HOMILIA DOMINGO III DA PÁSCOA “… A reflexão da Igreja sobre estes textos não deveria ofuscar nem enfraquecer o seu sentido exortativo, mas antes ajudar a assumiassumi-los com coragem e ardor”. ardor”. (Evangelii Gaudium, nº 194 94)) 194 OBJETIVO GERAL • A revelação do Ressuscitado. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Caminho; • Palavra; • Pão. Na continuidade das aparições de Jesus aos discípulos, escutamos o Evangelho de hoje que consiste no relato da manifestação de Cristo ressuscitado aos dois discípulos que caminham de Jerusalém para Emaús. Trata-se de uma passagem exclusiva de Lucas que, com grande mestria narrativa, desenvolve um estudo pormenorizado dos personagens que, de forma paulatina, vão passando do desencanto à fé ardente em Cristo ressuscitado. Tratam-se de dois homens que, passados os dias da Páscoa em que Jesus havia sido crucificado, se encontram entristecidos pelos acontecimentos dramáticos ocorridos em Jerusalém e regressam a casa, à terra de Emaús. Mas, de manhã cedo, alguém corre até junto deles com notícias inquietantes: o sepulcro onde Jesus havia sido sepultado fora encontrado vazio e algumas mulheres afirmavam ter escutado os anjos que anunciavam a ressurreição de Jesus. Um pouco mais adiante, no caminho, aproxima-se um Viajante que diz desconhecer o sucedido na cidade de Jerusalém. Eles, cuidadosamente, narram os factos acontecidos e, por seu lado, o Viajante começa a explicar, através das Escrituras, que tudo o que havia sucedido era tão-somente a concretização da vontade de Deus. Chegados à aldeia, e porque a noite ia caindo, o transeunte é convidado a permanecer em casa dos companheiros de viagem e durante a refeição, ao partir do pão, os discípulos reconhecem-no: trata-se do Messias, Jesus ressuscitado! E, sem demora, voltam a Jerusalém, narrando o sucedido, afirmando que Jesus estava vivo! Esta passagem, certamente uma das mais belas de toda a Sagrada Escritura, desenrolase em três momentos: a liturgia do caminho, da Palavra e do pão. A liturgia do caminho acontece durante a jornada de duas horas gastas a calcorrear o trajeto que ligava Jerusalém a Emaús. Um caminho imperfeito e de tristeza. Os dois discípulos sentiam uma grande melancolia porque lhes faltava o Senhor. Nos nossos caminhos, muitas vezes, sentimos a mesma tristeza e imperfeição porque não nos apercebemos que, afinal, o Senhor está no meio de nós, explicando-nos o sentido da Escritura e partindo o pão, que é o Seu Corpo, com o qual nos alimenta. Embora Ele se apresente, assim, no meio de nós, de forma clara, tantas vezes caímos na tentação de O contemplar como uma assombração, um jardineiro, um pescador hábil ou qualquer outro personagem. Mas, para o conseguirmos reconhecer, só mesmo cumprindo a trajetória dos seguidores de Emaús, de Cléofas e do discípulo sem nome que, precisamente, poderá ser cada um dos discípulos do passado, presente ou futuro. A par do caminho percorrido para Emaús, estes dois homens percorreram uma outra estrada, a das Escrituras, e é aí que acontece a liturgia da palavra. É a Palavra de Deus que desvenda o mistério. Porque não entendem a Bíblia, os discípulos raciocinam como Homens, não interpretam o que aconteceu com o olhar de Deus. O caminho da Cruz é, de facto, incompreensível para os Homens. Só perscrutando as Escrituras se descobre que Deus é mais poderoso que o pior dos crimes. Porem, não é suficiente a leitura da Palavra, é imprescindível entendê-la e para o efeito torna-se necessário que alguém a explique com sabedoria, ao ponto de abrasar o coração dos ouvintes. Mas, se a Palavra abre e inflama o coração, a liturgia do partir do pão levanta as pálpebras dos olhos. Os discípulos reconheceram o Messias quando Ele “Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O” (Cf. Evangelho). Aquele que reconhece Jesus não pode calar a sua voz! As santas mulheres, ao reconhecerem que Jesus havia ressuscitado, “afastando-se rapidamente do sepulcro, cheias de temor e de grande alegria, as mulheres correram a dar a notícia aos discípulos” (Cf. Mt 28, 8). A sua tristeza desvaneceu-se e, cheias de alegria, apregoaram a experiência que tinham feito. Os discípulos de Emaús, após terem acolhido a luz que emana do ressuscitado “partiram imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles, que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão» (Evangelho). Estes homens fizeram uma grande inflexão nas suas vidas. Mudaram o caminho, a direção, o sentido. A fuga triste e cobarde de ambos torna-se em jubilosa corrida de anúncio aleluiático, pois agora eles percebem em plenitude o que David havia dito a respeito do Messias: “O Senhor está sempre na minha presença, com Ele a meu lado não vacilarei. Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta e até o meu corpo descansa tranquilo” (1ª Leitura). Sem medo, nos nossos dias, na nossa comunidade, assumamo-nos como discípulos cheios de ardor, portadores de uma mensagem de alegria e esperança, de um Cristo vivo e vivificador! Levemos aos nossos irmãos, ainda acabrunhados, essa Boa-Nova. Pois, “se deixamos que as dúvidas e os medos sufoquem toda a ousadia, é possível que, em vez de sermos criativos, nos deixemos simplesmente ficar cómodos sem provocar qualquer avanço e, neste caso, não seremos participantes dos processos históricos com a nossa cooperação, mas simplesmente espectadores duma estagnação estéril da Igreja” (Evangelii Gaudium, nº 129).