Brasília,
quarta-feira,
15 de julho de 1987
CORREIO BR AZILIENSE
Políticos temem as pesquisas
UnB tem dificuldades para elabc)rar o perfil da Constituinte
M. CAVALHEIRO
Da Editoria de Politica
Tentando delinear o perfil politico-ideológico da
Assembleia Nacional Constituinte, o Departamento
de Sociologia da UnB descobriu que os parlamentares brasileiros são um tanto arredios às pesquisas,
não estão habituados à cobrança e em muitos casos
preferem não definir claramente suas posições. O professor João Gabriel Teixeira, que coordena a pesquisa, dá dois exemplos extremos de deputados que se
assustam com as questões
propostas. Um à direita e
outro á esquerda.
Umdeputado do PDS mineiro, informou ao pesquisador, após responder 30
das 105 questões propostas,
que só continuaria respondendo na presença de seu
advogado. Outro parlamentar que o professor define como "um amigo nosso, da esquerda", foi mais
adiante, mas a certa altura,
pulou para
trás,
recusando-se a continuar
respondendo. "Isto parece
coisa do SNI", justificou.
Por essas e outras, a primeira fase da pesquisa —
com prazo até o final de
agosto para ser concluída
— não vai muito bem. Dois
meses de trabalho foram
suficientes para colher
apenas as respostas de 60
dos 240 constituintes sorteados para compor a
amostragem. Em um mês
e meio. é preciso agora
preencher os questionários
restantes, que representam três quartos do total.
O professor João Gabriel, que é também o chefe
do Departamento de Sociologia da UnB, nota falta de
tempo disponível, da parte
dos parlamentares, mas a
circunstância não o faz mu- mas sobre os quais a codar de ideia sobre as difi- brança da socieade é mais
culdades encontradas para intensa.
traçar o perfil da ConstiDas 105 questões, cerca
tuinte. "Esta è uma infor- de 20 referem-se a dados
mação relevante", diz. O biográficos, como os particomportamento de deputa- dos de que participou, as
dos e senadores — deixan- eleições disputadas e seus
do em segundo plano o for- resultados, os cargos públinecimento desse tipo de in- cos que ocupou. A segunda
formação — "mostra que parte engloba temas como
eles não se preocupam ain- a reforma agrária e outras
da com a questão de estrei- questões polémicas na
tar laços efetivos com o Constituinte.
eleitorado que os pôs lá no
A seleção dos assuntos
posto que ocupam", opina. foi feita a partir das proSegundo o professor, pes- postas de entidades de soquisas desse género, "fa- ciedade civil, como os mozem parte do processo vimentos de defesa dos
político e existem em todas índios e da ecologia, a Comissão Pastoral da Terra,
as democracias".
os sindicatos. Segundo o
professor João Gabriel, o
PREVER VOTAÇÕES
resultado da pesquisa — fipelo Ibase, entiSe conseguir obter a nanciada
ligada à Igreia Católiamostragem que a metodo- dade
pelo Instituto
logia científica recomenda ca e apoiada
Estudos
Sóciopara este caso — ouvindo de
Econômicos — será tam240 parlamentares sortea- bém "um registro histórico
dos em número proporcio- das posições políticas assunal ao peso das bancadas midas na Assembleia Nade cada partido e de cada cional Constituinte". Infeestado —, o Departamento lizmente, para grande parde Sociologia terá um ins- te dos parlamentares contrumento útil até para a vidados a responder ao
previsão do resultado de questionário ela tem sido
votações, explica o profes- vista apenas como "um
sor.
transtorno".
Não se trata de um insO professor salienta que,
trumento infalível. Como se não houver um interesse
toda pesquisa de opinião, maior nos próximos 45
esta tem sua margem de dias, o resultado será preerro. "Mas geralmente a judicado. Afinal, a amosgente acerta", ressalva tragem ampla e corretaJoão Gabriel, lembrando mente escolhida é fator
que o trabalho está sendo fundamental para que # '
feito com "rigor académi- análise de uma pesquvfea
co" e é duplamente útil pa- esteja o mais próximo
ra os próprios parlamenta- possível da realidade. De
res. De um lado, eles terão qualquer modo, provavelacesso a este perfil politico- mente já em fin/s de agosto
ideológico quando a pesqui- os senhores p/a'riamentares
sa estiver tabulada e anali- terão acessfoaos primeiros
sada. De outro, as próprias resultado* parciais — cuja
questões propostas, como exatidãjT depende exclusinão foram escolhidas alea- vanKjjaè deles. Do resto, o
de Sociolo-;
toriamente, funcionam co- I>P<rrtamento
ia
mo uma informação dos te- ê / d a UnB se encarrega.
O Congresso
está repleto
de cartazes
o ESTAI
Até nas ruas os cartazes fazem pressão
mm mmm
A Constituinte está servindo para colorir os corredores do Congresso Nacional. O deputado Sérgio Spada (PMDB-PR)
espalha
cartazes em defesa da auditoria da dívida externa,
defensores da criação do
Estado do Triângulo, jogam pesado no visual e deixam os corredores repletos
de impressos que defendem esta posição. Da Bahia, para ornamentar portas de gabinetes, vêem cartazes combatendo a proposta do deputado remando Gomes, de criação do
Estado de Santa Cruz. Mas
não paramos aí: os lobistas
do Estado do Iguaçu (que
desmembraria o oeste do
Paraná e de Santa Catarina) espalham cartazes improvisados por toda cidade;
ao longo do Eixo L e penduram uma faixa em um dos
viadutos da estação rodoviária. Essa guerra de palavras e cores tende a se intensificar, na medida em
que as normas de segurança ficaram mais rigorosas
desde o confronto direto entre a UDR e a Contagno salão verde da Câmara.
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