CIORD Centro Integrado de Ordenamento Territorial MIRANICE LIMA SANTOS TURISMO, TERRITÓRIO E INCLUSÃO SOCIAL A eficácia do turismo como vetor de inclusão social Brasília – DF Dezembro/2007 CIORD Centro Integrado de Ordenamento Territorial MIRANICE LIMA SANTOS TURISMO, TERRITÓRIO E INCLUSÃO SOCIAL A eficácia do turismo como vetor de inclusão social Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Integrado de Ordenamento Territorial CIORD – da Universidade de Brasília (UnB), como requisito para conclusão do Curso de Especialização em Gestão Urbana e Desenvolvimento Municipal. Orientador: Prof. Dr. Jorge Madeira Nogueira Brasília/DF Dezembro/2007 TURISMO, TERRITÓRIO E INCLUSÃO SOCIAL A eficácia do turismo como vetor de inclusão social MIRANICE LIMA SANTOS BANCA EXAMINADORA ................................................................. Prof. Dr. Jorge Madeira Nogueira (Orientador) ................................................................... Prof. MSc. Antonio Nascimento Júnior RESUMO Esta monografia identifica os benefícios da atividade turística e a importância da mão-de-obra qualificada para os Municípios de Mata de São João e Camaçari, no Estado da Bahia. Ao assim proceder avalia a eficácia do turismo como vetor de desenvolvimento local e inclusão social nos municípios. O trabalho contribui para que sejam desenvolvidas estratégias no sentido de melhorar o desempenho da atividade turística junto ao território e a comunidade local. Sua principal conclusão é que os benefícios da atividade turística não atingem ainda toda população ficando restrito a uma minoria. No entanto, pode-se perceber que o turismo é uma atividade capaz de promover o desenvolvimento local e a inclusão social, desde que exista um planejamento que assegure a inclusão da comunidade local após a consolidação do turismo. Para que exista um melhor aproveitamento da mão-de-obra local na atividade turística é necessário que ao se formular estratégias de desenvolvimento do turismo, sejam implementados programas de qualificação adequados à realidade local, visando qualificar o quadro de pessoal efetivo, como também facilitar o acesso da população aos empregos gerados pelo turismo. Palavras-chave: 1. turismo. 2. território. 3. inclusão social. ABSTRACT This paper identifies the benefits of tourism and the importance of qualified labour to the municipalities of Mata de São João and Camaçari, in the State of Bahia. The effectiveness of tourism as an instrument for local development and social inclusion to the municipalities is also evaluated. This work contributes to developing strategies focused on the improvement of tourism activities in territories and local community. The main conclusion is that the benefits of tourism activities are restricted to the minority, without reaching the entire population. However, the tourism is an activity capable of promoting local development and social inclusion as long as a planning assures the local community inclusion soon after the tourism is consolidated. In order to take the most of the local labour through tourism activities, two points must be considered while formulating strategies on tourism development. One is to implement qualification programs which fits the local reality and aims at the permanent staff’s qualification. The other is to facilitate the population access to the jobs generated by tourism. Key-words: 1. Tourism. 2. Territory. 3. Social inclusion. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Costa dos Coqueiros ............................................................................. 27 Figura 2 – Costa do Sauípe..................................................................................... 29 Figura 3 – Projeto Tamar - Praia do Forte ............................................................... 32 Figura 4 – Orla de Camaçari ................................................................................... 34 Figura 5 – Pólo Petroquímico .................................................................................. 35 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Distribuição das Pessoas Ocupadas no Turismo conforme Idade e Sexo (%) - Brasil 2004 ................................................................................................ 22 Tabela 2 – Distribuição das Pessoas Ocupadas no Turismo conforme Grau de Instrução e Sexo (%) - Brasil 2004 ..................................................................... 22 Tabela 3 – Distribuição das Pessoas Ocupadas no Turismo conforme Setor de Atividade e Posse ou não de Carteira de trabalho (%) - Brasil 2004 ................. 23 Tabela 4 – Distribuição das Pessoas Ocupadas no Turismo conforme Rendimento e Escolaridade (%) - Brasil 2004 ........................................................................... 23 Tabela 5 – Evolução da População por Área, no período de 1991 a 2000 ............... 35 Tabela 6 – Educação Profissional - Alunos Formandos - 2000 ................................ 36 Tabela 7 – Total dos Empregados e Participação do Turismo - 1995 a 2000 ........... 36 Tabela 8 – índice de cobertura do Serviço de Abastecimento de Água (domicílios) 37 Tabela 9 – Evolução do Índice da Coleta de Lixo (domicílios) .................................. 37 Tabela 10 – Exclusão Social e Privações em Municípios da Bahia .......................... 38 Tabela 11 - Índice de Desenvolvimetno Humano Municipal, 1991 a 2000 - Estados da Região Nordeste ........................................................................................... 38 Tabela 12 – Índice de Desenvolvimento Humano - 1991 a 2000 - Municípios Investigados ....................................................................................................... 39 LISTA DE ABREVIATURAS HDR ................................................................... Human Development Report OMT .............................................................Organização Mundial do Turismo PNMT .............................. Programa Nacional de Municipalização do Turismo PNT ....................................................................... Plano Nacional de Turismo IPEA ............................................... Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada APA ......................................................................Área de Proteção Ambiental IBGE .......................................... Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística SEI ..................Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia IDH-M ..................................... Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IES .......................................................................... Índice de Exclusão Social SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10 2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................. 12 2.1 TERRITÓRIO E DESENVOLVIMENTO LOCAL ................................................. 12 2.2 INCLUSÃO SOCIAL ............................................................................................ 15 2.3 TURISMO, TERRITÓRIO E INCLUSÃO SOCIAL ............................................... 17 3 O CRESCIMENTO DO TURISMO NO BRASIL .................................................... 20 3.1 ASPECTOS GERAIS .......................................................................................... 20 3.2 OS CAMINHOS QUE AINDA PRECISAM SER PERCORRIDOS....................... 22 4 TURISMO X POBREZA NAS LOCALIDADES INVESTIGADAS............................ 28 4.1 O MUNICÍPIO DE MATA DE SÃO JOÃO............................................................ 29 4.2 O MUNICÍPIO DE CAMAÇARI ............................................................................ 35 4.3 COMPARATIVO SOBRE O DESEMPENHO DE MATA DE SÃO JOÃO E CAMAÇARI .......................................................................................................... 37 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS .......................................................................... 44 10 1. INTRODUÇÃO A evolução do setor turístico no Brasil representa uma oportunidade para o desenvolvimento socioeconômico do território e cria uma expectativa sobre a importância da atividade para a melhoria da qualidade de vida população e a inclusão social em espaços turísticos. Em face às evidentes potencialidades do turismo, diversas regiões brasileiras buscam qualificar seus espaços, por meio de planos e ações que têm como objetivo a expansão da atividade. Num território com potencial turístico, a atividade consolidada de forma planejada pode se transformar em instrumento na atração de investimentos, geração de emprego e renda. No entanto para que os benéficos advindos do turismo sejam distribuídos de forma eqüitativa, faz-se necessário que exista um planejamento que considere a realidade social da localidade. Coriolano (2003, p. 13) enfatiza que o desenvolvimento por meio do turismo só acontece quando todas as pessoas são beneficiadas e a atividade pode ser vinculada ao desenvolvimento social. Segundo a autora desenvolvimento é um processo de produção de riqueza com partilha justa e eqüidade. Neste sentido, este estudo investiga a contribuição da atividade turística para o desenvolvimento local e a inclusão social em diferentes pontos do território brasileiro e a importância da mão-de-obra qualificada. Os municípios a serem investigados são: Mata de São João e Camaçari, localizados no litoral norte do Estado da Bahia, em uma área denominada Costa dos Coqueiros, um espaço que se constitui atualmente um grande potencial turístico, tendo atraído vários investidores. Esses municípios foram escolhidos pela grandeza de seus empreendimentos. Mata de São João possui o maior complexo turístico brasileiro, denominado Costa do Sauípe e Camaçari além de se destacar no setor de turismo, possui o primeiro complexo petroquímico planejado do país, o maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul. Para a consecução de nossos objetivos, realizamos uma pesquisa bibliográfica e documental extensiva, na busca de perceber os resultados apresentados sobre o desempenho econômico e social dos municípios investigados. 11 As informações empíricas apresentadas ao longo do texto foram obtidas em fontes secundárias. Quanto à estrutura, a monografia apresenta três capítulos, além da introdução e considerações finais, a saber. O capítulo 2 apresenta uma discussão conceitual sobre turismo, território, desenvolvimento local e inclusão social, abordando as concepções de diversos estudiosos. Já o capítulo 3, é um breve histórico sobre o crescimento do turismo no Brasil, apresentando sua evolução ao longo da última década, destacando-se seu desempenho e realizações nos últimos anos. No capítulo 4 expõem-se as características dos municípios investigados, seus atrativos, realizações e faz-se uma apresentação dos indicadores analisados e seus resultados, com a finalidade de perceber o desempenho econômico e social dos municípios nos últimos anos. Por fim, as considerações finais apresentam a conclusão do estudo, fruto da integração dos seus capítulos, que objetivou responder ao seguinte questionamento: Qual a importância da mão-de-obra qualificada para o desenvolvimento local e a redução das desigualdades sociais em território turísticos? 12 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 TERRITÓRIO E DESENVOLVIMENTO LOCAL Entre as diferentes formas de compreensão do território, Martins (2003, p. 44) o define como “o espaço ocupado por uma pessoa ou grupo, é aquele no qual se vive e se experimenta sua existência concreta e cotidiana”. Da mesma forma Raffestin (1993, p. 143) afirma: O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza determinadas ações) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente [...], o ator “territorializa” o espaço. (RAFFETSTIN, 1993 apud EDUARDO, 2006, p. 192). De acordo com Tânia Zapata (2007, p. 25) território significa lugares e pessoas interagindo; um espaço socialmente organizado, podendo ser “um município, um conjunto de municípios dentro de um estado ou um conjunto de municípios entre mais de um estado”. Reffestin (1980), Sack (1993) e Becker (1988) conceituam território como: Território é o espaço da prática. É o produto da prática espacial: inclui a apropriação efetiva ou simbólica de um espaço, implica na noção do limite – componente de qualquer prática – manifestando a intenção de poder sobre uma porção precisa do espaço. Por outro lado, é também um produto usado, vivido pelos atores, utilizado como meio para sua prática. A territorialidade humana é uma relação com o espaço que tenta afetar, influenciar ou controlar ações através do controle do território. É a face vivida e materializada do poder. (RAFFESTIN,1980; SACK,1993; BECKER, 1988 apud PNOT, 2006 p. 14). Existem diversas abordagens do conceito de território, cada autor expressa sua linha de pensamento onde o território é compreendido como um espaço em que ocorrem os acontecimentos econômico, político e cultural (HAESBAERT, 2005 apud EDUARDO, 2006, p. 179) agrupou as diferentes noções de território em três vertentes: Econômica (muitas vezes economicistas): menos difundida, enfatiza a dimensão espacial das relações econômicas, o território como fonte de recursos e/ou incorporado no embate entre as classes sociais e na 13 relação capital-trabalho, como produto da divisão “territorial” do trabalho, por exemplo. Política (referida às relações espaço-poder em geral) ou jurídicopolítica (relativa às relações espaço-poder institucionalizadas): a mais difundida, onde o território é visto como um espaço delimitado e controlado, através do qual se exerce um determinado poder, muitas vezes – mas não exclusivamente – relacionado ao poder político do Estado. Cultural (muitas vezes culturalista) ou simbólico-cultural, aquela que prioriza a dimensão simbólica e mais subjetiva, em que o território é visto, sobretudo, como o produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao seu espaço vivido. O território é constituído a partir das relações sociais de determinado grupo, que se apropria de um espaço e o modifica. Assim pode-se considerar que o mesmo é fruto do trabalho humano. Nesse contexto, Raffestin (1993, P. 58) enfatiza a importância da população para a construção do território e afirma que “o território não é menos indispensável, uma vez que é a cena do poder e o lugar de todas as relações, mas sem a população, ele se resume a apenas uma potencialidade, um dado estático a organizar e a integrar numa estratégia” (RAFFETSTIN, 1993 apud EDUARDO, 2006, p. 192). A identidade caracteriza um território e a partir de suas potencialidades pode-se promover um desenvolvimento que valorize os aspectos sociais, ambientais, culturais e político-institucionais, visando potencializar as vocações produtivas locais, a cultura local, o capital humano, o meio ambiente e a gestão participativa. A gestão participativa possibilita o envolvimento da população no processo de desenvolvimento local, garantindo, assim, que as decisões atendam às necessidades da comunidade e ocorra de forma justa, sem exclusão. As teorias de desenvolvimento surgiram no pós-II Guerra Mundial, conforme descreve Coriolano (2003, p. 14), e desde então vários estudiosos tentam explicar tal fenômeno. Assim, em 1978, especialistas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, criaram o conceito de desenvolvimento endógeno, visando um crescimento a partir do lugar, com maior 14 participação social, mais equidade e melhor qualidade de vida, construindo-se então um conceito de desenvolvimento local. Segundo Buarque (2002, p. 25) desenvolvimento local consiste em um processo endógeno de mudança, que leva ao dinamismo econômico e à melhoria da qualidade de vida da população em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos, devendo mobilizar e explorar o potencial da localidade e contribuir para elevar as oportunidades sociais e competitividade da economia local. Em sua definição o desenvolvimento local deve se estruturar em pelo menos, três pilares: Organização da sociedade, contribuindo para a formação de capital social local (entendido como capacidade de organização e cooperação da sociedade local) combinada com a formação de espaços institucionais de negociação e gestão; agregação de valor na cadeia produtiva, com a articulação e o aumento da competitividade das atividades econômicas com vantagens locais e reestruturação e modernização do setor público local, como forma de descentralização das decisões e elevação de eficiência e eficácia da gestão pública local (BUARQUE, 2002, p. 27). O sucesso do desenvolvimento local depende de uma aspiração conjunta da sociedade e de iniciativas políticas, uma vez que o mesmo está associado a ações mobilizadoras da coletividade, em torno de um projeto coletivo. Os atores de cada município ou região devem explorar suas especificidades, potencialidades e vocações, buscando novos espaços de competitividade, de acordo com suas condições, para assim aumentar a renda, as riquezas locais e elevar as oportunidades sociais. O desenvolvimento local, conforme define Coriolano (2003, p. 25) é um processo de mudança de mentalidade, de cambio social e institucional, na busca de socializar oportunidades e promover o desenvolvimento humano. Para a autora, o crescimento econômico concentrado não deve ser considerado indicador de desenvolvimento, o que deve ser levado em consideração é o alcance da escala humana, garantindo à sociedade bem-estar, alimentação, saúde, habitação, segurança e lazer. Ainda sobre o desenvolvimento local Rodriguez González (1998, p. 7) parte para a seguinte definição: 15 [...] É, sem dúvida, um movimento fundamentalmente endógeno, que surge da iniciativa da sociedade civil, vinculada a um território e a uma história concreta, fundamentada na valorização e utilização dos recursos locais com que conta, e que deve estar acompanhado de iniciativas institucionais de acompanhamento. O desenvolvimento local adquire um caráter setorial, especializado, no qual uma economia local se especializa na elaboração ou produção de um determinado bem ou serviço que por sua qualidade ou eficiência pode competir nos mercados a nível global. Estabelecendo-se, assim, uma relação básica entre o local e o global, fundamental para assegurar a viabilidade dos processos de desenvolvimento. O desenvolvimento local deve completar, adquirir uma perspectiva integral de caráter territorial, onde todos os recursos organizativos da coletividade devem estar orientados a maximizar os aspectos mais competitivos de cada território (RODRIGUEZ GONZÁLES,1998 apud QUEIROZ, 2005, p.89). A linha de pensamentos de diversos estudiosos remete à reflexão de que o desenvolvimento local deve promover benefícios econômicos, justiça social e melhoria da qualidade de vida. No processo de desenvolvimento faz-se necessário a participação da comunidade para contribuir na minimização dos problemas locais e ampliar o índice de inclusão social em seu território. 2.2 INCLUSÃO SOCIAL O termo inclusão social vem sendo alvo de freqüentes discussões e na maioria das vezes está associado ao direito social. De acordo com Rua (2006, p. 20) a menção à inclusão social remete ao seu contrário, a exclusão, e na maioria das vezes se confunde exclusão com desigualdade. A exclusão deve ser corretamente entendida como: A negação parcial ou total da incorporação de grupos sociais à comunidade política e social. É dessa maneira que, formal ou informalmente, são negados a esses grupos os direitos de cidadania, como a igualdade perante a lei e as instituições públicas e o seu acesso às oportunidades sociais – de estudo, de profissionalização, de trabalho, de cultura, de lazer, de expressão etc. – é impedido ou obstaculizado. (RUA, 2006, p. 21). Apesar dos direitos serem universais, nem todas as pessoas têm acesso as condições básicas de existência e são vários os atributos que contribuem para a privação da própria condição humana. Sachs (2004, p. 40) enfatiza que a população deveria ter iguais oportunidades de acesso a serviços públicos, tais como: a) educação, que no 16 processo de desenvolvimento é essencial e contribui para a conscientização e compreensão dos direitos humanos; b) saúde proveniente do acesso à melhoria das condições de moradia e trabalho, melhor educação, acesso a água limpa e ações preventivas; e c) por fim moradia decente. Os serviços acima citados são direitos de todos os cidadãos. No entanto, uma grande parcela da população brasileira fica excluída de tais serviços. Rua (2006, p. 22) afirma que: No limite, portanto, a exclusão envolve a privação ou negação da própria condição humana, de tal forma que, além dos direitos de cidadania, o que se nega aos excluídos é a possibilidade de ação, discurso, comunicação, que é condição para que os indivíduos realizem o seu potencial como sujeitos (RUA, 2006, p. 22). A privação da própria condição humana nos faz refletir sobre a relação entre a pobreza e a exclusão social. O Human Development Report – HDR, define pobreza como “a negação das oportunidades de escolha mais elementares para o desenvolvimento humano, tais como: ter uma vida longa, saudável e criativa; ter um padrão de liberdade , dignidade, auto-estima, e gozar de respeito por parte das pessoas” (HUMAN DEVELOPMENT REPORT, 1997 apud LEMOS, 2005, p. 34) Neste contexto, a pobreza é apresentada como a uma condição de vida. Entretanto, outros estudiosos a definem como “uma relação historicamente determinada entre os grupos sociais, na qual um segmento significativo da população está privado dos meios que viabilizem atingir níveis adequados de bemestar social” (REED; SHENG, 1997 apud LEMOS, 2005, p. 35). Arbache (2003, p. 1) sugere que a pobreza no Brasil está associada à péssima distribuição de renda e concentrada entre crianças e trabalhadores em atividades informais e em regiões menos desenvolvidas. Considerando que a pobreza se constitui numa privação de subsídios necessários para o bem-estar pessoal, conclui-se que ela remete o ser humano a um estado de exclusão. Atualmente existe um esforço evidente no combate a exclusão social e na promoção do bem-estar, visando assegurar o acesso aos direitos básicos do ser humano e o turismo como uma atividade que se apropria do espaço, é um forte aliado no combate à pobreza, podendo contribuir para uma melhor distribuição de 17 renda e na criação de novos postos de trabalho, causando grande impacto na economia do território. A idéia é que os valores deixados pelo turista tenham um efeito multiplicador e beneficie os diversos setores que tem ligação direta com a atividade. No entanto, em muitos casos, as receitas oriundas do turismo não beneficiam a localidade, em geral porque os insumos e a mão-de-obra não são locais. Assim, em determinados destinos, ocorre o crescimento da atividade turística sem desenvolvimento local e sem inclusão. 2.3 TURISMO, TERRITÓRIO E INCLUSÃO SOCIAL A Organização Mundial do Turismo – OMT (2003, p. 17-32) destaca o turismo como um dos principais setores socioeconômicos mundiais, com potencial para causar grandes benefícios para a comunidade. Se planejado adequadamente, pode gerar empregos, renda e impostos que podem ser utilizados nos serviços e infra-estrutura da comunidade local. No entanto, o turismo sem planejamento provoca diversos problemas, entre eles: mão-de-obra, produtos e mercadorias importadas de outra região, crescimento desordenado e exclusão da comunidade. A atividade turística é uma forte aliada no processo de ordenamento do território. É importante, portanto, que exista uma inter-relação entre o planejamento turístico e o planejamento territorial, de forma que o turismo se aproprie do espaço visando o desenvolvimento da localidade. Planejar a forma de exploração do espaço turístico, nas áreas urbana e rural, respeitando as peculiaridades do território, reforça a idéia que a atividade pode ser considerada vetor de desenvolvimento local Segundo o WWF - Brasil (2004, p.17), as comunidades locais têm direito de assegurar que o turismo não tenha efeito negativo sobre elas. A atividade turística deve respeitar e valorizar o conhecimento e as experiências locais. No entanto Coriolano (2003, p.13) enfatiza que o desenvolvimento por meio do turismo só acontece quando todas as pessoas são beneficiadas. A autora o conceitua como “um processo de produção de riqueza com partilha justa e equidade”. Swarbrooke (2000, p. 42) alega que a maioria das cidades e metrópoles gosta da idéia do turismo como ferramenta de renovação, porque gera boas perspectivas para o futuro, produz um número relativamente grande de empregos, 18 cria instalações e serviços que também podem ser usados pela população local e ajuda a melhorar a auto-estima da comunidade. Silva (apud BAHL, 2003, p. 60) faz referência ao turismo como um dos setores apontados para contribuir na resolução de inúmeros e graves problemas sociais, não resolvidos pela incapacidade demonstrada pelo poder público e a iniciativa privada. Apesar dos diversos discursos sobre a potencialidade do turismo e sua importância na economia local, na transformação do espaço e na valorização do território, existem ainda questionamentos sobre sua real participação na redução das desigualdades, uma vez que a atividade é capaz de gerar impactos negativos e positivos, conforme detalha Rodrigues (1997). O turismo é uma atividade que tem se mostrado um tanto quanto “perversa”; em algumas comunidades, tem provocado profundas transformações econômicas, sociais e culturais, transformações que, no geral, não beneficiam nem o lugar enquanto possuidor dos recursos que engendram a atividade, nem a população local que muitas vezes fica excluída do processo. Portanto, ao mesmo tempo em que o turismo pode organizar e (re) produzir o espaço para uns, ele também desorganiza para outros e (re) produz segundo a lógica capitalista de apropriação do espaço, palco onde se estabelecem as relações de poder. (RODRIGUES, 1997 apud FONTES; LAGE, 2003, p. 94). Como o turismo ocorre dentro de um território, de alguma forma ele causa um impacto, seja positivo ou negativo, dependendo da forma como a atividade se desenvolve na localidade. Entre as diversas observações sobre o turismo, Ruschmann (2001, p. 66) afirma que a atividade ao mesmo tempo em que gera riquezas, agride a natureza, as culturas, os territórios e a sociedade. O território que tem o turismo como principal atividade econômica atrai ocupação das áreas centrais por classes de alta renda e empreendedores internacionais do ramo turístico, que formam espaços diferenciados e restringem a acessibilidade aos serviços e espaços públicos a uma minoria. Os municípios brasileiros em áreas litorâneas são os mais afetados com a proliferação de grandes hotéis, flats, condomínios de luxo e equipamentos turísticos de empreendedores estrangeiros que impactam o meio ambiente, degradam a paisagem e deixam a população à margem da cidade. Assim, com o crescimento do turismo, os impactos negativos se apresentam nos destinos turísticos, porém o mesmo ocorre com os benefícios 19 advindos da atividade, tais como: atração de empresas especializadas em turismo, aumento na arrecadação de impostos, incentivo à capacitação de mão-de-obra, aumento na produção de bens e serviços e muitos outros benefícios. Considerando os diversos conceitos apresentados sobre território, desenvolvimento local e inclusão social, pode-se afirmar que o desenvolvimento local de um território turístico depende da exploração de seu potencial, visando benefícios econômicos e sociais. 20 3. O CRESCIMENTO DO TURISMO NO BRASIL 3.1 ASPECTOS GERAIS No capítulo anterior, observamos que o turismo é uma importante atividade econômica no Brasil e tem, ao longo da última década, enfrentado várias mudanças, tornando-se uma atividade cada vez mais competitiva. Em meados de 1990, quando se percebeu que a atividade era importante para alavancar o crescimento econômico e o desenvolvimento do país, o turismo no Brasil passou por um período de expansão e recebeu especial atenção do Governo Federal. A publicação, o Turismo no Brasil: Principais Evoluções: 1995/2002. (2003, p. 26) apresenta as mudanças previstas no cenário do turismo nacional, a partir do fortalecimento da atividade no mercado e de um planejamento governamental. Entre elas pode-se destacar: • Promover o desenvolvimento local sustentável nos municípios turísticos. • Criar ambiente para a geração de empregos, redução das desigualdades regionais e a inclusão social dos excluídos. • Garantir direitos e qualidade na prestação de serviços turísticos ao consumidor. O Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT foi uma das ações estratégicas do governo brasileiro para o desenvolvimento. De 1995 a 2002 o PNMT articulou parcerias, sensibilizou comunidades em todo o Brasil, capacitou agentes multiplicadores e monitores municipais. Já em 2003 a criação do Ministério do Turismo constituiu um marco no processo de consolidação da atividade no país, tendo como desafio “reconhecer o turismo como atividade capaz de alavancar o desenvolvimento econômico e social, contribuindo para a redução de desigualdades regionais, a distribuição de renda e o fomento à preservação de nossas heranças naturais e culturais” (TURISMO NO BRASIL 2007/2010, p. 5). O Plano Nacional de Turismo - PNT 2003/2007 estabeleceu objetivos e metas para o alcance daquele desafio e trouxe uma análise sobre o turismo no Brasil (2003, p. 17): 21 Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, está longe de ocupar um lugar no cenário turístico mundial compatível com suas potencialidades e vocações. A falta de articulações entre os setores governamentais tem gerado políticas desencontradas, fazendo com que os parcos recursos destinados ao setor se percam em ações que se sobrepõem ou que não estão direcionados para objetivos comuns. A falta de articulação também se faz presente entre os setores público e privado (PNT 2003, p. 17). Os desafios do governo brasileiro, estabelecidos entre os anos de 1995/2003 tinham objetivos comuns. Visando conhecer as conquistas e dificuldades dos objetivos propostos, o Ministério do Turismo elaborou um documento de referencial sobre o turismo no Brasil, para diagnosticar o desenvolvimento da atividade no país e apresentar propostas para o período de 2007/2010. O documento apresenta o diagnóstico do período de 2003-2007, considerando o que estava previsto no Plano Nacional de Turismo e alguns pontos merecem ser destacados: • Entre 2003 e 2005, foram aplicados R$ 321,9 milhões pelo MTur, em ações de promoção do produto turístico; • Em 2005, o Brasil alcançou a receita cambial turística de US$ 3,86 bilhões, atingindo a marca de 34 meses consecutivos de crescimento, desde março de 2003; • Considerando o ano de 2002 até 2005, o crescimento da entrada de turistas estrangeiros no país foi de 43%; • O país recebeu cerca de 6,8 milhões de passageiros de vôos internacionais, em 2005, incluindo brasileiros voltando do exterior e turistas estrangeiros; • O número de passageiros em vôos nacionais foi de 43,1 milhões, também em 2005; • O mercado de trabalho formal em turismo cresceu em comparação a 2001, 28% em 4 anos. • O setor foi contemplado com o maior volume de recursos orçamentários já executados em ações de promoção do destino Brasil; 22 • O Ministério do Turismo realizou o mapeamento turístico do país, para identificar as regiões e roteiros que devem ser objeto de ordenamento e estruturação territorial, gestão, qualificação e promoção, com visão de curto, médio e longo prazo; • 87 roteiros turísticos, abrangendo 166 regiões e 474 municípios foram selecionados para obtenção de padrão internacional de qualidade; 3.2 OS CAMINHOS QUE AINDA PRECISAM SER PERCORRIDOS Percebe-se que o turismo teve uma boa atuação nos últimos anos e ainda assim, nota-se que, em alguns casos, pouco se evoluiu, como afirma o documento referencial sobre o Turismo no Brasil 2007/2010 (2006, p. 13) “apesar dos bons resultados apresentados pela atividade nos últimos anos, o país não alcançou um patamar de estabilidade e não ocupa um lugar no mercado turístico, nacional e internacional, compatível com suas potencialidades e vocações”. O documento apresenta alguns fatores que limitaram sua atuação, tais como: a carência de infra-estrutura básica e turística, as dificuldades que os Estados, municípios e regiões turísticas enfrentam para assimilar, aplicar e operacionalizar os programas de desenvolvimento do turismo; a falta de informações e dados produzidos e organizados de forma sistemática e a vulnerabilidade do transporte aéreo nacional e internacional, que pode vir a se constituir um entrave para a expansão do turismo. Em dezembro de 2006, o Ministério do Turismo apresentou em sua publicação “Sustentabilidade Econômica” alguns indicadores que constatam a importância da atividade turística no Brasil, descritas abaixo. Exportações brasileiras - O turismo teve grande importância para o equilíbrio da balança comercial (exportações menos importações de bens e serviços) brasileira nos últimos anos. Em 2005, a atividade turística ficou entre os 5 produtos mais importantes da pauta de exportações brasileiras, que são as vendas de bens e serviços do país ao mercado externo. Gerou US$ 3,8 bilhões de dólares, superado apenas pelo minério de ferro (US$ 7,2 bi), soja (US$ 6,3 bi), autos (US$ 4,3 bi) e petróleo bruto (US$ 4,1 bi). Este dado nos mostra 23 o relevante papel do setor, se apresentando como uma importante ferramenta de política econômica para aumentar as exportações e contribuir para a melhoria do saldo da balança comercial. Receita cambial - São os gastos efetuados por brasileiros no exterior, subtraído dos gastos de turistas estrangeiros no Brasil. Historicamente, o balanço da receita cambial é negativo, sendo portanto deficitário. Desta forma, entre 1990 e 2002, o país acumulou um déficit de US$22,6 bilhões, o que corresponde a um déficit médio anual de quase US$ 2 bilhões de dólares. O expressivo crescimento do número de turistas internacionais no país tem reduzido este déficit para valores significativamente inferiores. Assim, nos anos de 2003 e 2004, o Brasil chegou a obter um superávit acumulado de quase US$ 500 milhões de dólares. Desembarque de passageiros em vôos internacionais - Entre 1995 e 2005 (dados até agosto/2005), o desembarque no Brasil de passageiros procedentes de vôos internacionais evoluiu de 3,35 milhões para 6,78 milhões. Em 10 anos, o crescimento acumulado chegou próximo a 100%. Para período semelhante, as chegadas internacionais em todo o mundo passaram de 565,5 milhões para 763,0 milhões, registrando 35% de crescimento. Até 2010, estima-se que as chegadas internacionais em todo o planeta alcançarão o patamar de 1 bilhão de passageiros. Desembarque de passageiros em vôos nacionais - A grande performance verificada nos vôos internacionais é ultrapassada nos vôos nacionais. Os desembarques locais têm registrado sucessivos recordes. Enquanto em 1995 cerca de 16,8 milhões de residentes realizaram vôos domésticos, em 2005 ocorreram mais de 43 milhões desembarques. Fluxo de visitantes - As estatísticas sobre o fluxo de visitantes no Brasil, registradas pela Embratur, apontam um forte crescimento nos últimos anos no ingresso de estrangeiros. O volume de turistas internacionais que visitou o País, passou de 3,7 milhões em 2003 para 5,5 milhões em 2005, um incremento de quase 50% em 2 anos. 24 Os estudos demonstram um bom desempenho da atividade turística nos indicadores analisados. Após a criação do Ministério do Turismo, houve um esforço em apresentar resultados positivos para a economia do país, entretanto, é importante que se conheça os efeitos sociais da atividade. O Ministério do Turismo, em parceria com a UNICAMP, elaborou no ano de 2006, um estudo intitulado “O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliação da Competitividade e Propostas de Políticas Públicas para o Setor, onde apresenta o resultado de uma análise dos dados sobre a realidade da atividade turística no país, tais como: perfil etário, quantitativo sobre o número de empregos, grau de instrução, remuneração dos trabalhadores ocupados no setor e perfil ocupacional. Na tabela 1 está descrito o perfil etário das pessoas ocupadas no turismo. Tabela 1 - Distribuição das Pessoas Ocupadas no Turismo conforme Idade e Sexo (%) Brasil-2004 Idade 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 ou mais Total Homem Mulher 1,60 8,00 26,60 23,30 21,70 12,40 6,40 100,00 1,20 7,80 27,50 25,10 22,80 11,40 4,20 100,00 Fonte: Tabulações do projeto “O Turismo no Brasil”, a partir dos dados da PNAD Com relação ao perfil etário das pessoas ocupadas no setor de turismo, percebe-se na tabela anterior, que a grande maioria concentra-se nas idades 20 a 49 anos (73%) e um pequeno percentual de pessoas abaixo de 15 anos (1,5%). A diferença de sexo também é semelhante. A tabela 2 apresenta a distribuição das pessoas ocupadas no turismo conforme o grau de instrução e sexo. Tabela 2 – Distribuição das Pessoas Ocupadas no Turismo conforme Grau de Instrução e Sexo (%) Brasil-2004. Analfabeto Fundamental Incompleto Médio Incompleto Superior Incompleto Superior Completo Sem Declaração Total Homem 5,1 40,0 24,2 26,6 3,9 0,3 100,0 Fonte: Tabulações do projeto “O Turismo no Brasil”, a partir dos dados da PNAD Mulher 5,4 35,9 21,2 31,5 5,7 0,3 100,0 25 Entre os ocupados no setor turismo, percebe-se que, o percentual de mulheres com nível superior completo 5,7% e maior que os homens 3,9%. O contrario ocorre no fundamental incompleto, onde o percentual de homens 40,0% é maior que o das mulheres 35,9%. A distribuição dos ocupados no setor do turismo segundo o subsetor de atividade e segundo a posse ou não de carteira de trabalho é apresentada na tabela 3. Tabela 3 - Distribuição das Pessoas Ocupadas no Turismo conforme Setor de Atividade e Posse ou Não de Carteira de Trabalho ( %) – Brasil – 2004. Formal Informal Alojamento 78,2 21,8 Alimentação 53,1 46,9 Transporte Terrestre 78,1 21,9 Transporte Aquaviário 56,1 43,9 Transporte Aéreo 92,4 7,6 Atividades Auxiliar ao Transporte 72,8 27,2 Agências de Viagens 58,6 41,4 Aluguel de Veículos Atividades Recreativas, Culturais e Desportivas 71,6 28,4 47,6 52,4 Fonte: Tabulações do projeto “O Turismo no Brasil”, a partir dos dados da PNAD O transporte aéreo é o subsetor que apresenta o maior número de empregados assalariados com carteira assinada 92,4% e o menor número de empregados informal 7,6%. Já com relação às atividades Recreativas, Culturais e Desportivas possuem o maior número de empregados informal 52,4%. A tabela 4 faz um cruzamento entre as faixas de rendimentos com a escolaridade dos ocupados no setor de Turismo. Tabela 4 - Distribuição das Pessoas Ocupadas no Turismo conforme Rendimento e Escolaridade (%) – Brasil 2004 Fundamental Médio Superior Superior Sem Analfabeto Incompleto Incompleto Incompleto Completo Declaração sem rendimento até 1 sm de 1 a 3 sm de 3 a 5 sm mais de 5 sm sem declaração 5,7 38,4 48,1 4,9 2,4 0,6 100,0 7,1 20,4 55,5 11,1 4,7 1,3 100,0 5,6 16,1 55,8 15,1 6,0 1,4 100,0 3,3 8,0 54,3 16,9 14,6 2,9 100,0 Fonte: Tabulações do projeto “O Turismo no Brasil”, a partir dos dados da PNAD 1,2 2,2 17,9 22,6 50,0 6,3 100,0 5,0 24,3 63,5 7,2 0 0 100,0 26 O maior índice dos ocupados que recebem até três salários mínimos encontra-se entre os analfabetos 92,2%, sendo que, o menor índice está entre os que possuem nível superior completo 21,3%. O maior índice dos que recebem mais de cinco salários mínimos encontra-se entre os que possuem superior completo 50,0%. Com base nos estudos apresentados pode-se fazer uma leitura dos impactos do Turismo no país. Percebe-se resultados positivos quanto à geração de emprego, o que não significa evolução das condições de vida da população. Tal evolução pode ser analisada, conforme as mudanças que ocorreram no campo social. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, por meio de um instrumento de vigilância das condições de vida da população brasileira - Radar Social 2006, analisou as principais mudanças que ocorreram no campo social durante o período de 2001-2004, e detectou que a pobreza e a desigualdade estão entre os problemas mais sérios enfrentados pela população brasileira na atualidade. Ambas diminuíram entre 2001 e 2004, mas continua a ser um traço especialmente marcante da população residentes nas regiões norte e nordeste, população negra e residente em área rural; No mercado de trabalho, as principais mudanças ocorridas entre 2001 e 2004 foi o aumento da ocupação total da força de trabalho e a redução do desemprego. A baixa da qualidade da educação básica foi apresentada como um dos mais graves problemas do campo educacional no Brasil, seguido do analfabetismo e o acesso restrito aos níveis de ensino, sobretudo, superior, onde apenas 10,8% da população de 18 a 24 anos chegam e este nível de ensino; O destaque no quadro habitacional brasileiro foi a redução de 11,6% no número absoluto de moradores em domicílios com irregulares fundiária, 11,3% no total de pessoas residentes em domicílios alugados com ônus excessivo com aluguel e de 6% no número absoluto de pessoas que sofrem de adensamento excessivo, ou seja, domicílios superlotados. Mesmo com o resultado positivo entre o período de 2001 e 2004, existem 14,8 milhões de brasileiros com adensamento 27 excessivo, 7,2 milhões com irregularidade fundiária, 5,3 milhões que sofrem de ônus excessivo com o pagamento de aluguel e 43,4 milhões de brasileiros sem acesso a saneamento básico adequado. Considerando os resultados positivos dos estudos apresentados, do país como um todo, os índices revelam que muito se tem feito e que ainda há muito a se fazer, principalmente com relação à desigualdade, educação e pobreza. Com uma nova gestão, o Ministério do Turismo lançou, em junho de 2007, o Plano Nacional de Turismo 2007/2010: Uma viagem de inclusão, como um instrumento de planejamento e gestão que visa fazer do turismo um indutor de desenvolvimento e de geração de emprego e renda no Brasil (2007, p.11). Novas metas foram criadas, novos objetivos estabelecidos, aperfeiçoando as iniciativas que estavam em curso. O modelo de desenvolvimento proposto contempla: “a força e o crescimento do mercado com a distribuição de renda e a redução das desigualdades, integrando soluções nos campos econômico, social, político, cultural e ambiental” (2007, p.15). Apesar dos diversos obstáculos, os responsáveis pelo desenvolvimento da atividade turística no país trabalham visando à geração de empregos, redução das desigualdades e a inclusão social dos excluídos como descrito por diversos autores no capítulo 2 deste estudo. 28 4. TURISMO X POBREZA NAS LOCALIDADES INVESTIGADAS O Estado da Bahia possui um grande potencial turístico, sendo um dos principais destinos de turistas nacionais e internacionais, atraídos não só pela capital, mas também por sua costa litorânea, composta por municípios onde o turismo está consolidado, com diversos atrativos e infra-estrutura turística. Sua capital, Salvador é o mais importante destino do Estado e é o portão de entrada para alguns municípios de grande interesse turístico, como os que compõem a Costa dos Coqueiros. Figura 1 Figura 1 – Costa dos Coqueiros Fonte: http://guiadolitoral.uol.com.br/fotopraias/costadoscoqueiros.gif Costa dos Coqueiros está situada no litoral norte da Bahia, formada por um vasto litoral, com praias, lagos, dunas, rios, fazenda de coqueiros e protegida por Áreas de Proteção Ambiental - APAs, tornou-se um destino de lazer e turismo regional. Na década de 90, com a construção da Linha Verde, extensão da Estrada 29 do Coco, essa região ficou interligada com a divisa do Estado de Sergipe, o que ocasionou o aceleramento no processo de ocupação e urbanização. Os municípios que compõem a Costa dos Coqueiros participam do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste do Brasil (PRODETUR NE II) e está inserido no Pólo Salvador e Entorno. A definição do pólo é apresentada pelo Banco do Nordeste, órgão executor do Programa: “espaço geográfico claramente definido, com pronunciada vocação para o turismo, envolvendo atrativos turísticos similares e/ou complementares” (http://www.bnb.com.br). O PRODETUR visa assegurar uma melhor qualidade de vida da população local, aumentar as receitas do setor, melhorar a capacidade de gestão da atividade em áreas de expansão e de potencial turístico e garantir um desenvolvimento sustentável e integrado. Para o Pólo salvador e entorno foram identificadas as seguintes ações: fortalecimento da capacidade da gestão municipal, urbanização, capacitação profissional e saneamento . Entre os municípios que compõe a Costa dos Coqueiros, encontram-se os investigados neste estudo, Mata de São João e Camaçari. 4.1 O MUNICÍPIO DE MATA DE SÃO JOÃO O Município de Mata de São João está localizado no litoral norte da Bahia, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (Censo 2000) uma densidade populacional de 32.568 residentes, numa área geográfica de 670 km2, que revela uma paisagem onde as remanescentes da mata atlântica convivem com dunas, restingas, coqueirais, lagoas, manguezais, rios cachoeiras e praias. Entre os distritos de maior destaque, por sua importância econômica e turística, destacam-se Costa do Sauípe, Diogo, Imbassaí e Praia do Forte, localizados no litoral norte, na Costa dos Coqueiros. A principal atração turística de Mata de São João é Costa do Sauípe, um dos mais bem estruturados complexos turísticos privados do país (Figura 2). De acordo com Couto (2003, p. 41) o Complexo Costa do Sauípe ocupa uma área de 1 milhão e 720 mil m2, com 141 mil m2 construídos e uma extensão de 6 km de praia, 30 onde estão localizados cinco grandes hotéis, operados por três redes internacionais; Marriot, Accor e SuperClubs, além de seis pousadas temáticas, que revelam a história viva da Bahia. Figura 2 – Costa do Sauípe Fonte: http://www.bahiarealestates.com/locationsm_clip_image037.jpg O Complexo Costa do Sauípe fica a 80 km do aeroporto de Salvador e oferece uma ampla área de lazer, composta por 15 quadras de tênis, campo de golfe, piscinas, lojas, bares, boates, spa e restaurantes, centro náutico e espaço para a realização de eventos e convenções, estando localizado em área de proteção ambiental – APA. Ao se planejar o futuro empreendimento, o EIA/RIMA (apud COUTO 2003, p. 29) já alertava: “_Impactos decorrentes do adensamento de pessoas no entorno da área do projeto: 31 • Invasão de áreas de proteção rigorosa com a finalidade de fixação de residência; • Geração de conflitos entre os migrantes e a comunidade local; • Rápido crescimento de criminalidade; • Pressão sobre os recursos naturais - aumento da cata em áreas de mangue, acúmulo de lixo em áreas urbanas e de proteção rigorosa, aumento dos despejos de esgoto a céu aberto e nas áreas úmidas, rios e mar, intensificação do processo de contaminação dos lençóis freáticos devido à instalação de fossas próximas aos poços, a áreas úmidas ou de lençóis freáticos superficiais. Exploração predatória das florestas e animais silvestres; • Intensificação do processo de degradação da saúde da população e aumento da demanda por serviços médicos; • Aumento da demanda por serviços escolares; • Aumento da demanda por energia elétrica e eventual aumento do numero de ligações irregulares na rede de distribuição; • Choque de culturas e alteração dos valores da população local; • Crescimento das redes de prostitutas já existentes na área; • Comprometimento da qualidade de vida da população local. Apesar do grande investimento no planejamento, com a implantação do complexo os cuidados com os impactos previstos no EIA/RIMA foram abandonados e hoje alguns dos problemas estão ocorrendo. Os impactos sociais positivos e negativos causados pela implantação do Complexo Costa do Sauípe na comunidade foram apresentados por (COUTO, 2003, p. 87) Quadro I: 32 Quadro I – Impactos Sociais na Costa do Sauípe IMPACTOS SOCIAIS POSITIVOS SAÚDE Multiplicação das informações obtidas nos cursos e treinamentos voltados para a hotelaria. EDUCAÇÃO O desejo de retornar aos estudos, Cursos de Ensino Básico na Escola Estadual Alaor Coutinho, Escola de Produção, Projeto Meninos do porto, Programa de Ensino Supletivo (PROES). DESENVOLVIMENTO LOCAL Valorização do artesanato local, estruturação e criação de associações e cooperativas, abastecimento de água e energia elétrica em Vila de Santo Antônio e Vila Sauípe. IMPACTOS NEGATIVOS IMIGRAÇÃO Elevado processo migratório para Praia do Forte e Porto do Sauípe. CUSTO DE VIDA A elevação dos preços praticados pelo comércio de Praia do Forte, motivado pelo aumento do número de visitantes. PROSTITUIÇÃO Envolvimento sexual de jovens da Praia do Forte com turistas; prostituição em Porto do Sauípe iniciada com a explosão demográfica provocada pelas obras de construção do Complexo. CONSUMO E TRÁFICO DE DROGAS Disseminação do consumo e tráfico de drogas em Vila Sauípe, Praia do Forte e Porto de Sauípe. MEIO AMBIENTE Poluição do Rio Sauípe, degradação de manguezais e contaminação de lençóis freáticos da região. Fonte: COUTO, Rosalina da Conceição, 2003. O impacto Social do Turismo O quadro anterior demonstra que o turismo causa vários impactos sociais negativos, que ocorrem principalmente pela falta de planejamento e pela falta de integração entre o poder público e privado, impedindo que resultados positivos sejam alcançados. O planejamento é primordial para o desenvolvimento local, como também é necessário que a comunidade esteja consciente da importância do turismo para a localidade, dessa forma, governo e população poderão se beneficiar dos impactos positivos causados pela atividade. 33 O autor destaca que as providencias relacionadas aos problemas não foram tomadas em virtude da falta de entendimento entre a prefeitura de Mata de São João, o governo do Estado da Bahia, empresários do complexo e os lideres comunitários. Lembrando que a redução dos problemas depende do planejamento feito em parceria entre o setor público e privado e a comunidade. Em seu estudo Couto (2003, p. 81) observou a não existência de dados que pudessem comprovar a melhoria da qualidade de vida da população, porém utilizou alguns relatos de moradores que sofrem com os problemas locais, tais como: a alta do custo de vida, perda de identidade, baixa escolaridade, mão de obra importada para as melhores funções. O autor utilizou depoimentos e declarações da comunidade, que o fez perceber que somente com investimento em educação, os benefícios seriam alcançados pela população. Mata de São João possui outros produtos turísticos que são utilizados para promover o desenvolvimento e a inclusão, entre eles está a base mãe do Projeto Tamar (Figura 3), localizado na Praia do Forte, que tinha como objetivo inicial proteger as tartarugas marinhas, mas com o tempo percebeu que a chave para o sucesso do projeto seria o apoio ao desenvolvimento das comunidades costeiras, oferecendo alternativas econômicas que amenizassem a questão social. Atualmente o projeto atua em três linhas de ação: Conservação e Pesquisa Aplicada, Educação Ambiental e Desenvolvimento Local. Figura 3: Projeto Tamar – Praia do Forte Fonte: www. tamar.com.br 34 A base desenvolve pesquisas, cursos de formação de guias-mirins, apóia a Creche da Praia do Forte, treina estagiários de universidades brasileiras e estrangeiras e gera dezenas de empregos diretos e indiretos na região. Apesar da infra-estrutura, potencial e atrativos de Mata de São João, em abril de 2006 deu-se inicio ao processo de instalação ao Pólo Industrial do município, a indústria de bijuterias e acessórios femininos Mega Tetra foi inaugurada na localidade, com um investimento de R$ 8,5 milhões e de acordo com a Acessória Geral de Comunicação Social do Estado da Bahia (2006) o estado da Bahia investiu cerca de R$ 1 milhão, prevendo a implantação de novas indústrias que tenham grande utilização de mão-de-obra e afirmou “antes mesmo da inauguração, a empresa já estava empregando 175 pessoas na fase operacional e cerca de 130 prestadores de serviço, sendo que 80% são mulheres”. Embora tenham existido ações planejadas para a expansão do Turismo, no Município de Mata de São João, a atividade causou grande impacto negativo na população local, vários nativos que possuíam residência e comércio próprio, tais como: pousadas e lojas de artesanatos, venderam seus bens para estrangeiros e passaram de proprietários a funcionários. Com base no que foi discorrido nos capítulos anteriores, percebe-se que apesar de ter ocorrido o planejamento na exploração do espaço, a linha de pensamentos dos responsáveis pelo desenvolvimento do Turismo em Mata de São João, não reflete no que foi apresentado pelos diversos autores, uma vez que, a população local não teve acesso aos serviços e oportunidades gerados pela implantação do Complexo Turístico Costa do Sauípe. No entanto, o governo local busca atrair novos investimentos, visando potencializar as vocações locais e melhorar a qualidade de vida da população local. 35 4.2 O MUNICÍPIO DE CAMAÇARI O Município de Camaçari está localizado a 50 quilômetros de Salvador, possui uma área geográfica de 760 km2, com uma densidade populacional de 161.727 residentes. São mais de 42 km de praias paradisíacas (Figura 4), um diversificado conjunto de riquezas naturais, econômicas, históricas e culturais, como: quatro áreas de preservação ambiental com reservas da Mata Atlântica, lagos e lagoas, rios, dunas, corredeiras, variadas opções de restaurantes e bares, excelente rede hoteleira e a mais tradicional aldeia hippie do Brasil, conhecida na década de 70, visitada por artistas nacionais e internacionais. Camaçari é conhecido por aliar beleza natural e conforto, na localidade encontra-se lazer e infra-estrutura de primeira qualidade, piscinas naturais de águas cristalinas, praias perfeitas para a prática do surf e áreas próprias para a prática de esportes. Figura 4: Orla de Camaçari Fonte: www. tamar.com.br 36 A principal atividade econômica do Município não é o turismo. O Pólo Industrial de Camaçari tem mais de 60 empresas químicas, petroquímicas e de outros ramos de atividade como indústria automotiva, de celulose, metalurgia do cobre, têxtil, bebidas e serviços. É o primeiro complexo petroquímico (Figura 5) planejado do país, o maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul. Figura 5: Pólo Petroquímico A importância do Pólo Industrial de Camaçari reflete nos resultados econômicos do Município. O Cofic – Comitê de Fomento Industrial de Camaçari disponibiliza em sua página na internet as ações que o Pólo desenvolve na comunidade, entre elas: programas de incentivo à educação, estimulando a melhoria de desempenho dos estudantes nas áreas da leitura, oralidade e escrita, prêmio de incentivo para escolas públicas, que oferecem ensino fundamental, cursos, seminários e oficinas pedagógicas, para professores e alunos das escolas públicas, prêmio de proteção ambiental, entre outras iniciativas. Sobre os dados econômicos do Município a Cofic (http://www.coficpolo.com.br/) apresenta alguns números: • Faturamento de aproximadamente US$ 14 bilhões/ano; • Emprega 13.000 pessoas diretamente e 20.000 pessoas por meio de empresas contratadas; 37 • Contribuição anual acima de R$ 700 milhões em ICMS para o Estado da Bahia, respondendo por mais de 90% da arrecadação tributária de Camaçari; • Participação no Produto Interno Bruto baiano superior a 30%; • Investimentos em programas sociais superiores a R$ 10 milhões/ano; • Investimento global superior a 11 bilhões de dólares; • Capacidade instalada acima de 11,5 milhões de t/ano de produtos químicos e petroquímicos básicos, intermediários e finais; • Produção no segmento químicos/petroquímicos que atende a mais da metade das necessidades do país; • Capacidade instalada para 220.000 toneladas/ano de cobre eletrolítico, no segmento de metalurgia do cobre, e de 250 mil veículos/ano no segmento automotivo; • As exportações representam em média U$ 2,0 bilhões/ano, cerca 35% do total exportado pelo Estado da Bahia, e se destinam a praticamente todo o mundo. 4.3 COMPARATIVO SOBRE O DESEMPENHO DE MATA DE SÃO JOÃO E CAMAÇARI A seguir, a Tabela 6 apresenta a evolução da população por área, no período de 1991 a 2000. Constata-se que nos dois municípios ocorreu um considerável aumento na população e que a maior população concentra-se na área urbana. Tabela 5 - Evolução da População por Área, no período de 1991 a 2000. Municípios Camaçari Mata de São João 1991 2000 Urbana Rural Total 108.232 5.407 24.143 6.392 91-2000 Urbana Rural Total 113.639 154.402 7.325 161.727 43.32% 30.535 30.535 7.599 32.568 6.66% Fonte: PDITS Salvador e Entorno, a partir dos dados IBGE - Censos Demográficos (Total %) 38 A Tabela 6 apresenta o número de alunos que concluíram cursos profissionalizantes com ênfase no Turismo, em 2000. Apesar de Camaçari não utilizar como principal atividade econômica o Turismo, nota-se na tabela anterior que o número de formandos em cursos profissionalizantes com ênfase no turismo, é quatro vezes maior que o de Mata de São João, onde o turismo tem maior potencial. Tabela 6 - Educação Profissional - Alunos Formandos em 2000 SENAC Municípios Educação Profissional Hotelaria e Turismo Camaçari 1.970 Mata de São João 448 Fonte: PDITS Salvador e Entorno, a partir do SENAC/Departamento Regional da Bahia A partir da Tabela 7 pode-se perceber o número de empregados na área do turismo e sua evolução, entre 1995 e 2000. Nota-se que os dados de participação percentual dos empregados, em relação ao total de trabalhadores na área do turismo, em 1995, Mata de São possuía um maior percentual. Em 2000, Camaçari tem o percentual elevado, demonstrando o desenvolvimento da atividade turística no município. Tabela 7 - Total de empregados e participação do Turismo (Ano 1995 e 2000) 1995 Municípios Camaçari Mata de São João 2000 Total de empregados Participação do empregado no Turismo (%) Número de empregados na área de Turismo 291 24.439 1.19 2.149 29.165 7.37 335 1.383 24.22 1.661 4.275 38.85 Número de empregados na área de Turismo Total de empregados Participação do empregado no Turismo (%) Fonte: PDITS Salvador e Entorno, a partir dos dados da RAIS - Relação Anual de Informações Sociais A Tabela 8 apresenta a evolução da cobertura de abastecimento de água para os municípios. Apesar do crescimento apresentado no período, ainda existem nos municípios uma considerável parcela da população sem o serviço de abastecimento de água. 39 Tabela 8 – Índice de Cobertura do Serviço de Abastecimento de Água (domicílios) Municípios Camaçari Mata de São João 1990 2000 73% 89% 46% 63% Fonte: PDITS Salvador e Entorno, a partir dos dados do IBGE/EMBASA Apresenta-se na Tabela 9 os índices de domicílios atendidos por coleta de lixo. A questão da limpeza urbana é causa de preocupação, do ponto de vista da saúde pública e poluição. A Tabela anterior demonstra que houve evolução nos dois municípios, porém Mata de São João tem o pior índice. Tabela 9 - Evolução do índice de Coleta de Lixo (domicílios) Municípios 1990 2000 81% 85% 24% 60% Camaçari Mata de São João Fonte: PDITS Salvador e Entorno, a partir dos dados do IBGE/2000 Lemos (2005, p. 19) produziu, em 2005, um documento intitulado de Mapa da Exclusão Social no Brasil: radiografia de um país, assimetricamente pobre, onde buscou avaliar e aferir os indicadores de pobreza, entendida como um processo brutal de exclusão social, aferida por privação dos serviços essenciais, tais como: privação de água, saneamento, coleta sistemática de lixo, educação e renda. A seguir, na tabela 10, o autor apresenta um panorama sobre da exclusão nos municípios investigados. Os valores estimados foram obtidos a partir dos dados do Censo Demográfico 2000. Nota-se que em Camaçari (IES – 24,98%) o índice de Exclusão Social de Camaçari é bem menor que o de Mata de São João (IES – 40,64%), o mesmo ocorre com as privações de água, saneamento, lixo e educação. O destaque vai para o percentual elevado da privação de renda de ambos. 40 Tabela 10 – Exclusão Social e Privações em Municípios da Bahia MUNICÍPIO Camaçari INDICE DE EXCLUSAO SOCIAL (%) POPULAÇÃO 24.98 161.727 PRIVAÇÕES DE AGUA (%) PRIVAÇÕES DE SANEAMENTO (%) PRIVAÇÕES DE LIXO (%) PRIVAÇÕES DE EDUCAÇÃO (%) PRIVAÇÕE S DE RENDA RENDA CHEFE US$/mês 11.06 35.97 15.09 11.80 60.33 261.73 Mata de São João 40.64 32.568 37.24 Fonte: LEMOS, 2005: Banco do Nordeste 74.40 39.81 17.80 68.32 209.19 O Índice de Desenvolvimento Humano determina o nível de desenvolvimento humano a partir do atendimento às necessidades básicas do ser humano, tais como: educação, longevidade e renda. A partir da tabela 11 pode-se observar o desenvolvimento do Brasil, do Estado da Bahia e dos municípios investigados. Percebe-se que todos apresentaram um significativo desenvolvimento entre os anos de 1991 e 2000. O Estado da Bahia cresceu 15,3% e a educação foi grande responsável pelo aumento do IDH-M, enquanto a renda obteve o menor índice no Brasil, na Bahia e nos municípios investigados. Tabela 11. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, 1991 e 2000 - Estados da Região Nordeste IDHM IDHM IDHM IDHM IDHM IDHM IDHM Estado Renda Renda Longevidade Longevidade Educação 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 IDHM Educação 2000 Brasil 0,696 0,766 0,681 0,723 0,662 0,727 0,745 0,849 Alagoas 0,548 0,649 0,556 0,598 0,552 0,646 0,535 0,703 Bahia 0,590 0,688 0,572 0,620 0,582 0,659 0,615 0,785 Ceará 0,593 0,700 0,563 0,616 0,613 0,713 0,604 0,772 Maranhão 0,543 0,636 0,505 0,558 0,551 0,612 0,572 0,738 Paraíba 0,561 0,661 0,543 0,609 0,565 0,636 0,575 0,737 Pernambuco 0,620 0,705 0,599 0,643 0,617 0,705 0,644 0,768 Piauí Rio Grande do Norte 0,566 0,656 0,518 0,584 0,595 0,653 0,585 0,730 0,604 0,705 0,579 0,636 0,591 0,700 0,642 0,779 Sergipe 0,597 0,682 0,582 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 0,624 0,580 0,651 0,630 0,771 41 Na tabela 12 pode-se observar que nos municípios pesquisados ocorreu um considerável aumento do IDH-M. Em Mata de São João nota-se que a educação foi o componente que mais influiu no aumento, seguido da longevidade e da renda que também tiveram forte contribuição no crescimento. Já Camaçari a longevidade teve maior influência, seguido da educação e por último a renda. Tabela 12: Índice de Desenvolvimento Humano - 1991/2000 – Municípios Investigados Municípios IDHM 1991 IDHM 2000 IDHM Renda 1991 IDHM Renda 2000 IDHM Longevidade 1991 IDHM Longevidade 2000 IDHM Educação 1991 IDHM Educação 2000 Camaçari 0,651 0,734 0,586 0,623 0,586 0,707 0,780 0,873 Mata de São João 0,584 0,671 0,526 0,583 0,561 0,619 0,665 0,812 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 42 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do que foi exposto nos capítulos anteriores pode-se perceber que o turismo no Brasil obteve um bom desempenho nos últimos anos. Os indicadores demonstram o crescente número de entrada de turistas estrangeiros, um considerável volume de recursos aplicados para a promoção do produto turístico. Outros indicadores evidenciam a boa atuação da atividade turística, inclusive no que diz respeito ao crescimento do mercado de trabalho formal em turismo. Ao longo deste estudo observou-se que desde a década de 90, quando iniciou a expansão da atividade turística, os órgãos gestores do turismo trabalham com a finalidade de torná-lo vetor de desenvolvimento local, buscando criar ambiente para a geração de empregos, redução das desigualdades e a inclusão social. Entretanto, é sabido que a atividade encontra limitações para promover o desenvolvimento e a inclusão social. Entres os fatores limitantes encontra-se a educação, que de acordo com os dados apresentam um elevado número de pessoas ocupadas no turismo com nível fundamental e médio incompletos. Também é relevante considerar como forte fator limitante as dificuldades que os Estados, regiões e municípios turísticos enfrentam para assimilar, aplicar e operacionalizar os programas de desenvolvimento, devido a carência de mão de obra qualificada. Como visto ao longo deste estudo, no Município de Mata de São João fica evidente o grande potencial turístico e sua importância para a economia local. Notase uma boa evolução nos indicadores de desempenho, porém percebe-se que a carência de mão-de-obra qualificada é um fator que impede a inserção dos nativos nos empregos gerados pela atividade turística, ocasionando a atração de trabalhadores qualificados. Apesar dos grandes empreendimentos no Município de Mata de São João, os benefícios advindos da atividade turística não atingem toda população, ou não atendem ainda. No presente momento, o beneficio fica restrito a uma minoria e ainda é alto o percentual de domicílios privados de saneamento básico e o índice de exclusão social ainda está elevado. O Município de Camaçari, embora possua também um grande potencial turístico, não o utiliza como principal atividade econômica e o Pólo Industrial do 43 município desenvolve ações que visa o desenvolvimento local, investe em programas sociais e educacionais, urbanização, saneamento básico e novos empregos. O estudo demonstra que o turismo é uma atividade que pode promover o desenvolvimento local e a inclusão social, desde que exista um planejamento que assegure que a comunidade local não seja excluída após a consolidação da atividade. As ações governamentais são de extrema importância para o desenvolvimento da localidade. Contudo a elaboração de novos projetos, novos planos e programas, não são suficientes, a capacidade técnica dos municípios deve ser levada em consideração, pois os grandes problemas surgem na hora de implementar as ações. A mão-de-obra qualificada é fundamental para o desenvolvimento local e a redução das desigualdades sociais. Todavia, para que exista um melhor aproveitamento da mão-de-obra local na atividade turística é necessário que ao se formular estratégias de desenvolvimento do turismo, sejam implementados programas de qualificação adequados à realidade local, visando qualificar o quadro de pessoal efetivo, como também facilitar o acesso da população aos empregos gerados pelo turismo. 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARBACHE, Jorge. Pobreza e Mercados no Brasil. Comissão econômica para América Latina e o Caribe – CEPAL, 2003. BAHIA.Secretaria da Industria e Turismo. Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável. Salvador: Bahiatursa, 2004. BAHL, Miguel. 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