derivados de mecanismos
que limitem o intenso processo de concentração do varejo e estimulem a
concorrência.
6
1.5 Delimitação do Estudo e Vinculação à Linha de Pesquisa
O
setor
de
farmácias
é
caracterizado
por
estrutura
bastante
heterogênea, sendo formado por várias redes de diferentes portes, sindicatos
representativos, federações com funções de defesa patronal, farmácias
independentes não necessariamente vinculadas a alguma associação, etc.,
além das associações de farmácias independentes, que são o foco deste
estudo.
O presente trabalho pretendeu abranger as redes associativistas de
farmácias independentes em funcionamento no Brasil, interligadas através de
um modelo federativo por meio da Febrafar – Federação Brasileira das Redes
Associativistas de Farmácias.
Quanto à Vinculação à Linha de Pesquisa, este trabalho está em
consonância com a Linha de Pesquisa de Gestão e Inovação Organizacional
por focar as Alianças Estratégicas e a sua aplicabilidade no setor de farmácias
no Brasil, enfatizando a estratégia empresarial como meio para aumentar a
competitividade e alavancar a rentabilidade das farmácias independentes
afiliadas a associações de farmácias.
2 Referencial Conceitual
2.1. Estratégia e Competitividade
“O processo de administração estratégica é o conjunto completo de
compromissos, decisões e ações necessários para que a empresa obtenha
vantagem competitiva e retornos acima da média” (HITT, IRELAND e
HOSKISSON, 2008).
O uso da estratégica remonta a períodos distantes, e Sun Tzu,
estrategista chinês, há 3.000 anos já afirmava que todos os homens podem ver
as táticas utilizadas para a conquista, mas o que ninguém consegue ver é a
estratégia a partir da qual grandes vitórias são obtidas (GHEMAWAT, 2000).
O termo estratégia assumiu o sentido de habilidade administrativa na
época de Péricles (450 a.C), quando passou a significar “habilidades
gerenciais” (administrativas, liderança, oratória, poder). Mais tarde, no tempo
7
de Alexandre (330 a.C), adquiriu o significado de “habilidades para vencer um
oponente e criar um sistema unificado de governança global” (MINTZBERG e
QUIN, 2001). Ainda, segundo estes mesmos autores, estratégia pode ser vista
como o padrão ou o plano que integra as principais metas, políticas e
seqüências de ação de uma organização em um todo coerente.
Nalebuff e Brandenburger (1996) criaram a expressão Co-opetição como
um conceito revolucionário que combina competição com cooperação,
mostrando que o conceito tradicional de que “Negócio é Guerra”, onde a
utilização dos termos: rechaçar a concorrência, capturar cotas de mercado,
preços de arrasar, combater marcas, derrubar fornecedores, prender
consumidores, entre outros, pode ser substituído por uma estratégia que
implica em cooperação entre os diversos atores que movem os negócios:
clientes, fornecedores, concorrentes e complementadores, criando condições
para que todos ganhem, esclarecendo que complementadores são o oposto de
concorrentes, pois são aquelas empresas que se utilizam de produtos ou
serviços dos concorrentes para alavancar o seu, não importando se o
concorrente também ganhará mais com esta ação.
Estratégia competitiva é uma combinação dos fins (metas) que a
empresa busca e dos meios (políticas) pelos quais ela está buscando chegar
lá. Empresas diferentes empregam palavras diferentes para alguns conceitos
empresariais rotineiros. Por exemplo, algumas empresas empregam termos
como “missão” ou “objetivo” ao invés de “metas”, e outras empregam “tática”
em lugar de “políticas funcionais” ou “operacionais”. Contudo, noção essencial
de estratégia é captada na distinção entre fins e meios (PORTER, 1986).
Seguem algumas importantes referências sobre estratégia empresarial.
Quando se trata de estratégia e de seus diversos focos de abordagem,
encontraremos uma infinidade de autores conceituando o tema conforme a
visão de cada um, não restringindo a estratégia ao campo empresarial,
utilizando a experiência de outros campos para introduzir os mesmos conceitos
na área empresarial, porém, respeitando sempre os princípios que permitem o
entendimento da visão de futuro que o tema propicia. Os autores Mintzberg,
Ahlstrand e Lampel (2000), utilizando-se de uma infinidade de teorias que
tratam da estratégia, fizeram um estudo profundo sobre o assunto, mapeando a
8
estratégia em dez escolas de pensamento, sobre as diversas maneiras de
enxergar a estratégia empresarial. São elas:
1ª A Escola do Design
A Escola do Design foi desenvolvida nos anos 60, focalizando a
formulação da estratégia como um processo de desenho informal, de essência,
predominantemente, de concepção. A Escola do Design, a partir dos seus
cenceitos-chave, influenciou as noções práticas de administração estratégica,
dentre elas a famosa noção de SWOT – a avaliação dos Pontos Fortes
(Strenghts) e dos Pontos Fracos (Weaknesses), da organização à luz das
Oportunidades (Opportunities) e das Ameaças (Threats).
2ª A Escola do Planejamento
A Escola do Planejamento foi desenvolvida paralelamente a do Design,
nos anos 60, e teve seu auge em publicações e práticas nos anos 70, tendo
como base da sua concepção o aspecto formal, que implicava no procedimento
formal, treinamento formal, análise formal e muitos números.
A escola do Planejamento é dividida em cinco estágios: O primeiro Estágio é o
da Fixação dos Objetivos, onde os proponentes desta escola desenvolveram
os procedimentos para explicar e quantificar as metas da organização. De
acordo com os autores, valores ou metas são muito difíceis de se formalizar,
daí, talvez, o chamado planejamento ter sido reduzido à quantificação de metas
e uma forma de controle. O segundo estágio é o da Auditoria Externa, onde o
principal objetivo é analisar as condições externas da organização e como
essas condições poderão impactar a elaboração e execução do planejamento.
O terceiro estágio é da Auditoria Interna, quando são analisados os pontos
fortes e fracos na avaliação das competências da organização. O quarto
estágio é o da Avaliação da Estratégia; para se chegar a este estágio serão
necessários os desenvolvimentos de várias estratégias para permitir, no final, a
escolha de somente uma; as análises para essa escolha levam em
consideração a avaliação da estratégia competitiva, a análise de riscos, a curva
de valor e o cálculo de valor para o acionista, todas essas análises e cálculos
orientados para uma posição financeira. Finalmente, o quinto estágio se volta
para a Operacionalização da Estratégia, quando a implementação propicia
9
liberdade para decompor, elaborar e racionalizar. De acordo com Steiner
(1979), “todas as estratégias precisam ser divididas em subestratégias para o
sucesso da implementação.
3ª Escola do Posicionamento
A Escola do Posicionamento, na formulação da estratégia, preocupa-se
menos com a formalização e mais com o conteúdo da mesma; recebe este
nome porque focaliza a seleção de posições estratégicas no mercado.
Conforme afirmam os autores, o ano de 1980 foi o divisor de águas, quando
Michael Porter publicou Competitive Strategy, estimulando a necessidade por
substância em qualquer plano estratégico.
4ª Escola Empreendedora
A Escola Empreendedora não se preocupa com processos formais,
análise de mercados e ou cenários da economia, muito pelo contrário, pois ela
concentra todo processo de formação da estratégia num líder único,
geralmente o dono da empresa, enfatizando aspectos intangíveis como
intuição, julgamento, sabedoria, experiência, critério, podendo-se traduzir todos
estes requisitos como visão do empreendedor.
5ª Escola Cognitiva
De acordo com os autores, se quisermos realmente entender a visão
estratégica e tentar entender as circunstâncias como elas se formam
“precisamos sondar a mente do estrategista”, oportunidade em que se busca o
uso das mensagens da psicologia para entrar na mente do estrategista.
6ª Escola do Aprendizado
Na Escola do Aprendizado a estratégia não é resultado algum estudo
prévio, ela acontece por conta das tentativas realizadas ao longo do tempo,
sugerindo que este tipo de estratégia acontece com a experiência. Segundo os
autores, os pesquisadores simpatizantes da abordagem dessa escola,
descobriram que, quando ocorria um redirecionamento estratégico importante,
este raramente tinha origem no esforço formal do planejamento e nem nas
iniciativas da alta administração. Ao contrário, as estratégias se deviam a uma
10
variedade de pequenas ações e decisões tomadas por todos os tipos de
pessoas diferentes (algumas vezes de forma acidental ou por sorte, sem
nenhuma consideração quanto às suas conseqüências estratégicas. Ao longo
do tempo, essas pequenas ações provocavam as grandes mudanças.
7ª Escola do Poder
A Escola do Poder é caracterizada pela formação da estratégia por meio
de um processo de influência interdepartamental, usando o poder e política
para negociar as estratégias que melhor atendam a determinados interesses.
Mintzberg (1989) chamou de Jogos Políticos em Organizações todas as ações
desenvolvidas dentro das empresas visando estabelecer as forças que acabam
ditando as regras, não importando se de forma legítima ou ilegítima. Bolman e
Deal (1997) formularam as proposições a respeito do mundo da política
empresarial, passando pelas coalizões de grupos de interesse até as
barganhas, negociações e manobras em busca de posições entre os diferentes
interessados.
8ª Escola Cultural
A Escola Cultural tem muito a ver com a Escola do Poder. O Poder faz
uma fragmentação da organização em busca do interesse próprio, enquanto
que a cultura junta uma coleção de indivíduos dentro da organização, neste
caso buscando o interesse comum. A cultura enraizada da empresa traz, para
a estratégia, uma visão baseada em recursos da empresa, transformando-os
em vantagem competitiva na medida em que tratam de recursos raros,
inimitáveis e para os quais os concorrentes não podem encontrar substitutos.
9ª Escola Ambiental
Para a Escola Ambiental os teóricos de organizações acreditam que a
formulação de estratégias é um processo reativo no qual a iniciativa não está
dentro da organização, mas em seu contexto externo. Os autores afirmam que
os defensores desta visão tendem, como conseqüência, a considerar a
organização passiva, algo que passa seu tempo reagindo a um ambiente que
estabelece a pauta das suas ações.
11
10ª Escola de Configuração
Conforme afirmam os autores, esta Escola de Configuração é a
combinação de todas as demais escolas. As pessoas desta escola, em busca
da integração, agrupam os vários elementos da estrutura organizacional como
um processo de transformação, utilizando todos os estágios necessários ao
desenvolvimento, implementação e controle da estratégia.
Destas várias escolas a que mais se destaca atualmente é a Escola do
Posicionamento de Porter, complementada pelas abordagens de Treacy e
Wiersema, que serão tratadas no capítulo onde estes autores abordam a
Disciplina dos Líderes de Mercado.
2.1.1 Porter e a Análise Estrutural de Indústrias
De acordo com Porter (1986), a “essência da estratégia competitiva é
relacionar uma companhia ao seu meio ambiente”. O grau de concorrência em
uma indústria depende da dinâmica de cinco forças competitivas básicas,
conforme apresentação na Figura 1, abaixo:
Figura 1: Forças Que Dirigem a Concorrência na Indústria
Fonte: Porter, 1986
12
O conjunto destas forças influencia o potencial de lucro final na indústria,
que é medido em termos de retorno de longo prazo sobre o capital investido,
ou seja, determina o conjunto das forças competitivas e, portanto, a
rentabilidade da indústria. Seguem as forças e suas características segundo as
proposições de Porter (1986):
a) Novos Entrantes – Ameaça de Novos Entrantes
Qualquer nova empresa que entra para uma indústria traz com ela a
vontade de ganhar parcela de mercado, podendo derrubar os preços ou fazer
com que os custos dos integrantes sejam inflacionados. A ameaça de entrada
depende das barreiras que existem ou que são criadas para os novos
entrantes.
Existem seis fontes principais de barreiras de entrada:
1ª) Economias de Escala: referem-se às reduções nos custos unitários
de um produto à medida que o volume absoluto total aumenta. As economias
de escala têm a função de forçar a empresa entrante a ingressar em larga
escala, correndo o risco de forte reação das empresas existentes ou a
ingressar em pequena escala, sujeitando-se a uma desvantagem de custo.
2ª) Diferenciação do Produto: significa que as empresas instaladas
possuem uma marca solidificada, contando com a lealdade dos seus clientes,
que foram originados através de um esforço passado em publicidade, serviço
de atendimento ao consumidor, diferenças dos produtos ou até mesmo por ter
entrado primeiro na indústria.
3ª) Necessidades de Capital: ter que investir grandes volumes de
recursos financeiros para permitir a competição cria uma forte barreira de
entrada, principalmente se os recursos são exigidos para atividades arriscadas
e irrecuperáveis como a publicidade ou para pesquisa e desenvolvimento
(P&D).
4ª)
Custos de Mudança: Os custos de mudança são originados
quando um comprador passa a comprar o produto de que necessita de um
13
novo entrante, obrigando-se a se adaptar às exigências provocadas por esta
mudança, com implicação de novos custos, tais como: treinamento dos
empregados, eventual adaptação de equipamentos especiais, tempo para
testes, necessidade de assistência técnica. Quando estes custos são altos, o
novo entrante precisa oferecer atrativos que justifiquem esta mudança por
parte do comprador.
5ª) Acesso aos Canais de Distribuição: Quando uma indústria já se
encontra bem estabelecida, as empresas que a integram possuem uma
distribuição que dificulta sobremaneira o ingresso de novos entrantes, que para
conseguir algum êxito têm que desenvolver ações que permitam a sua
aceitação, tipo descontos nos preços, patrocínio de campanhas promocionais,
etc.
6ª) Desvantagens de Custo Independentes de Escala: As empresas
estabelecidas em uma indústria, seja pelo tempo que lá estão, seja pelos
grandes volumes que produzem, podem ter custos impossíveis de serem
igualados pelos novos entrantes, qualquer que seja o seu tamanho e as
economias de escala obtidas. As vantagens mais críticas para as empresas
estabelecidas são: Tecnologia patenteada do produto, acesso favorável às
matérias-primas,
localizações
favoráveis,
subsídios
oficiais,
curva
de
aprendizagem e experiência.
b) Intensidade da Rivalidade entre os Concorrentes Existentes
A rivalidade existente entre as empresas que compõem uma indústria é
uma forma de disputa por posição utilizando-se de todas as táticas possíveis,
como: concorrência de preços, publicidade, aumento das garantias dos
produtos, etc.
Quando a concorrência se dá basicamente em preços, toda a indústria
acaba perdendo rentabilidade, pois basta haver uma empresa reduzindo seus
preços, que as demais rapidamente acompanham essa redução.
A rivalidade em uma indústria é caracterizada por diversos fatores
estruturais, como: Concorrentes numerosos ou bem equilibrados;Crescimento
14
lento da indústria;Custos fixos ou de armazenamento altos;Ausência de
diferenciação ou custos de mudança.
c) Barreiras de Saídas Elevadas
Da mesma forma que existem as barreiras de entrada, existem também
as barreiras de saída. Elas ocorrem quando existem fatores econômicos,
estratégicos e até emocionais, que mantêm as empresas competindo mesmo
que estejam obtendo baixos retornos. As principais barreiras de saídas são:
Ativos especializados: valores baixos de venda ou altos custos de
transferência;
Custos fixos de saída: acordos trabalhistas, custos de restabelecimento;
Inter-relações estratégicas: inter-relação em termos de imagem,
capacidade de marketing, acesso aos mercados financeiros, instalações
compartilhadas;
Barreiras emocionais: forte identificação com a atividade, lealdade com
os empregados, orgulho, etc.;
Restrições de ordem governamental e social: pressão do governo por
causa do desemprego causado e dos efeitos econômicos regionais.
d) Pressão dos Produtos Substitutos
Os produtos substitutos funcionam como um redutor de retornos de uma
indústria, servindo para estabelecer um teto nos preços que são praticados
com lucro. “Quanto mais atrativa a alternativa de preço-desempenho oferecida
pelos produtos substitutos, mais firme será a pressão sobre os lucros da
indústria” PORTER, 1986).
e) Poder de Negociação dos Compradores
A missão dos compradores de uma indústria é forçar para que os preços
estejam cada vez mais baixos, limitando a capacidade de rentabilidade da
indústria. O poder de cada grupo comprador depende do seu poder relativo no
mercado que atua. Um grupo comprador é poderoso quando as seguintes
condições forem atendidas:Ele está concentrado ou adquire grandes
quantidades de produtos do vendedor;
15
Os produtos que ele adquire têm uma alta representação em seus
próprios custos;
Os produtos são padronizados e não diferenciados;
Os custos de mudança não são representativos;
Ele consegue lucros baixos;
Compradores que são uma ameaça concreta de integração para trás, ou
seja, aqueles com real condição de produzir os produtos que compram.
f) Poder de Negociação dos Fornecedores
Contrariamente ao poder de negociação dos compradores, os
fornecedores podem forçar a elevação dos preços e reduzir a rentabilidade das
empresas participantes da indústria.
As condições que dão poder aos fornecedores são, via de regra, aquelas
que agirão contra os vendedores:É dominado por poucas companhias e é mais
concentrado do que a indústria para a qual vende;
Não está obrigado a lutar com outros produtos substitutos na venda para
a indústria;
A indústria não é um cliente importante para o grupo fornecedor;
O produto dos fornecedores é um insumo importante para o negócio do
comprador;
Os produtos do grupo de fornecedores são diferenciados ou o grupo
desenvolveu custos de mudança;
O grupo de fornecedores é uma ameaça concreta de integração para
frente.
2.1.2 Delta Model de Hax e Wilde II
O Delta Model ou Modelo Delta, segundo seus autores, Hax e Wilde II
(2000), é um aperfeiçoamento da estrutura estratégica defendida por Michael
Porter, que propôs duas maneiras excludentes de competir no mercado - baixo
custo e diferenciação - as quais não conseguem explicar alguns casos bem
sucedidos de estratégias utilizadas por algumas empresas.
O Modelo Delta é pautado por uma estrutura diferenciada de negócios e
indica processos de adaptação para lidar com os desafios, incertezas e
mudanças que são apresentados em um mercado tão competitivo. Esse
16
modelo reflete as várias maneiras de competir na economia, oferecendo três
opções estratégicas, conforme Figura 2 e descrição abaixo:
Figura 2: O Triângulo: Três Opções Diferentes de Estratégia
Fonte: Hax e Wilde II, 2000
a) Melhor produto: Está relacionada às formas clássicas de
concorrência por meio de baixo custo ou diferenciação. A empresa pode
conseguir custos menores ao se lançar em uma economia de escala, na
simplificação dos produtos e processos e em uma participação significativa no
mercado. A diferenciação poderá ser alcançada por meio de tecnologia,
imagem da marca, características adicionais ou serviços especiais. Como
exemplos são citadas as empresas Hitachi e Nec, que estão entre os principais
produtores de semicondutores para memória de pronto acesso dinâmicas
(DRAM), segmento com curtos ciclos de vida dos produtos e preços cada vez
mais baixos.
17
b) Soluções para o cliente: Essa opção está baseada em uma oferta
mais ampla de produtos e serviços que satisfaça a maioria das necessidades
do cliente. O foco está na capacidade econômica do cliente e não no produto,
bem como em produtos e serviços personalizados para as necessidades
específicas
do
cliente.
O
exemplo
citado
é
da
MCI,
empresa
de
telecomunicações que oferece serviços especializados para cada tipo de
cliente.
c) Lock-in do sistema: Esta opção abrange um espectro o mais amplo
possível. Em vez de concentrar-se no produto ou no cliente, a empresa leva em
consideração todos os participantes importantes do sistema, que contribuem
para a criação do valor econômico. O relacionamento entre a empresa e o
fornecedor passa a ter uma importância fundamental. Em particular, a empresa
busca
atrair
e
estimular
os
chamados
“complementares”
ou
“complementadores”, que, diferentemente dos concorrentes, têm a função de
aprimorar ou complementar o produto de uma empresa. O ponto máximo dessa
iniciativa é tornar-se a dona do padrão vigente no mercado. No posicionamento
de lock-in do sistema, o importante é o padrão próprio, que é uma força
fundamental para impulsionar a lucratividade e a sustentabilidade. Talvez um
dos exemplos mais fortes citados pelos autores como lock-in do sistema é o da
Microsoft, cujo foco principal são todos os integrantes que agregam valor ao
seu produto.
As três opções apresentam-se resumidas no Figura 3, abaixo:
18
Figura 3: Características das 3 Opções de Posicionamento Estratégico
Fonte: Hax e Wilde II (2000)
2.1.3 A Disciplina dos Líderes de Mercado de Treacy e Wiersema
“Escolha seus clientes, direcione seu foco, domine seu mercado”
De acordo com os autores, Treacy e Wiersema (1998), a Disciplina dos
Líderes de Mercado é uma decisão tomada pela empresa, que vai muito além
de uma política estratégica. A estratégia é mutável e redirecionável de acordo
com as próprias mutações do mercado, enquanto que a disciplina estabelecida
pelos líderes é perene, tornando-se a “vida da empresa”, como um guia
imutável, o que poderá permitir que ela se torne e permaneça a número um em
seu segmento.
A mensagem principal desses autores é de que nenhuma empresa pode
ter sucesso nos dias atuais tentando ser tudo para todos. Ela precisa encontrar
o valor único que somente ela pode entregar a um mercado escolhido. Neste
sentido, os autores definiram e desenvolveram três conceitos. O primeiro
19
conceito é a proposição de valor, que é a entrega de uma combinação de
valores – preço, qualidade, desempenho, seleção, conveniência, etc. O
segundo conceito é a combinação de processos operacionais, sistemas
gerenciais, estrutura empresarial e cultura que dá a uma empresa a
capacidade para cumprir sua proposição de valor. É no terceiro conceito que se
encontram as disciplinas de valor distintas, porque cada uma produz um tipo
diferente de valor para o cliente. Os autores identificaram três disciplinas de
valor e recomendam que as empresas adotem uma delas para estabelecer a
sua marca no mercado, será o seu ponto forte, aquilo que marcará a sua
reputação. Isto não significa abandonar as outras duas, pelo contrário, significa
que as outras duas precisarão estar em um nível de aceitação perante seus
concorrentes.
A primeira disciplina é chamada de valor de excelência operacional. Sua
proposição aos clientes é simples: preço baixo e atendimento sem discussões.
Um exemplo típico desta espécie de empresa é a Wal-Mart, cuja abordagem é
o varejo de massa sem a preocupação com produtos supérfluos.
A segunda disciplina de valor é chamada de liderança do produto. Sua
proposição aos clientes é a oferta do melhor produto. Os líderes nesse tipo de
disciplina têm um compromisso com a inovação, portanto, não constroem um
único produto, ano após ano estão desenvolvendo novos produtos a fim de
garantir que terá sempre o melhor produto para oferecer aos seus clientes. Um
exemplo desse tipo de líder é a Nike, que igualmente a outros líderes da
mesma espécie, não tem a concorrência com base nos preços, mas sim com
base no desempenho dos produtos que cria.
A terceira disciplina é denominada de intimidade com o cliente. Sua
proposição focaliza não a entrega daquilo que o mercado deseja, mas aquilo
que os clientes específicos desejam. Essa intimidade com o cliente faz com
que a empresa não busque uma única transação com o cliente, pois o que eles
buscam e cultivam é o relacionamento de longo prazo. Propõe ao cliente a
melhor solução provendo todo o suporte necessário para que ele atinja os seus
resultados. Um exemplo citado pelos autores de empresa que pratica este
modelo é a Airborne Express, sendo muito bem sucedida num mercado
altamente competitivo pelo fato de se esforçar consistentemente para atender
melhor seus clientes selecionados.
20
Os atuais líderes de mercado compreendem em que batalha estão
empenhados. Eles sabem que precisam se concentrar em dar, aos seus
clientes, aquilo que estes mais valorizam. Eles redefinem valor elevando as
expectativas dos clientes em relação àquele componente de valor que optaram
por salientar.
O preço é um desses componentes. Antes, quando os custos subiam,
imediatamente elevavam-se os preços, de forma a garantir as margens de
lucros. Atualmente esta regra não pode ser mais aplicada, pois o cliente não
aceita simplesmente essa elevação. Isto obriga as empresas a reduzir
permanentemente
os seus custos,
como
condição
para
continuarem
competitivas.
O tempo é outro componente de valor. Os estilos fast-food e drivethrough, revolucionários quando surgiram, já são vistos como demasiado
calmos pelos clientes, que esperam e exigem um atendimento mais rápido
ainda. Os clientes de hoje exigem operações via aérea, on-line e em tempo
real. As empresas empenhadas neste modelo consideram a velocidade um
fator competitivo-chave.
O atendimento diferenciado é outro componente de valor. Até pouco
tempo atrás, somente os clientes rotulados como especiais recebiam um
tratamento diferenciado. Aquilo que no passado era especial – atendimento
rápido, impecável e responsivo – tem se tornado lugar-comum. Serviços
realmente especiais estão sendo redefinidos. Como exemplo, os autores
indicam que a IBM e a DEC estão descobrindo que muitos clientes não
desejam comprar apenas equipamento. Eles querem que os fornecedores
projetem, construam, instalem, operem, aperfeiçoem e mantenham em
funcionamento redes inteiras de computadores. Muitas vezes os clientes
querem terceirizar tudo.
Outro componente de valor é a qualidade. O cliente já não aceita mais
que a qualidade seja um componente extra, algo que pode ser agregado ao
produto. Ele exige que a qualidade seja algo que faça parte da natureza do
produto. A capacidade para criar produtos de alta qualidade e baixo custo,
sustentou o crescimento corporativo do Japão. Empresas como Canon, Honda
e Nec cresceram, nos últimos anos, de 200 a 300%, num ritmo alucinante, tudo
21
graças á criação e comercialização de produtos novos e superiores aos
demais.
Com base neste contexto, os autores criaram quatro novas premissas,
apresentadas, abaixo, resumidamente:
1ª) A elevação de preços não pode acompanhar, na mesma intensidade,
a elevação de custos. A tônica deve ser a redução dos custos;
2ª) Os clientes querem um atendimento rápido, sem atropelos,
impecável;
3ª) Os clientes exigem serviços especiais;
4ª) As empresas não podem mais fazer concessões na qualidade e nas
características dos produtos.
2.1.4 O Dilema da Inovação de Clayton Christensen
Christensen (2003) aborda, de forma bastante analítica, uma série de
regras, resultado de suas pesquisas, casos de sucesso e também de fracasso,
visando submeter ao julgamento dos administradores quando os princípios de
uma boa administração devem ser seguidos e quando princípios alternativos
são mais apropriados. A essas regras dá-se o nome de “princípios da inovação
de ruptura”.
O Dilema da Inovação tem a intenção de ajudar muitos gerentes,
consultores e acadêmicos, seja em fábricas ou em empresas de prestação de
serviços, com alta ou baixa tecnologia, em ambientes de evolução lenta ou de
mudanças rápidas. A tecnologia, conforme o autor, “significa o conjunto de
processos pelos quais uma organização transforma mão-de-obra, capital,
materiais e informação em produtos e serviços de grande valor”.
Este conceito de tecnologia, portanto, estende-se além da engenharia e
da produção, para abranger toda a extensão de marketing, investimento e
processos de administração. Inovação refere-se à mudança em uma dessas
tecnologias.
2.1.4.1 Por que a Boa Administração Pode Conduzir ao Fracasso?
22
O mesmo autor atribui à estrutura falha três descobertas. A primeira é a
distinção entre o que ele chama de tecnologias incrementais e aquelas de
rupturas.
A segunda é que a evolução tecnológica anda mais depressa do que os
fabricantes necessitam. E a última das três descobertas é que o investimento
agressivo em tecnologias de ruptura, por parte de empresas estabelecidas, não
é uma decisão financeira racional. Já, os investimentos realizados, mesmo nas
mais complexas tecnologias incrementais, raramente trouxeram algum tipo de
fracasso para as empresas líderes.
Para a primeira descoberta, tem-se que as tecnologias que dão suporte
à melhoria do desempenho dos produtos dão-se o nome de tecnologia
incremental, que significa, em síntese, introduzir novos componentes a um
produto existente visando melhorar a sua qualidade e o seu desempenho. E
isto é tido como o comportamento mais normal, pois nenhuma empresa, em sã
consciência, faria investimentos incrementais em seus produtos se não fosse
para melhorar a sua performance.
Contudo, ocasionalmente, surgem as tecnologias de ruptura, que
resultam na criação de produtos com um pior desempenho, pelo menos em sua
fase inicial. Os produtos baseados nesta tecnologia são, geralmente, mais
baratos, mais simples, menores e mais convenientes de usar, e esta
proposição de valor é que traz vantagens adicionais de valor para os clientes.
Há muitos exemplos trazidos por esse autor: Pequenas motocicletas off-road,
introduzidas na América do Norte e Europa por Honda, Kawasaki e Yamaha
foram tecnologias de ruptura quando relacionadas às gigantes motos over-theroad, Harley-Davidson e BMW. Transístores foram tecnologias de ruptura
frente aos tubos a vácuo.
Na segunda descoberta da estrutura falha, o autor trata das trajetórias da
necessidade de mercado versus melhoria da tecnologia, observando-se que as
tecnologias podem progredir mais rápido do que a demanda do mercado,
conforme ilustração da Figura 4, significando que os fornecedores costumam
oferecer aos clientes mais do que eles necessitam ou estariam dispostos a
23
pagar.
Figura 4 – O Impacto da mudança tecnológica incremental e de ruptura
Fonte: Christensen (2003)
A última descoberta da estrutura falha, a qual consiste na conclusão da
irracionalidade em grandes investimentos em tecnologias de ruptura, tem três
fundamentos: O primeiro é de que os produtos são mais simples e mais
baratos, gerando menores margens de lucro. Segundo é que as tecnologias de
ruptura chegam primeiro em mercados emergentes e insignificantes. E terceiro,
é que os consumidores clientes de empresas líderes não querem, e às vezes
nem podem, usar os produtos oferecidos pelas tecnologias de ruptura
(CHRISTENSEN, 2003).
2.1.5 A Importância das Alianças Estratégicas e Redes de
Cooperação
As teorias que justificam as alianças estratégicas foram concebidas por
meio de estudos desenvolvidos a partir da década de 70, na Europa e
Escandinávia. Nos Estados Unidos, as primeiras pesquisas sobre esse tema
datam de 1986, e no Brasil este é um tema que tem sido explorado
particularmente nos últimos dez anos (CRAVENS; PIERCY; SHIPP, 1986, apud
OLIVEIRA, 2000).
24
De acordo com Hitt, Ireland e Hoskisson, 2008, “uma aliança
estratégica é uma estratégia de cooperação em que as empresas combinam
alguns de seus recursos e capacitações para criar uma vantagem competitiva”.
Conforme estes mesmos autores, quando as atividades empresariais se
complementam, formando elos entre elas, essas alianças permitem que as
empresas envolvidas alavanquem seus recursos e capacitações próprios,
enquanto seus parceiros, também envolvidos na aliança, trabalhem no
desenvolvimento de outras capacitações e recursos criando, no final, um
aumento na sedimentação das novas vantagens competitivas. Conforme as
citações destes autores, as alianças cabem em qualquer tipo de atividade e
para qualquer porte de empresa. São mencionados, a título de exemplo, as
famosas alianças entre Fujitsu e AMD e Cisco, Dell e a Microsoft (HITT;
IRELAND; HOSKISSON, 2008).
As pequenas empresas brasileiras, em razão das suas características
peculiares (dificuldades de acesso ao crédito, às tecnologias, ao treinamento
das suas equipes, ao dinamismo exigido na visão mercadológica, etc.) têm sido
duramente atingidas pelo intenso e complexo processo de mudanças do
ambiente competitivo. Cooperativismo, associativismo e quaisquer outros
adjetivos que possam ser usados para as iniciativas que produzem as alianças
entre empresas são, inexoravelmente, fruto de três variáveis fundamentais:
globalização dos mercados, processos tecnológicos altamente desenvolvidos e
principalmente maior nível de exigência do mercado consumidor. Mesmo para
empresas locais que ainda não percebem a presença de grandes grupos de
investidores nas redes de farmácias, sentem as pressões de custos e de
qualidade por parte de clientes e fornecedores, que muitas vezes, já estão
inseridos na competição global (SERRENTINO, 2007).
Os conceitos de alianças estratégicas vêm sendo muito explorados
recentemente por diversos autores, e é assim que se irradia uma maior
conscientização para o problema, ou melhor, para a solução do impasse em
que se encontram essas pequenas empresas.
Lipnack e Stamps (1994) apud Varise (2007) declaram que o segredo
das empresas em rede consiste em trabalhar em conjunto sem trazer à tona os
segredos essenciais do negócio, compartilhar abertamente áreas bem
25
definidas e cooperar, sem esmorecimento, até obter um pensamento comum
entre os participantes. Para os autores, essas redes devem fazer seus
negócios em conjunto, porém mantendo-se independentes, com suas próprias
finanças, funcionários e, ao mesmo tempo, atuando como se fossem uma só,
somando recursos e fazendo intercâmbios complementares. Dessa forma, tais
organizações podem alcançar metas que considerariam inatingíveis, caso
agissem isoladamente. Entretanto, enfatiza-se que estas iniciativas requerem
um novo modo de pensamento para que possam ter êxito, considerando-se as
características e atitudes expostas.
Lipnack e Stamps (1994) apud Varise (2007) enumeram cinco princípios
fundamentais atrelados às redes de sucesso: propósito unificador (missão),
participantes independentes empenhados, sistema voluntário de interligação,
multiplicidade
de
líderes
(pessoas
que
assumem
responsabilidades
específicas) e interação entre diferentes níveis. Segundo os autores, a mais
rudimentar rede exige pelo menos os três elementos: propósito, participantes e
interligações. Não basta, contudo, ter claros esses cinco princípios, mas sim, é
necessário equilibrá-los com a cooperação e competição, caso contrário, o
resultado será o fracasso. As vantagens competitivas da cooperação surgem
da realização conjunta de fatores que não podem ser realizados isoladamente
e a vantagem cooperativa da competição surge da capacidade de inovação e
da luta pela excelência, convertendo-se na co-opetição, conforme enfatizam
Nalebuff e Brandenburger (1996).
Para Das e Teng (1997) as alianças estratégicas se referem a acordos
cooperativos entre firmas, focadas na busca de objetivos estratégicos mútuos.
Como exemplos de alianças estratégicas, os autores citam as joint-ventures,
pesquisa e desenvolvimento em conjunto, licenciamento, entre outras.
As empresas podem superar suas fraquezas, criar valor e melhorar o
seu desempenho aliando-se com outras empresas. As empresas são
confrontadas com os incentivos e os riscos relacionados às alianças
estratégicas, devendo buscar o equilíbrio estrutural por meio do estudo do
papel desempenhado pelos incentivos e riscos nessas parcerias, seja com
empresas de mesma atividade ou de atividades complementares. Através de
alianças estratégicas, as empresas têm incentivos para obter diversos tipos de
benefícios que surgirão das alianças e, em contrapartida, serão confrontadas
26
com os riscos de oportunismo e apropriação por parte do outro. Assim, propõese que as empresas que decidam formar uma aliança com outras, devam
considerar os incentivos e os riscos, ou seja, as vantagens e desvantagens do
novo modelo (YANG, 2001).
Artigo de Kahalas e Suchon (1995) define essas parcerias como acordos
de médio e longo prazo entre duas ou mais firmas, que são mais substanciais
do que as transações normais de mercado restrito, mas não requerem
aquisição ou fusão. Como exemplos são citados acordos de licenciamento,
relacionamentos com fornecedores-chave e projetos de desenvolvimento
conjunto de produtos.
A estrutura organizacional das micro e pequenas empresas as deixam
muito vulneráveis às rápidas mudanças no ambiente competitivo, obrigando
essas empresas a buscarem abrigo nas alianças que lhes permitam atingir
melhores níveis de oportunidades e competitividade.
No Brasil, a formação das redes de cooperação vem ganhando grande
impulso nos últimos anos significando, em muitos casos, o único caminho
viável para o desenvolvimento ou até mesmo para a sobrevivência de alguns
setores econômicos. Essas redes de cooperação surgem nas mais diversas
áreas empresariais, tais como indústria de móveis, comércio de medicamentos
e ferragens, supermercados, confeitarias, lojas de autopeças, cafeterias,
serviços automotivos, lavanderias, academias de ginástica, laticínios e
padarias, entre outros.
As associações podem ser constituídas, dentre outras formas, pela
aquisição de partes de capital, pela formação de parcerias, ou ainda pela
transferência da realização de atividades da empresa para estruturas
compartilhadas, que são montadas em ambientes externos. As razões que
levam as empresas a optarem pelo caminho da cooperação são variadas. Além
de permitir que essas empresas cooperativadas possam ter uma concentração
no seu core business, alguns ganhos teóricos indicados na bibliografia advêm
de melhoria na produtividade, da redução de custos, da poupança de recursos,
do acesso a novos mercados, a novas tecnologias, a mão-de-obra e
fornecedores,
do
aumento
do
poder
de
barganha
em
compras
e
comercialização, da troca de experiências, do maior acesso a informação e a
instituições e programas governamentais (ROMAN; BECKER, 2008).
27
Este panorama tem despertado grande interesse de pesquisadores haja
vista a vasta literatura encontrada nos meios acadêmicos. São estudadas as
formas de organização dessas empresas cooperativadas, seus costumes, seus
modelos de governança e os aspectos legais que envolvem as associações,
todavia os estudos desenvolvidos no Brasil sempre caminham para mostrar os
resultados conjuntos uma vez que ainda não se dispõe de dados individuais
que mostrem a comparação de desempenho atual versus aquele que possuía
antes da associação. De certa forma é compreensível esse comportamento,
pois o modelo ainda é novo, numa fase que podemos considerar de
experimental, onde as informações não se encontram disponíveis e as próprias
empresas integrantes das redes não estão dispostas a disponibilizá-las.
Já, no mercado americano, as alianças estratégicas encontram-se mais
enraizadas e testadas, a ponto de criar uma preocupação com os casos de
insucessos, levando os especialistas a desenvolverem mecanismos voltados à
orientação que conduza a uma aliança estratégica duradoura.
Das e Teng (1997) afirmam que a gestão e sustentação de uma aliança
estratégica têm profundas implicações com o equilíbrio que é mantido entre
cooperação e competição e que essa gestão é uma tarefa complexa, e que
uma aliança pode ser sustentada se os membros participantes compreendem
as suas opções, bem como as conseqüências do exercício de cada opção.
As alianças estratégicas têm sido reconhecidas como áreas com
potencial para o comportamento oportunista por parte dos parceiros. Assim,
uma empresa precisa ter um nível adequado de confiança no comportamento
cooperativo do seu parceiro. Na verificação da noção de confiança no parceiro
da cooperação em alianças, sugere-se que sejam examinadas duas fontes
distintas: confiança e controle, partindo-se do princípio que confiança e controle
são conceitos paralelos e que seu relacionamento é de caráter complementar
na geração da confiança. Os estudos sobre o tema permitem que se afirme que
a falta de cooperação e o comportamento oportunista dos parceiros são as
causas para a elevada taxa de insucesso nas alianças (DAS; TENG, 1998).
Gerir os diferentes tipos de riscos em alianças estratégicas é uma tarefa
complexa. Os autores Das e Teng (1999) propõem um quadro global de gestão
de risco, com duas componentes. Primeiro é focado o chamado risco
28
relacional, que é o risco de cooperação interempresas e o segundo é o risco de
desempenho, que são todos os outros fatores que afetam negativamente o
desempenho da aliança.
No risco relacional há a preocupação com a probabilidade de que as
empresas parceiras faltem com o compromisso para com a aliança e que os
seus possíveis comportamentos oportunistas possam comprometer as
perspectivas da aliança.
O risco de desempenho é a probabilidade de que uma aliança possa
falhar, mesmo quando as empresas parceiras empenhem-se plenamente.
Apesar dos esforços das empresas parceiras, uma aliança ainda pode falhar
por causa de fatores internos e externos, além do risco relacional apresentado
anteriormente. As fontes de risco de desempenho incluem fatores ambientais,
como alterações de política de governo, guerra, recessão econômica, fatores
de mercado, como a concorrência feroz e flutuações da demanda, e fatores
internos, como a falta de competências em áreas críticas, ou, ainda, por pura
má sorte. (DAS; TENG, 1999)
Os mesmos autores, Das e Teng (2000), afirmam ainda, que as
instabilidades de alianças estratégicas referem-se a grandes mudanças ou
dissoluções de alianças, que não são planejadas, envolvendo um ou vários
parceiros. Sugere-se que as alianças estratégicas sejam os locais onde as
forças conflitantes se desenvolvem e podem ser vistos como sendo
constituídos por três pares de forças concorrentes, ou seja, a competição
contra a cooperação, a rigidez versus a flexibilidade e o curto prazo versus a
orientação de longo prazo.
2.1.6 Centrais de Compras e de Negócios
Num mercado tão competitivo, onde, além da comercialização dos
produtos
clássicos
de
uma
farmácia,
como
medicamentos
e
não-
medicamentos, a pressão pelo aumento da rentabilidade faz com que as
grandes redes procurem alternativas para ganhar fatias da concorrência e
aumentar a rentabilidade. Serviços de entrega de medicamentos no domicílio
do cliente (Delivery), vendas através da internet (e-commerce), recebimento de
contas diversas, água, luz, telefone, etc., recarga de telefones celulares,
29
terminais para saques de valores e depósitos bancários, vendas de seguros e
cartões de crédito são exemplos de serviços já prestados pelas redes de
farmácias e não disponíveis nas farmácias independentes.
O período após 1980 foi marcado por vertiginosas modificações no
ambiente competitivo das empresas. Os consumidores estão cada vez mais
exigentes em relação à qualidade dos produtos e à rapidez na entrega. Nesse
ambiente mutável, obviamente houve impacto significativo tanto na concepção
do próprio foco dos negócios quanto na forma de gerenciar as organizações.
(NOHARA; ACEVEDO, 2001)
A incorporação de serviços ao rol de produtos vendidos no varejo é um
processo irreversível e a capacidade que o setor tem de compreender as
motivações
e
necessidades
dos
consumidores,
monitorando
seu
comportamento efetivo de consumo, permite antecipar as demandas dos
clientes, oferecendo soluções que facilitem suas vidas.
A concentração no fornecimento e no varejo exerce uma pressão muito
forte sobre a rentabilidade do setor varejista, particularmente sobre os
operadores de menor porte que não dispõe do poder de barganha, pois
somente conseguem adquirir pequenos lotes de produtos. Essa situação é
aumentada pelo fato de o consumidor querer mais por menos e por encontrarse na condição de poder escolher.
Este conceito de união de forças buscando um poder competitivo maior
não é uma prática utilizada somente por pequenos varejistas. Um bom exemplo
de união de empresas varejistas de grande porte foi a união havida com as
redes Colruyt (Bélgica), Conad (Itália), Coop (Suiça), E.Leclerc (França) e
Rewe (Alemanha), todas entre as líderes em seus países, criaram, em 2006, a
Coopernic para fazer a função de associação destas gigantes do varejo em
supermercados, atuando em 17 países com 17.500 pontos de venda. (SOUZA,
2007)
O conceito de centrais de negócios é uma evolução das centrais de
compras, que já existem no mercado europeu há mais de 100 anos. O
nascimento das centrais começa sempre com a modalidade de compras que,
de início, é o que causa maior pressão sobre a rentabilidade. Aos poucos,
quando as empresas participantes começam a perceber os bons resultados da
30
associação, procuram inserir outras atividades outrora impossíveis de serem
desempenhadas isoladamente.
O cenário vale para todos os tipos de varejos e fazem com que somente
aquelas empresas que consigam melhor se estruturar, tanto estratégica como
gerencialmente, consigam alcançar uma rentabilidade acima dos padrões
normais do mercado.
Em todos os setores, cada vez mais o crescimento das expectativas dos
consumidores obriga as empresas a encontrar soluções inteligentes para
maximizar a rentabilidade dos negócios. A extrema competitividade impõe
reduções gradativas na rentabilidade, por causa da redução da demanda,
contribuindo para uma maior concentração.
Um dos obstáculos ao crescimento de forma estruturada do setor
varejista é a informalidade ainda presente. De maneira consciente não há uma
preocupação com o controle efetivo dos negócios, como forma de criar uma
proteção contra as altas taxas de impostos da política tributária brasileira.
Os últimos 15 anos têm sido marcados por uma concorrência crescente,
preocupada com um consumidor cada vez mais exigente em busca de mais por
menos, levando as empresas a buscar o atendimento das novas demandas
com
maior
eficiência,
como
condição
para
continuarem
crescendo
(SERRENTINO, 2007).
As estratégias para gerir os negócios vêm se transformando cada vez
mais, e o avanço tecnológico em busca de uma maior agilidade e
racionalização tem contribuído para uma redução de custos, sempre buscando
uma maior rentabilidade. (GOUVEIA; SERRENTINO, 2002). Dentro desse
contexto faz-se necessária a busca de novos caminhos para os pequenos
varejos, em especial as farmácias independentes, como forma de poder fazer
frente às grandes redes.
A Febrafar – Federação Brasileira das Redes Associativistas de
Farmácias é um bom exemplo de busca de soluções para as farmácias
independentes. Hoje já são 32 redes de farmácias independentes espalhadas
por 12 estados brasileiros, mais o Distrito Federal, e associadas à Febrafar,
com 3.061 farmácias independentes associadas a essas redes.
Outro exemplo é o da Refarma – Rede Brasileira de Farmácias e
Drogarias que congrega um total de 1.208 farmácias independentes nos
31
estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Tocantins, Paraíba e Distrito
Federal.
Com os mesmos objetivos, porém com uma natureza jurídica diferente,
existe a rede de Drogarias Farmais, que até o momento tem funcionado com a
forma de franchising (franquia). Uma franquia é uma relação legal e comercial
entre o proprietário de uma marca registrada, marca de serviço, nome
comercial ou símbolo publicitário e um indivíduo ou grupo de indivíduos que
querem utilizar essa identificação em um negócio.
A lei nº 8.955/94, de 15 de dezembro de 1994, define franquia empresarial
como o
“sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso
da marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou
semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao
direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio
ou sistema operacional, desenvolvidos ou detidos pelo franqueador,
mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique
caracterizado vínculo empregatício”.
O franqueador é a empresa detentora da marca, que idealiza, formata e
concede a franquia do negócio ao franqueado que é uma pessoa física ou
jurídica, que adere à rede de franquia. No sistema de franchising, o franqueado
investe recursos em seu próprio negócio, o qual será operado com a marca do
franqueador
e
de
acordo
com
todos
os
padrões
estabelecidos
e
supervisionados por ele. O franqueador governa o método de conduzir um
negócio entre as duas partes. Geralmente, o franqueado vende bens ou
produtos fornecidos pelo franqueador ou vende produtos ou serviços que vão
de encontro aos padrões de qualidade do franqueador. A Franchising é
baseada na confiança mútua entre o franqueador e o franqueado. O
franqueador fornece a perícia empresarial, isto é, planos de marketing, apoio à
gestão, assistência financeira, formação, etc. que de outra maneira não estaria
disponível para o franqueado. O franqueado traz à operação de franchising o
espírito empreendedor e o esforço necessários para fazer da franchising um
sucesso, remunerando o franqueador, via de regra, com uma comissão que é
calculada sobre o volume de vendas efetivado pelo franqueado (DOSDIN
FRANCHISING, 2009; VARISE, 2007).
São 480 farmácias com a marca Farmais espalhadas pelos estados de
São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Rio de
32
Janeiro e Minas Gerais, que foi recentemente adquirida por um grande banco
de investimentos, BTG Pactual, não se sabendo, ainda, se o modelo será
mantido.
Os casos registrados sejam na forma de associativismo, cooperativismo
ou franchising, representam cerca de 10% do universo de farmácias em
funcionamento no território nacional.
3 O Setor de Farmácia
3.1 Antecedentes Históricos sobre as Farmácias
O presente referencial conceitual, com toda a abrangência que é
apresentado, está embasado nos registros históricos existentes nos arquivos
da Farmácia Homeopática Almeida Prado, 2009, que é a farmácia mais antiga
de que se tem registro no Brasil.
Etimologicamente a palavra farmácia advém do vocábulo grego
pharmakon, que significa remédio. Outros sugerem uma conexão com o termo
egípcio ph-ar-maki ou “que proporciona segurança”. Porém, a farmácia como
ciência começou a existir muito antes que a própria denominação. É impossível
saber a sua origem exata, porque desde épocas remotas o homem já
manipulava ervas como meio de aliviar as suas dores. Estudos mostram que os
povos da pré-história já tinham um conhecimento considerável sobre as ervas
medicinais.
A grande maioria das sociedades primitivas acreditava que os espíritos
malignos invadiam os corpos, provocando as doenças. Os curandeiros eram os
responsáveis por descobrir e eliminar o mal que afligia os homens e eram eles
os manipuladores oficiais das ervas. No período paleolítico, o interesse dos
povos pelas ervas os fizeram gravar em ossos uma grande quantidade e
variedade de plantas. E isso há 80 mil anos. Surgiram então as primeiras
civilizações e em muitas delas podemos encontrar referências do uso das
plantas como terapêutica.
A história da farmácia e da medicina teve quatro grandes fases: a
religiosa, a filosófica, a experimental-científica e a teologicamente física
positiva.
33
• Fase religiosa: escritos sagrados publicados no ano 2700 a.C.,
chamados de Pent-Soo, davam as noções sobre farmácia e medicina chinesas.
Os Vedas, livro sagrado dos hindus que também era utilizado pelos egípcios e
pelos persas, continha informações sobre a medicina e a utilização de
medicamentos. No Egito, os sacerdotes e os profetas exerciam a medicina.
Suas receitas eram mantidas em segredo nos templos.
• Fase filosófica: teve início com os gregos que receberam o
conhecimento dos egípcios. A figura do médico apareceu nessa fase,
representada pelo cirurgião Esculápio – o deus da medicina. Utilizava como
símbolos a cobra e o galo, que significava a prudência e a vigilância.
• Fase experimental-científica: iniciou-se após a divisão do império de
Alexandre, O Grande. Surgiu a escola de Alexandria. As escolas foram
separadas em dogmática e empírica, que tinha como fundamento o estudo
experimental dos medicamentos. Nessa época, foram desenvolvidas as
fórmulas complicadas, surgindo a polifarmácia, que é a prescrição de muitos
medicamentos.
• Fase teológica-metafísica positiva: sob a influência do cristianismo, a
medicina tornou-se novamente religiosa, pois se relacionou a cura ao culto dos
santos.
Existem registros que, por volta do século 5 antes de nossa era, a arte
de curar foi separada das práticas religiosas. Isso ocorreu na Grécia clássica,
onde as pessoas que praticavam a medicina e a farmácia queriam encontrar
bases racionais que explicassem seus serviços. O interesse pela causa das
doenças era reflexo da preocupação dos filósofos-cientistas gregos em
compreender a natureza.
Foi Hipócrates, o pai da medicina moderna, que deu os aspectos
científicos à arte de curar, procurando observar os sintomas apresentados pelo
paciente e tentando oferecer medicamentos que os aliviassem. A partir daí e
durante muitos séculos, os mesmos profissionais que diagnosticavam as
doenças também preparavam o medicamento e o dispensavam a seus
pacientes. Não havia distinção nessa época do médico e do farmacêutico –
numerosas obras mostram essa unificação profissional. Os “tratados médicos”
34
atribuídos a Hipócrates descreviam as moléstias e os respectivos remédios que
as eliminavam. Fontes com A Matéria Médica, de Dioscórides, a A História
Natural, de Plínio, O Velho, trazem informações sobre a preparação dos
remédios.
Outras obras, como os trabalhos de Diocles, Teofrasto y Dioscórides,
foram de extrema importância para a farmácia. Diocles de Caristo, que viveu
em Atenas no fim do século 4 a.C., foi o mais proeminente dos profissionais
que catalogaram plantas. Entre os temas de seus notáveis trabalhos
destacava-se a bôtanica médica. Seu herbário tratava de origem, da
identificação, do valor nutritivo e dos usos medicinais das plantas.
De acordo com a Coleção Larousse Cultural, Herbário significa coleção
de plantas, ou parte de plantas, secas sob compressão, etiquetadas e
catalogadas com rigor, a fim de servirem para estudo.
Os herbários são constituídos por amostras, tão completas quanto
possível, da planta considerada, seca e comprimida, acompanhada por uma
etiqueta que indica lugar, data da recolha e do nome do coletor.
O pai da farmácia, Galeno, nascido em Pérgamo na Äsia Menor, no ano
de 131 ou 138 d.C., era na verdade um médico que deu ênfase à manipulação
de medicamentos, preparando ele próprio as formas que seriam ministradas.
Exemplos de formas: ungüentos, emplastros, entre outros. A Farmácia
Galênica é um setor especializado que ainda hoje cuida especificamente do
preparo das formas sob as quais os medicamentos devem ser ministrados para
proporcionar maior eficácia e comodidade.
Iniciada em 476 d.C., a idade média, provocou uma desintegração da
autoridade política e um significativo declínio cultural em todo o oeste da
Europa. Foi também na Idade Média que os assuntos metafísicos foram sendo
deixados de lado e os estudiosos procuravam na alquimia o ambiente propício
para as suas investigações. No entanto, a herança greco-romana sobreviveu
no império do Oriente, onde a medicina e a farmácia continuaram sendo
estudadas. Por tanto tempo que durou o domínio árabe no ocidente da Europa,
foram fundadas grandes escolas em Samarkanda, Bagdá, Alexandria,
35
Córdoba, Toledo, Granada, Saragoça, Pádua e Sallermo, onde se ensinava
farmácia como parte integrante dos estudos de medicina.
A origem das atividades relacionadas à farmácia se deu a partir do
século X com as boticas ou apotecas, como eram conhecidas na época. Neste
período, a medicina e a farmácia eram uma só profissão.
Na Espanha e na França, a partir do século X, foram criadas as
primeiras boticas. Esse pioneirismo, mais tarde, originaria o modelo das
farmácias atuais.
Neste período, o boticário tinha a responsabilidade de conhecer e curar
as doenças, mas para exercer a profissão devia cumprir uma série de
requisitos e ter local e equipamentos adequados para a preparação e guarda
dos medicamentos. (CRF/SP, 2010)
No mundo cristão, eram nos conventos e nos mosteiros que o saber se
refugiava. As primeiras universidades surgiram ao longo da Idade Média e,
embora a medicina fosse ensinada, o mesmo não acontecia com a farmácia.
A farmácia e a medicina foram separadas em 1223, quando o imperador
Frederico II da Sicília, em decreto que regulamentava a profissão farmacêutica,
impediu que os médicos continuassem a exercer o comércio farmacêutico a fim
de obterem lucro com a venda dos remédios. Dessa forma surgiram três
classes profissionais: os médicos, os cirurgiões e os boticários. (FARMÁCIA
ALMEIDA PRAZO, 2009)
No início das Ciências da Saúde, houve época que, na pessoa do
sacerdote estavam embutidos o médico, o farmacêutico e o psicólogo, entre
outros.
Em 1240, a farmácia foi separada oficialmente da medicina por um edital de
Frederico II, imperador da Prússia, que estabeleceu na mesma época um
código de ética profissional.
Bem recentemente, há algumas décadas, ainda existiam farmácias com
seus profissionais farmacêuticos habilitados, que formavam um vínculo de
confiança na relação médico-farmacêutico-paciente
36
Com o advento da indústria, seguiu-se uma tática de separação entre
estes dois profissionais, fazendo com que hoje se sintam distantes entre si e
até mesmo se desconheçam profissionalmente.
Com o ressurgimento da Farmácia de Manipulação, como atividade
restrita
do
profissional
farmacêutico,
aconteceu
de
forma
natural
o
restabelecimento real deste profissional e consequentemente sua formação
completa, que vai desde o preparo do medicamento até a sua dispensação,
onde orienta-se corretamente o paciente quanto ao uso e aos cuidados,
podendo também orientar os médicos quanto as dosagens, farmacologia e
interações dos medicamentos.
A farmácia hoje tem por objetivo a promoção da saúde através da
personalização da relação de confiança entre médico-farmacêutico-paciente.
Com muita certeza, hoje tem-se um tratamento altamente diferenciado na área
de saúde e cada vez mais se fortalece o elo do médico com seu paciente.
(FARMACÊUTICO VIRTUAL, 2010)
Com um grande surto de propagação da lepra leva Luís XIV, entre
outras iniciativas na área da saúde pública, houve a necessidade de ampliar o
número de farmácias hospitalares na França. Mais adiante, no século XVIII, a
profissão farmacêutica separa-se da medicina e fica proibido ao médico ser
proprietário de uma botica. Com isso, dá início na antiga Roma a separação
daqueles que diagnosticavam a doença e dos que misturavam matérias para
produzir porções de cura. (CRF-SP, 2010)
De
lá
para
cá
muitas
coisas
mudaram,
houve
um
grande
desenvolvimento da farmácia e da medicina durante o Renascimento, quando
os homens, animados por um espírito renovador, começaram a empreender
grandes descobertas em todas as áreas. As viagens ao Novo Mundo também
trouxeram muitas perspectivas para a ciência.
Embora existam crônicas e outros textos anteriores, podemos considerar
o século XIX como o do nascimento da historiografia farmacêutica, com o
aparecimento, logo após 1800, de várias introduções históricas em livros de
texto alemães. A primeira obra ibérica dedicada à História da Farmácia
apareceu em Espanha em 1847, devida a C. Mallaina e Q. Chiarlone.. A esta
se seguiu, em 1853, aquela que é geralmente considerada como a primeira
37
obra de fôlego sobre esta disciplina, escrita pelo francês A. Phillippe, que deu
origem dois anos depois a uma versão alemã, desenvolvida por J. F. H. Ludwig
(1855). Em Portugal, a primeira grande obra de investigação sobre a História
da Farmácia, da autoria de Pedro José da Silva (1834-1878), começou a ser
publicada em 1866, poucos anos, portanto, após as suas congêneres
espanhola e francesa. A História da Farmácia começou por ganhar um
reconhecimento institucional e académico na Alemanha, nos finais do século
XIX e princípios do século XX,
principalmente com os trabalhos de Julius
Berendes (1837-1914), Hermann Peters (1847-1920) e Hermann Schelenz
(1848-1922) (SOUZA DIAS, 1990).
Já na idade moderna, os estudos farmacêuticos ganharam um novo
impulso, principalmente após o século 18, quando os princípios ativos das
drogas começaram a ser estudados e conhecidos. Foi, no entanto, no século
19 que o conhecimento mais profundo das drogas foi desencadeado.No
Quadro 1, abaixo, seguem importantes marcos históricos relativos à farmácia.
1642 – Descoberto o quinino para tratar a malária
1805 – Descoberta da Morfina
1831 – Descoberta do clorofórmio
1849 – Anestesia com éter
1884 – Anestesia local com cocaína
1897 – Descoberta da Aspirina
1899 – Instituto Soroterápico, hoje Instituto Butantã (SP)
1902 – Criado o Instituto de Patologia de Manguinhos, hoje Instituto
Oswaldo Cruz (RJ)
1903 – Descoberto o primeiro barbitúrico usado na epilepsia
1904 – Descoberta da novocaína
1906 – Criado o Instituto Pasteur
1921 – Isolamento da insulina
1925 – Síntese da morfina
1928 – Descoberta da penicilina
1933 – Desenvolvimento da crinacrina para combater a malária
1935 – Isolada a cortisana
1935 – Síntese do protanzil, primeira sulfa
1937 – Desenvolvida a vacina contra a febre amarela
1940 – (década) Descoberta do cloran-fenicol, ativo contra a febre tifóide
1940 – (década) Descoberta da Clortetra-ciclina como antibiótico de
amplo espectro
1944 – Descoberta da estrepto-micina para o tratamento da tuberculose
38
1949 – Uso da cortisona – início do descobrimento de drogas
antiinflomatórias
1960 – Descoberta a pílula anticoncepcional
1977 – Desenvolvido o captopril usado na hipertensão
1987 – Aprovado o uso do AZT
1996 – Aprovado o coquetel de drogas para combater o HIV
Quadro 1 – Grandes Eventos da Área Farmacêutica
Adaptado pelo autor
3.2 A Evolução da Farmácia no Brasil
Conforme, ainda, os registros históricos da Farmácia Homeopática
Almeida Prado, 2009, no Brasil, antes de 1500, os índios já curavam as
doenças com as ervas naturais. Os primeiros boticários oficiais aportaram no
país vindos de Portugal. Eram os padres jesuítas. Foi nos colégios da
Companhia de Jesus que surgiram as primeiras boticas, onde se podia
encontrar desde drogas e medicamentos das grandes metrópoles até plantas
medicinais indígenas da terapêutica dos pajés. Existia boticas na Bahia, em
Olinda, no Recife, no Maranhão, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Com tempo, as pequenas boticas foram aumentado até tomarem ares
de boticas nacionais. Próximas de igrejas e colégios atendiam a membros da
Companhia de Jesus e a dos alunos. Entrava em cena a figura do comerciante,
proprietário das boticas particulares. A partir de 1640, as boticas eram
licenciadas pelo Senado da Câmara como estabelecimentos comerciais. Até o
ano de 1824, a formação do boticário profissional era “artesanal” e vinculada ao
sistema das corporações de ofícios.
O boticário surgiu, no Brasil, no período colonial, os medicamentos e
outros produtos com fins terapêuticos podiam ser comprados nas boticas.
Geralmente, o boticário manipulava e produzia o medicamento na frente do
paciente, de acordo com a farmacopéia e a prescrição médica.
O primeiro boticário no Brasil foi Diogo de Castro, trazido de Portugal
pelo governador geral, Thomé de Souza (nomeado pela coroa portuguesa).
Isso só aconteceu após a coroa portuguesa detectar que no Brasil, o acesso ao
medicamento às pessoas só acontecia quando expedições portuguesas,
francesas ou espanholas apareciam com suas esquadras, onde sempre havia
39
um cirurgião barbeiro ou algum tripulante com uma botica portátil cheia de
drogas e medicamentos.
Com o tempo, a botica, onde o boticário pesquisava e manipulava
fórmulas extemporâneas, originou dois novos tipos de estabelecimentos:
Farmácia e Laboratório Industrial Farmacêutico.
Durante a 1a Guerra Mundial (1914 -1919), desenvolve-se a terapia
antimicrobiana com avanços significativos em quimioterapia, antibioticoterapia
e imunoterapia. E no período da 2a Guerra Mundial (1939 -1945), começaram
as pesquisas sobre guerra química que resultaram no descobrimento dos
primeiros anti-neoplásicos.
A industrialização em ritmo crescente torna o fármaco um produto
industrial, aliado as mudanças da sociedade de consumo e, ainda, objeto de
interesses econômicos e políticos. Como conseqüência, são feitos enormes
investimentos publicitários que atribuem ao medicamento a solução para todos
os problemas.
A sociedade a partir de 1950 começa a dispor dos serviços das
farmácias e da qualificação do farmacêutico. (CRF/SP, 2010)
As
farmácias
foram
se
desenvolvendo
juntamente
com
os
medicamentos. O aparecimento da indústria farmacêutica, o crescimento dos
laboratórios e a demanda cada vez maior do mercado, principalmente nas
grandes cidades, fizeram surgir as drogarias de rede e as drugstores, lojas que
vendem de tudo, desde medicamentos e cosméticos até alimentos, produtos de
higiene pessoal e de limpeza, entre outros. Possuem um público cada vez
maior e exigente, que quer agilidade e bom atendimento.
Os boticários foram desaparecendo por força de lei, que atribuí somente
aos farmacêuticos formados o direito de exercer a profissão. A Lei nº 3.820, de
11 de novembro de 1960, criou os Conselhos Federal e Regionais de
Farmácia, concretizando ideais de classe e reconhecendo a profissão de
farmacêutico.
Quando foi criada Faculdade de Medicina, em 1832 na Bahia, se
implantou o curso de farmácia no Brasil, com a duração de três anos. Mas a
escola pioneira para o ensino exclusivo de farmácia foi fundada em 1839 em
Ouro Preto, MG. Em 1898 foi implantado o ensino farmacêutico superior no
40
Estado com a criação da Escola Livre de Farmácia de São Paulo, que é a
precursora da faculdade da USP. Mais tarde, 1901, foi anexada à Faculdade de
Odontologia, recebendo então o nome de Faculdade de Farmácia e
Odontologia. Em 1934, foi fundada a Universidade de São Paulo, mas somente
em 1961 as duas se separaram. Cada uma ocupou um prédio dentro da
Cidade Universitária. (FARMÁCIA HOMEOPÁTICA ALMEIDA PRADO, 2009).
O mais antigo estabelecimento no gênero na Capital de São Paulo data
de 1889: a Companhia Paulista de Drogas, localizada bem no centro da cidade,
na Rua Direita, tendo como alto funcionário o Sr. Macedo Soares, pai do
embaixador José Carlos de Macedo Soares.
Não muito tempo depois, foi adquirida pelo coronel João Batista
Amarante, mais tarde vereador à Câmara Municipal de São Paulo, e pelo Dr.
Francisco Vilela de Paula Machado, os quais, já anteriormente, eram seus
acionistas, transformando-se em sociedade por comandita, sob a designação
de J. Amarante & Cia.
Em 1898, transferiu-se para o edifício na mesma rua Direita, esquina
com a Rua José Bonifácio, onde se consolidou e de onde nunca mais saiu,
durante o longo período de 55 anos, passando de pai a filhos, e,
posteriormente incorporada à Drogasil, fazendo parte do seu Conselho Fiscal e
Deliberativo e de sua Diretoria, os Srs. Ernesto Amarante e Francisco de Paula
Amarante.
Interessante registrar que, nos bons tempos de 1930/1935, eram as
farmácias e drogarias, habitualmente, o ponto de reunião e convergência dos
expoentes da cultura, da política e da ciência da época. (DROGASIL, 1954).
Surgiu também, em 1937 o nome fantasia “Pharmasil”, que, por legislação,
diferenciava as filiais que tinham Laboratório de Manipulação e Perfumaria.
(DROGASIL, 1987).
3.3 O Setor de Farmácia na Atualidade
De acordo com a Abrafarma – Associação Brasileira de Redes de
Farmácias e Drogarias, são consideradas redes de farmácias as empresas
que, sob um mesmo CNPJ, possuem um mínimo de seis farmácias. Segundo a
41
mesma associação, as demais, ou seja, aquelas com um número inferior a seis
lojas são consideradas independentes.
Ainda, conforme a mesma associação, atualmente no Brasil existem
cerca de 24 grandes redes que dominam os principais centros consumidores,
congregando mais de 3000 lojas, e no período de janeiro a setembro de 2008
tiveram um faturamento de U$ 7,2 bilhões, com um crescimento de 20,93%
sobre o movimento do mesmo período do ano anterior. O Presidente da
entidade, Sérgio Mena Barreto, afirma: “Todos os indicadores (das 24 redes)
apresentam crescimento homogêneo, o que reforça a preferência dos
consumidores pelas grandes redes”. Segundo a Abrafarma, em outubro de
2005 o total do faturamento das 55.000 farmácias em funcionamento no Brasil,
em torno de U$ 17,4 bilhões de dólares estava dividido em faturamento das
redes (com um mínimo de 6 lojas), com participação de 30%, e faturamento
das demais (independentes), com 70%. A despeito da importância das 24
grandes redes de farmácias, que têm suas próprias estruturas de compra e de
negócios, elas representam apenas 5% do total de farmácias e 8% do
faturamento total do setor. Nos maiores mercados urbanos, onde as redes
tendem a se concentrar, sua importância deve ser bem maior, como esta
pesquisa tentará identificar.
Do total de farmácias do Brasil, 70% ainda são independentes não
associadas a nenhuma associação, mas à medida que as grandes redes
ingressem nos mercados atualmente menos concorridos, parcela significativa
dessas farmácias independentes precisará formar ou ingressar em associações
(centrais de compras e serviços) como forma de sobrevivência. As
independentes que conseguiram se organizar através de associações totalizam
mais de 4.200 lojas de farmácias presentes em 12 estados e mais o Distrito
Federal, em mais de 900 municípios em todo do Brasil.
3.3.1 Classificação dos Produtos
As farmácias e drogarias comercializam cerca de 14.000 itens que
podem ser classificados como medicamentos e não-medicamentos. No que
diz respeito às várias formas de classificação, conforme a importância
atribuída pelos diversos autores consultados: Campos, Csillag e Sampaio
42
(2002), Vieira, Ohayon e Barros (2007), Pereira e Rodriguez (2003) e Palmeira
Filho e Pan 2003), são assim apresentados:
a) Medicamentos
Um medicamento é composto por:
 Fármaco, também chamado de princípio ativo ou base medicamentosa e
que é a substância ativa que produz o efeito terapêutico desejado, e
 Aditivos, que são substâncias adicionadas ao fármaco para alterar e
complementar suas propriedades, tais como as organolépticas, e as
formas de administração, o estado físico-químico e a velocidade de
absorção.
À proporção que os fármacos e os aditivos são misturados, constitui-se
uma formulação farmacêutica. O produto final é denominado especialidade
farmacêutica. Uma especialidade farmacêutica pode conter mais de um
fármaco na sua composição, caso em que é denominada associação
medicamentosa. As especialidades farmacêuticas podem ser comercializadas
sob várias formas: pós, comprimidos, drágeas, cápsulas, líquidos orais, líquidos
injetáveis, cremes, pomadas, adesivos. Um mesmo fármaco pode dar origem a
numerosas especialidades farmacêuticas, que, por sua vez, ainda podem ser
comercializadas sob diferentes formas e apresentações. As especialidades
farmacêuticas
produzidas
com
um
mesmo
fármaco
e
nas
mesmas
concentrações por laboratórios diferentes podem não ser bioequivalentes, ou
seja, apresentar a mesma disponibilidade para o organismo, devido a
diferenças na sua formulação.
Os medicamentos podem ser classificados segundo diversos critérios:
emprego terapêutico, estrutura química, forma de comercialização e ação
farmacológica. No que concerne à forma de comercialização, os medicamentos
são assim classificados:
i)
Éticos, que necessitam de prescrição médica para venda,
e
ii)
OTC – Over-the-counter, que podem ser vendidos
livremente, sem a necessidade de prescrição médica.
Um critério adicional classifica os medicamentos em três grupos:
43
Originais - Protegidos por direitos de patentes, originais, também
conhecidos como produtos de marca ou éticos. São os medicamentos originais
que foram produzidos a partir de pesquisa científica, trazendo a inovação
terapêutica. São lançados com marcas pertencentes a grandes laboratórios e
protegidos com o direito de patente. Estes produtos geralmente dominam seus
mercados, tem preços elevados (a título de ressarcimento dos investimentos
com a pesquisa) e o seu foco promocional de vendas está totalmente dirigido
para a classe médica. É vedada pela Anvisa (RDC 102), a promoção de
medicamentos diretamente a público leigo. Esta realidade obrigou as empresas
a fazerem propaganda diretamente ao médico, pois este, com seu receituário,
poderia ser o único capaz de gerar demanda para esses produtos, conhecidos
com suas tarjas pretas ou vermelhas e denominados produtos de prescrição.
Porém, quando o produto fica muito conhecido por parte do consumidor, ele
acaba sendo adquirido sem a intervenção dos médicos.
Genéricos – aqueles cujas patentes estão vencidas. São medicamentos
copiados
dos
originais,
porém,
com
teste
de
bioequivalência
e
biodisponibilidade que certificam sua qualidade. Seguindo a linha proposta por
Porter, 1986, o medicamento genérico é um produto substituto que reduz o
retorno potencial de uma indústria. Quanto mais atrativa for a alternativa de
preço-desempenho do genérico, mais forte será a pressão sobre os lucros da
indústria.
Similares – aqueles originados do longo período durante o qual o país
não reconheceu o direito as patentes de medicamentos. São cópias de
medicamentos inovadores, patenteados no exterior, produzidos no Brasil com
insumos importados de países que também não aderiram ao sistema
internacional de patentes e lançados com a marca da empresa brasileira autora
da cópia.
b) Não-medicamentos
As farmácias, além dos medicamentos que estão na origem de sua
existência,
comercializam
outros
produtos
que
concorrem
com
os
supermercados. Nesse rol de produtos, que não se enquadram como
medicamento existe uma gama extensa e variada de produtos, como
alimentos, baterias, produtos de barbear, fraldas e toalhinhas para bebê,
44
beleza, cuidados bucais, produtos para o lar, desodorantes, proteção feminina
e até rações para animais.
De forma geral essas linhas de produtos são compradas pelas farmácias
diretamente das indústrias sem a interferência dos distribuidores, e têm uma
margem de lucratividade bem maior do que os medicamentos, implicando
numa relação de 60% / 40% na composição do lucro. (BNDES, 2001)
3.3.2 Cadeia de distribuição de medicamentos e demais produtos
para as farmácias
Descreve-se a seguir os principais atores da cadeia de suprimentos do
setor de farmácias e posteriormente discorre-se sobre a importância do SCM Supply Chain Management para a competitividade das empresas do setor.
a) Indústria Farmoquímica (P & D - Pesquisa e Desenvolvimento)
Na atualidade, a inovação tecnológica tem sido reconhecida como o
fator diferencial na competitividade entre empresas e países. A indústria
farmacêutica é baseada em ciência e se destaca como sendo uma das mais
lucrativas. Inovar é vital para a sobrevivência das empresas neste setor
industrial. Contudo, é um processo extremamente complexo, longo e caro:
leva-se de cinco a doze anos para se trazer à comercialização um novo
medicamento. (VIEIRA e OHAYON, 2005 apud Schwartzman, 2001 e Coriat,
1992).
As estratégias de investimentos em P&D praticadas pelas empresas
multinacionais priorizam a obtenção de princípios ativos (fármacos) ao invés
dos produtos finais (medicamentos), pois é o monopólio da indústria da
tecnologia de fabricação do fármaco que traz lucros extraordinários às
empresas, na medida em que esse componente representa 70 a 80% do preço
final do medicamento. (VIEIRA e OHAYON, 2005).
b) Distribuidor
Em setores dinâmicos e com alto grau de competitividade, como é o
caso do segmento farmacêutico, a velocidade no giro dos produtos, desde a
45
sua manufatura até a entrega ao consumidor final, é um grande diferencial no
composto da rentabilidade.
A indústria farmacêutica, focada em seu core business, terceiriza
integralmente as atividades de distribuição para organizações especializadas
nesta tarefa, pois, por maior que seja a sua linha de produtos, os seus
diferentes tipos de produtos somam uma quantidade muito pequena frente à
quantidade total de produtos ofertados no mercado como um todo. Os
distribuidores conseguem reunir num mesmo espaço físico todos os produtos
disponibilizados pelas indústrias, distribuindo-os para os pontos de vendas na
medida exata das suas necessidades. Esta sistemática de relacionamento
robustece o conceito do Supply Chain Management (SCM) que tem, na sua
essência, a missão de entregar o produto certo na hora certa para o
consumidor final, integrando todas as etapas desse complexo processo que
movimenta bilhões de dólares todos os anos. Há uma grande convergência
entre autores sobre o objetivo da gestão da cadeia de suprimentos, que seria
ligar o mercado, a rede de distribuição, o processo de fabricação e a atividade
de aquisição, de tal modo que os clientes sejam contemplados com níveis de
serviços cada vez mais altos, ainda assim mantendo os custos baixos. Em
outras palavras, buscar vantagem competitiva por meio da redução de custos e
da melhoria dos serviços.
O distribuidor, na condição de atacadista, desempenha um papel de
extrema importância e responsabilidade dentro da cadeia (SCM) fazendo com
que os produtos cheguem aos mais distantes municípios dentro do território
nacional, abastecendo as cerca de 55.000 farmácias existentes. Considerando
que os medicamentos têm os preços máximos de vendas ao consumidor final
tabelados por regulamentação federal, os distribuidores trabalham com
margens reduzidíssimas, obrigando-os a altas performances de desempenho,
como condição essencial para suas sobrevivências. (MOORI, et al, 2005 Apud
Christopher, 1997, p. 22 e BUAINAIN, 2008).
c) Operador Logístico
Operador Logístico é a empresa prestadora de serviços, especializada
em gerenciar e executar todas ou parte das atividades logísticas, nas várias
46
fases da cadeia de abastecimento de seus clientes, agregando valor aos
produtos dos mesmos.
A velocidade requerida pelo setor farmacêutico aliada à baixa
rentabilidade propiciada faz com que os movimentos de nascimento e
desaparecimento de distribuidores sejam algo comum, trazendo para os
integrantes desse mercado, em especial para as indústrias farmacêuticas, um
nervosismo acima dos limites razoáveis. As indústrias fazem suas vendas e
levantamentos de consumo através dos distribuidores que são, no caso dos
medicamentos, os únicos canais de escoamento dos produtos entre as
indústrias e o varejo. Quando ocorre uma ruptura, como por exemplo, o
desaparecimento de um distribuidor, tal fato coloca a indústria em dificuldades,
pois todas as funções logísticas já não existem, tendo sido transferidas para os
distribuidores, que passaram a deter a expertise dessa atividade.
Dentro desse quadro, diversas indústrias de grande porte, visando
contornar essas dificuldades, passaram a utilizar-se do Operador Logístico
(OP), que passou a fazer toda a movimentação da força de vendas dos
próprios laboratórios em direção às farmácias ou para grandes distribuidores
previamente determinados. Os operadores logísticos possuem basicamente as
mesmas características técnicas dos distribuidores tendo, como diferença
fundamental, o fato de que não realizam compras e vendas dos medicamentos,
atuando exclusivamente como um elo de escoamento dos produtos. (PEREIRA
e RODRIGUEZ, 2003; CAMPOS, CSILLAG e SAMPAIO, 2002; ABML, 1999).
d) Centro de Distribuição (CD) ou Depósito Central
As grandes redes de farmácias possuem um gerenciamento de estoques
que permite alcançar um nível de serviços muito próximo de 100%. O produto
vendido em uma das farmácias da rede é reposto em, no máximo, 24 horas.
Para garantir esta performance possuem depósito central, também chamados
de Centro de Distribuição (CD) com um alto giro de produtos e pequenos
estoques de cada unidade. Para a gestão racional desses estoques foram
instalados sistemas avançados de gestão de estoques, baseados em fórmulas
clássicas do ponto de vista estatístico. Recorre-se ao sistema que permite
encomendar, num mesmo pedido, toda a lista de produtos de um mesmo
47
fabricante. Os pedidos que, anos atrás, eram colocados mensalmente, o são
agora em até duas vezes por semana, o que reduz o estoque operacional do
depósito central.
Os softwares de gestão de estoques são utilizados intensamente pelas
redes de farmácias. Operando com microcomputadores ligados em rede e
conectados a um servidor central, todas as farmácias de uma rede são
monitoradas, on-line, durante 24 horas por dia, 7 dias por semana. Ao mesmo
tempo, o sistema indica o estoque do depósito central e emite os pedidos de
reposição.
Os depósitos centrais das grandes redes de farmácias operam com
arranjo físico racional, instalações adequadas e equipamentos modernos de
transporte interno, objetivando rapidez, qualidade e minimização de custos.
As funções básicas dos depósitos centrais são os recebimentos dos
produtos dos fornecedores, a separação dos produtos destinados às lojas
(picking) através dos check-outs dispostos em local estratégico, a expedição e
o transporte das mercadorias às lojas, fazendo com que a dinâmica e harmonia
dessas atividades permitam a entrega dos produtos certos na hora certa e na
loja certa, condição básica para alcançar o cobiçado prêmio representado pelo
just in time. (MACHLINE e AMARAL JR, 1998)
3.3.3 Varejo de Medicamentos
a) Redes de Farmácias
O desenvolvimento das redes de farmácias e drogarias se deu,
principalmente, a partir da informatização dos estoques e dos pontos de venda,
na década de 80. Com a redução dos estoques e a racionalização dos
serviços, com a conseqüente redução do número de funcionários por loja,
houve uma expansão no processo de formação de redes.
Não existe uma definição única sobre a quantidade necessária de lojas
de farmácias e drogarias, de um mesmo dono, para que possam ser
considerada rede, mas normalmente considera-se como rede um número
superior a 6 lojas. São cerca de 30 as chamadas grandes, que têm a Rede
Pague Menos, com localização predominantemente no Nordeste e Norte do
48
país, com 280 lojas e a Rede Drogasil, localizada no Sudeste, com 300 lojas,
as maiores em número de lojas.
A rede francesa de supermercados Carrefour, já há muitos anos no
Brasil, resolveu partir para o mercado varejista de farmácias, abrindo uma
farmácia no espaço das galerias de cada um dos seus supermercados. Não
levará tempo para que a sua estratégia a conduza para as chamadas farmácias
de ruas, sem nenhuma conexão com os seus supermercados. Idêntica
estratégia foi utilizada pela Rede de Supermercados Pão de Açúcar, que já
possui 158 farmácias instaladas nas galerias dos seus supermercados. Acabou
de ser anunciado pelos meios de comunicações, outubro de 2009, que um
grande banco de investimentos adquiriu 100% da rede Farmais, com 480
farmácias e que, até então, funcionava no modelo de franquia.
A verdade é que a cada nova loja aberta pelas redes de farmácias, o seu
poder mercadológico aumenta em relação à concorrência, espremendo cada
vez mais a capacidade competitiva das farmácias independentes, que tendem
a desaparecer, fechar as portas, ou ser compradas pelas grandes redes,
principalmente nos centros mais populosos. As redes participam com cerca de
aproximadamente 10% do faturamento nacional, sendo que o restante de 90%
ainda se encontra em poder das pequenas redes, com menos do que seis
lojas, e das farmácias independentes. (BNDES, 2001).
b) Farmácias Independentes
Quando falamos em farmácias independentes somos logo compelidos a
imaginar aquela farmácia pequena em que o dono é o próprio farmacêutico e
os empregados, na maioria das vezes, são membros da família. E esta é a
pura realidade. Nos grandes centros esse tipo de farmácia, trabalhando sem
nenhum vínculo com alguma rede, já está se tornando um caso raro, porém,
elas existem aos milhares no Brasil, sendo cerca de 50.000 em todo o território
brasileiro e participam com aproximadamente 70% do faturamento total do
setor. A sua condição de sobrevivência está atrelada à ausência de
concorrência, pois os seus custos de aquisição dos produtos são superiores
aos custos das redes, porém, os preços das vendas são sempre no limite
máximo permitido, o que garante a rentabilidade necessária para continuar
49
funcionando. À medida que as farmácias de rede chegam às regiões das
independentes, há uma mudança de postura obrigando-as a se adequarem a
um novo padrão, tanto de preços como na oferta de serviços. E como continuar
sobrevivendo nessa nova condição? O associativismo será a solução? Este
estudo busca, também, respostas para este dilema.
O início do novo milênio começou sofrendo o forte impacto da bolha da
internet e de seus reflexos no mundo dos negócios na economia americana,
espalhando-se pelo mundo. A expressão “quando a economia de lá pega um
resfriado o mundo tem uma gripe” poucas vezes foi tão real. (SOUZA, 2007)
O modelo de realização dos negócios passou a ser desenvolvido sob a
ótica da centralização, em especial para os bens de consumo. No Brasil, as
empresas, em conseqüência, passaram a adotar o mesmo modelo,
principalmente as grandes empresas. No setor de varejo a situação não foi
diferente. As grandes redes continuaram e continuam a aumentar fazendo com
que o seu poder de alavancagem atinja uma malha de pontos de venda muito
mais extensa.
O mercado varejista de farmácias, acompanhando essa tendência,
intensificou o aumento do seu número de pontos de venda. A estratégia para
manter-se competitivo, como condição de sobrevivência, foi aumentar o seu
poder através do aumento da rede.
Representantes do setor farmacêutico têm tido problemas constantes
com a falta de consolidação dos modelos utilizados, tanto para as redes de
farmácias, as quais são movimentadas com muita freqüência, seja pelo
crescimento natural das suas farmácias, seja pela incorporação de outras
redes. Os próprios representantes das farmácias, Associações, Federações,
Sindicatos, etc., também passam por um momento de turbulência, haja vista a
recente notícia do encerramento da Febrafarma – Federação Brasileira da
Indústria Farmacêutica (FEBRAFARMA, 2009).
O mercado farmacêutico caminha para fortes consolidações regionais, a
exemplo do que ocorreu no Estado do Paraná, onde a Rede de Farmácias
Nissei, com sede em Curitiba, tomou a decisão de centralizar suas atividades
somente no estado do Paraná, saindo de um total de 75 lojas de farmácias
para 150 triplicando o seu faturamento. (JORNAL VALOR ECONÔMICO, 2009)
50
Grandes redes de supermercados, tomando-se como exemplo o Pão de
Açúcar e Carrefour, entraram forte no segmento das farmácias. Nas galerias
que integram o espaço dos supermercados foi criada uma farmácia, o que tem
levado a um aumento ainda maior da concorrência uma vez que as próprias
redes de farmácias encontram, agora, um novo tipo de concorrente. Já há uma
previsão bastante confiável de que esse modelo adotado pelo Pão de Açúcar e
Carrefour, serve somente como um início de aprendizado do mercado de
farmácias, pois a pretensão é expandirem para o nível da rua através da
aquisição de pequenas redes. Prova disto foi a recente aquisição em
setembro/2009, pelo Banco de Investimentos BTG Pactual, da Rede Farmais
de farmácias.
As pequenas farmácias ou também chamadas de independentes,
principalmente quando competindo nos mercados com predominância das
grandes redes, passaram a sentir o reflexo da falta de escala e a necessidade
de encontrar caminhos que permitam a sua condição competitiva.
Num setor onde os produtos postos à venda são os mesmos, como é o
caso das farmácias, o grande diferencial, se não o mais importante, é o preço
de venda ao consumidor final, ainda mais quando ele tem a possibilidade de
fazer comparações. No caso dos medicamentos, onde os preços máximos de
vendas são tabelados pelo governo, a grande diferença de rentabilidade entre
as farmácias concorrentes está na capacidade de aquisição a um custo menor,
momento em que as grandes redes exercem o seu poder de barganha
conseguindo uma grande vantagem sobre as independentes. O Brasil, segundo
trabalho apresentado pela Febrafarma – Federação Brasileira da Indústria
Farmacêutica, retratando estudo desenvolvido pela IMS Health, é o oitavo
colocado entre os países com preços mais baixos. O estudo realizado em 2006
contemplou a escolha de 30 países e 200 produtos mais vendidos. Na verdade
o estudo mostra que os preços dos medicamentos no Brasil têm aumentado,
pois no estudo anterior, realizado em 2005, detínhamos o sexto lugar entre os
mais baratos.
O barateamento ou encarecimento dos produtos passam por diferentes
fases dentro dos processos de fabricação, distribuição e entrega do produto ao
consumidor final. O entendimento desse mecanismo será mais bem explicitado
dentro do conceito do Supply Chain Management (SCM), ou Gestão da Cadeia
51
de Suprimento, tão difundido entre os autores que exploram a logística
empresarial.
As mudanças verificadas nos últimos anos forçaram as empresas a
reverem seus conceitos sobre as maneiras de gerir seus negócios, adotandose uma visão mais integrada das diversas funções empresariais e, ao mesmo
tempo, identificando a necessidade de visualização de todos os seus entes
que, de alguma forma, influenciam os resultados das organizações. A logística
e, em particular, a gestão da cadeia de suprimentos, tem assumido um papel
de grande relevância para a competitividade empresarial.
Uma cadeia de suprimento engloba todos os estágios envolvidos, direta
e indiretamente, no atendimento de um pedido de um cliente. A cadeia de
suprimento não inclui apenas fabricantes e fornecedores, mas também
transportadoras, depósitos, varejistas e os próprios clientes. A cadeia de
suprimento é dinâmica e envolve o fluxo constante de informações, produtos e
dinheiro entre os diferentes estágios. Cada estágio da cadeia executa
diferentes processos e interage com outros estágios da cadeia. (VIANA e
BALDI, 2008, apud Chopra e Meindl, 2004).
Em 1986, o Council Of Logistics Management (CLM), considerada a
maior organização profissional da logística, definiu a atividade da logística da
seguinte forma:
é o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo
eficiente e eficaz de matérias-primas, estoques de produtos semiacabados e acabados, bem como de fluxo de informação a eles
relativo, desde a origem até o consumo, com o propósito de atender
aos requisitos dos clientes.
À medida que as empresas integram seus esforços para oferecer aos
clientes mais que a entrega da mercadoria no local e na hora certos, pode-se
falar em Supply Chain Management (SCM), definido, pelo International Center
of Copetitive Excellence, em 1994, como sendo: “(...) a integração dos
processos do negócio desde o usuário final até os fornecedores originais que
proporcionam os produtos, serviços e informações, a fim de agregar valor para
o cliente”.
O Efficient Consumer Response (ECR ou Resposta Eficiente ao
Consumidor), conceito lançado na década de 90 confere, como o SCM,
52
primazia ao trabalho conjunto dos parceiros, em vez de eles se dedicarem a
empreender ações isoladas ou até antagônicas.
ECR é um movimento global, no qual empresas industriais e comerciais,
juntamente com os demais integrantes da cadeia de abastecimento
(operadores logísticos, bancos, fabricantes de equipamentos e veículos,
empresas de informática, etc.) trabalham em conjunto na busca de padrões
comuns e processos eficientes que permitam minimizar os custos e otimizar a
produtividade em suas relações. Já existe no Brasil uma associação “ECR
Brasil – Resposta Eficiente ao Consumidor”, que congrega entre os seus
associados, cerca de 40 grandes empresas comerciais em funcionamento no
Brasil, dentre elas podemos destacar: Coca-Cola, 3M, AmBev, IBM, Loreal,
Perdigão, dentre outras também importantes.(ECR BRASIL, 2009).
Uma dificuldade invocada pelas redes de farmácias para justificar a falta
de maior entrosamento com os fornecedores é a pulverização do mercado de
medicamentos. Na indústria e no varejo farmacêutico, as fatias de mercado de
cada empresa não passam de 5%. (MACHLINE e AMARAL JR, 1998).
As farmácias e drogarias são o principal canal de dispensação de
remédios para a população brasileira. O Brasil é o 4º mercado de consumo de
medicamentos no cenário mundial, segundo o IMS Health. De acordo com o
Conselho Federal de Farmácia (CFF), no Brasil há mais de 55 mil farmácias e
drogarias (país com o maior número de farmácias do mundo), com uma
proporção de 3,34 farmácias para cada 10 mil habitantes, considerando uma
população de 170 milhões de habitantes. A expansão das redes de farmácias e
drogarias ocorreu na década de 80, a partir da informatização dos estoques
dos pontos-de-venda (PDV’s) e da diminuição do número médio de
funcionários por loja. (FEBRAFAR , 2008).
No Brasil, em um ambiente atual de competição crescente, o
acirramento de descontos de preços entre as farmácias, como uma estratégia
para conquistar mais clientes, pode aumentar ainda mais a concorrência e
reduzir as margens de lucro do setor. A expansão dos medicamentos
genéricos, aumento da presença dos laboratórios oficiais e programas do
governo federal, como da “Farmácia Popular” e as mudanças na legislação
fazem surgir novas oportunidades e desafios para as empresas do setor
farmacêutico. (CASTRO, SANTOS e SANTOS, 2007).
53
De acordo com estudo do GRUPEMEF – Grupo dos Profissionais
Executivos do Mercado Farmacêutico, até o mês de novembro de 2008 o
faturamento do setor farmacêutico foi de 15,9 bilhões de dólares, para um total
de 1,8 bilhão de unidades comercializadas, o que demonstra a pujança e o
crescimento constante do setor. Nesse contexto, as farmácias, sejam redes ou
independentes, procuram cada vez mais aumentar sua participação nesse
mercado de volumes tão expressivos. As redes, com suas estruturas
operacionais montadas com os melhores requisitos exigidos para uma boa
gestão, dispõem de tecnologia e recursos em grau adequado para lutar por
melhores espaços e maiores quantidades. As grandes redes possuem um
Centro de Distribuição (CD) montado com tecnologia e recursos para funcionar
24 horas por dia durante os 7 dias da semana, realizando suas compras no
momento em que os produtos acabaram de ser vendidos ao consumidor final,
utilizando-se, para tanto, de sistemas transacionais que dão suporte a toda
operacionalização.
O uso de ERP – Entrerprise Resource Planning
corresponde a um sistema operacional que integra todas as funções
organizacionais desde a área logística, passando pela compra, recebimento de
mercadorias, armazenamento e distribuição, pelo gerenciamento das vendas
com todo o suporte à área de marketing e pelas funções administrativas, como
finanças e contabilidade. A velocidade imposta às compras somente é possível
com um mecanismo de integração com os fornecedores dos produtos, para
tanto é utilizado o EDI – Electronic Data Interchange, que se constitui num
sistema automático de captura da necessidade da compra e emissão dos
pedidos com controle e rastreamento do seu completo atendimento, o que
permite uma boa gestão com uma estrutura de recursos humanos muito
reduzida.
Todos esses aspectos estão inseridos no conceito do Supply Chain
Management – SCM, e devem ser vistos dentro do conceito de Porter (1980,
1989, 1990) sobre “Cadeia de Valor”, onde os processos de manufatura e
distribuição de um produto são vistos como um sistema interligado no qual
cada atividade da empresa adiciona valor ao produto ou serviço.
O termo valor, dependendo do ponto de vista adotado, implica em três
diferentes leituras. Do ponto de vista do cliente refere-se à utilidade imbuída na
aquisição do produto ou serviço. Do ponto de vista da empresa, por um lado há
54
processos de transformação que transformam insumos em produtos úteis.
Esse processo é conhecido como de agregação de valor. Por outro lado, a
criação de valor concerne à apropriação de valor no processo de produção e
ou distribuição pelas empresas que participam. E, do ponto de vista do
acionista, a apropriação de valor em benefício dos acionistas é sem dúvida
alguma o único propósito real da existência das organizações empresariais
(NOHARA; ACEVEDO, 2005 apud Cox et al, 2001).
As farmácias independentes, seja pela ausência de tecnologia ou pela
falta de recursos financeiros, têm uma atuação moldada em modelos
convencionais de um mercado ainda despreparado, comprometendo suas
margens de rentabilidade e, principalmente, de sobrevivência nesse mercado
tão competitivo. Quando as farmácias independentes estão localizadas em
regiões desprovidas das grandes redes, ainda conseguem sobreviver, pois,
mesmo adquirindo os produtos em condições muito piores do que os grandes
compradores, conseguem estabelecer preços também muito superiores,
trazendo, em conseqüência, uma irrealidade nos preços finais, além de não
apresentar uma qualidade de serviços à altura. Já, as farmácias independentes
localizadas em pólos mais competitivos, em especial aqueles que dispõem da
presença das redes, estão fadadas ao desaparecimento, pois a falta de escala,
tanto de compra como de venda, não permite uma paridade competitiva.
E como superar tanta dificuldade? A possibilidade da continuidade de
existência dessas farmácias independentes passa por uma forte disposição de
mudança de rumo, buscando alternativas racionais que as coloquem num
patamar de competitividade em nível igual ao das grandes redes. Para ser
grande, sendo pequeno, é necessário que a mentalidade desses pequenos
empresários seja remetida para as parcerias com os seus iguais utilizando-se
de mecanismos atuais de alianças estratégicas. (SOUZA, 2007)
4 Metodologia
Considerando a intenção de identificar a opinião dos gestores de
farmácias independentes sobre a contribuição dos serviços prestados pelas
associações às quais estão vinculados para o aumento da competitividade,
julgou-se adequada a aplicação de pesquisa exploratória descritiva de natureza
55
quantitativa, utilizando questionário estruturado (Apêndice 1/5 a 5/5). Essa
pesquisa foi situada no âmbito exploratório quanto aos seus resultados, visto a
não intenção de uso de amostragem probabilística para a quantificação dos
fenômenos. Nesse sentido, os resultados obtidos foram circunscritos ao âmbito
da amostra e poderão ser utilizados para a construção de hipóteses para
outros estudos.
A pesquisa foi realizada por meio de um levantamento (survey) com as
3061 farmácias vinculadas a associações que compõem a Febrafar conforme a
tabela 1. Do total das 3.061 farmácias, 426 responderam espontaneamente ao
questionário, no período de 30 dias corridos, por meio de link encaminhado aos
estabelecimentos-alvo pelo autor, com autorização e apoio explícito da
FEBRAFAR, que também forneceu o mailing dos associados.
Registre-se que a construção das questões (assertivas) que compõem o
questionário, foram subsidiadas por atividades exploratórias de “entrevistas”
informais com gestores de três entidades ligadas ao setor farmacêutico: Sr.
Edson Tamacia, Presidente da Febrafar; Sr. José Amarildo Cabral, Diretor da
Farma & Cia. e Sr. José Marcelo Guidugli, Presidente da Procfit Soluções em
Informática, além do referencial teórico consultado.
A análise dos resultados foi baseada em técnicas estatísticas de análise
univariada e multivariada.
No âmbito das análises univariadas, foram utilizadas as estatísticas
descritivas pertinentes à escala definida nas assertivas (considerada escala
intervalar), como a média, mediana, moda, separatrizes (quartis, decis e
percentis) e as medidas de dispersão (desvio-padrão e coeficiente de
variação).
No âmbito das técnicas de análise estatística multivariada, foi utilizada a
técnica de Análise Fatorial Exploratória.
A opção pelo uso da Análise Fatorial Exploratória justificou-se pela
necessidade da redução de estrutura de variáveis avaliadas, com o intuito final
de encontrar características latentes ou subjacentes da opinião dos
respondentes. Corroborando essa justificativa, o quadro 2 apresenta os
56
objetivos dessa técnica segundo alguns autores que estudam a temática de
Análise Multivariada.
Embora a pesquisa seja de natureza quantitativa, o processo de
amostragem planejado foi não-probabilístico a partir do envio à população alvo
(gestores de farmácias independentes) do questionário já referido, com
assertivas que exploraram os objetivos deste estudo.
A pesquisa exploratória descritiva não-probabilística não permite fazer
conclusões que levem a inferir soluções para todo o universo pesquisado,
entretanto poderá ser utilizada para criar hipóteses para outros estudos mais
profundos.
Objetivos
Redução
do
número
de
variáveis para
fins de análise
Categoria
Fontes
Resolver o problema das inter-relações e correlações
entre um grande número de variáveis, apresentado-as
por meio de um menor número de fatores. Desta forma,
é possível juntar um maior número de variáveis,
representando um conceito mais geral
Aaker (1971)
Reduzir o número de variáveis requeridas para explicar
o fenômeno de interesse e gerar hipóteses através da
análise exploratória dos dados com base nos fatores
emergentes
Harman (1975)
Analisar o comportamento de uma variável ou grupos
de variáveis em covariação com outras
Green (1978)
Reduzir dados muito complexos a tamanho manuseável
para que o pesquisador possa interpretar melhor os
resultados
Kerlinger (1980)
Gerar um reduzido número de variáveis que
representam a maior parte da variabilidade dos dados
originais e que possam ser usados em análises
subseqüentes
Dillon e Goldstein
(1984)
Obter o menor número de variáveis a partir do material
original e reproduzir toda a informação de forma
resumida; obter os fatores que reproduzam um padrão
separado de relações entre as variáveis; interpretar de
forma lógica o padrão de relações entre as variáveis
Gontijo e Aguirre
(1988)
Investigar quais variáveis formam subconjuntos
coerentes e relativamente independentes uns dos
Tabachnick e
Fidell (1996)
57
outros
Identificar o maior número possível de variáveis
hipotéticas (fatores) que possam explicar a maior
percentagem possível da covariância entre as variáveis
Pasquali (2003)
Identificação da estrutura latente de um grupo de
variáveis, reduzindo os atributos de um grande número
de variáveis em um pequeno número de fatores
Garson (2007c)
Quadro 2 - Objetivos de aplicação da técnica de Análise Fatorial Exploratória
Fonte: Prearo (2008)
Seguem os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa,
esclarecendo-se que, para o processamento, foi utilizado o Software SPSS,
versão 12.0, que é uma ferramenta adequada para esse fim.
4.1 Amostra e Sujeitos da Pesquisa
O universo pesquisado contemplou as 3.061 farmácias vinculadas às 32
redes associativistas que integram a Febrafar, com um total de 426
questionários respondidos, que passaram a compor a amostra.
Visando aprofundar o conhecimento das particularidades que envolvem
as atividades das farmácias e colher subsídios para a elaboração do
instrumento de pesquisa (questionário) que foi aplicado, além do referencial
teórico consultado, foram realizadas entrevistas através de um roteiro de
perguntas que estão detalhadas na seção seguinte.
4.2. Entrevistas Realizadas
a) Sr. Edson Tamacia, Presidente da Febrafar – Federação Brasileira
das Redes Associativistas de Farmácias.
O Sr. Edson Tamascia é um profissional profundamente conhecedor das
atividades das farmácias, com mais de 30 anos de experiência nessa área. A
entrevista foi realizada no dia 05/05/2009, com início as 9:00 hs e término às
11:00 hs. Considerando a natureza da entrevista e os objetivos a que se
prestava, o entrevistador (que é o autor), gravou toda a entrevista, com a
permissão do entrevistado. Para que a entrevista seguisse uma seqüência
58
lógica, dentro dos objetivos traçados, o entrevistador valeu-se de um
questionário, não estruturado, buscando cobrir todos os temas julgados
importantes, as quais são transcritas abaixo, com as respectivas respostas:
Pergunta: Pelas informações disponíveis no site da Febrafar, hoje a federação
é composta por 26 centrais e cerca de 2500 farmácias. Os dados estão
atualizados?
Resposta: Sim, estas informações estão parcialmente atualizadas, pois
acabamos de inscrever mais três associações, ainda em fase de registros, e
temos mais algumas em fase de negociações.
Pergunta: Como é desenvolvido o trabalho de captação de novas redes?
Resposta: Nós recebemos muitos pedidos de entrada de redes, só que nossos
estatutos estabelecem que a federação também é uma associação, como
existem outras associações de farmácias, nós somos a associação das redes,
e os estatutos prevêem as regras de entrada e saída dos associados atuais.
Para entrar as redes devem estar dentro de um padrão respeitando o lay-out
de loja, ações comportamentais, nós fazemos uma pesquisa de mercado para
ver como é a imagem dessa rede junto aos fornecedores, o importante é
entendermos que a federação não é uma entidade política, que normalmente
todas as associações, todas as federações são entidades políticas, nós não
representamos o mercado farmacêutico, representamos um modelo de negócio
e por conseqüência natural a gente trabalha ligado ao fomento e não a parte
política, porque nós temos representantes através dos sindicatos, da
ABCfarma, que fazem a representação política, então nosso trabalho aqui é
muito voltado para a área comercial, para incremento de negócios, junto aos
distribuidores, industrias, prestadores de serviços, então esse é o nosso
trabalho, somos muito preocupados com essa área de treinamento,
qualificação dos empresários, não dos funcionários, mas dos empresários, os
funcionários são através do Sebrae, mas dos empresários é por nosso
intermédio, então, ao sermos abordados sobre a entrada de uma rede, a gente
averigua qual é o nível evolutivo que ela tem desde o início do processo e se
ela estiver dentro do padrão, ela passa a fazer parte do nosso quadro de
associados.
59
Pergunta: Essas redes que procuram entrar na Febrafar são redes de
farmácias independentes?
Resposta: nós temos duas modalidades de associados. Uma que se diz
franquia, mas não é bem franquia, pois a franquia tem um nível
comportamental até um pouco maior. Existe hoje dentro do nosso mercado de
farmácia um tipo de licenciamento de marca, uma marca que pertence a um
grupo ou a uma ou duas pessoas e eles montam uma central de negócios para
estruturar o funcionamento das farmácias dentro desse processo. A gente tem
algumas redes que pertencem a esta modalidade, que é de licenciamento de
marcas, mas a grande maioria, aproximadamente de 90%, são de
associativismo mesmo, e o que é um associativismo? É uma associação como
qualquer outra, de bairro de jogador de futebol, associação de qualquer coisa,
é uma associação sem fins lucrativos, registrada em cartório, e normalmente
ela é detentora de uma marca, a associação registra uma marca, no caso são
26 marcas, vou pegar como exemplo a minha marca, pois eu tenho farmácia e
faço parte de uma associação que fica em Piracicaba, então eu tenho uma
associação que chama-se Farmavip, essa rede que na verdade é uma
associação chamada Afip, que é a Associação de farmácias independentes da
região de Piracicaba, é uma associação registrada em cartório, e a Afip tem
uma marca chamada Farmavip, marca essa registrada no INPI, com o nome de
Farmavip. A Farmavip é utilizada por todos os associados que se enquadram
dentro de um padrão de negócios determinado por um estatuto. Então, uma
associação tem como objetivo, auxiliar as farmácias no sentido de que ela
tenha uma melhor qualidade na compra, que ela tenha uma mídia
compartilhada que fique mais barato, que permita que ela faça gerenciamento
de convênios com empresas através da central, para fazer treinamentos, fazer
uma série de serviços para o associado. E como isso é bancado, de onde sai o
dinheiro? Na verdade é o seguinte, nós temos por hábito nas nossas
conversações receber uma parcela de repasse que nós chamamos de verba de
mídia, que saem dos nossos próprios distribuidores que fazemos as parcerias,
e também uma mensalidade que recebemos dos nossos associados. Então,
uma associação é uma central de negócios.
60
Pergunta: E essa mensalidade, de forma geral guarda o mesmo tamanho, ou
depende de cada associação?
Resposta: Isto é muito relativo, cada rede acaba adotando uma modalidade,
um padrão, normalmente o que nós fazemos é na maioria das vezes, é ter
duas verbas, duas mensalidades, uma que nós chamamos de condomínio, que
é uma verba para custar as despesas fixas da associação, essa é dividida em
partes iguais para todo mundo e uma segunda que é uma verba de mídia, aí de
acordo com a capacidade de participação de cada um.
Pergunta: Essa rede Farmavip, de Piracicaba, quantas lojas ela possui?
Resposta: nós somos em 36 lojas, é uma característica também pois nós
temos rede de 30 lojas e temos rede de 400 lojas, porque o associativismo
nasceu quase que numa mesma época, entre 1994 e 1996, existia no Brasil
uma consultoria chamada IDEN Instituto de desenvolvimento, que organizou
praticamente todas essas associações, e pela dinâmica do Estado de São
Paulo, as associações aqui nasceram regionais, na época eu me lembro muito
bem, por exemplo, como é que você ia instalar uma rede na região de Rio
Claro, e eu estou a 30 quilômetros de Rio Claro, então nós fizemos a divisão da
região em função do sinal da Rede Globo, pois como um dos objetivos era a
mídia,
nós dividimos em razão do sinal da Globo, então, nós temos por
exemplo uma rede em Bauru, uma em Ribeirão Preto, uma rede em São José
do Rio Preto, na verdade em São Paulo nós somos 10 redes, então, assim foito
feito tudo regionalmente de acordo com o sinal da Rede Globo. Já em outros
estados, as associações na sua grande maioria, elas têm aspectos estaduais,
então você pega uma rede como a do Rio Grande do Sul, que é uma das
maiores redes que nós temos, não em número de lojas mas em potencial, ela
tem 350 lojas, ela atua no estado todo, portanto tem uma abrangência
estadual, com uma outra estrutura de negócios, as vezes ela tem supervisores
ou consultores de lojas, que visitam essas lojas, ou em alguns casos até
escritórios regionalizados, sempre de farmácias independentes.
Pergunta: Como vocês estabelecem o conceito de rede, ou seja, a partir de
quantas lojas vocês entendem que é uma rede?
61
Resposta: quando a pessoa já tem uma rede, a associação passa a não ser
mais interessante, pois ele fica maior que a associação, pois ele teria que em
paralelo com a associação, ele teria uma gestão centralizada do grupo dele,
então é natural que alguns empresários que estiveram conosco no início,
começaram a crescer e a associação deixou de ser interessante e ele também
passa a ser um problema para a associação, pois a associação é uma união de
empresários de pequeno e médio porte, e quando ele é muito grande, o nível
de negócio dele sobe muito e aí ele acaba recebendo uma quantidade de
benefício muito superior aos demais, e aí não vale a pena. Então, é comum
uma rede sair da associação.
Pergunta: em termos de gerais, quais os serviços que essas centrais prestam
aos seus associados?
Resposta: É muito importante a gente fazer essa colocação. Nós temos um
problema de concepção, seja ele na área farmacêutica ou qualquer outro
segmento, eu tive alguma experiência, pois faço um serviço de consultoria,
atendo a Fiesp, e outros grupos, tratando de associativismo, já tendo
oportunidade de montar associações de empresas de material de construção,
de autopeças, de supermercados, de lojas veterinárias, etc e basicamente
todas tem o mesmo problemas. Você tem dentro de uma associação, assim
como também dentro de uma empresa corporativa, aquilo que é tangível,
aquilo que você consegue ver dentro de um espaço de curto prazo, que no
nosso caso está muito voltado para as negociações comerciais, os
investimentos da indústria ao grupo, e isso é tangível e é o que o associado
mais quer, pois apesar de termos uma central de negócios, espera-se uma
associação de compras. Aquilo que não é tangível, aquilo que fica empírico,
por exemplo um treinamento, uma qualificação de pessoas, uma palestra que
você leva, uma informação diferenciada ou de uma forma mais elaborada, isso
não é percebido como serviço pelo associado, e ele melhora tornando-se uma
pessoa mais empreendedora pelo simples fato de ele estar se reunindo com
duas ou três vezes por mês com outros empresários, pois quando ele é
completamente independente e sozinho, ele sai da farmácia e vai para a casa
dele e deixa de falar de negócios e hoje ela sai da farmácia e vai para a
associação discutir mercado, parcerias, discutir o que está acontecendo com a
62
distribuidora XYZ, e naturalmente ele virá uma pessoa mais empreendedora,
mas ele nunca vai atribuir isso, de uma forma geral, à associação, mas se a
gente entender a associação como um todo nós temos alguns cuidados,
primeiro é a negociação mesmo que é o próprio negócio, segundo é a
modernização do PDV que é a autogestão, que também é altamente produtivo
neste sentido, treinamentos, busca de parcerias com empresas de tecnologia
principalmente, software, integração de dados, outro serviço que nós temos
bastante desenvolvido é convênios, cartões de crédito que a gente tem redes
bastante desenvolvidas, talvez esses cinco pontos sejam os principais, mas eu
considero o desenvolvimento do empreendedorismo como o principal produto
que nós temos, embora ele não tem como ser mensurado.
Pergunta: Existe algum estudo da Febrafar mostrando a situação de uma
farmácia independente antes e depois do associativismo?
Resposta: Existem sim estudos a respeito deste assunto, alguns viraram
dissertações de mestrado e tese de doutorado, porém eu tenho um estudo
muito bom Ada UNICAMP, este é um tipo de estudo que não há uma
percepção final por parte do empresário de farmácia. O estudo que eu tenho da
Unicamp
poderá
ser
disponibilizado
para
você,
ele
apura
questões
interessantes, por exemplo sobre se o empresário passou a ser mais
empreendedor, se passou a ter uma vantagem competitiva, e este estudo nos
prova que é muito vantajoso pertencer a uma associação.
Pergunta: E o resultado do estudo apresenta o que foi o ganho pelo
empresário, por exemplo, e vantagens em compras, antes e depois?
Resposta: Sim, eu tenho um estudo que mas ele é mais regionalizado, foi feito
pela Unimep que mostra o ganho obtido.
Pergunta: Edison, por que são 26 centrais e não mais?
Resposta: O associativismo é, acima de tudo, um comportamento pessoal, ele
não é um comportamento empresarial, viver em comunidade não é uma coisa
para todas as pessoas, mesmo sendo vantajoso em termos competitivos o
mundo é muito individualista. As pessoas entram numa associação, inclusive
eu falo um pouco sobre isso no meu blog, pois o associativismo é sempre
63
problemático, pegue por exemplo a União Européia, ela é uma associação de
países, mesmo tendo o euro e um bloco econômico mais forte do mundo, eles
vivem tendo problema, se você pega o Mercosul, ele é um associativismo. A
segunda guerra mundial foi também uma associação de países da coalizão que
se juntaram para derrotar a Alemanha e seus associados. Quando acabou a
guerra, começou uma segunda guerra que foi a guerra-fria provocada por dois
países que eram aliados, Russia e Estados Unidos. Quando eu entro numa
associação tenho o desejo que ela seja a extensão do meu negócio, então, se
eu gosto de mídia eu quero que a associação invista em mídia o tempo todo,
se eu sou uma pessoa que gosto de treinamento, eu quero que a associação
faça treinamento, e é difícil eu me convencer do contrário, porque a gente
sempre é o dono da razão, e não vemos a democracia com essa facilidade
toda, então o associativismo ele é para poucos, para as pessoas que doam um
pouco mais que a média.
Pergunta: Mas, de qualquer forma, vocês devem desenvolver um trabalho com
duas vertentes: uma para o incentivo do nascimento de novas centrais.
Resposta: Eu diria que não, a gente é muito reticente com o nascimento de
novas centrais, pois as centrais que deveriam existir, na minha concepção, elas
já existem. Existem muitas pessoas que entram para o associativismo com a
intenção de ganhar dinheiro. Você vê grupos se formando, mas ao verificar
você verá que existem interesses pessoais por trás de duas, três ou quatro
pessoas, que querem ficar com o repasse de verbas, querem isso ou aquilo,
então, são poucas as associações que realmente nascem com o desejo de
desenvolver o modelo. A gente é muito convidado para fazer palestras, e aí
você começa a fazer algumas perguntas e você percebe claramente o
seguinte, eles não querem desenvolver o associativismo, eles querem pegar
um grupo de empresários para explorar, e aí não desenvolve. Nós estamos
muito voltados para desenvolver as associações existentes.
Pergunta: Igualmente, também deve existir um trabalho junto às farmácias
independentes para estimulá-las à formação de uma eventual associação?
Resposta: Isso depende de cada rede local, que trabalham muito procurando
trazer novos associados para a sua central. Apesar de eu ter somente 26
64
redes, são 3.000 farmácias, eu tenho uma atuação praticamente no Brasil
inteiro. Eu tenho sede em 12 estados, mas eu tenho atuação em 17 estados.
Se você tirar os estados do Norte, que são mais difíceis para essa prática, eu
praticamente tenho associações em todos os lugares, então eu não tenho a
preocupação de fomentar uma associação no Rio de Janeiro sendo que eu já
tenho três lá. Não tenho também que fomentar no Espírito Santo, eu tenho
interesse que as associações do Espírito Santo consigam mais farmácias.
Então é importante que ela tenha uma estrutura de captação, que talvez seja o
nosso principal trabalho, de captação de lojas independentes para fazer parte
da associação.
Pergunta: Agora pensando na Febrafar, com uma atuação federativa, vocês
têm algum tipo de indicador de desempenho para mostrar como é essa
interação ao longo dos tempos?
Resposta: Na verdade nos temos aqui uma base muito interessante, que
infelizmente eu não posso disponibilizar, que é a informação real de vendas
das lojas, e eu tenho um produto chamado PGV, que é um processo
terceirizado, que faz parte da minha central Farmavip, onde a gente faz a
captação das informações financeiras, transforma isso em indicadores, repassa
para o farmacista usar, são cerca de 120 indicadores que mostram a evolução
por cada rede, e depois fazemos um consolidado da federação.
Pergunta: E o farmacista recebe informações sobre esses resultados?
Resposta: Ele tem uma reunião mensal para tratar disto. Ele vai para a reunião
com os dados dele e os indicadores, exemplo: venda por metro quadrado,
custo médio, venda por funcionário, o ponto de equilíbrio, níveis de
endividamento, participação de venda por categoria, participação de vendas
delivery, e eu tenho a média da febrafar e a média do grupo dele e aí ele pode
se comparar e aí a gente dá ferramentas para ele poder melhorar.
Pergunta: Nesse processo de apoio, por exemplo em compras, que deve ter
um maior peso no contexto das associações, tanto a febrafar como as
associações, devem desenvolver algum tipo de apoio mercadológico tipo layout de loja, padrão de fachada, etc. Como funciona isso?
65
Resposta: Na verdade, cada rede tem uma manual de padronização, que é
uma condição sine-qua-non para a existência de uma rede. Quando a
associação é formada, ela contrata uma agência de publicidade que monta um
manual de padronização, isso para efeito de lay-out de loja, agora para efeito
de negociação, nós temos a seguinte coisa, a febrafar não faz negócios, ela
auxilia as redes, pois há questões regionais, com questões tributárias de cada
estado, tem o próprio nível concorrencial de cada estado, pois um desconto de
10% aqui em São Paulo, não significa tanto como pode significar no Estado do
Rio Grande do Sul, então nós não entramos nesta seara, pois cada indústria
acaba tendo uma política regional bastante diferente uma das outras. O que
nós temos aqui na febrafar, em razão dos nossos estatutos, nós temos o que
chamamos de sócios honorários, que são indústrias que participam das nossas
reuniões, participam dos nossos encontros, participam da nossa feira, que se
chama fenofarma, temos dois encontros anuais com fornecedores, um foi há
duas semanas atrás, o outro será em setembro. Essas indústrias estão mais
próximas do nosso grupo. Por exemplo, eu almoço hoje com o pessoal da
Mantecorp e a noite eu vou fazer uma palestra para o pessoal da Sanofi. No
caso da Mantecorp, tudo que eles têm de novidade, a gente leva para o
associado, duas, três vezes por ano elas se encontram com nosso grupo. O
nosso grupo vem todos os presidentes de associações e gestores, que se
reúnem com a gente por causa da feira, pois na feira vem todo mundo, quando
a gente faz um evento que reúne cerca de 100/150 associados (pessoas).
Fizemos agora recentemente um encontro onde estiveram cerca de 35
indústrias, fornecedores, negociando com o grupo, então, esse é o nosso
trabalho na febrafar. Já o dia a dia de uma associação, ela é repleta de visitas,
como é uma rede corporativa, ela não compra em conjunto, mas ela negocia
em conjunto.
Pergunta: Quer dizer que não existe uma central que capta as necessidades
das farmácias?
Resposta: Existe um sistema que chamamos de SIC, sistema integrado de
compras, onde o associado faz compras de determinados produtos negociados
pela associação, que é um sistema semelhante ao do Farmalink, pois o meu
programador é o mesmo do farmalink. Quando a farmácia faz as suas compras
66
normais, ela compra diretamente do distribuidor que já fez a negociação com a
associação, pois são negociações de longa duração, com prazo indeterminado.
Quando um fornecedor oferece um produto com uma condições especial, esse
produto vai para o SIC (sistema integrado de compras) e a farmácia pode se
beneficiar daquela condição, porém o fataramento será sempre individualizado.
Pergunta: O SIC atende a todas as centrais?
Resposta: Existe um nacional, que a gente utiliza muito pouco, e temos um em
cada rede. São denominados Compras/Febrafar/nome da rede.
Pergunta: Edison, em termos de planejamento da febrafar, o que você imagina
para médio e longo prazos?
Resposta: Hoje o meu trabalho na febrafar está muito voltado para o trabalho
tecnológico, praticamente já integrando todas as redes, com a previsão de até
junho/09 eu vou ter um processo de integração de dados, de todas as
farmácias, em real time , este é um projeto que já está sendo desenvolvido há
um ano, agora em fase de finalização. Hoje se eu quiser já existe os dados
individualizados, faltando agora juntar e integrar, o que vai permitir que
tenhamos dados que ninguém tem. O que tem causado uma grande
preocupação para nós é o problema da qualificação, que nos levou a ter uma
parceria com o Sebrae, além do desenvolvimento do PGV para disponibilizar
as informações, além de alguns outros parceiros que nós trazemos, estamos
muito voltados para a qualificação, e um processo de desenvolvimento que
está todo na base do TI, com treinamento à distância, e uma série de produtos
nesse sentido. Uma coisa que fizemos neste ano com cerca de 80% (100%) é
muito difícil, que foi o a homologação de dois sistemas que estão sendo
implantados em todas essas redes.
Pergunta: Edison, essas cerca de 3000 lojas integradas à Febrafar, o que elas
representam de participação em termos de Brasil?
Resposta: Representam 5% do INS.
Pergunta: Esses 5% já foram mais, menos, como tem sido a participação?
67
Resposta: É um número que tem se mantido, pois entram lojas e saem lojas.
Com esses 5%, se eu fosse uma rede única de farmácia, eu seria a maior rede
do país.
Pergunta: Você tem uma idéia do faturamento médio por loja?
Resposta: É baixo quando a gente olha uma rede como a de vocês
(drogaverde), pois uma rede corporativa tem estrutura diferente. Quando você
olha para a INS, eu sou atrativo, tenho um faturamento médio por loja de R$
80.000,00 por loja. Quando você compara com uma rede corporativa regional,
onde a média é de R$ 130.000,00. Se você pegar o mercado como um todo
(Brasil), o faturamento médio não chega a R$ 50.000,00. O nosso, então, tem
um faturamento líquido de R$ 80.000,00, com um resultado líquido, pós prólabore, de 10%.
Pergunta: Esses estudos que mostram a situação das farmácias antes e depois
da associação poderão ser disponibilizados?
Resposta: Sim, eu vou disponibilizar para você.
Pergunta: A febrafarma nasceu quando?
Resposta: A primeira central foi a Multidrogas, que nasceu em 94. Entre 94 4
96 saíram todas as associações do Estado de São Paulo. Nós montamos uma
associação que era a Faesp, que estava em Campinas, e atendia o Estado de
São Paulo. Em 2000 eu já era o Presidente da Faesp. Em 2000 a Kimberly
Clark, através do seu grupo, estava formando um projeto de tecnologia e me
chamou para prestar um serviço para eles, e como o trabalho era a nível Brasil,
eu comecei a fazer contatos com as associações regionais e o pessoal tomou
conhecimento da Faesp e se interessou para que fosse criada a Febrafar, que
nasceu em fevereiro de 2000. Ela tomou corpo efetivamente em 2002, quando
foi registrada e montamos o escritório (até então funcionava pela Faesp) e eu
passei a me dedicar em tempo integral. Aqui a nossa característica é
sindicalista, todos os funcionários são remunerados, inclusive eu na condição
de presidente, aqui ninguém trabalha de graça, é claro que a gente tem que ter
uma paixão pelo associativismo, porém todos são profissionais. Nossa
68
estrutura é de 15 pessoas que trabalham conosco, cada um com a sua
atribuição claramente definida, além de alguns parceiros que a traz para
desenvolvimento de algum produto, aqui funciona como uma empresa.
Pergunta: O custeamento da febrafar é somente das taxas recebidas das
associações?
Resposta: Nós temos uma composição de receitas, uma parte vem das
associações, que representa 30% das nossas receitas, uma parte vem dos
sócios honorários, que representa 35%, e os outros 35% vem dos
distribuidores que nos fazem um repasse do volume comprado pelas
associações. Associativismo não se faz sem dinheiro. Se você juntar um bando
de pobres não dá um rico, dá uma favela.
Pergunta: Na parte de mídia, a febrafar desenvolve ações globais em nível
nacional ou são ações regionais das associações?
Resposta: Aqui nós somos um ponto de convergência, porém as ações de
mídia são regionais. ÀS vezes duas ou três associações se juntam para
alguma campanha específica. Às vezes uma campanha desenvolvida para uma
região, é estendida para outras. Aqui nós não somos os agenciadores, somos
os fomentadores e facilitadores. Cada rede tem um trabalho independente. Já
fizemos aqui campanhas a nível nacional, mas voltadas a aspectos sociais,
pois quando é comercial é feita pelas redes.
Pergunta: Quando estamos falando de mídia, estamos nos referindo, a TV,
rádio, tablóide, enfim, tudo que se refere à mídia.
Resposta: Os tablóides, nós temos alguns parceiros. Por exemplo, tem uma
gráfica aqui em São Paulo, que faz os tablóides para todas as redes. As
próprias distribuidoras acabam fazendo muito, mas é independente. Cada rede
tem uma vida própria.
Pergunta: Existe alguma central muito desenvolvida, que além do trabalho igual
às demais, ela faz um trabalho logístico, com centro de distribuição?
Resposta: Temos sim, algumas. A minha rede que é a Farmavip, nós temos
uma distribuidora, que é uma empresa paralela, na qual nós somos sócios.
69
Tem a Multidrogas, de São José do Rio Preto, que no caso dela é uma
cooperativa dentro da associação, e temos no Rio Grande do Sul temos a
Agafarma, que é a nossa rede mais bem estruturada, que tem inclusive uma
empresa de marketing que é dela, uma empresa bancária, que também é dela,
com um cartão de crédito próprio, possuem 330 lojas. É a maior rede do Rio
Grande do Sul.
Pergunta: No caso de treinamento de pessoal, tanto das associações como das
farmácias, ele vai até que nível de pessoal?
Resposta: Uma das missões de uma rede é melhorar a qualificação do seu
pessoal. Tem muito treinamento para funcionário. A própria indústria
disponibiliza esses treinamentos. Nós temos um trabalho forte com o Sebrae
de desenvolvimento do pessoal. Porém, o treinamento a nível empresarial,
normalmente é feito por mim, seja treinamento e palestras. O próprio PGV,
(painel de gestão do Varejo) onde a gente fica em cima de números. Tem eu e
mais dois associados, que um é meu diretor que fica aqui e outro é de um
associado que fica em Sorocaba, que também me ajudam, então hoje eu
tenho, neste momento, treze grupos empresariais apenas lá sendo treinados.
Amanhã eu vou para o Espírito Santo e fico dois dias lá, reúno os empresários
e fico fazendo isso durante 8 meses por ano, praticamente todos os dias.
Então, hoje eu tenho Foz do Iguaçu, Londrina, Curitiba, Minas Gerais, Rio de
Janeiro, Vitória, Goiânia, tudo que eu faço normalmente.
Pergunta: Na parte de impostos, o varejo tem um grande peso do ICMS, aqui
no Estado de São Paulo, qual foi o impacto que trouse a substituição tributária
junto aos seus associados e as farmácias?
Resposta: É um assunto muito complicado. Eu, particularmente, adoro o
imposto, pelo menos ele deixa todo mundo na mesma base. Eu não gosto em
uma sociedade onde o imposto se dá pelo subterfúgio do negócio, seja pela
compra interestadual, seja pela compra sem nota. Quando pagamos imposto
podemos exigir do nosso governante, mas aí é muito mais uma ação de
cidadão do que uma ação empresarial. Eu gosto do modelo de substituição
porque ele coloca todo mundo no mesmo patamar. Pela primeira vez no
mercado farmacêutica nós temos que a competitividade se dá pela
70
competência e não pela coragem, onde grupos aparecem e outros
desaparecem, ficam os que são competentes, este é o primeiro ponto. E
segundo, o que sempre falo para os associados, o ICMS é um imposto pago
pelo cidadão e não pelo empresário. SE baixar o ICMS vai baixar o preço do
remédio como aconteceu no Paraná neste momento, onde o ICMS foi reduzido
de 18% para 12% e o remédio baixou 6%, então, eu vou brigar pela associação
ou vou brigar pelo cidadão. A substituição é uma forma de não deixar que uma
pessoa leve vantagem em detrimento a outra. Mas com tudo isso, é claro que
teve impacto. O mercado é feito por um modelo de empresário, Existe aquele
incompetente que vai ficando para trás e vai surgindo outro que faz com
competência. Você teve empresários competentes para administrar durante a
inflação, enquanto você tem outros competentes para administrar no caos.
Depois você teve alguns empresários que aproveitaram o crédito e montaram
uma grande rede. Hoje o mercado é feito da competência gerencial, vai ter
pessoas capacitadas para trabalhar neste modelo, vai ter pessoas que vão
quebrar e vão surgir outros em seu lugar. O mercado é feito de pessoas
competentes, em qualquer segmento. O mercado faz com que surjam pessoas
competentes para um determinado modelo. Como eu sempre digo, a
informalidade é um problema de cada um, mas não pode ser um modelo de
lucratividade. Com a substituição tributária, o dono da farmácia tem que fazer a
folha de pagamento caber dentro do lucro bruto dele, também as despesas
administrativas, ou seja, ele tem que se medir, ele tem que fazer sobrar.
Antigamente, para dar resultado agente rasgava duas ou três notas, agora não
pode mais.
Pergunta: Edison, o relacionamento da Febrafar vai até o nível das
associações ou ele desce também no nível das farmácias?
Resposta: A febrafar não, se relaciona somente com as associações. A gente
tem um site de comunicação, que tem um acesso muito grande, onde a gente
publica muita coisa para o associado, apesar de termos os e-mails de todas as
farmácias, raramente nós fazemos algum comunicado diretamente para as
farmácias.
71
b)Sr. José Amarildo Cabral, Diretor da Farma & Cia.
Possui mais de 20 anos de experiência em farmácias. É o Diretor
Operacional que dá suporte para 61 farmácias que integram a Farma & Cia,
que, por sua vez, é uma das 32 associações afiliadas a Febrafar. .A
entrevista foi realizada no dia 15/06/09, com início as 9:00 hs e
encerramento as 10:00 hs. Nesta entrevista, considerando as afirmações
feitas pelo Sr. Edson Tamascia, que é o Presidente da Febrafar, onde a
Farma & Cia é afiliada, procuramos explorar mais o relacionamento entre a
associação e as farmácias e os serviços que são prestados.
Pergunta: Qual a região geográfica abrangida pela Farma & Cia?
Resposta: São Paulo, Grande São Paulo e um loja em Bragança Paulista.
Pergunta: As 61 farmácias integrantes pertencem a 61 donos ou existem
donos com mais de uma farmácia?
Resposta: São 61 farmácias e 47 CNPJ’s.
Pergunta: Quais são os serviços que a associação presta para as farmácias
afiliadas?
Resposta: O principal trabalho é de negociação de descontos nas compras
realizadas junto às indústrias e os distribuidores; boa parte do trabalho é de
consultoria de campo: cuidar da fachada das lojas, posicionamento da
marca, lay-out das lojas, e checar se os acordos estão sendo cumpridos.
Pergunta: E como é feita essa checagem?
Resposta: As farmácias são independentes com relação aos seus negócios.
Toda apuração que fazemos é resultante das informações que nos são
transmitidas pelos gestores das farmácias.
Pergunta: No dia-a-dia da operação, as farmácias se sentem socorridas
pela associação?
Resposta: Sim, pois há um canal aberto para todo tipo de consulta, inclusive
suporte jurídico e negociação com as administradoras de cartões de crédito.
72
Pergunta: Qual o suporte que vocês recebem diretamente da Febrafar?
Resposta: A Febrafar dá o suporte de treinamento, que é realizado em
parceria com o Sebrae, com a garantia de que a cada ano todos os
funcionários recebem algum tipo de treinamento.
Pergunta: Como funciona o trabalho da associação no suporte junto à
mídia, informática e outros serviços especiais?
Resposta: A contratação de tablóides (320.000/mês) é feita pela
associação. Temos uma unidade na associação que cuida especificamente
dos acordos com empresas para formalização de vendas corporativas para
seus funcionários, em condições especiais; Estamos em fase final de
contratação de um software que irá padronizar os trabalhos de todas as
farmácias da nossa rede, o que permitirá o conhecimento de informações
com o mesmo formato.
Pergunta: Qual o custo mensal de cada farmácia para com a associação?
Resposta: É de R$ 700.00 a R$ 800,00 mensais, cobrados no modelo
condominial, ou seja, rateia-se todas as despesas despendidas pela
associação.
Pergunta: Em seu sentimento, uma vez que o seu trabalho é de dar o
suporte operacional para as 61 lojas, a associação trouxe uma melhora
para o resultado das farmácias associadas? De quanto?
Resposta: A experiência que temos com as nossas farmácias nos permite
garantir que a melhoria no faturamento aumenta 30% após o ingresso de
qualquer farmácia independente na associação.
c) Sr. José Marcelo Guidugli, Presidente da Procfit Soluções em
Informática, que presta serviços de VAN (Value-add.Network)
O Sr. Marcelo é um fornecedor de serviços de informática na área
logística, nas compras conjuntas realizadas por associações de farmácias,
73
atendendo a um conjunto superior a 300 farmácias vinculadas a duas
associações, tendo iniciado as atividades em abril de 2008.
Pergunta: Quantas farmácias são atendidas e por quantas associações?
Resposta: Atualmente são duas Centrais, uma é a Valeverde de Londrina que
é uma rede regional que atende algumas cidades da região de Londrina e foi a
primeira a ser atendida pela Van e a outra é a Farmais, que possui atualmente
cerca de 200 farmácias integradas. A diferença entre ambas é que a Farmais é
uma rede de franquia e a outra é uma rede própria.
Pergunta: Pergunta: Quantas farmácias possui a Valeverde?
Resposta: São 22 lojas integradas enquanto a Farmais são ao todo 547 lojas,
porém com cerca de 200 integradas à Van.
Pergunta:Quais as garantias de que a Van está comprando os produtos no
mercado com as melhores condições existentes?
Resposta: Os distribuidores parceiros, que são os maiores, Panarello, Santa
Cruz, Profarma, Servimed, eles fornecem semanalmente um mix de produtos
com os preços, descontos e até mesmo com as condições tributárias e nós
importamos essas informações para dentro do nosso sistema. Acontece
durante a semana de ter alguma promoção que beneficie a rede eles nos
enviam por e-mail essas informações e nós fazemos uma atualização manual
no sistema, mas o mix fornecido semanalmente tem uma validade semanal,
então, automaticamente, com base nesse mix, o sistema encontra, com base
na demanda das lojas, a necessidade de comprar e passa pelo mix
encontrando o melhor preço.
Pergunta: As redes maiores (Drogasil, drogaraia, drogaria são Paulo) com um
número de farmácias individualmente maior do que o número de farmácias que
a Van atende, devem estar comprando em melhores condições. Como funciona
esse processo junto às indústrias e os distribuidores?
Resposta: No caso da Farmais, ela possui uma central com uma pessoa
responsável para os chamados novos negócios e normalmente essa pessoa
leva a industria para negociar dentro da Farmais e os distribuidores funcionam,
74
nesse caso, como se fosse um distribuidor logístico nessas negociais, então,
imagina a farmais por ser uma rede de franquia, as compras são
independentes, conseqüentemente a industria não consegue enxergar ela
como uma rede e é aí que ela perde o negócio, perde o desconto valores
melhores em função de campanha. Já com uma negociação dentro da central,
isso é repassado para todos os franqueados conectados à Van e é mais um
incremento de benefícios, então, além da Van oferecer os melhores preços dos
distribuidores, a negociação que é feita com a industria, ela é automaticamente
transferida para todos os franqueados como um benefício no preço.
Pergunta: Você teria uma idéia sobre os volumes dessas compras realizadas
pelas Van, valores e quantidades, para medicamentos e não-medicamentos?
Resposta: Atualmente a Van tem ai 80% do movimento, tanto na Farmais como
na Valeverde, é de medicamentos. Perfumaria ainda é bastante complicado, os
grandes parceiros conectados à Van ainda são poucos, como no caso da
Servimed, mas são poucos os que fazem parte dessa integração, a Van exige
uma integração tecnológica e como os distribuidores de perfumaria não são
grandes, é mais difícil essa integração, então 80% é de medicamentos e 20%
DE PERFUMARIA ou de não-medicamentos. Desse volume, no caso da
Valeverde, ela tem praticamente 100% das compras de medicamentos feitos
na Van e uma grande representatividade de perfumaria, no caso da Veleverde,
inclusive, tem outros distribuidores no Sul muito fortes em perfumarias. Hoje
eles já têm 12 parceiros integrados na Van, um pouco mais do que a Farmais
aqui em São Paulo. No caso da Farmais a parte de perfumaria está bem
aquém da expectativa, mas das 200 lojas integradas, cerca de 70% das
compras são feitas através da Van. No caso da Farmais, 70% são
medicamentos, e no caso da perfumaria, elas compram independente ou
possui alguma espécie de parceria entre elas para otimizar os custos?
Atualmente muitos franqueados tem poder de compra direta no entanto a
farmais faz um papel fundamental na integração das lojas independentes
buscando melhores preços e condições especiais para os franqueados. Eu
acredito que a Van, do mesmo jeito que ela está viabilizando essa central de
compra de medicamento, o próximo passo é buscar isso também com
perfumaria e produtos não-medicamento.
75
Pergunta: Você tem idéia desses dois clientes, tanto Farmais como Valeverde,
que economia eles passaram a ter a implantação dessa sistemática da Van?
Resposta: Nós já tivemos fazendo esse levantamento e no caso desses dois
clientes, eles conseguiram uma redução no CVM de 1,25% do CMV anterior.
Pergunta: Como é feita a prestação de contas para os clientes, ou seja, como
os clientes ficam sabendo que estão comprando pelos melhores preços e
condições de pagamento?
Resposta: O sistema tem um módulo que chama Client, que fica disponível na
estação de trabalho dos franqueados, que tem disponível essa informação
além de ter a informação sobre a demanda daquela loja, já traz a sugestão de
compra em função dos produtos vendidos, bem como o melhor preço com a
informação do fornecedor que ganhou, inclusive ela traz esses valores
comparando com o custo da compra anterior, então imagine que estou fazendo
uma projeção de compra agora então o sistema já traz as melhores condições
comparando com os custos da compra anterior. Quando a Van detecta que o
custo da compra anterior foi melhor, ela já adota a comunicação aos
fornecedores que imediatamente ajustam novamente os preços e os benefícios
são repassados novamente aos clientes. Essa anomalia tem acontecido cada
vez menos pois os fornecedores percebem que existe um controle e passam a
ter maior seriedade na hora de fornecer o mix. Uma outra coisa que também é
muito importante, que após a implantação da Van na Farmais, as industrias
passaram a enxergar a Farmais como uma rede, o que antes eles
consideravam cada loja de forma independente. Agora com a Van, as
campanhas são centralizadas gerando benefícios antes não obtidos, pois as
industrias deixaram de considerar as lojas de forma isolada e passaram a
considerar a Farmais como uma rede, o que fará com que ela seja considerada
a maior rede de farmácias.
Pergunta: Marcelo, A Van surgiu quando, ela possui concorrentes no Brasil e
quantos existem, e o crescimento da Van depende fundamentalmente da
conquista de novos clientes, que tipo de ação você está desenvolvendo para a
conquista de novos clientes e aumentar os volumes?
76
Resposta: A Van surgiu na década passada nos EU como um integrador de
informações, pois nos EU as empresas são altamente informatizadas e havia a
necessidade de troca de informações entre as empresas e como cada empresa
usava o seu próprio sistema, com formatações diferentes, a troca de
informações não era tão simples e obrigava o desenvolvimento de interfaces
para a integração dessas informações e ai surgiram as Vans, voltadas para a
prestação de serviços de integração dos sistemas das várias empresas, então
um próximo cliente a integrar uma Van, se ele fizesse parte de um sistema
onde a Van dava cobertura, ela já estava automaticamente integrado. No inicio
a Van atendeu ao mercado da industria automobilística no processo de Just in
time, então a industria automobilística gerava sua necessidade de peças, as
industrias de auto-peças por sua vez recebiam os pedidos e retornavam suas
notas fiscais in voice e com as informações de faturamento mercadoria e isso
passou a ser utilizado fortemente pelos bancos, pelas operadoras de cartões
de crédito, sempre trocando informação, então, o objetivo principal da Van era
padronizar a troca de informação, então, seja lá a linguagem e formato de
dados que o usuário tem, a Van traduz isso. Nós aqui da Procfit, nós copiamos
essa idéia e agregamos algo mais pois no Brasil, já agora nesta década, já tem
muitas Vans operando e fazendo esse mesmo trabalho que faz nos EU, então
para nós entrarmos apenas como um intérprete de dados e informações, ou
seja converter os dados do cliente A para o cliente B, nós temos meia dúzia de
concorrentes no Brasil, mas não teríamos nenhum diferencial a oferecer aos
nossos clientes, então a idéia de criar uma Van que
além de levar a
informação ao fornecedor, trazer de volta, levar ao varejo, independentemente
da tecnologia usada por cada uma das pontas, nós resolvemos também cuidar
do negócio, então no caso da nossa Van, que chamamos de Farmavan,
resolvemos colocar todo o cálculo de demanda da loja, encontrar qual é o
melhor fornecedor, não só levar a informação para o fornecedor, mas entender,
pela demanda, pelas vendas que nós capturamos das lojas, pelo mix que nós
temos de produtos, qual o melhor fornecedor e ai sim, nós passamos a fazer o
que as outras Vans fazem, que é levar o pedido para um, retornar com a nota
fiscal no varejo. Esse diferencial que é a cotação é um processo exclusivo
nosso, por enquanto nós somos a única van com esse tipo de trabalho. Eu fui
na apresentação de um processo parecido na Ems, grande player mundial, que
77
ainda está numa fase de prospecção, tanto de clientes como de fornecedores,
para fazer o que nós já fazemos atualmente, que é a negociação eletrônica.
Acredito que logo mais vamos ter esse concorrente, só que o foco da Sem não
é o tipo de nosso cliente, acredito que não teremos problemas tão cedo.
Pergunta: Marcelo, em linhas gerais, como está desenhado o fluxo de
informações a partir da necessidade, ou seja, da detecção da necessidade de
compra de uma integrante de uma central, tanto de Farmais como Valeverde?
Resposta: Detectada a necessidade de compra, como é o seu fluxo? Funciona
da seguinte forma: independente do sistema do PDV que o cliente tenha
instalado, a Van tem uma tecnologia chamada de web service, onde ela recebe
vários formatos diferentes da informação de venda, então passou um produto
lá no PDV, fechou a venda, essa venda é mandada para a Van pelo web
service, e a van vai acumulando essas informações e calculando a demanda
de cada loja integrada. Com base nessa demanda, ou seja com base naquilo
que está sendo vendido, eu preciso repor, então a van vai até o mix e calcula a
demanda potencial, já detecta quais os melhores preços, gera uma base de
dados nas nuvens (cloud computer) para que no outro dia, através do client da
van o gerente da loja ou o proprietário, acesse o client da van e tem as
informações dos produtos vendidos no dia anterior, quais os fornecedores que
dispõe dos produtos, os melhores preços, quais as condições daquele produto.
A partir daí ele pode confirmar a quantidade que está sendo sugerida, ou
aumenta e até diminui a quantidade. Confirmada a quantidade, o sistema gera
automaticamente o pedido ao fornecedor do primeiro melhor preço, Em
questão de segundos chega a resposta do fornecedor, que pode confirmar ou
informar que não dispõe da mercadoria, instante em que é gerada a sugestão
da compra para o segundo melhor preço, o qual será submetido novamente ao
gerente e reiniciar o ciclo. O processo vai somente até o terceiro melhor preço,
isso quando não é localizada a mercadoria. O faturamento sai do fornecedor
diretamente para o franqueado no caso da Farmais ou no outro caso para a
rede Valeverde.
Pergunta: Na hipótese da conquista de um novo cliente, ele passa a gozar dos
mesmos preços conseguidos pelos clientes antigos?
78
Resposta: Infelizmente não, os fornecedores, distribuidores, ainda não
conseguem entender a Van como um cliente, eles entendem a Van como uma
empresa de troca de dados, que encontra o melhor preço para o varejo, então
eles fornecem o mix tudo de novo, o mix para aquela nova rede, tudo de novo,
inclusive nós estamos experimentando essa experiência porque nós temos
uma nova empresa ai candidata a ser cliente da Van e a gente começou todo o
processo de negociação com os fornecedores para troca de informação e no
primeiro instante da conversa nós já falamos pra esse ai o preço é diferente
heim, então começa tudo de novo e quem vai realmente buscar o melhor preço
em questão de negociação ai é a própria central de compras, a gente orienta,
ajuda, colabora, mas normalmente é a central.
Pergunta: Marcelo, pensando num rol de produtos que a Van poderia prestar
além de intermediar as compras, que mais está sendo projetado e
disponibilizado?
Resposta: Então, olha que interessante, existem funções que acabam
aparecendo no decorrer do processo de utilização do produto, tecnologia é
isso, tudo que você implanta hoje, amanhã tem uma nova demanda, uma outra
oportunidade e tal, no caso da Valeverde, ela possui além da nossa Van, o
nosso ERP, então ela tem o BI, toda a gestão da empresa integrada, mas no
caso da Farmais não, cada franqueado tem o seu sistema, vários é claro
utilizam o sistema Farmais, outros utilizam diversos sistemas disponibilizados
no mercado, e ela também não tinha as informações de compra e venda em
mãos para poder fazer uma gestão e até mesmo uma negociação melhor,
principalmente com a indústria farmacêutica, com a entrada da Van, nós
conseguimos
disponibilizar
para
a
central
Farmais,
informações
importantíssimas, super relevantes para a tomada de decisão, e também, para
exercer o poder de persuasão ou de negociação junto aos distribuidores, e até
mesmo os laboratórios, através do BI, coisa que eles não conseguiam, então, é
mais um serviço que nós estamos agregando na Van, inclusive está sendo feito
um adendo ao contrato para o fornecimento do BI para a central Farmais, então
com essas informações ela começa a ter agora coisas que ela não tinha até
então, que outras redes têm, por exemplo, qual a ocorrência de venda do
produto A com o produto B, por região, por cidade, ela não tinha condições de
definir políticas tão bem definidas, de descontos, compras casadas, por não ter
79
a informação centralizada, a Van acabou permitindo isso através do BI, então é
mais um serviço que permitiu a disponibilização de compra e venda de toda a
central.
Pergunta: Marcelo, em termos de capacidade instalada, tanto de software
como de hardware, qual é a condição atual da Van para enfrentar um eventual
crescimento e um novo posicionamento no mercado?
Resposta: Pensando nisso e mais do que isso, não só na expansão, mas na
disponibilidade, que é estar disponível 24 horas, independente de onde esteja a
loja conectada à nossa Van, nós partimos para um modelo de trabalho com
cloud computer (computador nas nuvens) então, nós temos um grande data
Center que nos atende, um dos maiores do Brasil, fizemos um contrato com
esse data Center, e nós pagamos por demanda, então, como funciona essa
demanda? Nós contratamos um nível de servidor, e a cada dia, com a inclusão
de novas lojas, e o aumento de volume, o contrato cobre essas ampliações
automáticas, para ter idéia, esse nosso fornecedor, que no caso é a Local Web,
que é um Data Center muito bem conceituado no mercado, nós conseguimos,
remotamente, adicionar processadores, espaços na memória, aumentar a
nossa banda de comunicação, ou até eventualmente diminuir, mas como nós
estamos num processo de expansão, nós somente experimentamos até agora
aumentos desses recursos, e em três horas, no máximo, os recursos são
adicionados ao nosso servidor, na verdade isso acontece através de um
modelo de que é um virtual machine, que tem grandes servidores que para nós
isso é transparente e de acordo com a nossa demanda e necessidade, nós
solicitamos através do configurador, e em até três horas eles fazem a
expansão solicitada no servidor no qual estamos hospedados. Atualmente nós
temos um servidor convencional à nossa disposição, bi-processado, com meio
terá de espaço em disco e uma comunicação com uma banda de comunicação
de 15 megas, isso ta sobrando, conforme nós planejamos para sobrar mesmo,
e a gente monitora isto diariamente, e estamos muito longe de atingir os limites
definidos para essa configuração, mas quando esse limite chegar próximo de
80% a gente faz um incremento de configuração, então, em três horas o
incremento é adicionado.
80
4.3 Instrumento da Pesquisa
Com base nas informações extraídas do referencial bibliográfico
consultado e das entrevistas realizadas com os especialistas antes
mencionados, foi elaborado o instrumento da pesquisa, que consistiu em um
questionário com 30 assertivas cobrindo todos os dados importantes coletados.
Quando da elaboração da primeira versão do questionário, o mesmo foi
intensamente testado pela Febrafar que fez um teste em algumas redes
associadas, além de alguns profissionais que trabalham na Febrafar. Em
decorrência, foram sugeridos alguns ajustes no instrumento que, pela sua
pertinência, foram plenamente acatados, resultando no instrumento final,
conforme quadro 3 abaixo:
1. A Fachada da minha loja passou a ser um diferencial positivo após o ingresso na rede.
2. A marca da rede passou a atrair mais clientes.
3. A rede contribuiu para a melhoria do ambiente da farmácia (luminosidade, temperatura, limpeza...)
4. A rede ajudou a melhorar a comunicação interna (cartazes, displays e exposição)
5. A padronização dos funcionários (uniforme, cabelos, barba, unhas), após a rede, deu maior
confiabilidade para os clientes.
6. Após o treinamento oferecido pela rede, os atendentes da minha farmácia atendem com mais
simpatia, ouvem com mais atenção e orientam corretamente os clientes.
7. A reorganização trazida pela rede, ajudou os atendentes da minha farmácia a encontrar rapidamente
os produtos solicitados pelos clientes.
8. Nossos preços ficaram mais competitivos, após o ingresso da minha farmácia na rede.
9. O lucro da minha farmácia aumentou após o ingresso na rede.
10. A falta de produtos diminuiu após o ingresso da minha farmácia na rede.
11. Após o ingresso da minha farmácia na rede, o treinamento dos funcionários melhorou.
12. Os funcionários da minha farmácia recebem treinamento com regularidade (mínimo de 1 vez por
ano).
13. As vendas com cartões de crédito/débito aumentaram após o ingresso da minha farmácia na rede.
14. A perda com cheques devolvidos diminuiu após o ingresso da minha farmácia na rede.
15. As vendas por meio de convênios com empresas aumentaram após o ingresso da minha farmácia
na rede.
16. Após o ingresso da minha farmácia na rede passamos a ter maior visibilidade na mídia.
17. Houve um aumento na realização de campanhas promocionais (tablóides/panfletos) após o ingresso
da minha farmácia na rede.
18. Por meio da rede a qual pertencemos temos conseguido comprar com custos menores e melhores
condições de pagamento.
19. Após o ingresso da minha farmácia na rede, passamos a receber visitas periódicas de
representantes da rede, evidenciando nossas necessidades e o desenvolvimento de ações conjuntas.
81
20. Após o ingresso da minha farmácia na rede houve um aumento no mix de produtos.
21. A rede tem incentivado a criação de produtos próprios com marca da rede, permitindo um diferencial
perante os produtos similares comercializados pela concorrência.
22. Após o ingresso da minha farmácia na rede temos recebido benefícios econômicos, seja através de
mercadorias bonificadas ou mesmo de financiamento de algumas campanhas de marketing.
23. O nível de informação sobre as novidades ocorridas no setor de farmácias aumentou Após o
ingresso da minha farmácia na rede.
24. Minha farmácia tem um canal permanente com todos os setores da rede.
25. A rede proporciona uma grande união entre os donos das farmácias integrantes, permitindo a troca
de experiências e o crescimento conjunto.
26. Por meio da rede minha farmácia tem conseguido a realização de compras conjuntas com as
demais farmácias integrantes, em grandes quantidades, proporcionando à minha farmácia um maior
poder de barganha e acesso aos grandes fornecedores (indústrias e distribuidores) do mercado.
27. A utilização de uma marca forte (nome da rede) na fachada e nas dependências da minha farmácia
é um dos pontos mais importantes da rede.
28. Após o ingresso da minha farmácia na rede houve uma melhora na qualificação da gestão e dos
funcionários da minha farmácia.
29. As compras conjuntas que são viabilizadas pela rede trazem uma melhora nas margens de
comercialização e um aumento considerável no faturamento da minha farmácia.
30. A melhora no resultado gerado pelas compras conjuntas permite que a minha farmácia tenha um
desempenho que dificilmente seria alcançado sem o ingresso na rede.
Quadro 3 – Assertivas do Instrumento de Pesquisa
Fonte: Elaborado pelo Autor
4.4. Resultados da Pesquisa Quantitativa de Campo
4.4.1 Análise e Discussão dos Resultados
A análise dos resultados foi feita por meio da Análise Fatorial
Exploratória.
A análise fatorial analisa uma estrutura das correlações entre um grande
número de variáveis, definindo um conjunto de dimensões chamadas fatores.
Essa técnica de análise é uma técnica de interdependência na qual todas as
variáveis são simultaneamente consideradas, cada uma relacionada com as
outras, empregando a composição linear de variáveis (HAIR et al., 2005a).
4.4.2 Análise Descritiva da Pesquisa
A pesquisa foi feita de forma não-aleatória com as 3.061 farmácias
integrantes das 32 redes associativistas vinculadas à Febrafar, durante o
período de 21/10/2009 a 20/11/2009.
Foram enviados 3.061 instrumentos de pesquisa eletronicamente por email, com um resultado de 426 questionários respondidos, representando
82
13,9% do total de questionários enviados, podendo ser considerado um ótimo
resultado. Para Hair et al. (2005b), uma Análise Fatorial Exploratória, para ter
consistência, precisa de um mínimo de cinco respondentes para cada uma das
assertivas. O instrumento de pesquisa, com 30 assertivas, requereria um total
mínimo de 150 respondentes, portanto, a quantidade de 426 respostas atende
suficientemente as exigências técnicas requeridas por esta metodologia.
4.4.3 Análise Descritiva dos Respondentes
Conforme a Tabela 2 são apresentas as 3.061 farmácias vinculadas às
suas respectivas redes, distribuídas por região geográfica, com os resultados
quantitativos dos questionários enviados.
A Região Nordeste, com 1.279 farmácias, apresentou o índice de
respostas de 3,52% do total de respostas; a Região Sudeste, com 894
farmácias, apresentou 33,80% das respostas; a Região Sul foi a que
apresentou o melhor índice de todas as regiões, com 728 farmácias,
apresentou 62,68% do total das respostas, enquanto que a Região CentroOeste não teve nenhuma participação. Foi esclarecido que as duas
associações localizadas no Centro-Oeste foram vinculadas à Febrafar
recentemente, não possuindo, ainda, um histórico que permitisse responder o
questionário.
Tabela 2 – Resultados quantitativos dos questionários enviados
FEBRAFAR - REDES ASSOCIADAS
Região e
Universo
Redes /
Pesquisado
Universo
Febrafar - Total de Farmácias no Brasil
Rede
Cidade
Amostra /
População
3061
100%
426
100%
13,92
1279
41,78%
15
3,52%
0,49%
1
0,23%
0,03%
14
3,29%
0,46%
FARMANOSSA
Fortaleza
CE
464
15,16%
MULTMAIS
Salvador
BA
296
9,67%
UNIFARMA
Natal
RN
317
10,36%
Salvador
BA
137
4,48%
João Pessoa
PB
65
2,12%
REDEMAIS FARMA
Região /
Amostra
U.F.
Região Nordeste
BOA FARMA
Amostra
83
Região Sudeste
CITYFARMA
894
29,21%
144
33,80%
4,70%
Rio de Janeiro
RJ
136
4,44%
20
4,69%
0,65%
S.J. do Rio Preto
SP
120
3,92%
1
0,23%
0,03%
Praia do Suá
ES
66
2,16%
25
5,87%
0,82%
São Paulo
SP
61
1,99%
Ribeirão Preto
SP
58
1,89%
22
5,16%
0,72%
BLUEFARMA
Catanduva
SP
53
1,73%
2
0,47%
0,07%
REDE ATUAL
Rio de Janeiro
RJ
52
1,70%
12
2,82%
0,39%
FARMA 100
S.B.do Campo
SP
44
1,44%
7
1,64%
0,23%
Bambuí
MG
39
1,27%
9
2,11%
0,29%
BIODROGAS
Bauru
SP
37
1,21%
7
1,64%
0,23%
FARMAVIP
Limeira
SP
34
1,11%
5
1,17%
0,16%
Campinas
SP
34
1,11%
Três Pontas
MG
33
1,08%
10
2,35%
0,33%
DROGA REDE
Poços de Caldas
MG
32
1,05%
3
0,70%
0,10%
FARMAFORT
Sorocaba
SP
31
1,01%
4
0,94%
0,13%
NETFARMA
Descalvado
SP
27
0,88%
9
2,11%
0,29%
SISFARMA
S.J. do Rio Preto
SP
20
0,65%
0,00%
0,00%
Taubaté
SP
17
0,56%
8
1,88%
0,26%
728
23,78%
267
62,68%
8,72%
MULTIDROGAS
FARMES
FARMA & CIA
DROGARIA TOTAL
ENTREFARMA
FARMÁXIMA
UAI
FARMAVALE & CIA
Região Sul
AGAFARMA
Porto Alegre
RS
328
10,72%
121
28,40%
3,95%
Itajaí
SC
139
4,54%
63
14,79%
2,06%
HIPER FARMA
Curitiba
PR
104
3,40%
39
9,15%
1,27%
TCHÊ FARMÁCIAS
Pelotas
RS
60
1,96%
23
5,40%
0,75%
MAXIFARMA
Curitiba
PR
39
1,27%
5
1,17%
0,16%
Foz do Iguacú
PR
30
0,98%
13
3,05%
0,42%
Londrina
PR
28
0,91%
3
0,70%
0,10%
160
5,23%
0
0,00%
0,00%
FARMA & FARMA
COOPERFARMA
DROGAMAIS
Região Centro-Oeste
NOSSA REDE
Goiânia
GO
106
3,46%
0
0,00%
0,00%
ECONOMIA
Brasília
DF
54
1,76%
0
0,00%
0,00%
Fonte: Elaborado pelo autor
4.4.4 Estatísticas Descritivas
A estatística descritiva desenvolve-se, principalmente, nas ciências
humanas e sociais, procurando abordar dados e problemas que precisam ser
estudados, porém, não constam em documentos. A estatística descritiva
84
observa, registra, analisa fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los
(CERVO; BERVIAN; SILVA, 2006).
Nesse sentido, a Tabela 3 apresenta os dados referentes à Média,
Mediana, Desvio Padrão, 1º e 3º Quartis e o Coeficiente de Variação, que
permitem analisar e avaliar os resultados das respostas dos questionários. Dos
casos válidos, foi eliminado o de número 219, por enquadrar-se como um
outliers (dados atípicos), estando fora da curva -2 e -2, conforme figura 5,
restando, portanto, 425 casos válidos. A Média, Mediana e Desvio Padrão e os
1º e 3º Quartis apresentaram resultados indicando que os respondentes, tendo
a escala variado de 1 a 7, estiveram muito próximos da concordância máxima
para com as assertivas apresentadas, variando entre 4,2 (média mais baixa) e
6,3 (média mais alta). A questão 14 (A perda com cheques devolvidos diminuiu
após o ingresso da minha farmácia na rede) foi a que apresentou a menor
média, 4,2, enquanto que a questão 17 (Houve um aumento na realização de
campanhas promocionais (tablóides/panfletos) após o ingresso da minha
farmácia na rede) foi a que apresentou a maior média, 6,3.
Quanto aos
coeficientes de variação temos que os mais baixos significam opiniões mais
homogêneas, enquanto que os mais altos, opiniões heterogêneas (HAIR et. al.,
2005a). O coeficiente mais alto apresentou um resultado de 45,8%, enquanto
que o mais baixo foi de 17,3%, significando que a homogeneidade esteve
presente no conjunto das respostas apresentadas, pois nenhum dos
coeficientes de variação foi superior a 50%.
Tabela 3 – Coeficientes de variação
Questao 1:
Questao 2:
Questao 3:
Questao 4:
Questao 5:
Questao 6:
Questao 7:
Questao 8:
Questao 9:
Questao 10:
Questao 11:
Questao 12:
Casos
válidos
425
425
423
425
420
421
345
422
420
419
417
420
Média
Mediana
5,6
5,5
5,5
5,7
5,7
5,3
5,2
5,5
5,0
4,7
5,3
5,1
6,0
6,0
6,0
6,0
6,0
6,0
6,0
6,0
5,0
5,0
6,0
5,5
Desvio
Padrão
1,5
1,5
1,6
1,4
1,4
1,5
1,8
1,4
1,4
1,7
1,6
1,9
1º Quartil
3º Quartil
5,0
5,0
5,0
5,0
5,0
5,0
5,0
5,0
4,0
4,0
4,0
4,0
7,0
7,0
7,0
7,0
7,0
6,0
6,0
7,0
6,0
6,0
7,0
7,0
Coeficiente
de Variação
26,7%
27,5%
28,5%
23,8%
24,6%
28,4%
34,5%
26,1%
28,2%
36,7%
29,3%
38,0%
85
422
Questao 13:
418
Questao 14:
422
Questao 15:
421
Questao 16:
423
Questao 17:
419
Questao 18:
421
Questao 19:
421
Questao 20:
421
Questao 21:
421
Questao 22:
420
Questao 23:
422
Questao 24:
421
Questao 25:
423
Questao 26:
425
Questao 27:
422
Questao 28:
423
Questao 29:
397
Questao 30:
Fonte: Elaborada pelo autor
5,1
4,2
4,7
5,8
6,3
5,6
5,3
5,6
4,4
5,1
5,7
5,7
5,6
5,0
5,3
5,3
5,2
5,4
6,0
4,0
5,0
6,0
7,0
6,0
6,0
6,0
5,0
5,0
6,0
6,0
6,0
5,0
6,0
6,0
5,0
6,0
1,7
1,9
1,9
1,6
1,1
1,4
1,7
1,4
2,0
1,7
1,4
1,6
1,6
1,7
1,7
1,4
1,5
1,5
4,0
3,0
3,0
5,0
6,0
5,0
4,0
5,0
3,0
4,0
5,0
5,0
5,0
4,0
4,0
5,0
4,0
5,0
7,0
6,0
6,0
7,0
7,0
7,0
7,0
7,0
6,0
6,0
7,0
7,0
7,0
6,0
7,0
6,0
6,0
7,0
33,0%
45,8%
40,5%
28,4%
17,3%
24,6%
31,7%
24,2%
45,7%
33,3%
24,2%
27,7%
28,4%
34,3%
31,5%
27,1%
29,6%
28,3%
4.5 Análise Fatorial Exploratória
Para os dados coletados foi aplicada a técnica estatística multivariada
denominada Análise Fatorial Exploratória. Análise multivariada de dados é o
entendimento e aplicação de um grupo de técnicas estatísticas que
simultaneamente analisam duas ou mais variáveis, que visam uma melhor
compreensão e domínio da análise de dados (HAIR et. al., 2005a).O objetivo
da análise fatorial exploratória é a identificação de estruturas relacionais entre
as variáveis, com isso, teremos uma análise fatorial exploratória.
Ainda segundo Hair et. al. (2005a), a análise fatorial exploratória analisa
a estrutura das correlações entre um grande número de variáveis, definindo um
conjunto de dimensões, chamadas fatores. Essa técnica de análise é uma
técnica de interdependência na qual todas as variáveis são simultaneamente
consideradas, cada uma relacionada com as outras, empregando a
composição linear de variáveis.
Cada assertiva é respectivamente uma variável de análise, conforme
quadro 2 da página 54, e contém os valores respondidos de acordo com a
escala do tipo diferencial semântica, de 1 a 7, conforme definido por Hair et al
(2005b). Ainda, segundo o mesmo autor, uma escala diferencial semântica
86
poderá ter a quantidade que melhor represente o público respondente da
pesquisa, extraíndo-se daí dois fatores que justificam as escalas:
a) Quanto maior for a escala, maior será a capacidade de captação das
nuances das respostas;
b) De preferência, a escala deverá ser compatível com o maior ou
menor grau de escolaridade dos respondentes. Uma baixa
escolaridade poderá conduzir a escala a uma quantidade muito
pequena, tornando-se verdadeiro o inverso em relação a públicos
com maior grau de escolaridade.
No caso desta pesquisa, onde os respondentes são farmacêuticos e
gestores/donos de farmácias, uma escala que vai de 1 a 7 é bastante
representativa e significativa para atender aos objetivos propostos.
4.5.1 Pressupostos de Aplicação da Técnica de Análise Fatorial
Exploratória
Toda técnica estatística multivariada pressupõe o atendimento a
algumas premissas matemáticas que, caso não satisfeitas, podem invalidar os
resultados.
Nesse ponto, deve-se registrar que essas premissas ou suposições
são inerentemente integrantes ao processo de construção teórica da
técnica e, sem o seu atendimento não se pode garantir que o
algoritmo inerente à técnica realmente terá o comportamento que se
espera. Fazendo uma analogia, um cientista da área farmacológica
que não respeitar, por exemplo, a quantidade (com alguma premissa
básica para essa quantidade) de algum componente tóxico em um
remédio, pode levar o usuário a complicações bastante graves na
saúde. (Prearo, 2008)
As premissas inerentes à Análise Fatorial Exploratória são expostas a
seguir e resumidas no quadro 4.
Padronização dos dados: Garante que haja viés em função dos
diferentes tipos de níveis de medição. No caso desse estudo, a verificação
dessa premissa não foi necessária, em função de que todas as notas variaram
na mesma escala, 1 a 7 pontos.
Tamanho da amostra: Premissa necessária para garantir que não haja
distorções dos cálculos matemáticos que compõe o algoritmo da técnica. No
87
caso desse estudo, a premissa foi plenamente atendida, com uma proporção
de 14 casos por variável (total de 426 casos para 30 variáveis), quando a
exigência mínima é de 5 casos por variável.
Multicolinearidade:
É
necessário
que
haja
um
bom
nível
de
multicolinearidade na amostra, que se refere à existência de mais de uma
relação linear exata já que se deseja agrupar variáveis semelhantes. No caso
desse estudo, assim como apresentado adiante, as medidas de adequação da
multicolinearidade (MSA e KMO), foram plenamente atendidas.
Normalidade multivariada: Normalidade é o grau em que a distribuição
dos dados da amostra corresponde a uma distribuição normal, ou seja, quando
os valores probabilísticos sobre a variável estão agrupados em torno de uma
média em um padrão simétrico (HAIR et. al., 2005a).No entanto, conforme
Johnson e Wichern (1998), para dados reais, a presença de variáveis com
distribuição normal multivariada dificilmente ocorre.Nesse sentido, foram
realizados os testes para normalidade univariada. Para amostras superiores a
50 unidades (426 neste estudo) utiliza-se o teste de aderência à distribuição
normal de Kolmogorov-Smirnov (SIEGEL, 1979). Na tabela 4 podemos
observar o resultado do teste de Kolmogorov-Smirnov.
Considerando uma
significância de α=0,05, temos que a amostra não apresenta uma distribuição
normal (Asymp. Sig < 0,05).
Premissas subjacentes
Padronização dos dados
Considerações
(1) (4) (5) (6)
(1)
Tamanho da amostra
Multicolinearidade
(1) (4) (5) (6)
(1) (4) (5) (6)
Normalidade multivariada
(1) (4) (5) (6)
5 a 20 casos por variável
(2)
5 casos por variável
(4)
20 casos por variável
(5)
300 casos no total
(2) (5) (6)
MSA (Measure of Sampling Adequacy) > 0,5
(2) (5) (6)
KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) > 0,5
(4) (6)
Condição para os testes de significância
Quadro 4 - Premissas subjacentes ao uso da Análise Fatorial Exploratória
Fonte: Prearo (2008), adaptado da abordagem de (1) Stevens (1996) (2) Pestana e Gageiro
(2000) (3) AAker et al (2001) (4) Hair et al (2005) (5) Tabachnik e Fidell (1996) (6) Garson
(2007c)
Tabela 4 - Teste de Kolmogorov-Smirnov
Kolmogorov-Smirnov(a)
Questao 1:
Statistic
,226
df
282
Significância
,000
88
Questao 2:
,191
Questao 3:
,228
Questao 4:
,245
Questao 5:
,239
Questao 6:
,229
Questao 7:
,245
Questao 8:
,186
Questao 9:
,150
Questao 10:
,187
Questao 11:
,227
Questao 12:
,197
Questao 13:
,226
Questao 14:
,134
Questao 15:
,165
Questao 16:
,264
Questao 17:
,350
Questao 18:
,187
Questao 19:
,203
Questao 20:
,217
Questao 21:
,153
Questao 22:
,202
Questao 23:
,228
Questao 24:
,261
Questao 25:
,226
Questao 26:
,182
Questao 27:
,188
Questao 28:
,208
Questao 29:
,197
Questao 30:
,189
Fonte: elaborada pelo autor
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
282
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
,000
4.5.2 Aplicação da Técnica de Análise Fatorial Exploratória
Segundo Maroco (2003), a técnica de Análise Fatorial Exploratória foi
desenvolvida a partir dos trabalhos de Spearman no início do século XX em
seus estudos sobre a performance dos estudantes em várias disciplinas, de
modo a explicitar as relações entre as classificações e um fator geral de
inteligência. Spearman analisou tabelas de intercorrelações entre diferentes
testes psicológicos e foi capaz de demonstrar que estas correlações podiam
ser explicadas por um fator geral comum a todos os testes e um fator
específico para cada teste.
A revisão da bibliografia sobre os objetivos de aplicação dessa técnica
focou sua principal aplicação. Entretanto, a Análise Fatorial parece ser, dentre
as técnicas multivariadas, aquela que mais tem servido para utilizações
89
intermediárias, ou seja, de preparação dos dados para a sustentação de outras
técnicas estatísticas no atendimento ao problema de pesquisa.
Assim, sobre os objetivos de aplicação então selecionados, a Análise
Fatorial Exploratória enquadra-se na categoria de redução dos dados
(variáveis, nesse caso) ou simplificação estrutural (AAKER et al 2001).
4.5.3 Testes e Estatísticas de Adequação da Análise Fatorial
Os dados de uma matriz devem possuir correlações suficientes para a
aplicação de análise fatorial. Duas maneiras para determinar a adequação de
uma análise fatorial é analisar a correlação da matriz inteira ou as correlações
parciais de cada variável (HAIR et. al., 2005a).
Para o teste de correlação para a matriz inteira, aplicamos o teste
Bartlett de esfericidade e a medida de adequação da amostra de Kaiser-MeyerOlkin (KMO).
Na tabela 5 podemos observar a significância igual a 0,000
indicando a presença de correlações não-nulas, pois o intervalo de significância
desta variação deve estar compreendido entre 0,00 e 5%. A medida de
adequação da amostra KMO apresenta um valor de 0,942. De acordo com
Hair et. al. (2005a), valores abaixo de 0,500 são considerados inaceitáveis, de
0,500 a 0,600 ruins, valores entre 0,600 e 0,700 apresentam um correlação
aceitável, acima de 0,700 as intercorrelações tornam-se medianas e acima
0,800 admiráveis.
Tabela 5 – Teste de KMO e Bartlett
Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling
Adequacy.
Bartlett's Test of
Sphericity
Approx. Chi-Square
,942
5628,701
df
406
Sig.
,000
Fonte: elaborada pelo autor
90
Outra medida de adequação da amostra é o MSA - Measures of
Sampling Adequacy (Medidas de Adequação da Amostra), o qual funciona
como um KMO específico para cada uma das variáveis. Assim, também se
busca encontrar valores dessa medida acima de 0,500. A tabela 6 apresenta os
resultados do MSA variando de 0,909 a 0,965.
Tabela 6 – Teste MSA – Measures of Sampling Adequacy
Variável
Variável 1
0,932
Variável 2
0,935
Variável 3
0,939
Variável 4
0,949
Variável 5
0,955
Variável 6
0,949
Variável 7
0,949
Variável 8
0,953
Variável 9
0,944
Variável 10
0,950
Variável 11
0,919
Variável 12
0,909
Variável 13
0,956
Variável 15
0,917
Variável 16
0,947
Variável 17
0,939
Variável 18
0,945
Variável 19
0,937
Variável 20
0,946
Variável 21
0,923
Variável 22
0,957
Variável 23
0,965
Variável 24
0,932
Variável 25
0,918
Variável 26
0,934
Variável 27
0,959
Variável 28
0,960
Variável 29
0,913
Variável 30
0,935
Fonte: elaborada pelo autor
MSA
Ainda, faz-se necessário a avaliação das variâncias compartilhadas
entre as variáveis. O indicador que represente esse fenômeno é chamado de
Comunalidade. Segundo Hair et al (2005a), são aceitáveis comunalidades
superiores à 0,500. A comunalidade expressa o quanto das variações da
variável está sendo explicado pelo conjunto de fatores.
Nesse sentido, optou-se pela exclusão na análise fatorial da variável 14
(“A perda de cheques devolvidos diminuiu após o ingresso da minha farmácia
91
na rede”), a qual apresentou comunalidade de 0,463, conforme resultados
apresentados na tabela 7.
Tabela 7 – Teste de Comunalidade
Questao 1:
Questao 2:
Questao 3:
Questao 4:
Questao 5:
Questao 6:
Questao 7:
Questao 8:
Questao 9:
Questao 10:
Questao 11:
Questao 12:
Questao 13:
Questao
14:
Questao 15:
Questao 16:
Questao 17:
Questao 18:
Questao 19:
Questao 20:
Questao 21:
Questao 22:
Questao 23:
Questao 24:
Questao 25:
Questao 26:
Questao 27:
Questao 28:
Questao 29:
Questao 30:
Initial
Extraction
1,000
,738
1,000
,735
1,000
,572
1,000
,657
1,000
,656
1,000
,759
1,000
,762
1,000
,640
1,000
,627
1,000
,604
1,000
,792
1,000
,614
1,000
,622
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
1,000
Fonte: elaborada pelo autor
,463
,639
,719
,671
,742
,719
,710
,680
,664
,612
,617
,764
,721
,648
,759
,784
,744
Ainda segundo Hair et. al. (2005a), outro critério para extração de fatores
seria o critério da percentagem de variância. Em ciências sociais, 60% da
variância total podem ser consideradas como satisfatórias devido às
informações serem menos precisas se comparadas com ciências naturais. Na
tabela 8, a percentagem acumulativa mais próxima de 60% é no fator 6 com
68,945 %.
92
A extração de valores por meio do critério da raiz latente e da
percentagem de variância nos fornece seis fatores, conforme tabela 8, para a
matriz não-rotacionada da análise de componentes principais.
Tabela 8 - Variância Total Explicada (Total Variance Explained)
Component
Initial Eigenvalues
Total
% of Variance
Rotation Sums of Squared Loadings
Cumulative %
Total
% of Variance
Cumulative %
1
13,641
47,037
47,037
4,644
16,012
16,012
2
1,780
6,136
53,174
4,291
14,796
30,808
3
1,307
4,508
57,682
3,268
11,267
42,075
4
1,135
3,913
61,595
2,717
9,370
51,445
5
1,079
3,721
65,316
2,594
8,946
60,391
8,554
68,945
6
1,052
3,629
68,945
2,481
Fonte: elaborada pelo autor - Extraction Method: Principal Component Analysis.
O resultado da extração de fatores por meio da análise fatorial de
componentes pode ser observado na tabela 8.
Nessa Tabela vemos os
autovalores (Total) de cada fator (Component) e a porcentagem de variância,
bem como, a porcentagem acumulada. O autovalor representa a quantidade de
variância das variáveis para cada fator distintamente.
A extração de fatores utilizando o autovalor torna-se confiável em um
conjunto de variáveis entre 20 e 50 unidades (30 em nosso instrumento de
pesquisa). Esse critério é chamado de critério da raiz latente. Cada fator
individual deve explicar a variância de pelo menos uma variável, ou seja, cada
variável contribui com valor 1 do autovalor total e os autovalores inferiores a 1
são descartados (HAIR et. al., 2005a). O fator 6 é o último fator com autovalor
superior a 1, pois a partir do fator 7 são todos inferiores a 1.
Tabela 9 - Matriz de Componentes Rotacionada
Component
1
2
Questao 7:
,781
Questao 3:
,723
Questao 5:
,699
Questao 6:
,672
Questao 4:
,651
Questao 10:
,505
3
4
5
6
,402
,428
93
Questao 1:
,721
Questao 16:
,715
Questao 2:
,696
Questao 15:
,684
Questao 13:
,576
Questao 27:
,539
Questao 9:
,481
,410
Questao 29:
,724
Questao 30:
,695
Questao 26:
,658
Questao 18:
,611
,456
,410
Questao 25:
,760
Questao 24:
,701
Questao 23:
,529
Questao 28:
,427
,444
,431
Questao 21:
,768
Questao 19:
,630
Questao 20:
,508
Questao 22:
,418
Questao 8:
,434
Questao 12:
Questao 11:
,463
,713
,579
Questao 17:
,610
,452
,538
Fonte: elaborada pelo autor
Como resultado final de aplicação da técnica, a matriz dos componentes
rotacionada apresenta as cargas fatoriais de cada variável.
As cargas fatoriais são a medida de correlação da variável com os
fatores latentes. Assim, espera-se que todas as variáveis que apresentarem
altas correlações com um determinado fator estejam agrupadas em um mesmo
plano, conforme tabela 9, abaixo.
O termo rotacionada refere-se à rotação utilizada no algoritmo de
aplicação da técnica. Nesse estudo, optou-se pela utilização do método de
rotação ortogonal do tipo Varimax.
94
Segundo Hair et al (2005b), o método Varimax concentra-se na
simplificação das colunas da matriz de correlação, ou seja, oferece ao
pesquisador o menor número possível de fatores para explicar o grupo de
variáveis estudadas.
Sobre esses resultados julga-se pertinente a apresentação de algumas
considerações que permitam um entendimento maior do processo operacional
de aplicação da técnica de Análise Fatorial Exploratória:
a) – No fator de análise 4 – Rotated Component Matriz – ficaram de fora as
questões 28, 9, 22 e 8 e 14, pois não atingiram 50%. A questão 14, além disto,
também já havia ficado de fora, pois no Teste de Comunalidade, conforme
Tabela 7, apresentou 0,463 e precisaria ser >50.
b)– O caso 219 foi retirado, pois no refinamento (outliers – dados atípicos) do
gráfico de dispersão dos scores 1 e 2, está fora da curva -2 e -2, conforme
figura 5 abaixo:
c) Registre-se que a exclusão de variáveis do modelo não significa
necessariamente algum problema de entendimento ou construção da variável e
sim, apenas, que essa tem pouco ou nenhuma relação com as demais.( Hair et
al (2005b)
3,00000
28
12
2,00000
Figura
XX- Análise da presença de outliers((dados atípicos)
300
211
8
44
239
335
18
137
208
65
17
factor score 1 for analysis 1
67
4
271
166
42
231
336
204
103
249
221
279
102
360
142
135
11
88
75
95
417
36
288
56
92
6
66
254
130
110
241
308
171
80
351
238
247
273
150
131
253
158
257
74
52
277
45
3
84
22
314
-1,00000
1
126
20
235
222
140
47
167
16
23
258
272
256
190
275
60
295
301
217
30
21
144
264
0,00000
2
5
38
205
37
182
234
233
1,00000
19
281
307
46
94
95
Figura XX: Análise da Presença de Outliers (dados atípicos)
Fonte SPSS
Figura 5 – Outliers (Dados Atípicos)
Fonte: elaborada pelo autor
4.5.4 Nomeação dos Fatores
De acordo com a literatura consultada, buscou-se estabelecer uma
nomeação para cada grupo de fatores resultantes visando buscar uma
diferenciação entre os mesmos, pois com a nomeação, a análise de cada um,
individualmente, propiciará um entendimento mais amplo do conjunto de
fatores. A escolha das nomeações trata-se de mera interpretação do autor, pois
o conjunto dos fatores poderá nos conduzir a nomeações semelhantes ou
mesmo diferentes, dependendo, então, do entendimento e julgamento que fizer
cada avaliador, porém, o agrupamento das variáveis é resultado da escolha da
metodologia e da ferramenta utilizada para tabulação dos dados (SPSS,
Versão 12.0 for Windows).
O agrupamento das variáveis é ordenado em função do peso que cada
fator obtiver em todo o conjunto, de forma que o primeiro fator, denominado
pelo autor como Atendimento, teve um peso de importância maior do que o
segundo, e assim sucessivamente.
96
Com base nessas considerações foram feitas as nomeações dos
fatores, cuja explicação e justificativa estão detalhados nos resultados e
conclusões da pesquisa, dentro do item das Considerações Finais:
Fator 1 – Atendimento
Questões:
7. A reorganização trazida pela rede ajudou os atendentes da minha farmácia a
encontrar rapidamente os produtos solicitados pelos clientes.
3. A rede contribuiu para a melhoria do ambiente da farmácia (luminosidade,
temperatura, ventilação e limpeza)
5. A padronização dos funcionários (uniforme, cabelos, barba, unhas), após a
rede, deu maior confiabilidade para os clientes.
6. Após o treinamento oferecido pela rede, os atendentes da minha farmácia
atendem com mais simpatia, ouvem com mais atenção e orientam
corretamente os clientes.
4. A rede ajudou a melhorar a comunicação interna (cartazes, displays e
exposição)
10. A falta de produtos diminuiu após o ingresso da minha farmácia na rede.
11. Após o ingresso da minha farmácia na rede, o treinamento dos
funcionários melhorou.
Fator 2 – Imagem da Rede
Questões:
1. A Fachada da minha loja passou a ser um diferencial positivo frente à
concorrência após o ingresso na rede.
16. Após o ingresso da minha farmácia na rede passamos a ter maior
visibilidade na mídia.
2. A marca da rede passou a atrair mais clientes.
15. As vendas por meio de convênios com empresas aumentaram após o
ingresso da minha farmácia na rede.
13. As vendas com cartões de crédito e de débito aumentaram após o
ingresso da minha farmácia na rede.
27. A utilização de uma marca forte (nome da rede) na fachada e nas
dependências da minha farmácia é um dos pontos mais importantes da rede.
97
Fator 3 – Compras Conjuntas
Questões:
29. As compras conjuntas que são viabilizadas pela rede trazem uma melhora
nas margens de comercialização e um aumento considerável no faturamento
da minha farmácia.
30. A melhora no resultado gerado pelas compras conjuntas permite que a
minha farmácia tenha um desempenho que dificilmente seria alcançado sem o
ingresso na rede.
26. Por meio da rede minha farmácia tem conseguido a realização de compras
conjuntas com as demais farmácias integrantes, em grandes quantidades,
proporcionando à minha farmácia um maior poder de barganha e acesso aos
grandes fornecedores (indústrias e distribuidores) do mercado.
18. Por meio da rede a qual pertencemos, temos conseguido comprar com
custos menores e melhores condições de pagamento.
Fator 4 – Nível de Informação
Questões:
25. A rede proporciona uma grande união entre os donos das farmácias
integrantes, permitindo a troca de experiências e o crescimento conjunto.
24. Minha farmácia tem um canal permanente com todos os setores da rede.
23. O nível de informação sobre as novidades ocorridas no setor de farmácias
aumentou Após o ingresso da minha farmácia na rede.
Fator 5 – Suporte Operacional
Questões:
21. A rede tem incentivado a criação de produtos próprios com marca da rede,
permitindo um diferencial perante os produtos similares comercializados pela
concorrência.
19. Após o ingresso da minha farmácia na rede, passamos a receber visitas
periódicas de representantes da rede, evidenciando nossas necessidades e o
desenvolvimento de ações conjuntas.
20. Após o ingresso da minha farmácia na rede houve um aumento no mix de
produtos.
98
Fator 6 – Treinamento
Questões:
12. Os funcionários da minha farmácia recebem treinamento com regularidade,
no mínimo uma vez por ano.
17. Houve um aumento na realização de campanhas promocionais
(tablóides/panfletos) após o ingresso da minha farmácia na rede.
5 Resultados e Conclusões da Pesquisa
Com o objetivo de identificar o rol de serviços prestados pelas
associações de farmácias independentes foi realizada uma pesquisa
exploratória quantitativa em 32 associações de farmácias independentes, com
um total de 3.061 farmácias.
A análise dos dados foi feita por meio de análise fatorial exploratória. A
partir da revisão bibliográfica e entrevista com especialistas em farmácias,
foram criadas assertivas para o instrumento de pesquisa, abordando os
principais itens relativos à forma de operacionalização das farmácias
independentes associadas visando atingir o objetivo suplementar proposto que
foi Identificar a opinião dos gestores de farmácias independentes afiliadas
a Associações (Centrais de Negócios – Compras e Serviços) sobre a
contribuição dos serviços prestados para o aumento da competitividade.
Dado o resultado da análise fatorial, foram encontrados seis fatores
(constructos) para as trinta variáveis definidas para o instrumento de pesquisa.
Os seis fatores, levando-se em consideração as aglutinações apuradas, foram
assim nomeados:
1º) Atendimento
2º) Imagem da Rede
3º) Compras Conjuntas
4º) Nível de Informação
5º) Suporte Operacional
6º) Treinamento
99
Ao analisarmos o primeiro fator – Logística de Atendimento –
encontramos a maior correlação entre as sete variáveis (7, 3, 5, 6, 4, 10, 11)
agrupadas neste fator, que receberam, respectivamente, as seguintes notas
atribuídas pelos respondentes: 5,2; 5,5; 5,7; 5,3; 5,7; 4,7; e 5,3. Percebe-se
que há uma grande preocupação com a qualidade do atendimento do cliente:
rapidez na localização dos produtos solicitados; conforto do ambiente;
funcionários asseados e uniformizados; solicitude e orientação adequadas;
perfeita indicação através de cartazes e displays; disponibilidade de produtos;
funcionários, de todos os níveis, conscientizados com a necessidade de
perfeccionismo no atendimento do cliente.
O peso atribuído pelos respondentes às variáveis deste primeiro fator
remete a análise ao trabalho desenvolvido pelas associações de farmácias,
que trouxeram melhorias significativas aos pontos fracos existentes antes da
associação.
Hooley e Saunders (1996) afirmam que a avaliação que as empresas
fazem dos seus concorrentes, deve levar em conta os pontos fortes e fracos da
sua própria gestão, comparando os recursos da empresa e sua utilização com
os dos concorrentes principais. Os mesmos autores afirmam ainda que os
concorrentes poderão ser diretos, ou seja, aqueles que oferecem produtos e
serviços para os mesmos mercados-alvo, que, neste caso, são as redes de
farmácias concorrentes ou mesmo as independentes afiliadas ou não afiliadas
às associações, ou concorrentes indiretos, sendo aqueles que oferecem
produtos e serviços semelhantes para mercados-alvo diferentes, que neste
caso são lojas de supermercados, que na família de produtos de perfumaria,
oferecem quantidade de diferentes marcas de produtos, às vezes até maior do
que as próprias farmácias.
Prahalad e Hamel (1990), apud Hooley e Saunders (1996), argumentam
que a fonte fundamental da competitividade está nas competências centrais de
uma organização, pois dá um acesso potencial a uma ampla variedade de
mercados e traz uma contribuição significativa para os benefícios que o cliente
desfruta ao usar o produto ou serviço.
100
Hooley e Saunders (1996) ressaltam que os pontos fortes e fracos e as
competências centrais resultantes são relativas à concorrência e exigem uma
compreensão clara das capacidades da própria empresa e dos concorrentes.
Na análise do segundo fator, denominado de Imagem da Rede, percebese a forte valorização dada pelos respondentes às assertivas que tratam do
fortalecimento da marca (1, 16, 2, 15, 13, 27): fachada padronizada; visibilidade
na mídia; marca da associação; convênios empresariais; vendas com a
utilização de cartões de crédito e débito; fachada com a marca da associação.
Este fator, Imagem da Rede, de acordo com os respondentes, que
atribuíram as notas: 5,6; 5,8; 5,5; 4,7; 5,1; e 5,3, concentra aquelas variáveis
que podem ser consideradas como sendo os ativos de marketing.
De acordo com Hooley e Saunders (1996), “os ativos de marketing são
essencialmente propriedades que podem ser usadas com vantagem no
mercado”. Uma abordagem de marketing baseada em ativos procura adequar
os ativos de uma empresa às necessidades e desejos dos clientes. Dentre os
ativos importantes estabelecidos pelos mesmos autores, encontramos, nas
assertivas do segundo fator: fachada padronizada e a marca da associação,
sendo os demais uma conseqüência natural de uma atividade que transmite
credibilidade perante os clientes.
O terceiro fator – Compras Conjuntas – reunindo as assertivas: 29, 30,
26 e 18, trata justamente, segundo a opinião de Edison Tamascia (2009),
presidente da Febrafar, da razão primordial que dá motivação para a formação
de associações, pois trazem reflexo direto na rentabilidade da farmácia. Os
pontos focais das assertivas são: melhora nas margens de comercialização;
aumento do faturamento; melhora no resultado; maior poder de barganha;
redução dos custos das compras; que dão sustentação para a manutenção de
qualquer empresa.
Nenhuma empresa sobrevive se não agregar valor para o acionista. A
agregação ocorre quando a empresa apura um resultado operacional líquido
positivo. (FARIA; COSTA; 2008)
As quatro assertivas que compuseram este fator alcançaram, de acordo
com os respondentes e a escala que variou de 1 a 7, notas médias entre 5,0 e
101
5,6, numa clara demonstração da contribuição que as Compras Conjuntas têm
para a atividade associativista das farmácias.
De acordo com Souza (2007), as Centrais de Negócios nasceram da
necessidade de adquirir produtos conjuntamente e, com o tempo, evoluíram
para a aquisição de conhecimento e uso conjunto de ferramentas de
comunicação, logística, tecnologia e operação das lojas.
O quarto fator – Nível de Informação – possui três assertivas (25, 24 e
23). O foco do agrupamento e formação deste fator são: o relacionamento
externo necessário à troca de experiências entre as farmácias integrantes; a
facilidade de comunicação com a central (associação); e a atualização
constante sobre as novidades que ocorrem no setor farmacêutico.
Para as três assertivas as notas atribuídas pelos respondentes foram
5,6; 5,7 e 5,7 respectivamente. Considerada a escala de 1 a 7, as notas foram
muito boas, confirmando, na visão e experiência dos respondentes, a
importância da comunicação de uma empresa, seja no âmbito interno como no
externo.
Em virtude da maior complexidade das funções desempenhadas pelas
empresas, que são necessárias para a sobrevivência no mercado, verifica-se
cada vez mais a necessidade do trabalho realizado de forma associada ou
cooperativada com outras empresas. Isto tem contribuído para a diminuição
dos riscos e o aumento de sinergia entre as empresas, especialmente no que
diz respeito às pequenas empresas (CASSAROTO FILHO; PIRES, 1998, apud
FERREIRA JR, 2006). O acesso às informações, tecnologia, mercado
consumidor e fornecedor, tão disputados atualmente, é uma barreira que as
pequenas empresas dificilmente conseguem superar sozinhas (CARRÃO,
2004, apud FERREIRA JR, 2006).
O quinto fator – Suporte Operacional – é composto pelas assertivas 21,
19 e 20, que obtiveram as notas médias de 4,4; 5,3 e 5,6 respectivamente,
consideradas muito boas, o que confirma a opinião dos respondentes sobre a
importância do suporte recebido da associação a qual pertencem. As
assertivas deste fator se referem a: incentivo na criação de produtos próprios
com a marca da rede; visitas periódicas de representantes da associação com
102
o objetivo de orientar e motivar para o desenvolvimento de ações conjuntas; e
orientação para um aumento no mix de produtos.
A menção da expressão “suporte operacional” tem como referência o
tipo de suporte operacional específico de cada tipo de atividade. Existe uma
infinidade de trabalhos acadêmicos que mencionam, em algum ponto, o
suporte operacional. Para citar dois exemplos: Silva, 2004, fala de controles
internos como suporte operacional para as auditorias externas; Pereira;
Lunkes; Rosa (2007) em artigo tratando de cadeias de suprimento mencionam
“No armazém ficam localizados os produtos a serem destinados ao
mercado e espaço destinado à carga, descarga e movimentações
internas
(empilhadeiras,
paleteiras
e
pessoas
para
suporte
operacional – operadores, ajudantes e conferentes)”.
Portanto,
especificidade
do
suporte
o
quinto
operacional
fator
desta
aplicado
pesquisa
nas
trata
farmácias
da
pelas
associações de farmácias.
O sexto fator, denominado
Treinamento, agrupa duas variáveis
(assertivas), 12 e 17, que receberam, respectivamente, as notas médias 5,1 e
6,3, que podem ser consideradas ótimas, demonstrando o alto grau de
concordância apresentado pelos respondentes para estas duas assertivas. São
tratadas: a regularidade com que são realizados os treinamentos dos
funcionários e o aumento na realização de campanhas promocionais.
Aparentemente as assertivas tratam de temas diferentes, todavia, possuem um
ponto em comum que permite o seu agrupamento, que é a ação desenvolvida
pela associação, em ambos os temas, e traz um aprendizado para dentro da
farmácia.
De um modo geral a pesquisa atendeu satisfatoriamente à sua proposta
inicial, pois de um lado esclareceu qual é a contribuição das Associações de
Farmácias (Centrais de Negócios – Compras e Serviços) para a melhoria da
competitividade das farmácias independentes a elas associadas. e, de outro
lado, Identificou a opinião dos gestores de farmácias independentes afiliadas a
Associações (Centrais de Negócios – Compras e Serviços) sobre a
contribuição dos serviços prestados para o aumento da competitividade.
6 Considerações Finais
103
Este estudo, que apresenta um panorama do varejo farmacêutico,
demonstrou que o segmento, antes composto pelas Grandes Redes e
Drogarias Independentes, a partir da década de 90 incorporou outros dois
segmentos na atividade, representado pelas Drogarias Associadas e Drogarias
Franqueadas, ambas surgidas a partir das Drogarias Independentes. Essas
mudanças foram desencadeadas pela pressão competitiva exercida pelas
grandes redes após a estabilização econômica na década de 90, obrigando as
farmácias independentes a buscar alternativas para a sobrevivência neste
segmento.
Houve necessidade de desenvolver novos arranjos organizacionais para
atenuar as fragilidades identificadas. Em resposta a tais mudanças, as
drogarias tiveram que buscar alternativas e, nesse caminho, encontraram as
alianças por meio do Associativismo e pela Franquia como solução para
competirem em maior igualdade de condições com as grandes redes, que
ficavam muito à frente em vários fatores, como: plataforma tecnológica,
logística, treinamento de funcionários, ambiente de loja e, principalmente,
escala de compra.
Desta forma, o objetivo da pesquisa foi atingido pois foram
identificadas as opiniões dos gestores de farmácias independentes sobre
a contribuição dos serviços prestados pelas Associações (Centrais de
Negócios) para o aumento da competitividade.
Os resultados da pesquisa evidenciaram que o ingresso nas
associações possibilitou melhoria da competitividade das farmácias
anteriormente independentes, na opinião de seus gestores.
Dada a tendência de crescimento das redes profissionalizadas e
das franquias, o associativismo desponta como alternativa para a
sobrevivência de grande número de farmácias ainda independentes no
Brasil, e como meio para estimular a concorrência que vem ao encontro
do interesse dos consumidores em geral.
6.1 Limitações da Pesquisa e Recomendações para Futuros
Estudos
104
A pesquisa limitou-se ao estudo das farmácias independentes afiliadas a
associações de farmácias. Foi levantado o rol de serviços prestados pelas
associações de farmácias independentes e o atendimento às expectativas dos
gestores dessas farmácias.
Para estudos futuros recomenda-se um trabalho na mesma linha de
condução,
contemplando
redes
de
franquias
e
as
próprias
redes
independentes, podendo-se dividir essas redes de acordo com o seu porte e
realizar a pesquisa contemplando uma análise por meio de amostra
probabilística e análise confirmatória dos dados.
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Apêndice
1/5 Instrumento de Pesquisa – Primeira página
2/5 Instrumento de Pesquisa – Segunda Página
3/5 Instrumento de Pesquisa – Terceira Página
4/5 Instrumento de Pesquisa – Quarta Página
5/5 Instrumento de Pesquisa – Quinta Página
109
1/5
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2/5
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3/5
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Dissertação Completa - PPGA - Norival Mantovani