A ecologia industrial em diversas regiões do mundo Análise de experiências de simbiose industrial e parque industrial ecológico na América do Norte, Europa e Ásia Cibelle Pereira Trama1 Alessandra Magrini 2 Resumo: Este artigo apresenta uma síntese dos fundamentos da Ecologia Industrial (EI) e de suas principais ferramentas utilizadas – a Simbiose Industrial (SI) e o Parque Industrial Ecológico (PIE). Destacam-se, com base na literatura existente, algumas experiências de SI e PIE em países da América Norte (Estados Unidos e Canadá), da Europa, como Dinamarca, Holanda, Suécia, Portugal e Inglaterra, e da Ásia, como a China, do ponto de vista das suas características e de seus fatores condicionantes. De modo geral, verifica-se a existência de atividades de SI e PIE em diversas regiões, que exploram a EI de maneiras distintas devido ao contexto político, econômico, social e ambiental, específico de cada país. Ressalta-se, ainda, que áreas caracterizadas como distritos industriais apresentam um significativo potencial para motivar novos projetos de SI e PIE, visto a aplicação e o sucesso de iniciativas de Ecologia Industrial em terrenos brownfield. 1 - Cibelle Pereira Trama – Mestranda do Programa de Planejamento Energético (PPE/COPPE/UFRJ) – Engenheira de Produção (UFOP) –, Tel. (21) 3938-8760, E-mail: [email protected] 2 - Alessandra Magrini – Professora Associada (PPE/COPPE/UFRJ) –Tel. (21) 3938-8760, E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO Este trabalho foi desenvolvido no contexto da Ecologia Industrial (EI), cuja visão sistêmica permite identificar e propor novos arranjos para os fluxos de energia e de materiais em sistemas industriais, tendo como princípios básicos a integração das atividades produzidas e a redução da degradação ambiental. As ferramentas propostas pela Ecologia Industrial implicam em mudanças no planejamento, na construção e no gerenciamento dos sistemas industriais, as quais levam em conta os ecossistemas, a economia e a sociedade, para o benefício mútuo. Para isso, é necessário identificar possíveis relações econômicas, ambientais e sociais entre as indústrias, a fim de minimizar os impactos resultantes dos processos industriais no meio ambiente e na sociedade. O objetivo deste estudo consistiu, dessa forma, em analisar a literatura existente sobre os princípios da EI, suas ferramentas e experiências de desenvolvimento de Simbiose Industrial e Parque Industrial Ecológico em alguns países da América do Norte, Europa e Ásia. Este trabalho está estruturado em três seções que tratam, respectivamente, dos fundamentos da Ecologia Industrial e suas ferramentas, de algumas experiências internacionais de Simbiose Industrial e Parque Industrial Ecológico e, por fim, das considerações finais. 1- Ecologia Industrial O conceito de Ecologia Industrial surgiu em meados da década de 1970, no contexto da atividade intelectual que marcou os primeiros anos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), mas ganhou um considerável impulso a partir do início dos anos 1990 (ERKMAN, 1997). Em 1989, Robert U. Ayres desenvolveu o conceito de “metabolismo industrial”, cuja ideia fundamenta-se, basicamente, na aplicação de balanços de massa e de balanços de energia ao longo dos processos produtivos (MARINHO e KIPERSTOK, 2001). A publicação do artigo intitulado “Strategies for Manufacturing”, de Robert Frosch e Nicholas Gallopoulos, na revista Scientific American, em 1989, tornou o conceito de EI mundialmente conhecido. Segundo os autores, é possível desenvolver métodos produtivos menos danosos ao ambiente, substituindo-se os processos isolados por sistemas integrados, denominados “ecossistemas industriais” (GIANNETTI e ALMEIDA, 2006). Para Fragomeni (2005), a EI visa investigar, por meio da análise dos balanços de materiais, como os ecossistemas industriais se “fecham”. Neste sentido, um dos princípios básicos da EI consiste no uso eficiente dos recursos materiais, enfocando a otimização do ciclo total de materiais, onde os resíduos gerados em um processo podem ser utilizados como insumos em outro processo e, dessa forma, o conceito de resíduo deixa de existir. Veiga (2007) enfatiza que a redução do consumo de recursos naturais (água, matérias primas, energia), o aumento da eficiência energética, a redução do volume de resíduos e da poluição são alguns benefícios da EI para o meio ambiente. Na esfera econômica, tais benefícios viabilizam a redução de gastos com matéria prima, insumos energéticos e gerenciamento de resíduos, além de proporcionar uma imagem melhor da indústria no mercado. Neste sentido, a diminuição dos impactos causados ao meio ambiente resultantes da atividade industrial, além da adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo, contribuem para o desenvolvimento sustentável. Há duas ferramentas para a aplicação dos princípios da Ecologia Industrial no sistema industrial: a Simbiose Industrial e o Parque Industrial Ecológico. 1.1 Simbiose Industrial (SI) Tanimoto (2004) define Simbiose Industrial como sendo uma “ferramenta emergente da Ecologia Industrial que estuda os fluxos de matéria e de energia numa economia local, regional e global, onde, tradicionalmente, as instituições trabalhavam de forma isolada, e onde a abordagem coletiva, a colaboração e possibilidades sinérgicas oferecidas pelas proximidades geográficas entre essas instituições levam a vantagens competitivas”. Neste sentido, a SI tem como objetivo central o aumento do desempenho econômico das indústrias, a proteção do meio ambiente e o bem estar da comunidade, uma vez que busca reduzir os danos resultantes dos processos industriais causados ao meio ambiente e à população, além da diminuição dos custos operacionais das indústrias integrantes, por meio do intercâmbio de matéria prima, água, insumos energéticos e resíduos. 1.2 Parque Industrial Ecológico (PIE) Segundo Fragomeni (2005), o Parque Industrial Ecológico consiste em uma comunidade de indústrias que opera localmente como um ecossistema industrial, buscando o fechamento do ciclo de materiais, assim como a racionalização e a otimização do uso da água e da energia. O conceito de PIE prevê, ainda, a cooperação entre as indústrias e o desenvolvimento de parcerias entre elas e a comunidade, o que resulta em ganhos de produtividade, aumento de lucros devido à redução de gastos com transporte, aquisição de matéria prima substituída por resíduos e sua disposição, além da diminuição dos impactos ao meio ambiente e à saúde da comunidade, uma vez que a quantidade de resíduos dispostos no ambiente é reduzida. Desse modo, a proposta de um PIE envolve interesses econômicos, sociais e ambientais. Para Veiga (2007), o conceito de PIE é mais abrangente do que o conceito de SI, pois o foco central de um PIE está na gestão ambiental cooperativa entre as indústrias, gestores, comunidade e demais envolvidos, e não apenas no intercâmbio de resíduos, principal elemento da SI. A literatura internacional apresenta diferentes tipologias de PIEs. Lowe (2001) distingue os PIEs virtuais, nos quais as sinergias podem ocorrer entre indústrias independentes, e os PIEs co-localizados, caracterizados por indústrias localizadas em “clusters” industriais. O PIE co-localizado pode ser desenvolvido em brownfield, isto é, em uma área industrial abandonada ou em funcionamento; ou ser planejado em um greenfield, área onde não existe qualquer intervenção econômica e, por isso, o PIE é implementado do zero. 2 - Experiências Internacionais de SI e PIE 2.1 América do Norte Este item apresenta algumas experiências de SI e PIE nos Estados Unidos e no Canadá. 2.1.1 Estados Unidos As experiências de elaboração de Parque Industrial Ecológico nos Estados Unidos foram significativas, ao longo dos anos 1990, devido ao apoio do governo e da Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency - EPA), (COTÉ et al, 1998). Atualmente, o país têm centenas de Parques Industriais Ecológicos desenvolvidos ou em fase de desenvolvimento (GNANAPRAGASAM, 2013). O Quadro 1 a seguir apresenta alguns projetos de PIE instalados nos EUA assim como algumas de suas características. Quadro 1: Alguns projetos de PIEs nos EUA Local Porto de Cape Charles, Virginia Fairfield, Baltimore, Maryland Brownsville, Texas Riverside, Burlington, Vermont Chattanooga, Tennessee Green Institute, Minneapolis, Minnesota East Shore, Oakland, California Londonderry, New Hampshire Trenton, New Jersey Civano, Tucson, Arizona Franklin, Yongsville, North Carolina Raymond, Washington Skagit Country, Washington Shady Side, Maryland Características Tecnologias sustentáveis, recursos naturais costeiros Transformação de uma área industrial existente, cogeração, reuso de resíduos Abordagem regional ou virtual para troca de materiais residuais, marketing Parque industrial agrícola em meio urbano, bioenergia, tratamento de resíduos Adaptação do centro da cidade e de antigas unidades fabris, áreas verdes Pequena escala de empresas verdes, reuso de resíduos Paisagismo, eficiência energética Escala pequena, gestão do parque junto à comunidade Adaptação e transformação de uma área industrial existente Novo desenvolvimento integrando comércio, residências e características naturais Complexo comercial com energia renovável Novo parque com reciclagem de resíduos sólidos e efluentes líquidos Novo parque com sistemas de suporte Renovação das facilidades existentes, manutenção de empregos, empresas tecnológicas e ambientais de pequena escala Fonte: COTÉ et al (1998) Segundo Veiga (2007), a maioria dos PIEs americanos desenvolveram-se em brownfields e são conduzidos por iniciativas dos setores público e privado, contando com a participação de universidades e instituições de pesquisa. Entretanto, algumas dificuldades são encontradas na concretização de sinergias entre as indústrias, principalmente aquelas destacadas pela EI, ou seja, sinergias entre água, resíduos e energia. Vale ressaltar o Parque Industrial de Londonderry, localizado ao lado do Aeroporto de Manchester. O parque abriga 30 hectares de trilhas e terras de conservação permanente. Alguns aspectos desse PIE são destacados, como: uma usina de co-geração de energia de 725 MW, que opera por meio da queima de gás natural; o uso de águas cinzas na geração de energia, proporcionando a economia de quatro mil galões de água, que seriam retirados diariamente do rio Merrimack; o envolvimento de empresários e a formação de um “conselho”, responsável pela prestação de contas e pela comunicação entre o parque e a comunidade local. Destaca-se, ainda, que o PIE Londonderry foi pioneiro na implantação da gestão ambiental através da certificação ISO 14000, a qual organiza procedimentos ambientais, facilita a comunicação de objetivos, impactos e soluções, viabilizando a melhor troca de ideias entre as instalações. Assim, a ISO 14000 é considerada um critério decisivo para a aceitação de um empreendimento nesse parque (DEPPE, 2005). 2.1.2 Canadá Ao longo da década de 1990, existiam poucos projetos canadenses de PIE em comparação aos projetos existentes nos Estados Unidos. O país fortaleceu recentemente a ideia de PIE em sua agenda sustentável e descobriu quarenta locais, no país, adequados para o desenvolvimento de PIEs (GNANAPRAGASAM, 2013). O principal parque canadense é o Parque Industrial Burnside, em Nova Escócia. Coté et al (1998) ressaltam outros PIEs de menor potencial, como: Sarnia (Ontario), que consiste em uma simbiose entre refinarias, borracha sintética e indústria petroquímica; Centro de Energia Bruce, (Ontario), organizado ao redor da Usina Nuclear de Ontario para o aproveitamento da geração de calor e vapor em processos de destilação e desidratação; e Nova Escócia, composto por empresas do setor de papel e papelão, incluindo a reciclagem. Segundo Veiga (2007), a maior parte dos PIEs canadenses são desenvolvidos em brownfields e financiados pelo setor privado em parceria com a agência de proteção ambiental. Com a ajuda dos governos provinciais e federais foi criado, em 1995, o Centro de Produção Mais Limpa Burnside para ajudar a estabelecer intercâmbios ecológicos industriais no parque industrial de Burnside. O papel do Centro de Produção Mais Limpa consistiu em facilitar, promover e apoiar cerca de 1.200 empreendimentos locais com o conceito de sustentabilidade, incluindo serviços como assistência para a busca de tecnologias adequadas e melhor eficiência no uso de recursos para os participantes do PIE, composto por indústrias de impressão, pintura, químicas, informática, mecânica de automóveis, processamento de metais, alimentos, serviços de comunicação, saúde, construção, revenda e logística. Uma das maiores dificuldades enfrentadas por Burnside é a obtenção de dados que possibilitem a elaboração de um inventário de resíduos, cuja maioria é composta por embalagens. Neste sentido, auditorias de resíduos foram realizadas para facilitar a redução de resíduos de embalagens e a identificação de trocas de energia e de resíduos entre as empresas. Uma indústria de embalagens, por exemplo, reutiliza o excedente de poliestireno de uma indústria de informática. Atualmente, existem 25 indústrias de impressão localizadas no PIE e estuda-se o desenvolvimento de um programa de recuperação da prata para a indústria de impressão por meio de agrupamento de recursos de colaboração. Cerca de 20 empresas do PIE distribuem ou fabricam produtos químicos de varejo e, assim, um programa de reciclagem química foi criado entre as indústrias. O Centro ajudou na criação de um programa de troca de tintas entre 21 empresas que utilizam tinta nos processos industriais, para reduzir aproximadamente 5 mil litros de tinta descartados anualmente, buscando fluxos de materiais a fim de criar programas adequados para a reutilização e reciclagem de cartuchos, reforma de móveis e a retintagem de fita (GNANAPRAGASAM, 2013). Outra iniciativa canadense de EI é verificada no Plano Diretor desenvolvido com o objetivo de estabelecer um PIE no distrito onde está localizado o Aeroporto John C. Munro Hamilton. Esse plano atribui princípios e critérios da EI para desenvolver uma área de 1.340 hectares de terra em torno do aeroporto, devido às estimativas de que esse local irá fornecer cerca de 27.700 postos de trabalho e 660 hectares de terras para atividades agrícolas em 2031, conforme é preconizado no Estudo Integrado de Crescimento e Desenvolvimento, junto ao Plano Diretor de Hamilton. Esse projeto, nomeado Airport Employment Growth District (AEGD), é aplicado em um distrito que não foi completamente desenvolvido e busca incentivar oportunidades de emprego bem como apoiar o crescimento da população com base no conceito de um PIE. Neste sentido, foram calculados a demanda diária de água, o fluxo médio de água, o fluxo anual de passageiros e o consumo diário de água por passageiro. Algumas tecnologias de conservação de água foram propostas, como a captação e utilização de água da chuva. O conjunto de indústrias a integrar o PIE também foi definido no Plano Diretor, que enfatizou a atração de indústrias de armazenagem, reparação, comércio, escritório, distribuição, transporte, comunicações e utilitários para o distrito. Ressalta-se, ainda, uma grande ênfase dada ao desenho urbano, por meio da valorização da natureza em espaços públicos e do uso de espécies nativas no paisagismo. Outro aspecto do Projeto AEGD é incluir elementos de sustentabilidade no PIE através das redes de transporte, projetadas de modo a reduzir o congestionamento, assim como promover o uso de corredores verdes e rotas de trânsito rápido. Além disso, foram estabelecidos alguns elementos importantes no que diz respeito à construção, como o mínimo de 75% de todo o material de construção produzido em uma distância menor que 800 km do local do projeto e um mínimo de 10% desse material proveniente de material reciclado, com o intuito de promover a sinergia de resíduos e ressaltar a importância da energia, da água, dos serviços públicos e das trocas materiais entre as indústrias. Recentemente, uma equipe de estudantes universitários concluiu um projeto de pesquisa sobre as oportunidades de EI no Distrito Portland, em Toronto. Segundo o levantamento realizado, algumas empresas do distrito já estavam envolvidas em trocas simbióticas e há um potencial não aproveitado de vínculos ecológicos industriais dentro do mesmo. Entretanto, a hesitação das empresas em fornecer as informações dos seus insumos e resíduos, a falta de mecanismos necessários para promover a troca de informações sobre os benefícios do PIE e o desconhecimento entre as empresas sobre os diferentes tipos de indústrias localizadas em outras áreas do distrito, dificultam a implantação de um PIE no local. Atualmente, não há programas no Canadá que apoiam especificamente o desenvolvimento de PIE, mas os programas disponíveis podem ser adaptados para atender os princípios da EI. O Quadro 2 a seguir apresenta os programas de sustentabilidade governamental, junto a uma breve descrição de suas principais características. Quadro 2 – Programas canadenses de incentivo à sustentabilidade Programa Infraestrutura Energia e resíduos Ambiental Pesquisa e desenvolvimento Características Fornecimento de subsídios de aluguel para auxiliar novas indústrias de manufatura e processamento; parcerias entre o setor privado, o governo e organizações sem fins lucrativos. Incentivos fiscais são fornecidos às indústrias para redução de resíduos e de consumo de energia bem como para estímular o uso de fontes renováveis. Alguns governos provinciais oferecem descontos em tecnologia sustentável, como veículos elétricos e iluminação eficiente. O programa Home Energy Savings, de Ontario, oferece desconto de até 10 mil dólares para os moradores adaptarem sua propriedade de forma sustentável a fim de reduzir o consumo de energia. Criação de um intercâmbio entre o ambiente natural e a comunidade, a fim de promover o bem-estar da sociedade. Os projetos buscam a preservação e proteção do ambiente natural local para atrair futuros residentes e empreendimentos. Como exemplo, a Província de Ontário criou uma taxa de reciclagem de produtos eletrônicos, na esperança de reduzir os resíduos eletrônicos e subsidiar o custo de reciclagem dos mesmos. Há diversos programas federais e provinciais disponíveis para lidar com agricultura, água, energia e resíduos. São realizadas doações financeiras para auxiliar os investimentos de pesquisa e desenvolvimento, concentrando o apoio para a pesquisa em universidades e hospitais canadenses. Fonte: Elaboração própria a partir de Gnanapragasam (2013) 2.2 Europa Este item apresenta algumas experiências de SI e PIE nos seguintes países europeus: Dinamarca, Holanda, Suécia, Portugal e Inglaterra. 2.2.1 Dinamarca O ecossistema industrial de Kalundborg, na Dinamarca, é um exemplo clássico de Simbiose Industrial. Reconhecido como um dos ecossistemas industriais mais antigos, Kalundborg começou a se desenvolver em 1970 quando cinco indústrias fizeram uma parceria com o governo do município para diminuir os custos operacionais, atender a legislação ambiental, gerenciar os resíduos industriais e obter melhor aproveitamento de água (MOTTA et. al, 2013). Segundo Côté e Rosenthal (1998), alguns aspectos viabilizaram o desenvolvimento do PIE dinamarquês, como o conjunto adequado de indústrias, a proximidade geográfica, a integração pré-existente entre elas, o interesse em promover o desenvolvimento sustentável, os acordos comerciais e a cooperação voluntária entre os atores. Nos anos 2000, este PIE contava com seis indústrias centrais: a Termoelétrica de Asnaes, maior usina termoelétrica a base de carvão mineral (capacidade de 1500 MW) do país; a Statoil, uma refinaria que pertence a estatal de petróleo da Dinamarca; a Novo Nordik, empresa do setor farmacêutico e de biotecnologia; a Gyproc, produtora de placas de gesso; o município de Kalundborg, cujo sistema de aquecimento residencial é abastecido a partir do fornecimento de energia proveniente da termoelétrica Asnaes; e a A-S Bioteknisk Jordrens, empresa do setor de bio-remediação do solo (FRAGOMENI, 2005). Os principais resíduos permutados por essas indústrias são: carvão, enxofre, gesso, lodo e óleos da estação de tratamento de efluentes. Vale salientar o papel importante do governo da Dinamarca, que impulsiona e fortalece as sinergias de resíduos entre as indústrias. A cada quatro anos, um plano de estratégia nacional de resíduos é elaborado, especificando ações e utilizando instrumentos econômicos (impostos, por exemplo) para atender as políticas da União Européia. Além disso, os municípios desenvolvem planos de gestão de resíduos para períodos de curto prazo (4 anos) e longo prazo (12 anos), estabelecendo regras para o tratamento dos resíduos e o produtor de resíduos, responsável pela gestão dos mesmos, deve cumpri-las. Destaca-se que o município pode classificar e notificar os resíduos, assim como exigir o licenciamento para operações de sua gestão (COSTA et. Al, 2010). 2.2.2 Holanda Atualmente, existem mais de sessenta ecossistemas industriais na Holanda e verificase uma efetiva preocupação do governo holandês em promover arranjos industriais a partir dos princípios da Ecologia Industrial (JÚNIOR, 2014). Heeres et al (2004) apresentou a análise de duas iniciativas implementadas no país: os projetos Rietvelden/Vutter (RiVu) e Moerdijk. Rietvelden é um complexo industrial que começou a se desenvolver em 1996, em Den Bosch, em brownfield e é composto por aproximadamente 400 indústrias. Foram implantadas unidades de fornecimento de água, energia e vapor (técnica de cogeração), estação de tratamento de efluentes e o aproveitamento de biogás obtido dessa estação. Para Heeres et al (2004), um fator que contribuiu para o sucesso de Rietvelden foi a participação ativa das companhias, entretanto, a divergência de opinião entre elas levou a ocorrência de falhas no complexo industrial. O PIE Moerdijk começou a se desenvolver em 1998, em brownfield e é composto por mais de 200 empreendimentos. Ressalta-se, neste caso, uma característica importante de um PIE: a existência de uma indústria âncora capaz de direcionar o comportamento das demais com um padrão de qualidade e de capacitação. No caso de Moerdijk, essa indústria âncora é uma refinaria da Shell, que possui terras e as disponibiliza a outras companhias, com as quais realiza sinergias, como: a companhia Montell utiliza eteno e outros gases da refinaria e envia seus resíduos a mesma; a companhia Kolb utiliza óxido de eteno da Shell; o incinerador de resíduos da companhia AZN fornece vapor e eletricidade à refinaria. A participação ativa das companhias, a existência de boas relações de troca e associação de empresários favoreceu o sucesso deste PIE, mas a distância relativamente grande entre os empreendimentos prejudicou o funcionamento do parque. Baas (2011) ressalta as atividades de SI na região do Complexo Industrial do Porto de Roterdã, uma área fortemente industrializada de cerca de 100 km² e um milhão de habitantes em meio urbano. Em 1994, a associação da indústria regional, Deltalinqs, implantou um programa de pesquisa em EI - o Industrial Eco System (INES) na região mencionada, caracterizada por possuir um potencial de realização de troca de calor residual como um substituto ao gás natural, o que pode levar à obtenção de um sexto da meta holandesa de redução de emissão de dióxido de carbono. No entanto, o grande tamanho da área dificulta o sucesso do projeto, além de decisões corporativas, que planejam a instalação de usinas baseadas em combustível fóssil, como o carvão, na região de Rijnmond, maior área de Roterdã. Outro aspecto destacado pelo autor sobre a implantação de PIEs em Rijnmond referese a viabilidade econômica dos projetos, algumas vezes considerados inviáveis devido ao período de tempo necessário para obter o retorno do investimento realizado. Apesar disso, estuda-se o sistema de fornecimento de calor da ordem de 100 MW para abastecer 50 mil residências e atividades futuras para conectar 500 mil casas e indústrias na parte sul da província de Zuid-Holland, em 2020. Vale salientar, ainda, o papel da companhia OCAP, que captura as emissões de dióxido de carbono da planta Shell e as distribui para 500 empreendimentos no Norte de Roterdã, como substituição ao uso de gás natural. Esse projeto iniciou em 2005 e, em 2007, as indústrias obtiveram uma redução de 170 mil toneladas de emissões de dióxido de carbono, evitando a queima de 95 milhões de m³ de gás natural. A infraestrutura de calor residual futuro projetado é ilustrado na Figura 1 (as linhas vermelhas são os novos gasodutos primários, nas linhas azuis já existem sistemas de aquecimento urbano e as linhas vermelhas pontilhadas devem ser construídas posteriormente). Os empreendimentos que integram o projeto são refinarias, centrais eléctricas e incineradores, que auxiliam o sistema de aquecimento urbano que, por sua vez, irá atender: Roterdã (1) e seus arredores (6), Dordrecht / Zwijndrecht (2), a área de efeito estufa Tinte / Vierpolders (3), a cidade de Haia e seus arredores (4) e Delft (5). Figura 1: Infraestrutura para o fornecimento de calor residual Fonte: Baas (2011) 2.2.3 Suécia Baas (2011) destaca atividades de Simbiose Industrial na região sueca de Östergötland, que possui 10 mil km² e 430 mil habitantes. Essa região consiste em uma área agrícola com indústrias espalhadas em três locais: Linköping, Finspäng e Norrköping, cuja área industrial Händelö é considerada um pequeno PIE. O autor enfatiza que a conservação da natureza tem uma longa história na Suécia, onde existem políticas florestais desde o início do século 20. Assim sendo, um desenvolvimento espontâneo de tecnologia limpa é observado em Östergötland, que compreende, além dos municípios citados, cem organizações industriais, operando segundo o princípio de “transformar problemas ambientais em oportunidades de negócios”. Várias atividades se desenvolveram, como a instalação de 1,7 km de tubulações para o uso de águas residuais, rica em nutrientes, de um matadouro na unidade de produção de biogás, em Linköping. O biogás produzido é utilizado em ônibus públicos e táxis nas cidades, visto que o governo local decidiu substituir parte do combustível de transporte tradicional por biogás, para evitar o aumento da poluição ambiental na cidade. Outras atividades de SI relacionam-se ao uso de biomassa na região de Händelö, conforme a Figura 2, a seguir, que ilustra a simbiose entre a planta E.ON, a usina de etanol, a unidade de biogás e o município de Norrköping. Atualmente, a planta E.ON fornece calor e eletricidade para a usina de etanol e o município, utilizando um combustível composto de fontes renováveis, incluindo resíduos domésticos, borracha e resíduos de madeira. A usina de biogás utiliza o lodo derivado da estação de tratamento de águas residuais de Norrköping. Após a fermentação, o biogás é “convertido” em combustível veicular e distribuído aos postos de abastecimento locais. Cerca de 30% da produção da planta de cogeração é entregue na forma de vapor para a usina de etanol, que produz anualmente 210 milhões de litros de bioetanol e 195 mil toneladas de pelotas de proteína para a alimentação do gado. Os resíduos não destinados à alimentação do gado se tornam matérias-primas para outra unidade de biogás. Figura 2 – Simbiose Industrial em Händelö, Suécia Fonte: Baas (2011) Muitas sinergias na Suécia são desenvolvidas com base em um único negócio, mas grandes PIEs são improváveis. Em longo prazo, o Programa de Investigação de Ecologia Industrial 2009-2019 deve pesquisar e difundir o conhecimento no que diz respeito à tecnologia limpa, SI, resíduos para aplicações de energia e de biocombustíveis em uma base econômica sólida, através dos resultados de pesquisa e avaliação contínua de projetos de sustentabilidade. Os projetos de investigação sobre o uso de calor residual, sinergias de biocombustíveis, aterros e mineração iniciaram em 2010. As políticas e atividades desenvolvidas em Östergötland já resultaram em uma redução de emissão de dióxido de carbono superior a 20% em comparação com o nível de emissões na região em 1990. 2.2.4 Portugal Segundo Costa et. al (2010), alguns instrumentos políticos contribuem para moldar o desenvolvimento português sob uma perspectiva sustentável. Estes instrumentos incluem a informação eletrônica obrigatória e o livre comércio de resíduos. Neste contexto, destaca-se o Mercado Organizado de Resíduos, coordenado por uma entidade privada e subsidiado por instituições públicas, com o objetivo de promover a oferta e a procura de resíduos, facilitar as operações e incentivar o uso de produtos reciclados no mercado, uma vez que a substituição de matérias primas por resíduos é considerada uma alternativa à gestão portuguesa de resíduos. No entanto, tais esforços encontram-se espalhados no país e confinados às indústrias de grande porte. Para o autor, o exemplo mais relevante de SI em Portugal é o Eco Parque do Relvão, em Chamusca. Com 746 km2 de área e 11 mil habitantes, o concelho da Chamusca é uma das regiões com maior área per capita do país. Em 2001, o Ministério do Trabalho e Segurança Social de Portugal classificou esta região em risco de morte social, levando a Câmara Municipal da Chamusca (CMC) a identificar os pontos fortes do local a fim de criar estratégias sustentáveis de desenvolvimento e revitalizar o tecido econômico e social. Conforme a análise da CMC, foram constatados aspectos que auxiliam a implantação do PIE, como longa experiência em gestão de resíduos, grande exposição solar, solos férteis, grandes rios e áreas disponíveis para o desenvolvimento (COSTA et. al, 2007). Neste sentido, verificou-se a participação do governo na gestão do projeto bem como o acompanhamento e a divulgação deste junto a comunidade, que aceitou a instalação do parque ao reconhecer a oportunidade de motivar economicamente o local e obter novas fontes de emprego. Outra proposta de PIE destacada por Costa et. al (2007) refere-se ao Bio Tecno Parque Oeste, a ser implementado na Região Oeste do país, que abrange uma área de 2.794 km2, caracterizada pela presença do mar, colinas e vales, uma população de 350 mil habitantes e treze municípios. A predominância de práticas agrícolas na região permite uma oferta significativa de resíduos orgânicos, além dos subprodutos das indústrias de alimentos e bebidas, resíduos florestais e da indústria madeireira. Assim sendo, o projeto busca pesquisar e desenvolver um Sistema Bio-Integrado de Produção a partir dos resíduos lignocelulósicos das principais culturas da região, permitindo integrar atividades agroindustriais ao agregar valor aos seus resíduos. Costa et. al (2007) enfatiza, portanto, que o PIE Relvão e o Bio-Tecno Parque Oeste consistem em dois importantes elementos para potenciar o estabelecimento de uma rede de SI em Portugal, como apresentado na Figura 3. Vale mencionar, também, o Centro para a Ecologia Industrial (CIE) da Universidade de Coimbra, criado para estabelecer uma estrutura organizacional de investigação e ensino em EI em Portugal, reunindo professores, pesquisadores e estudantes para desenvolver novos conhecimentos nesta área científica junto a outras instituições e parceiros internacionais, principalmente na Europa, América Latina e Estados Unidos (CIE, 2014). Figura 3 – Representação de uma rede de SI em Portugal Fonte: Costa et. al (2007) 2.2.5 Inglaterra O governo do Reino Unido introduziu alguns instrumentos econômicos, regulatórios e voluntários que moldaram o cenário político para o desenvolvimento inglês. Alguns desses projetos são o Imposto sobre o Aterro (LT), o Projeto de Protocolo de Resíduos (WPP) e o Programa Nacional de Simbiose Industrial (NISP), destacado no contexto deste estudo (COSTA et. al, 2010). O NISP consiste em um instrumento voluntário que auxilia as empresas a redirecionar seus resíduos, encontrando parceiros que utilizem os subprodutos como matéria prima de outros produtos, obtendo ganhos ambientais e econômicos. Criado em 1999, esse programa foi inspirado pela simbiose da indústria energética no Golfo do México e, em 2004, o NISP foi financiado pelo governo britânico para estimular o uso eficiente dos recursos naturais. Em 2009, cerca de 10 mil empresas integravam a rede, fazendo do programa uma referência para a União Européia na questão do gerenciamento de resíduos. Com a colaboração entre o governo e a iniciativa privada, o NISP expandiu para o International Synergies, que tem por finalidade incentivar novas iniciativas, semelhantes ao NISP, em outros países (JÚNIOR, 2014). Hoje, o NISP conta com a participação de 15 mil indústrias de diversos setores (IS, 2014). Júnior (2014) cita, como um caso de sucesso do NISP, a parceria estabelecida entre duas empresas: Terra Nitrogen Ltda, fabricante de produtos nitrogenados, e John Baarda Ltda, criadora de vegetais. Enquanto a Terra Nitrogen Ltda buscava uma solução para o dióxido de carbono e o vapor obtidos durante a produção da amônia, a John Baarda Ltda pretendia aumentar sua produção de vegetais e acessar o mercado de varejo. A interface entre as duas empresas foi realizada pelo NISP, o que implicou na redução da emissão de 12 mil toneladas de dióxido de carbono e na criação de oitenta empregos. Ainda segundo o autor, o NISP é considerado o programa de SI em estágio mais avançado, servindo de inspiração para outras iniciativas como, por exemplo, o Programa Brasileiro de Simbiose Industrial. 2.3 Ásia O continente asiático apresenta cerca de quatro mil distritos industriais em operação e, em virtude dessa grande concentração industrial, que pode causar danos ao meio ambiente e à sociedade, alguns países da Ásia estão implementando PIEs, visando, também, melhorar o desempenho econômico e industrial (VEIGA, 2007). De modo geral, grande parte dos PIEs asiáticos são co-localizados, implementados tanto em brownfields quanto em greenfields. Este item apresenta algumas experiências de PIE na China. 2.3.1 China A rápida industrialização chinesa implica em sérios conflitos entre o desenvolvimento econômico e a proteção do meio ambiente. Neste sentido, nos últimos anos, a China vem buscando reduzir esses conflitos ao investir em diversas iniciativas de natureza local e regional a fim de implementar os princípios da EI, incentivando o desenvolvimento de PIE, cujo conceito foi introduzido no país no final da década de 1990 (FANG et. al, 2007). Em 1999, a State Environmental Protection Administration (SEPA) passou a apoiar o desenvolvimento eco industrial e, no início de 2005, já havia estimulado treze complexos industriais a se transformarem em PIEs, entre eles: Guigang, Nanhai, Baotou, Huangxing, Lubei, Dalian, Tianjin, Fushun, Suzhou, Suzhou Hi-Tech, Yantai, Guiyang-Kaiyang e Weifang. A economia desses aglomerados industriais caracteriza-se pela produção de açúcar, papel, galvanoplastia, máquinas, produtos farmacêuticos, eletrônica, comunicação, metalurgia, material de construção e indústrias químicas. Fang et. al (2007) ressalta, ainda, alguns aspectos importantes do desenvolvimento geral dos PIEs chineses e a respectiva situação. O Quadro 3 a seguir apresenta uma síntese de cada aspecto considerado. Quadro 3 – Aspectos do desenvolvimento geral de PIE na China Aspecto Atuação do governo Atuação das empresas Educação Sistema de informação Incentivos financeiros Situação A China tem se comprometido com o desenvolvimento sustentável desde a fase inicial do processo de desenvolvimento industrial. O governo chinês promove o desenvolvimento eco industrial através da criação de políticas, leis e regulamentos, organizando projetos-piloto, proporcionando inovações tecnológicas e fomentando novos mercados. A falta de compreensão dos custos relativos e dos benefícios da participação em PIE leva a dúvidas sobre a viabilidade dos projetos. Por isso, as empresas precisam estar equipadas com declarações claras e exemplos dos lucros a serem adquiridos com o desenvolvimento eco industrial, e essas declarações precisam ser justapostas com explicações sobre benefícios ambientais e sociais, também obtidos. Os esforços da China para acelerar a introdução de conceitos de EI impacta todas as nações em desenvolvimento. A colaboração entre instituições acadêmicas chinesas, européias, norte-americanas e japonesas começa a desempenhar um papel indispensável na evolução do país em EI. Atualmente, ocorre um rápido desenvolvimento do sistema de informação, que auxilia o desenvolvimento eco industrial. Sistemas de informação ambiental em nível municipal estão em processo de construção em algumas cidades lideradas por agências de proteção ambiental. A fim de melhorar a proteção ambiental, sistemas de informação ambiental devem ser estabelecidos em parques e zonas industriais para fornecer dados, como as entradas e saídas de materiais. Ao utilizar os dados para Análise de Ciclo de Vida, por exemplo, administradores de parques industriais são capazes de orientar o desenvolvimento de PIEs. Desta forma, a troca de subprodutos entre as indústrias seria encorajada dentro do PIE. Muitas políticas econômicas existentes na China criam desincentivos à EI. Por exemplo, o baixo preço da água, resultante de um subsídio do governo, não estimula as empresas a pouparem água e realizarem sinergias ou tratamentos. Atualmente, existe uma falta de financiamento para a promoção da EI e divulgação das informações na maior parte do país. Os incentivos financeiros para estimular a adoção de novos conceitos e ferramentas de EI também estão faltando. Fonte: Elaboração própria a partir de Fang et. al (2007) 3 - Considerações finais De modo geral, verifica-se a existência de atividades de SI e PIE em diversas regiões que, inevitavelmente, exploram a sustentabilidade industrial de maneiras distintas devido ao contexto político, econômico e ambiental, específico de cada local. Entretanto, observa-se que a Dinamarca desempenhou um papel importante em relação às demais nações ao estabelecer a SI em Kalundborg, e que os Estados Unidos também se destacaram ao desenvolverem PIEs em seu território nos anos 90. Na América do Norte, as estratégias e programas de incentivo canadenses estimulam a sustentabilidade no país, colocando o Canadá como um grande investidor em Ecologia Industrial. Na Europa, os países analisados encontram-se em diferentes níveis em relação à implantação de iniciativas de EI. Os governos holandês e português demonstram uma preocupação em implementar os princípios da EI, enquanto a Inglaterra destaca-se no contexto mundial do desenvolvimento sustentável devido à criação do NISP que, hoje, ultrapassa fronteiras e fortalece os princípios e benefícios adquiridos das atividades simbióticas. Contudo, a Suécia, apesar de trabalhar a conservação da natureza, não consegue estabelecer PIEs e se restringe a iniciativas espontâneas de um desenvolvimento “mais limpo”. A China, visto como o país que impulsiona o crescimento asiático, apresenta algumas iniciativas de PIEs e enfrenta grandes desafios, principalmente em relação aos incentivos financeiros e à “visão” de muitas empresas. Em síntese, há mecanismos interessantes que deveriam ser aprofundados e divulgados, inclusive, aos países que possuem interesse e lutam pelo fortalecimento da EI. Exemplos desses mecanismos, citados neste estudo, são: a certificação ISO 14000 como critério para a indústria que pretende integrar o parque, como ocorre no PIE americano de Londonderry; o Centro de Produção Mais Limpa, que consiste em um exemplo prático para promover a EI em um parque industrial existente, típico de Burnside; os planos estratégicos dos governos nacional e municipal, a exemplo da Dinamarca; o Mercado Organizado de Resíduos de Portugal, que promove a oferta e a procura de resíduos, facilitando as operações e incentivando o uso de produtos reciclados no mercado; o NISP, instrumento voluntário inglês que auxilia as empresas a redirecionar seus resíduos; o apoio da agência de proteção ambiental e a criação de um comitê para a construção do PIE, como no caso chinês. No entanto, independentemente da adoção dos mecanismos mencionados, constata-se que a existência de uma indústria âncora, capaz de direcionar o comportamento dos demais empreendimentos com um padrão de qualidade e de capacitação, assim como a colaboração entre a administração pública e o setor privado, são essenciais ao sucesso das iniciativas de EI. Os desafios observados, por sua vez, como a hesitação das empresas em fornecer as informações dos seus insumos e resíduos, a falta de mecanismos necessários para conscientizar a sociedade sobre os benefícios do PIE e o desconhecimento entre as empresas sobre outros tipos de indústrias localizadas em áreas próximas, devem ser superados para a efetiva adoção dos princípios da EI. Por fim, considerando os instrumentos que podem ser aplicados e, também, os casos de sucesso estudados, verifica-se que áreas caracterizadas como distritos industriais apresentam um significativo potencial para motivar novos projetos de atividades de SI e PIE, visto a aplicação e o sucesso de iniciativas de Ecologia Industrial em terrenos brownfield. Referências bibliográficas BAAS, L. Planning and Uncovering Industrial Symbiosis: Comparing the Rotterdam and Östergötland regions. Business Strategy and the Environment, v. 20, p. 428-440, 2011. CIE – Center for Industrial Ecology. University of Coimbra, Portugal. Disponível em: <http://www2.dem.uc.pt/CenterIndustrialEcology/ Acesso em: 22 nov. 2014. COSTA, I. S.; PINTO, R. S.; CASAGRANDE JR, E. F.; FERRÃO, P. M. Um Eco Parque no seu Quintal: Casos de Estudo em Portugal. In: IV Encontro Nacional e II Encontro Latino-americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis, 2007, Campo Grande. Anais... 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