UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO ALESSANDRA LÍVIA LIMA DOS SANTOS AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EM PARCERIA: o caso do Projeto Educação Ambiental e Patrimonial realizado nas Comunidades Boa Vista e Lago Moura - Porto Trombetas/PA Belém-Pará 2012 2 ALESSANDRA LÍVIA LIMA DOS SANTOS AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EM PARCERIA: o caso do Projeto Educação Ambiental e Patrimonial realizado nas Comunidades Boa Vista e Lago Moura - Porto Trombetas/PA Projeto de Dissertação apresentado ao Curso de Mestrado em Administração de Empresas da Universidade da Amazônia como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Administração. Orientadora: Profª. Drª. Eugênia Rosa Cabral. Belém-Pará 2012 3 ALESSANDRA LÍVIA LIMA DOS SANTOS AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EM PARCERIA: o caso do Projeto Educação Ambiental e Patrimonial realizado nas Comunidades Boa Vista e Lago Moura - Porto Trombetas/PA Projeto de Dissertação apresentado ao Curso de Mestrado em Administração de Empresas da Universidade da Amazônia como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Administração. Orientadora: Profª. Dr. Eugênia Rosa Cabral. Data de Aprovação: ___/ ____/2012. Banca Examinadora: Profª. Drª. Eugênia Rosa Cabral (Orientadora- UNAMA) Profª. Drª. Ana Maria Albuquerque Vasconcelos (Examinadora Interna - UNAMA) Profª. Drª. Ivone Maria de Amorim Xavier (Examinadora Externa - UNAMA) 4 Dedico este trabalho, ao meu querido filho Luiz Augusto. Que muitas vezes, ficou sem entender minha ausência, por conta da dedicação ao curso. Ao sair e vê-lo chorando ficava de “coração partido”, no entanto, tinha a certeza de que em algum momento ele ficará muito feliz devido a minha trajetória. Pois é por ele, e para ele, que percorro este caminho. Pensando em seu futuro. Te amo! 5 AGRDECIMENTOS Durante a realização do Curso de Mestrado em Administração, muitas pessoas contribuíram para que eu conseguisse chegar ao fim. Nesta trajetória surgiram muitos obstáculos, os quais fui vencendo um a um. Infelizmente neste processo, surgiu um inesperado: uma doença no sistema nervoso, que me fez trancar o curso por duas vezes, mas felizmente consegui voltar e concluir. Em primeiro lugar, está o sobrenatural: DEUS, aquele que não vemos, mas que colocamos toda nossa vida em suas mãos, para que ele conduza da melhor maneira possível. Sem a fé jamais teria conseguido ter forças para seguir adiante. Agradeço imensamente ao meu filho Luiz Augusto e ao meu marido Luiz Fernando, por compreenderem a minha ausência, e a importância que tudo isso tem para mim. Ao Luiz, tenho uma enorme gratidão, pelo apoio financeiro, sem o qual não seria possível o meu retorno ao curso. Aos meus queridos pais, Andrade e Diva, pelo amor incondicional e incentivo, principalmente nos momentos de crise quando estava doente, e não mediram empenho para minha cura. Aos meus irmãos: Andréia, Anderson e Ariane, grandes parceiros e companheiros de toda vida. Meu agradecimento especial a Andréia, que muitas vezes ficou com meu filho para eu poder ir para as aulas, e Ariane pelo apoio financeiro, e principalmente o incentivo para concluir o curso. Em fim, agradeço meu grande amigo dessa vida, obrigada pelas sábias palavras nas horas certas. Aos meus tios: Ivo, Zanderli, Lucia, Eró, Fátima, Dica, Vanda e Conci, pelas orações e amor no momento da doença. E aos meus amados primos: Suane, Suzane, Suelem, Daise, Alani e Darlan, pelo acolhimento nas horas difíceis. A minha sogra Izabel, que me ajudou muito ficando com meu filho, para que eu pudesse estudar. Obrigada pelo amor e carinho. A amiga Helen, pelos ensinamentos tão preciosos. 6 A minha querida e paciente orientadora, professora Eugênia Cabral, uma pessoa incrível, iluminada, sensível e super capacitada. Um anjo que Deus enviou para me orientar neste processo. A Professora Ana Vasconcelos, coordenadora deste curso, que não mediu esforços para me reintegrar ao curso. A todos os professores do curso, em especial aos professores: Sérgio Gomes, pela oportunidade em trabalhar em sua pesquisa e ao Professor Mário Sobrinho, um grande educador. A todos os colegas da melhor turma que já participei, em especial ao Marcelo, Edgar e Augusto, primeira equipe a qual tive muita ajuda intelectual e a Rose e Sabrina, que não mediram esforços e apoio para eu retornar ao curso. Aos ceramistas das Comunidades Boa Vista e Lago do Moura, que me permitiram entrar em suas casas e realizar minha pesquisa de campo. A amiga Sara, que me acompanhou na viagem de campo, e toda a sua família na comunidade do Boa Vista, que me recebeu com tanto carinho. As secretárias Lucelma e Rita, pelas orientações e apoio nas questões burocráticas. Aos meus médicos: Maria de Nazaré (psicóloga), Maria Cristina (psiquiatra) e José Salame (neurologista), que foram fundamentais no meu processo de recuperação. Ao Padre João Antônio, que acompanha meu tratamento e me deu muito apoio ao meu retorno ao curso. Enfim, creio que minha missão foi cumprida, e sem essas pessoas jamais teria conseguido, obrigado a todos! 7 RESUMO Este estudo busca analisar as ações do Projeto Educação Ambiental e Patrimonial (PEAP) nas Comunidades Boa Vista e Lago Moura, localizadas no município de Oriximiná, estado do Pará. Esse projeto foi implantado em 2001 com vistas a promover o resgate e a preservação do patrimônio ambiental e cultural em quatro comunidades ribeirinhas, sendo duas remanescentes de quilombolas, que surgiram em cima de sítios arqueológicos – Boa Vista e Lago Moura. Trata-se, portanto, de um projeto de caráter cultural e socioambiental, desenvolvido em parceria entre o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), instituição pública de pesquisa, a empresa privada Mineração Rio do Norte (MRN), instalada no município, e representantes das comunidades locais. O objetivo deste estudo é analisar em que medida as ações do PEAP podem ser consideradas propulsoras de desenvolvimento local sustentável. Para responder a essa questão, a pesquisa focou na implementação das ações do PEAP e seus efeitos nas comunidades Boa Vista e Lago Moura. Tem como objetivos específicos: identificar as motivações dos sujeitos sociais contemplados com as ações implementadas pelo PEAP; identificar os possíveis impactos sociais, culturais e econômicos causadas com a implementação das ações do PEAP junto às comunidades Boa Vista e Lago Moura; identificar as expectativas futuras dos sujeitos sociais envolvidos no PEAP, especificamente dos moradores das duas comunidades em estudo. Trata-se de um estudo de caso que segue uma abordagem do tipo qualitativa, embora sejam feitos usos de procedimentos metodológicos quantitativos para demonstrar as condições sociais e econômicas da população em estudo. Entende-se que esta investigação científica é relevante, pois a partir de seus resultados pode-se pensar políticas públicas voltadas para essas comunidades, que embora sejam de grande importância na história da sociedade brasileira, têm suas demandas pouco atendidas pelo poder público. Palavras-Chave: Desenvolvimento Local Sustentável. Responsabilidade Social Corporativa. Parcerias Tri-Setoriais. 8 ABSTRACT This study analyzes the actions of the Environment and Heritage Education Project (PEAP) in Boa Vista and Lake Communities Moura, in the county of Oriximiná, state of Pará This project was implemented in 2001 in order to promote the rescue and preservation of environmental heritage and cultural communities in four river, two remnants of Quilombo, which came on top of archaeological sites - Boa Vista and Lake Moura. It is, therefore, a project of cultural and socio-environmental, developed in partnership between the Goeldi Museum (MPEG), public research institution, private enterprise MRN (MRN), located in the city, and representatives local communities. The objective of this study is to analyze to what extent the actions of the PEAP can be considered drivers of sustainable local development. To answer this question, the research focused on the implementation of the actions of the PEAP and its effects on communities and Boa Vista Lake Moura. Its specific objectives: to identify the motivations of the subjects dealt with social actions implemented by the PEAP; identify potential social, cultural and economic due to the implementation of the actions of PEAP with communities and Boa Vista Lake Moura, identifying the expectations of future social subjects involved in the PEAP, specifically the residents of two communities under study. This is a case study that follows a qualitative approach, although they made use of quantitative methodological procedures to demonstrate the social and economic conditions of the study population. It is understood that this research is relevant, because from their results can be thought of public policies for these communities, which although of great importance in the history of Brazilian society, some have their demands met by the public. Keywords: Sustainable Local Development. Corporate Social Responsibility. TriSector Partnerships. 9 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Gênero dos Participantes da Pesquisa................................................. 43 Gráfico 2 – Idade dos Participantes da Pesquisa.................................................... 44 Gráfico 3 – Escolaridade dos Participantes da Pesquisa........................................ 44 Gráfico 4 – Tempo de Moradia na Comunidade...................................................... 46 Gráfico 5 – Condição em relação à propriedade da terra........................................ 47 Gráfico 6 – Pessoas residentes na propriedade...................................................... 48 Gráfico 7 – Ocupação.............................................................................................. 49 Gráfico 8 – Renda Familiar...................................................................................... 50 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO......................................................................................................... 11 I - REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................. 16 1.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SEUS CONCEITOS................... 16 1.1.1 Princípios Básicos do Desenvolvimento Sustentável............................ 16 1.1.2 Sustentabilidade......................................................................................... 17 1.1.3 As Dimensões da Sustentabilidade........................................................... 20 1.1.4 Desenvolvimento Local Sustentável ........................................................ 23 1.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL.................................................................... 24 1.2.1 Responsabilidade Social Corporativa....................................................... 26 1.3 PARCERIAS TRI-SETORIAIS: UMA TENDÊNCIA?..................................... 32 II – A HISTÓRIA SOCIAL DO LOCAL.................................................................... 32 2.1 AS COMUNIDADES BOA VISTA E LAGO MOURA..................................... 34 III – O PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL – PEAP........ 34 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO............................................................. 37 3.2 OS PARCEIROS DO PEAP.......................................................................... 37 3.2.1 O Museu Paraense Emílio Goeldi............................................................... 37 3.2.2 A Mineração Rio do Norte – MRN............................................................... 38 3.2.3 O início da parceria.................................................................................... 39 3.3 AS AÇÕES DO PEAP NAS COMUNIDADES ENVOLVIDAS....................... 40 IV - O PROJETO EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL E SEUS EFEITOS NAS COMUNIDADES 4.1 – PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS SUJEITOS SOCIAIS CONTEMPLADOS COM AS AÇÕES DO PEAP 4.2 – EFEITOS DO PROJETO EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL (PEAP) NAS COMUNIDADES EM ESTUDO V - CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 43 58 REFERÊNCIAS........................................................................................................ 60 APÊNDICE I – FORMULÁRIO DA PESQUISA....................................................... 63 43 51 11 INTRODUÇÃO O estudo desenvolvido a partir do projeto de pesquisa apresentado ao programa de mestrado em administração foi pensado há 11 anos, quando fui selecionada para ser estagiária de segundo grau no Serviço de Educação, no Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG). Desde então, a ciência e a pesquisa fazem parte de minha rotina profissional, embora em âmbito superficial, já que naquele momento eu fazia parte da equipe de Instrutores do Projeto Clube do Pesquisador Mirim (PCPM), projeto coordenado pelo MPEG e que desenvolve pesquisas e atividades de iniciação científica com alunos do ensino fundamental. Uma das atividades-fim do MPEG é manter serviços e projetos destinados à comunicação científica, em diversas linguagens e para diversos públicos. O Projeto Educação Ambiental e Patrimonial (PEAP), desenvolvido no Baixo Amazonas, mais precisamente em comunidades quilombolas que vivem às margens do Rio Trombetas, é desenvolvido pela equipe de educação do MPEG desde 2001, em parceria com a Mineração Rio do Norte (MRN). O projeto nasceu vinculado a pesquisas arqueológicas realizadas na área de influência da MRN, mas cresceu em seus objetivos e resultados. Deve-se ressaltar que construir pontes entre ciência e cultura naquelas comunidades tem sido um desafio constante aos parceiros do projeto, nesses anos de implementação de suas ações. Nesse sentido, cabe melhor investigar os resultados dessas ações. De acordo com os dados oficiais disponíveis, nos dez anos de atuação do projeto foram contabilizadas dezenas de treinamentos e oficinas, vários materiais didáticos produzidos, inúmeras experiências destinadas à valorização do patrimônio cultural das comunidades, como o uso da música, do teatro, das tradições orais, da história local e do artesanato (cerâmica). Para os gestores e os sujeitos sociais participantes do projeto, não bastassem os resultados que promovem, sobretudo, o diálogo e a tolerância, o PEAP tem a comemorar o crescimento da auto-estima dos moradores das comunidades, expresso pela retomada de costumes abandonados há tempos, assim como pela melhor organização comunitária; melhoria nas atividades econômicas devido à confecção de peças produzidas a partir do barro; e pelo aprendizado que o PEAP tem proporcionado a todos os sujeitos sociais diretamente envolvidos nessas atividades. 12 Vale ressaltar que um dos parceiros do PEAP, a MRN, é uma empresa que visa lucros e retira subsídios da natureza (bauxita) na geração e produção de seus produtos, podendo assim, com suas atividades, provocar significativos impactos no meio ambiente, comprometendo o equilíbrio do ecossistema e alterando o modo de vida das comunidades que vivem em seu entorno. Dentre os impactos causados pelos grandes projetos de desenvolvimento, a exemplo do projeto de exploração de bauxita da MRN, estudiosos do tema destacam a emergência de problemas sociais, econômicos e culturais, os quais serão abordados neste estudo, mais especificamente em relação às Comunidades Boa Vista e Lago Moura. Em relação à temática abordada neste estudo, observa-se que, ao participar de ações sociais em benefício de uma comunidade, como adequação a um novo padrão de comportamento empresarial, a empresa MRN atua na dimensão social do desenvolvimento sustentável e exerce sua responsabilidade social, ou seja, ações vinculadas à responsabilidade sócio-ambiental. Seguindo essa perspectiva, a difusão e o intercâmbio de conhecimentos têm como principal objetivo a conscientização dos cidadãos quanto aos seus direitos, preservação dos recursos naturais, mobilização para a cidadania plena e o desenvolvimento sustentável, com o objetivo de desenvolver o senso de comunidade e solidariedade para a resolução de problemas, conscientizando-os a assumir desafios por sua própria iniciativa. Nas últimas décadas do século XX, as organizações empresariais passaram a assumir um comportamento denominado de responsabilidade social ao se comprometerem com programas sociais voltados para o futuro das comunidades no seu entorno e da sociedade, em geral. O investimento em processos produtivos compatíveis com a conservação ambiental e a preocupação com o uso racional dos recursos naturais também tem importante valor simbólico, por serem de interesse da empresa e da coletividade (INSTITUTO ETHOS, 2006). De acordo com os registros oficiais, o PEAP surge com o objetivo de realizar ações educativas junto a comunidades da área de influência do projeto de exploração de bauxita da Mineração Rio do Norte-MRN, no município de Oriximiná, além de esclarecer sobre a importância da preservação do patrimônio ambiental e cultural da região. Vale ressaltar, que o PEAP realiza a identificação, o registro e a divulgação dos conhecimentos tradicionais e tecnológicos, que permeiam os hábitos culturais e familiares dessas comunidades, como: práticas de produção, plantio, comunicação, 13 transporte, alimentação, saúde e religiosidade. Para isso, alia o conhecimento tradicional das comunidades e o conhecimento científico elaborado no âmbito do Museu paraense Emilio Goeldi (MPEG), em resposta ao processo de perda de identidade que vem acontecendo num ritmo acelerado em decorrência dessas comunidades estarem no entorno da MRN e dela sofrem influência direta. Em consequência dessa possível perda de identidade surgem vários problemas sócioculturais, entre eles a negação de saberes ancestrais, como a técnica de confeccionar utensílios em cerâmica. O PEAP foi concebido a partir da idéia de que a Educação Patrimonial, entendida como “um instrumento de alfabetização cultural” (HORTA, 1999), permite a compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal, considerando-se o desenvolvimento da percepção cultural elaborada em uma experiência concreta de educação, tomando-se como exemplo as Oficinas de Educação Patrimonial. Destaque-se que a educação patrimonial, como proposta metodológica de investigação, apropriação e valorização do patrimônio cultural, foi introduzida no Brasil, na década de 1980. Desde então, diversas instituições, entre eles o MPEG, passaram a desenvolver metodologias próprias para comunicar-se com o seu público. Entende-se que a partir da educação patrimonial podem ser realizadas práticas educativas diversas que permitem aos envolvidos a possibilidade de experimentar novas formas de ver, ler, e compreender o patrimônio cultural, tendo em vista a sua apropriação e, consequentemente, a preservação (RELATORIO DO PEAP, 2010). O PEAP foi implantado em 2001, para desenvolver atividades em quatro comunidades ribeirinhas: Boa Vista, Lago Moura, Lago Batata e Aracuã, entre as quais as duas primeiras são de remanescentes de quilombolas. O objetivo geral do PEAP é o resgate e a preservação do patrimônio ambiental e cultural dessas comunidades, que surgiram em cima de sítios arqueológicos. Em sua proposta inicial, não constava o item geração de renda. No entanto, diante das evidências de que o resgate do patrimônio cultural foi positivo surgiram as “oficinas de barro” em consequência a fabricação e comercialização de utensílios em cerâmica, cuja matéria-prima (barro) é obtida pelos envolvidos com muita facilidade, além de ser um recurso renovável na natureza. 14 Nesse contexto, o PEAP vem agregando características de desenvolvimento local, considerando o desenvolvimento local como um processo de reativação da economia e de dinamização da sociedade local, com base no aproveitamento dos recursos endógenos, objetivando o crescimento da economia, a criação de empregos e a melhoria da qualidade de vida (COMITÊ, 1995). Analisar o PEAP como um projeto de desenvolvimento local torna-se o grande desafio desta pesquisa, visto que para isso faz-se necessária, além de uma descrição densa das ações, uma análise qualitativa de seus efeitos, considerando a especificidade do projeto, que envolve uma instituição pública de pesquisa; uma grande empresa de mineração e duas comunidades remanescentes de quilombolas. Entende-se que esta investigação científica é relevante, pois seus resultados podem subsidiar políticas públicas voltadas para essas comunidades, que encontram-se esquecidas pelo poder público, embora tenham importância inestimável na história da sociedade brasileira. Diante do exposto, importa indagar se a efetivação das ações do PEAP de fato pode ser considerada propulsora de desenvolvimento local sustentável? Para responder a essa questão, a pesquisa focaliza na implementação do PEAP e seus efeitos nas comunidades Boa Vista e Lago Moura, tendo como objetivo geral analisar o processo de implementação e efetivação das ações do PEAP nessas comunidades, de modo a identificar em que medida essas ações podem ser consideradas propulsoras de desenvolvimento local sustentável. Quanto aos objetivos específicos deste estudo: 1) identificar as motivações dos sujeitos sociais contemplados com as ações do PEAP, moradores das Comunidades Boa Vista e Lago Moura; 2) identificar os possíveis impactos sociais, culturais e econômicos causadas com a implementação das ações do PEAP junto às referidas comunidades; 3) identificar as expectativas futuras dos sujeitos sociais envolvidos no PEAP, especificamente dos moradores das comunidades Boa Vista e Lago Moura. Quanto à metodologia utilizada para a realização deste estudo, o trabalho foca nas ações do PEAP, desenvolvidas em parceria entre a empresa MRN, o Museu Goeldi e as comunidades Boa Vista e Lago Moura, localizadas no Município de Oriximiná/PA. Com essa perspectiva o estudo foi realizado em quatro etapas: 1) Levantamento bibliográfico: consulta a diversos trabalhos científicos publicados em livros e revistas, impressos ou disponíveis em meio eletrônicos, acerca do tema, caracterizando uma pesquisa científica. 15 2) Pesquisa documental: consulta a relatórios e publicações do Museu Goeldi e da MRN acerca do projeto. Santos (1999) caracteriza a pesquisa documental como aquela que se serve de documentos que ainda não receberam organização, tratamento analítico e publicação, compostos por tabelas estatísticas, relatórios de empresas, documentos informativos arquivados em repartições públicas, associações, igrejas, hospitais, sindicatos, etc. 3) Visita técnica de campo: realização de visita com o objetivo conhecer a realidade das Comunidades Boa Vista e Lago do Moura, em Oriximiná/PA. 4) Pesquisa de campo para a realização de entrevistas semi-estruturadas com moradores das duas comunidades. A realização de entrevistas teve como objetivo coletar informações acerca dos impactos sociais, culturais, ambientais e econômicos do PEA, assim como identificar a percepção dos sujeitos sociais envolvidos acerca do projeto, além de identificar suas motivações e expectativas futuras em relação ao PEA. A escolha dessa técnica visa assegurar uma uniformidade mínima que, segundo Triviños (1997), permite que o conjunto de informações seja mais facilmente mensurado. A utilização desse tipo de entrevista é adequada ao estudo proposto porque, de um lado, propicia ao entrevistador a oportunidade de expor seus objetivos e direcionar aquelas questões consideradas indispensáveis para a construção do seu objeto de estudo, permitindo-lhe responder às principais questões. Por outro lado, a entrevista semidirigida oferece, ao entrevistado, oportunidade de discorrer com maior liberdade sobre as informações que lhe parecem mais importantes, sem se restringir às perguntas feitas pelo entrevistador, o que permite aumentar a riqueza das descrições. No Apêndice 1 consta o roteiro de perguntas, que embasou as entrevistas realizadas com os membros da Comunidade Boa Vista, em Oriximiná/PA. Este trabalho está estruturado em quatro partes, além desta introdução e das considerações finais. A primeira parte é destinada ao quadro teórico que embasa a análise do problema proposto, com destaque para alguns conceitos fundamentais, a exemplo de desenvolvimento local sustentável, responsabilidade social, responsabilidade social corporativa e parceria trisetorial. Na segunda parte é apresentada uma breve história social das comunidades em estudo, com base nos documentos oficiais e estudos realizados. A terceira parte trata da gênese, caracterização, parceiros e ações do PEAP. Na quarta e última parte são analisados os efeitos das ações do PEAP junto às comunidades envolvidas. 16 I - REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SEUS CONCEITOS Pode-se localizar a origem do tema sustentabilidade na Alemanha, em princípios do século XIX, decorrente da exploração dos bosques madeireiros. A partir do final do século XIX e início do século XX surgem na Europa os primeiros estudos sobre problemas ambientais, entre eles o efeito estufa e as mudanças climáticas (MARTINS, 2005). Mais recentemente, alguns países retomam suas preocupações com as questões ambientais, tornando-se um fenômeno mundial que surge com muita força a partir de 1968, motivado pelos movimentos sociais e logo depois pela crise do petróleo. Em 1970 surge um informativo elaborado pelo MIT (Massachustts Institute of Technology) solicitado pelo Clube de Roma, sobre os Limites de Crescimento e traz como conclusão questões de como chegar a ser uma sociedade materialmente suficiente, socialmente equitativa e ecologicamente contínua. Em 1972 acontece em Estocolmo a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, deixando clara a necessidade de implementar estratégias ambientais adequadas para promover um desenvolvimento sócio-econômico equitativo, nomeado neste momento o termo ecodesenvolvimento que mais tarde veio a se chamar Desenvolvimento Sustentável. Importante destacar que durante a Conferência de Estocolmo os aspectos técnicos que envolvem a contaminação provocada pela industrialização, o crescimento populacional e a urbanização, tiveram mais destaques (MARTINS, 2005). Desenvolvimento Sustentável, segundo o relatório é: O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades (NOSSO FUTURO COMUM, 1991, p. 46). 1.1.1 Princípios Básicos do Desenvolvimento Sustentável Em 1986, a World Found for Nature promoveu a Conferência de Otawa, na qual ficaram estabelecidos alguns princípios básicos Sustentável, que, conforme Martins (2005) são: - Integração entre conservação e desenvolvimento; do Desenvolvimento 17 - Satisfação das necessidades básicas humanas; - Alcance da equidade e justiça social; - Fornecimento da autodeterminação social e diversidade cultural; e - Manutenção da integração ecológica. Ribeiro e Barros (2007) e Baroni (2002) apresentam outros princípios, descartando a questão da equidade com justiça social. Então, os princípios passariam a ser: - Crescimento renovável; - Mudança de qualidade do crescimento; - Satisfação das necessidades essenciais de alimentação, energia, água, saneamento básico e emprego; - Garantia de um nível sustentável de população; - Conservação e proteção da base de recursos; - Reorientação da tecnologia e gestão de risco; - Reorientação das relações econômicas. Esses princípios passaram a ser adotados por organismos e entidades internacionais de fomento na área do meio ambiente. 1.1.2 Sustentabilidade De acordo com Carvalho (Apud PIRES, 2007), sustentabilidade é a relação entre os sistemas econômicos dinâmicos e os sistemas ecológicos mais abrangentes, também dinâmicos, mas com mudanças mais lentas, na qual: - A vida humana possa continuar indefinidamente; - As individualidades humanas possam florescer; - A cultura humana possa desenvolver-se; E os efeitos das atividades humanas permaneçam dentro dos limites, a fim de que não destruam a diversidade, a complexidade e as funções do sistema ecológico de suporte da vida. Segundo Sachs (2004), para se planejar o Desenvolvimento Sustentável deve-se considerar as cinco dimensões da sustentabilidade, a saber: a) Social: cuja meta é construir uma civilização com maior eqüidade na distribuição de bens e de rendas, reduzindo o abismo entre os padrões de vida dos pobres e os dos ricos; 18 b) Econômica: cuja meta é alocar e gerenciar com mais eficiência os recursos e um fluxo constante de investimentos privados e públicos. Deve-se avaliar a eficiência econômica em termos macrossociais, e não apenas por meio do critério da rentabilidade empresarial de caráter microeconômico; c) Ecológica: cuja meta é utilizar as medidas que seguem: - limitar o consumo de combustíveis fósseis; - reduzir o volume de resíduos e de poluição; - ampliar a capacidade de carga do planeta; - promover a autolimitação no consumo de materiais; - definir normas para uma proteção ambiental adequada; - intensificar a pesquisa para a obtenção de tecnologias de menos impacto e mais eficiente. d) Cultural: cuja meta é buscar as raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados. e) Espacial: cuja meta é obter uma configuração rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas. O Relatório de Brundtland, intitulado de Nosso Futuro Comum, ofereceu cinco conceitos-chaves que explicitam a interligação com a humanidade na questão de sustentabilidade (WCED, 1987): a) as necessidades do futuro não poderão ser sacrificadas para as demandas do presente; b) o futuro econômico da humanidade é entrelaçado com a integridade de sistemas naturais; c) o sistema mundial atual não é sustentável porque não satisfaz as necessidades de muitos, principalmente os pobres; d) proteger o ambiente é impossível se não realizamos melhorias nas perspectivas econômicas das pessoas mais pobres do planeta; e) precisamos agir para preservar o maior número de opções para as gerações futuras, sendo que elas têm o direito de determinar suas próprias necessidades. Dessa forma, entende-se, segundo o exposto acima, que futuramente o homem terá as mesmas necessidades de sobrevivência e, observamos no presente atual, os modos de produção não possuem a preocupação necessária para garantir um meio ambiente saudável à humanidade, considerando-se que visam, tão somente, o lucro. 19 A economia atual é predominada pelos lucros dos empresários que, nesse sentido, prejudicam o meio ambiente e se tem observado a luta de movimentos ambientalistas como o Greenpeace, que visa à conscientização de todos, empresários, governo e sociedade civil, em relação a mudanças, principalmente no modo de produção capitalista. Dessa forma, observa-se que a preocupação com o futuro econômico deve ser urgentemente implementada e entrelaçada com os sistemas naturais, ou seja, com a natureza, a fim de que o homem tenha garantido um meio ambiente saudável para as presentes e futuras gerações, como é assegurado na Constituição Federal Brasileira de 1988. No sistema capitalista atual privilegia somente os que podem ter acesso ao consumo e, portanto, somente aos que possuem dinheiro e recursos para tal e, dessa forma, os pobres são excluídos de todos os sistemas atualmente vigentes, como uma decorrência da diminuição da participação dos governos nos mercados, ou seja, menor participação e intervenção estatal na regulação dos mercados e, assim, só compra e/ou consome, quem tem dinheiro. Esse sistema não é sustentável porque a conceito de sustentabilidade inclui sim o desenvolvimento econômico, mas com a inclusão de todos e com o respeito à natureza. A pobreza mundial é visível principalmente em países da África, onde são observadas pessoas em estado crítico de subnutrição e, nesse sentido, os especialistas em meio ambiente afirmam que a proteção ao ambiente somente será viável a partir de melhorias das condições de vida das pessoas pobres, pois, mesmo no Brasil, são verificadas situações de ausência completa de saneamento básico e condições de higiene que prejudicam o meio ambiente, já dejetos humanos e restos orgânicos são lançados a céu aberto, assim contaminando águas e rios e, conseqüentemente, aumentando o índice de doenças em decorrência da pobreza, como verminoses e outras doenças que são transmitidas pela contaminação da água. A conscientização das novas gerações em relação à temática do meio ambiente através da implementação da Educação Ambiental nas escolas possibilitam que as pessoas (futuros adultos e, conseqüentemente, governantes e formadores de opinião) sejam participantes ativas na preservação do meio ambiente, considerando-se que uma maior conscientização lhes forneça um maior número de opções em relação às suas decisões de consumo e, portanto, em direção ao consumo consciente, visando à proteção do homem e da natureza. 20 Para Bruseke (2004), a humanidade tem aprendido que mudanças paradigmáticas seriam necessárias para garantir a vida na Terra, em particular da espécie humana e com níveis mínimos aceitáveis de qualidade de vida. Uma maneira sintética que cobre uma grande variedade de atividades destinadas à proteção da vida na Terra foi definida como desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade Desse modo, a preocupação com a qualidade de vida das gerações futuras e a preservação da Terra é um aspecto chave na definição de desenvolvimento sustentável. De forma mais acadêmica, o desenvolvimento sustentável pode ser definido como um desenvolvimento que atende as necessidades do presente, sem ameaçar as necessidades das gerações futuras (BRUTLAND, 1991). Desenvolvimento sustentável é definido como aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. A Sustentabilidade ou Desenvolvimento sustentável contém dois conceitos chave: o conceito de necessidades e a noção de limitações. O primeiro enfoca principalmente as necessidades essenciais das pessoas pobres do mundo, e o segundo, nas limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõem ao meio, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras. Durante a década de 1990, o pensamento a respeito do Desenvolvimento evoluiu para ser mais associado à qualidade de vida, que “melhore a qualidade de vida, enquanto viver dentro das capacidades da terra” (BRUSEKE, 2004, p. 8). 1.1.3 As Dimensões da Sustentabilidade O sociólogo francês Ignacy Sachs elaborou o que denomina de as “cinco dimensões de sustentabilidade do ecodesenvolvimento”: sustentabilidade social, econômica, ecológica, espacial e cultural. Para ele, os processos de desenvolvimento devem considerar tais dimensões de forma conjunta e simultânea, a fim de garantir um equilíbrio duradouro e bem estruturado ao longo do tempo. Assim é que por sustentabilidade social entende-se a criação de um processo de desenvolvimento sustentado à luz de uma civilização com maior eqüidade na 21 distribuição de renda e de bens, reduzindo assim o abismo entre o padrão de vida de ricos e pobres. A sustentabilidade econômica significa alocar e gerenciar, de forma eficiente, os recursos, mantendo um fluxo constante de investimentos públicos e privados. A sustentabilidade ecológica passa pela necessidade de ampliação da capacidade de utilização dos recursos do planeta; limitação no consumo de combustíveis fósseis, recursos renováveis e não renováveis; redução do volume de resíduos e poluentes, à luz da conservação de energia, de recursos e da reciclagem, ou seja, da política dos “3 R” – reduzir, reusar e reciclar, aliada à definição de normas para uma adequada proteção ambiental. A sustentabilidade espacial/geográfica refere-se à busca mais equilibrada da configuração rural-urbana e à melhor distribuição das ocupações territoriais humanas e das atividades econômicas. A sustentabilidade cultural pode ser traduzida pela preocupação em desenvolver processos que incluam a procura de raízes endógenas em processos de modernização e em sistemas agrícolas integrados, facilitando a geração de soluções específicas para o local, o ecossistema, a cultura e a área. As cinco dimensões de sustentabilidade propostas por Sachs foram adaptadas por Lerípio (2001) para aplicação ao negócio. Além disso, o autor complementou o modelo de Sachs acrescentando a dimensão de sustentabilidade temporal, a qual estava inserida de forma implícita no modelo de Sachs. As seis dimensões de Lerípio (2001, p.32) para sustentabilidade do negócio foram definidas como segue: - Sustentabilidade social: o negócio tem que ser gerador de emprego e renda, bem como proporcionar a melhoria da qualidade de vida da comunidade. - Sustentabilidade econômica: os negócios têm que ser lucrativos. - Sustentabilidade ecológica: o negócio tem que estar inserido de forma equilibrada no ecossistema. - Sustentabilidade espacial: o negócio tem que utilizar racionalmente os recursos naturais existentes e disponíveis. - Sustentabilidade cultural: os negócios têm que ser, entre outras coisas, independentes de tecnologias de produção importadas e de monopólios de fornecimento. 22 - Sustentabilidade temporal: o negócio pode ser mantido ao longo do tempo, sem restrições ou escassez de insumos e matérias primas. De acordo com Montibeller-Filho (2001), a partir da década de 1980 difundese o termo “desenvolvimento sustentável”, utilizado primeiramente pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN), o qual foi colocado, na conferência mundial sobre a conservação e o desenvolvimento, da IUCN em 1986, como um novo paradigma, tendo por princípios o seguinte: integrar conservação da natureza e desenvolvimento; satisfazer as necessidades humanas fundamentais; perseguir equidade e justiça social; buscar a autodeterminação e respeitar a diversidade cultural, e manter a integridade ecológica. Para Brüseke (2004), a proposta do desenvolvimento sustentável integra, pelo menos, a dimensão econômica, biofísica e sócio-política para discutir sobre o futuro comum dos povos. Propõe uma visão holística da sociedade em movimento, ou seja, o “pensamento totalizante”. Discute sobre um desenvolvimento alternativo, que pretende não danificar a sua própria base, o contexto natural e a sociedade humana, em observação ao atual processo de autodestruição da sociedade moderna. O desenvolvimento sustentável parte da visão holística, do todo. Considera-se que o Holismo precedeu a teoria cibernética, por destacar o caráter sistêmico da realidade, a dinâmica interna e a regulação, inclusive a auto-regulação de entidades. Conforme Brüseke (1994, p.8), o holismo é uma continuação da reflexão do problema filosófico do todo ou da totalidade: “O todo é mais do que a soma das suas partes”. Na prática pode-se seguir uma série de princípios para viver-se de forma sustentável, os quais foram declarados durante a Eco-92. São eles: respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos; melhorar a qualidade da vida humana; conservar a vitalidade e a diversidade da terra; manter-se dentro da capacidade de carga da terra; modificar as atitudes e práticas pessoais; capacitar as comunidades para que cuidem do meio ambiente; proporcionar um padrão nacional para a integração do desenvolvimento e da conservação, e forçar uma aliança mundial. Para Bruseke (2004), somente sendo fiel a estes princípios é que manter-se-á a sustentabilidade do planeta. E, segundo o “Nosso Futuro Comum” (1991, p.46) a definição de Desenvolvimento Sustentável é a seguinte: “desenvolvimento que responde às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”. 23 O desenvolvimento sustentável é, assim, uma estratégia através da qual comunidades buscam um desenvolvimento econômico que também beneficie o meio ambiente local e a qualidade de vida. Tem se tornado um importante guia para muitas comunidades que descobriram que os métodos tradicionais de planejamento e desenvolvimento estão criando, em vez de resolver, problemas sociais e ambientais. Enquanto os métodos tradicionais podem levar a sérios problemas sociais e ambientais, o desenvolvimento sustentável fornece uma estrutura através da qual as comunidades podem usar recursos mais eficientemente, criar infra-estruturas eficientes, proteger e melhorar a qualidade de vida, e criar novos negócios para fortalecer suas economias. Isto pode nos auxiliar a criar comunidades saudáveis que possam sustentar nossa geração tão bem quanto as que vierem. Em seu sentido mais amplo, portanto, entende-se que a concepção de desenvolvimento sustentável visa promover a harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza. O objetivo é, portanto, caminhar na direção de um desenvolvimento que integre os interesses sociais, econômicos e as possibilidades e limites que a natureza define, uma vez que o desenvolvimento não pode se manter se a base de recursos naturais se deteriora, nem a natureza ser protegida se o crescimento não levar em conta as consequências da destruição ambiental. 1.1.4 Desenvolvimento Local Sustentável Ao estudar o desenvolvimento local, o tema pressupõe a questão territorial, o espaço geográfico, ou seja, e neste local onde ocorre a vida cotidiana, onde esta a essência dos seres que habitam este lugar, onde se constroem e reafirmam as identidades, e o processo desenvolvimento em vários segmentos. Segundo Martins (2002), o lugar é o cenário interativo dos acontecimentos, onde os fenômenos naturais e humanos acontecem e produzem seus efeitos. Rozas (1998, citado por MARTINS, 2009, p. 53) afirma que desenvolvimento local é a organização comunitária em torno de um planejamento para o desenvolvimento, por uma perspectiva de construção social, constituindo assim em um instrumento fundamental, de caráter orientador e condutor, de superação da pobreza. 24 O desenvolvimento local sustentável faz uma análise dos impactos sociais e ambientais para a determinação do crescimento econômico de forma sustentável, ao corresponder à necessidade ética de ser solidário com as gerações presentes e futuras, já que o principio desse modelo é atender as necessidades presentes sem comprometer as necessidades das gerações futuras, tentando conciliar eficiência técnica e econômica, justiça social e preservação ambiental de um dado local (SACHS, 2004). 1.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL O conceito de Responsabilidade Social, historicamente, tem sido associado ao conceito de filantropia, pois as ações efetivas em prol da comunidade não visam nenhum tipo de retorno em termos de reconhecimento da comunidade em relação à ação praticada. Mas, por equívoco a concepção é compreendida como sinônimo de ações filantrópicas. Entende-se que a filantropia desenvolve trabalhos tão somente humanitários de base assistencialista que, quando executados com sucesso geram satisfação pessoal por conta das pessoas envolvidas no processo, haja vista se tratar de ações individuais e voluntárias. Já a responsabilidade social visa desenvolver um trabalho humanitário e social em parceria com instituições, ou seja, representa uma ação coletiva que, através de objetivos e metas traçadas a serem alcançadas objetivam a melhoria da qualidade de vida de uma determinada comunidade. Essa consciência e responsabilidade de todos em prol da inclusão das pessoas nesse processo de educação, desenvolvimento e crescimento do ser humano em várias esferas sócio-econômicas, tendo em vista que os projetos de responsabilidade social possibilitam a geração de emprego e renda ao cidadão, fazendo-o sentir-se aceito, integrado, valorizado e inserido em uma sociedade justa e digna através de trabalhos específicos voltados para suas necessidades e das comunidades atendidas, tornando-os capaz de compartilhar suas vivências e experiências em seu usufruto, de sua família e de toda uma sociedade. Referindo-se ao tema, Neto e Brennand (2004, p. 2) enfatizam que: “Responsabilidade Social é um conjunto de filosofias, políticas, procedimentos e ações de marketing com a intenção primordial de melhorar o bem-estar social”. 25 A responsabilidade social [...] seria basicamente a iniciativa espontânea de contribuir para a construção de uma sociedade melhor e um meio ambiente mais limpo. Ou seja, a responsabilidade social seria a integração voluntária em preocupações sociais e ambientais (FÉLIX, 2003, p. 19). Portanto, desenvolver o social é trabalhar diretamente a cidadania, a solidariedade, é inovar, compartilhar responsabilidades, direitos e deveres perante nós e os outros, é trabalhar em prol de uma comunidade dando-lhes perspectivas de vida, de aperfeiçoar suas habilidades muitas vezes adormecidas ou até mesmo desenvolvidas através dos vários programas sociais e ambientais melhorando sensivelmente seus aspectos físicos, emocionais e psicológicos. O significado de responsável é estar socialmente consciente do valor que o ser humano necessita para estar inserido em sociedade, ou seja, dela participar como cidadão e ter iniciativa. Ser responsável socialmente é trabalhar o poder de transformar cidadãos e qualificá-los para o mercado de trabalho, é trabalhar o ser humano desde criança, ensinando-o noções básicas de educação, higiene, saúde, esporte e cidadania para que se torne um adulto capaz de conviver em sociedade e qualificado para o trabalho. A responsabilidade social visa, assim, ações que resultem em um mínimo de qualidade de vida, levando-se em consideração, também, todos os aspectos econômicos e ambientais, nos quais a ética e a transferência devem atingir a todos aqueles que estão inseridos no processo de responsabilidade social. Visando a transformação do ser humano através da educação, alcançaremos mudanças sociais, ambientais e econômicas que refletirão no futuro da humanidade. Nesse sentido, se faz necessário que haja uma consciência coletiva, a realização de projetos e ações de captação de recursos e de inclusão nas mais variadas áreas, como o objetivo de melhorias em todos os aspectos relativos às necessidades humanas que conduzam à obtenção de uma vida digna. O termo responsabilidade social encerra sempre a idéia de prestação de contas: alguém deve justificar sua atuação perante outrem. Durante muito tempo, ele foi entendido, em uma visão tradicional, como a obrigação do administrador de prestar contas dos bens recebidos por ele (LOURENÇO; SCHRÖDER, 2003, p. 80). Os resultados acima expostos e que dizem respeito à melhoria de vida do cidadão em decorrência de projetos e ações de responsabilidade social, tendo em vista o crescimento acelerado e desenfreado das desigualdades sociais, problemas 26 ambientais em todos os níveis, avanços tecnológicos e principalmente as constantes mudanças no âmbito governamental no que diz respeito aos gastos públicos excessivos, revelou o descaso e o pouco investimento do governo no atendimento às demandas sociais da população. Diante de tal quadro, o setor privado viu a necessidade urgente de realizar esses projetos sociais não como forma de eximir o governo de suas responsabilidades, mas sim, de trabalhar bem a empresa (a organização, os acionistas, funcionários, clientes e fornecedores), envolvendo-se em projetos de responsabilidade social voltados para a comunidade, o meio ambiente, o esporte e, principalmente, a cidadania atingindo o seu maior objetivo que é a inclusão social e ambiental do ser humano. O conceito de responsabilidade social se traduz, portanto, na forma como uma instituição conduz suas atividades de maneira que se torne co-responsável pelo desenvolvimento da sociedade como um todo. Quando realmente aplicada, ajuda a pesquisa científica, a gestão responsável, e também se expandida, ultrapassa os valores necessários e suficientes na construção social, ou seja, atingindo as mais variadas esferas de atuação. Diante deste contexto, surge uma nova etapa no que diz respeito à Responsabilidade Social, nasce então a Responsabilidade Social Corporativa, ou seja, organizações, instituições financeiras e empresas socialmente responsáveis. 1.2.1 Responsabilidade Social Corporativa A responsabilidade social corporativa é o comprometimento de uma empresa na valorização do ser humano a partir da aplicação de conceitos voltados a uma conduta ética e transparente. Tal conceito, afirmado por Guzzo (2003), deixa claro que o comportamento empresarial deve ser baseado em uma nova mentalidade, segundo a qual a empresa atua em um cenário no qual são envolvidos seus funcionários, clientes, governo, acionistas, comunidade, fornecedores e concorrentes, ou seja, os stakeholders. A responsabilidade social corporativa implica a atuação em um cenário empresarial atual de globalização e de alta competitividade que acenam para desafios que, segundo Ashley (2002), são impostos às empresas: 27 1) A Avaliação de desempenho, que faz referência quanto aos aspectos ambientais (responsabilidade ambiental); aspectos econômicos (responsabilidade societária, financeira, comercial e fiscal); e sociais (ação social da empresa e responsabilidade trabalhista e previdenciária). 2) O segundo desafio diz respeito à responsabilidade social de todos os indivíduos, organizações e instituições em ação e decisões na sociedade, além de educar em todos os níveis e meios para uma sociedade sustentável. 3) Por fim, o terceiro desafio faz referência à transparência organizacional, ou seja, os valores e princípios assumidos no cotidiano empresarial, tais como: construir relações de confiança; reger suas relações por normas de conduta; incentivar e adotar parcerias que agreguem valores mútuos; tomar decisões empresariais considerando aspectos econômicos, ambientais e sociais. A Responsabilidade Social Corporativa não gera um retorno financeiro imediato, mas promove um novo conceito de empresa, contribuindo para que sua imagem seja respeitada, o que reflete positivamente na venda de seus produtos e serviços. É importante ressaltar que a Responsabilidade Social Corporativa constitui uma forma de a empresa se relacionar mais estreitamente com a sociedade na qual está inserida. Muitas vezes, representa a maneira de responder às pressões da comunidade e opinião pública diante dos problemas sócio-ambientais. Todavia, essa cobrança depende do grau de esclarecimento dos segmentos sociais e da disposição em lutarem por seus direitos como cidadãos. Em localidades onde a acomodação ou falta de conhecimento acerca dos direitos, o avanço de projetos no âmbito da Responsabilidade Social Corporativa pode ser menor. Em países onde as necessidades dos segmentos sociais menos favorecidos são as mais diversas, a exemplo do Brasil, principalmente porque o país tem uma forte concentração de renda e os serviços básicos como saúde, educação e saneamento são oferecidos precariamente, a Responsabilidade Social Corporativa se torna um fator de desenvolvimento econômico e social. Todavia, suas iniciativas não se direcionam apenas para tais carências, mas para toda e qualquer necessidade da vida contemporânea. O conceito de mercado com o qual a Responsabilidade Social Corporativa atua possui contornos complexos, abrangendo todas as ofertas e demandas econômicas, políticas e sociais conjugadas. 28 Responsabilidade no entender de Neto e Brennand (2004, p. 6): [...] é uma nova visão da empresa e do seu papel na sociedade. A empresa passa a ser encarada como uma cidadã, um membro fundamental da sociedade dos homens, uma entidade social que se relaciona com todos os outros agentes socioeconômicos e, portanto, tem seus direitos e deveres que vão além das obrigações legais estabelecidas no campo jurídico formal. A Responsabilidade Social Corporativa faz parte da nova ordem, ela reúne o exercício da política e se inclui nas novas demandas do mercado, abrangendo questões coletivas ao inserir-se na problemática do meio ambiente, da educação, dos segmentos empobrecidos, enfim numa perspectiva que não se faz apenas no âmbito individualista, mas de cunho social, contribuindo para melhorar a imagem da empresa e sua competitividade. Ser socialmente responsável não significa respeitar e cumprir devidamente as obrigações legais, mas, sim, o fato de as empresas, por meio de seus trabalhadores e de todos os seus interlocutores, irem além de suas obrigações em relação ao seu capital humano, ao meio ambiente e à comunidade por perceberem que o bem-estar deles reflete em seu bem-estar (FÉLIX, 2003, p. 19). O conceito vincula-se à visão ética da empresa no mundo atual, demonstrando que esta não está isolada e alheia às várias questões que fazem parte da vida social. É uma forma de direcionar atividade empresarial como coresponsável pelo bem-estar da sociedade, principalmente porque desde o seu surgimento, o capitalismo tem causado mazelas sociais que não condizem com a humanização. A visão ética da Responsabilidade Social Corporativa também resulta da necessidade da atividade da empresa se fundamentar em princípios e valores baseados em uma sociedade competitiva, mas comprometida com causas mais humanas. Entre os fatores que contribuíram para essa nova ética é a percepção que os problemas ambientais e sociais são causados pelo modelo de desenvolvimento econômico baseado no consumismo desenfreado, que não contemplava a preocupação com as gerações futuras. A Responsabilidade Social Corporativa abrange o empreendedorismo social. Este constitui um fator de mudança, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade e o avanço da democracia. Ao analisar este fato, Schindler; Naigeborin (2001, citados por FÉLIX, 2003, p. 171) afirmam o seguinte: 29 Para que haja uma mudança profunda de padrões, são necessárias duas coisas: uma nova idéia e um empreendedor social que a conceba, desenvolva e lidere sua implementação. Apenas através de constante avaliação e aperfeiçoamento é que uma boa idéia pode se tornar realista e factível. Conclui-se da afirmativa anterior, que a inovação no campo social contribui para a mudança social, principalmente contemporânea marcada pela complexidade de problemas sociais. Neste contexto, a Responsabilidade Social Corporativa tem relevante atribuição, criando projetos inovadores. Entre as razões pelas quais o empreendedorismo social, impulsionado pela Responsabilidade Social Corporativa, provoca mudanças e transformações, encontra-se o aproveitamento de novas idéias dos colaboradores internos, a adoção da gestão democrática na empresa, a garantia de mecanismos legais, e o envolvimento dos cidadãos na conformação de seu próprio destino. As empresas também procuram ser mais criativas, buscam encontrar diferenciais que as tornam mais competitivas e dispõem cada vez mais de profissionais qualificados com capacidade de antever tendências e problemas, a inventividade, aproveitando nichos de mercado. Os projetos de Responsabilidade Social Corporativa vinculam-se aos planos e objetivos maiores, a longo prazo, contribuindo para a continuidade e sustentabilidade da empresa. A comunicação com os beneficiários e diferentes atores envolvidos nos projetos de Responsabilidade Social empresarial é importante para se conhecer perfis, interesses, expectativas, forças, fragilidades e outros aspectos que criam sinergias. Portanto, o conceito de ética e Responsabilidade Social Corporativa amadurece no decorrer do tempo em termo de capacidade de operacionalização e mensuração, subdividindo-se em vertentes de conhecimento. Entre essas vertentes estão responsabilidade, responsividade, retitude e desempenho social corporativo, desempenho social dos stakeholders1, auditoria e inovação social. Observa-se que neste contexto, os conceitos associados à temática responsabilidade social se encontram presentes no ambiente organizacional em que 1 Indivíduos ou grupos que dependem da organização para alcançar suas metas e dos quais a empresa também depende para funcionar (JOHNSON E SCHOLES, 1997, Apud LEAVITT, 2001). 30 a empresa, a partir da função social de atuação junto à sociedade modifica a forma de conduta de seus negócios, agora voltados não somente para lucratividade, mas acompanhados de objetivos sociais. Assim é que Nadas (2004), de acordo com a evolução do papel social das empresas conceitua Responsabilidade Social como uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é, portanto, aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meioambiente) os stakeholders e conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários. Uma empresa socialmente responsável é aquela que tem em conta os problemas sociais existentes no país em que opera; que entende que a incorporação de populações relegadas ou excluídas do mercado é necessária para o próprio desenvolvimento empresarial; que assume os desafios do desenvolvimento, treinando e melhorando a capacidade de seu corpo gerencial; que contribui para criar um marco institucional democrático, transparente e confiável; que cria práticas que reflitam as preocupações e os valores da empresa em todos os níveis hierárquicos; que promove a conservação dos recursos naturais e que estimula a participação dos níveis executivos e gerenciais na vida da comunidade; que respeita e preserva a boa relação com os consumidores, fornecedores e clientes de modo geral; que atenta para a prática de princípios e valores nos negócios (RABAÇA, 2001, p. 1). Nesse sentido, a responsabilidade social foca a cadeia de negócios da empresa e engloba preocupações com um público maior (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meioambiente), cujas demandas e necessidades a empresa deve buscar entender e incorporar em seus negócios. Assim, a responsabilidade social trata, diretamente, dos negócios da empresa e como ela os conduz, ou seja, a ética também passa a se constituir como a base da responsabilidade social e se expressa através dos princípios e valores adotados pela organização. Conforme argumento de Nadas (2004, p. 11): Não há Responsabilidade Social sem ética nos negócios. Não adianta uma empresa, por um lado pagar mal seus funcionários, corromper a área de compras de seus clientes, pagar propinas a fiscais do governo e, por outro, desenvolver programas junto a 31 entidades sociais da comunidade. Essa postura não condiz com uma empresa que quer trilhar um caminho de Responsabilidade Social. É importante seguir uma linha de coerência entre ação e discurso. Para o autor, a prática demonstra que um programa de responsabilidade social só traz resultados positivos para a sociedade e para a empresa, se for realizada de forma autêntica. Entende-se que a empresa precisa ter a cultura da responsabilidade social incorporada ao seu pensamento, pois desenvolver programas sociais apenas para divulgar a empresa, ou como forma compensatória, não traz resultados positivos sustentáveis ao longo do tempo. Porém, para aquelas empresas que incorporarem os princípios e os aplicarem corretamente, alguns resultados podem ser sentidos, como a valorização da imagem institucional e da marca, maior lealdade do consumidor, maior capacidade de recrutar e manter talentos, flexibilidade e capacidade de adaptação e longevidade da empresa, na medida em que a sociedade percebe os objetivos sociais da organização. Observa-se, portanto, que a Responsabilidade Social Corporativa deve ser entendida como um novo modelo de gestão da empresa, que não se resume a pagar impostos, saldar dívidas, gerar produtos, usar tecnologias limpas, mas visa ir mais além, ou seja, contribuir com uma sociedade menos desigual e mais justa, adotando práticas éticas distintas da mera filantropia. A Responsabilidade Social está a serviço da cidadania. Atribui à empresa o papel de co-responsável nos rumos da sociedade, que é uma de suas dimensões. Enquanto a Responsabilidade Social é restrita à prática de ações sociais internas e externas, a Responsabilidade Corporativa é mais abrangente, envolve a prática de ações sociais e a adoção de um modelo de gestão ética. Portanto, se uma empresa realiza projetos voltados para a área social, mas não cuida bem de seus colaboradores e sonega impostos, ela não atua na Responsabilidade Social Empresarial. Por outro lado, a Responsabilidade Social tem o foco centrado na comunidade (Figura 1), enquanto a Responsabilidade Social Corporativa direciona sua atenção prioritária ao modelo de gestão empresarial. 32 Fonte: Melo Neto e Froes (2001, p. 132). Os beneficiários da Responsabilidade Social são mais específicos, envolvendo funcionários, dependentes e membros da comunidade. Já no caso da Responsabilidade Social Corporativa incluem-se os clientes, fornecedores, acionistas, parceiros, governo, mídia, funcionários, membros da comunidade e sociedade em geral, ou seja, a abrangência é maior. A Responsabilidade Social Corporativa está intimamente relacionada ao compromisso e desejo de transformação social, viabilizando ações promissoras à solução dos problemas sociais. 1.3 PARCERIAS TRI-SETORIAIS: UMA TENDÊNCIA? Em um contexto social específico, o termo parceria denota, em sua origem, uma característica de alianças, companheirismo, entre outras. Já na discussão acadêmica, assume um papel de importante categoria teórica, sendo de fundamental relevância para compreender determinadas ações, como no caso de projetos sociais desenvolvidos em comunidades. Nesta proposta de estudo são discutidas as parcerias tri-setoriais, que segundo Teodósio (2010), são aquelas que envolvem simultaneamente atores governamentais, da sociedade civil e do mercado. De acordo com Teodósio (2009), as parcerias tri-setoriais, na maioria das vezes, são entendidas por muitos como responsáveis pela implementação de 33 programas e projetos sociais desejáveis, sendo um claro sinal de uma construção mais avançada, plural e democrática das lutas pela melhoria da provisão de políticas sociais e ampliação de cidadania. Vale questionar: esse papel de ampliação da cidadania e de políticas públicas não seria um papel do Estado? Tais ações não estariam mascarando uma determinada realidade social e apresentando características de assistencialismo? Vieira (2001 apud TEODÓSIO, 2009, p. 3), enumera três narrativas básicas sobre o papel do Estado quanto às políticas sociais. A primeira de caráter estadocêntrico, compreende o bem-estar social e a formulação e implementação de políticas públicas como função intransferível do Estado. Em oposição, a visão mercado-cêntrico entende que devem ser transferidas para organizações privadas as funções sociais que, assim, seriam providos de maior eficiência e otimização do recurso através das dinâmicas de mercado. A última perspectiva, sócio-cêntrica, indica que o papel do Estado seria reconfigurado a partir da dinâmica dos atores da sociedade civil na esfera pública. Teodósio (2009) afirma, para além das visões simplistas e dicotômicas, que o encontro entre Estado, sociedade civil e mercado é marcado pela complexidade. Ao tentar compreender essas complexidades torna-se um grande desafio, pois as pesquisas sobre o tema devem avançar, no contexto, atual. 34 II – A HISTÓRIA SOCIAL DO LOCAL 2.1 AS COMUNIDADES BOA VISTA E LAGO MOURA O município de Oriximiná surgiu em 1877, a partir de um povoado chamado Uruatapera, fundada à margem esquerda do Rio Trombetas, pelo Padre José Nicolino de Souza. Somente em 1894 houve elevação à categoria de vila por ato do governador do Estado na época, o qual lhe deu outro nome: Oriximiná. Por questões políticas, em1900, suas terras foram anexadas a Óbidos, e somente em 1934 retornava condição de município. Localizado no oeste paraense, Oriximiná é um município que pela extensão territorial, cerca a área de Oriximiná: 107.602,99 km2 (IBGE, 2010); apresenta riquezas naturais e culturais. Sua população tem origem nos vários grupos indígenas (Konduri, Uai-Uai, Tirió, entre outros), nos negros fugidos das fazendas de cacau e nos europeus que colonizaram a região. Este processo de miscigenação oportunizou a construção de uma entidade única que pode ser percebido nos costumes, nas festividades, nas comidas, no falar, nos rituais, enfim no dia a dia. Atualmente, a região de Oriximiná abriga 36 comunidades remanescentes de Quilombos, congregados à “Associação Remanescente de Quilombos do Município de Oriximiná” (ARQMO), que foi fundada em 1989 objetivando principalmente a luta em defesa da titulação das terras de Quilombos. Dentre as comunidades remanescente de Quilombos estão as Comunidades Boa Vista e Lago Moura, as quais estão bem próximas da empresa Mineração Rio do Norte (MRN). Boa Vista é uma comunidade remanescente de Quilombos. A sua história tem início em 1838, com a chegada de Antonio Honório dos Santos e Maria José da Conceição, negros que fugiram das fazendas de gado e cacau localizadas em Santarém, está localizada na área de influencia da Mineração Rio do Norte (MRN), em Porto Trombetas, município de Oriximiná, no estado do Pará. A Comunidade Lago Moura, segundo alguns relatos obtidos pelos comunitários, existe desde o fim do século XX. Naquela época, era a região conhecida pelos castanhais e pela plantação de cacau em abundância. 35 A fonte de sobrevivência principal dessas famílias atualmente baseia-se em agricultura, na caça, na pesca de subsistência e no extrativismo de Castanha-dopará, sendo que a extração da castanha mobiliza um grande número de famílias que se deslocam de suas casas todos os anos no período de janeiro a maio, com autorização do IBAMA e, nesse local, se organizam em forma de um grande acompanhamento coletando castanhas, as quais são vendidas para vários locais do Estado do Pará e do Brasil. Outra fonte de renda é que das poucas famílias de agricultores que restam, estão abandonando suas roças para trabalharem na MRN através da cooperativa, a COOPERBOA (Comunidade Boa Vista) foi fundada em 1996 na Comunidade de Boa Vista agrega 360 sócios; a COOPERMORA (Comunidade Lago Moura) fundada em 2003 tem 108 sócios, os quais trabalham na MRN e nas casas dos funcionários na vila em Porto Trombetas. O abandono dos modos de produção tradicionais é justificado pelo trabalho desgastante na roça no interior da floresta, e pelo impedimento de caçar e pescar, pois as comunidades estão localizadas na área de Reserva Ambiental a Floresta Nacional Saracá - Taquera e Reserva Biológica do Trombetas, ambas criadas sem consulta popular, o que ocasionou grande tensão entre os órgãos responsáveis pelo Meio Ambiente e as referidas comunidades, pelo direito de recesso as áreas por eles utilizados a mais de 150 anos . Na comunidade Boa Vista só existe uma escola de ensino, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Boa Vista, de 1ª a 4ª séries. Já na Comunidade Lago Moura tem escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, da 1ª a 8ª séries. Na Comunidade de Boa Vista, a criança que estiver na 5ª série com 11 anos de idade pode estudar na Escola Professor Jonathas Athias, localizado na vila de Porto Trombetas, a MRN oferece barco para buscar e levar as crianças. O Hospital de Porto Trombetas foi construído em 1985 com objetivo de prestar atendimento médico-hospitalar e odontológico. Presta atendimento às comunidades situadas às margens do Rio Trombetas, como é o caso da Comunidade Lago Moura e Boa Vista, porém quando precisam de atendimentos específicos são encaminhados para capitais que possuem melhores recursos, com tudo pago pela MRN. 36 De acordo com os dados levantados em campo e estudos realizados anteriormente, em ambas as comunidades não existe saneamento básico. No entanto, todas as casas têm caixa d’água e poço artesiano, fruto de uma parceria entre a prefeitura de Oriximiná e a MRN. Em relação à propriedade da Terra, na Comunidade de Boa Vista os moradores tem a posse coletiva, ou seja, não existe um documento particular para cada morador, todos são donos da terra, mas não podem vender nem repassar. Em relação à convivência, nesse contexto, um respeita a parte do outro. Na comunidade Lago Moura a situação ainda não foi definida; são ocupantes, mas estão lutando para conseguir a posse de suas terras. 37 III – O PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL - PEAP 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO O Projeto Educação Ambiental e Patrimonial (PEAP) tem como objetivo principal realizar ações educativas junto às comunidades na área de influência da MRN, esclarecer sobre a importância da preservação do Patrimônio Ambiental e Cultural da região. As atividades tiveram início em 2001, na vila em Porto Trombetas, na comunidade Boa Vista foi em 2002 foram incluídos as comunidades Lago Moura e Lago do Batata. O Projeto, sistematicamente, promoveu momentos de discussões e sugestões com os envolvidos e visa à organização e a construção de estratégias para uma comunidade sustentável. 3.2 OS PARCEIROS DO PEAP 3.2.1 O Museu Paraense Emílio Goeldi O Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) desenvolve pesquisas sobre o homem, fauna, flora, os ecossistemas e tudo que diz respeito à região Amazônica desde 1966. Atualmente, conta com três bases físicas: o Parque Zoobotânico (PZB), localizado no centro urbano de Belém, com 5,4 hectares, abriga cerca de 5mil exemplares botânicos distribuídos em 500 espécies e 100 espécies de animais; também possui espaços para exposições em aquários; é um dos pontos turísticos da cidade de Belém. O campus de Pesquisa localizado no Bairro da Terra Firme, local onde ficam os pesquisadores da Instituição, laboratórios e as coordenações de Ciências Humanas, ciências da Terra e Ecologia, Botânica, Zoologia, documentação e informação, além da biblioteca científica. A estação Cientifica Ferreira Penna, com 33mil hectares, está localizado na Floresta Nacional de Caxiuanã, no município de Melgaço/PA. A partir de pesquisas realizadas na estação, foram desenvolvidos inúmeros cursos, ações educativas e de saúde e outros voltados ás necessidades das comunidades do entorno da estação. 38 Além disso, foram publicados diversos trabalhos científicos, dissertação e artigos, os quais foram realizados na estação, ou em parceria com MPEG. O MPEG divulgou os resultados de suas pesquisas por meio de publicações, exposições de longa, curta duração e itinerante, além de manter programas educativos voltados para os professores, alunos e públicos em geral. Uma das atividades-fins do MPEG é manter serviços e projetos destinados à comunicação científica, em diversas linguagens e para diversos públicos. Nesses oito anos de atuação do projeto podem-se contabilizar dezenas de treinamentos e oficinas, vários materiais didáticos produzidos, inúmeras experiências destinadas à valorização do patrimônio cultural das comunidades, como o uso da música, do teatro, das tradições orais, da história local e do artesanato (cerâmica). 3.2.2 A Mineração Rio do Norte – MRN A Mineração Rio do Norte (MRN) é uma associação de empresas nacionais e estrangeiras, que foi constituída em 1974 para explorar comercializar bauxita no município de Oriximiná, localizado no Oeste do Pará. As operações de extração da bauxita foram iniciadas em abril de 1979. Atualmente, é uma das maiores produtoras de bauxita do mundo e mantém o Brasil entre os maiores fornecedores. A Mineração tem como missão produzir bauxita e fornecer o minério em completo atendimento às especificações de qualidade, assegurando a satisfação dos clientes e o retorno adequado do investimento dos acionistas, mantendo uma relação de profundo respeito ao homem e à natureza. Ao longo de sua historia, a MRN vem consolidando o conceito de responsabilidade social, através de pratica concretas que beneficiam as comunidades localizadas no entorno de suas operações em Porto Trombetas. Com o passar dos anos, a empresa consegui estabelecer dialogo com essas comunidades e passou em investir em projetos sociais estruturados em quatro pilares: saúde e segurança, educação, desenvolvimento sustentável e meio ambiente. A maioria dos programas sociais desenvolvidos pela MRN é realizada com a participação voluntária de seus empregados e em parceria com as comunidades e instituições técnicas e científicas públicas e privadas, além dos órgãos 39 governamentais e organizações não governamentais. Dessa forma, os projetos de responsabilidades social da empresa têm como princípios básicos a busca da autosustentação e relacionamento de longo prazo com as partes envolvidas. Vale ressaltar que o parceiro, MRN, é uma empresa que visa lucros e retira subsídios da natureza (bauxita) na geração e produção de seus produtos, podendo assim comprometer a natureza e as comunidades que vivem em seu entorno. Dentre as distorções causadas pelos modelos de desenvolvimento acabam por emergir problemas sociais, econômicos e culturais, pois, as atividades econômicas ao longo do tempo muito têm explorado os recursos naturais. 3.2.3 O início da parceria Apesar de já existirem relatos da presença de vestígios arqueológicos desde o século XVII, é somente da década de 1950 que se estabelecem as bases para o inicio de um estudo sistemático sobre a arqueologia na Amazônia. Com a descoberta em 1979 de sítios arqueológicos no topo do Platô Saracá na região de Porto Trombetas, marca o início da parceria estabelecida entre o Museu Paraense Emílio Goeldi e Mineração Rio do Norte. Em outubro do ano de 2000, um novo convênio foi confirmado entre a MRN e o MPEG para implementação dos projetos de salvamento Arqueológico em Porto Trombetas e o Educação Ambiental e Patrimonial, a serem desenvolvidos na área de abrangência da MRN. Esses projetos atendem as recomendações do Instituto Patrimonial Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão federal responsável pelo gerenciamento do Patrimônio Cultural Brasileiro. Assim, além do salvamento de Sítios Arqueológicos ameaçados de destruição, a parceria entre MPEG e a MRN amplia o acervo referente à ocupação pré-histórica na Amazônia, bem como orienta as populações locais a preservarem o meio ambiente e o Patrimônio Cultural. A parceria com as comunidades envolvidas não foi algo fácil para equipe de educação do Museu, pois muitas Instituições já haviam tentado realizar atividades nas comunidades em sucesso. De acordo com relatos colhidos na pesquisa de campo, as comunidades entendiam que o “pessoal do Museu”, só estava interessado em lucrar com as peças que queriam pegar, sem se preocuparem com as pessoas.Porém, a equipe do PEAP,realizou u trabalho de resignificação da 40 identidade cultural dessas pessoas e somente a partir de verem benefícios chegando as comunidades é que de fato se envolveram nas ações do Projeto. 3.3 AS AÇÕES DO PEAP NAS COMUNIDADES ENVOLVIDAS As ações do PEAP sempre contaram com o envolvimento das comunidades em todas as fases (elaboração, execução e avaliação). Estas ações sempre buscaram valorizar o saber e o saber fazer destas comunidades através de atividades que privilegiem situações de observação, discussão e análise crítica, desenvolvimento do uso de linguagens múltiplas, incentivo ao uso do conhecimento prévio e da criatividade de cada participante envolvido. - Clube do Pesquisador Mirim: tem como objetivo principal estimular alunos do Ensino Fundamental para o interesse pela história do homem amazônico e a preservação de sua cultura, por meio de experiências teóricas e práticas, baseadas em pesquisas desenvolvidas no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). A metodologia utilizada no Clube do Pesquisador Mirim proporciona a formação de agentes multiplicadores quanto às questões socioambientais, bem como um melhor desempenho escolar dos alunos e a integração de pais e professores. A cada ano, os participantes do Clube elaboraram, com auxílio dos técnicos do Projeto, diversos materiais educativos como cartilhas, jogos e kits que são utilizados pelos professores em suas aulas e servem para divulgar informações referentes às pesquisas realizadas. - Barco da Ciência: é uma ação educativa semestral, voltada aos estudantes, professores e moradores da região de influencia do projeto, município de Oriximiná/PA. Na programação constam exposições, oficinas para crianças e adultos, Cantinho da Leitura, mostra de vídeos, palestras, teatro, caminhadas ecológicas, gincanas e atividades lúdicas. É no barco que, além de ser utilizado para o transporte e alojamento da equipe, se realizam algumas atividades com a comunidade. Isso proporciona o entrelaçamento entre o “antigo”, que permanece vivo na memória de alguns moradores, e o “novo”, representado por costumes absorvidos com o passar do tempo. - Algumas oficinas para professores, dentre elas a de “Memória e Patrimônio”, cujo resultado foi a retomada da organização do Círio Fluvial de Nossa Senhora de Nazaré, tradição esquecida há mais de 40 anos na Comunidade Lago Moura. 41 - Visitas Técnicas: têm como objetivo apresentar aos integrantes das comunidades a realidade do trabalho desenvolvido pelo Museu Paraense Emílio Goeldi e outras instituições. É importante dizer que Belém fica distante cerca de 850 km de Trombetas. A programação consta de visitas técnicas a diversos locais de preservação da memória, entre eles museus e igrejas, além de localidades onde se produzam artesanatos. No Museu Goeldi, além do Parque Zoobotânico, os comunitários visitam o Campus de Pesquisa, conhecem as coleções científicas, com destaque para a área de Arqueologia, tem a oportunidade de observar o processo de tratamento das peças arqueológicas, em especial, as coletadas nos salvamentos em suas próprias localidades. Podem participar ainda de treinamentos, ligados ao projeto e ao desenvolvimento de suas competências. - Exposições e Técnicas de Comercialização: tem como objetivo o desenvolvimento de uma atividade econômica sustentável nestas comunidades através da exposição e comercialização de réplicas de artefatos arqueológicos e outros, desenvolvidos a partir dos treinamentos e capacitação dos envolvidos. Tais exposições são realizadas rotineiramente pelos comunitários em Porto Trombetas e em eventos específicos onde haja concentração de pessoas o que facilita o processo de comercialização - Cursos e oficinas para os comunitários: esta atividade é desenvolvida sistematicamente pela equipe do MPEG, durante as visitas periódicas ao campo e tem os seguintes objetivos: capacitação dos comunitários em técnicas que possibilitem o desenvolvimento de suas atividades voltadas para a produção de artesanatos; desenvolvimento do espírito de cidadania e de respeito e valorização de sua cultura e tradições; salvaguardar o bem cultural imaterial e apoiar sua proteção, criando condições para sua continuidade de modo sustentável, isto é, contribuindo para a preservação dessas tradições, garantindo sua transmissão e reprodução. Busca de uma compreensão dos crescentes desafios do sistema de proteção aos conhecimentos tradicionais, visando conhecer e aplicar as medidas jurídicas que o Brasil tem promulgado para este fim, incentivando práticas sociais justas nas relações entre os povos da Amazônia com entidades públicas, ONG’s e setor empresarial. - Oficinas de Arte e Ciência: envolver adultos em atividades sócio-educativas, muitas vezes torna-se algo extremamente desinteressante para grande parte desse público, uma vez que transmitir informações técnicas nem sempre é possível por 42 meio de atividades lúdicas. Além das Oficinas de Cerâmica, foram ministradas outras modalidades, como a de Pintura em Tecido, Teçume (artesanatos confeccionados com talos de várias folhas e cipós), Aproveitamento de Recursos da Natureza (artesanato com Sementes, com fruto da castanha-do-pará, de bambu, de velas aromáticas, Resgate Cultural - Danças e artesanato em Molongó. As primeiras ações educativas desenvolvidas visando os integrantes das comunidades foram as Oficinas de Pintura em Tecido, de Teçume e de Cerâmica. - Oficina de Cerâmica - Cultura do Barro: um dos objetivos desta metodologia participativa foi valorizar uma prática que estava quase no esquecimento e socializar, ao maior número de pessoas, a importância da preservação desse conhecimento tradicional e valorizar seus legítimos guardiões. Paralelamente, eram apresentadas informações sobre arqueologia e ecologia, havendo também o cuidado em discutir se havia interesse em transformar a produção resultante das oficinas em fonte de geração de renda alternativa. - Oficina Arte Rupestre em “Amostra de Bauxita Prensada”: pensando em agregar valores a outros materiais, vem sendo desenvolvido, desde fevereiro 2008, a oficina que tem como suporte amostra de bauxita prensada. O reaproveitamento deste tipo de material, aliado a uma variedade de pigmentos minerais e vegetais (terra de formigueiro, argila branca, urucum, açafrão, raiz de urucum e carvão vegetal), produziu um artesanato que por estar em estudo de mercado, ainda não tem destinação, por seu caráter experimental. - Construção do Forno na Comunidade Boa Vista: em 2008, foi construído um forno para realizar a queima das peças na comunidade. - Construção do Barracão e Forno na Comunidade Lago Moura: em dezembro de 2008, foi construído, com recursos da própria Mineração Rio do Norte, um barracão com 84 m² para nele ser criado a Casa do Artesão, antiga idéia que surgiu no decorrer das oficinas de Cerâmica. Hoje além do barracão, tem o forno onde é realizada a queima das peças, é utilizado por todos os ceramistas das duas comunidades. É nesse barracão que ficam expostas as peças para comercialização. 43 IV - O PROJETO EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL E SEUS EFEITOS NAS COMUNIDADES 4.1 O PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS SUJEITOS SOCIAIS CONTEMPLADOS COM AS AÇÕES DO PEAP A abordagem aos membros das Comunidades Boa Vista e Lago Moura, totalizando 10 (dez) entrevistados, apurou que 20% dos participantes da pesquisa são do sexo masculino e 80% pertencem ao sexo feminino (Gráfico 1), observandose a predominância de mulheres como participantes do Projeto Educação Ambiental e Patrimonial (PEAP). Gráfico 1 – Gênero dos Participantes da Pesquisa Fonte: Pesquisa de campo, 2012. A predominância feminina entre os participantes do PEAP pode ser um reflexo da cultura desses grupos sociais tradicionais, referente à divisão sexual do trabalho, que atribui à mulher as tarefas domésticas, que englobam os cuidados com a casa e com os filhos, além da produção do artesanato, enquanto aos homens cabe a caça, a pesca e a coleta dos produtos da floresta. Quanto à idade, identificou-se que 60% dos participantes do projeto são pessoas adultas, com idade que variam de 30 a mais de 60 anos de idade, enquanto os 40% restantes possuem idade entre 18 e 20 anos (20%) e entre 21 e 20 anos (20%) (Gráfico 2). 44 Gráfico 2 – Idade dos Participantes da Pesquisa Fonte: Pesquisa de campo, 2012. A pesquisa mostrou ser baixa a escolaridade formal dos membros das Comunidades Boa Vista e Lago Moura, observando-se que 30% declararam-se analfabetos; 50% informaram possuir o Ensino Fundamental incompleto e 20%, o Ensino Fundamental Completo (Gráfico 3). Gráfico 3 – Escolaridade dos Participantes da Pesquisa Fonte: Pesquisa de campo, 2012. 45 Deve-se ressaltar que o baixo nível de escolaridade dos participantes do projeto, moradores das duas comunidades em estudo, não é uma peculiaridade desse grupo social. Trata-se de uma situação comumente encontrada na maioria dos municípios paraenses, especialmente entre as populações adultas que moram nas áreas rurais. Estudiosos do tema argumentam que a falta de acesso à educação formal é um dos fatores que explica o baixo índice de desenvolvimento humano dessas populações. De acordo com os dados do último Censo Demográfico do IBGE, em nível estadual, entre as populações rurais 356,7 mil pessoas com 10 anos ou mais de idade não foram alfabetizadas (6% do total de pessoas nessa faixa de idade); em Oriximiná esse percentual é discretamente inferior ao observado no Estado, ou seja, 5,5% do total de pessoas de 10 anos ou mais de idade, moradoras em domicílios rurais, são analfabetas, equivalentes a 2,6 mil pessoas. Quadro xx – Total e participação relativa de Pessoas de 10 anos ou mais de idade, segundo o Estado do Pará e o município de Oriximiná (2010). Localidades Situação do domicílio Alfabetização Alfabetizadas Urbana Não alfabetizadas Pará Sem declaração Alfabetizadas Rural Não alfabetizadas Total Alfabetizadas Urbana Não alfabetizadas Oriximiná Alfabetizadas Rural Não alfabetizadas Total Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2010. Pessoas Abs. 3.912.891 324.322 8 1.468.872 356.725 6.062.818 28.520 2.490 13.946 2.666 47.662 % 64,5 5,3 0,0 24,2 6,0 100,0 60,0 5,0 29,5 5,5 100,0 Quanto ao tempo de moradia dessas populações nas comunidades em estudo, 20% declararam morar nessas localidades desde que nasceram, ou seja, entre 18 e 25 anos, aproximadamente; 10% moram há 24 anos (desde a infância, com 5 anos de idade); 10% informaram morar desde a adolescência, já totalizando 41 anos de moradia na Comunidade; outros 10% disseram que moram na 46 Comunidade a metade da vida, ou seja, há 24 anos. observa-se que 50% dos participantes da pesquisa não responderam a este quesito (Gráfico 4). Gráfico 4 – Tempo de Moradia na Comunidade Fonte: Pesquisa de campo, 2012. Merece relevância neste estudo a inexistência de títulos de propriedade da terra entre a maioria dos membros das Comunidades Boa Vista e Lago Moura: 40% dos pesquisados, ou seja, os 4 (quatro) dos participantes da Comunidade Boa Vista informaram ter a posse coletiva da terra, em um sistema em que cada membro da comunidade respeita a terra do outro; e os 6 participantes da pesquisa que pertencem à Comunidade Lago Moura, ou seja, 60% dos pesquisados, se declararam ocupantes da terra (Gráfico 5). 47 Gráfico 5 – Condição em relação à propriedade da terra Fonte: Pesquisa de campo, 2012. Apesar de não questionarem a formalização da propriedade da terra, constitucionalmente, conforme o Art. 5º, XXII, é garantido o direito de propriedade, sendo que esta deve atender sua função social e, assim, considerando-se, baseados em históricos de exclusão e exploração, os movimentos sociais lutam pelo direito da propriedade, um direito constitucional que deve ou deveria orientar os objetivos de Reforma Agrária no Brasil a fim de dirimir o grave quadro social que ainda se apresenta quanto à questão das propriedades das terras, fundamentalmente na zona rural, observando-se que a violência no campo tem vitimado milhares de cidadãos, que lutam pelo cumprimento das metas de assentamento prometidas pelo Governo Federal. Quando indagados sobre o número de pessoas que residem em suas propriedades, 40% dos entrevistados responderam de 1 a 2 membros; 40% de 5 a 6 membros na família; 10% de 3 a 4 membros; 10% não responderam a esta questão (Gráfico 6). 48 Gráfico 6 – Número de pessoas residentes na propriedade Fonte: Pesquisa de campo, 2012. Vê-se, portanto, que não há, no contexto atual, grande predominância das famílias numerosas, visto que apenas 40% dos sujeitos sociais pesquisados declararam fazer parte de famílias compostas por 5 a 6 membros. O mesmo número foi identificado entre famílias menos numerosas (com 1 a 2 membros), ou seja, 40% dos entrevistados. Deve-se ressaltar que, de acordo com o IBGE (Censo Demográfico, 2010) a média de moradores em domicílios particulares permanentes do município é de 4,6 pessoas. Dependendo da composição das famílias menos numerosas, esse fato pode ser um reflexo da migração de parte dos membros dessas famílias para outras localidades, seja em busca de estudo ou de trabalho e emprego. Estudos mostram que, entre populações tradicionais, a permanência dos membros da família na comunidade, mesmo entre a população adulta após a formação de novas famílias é uma condição para a manutenção e fortalecimento do grupo. Em relação à quantidade de membros das famílias que trabalham, a totalidade dos participantes da pesquisa, tanto da Comunidade Boa Vista quanto da Comunidade Lago Moura, responderam que apenas 1 a 2 membros desenvolvem trabalho remunerado. Quanto à situação ocupacional relatada os dados indicam que 40% trabalham em empresa do setor privado, especificamente no setor de mineração; 10% se declararam aposentados; e 50% informaram que desenvolvem atividades produtivas na condição de autônomos (Gráfico 7). 49 Gráfico 7 – Ocupação dos entrevistados Fonte: Pesquisa de campo, 2012. Merece destaque o fato de que todos os participantes da pesquisa declararam que um segundo membro da família possui renda resultante do artesanato de argila, de forma predominante, havendo também rendimentos auferidos da agricultura familiar, com a criação de animais, com a atividade de pesca e do extrativismo vegetal. Dessa forma, quanto à renda mensal familiar a pesquisa identificou que entre os participantes 20% possuem renda familiar entre ½ a 1 Salário Mínimo (SM); 20% entre 1 a 2 SM; 50% entre 2 a 3 SM; e 10% entre 3 a 5 SM. Destaque-se que todos os participantes da pesquisa informaram declarar a renda formal, ou seja, aquela obtida do trabalho em empresas ou na prestação de serviços a famílias e, ainda, como aposentados (Gráfico 8). 50 Gráfico 8 – Renda Familiar Fonte: Dados da Pesquisa, 2012. No entanto, conforme informado anteriormente, observa-se a existência de complementação de renda, originada de outras fontes e predominantemente auferida com a produção da cerâmica, resultando em ganhos extras de R$ 300,00 a até R$ 1.200,00; além de ganhos declarados com a agricultura e pesca, que variam entre R$ 300,00 e R$ 1.500,00. Não é tarefa fácil para um pesquisador mensurar, precisamente, a renda de um grupo social tradicional, tal qual o grupo em estudo, seja pela variedade de fontes de renda ou pela complementaridade, em tempos diferentes, ao longo de um determinado período, que pode ser mensal ou anual. Conforme a pesquisa identificou, ao longo do ano, as famílias dos moradores das comunidades Boa Vista e Lago Moura obtêm renda de trabalho formal que se soma à renda obtida com a coleta da castanha, com a produção de artesanato, com a renda da agricultura, da pesca, da aposentadoria dos idosos, entre outras fontes de renda. Desse modo, nem o pesquisador nem o próprio sujeito social sabe auferir, com precisão, qual é a renda fixa percebida ao mês ou ao ano. Assim, não se pode falar da condição de pobreza desse grupo, medida pela renda familiar. Sabe-se, apenas, conforme os dados do IBGE (Censo Demográfico, 2010) que 78% dos domicílios do município de Oriximiná têm renda nominal mensal per capita de até 1 salário mínimo. Ou seja, são cerca de 49,2 mil pessoas que vivem nessa condição de renda, sendo 16,4 moradoras em domicílios rurais. 51 4.2 – EFEITOS DO PROJETO EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL (PEAP) NAS COMUNIDADES EM ESTUDO Quanto ao Projeto Educação Ambiental e Patrimonial (PEAP), todos os participantes da pesquisa declararam conhecê-lo, assim como declararam já ter participado de oficinas realizadas pelo PEAP, tais como cerâmica, crochê, pintura em tecido, barco da ciência, bijuteria, entre outros, declarando os pesquisados que a motivação para a participação no PEAP foi principalmente a seriedade e a responsabilidade de seus gestores. De acordo com o relato de Zuleide Viana: “nem sempre foi assim, no inicio do PEAP, achava que o pessoal do museu estava aqui na comunidade só para pegar nossas peças e vender, como faziam outros pesquisadores de Projetos anteriores, mas quando levaram a nossa gente para Belém conhecer o Museu, achei que o Projeto era sério, e que traria benefícios para nossa comunidade.” Além da necessidade de conhecimento, com relevante interesse na produção de objetos artesanais de cerâmica que, conforme apurado, proporcionam às famílias renda extra e, natural e consequentemente, melhor qualidade de vida, verificandose, também, que o PEAP proporciona além de atividades sócio-educativas, o resgate da cidadania, a vivência de valores ético-ambientais e o exercício da responsabilidade, com excelente aceitação entre seus participantes. Dona Lúcia Santos relata que: “quando me convidaram para participar do PEAP, achava que fazer vasilha de barro era coisa de índio, hoje vejo que eu estava errada, pois consigo vender para muitos lugares o que eu estou produzindo e com isso ganho um bom dinheiro”. Entende-se que o gerenciamento responsável de um projeto social gera inúmeros benefícios aos participantes, quando bem aplicado e bem administrado, cuja organização, tende inicialmente a conhecer a realidade dos problemas existentes, fazendo com que sejam atendidas as necessidades que o caso requer, podendo ser feitas mudanças cabíveis para alcançar os objetivos no desenvolvimento do projeto, assim como, captar recursos para sanar os problemas. Para Melo Neto (2008, p. 43), o ato de gerenciar, administrar, coordenar ou gerir um projeto é a aplicação de técnicas, conhecimentos e habilidades para garantir que um projeto tenha sucesso. E gerenciar um projeto envolve desde iniciá- 52 lo até finalizá-lo, passando pelas etapas de planejamento, execução e atividades de controle. Segundo Brinckerhoff (2000, p. 11) um projeto social é “um planejamento de ações que visa auxiliar, em suas necessidades básicas, indivíduos carentes e/ou minorias excluídas de uma sociedade”. Para Armani (2004, p. 32), todo projeto social é elaborado “a partir da constatação de vários fatores tanto globais como locais, que requerem uma nova dinâmica entre os vários segmentos da sociedade e atores envolvidos no processo”, com a finalidade de materializar ações que sirvam de experimento para o desenvolvimento do empreendedorismo e da responsabilidade social com vistas ao desenvolvimento integrado de membros de determinada comunidades, fundamentalmente aquelas que se encontram em situação de vulnerabilidade social e/ou econômica. É nesse sentido que os resultados já demonstrados, quanto à melhoria da renda familiar auferida com produtos da cerâmica, que o Projeto Educação Ambiental e Patrimonial (PEAP) é avaliado pelos participantes da pesquisa como muito bom por possibilitar mais uma profissão aos membros das comunidades pesquisadas (Boa Vista e Lago Moura), além da percepção de benefícios tais como o sentimento de independência em relação à única empresa empregadora da região, a Mineração Rio do Norte (MRN), pelo fato de aprenderem outras profissões, afora a mudança positiva na forma de verem o futuro, considerando-se que antes do PEAP seus participantes tinham vida muito simples e sem mais perspectivas, pois esperavam que MRN sempre estivesse disponível para resolver os problemas das comunidades. Dessa forma, podem ser enumerados vários benefícios relatados por seus participantes: 1 – Sociais: contato com outras pessoas; a descoberta de que é capaz de ensinar algo aos outros; sociabilidade; aprendizado; valorização de si mesmo como pessoa. A esse respeito relatam dois entrevistados: “mesmo tendo estudado somente 30 dias na vida hoje é capaz de ensinar pessoa, pois com os ensinamentos que adquiri no projeto darei continuidade e vou ensinar meus irmãos de outras comunidades”. 53 Hoje me sinto mais a vontade para me relacionar com outras pessoas, antes eu era muito retraída, com as oficinas que participei, aprendi a falar em público sem ter muita vergonha” Rosa Serrão. 2 – Culturais: aprendizado da cultura dos antepassados; valorização da história local e da raça/cultura a que pertencem; Para Dona Nazaré: “a pessoa que tiver fazendo cerâmica, deve ter a mente livre de maus pensamentos de ruindade, se não passa para todas as peças”. Ou então, conforme relato de Dona Joana: “na hora da queima, devemos procurar estar em silêncio, pois na hora da queima das peças o “olho gordo”, atrapalha e pode acabar quebrando as peças”. 3 – Econômicos: a descoberta de mais uma fonte de renda a partir das vendas dos produtos; possibilidade de ganhar para ensinar em outras comunidades; a percepção de participação e ajuda econômica junto à família e despesas da casa; aumento de trabalho e renda; Segundo, E.D., “ Hoje tenho ganho até R$ 2,000.00, por me as vezes com venda da cerâmica, é muito legal que todos que fazem cerâmica podem lucrar, basta querer aprender a fazer, muita gente de fora gosta de comprar. 4 – Ambientais: consciência e respeito pela natureza; entendimento da necessidade de preservação do meio ambiente; preocupação com a problemática do lixo etc. A esse respeito, Maria Do Carmo ressalta que: “aprendeu muito a respeitar a natureza, principalmente no momento da retirada do barro, quando retiramos o barro pedimos autorização a natureza, fazemos uma oração, pois e ela que esta dando para nós, e assim podemos fazer nossas peças e vender”. Observa-se que o Projeto Educação Ambiental e Patrimonial (PEAP) é todo baseado em educação, ambiental e patrimonial, assim disponibilizando, para as Comunidades Boa Vista e Lago Moura, vários cursos e oficinas, que tem resultado em mudança de vida em toda a comunidade, cabendo-nos expor uma reflexão sobre o processo denominado Educação que, para Freire (1979), a raiz está na busca permanente da constituição do ser humano, ou seja, a educação é uma resposta da finitude da infinitude. Assim, a educação é possível para o ser humano, porque este é inacabado e sabe-se inacabado. Isto o leva a buscar sua perfeição. Para Freire (1979, p. 28) a 54 educação, “implica uma busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser o sujeito de sua própria educação. Não pode ser o objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém”. Dessa forma, entende-se que a busca permanente por se educar deve ser feita com outros seres que também procuram ser mais em comunhão com outras consciências, considerando-se que a educação sempre se apresenta como uma ação entre sujeitos, isto é, como uma prática social. Nesse sentido, a educação é definida, segundo Mizukami (2002, p. 30), como “o processo pelo qual a sociedade atua constantemente sobre o desenvolvimento do ser humano no intento de integrálo no modo de ser social vigente e conduzi-lo a aceitar e buscar os fins coletivos”. Assim, a educação é um processo histórico de criação do homem para a sociedade e simultaneamente de modificação da sociedade para benefício do homem (MIZUKAMI, 2002, p. 81) e complementa-se que em seus objetivos e perspectivas sociais, culturais, econômicos e ambientais. No contexto do Projeto de Educação Ambiental e Patrimonial (PEAP) nas Comunidades Boa Vista e Lago Moura, em Porto Trombetas/PA, a Educação Ambiental deve ser entendida enquanto transformação social à medida que desenvolve atitudes e habilidades necessárias para a modificação da atual situação de devastação do planeta, haja vista o entendimento e percepção dos participantes do PEAP de que o ambiente não é apenas o entorno físico, mas também os aspectos sociais, culturais e políticos inter-relacionados. Ao mesmo tempo trata-se também de uma dimensão dada ao conteúdo e a prática da educação, orientada para a resolução de problemas concretos do meio ambiente, tal como a problemática do lixo nas Comunidades Boa Vista e Lago Moura, por meio de enfoque interdisciplinar, de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade. Em linhas gerais, pode-se dizer que a Educação Ambiental é todo processo cultural que objetive a formação de indivíduos capacitados a coexistir em equilíbrio com o meio. Processos não formais, informais e formais já estão conscientizando muitas pessoas e intervindo positivamente, se não solucionando, despertando para o problema da degradação crescente do meio ambiente, buscando novos elementos para uma alfabetização (BRANCO, 1998). A Educação Ambiental é um processo permanente e inesgotável. O homem interfere na natureza com sua consciência, conhecimentos, atitudes, habilidades e 55 formas de participar na sociedade; nasce, cresce e morre sem saber tudo sobre o ambiente em que vive. Para melhor conhecer o ambiente em que vive, ele precisa ser ecologicamente alfabetizado. Quanto à alfabetização ecológica (CAPRA, 2003, p. 231) diz: Ser ecologicamente alfabetizado, "eco–alfabetizado", significa entender os princípios de organização das comunidades ecológicas (ecossistemas) e usar esses princípios para criar comunidades humanas sustentáveis. Precisamos revitalizar nossas comunidades, inclusive nossas comunidades educativas, comerciais e políticas, de modo que os princípios da Ecologia se manifestem nelas como princípios de educação, de administração e de política. Ter uma consciência ecológica, isto é, "ser ecologicamente alfabetizado", significa olhar o mundo de outra forma, pensar diferentemente, pensar em termos de relações e encadeamentos das hierarquias para as redes cooperativas (comunidades de aprendizagem), das estruturas para os processos (CAPRA, 2003). Existem alguns princípios importantes para uma efetiva alfabetização ecológica. Os princípios ecológicos extraídos dos ecossistemas e aplicados nas comunidades de aprendizagem sob a forma de princípios educacionais são: interdependência, sustentabilidade, ciclos ecológicos, associação, flexibilidade, diversidade e co-evolução (CAPRA, 2003). A Educação Ambiental vai, portanto, além da questão conservacionista; é uma opção de vida. Segundo Capra (2003, p. 28), faz-se necessário conhecer as razões históricas da degradação da natureza: O novo mundo ocidental é marcado por uma visão de mundo calcada na crença do método científico como única forma válida de conhecimento; na divisão matéria e espírito; no universo como um sistema mecânico; na vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência e na crença no progresso material ilimitado, a ser alcançado através do crescimento econômico e tecnológico. Educação Ambiental é, assim, um processo que parte de informações ao desenvolvimento do senso crítico e raciocínio lógico, inserindo o homem no seu real papel de integrante e dependente do meio ambiente, visando uma modificação de valores tanto no que se refere às questões ambientais como sociais, culturais, econômicas, políticas e éticas, o que levaria à melhoria da qualidade de vida que está diretamente ligada ao tipo de convivência que mantemos com a natureza e que 56 implica atitudes, valores e ações. Trata-se de uma opção de vida por uma relação saudável e equilibrada com o contexto. A Educação Ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e interação entre as culturas (GADOTTI, 2000). A Educação Patrimonial, por sua vez, é um instrumento de “alfabetização cultural” que permite a compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal, considerando-se o desenvolvimento da percepção cultural2 elaborada em uma experiência concreta de educação, tomando-se como exemplo as Oficinas de Educação Patrimonial e, em consequência, a valorização da cultura do barro pelas Comunidades Boa Vista e Lago Moura. Segundo Grassi (2008, p. 116), “as oficinas educativas permitem a construção, desconstrução e reconstrução do conhecimento”, observando-se que serão sempre interdisciplinares, pois envolvem diferentes áreas do conhecimento e diferentes funções; com o estímulo à aquisição de novos conhecimentos, à criatividade e espontaneidade e, ainda, podem ser utilizada como instrumento de avaliação e intervenção pedagógica. Assim, considerando-se que o Patrimônio Histórico e Cultural agrega ao mesmo tempo valor, interesse, história, informação; cultura e arquitetura, além dos aspectos correspondentes às origens de um povo, os quais se tornam alvo de investigação, em especial por parte de historiadores, profissionais que atuam na área, reconhecendo sua importância enquanto repasse de informações para outros como parte de um processo educacional considerando diversos aspectos, como a composição histórica, arte, cultura, museologia, arqueologia, dentre outros, que impulsionam a pesquisa, preservação e manutenção de um Patrimônio Histórico e Cultural e, consequentemente, a preservação ambiental, confirmando-se os critérios e princípios do desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, podem ser realizadas oficinas de Educação Patrimonial, mediante o que pode ser elaborado um planejamento pedagógico, com a criação de exercícios, tomando como base a identidade individual e coletiva, identidade cultural, patrimônio cultural e o patrimônio arqueológico local, ressaltando-se que também 2 Conjunto de procedimentos educativos que possibilitam desenvolver o potencial dos sentidos, visando à captação e o reconhecimento dos elementos e características da própria cultura (HORTA et al, 1999). 57 podem ser criados jogos dinâmicos de integração, identidade individual e coletiva, solidariedade, respeito às diferenças, higiene pessoal, integração e de preservação e proteção ambiental e patrimonial, fundamentais para o estabelecimento de um diálogo franco e democrático, de aproximação, confiança, valorização da identidade individual e coletiva e principalmente da história de vida de cada um, promovendo o respeito pela liberdade e o convívio com as diferenças, respeitando-as. Não bastassem os resultados que promove, sobretudo o diálogo e a tolerância, o PEAP tem a comemorar o crescimento da auto-estima dos moradores, expresso pela retomada de costumes abandonados há tempos, pela melhor organização comunitária, melhora nas atividades econômicas devido à confecção de peças feitas a partir do barro e pelo aprendizado que o Projeto tem proporcionado a todos os diretamente envolvidos nessas atividades. Por fim, observa-se que, segundo Martins e Melo (2004), por mais críticas que envolvam os objetivos, as intenções e o caráter assistencialista de um projeto social, não se podem negar os resultados encontrados que evidenciam seus benefícios para qualquer comunidade que, consciente do aprendizado que pode adquirir e que oficinas são implementadas visando despertar o empreendedorismo local, também despertando no participante o desejo de não ser apenas o destinatário do mesmo, mas também participante da estrutura e organização do projeto, visando beneficiar outras comunidades. 58 V - CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo de onze anos de existência, a parceria entre o MPEG e a MRN, é possível constatar alguns ganhos significativos para essas comunidades em termos de conhecimento, devidos as diversas ações educativas as quais participaram e ganho em termos financeiros, pois muitos têm uma fonte de renda a partir da confecção e venda de objetos feitos em cerâmica. Dentre os resultados positivos alcançados estão à preservação de sítios arqueológicos, que estão situados no entorno da MRN, preservando assim a própria história e gerações futuras. O regate cultural é outro ponto favorável a esta parceria entre essas instituições e as comunidades envolvidas, pois a maioria dos entrevistados ressalta a importância de conhecer a fundo suas raízes históricas. Outro fator importantíssimo são os meios de geração de renda, ou seja, com a participação nas oficinas de cerâmica, foi possível formar grupos que produzem e comercializam essas peças nas comunidades ou em outros locais, além disso gera uma independência da MRN. Fazer cerâmica nessas comunidades hoje representa a sua identidade: a cerâmica do Trombetas. As ações do PEAP incentivaram outras comunidades a reivindicarem a implantação de ações educativas, o que demonstra o grau de confiança no referido projeto. No entanto, o MPEG encerrará sua participação nesta parceria e os comunitários serão os instrutores, ou seja, repassarão as técnicas de confecção de peças em cerâmica que aprenderam nesses anos aos demais descendentes de quilombos. Por essa atividade esses sujeitos sociais serão remunerados, ou seja, ganharão um valor monetário para ministrar essas aulas, pago pela MRN. Esses resultados satisfatórios são percebidos, pois as ações desenvolvidas pela PEAP são resultado de planejamento e respeito a essas comunidades. As atividades desenvolvidas foram pensadas de forma participativa, tendo como reflexo a melhoria da auto-estima, o resgate das técnicas de produção de cerâmica, a socialização de informações e a geração de renda. Por fim, respondendo a questão inicial, se houve o desenvolvimento sustentável local, penso que sim, mas é apenas um caso isolado. Nesse sentido, torna-se importante refletir que existem ações sérias desenvolvidas em parceria entre uma empresa privada, instituições públicas e representantes da sociedade 59 civil, a exemplo da experiência em estudo. No entanto, deve-se registrar que ainda podemos avançar muito com vistas à construção do desenvolvimento local sustentável. 60 REFERÊNCIAS ARMANI, Domingos. Como elaborar projetos? Guia prático para elaboração e gestão de projetos sociais. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2004. ASHLEY, Patrícia Almeida. Responsabilidade social corporativa e cidadania empresarial: uma análise conceitual comparativa. FERREIRA NETO, Augusto. Desenvolvimento comunitário. Rio de Janeiro: Bloch, 2002. BRANCO, Samuel Murgel. O meio ambiente em debate. São Paulo: Editora Moderna, 1998. BRINCKERHOFF, Peter C. Empreendedorismo social. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2000. BRUSEKE, Franz Josef. Desenvolvimento sustentável: um desafio para as ciências. Belém: Cadernos do NAEA, n.25, maio 2004. CAPRA, Fritjof. O que é alfabetização ecológica. In: Princípios de Alfabetização Ecológica. São Paulo: Rede Mulher de Educação, 2003. CIMA. Subsídios técnicos para elaboração do relatório nacional do Brasil para a ANUMAD. Brasília. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso Futuro Comum. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991. COSTA, Francisco de Assis. Formação agropecuária da Amazônia: os desafios do desenvolvimento sustentável. NAEA/UFPA, Belém-Pa, 2000. D’INCÃO, Maria Ângela e SILVEIRA, I. M. (org.). A Amazônia e a crise da modernização. Belém, Museu Paraense Emilio Goeldi, 2009. FÉLIX, Luiz Fernando Fortes. O ciclo virtuoso do desenvolvimento responsável. São Paulo: Peirópolis: Instituto Ethos, 2003. FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo: Editora Pierópolis, 2000. GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os (des) caminhos do meio ambiente. 5ª ed. 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São Paulo: Atlas, 1997. 63 APÊNDICE I – FORMULÁRIO DA PESQUISA PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS PROJETO DE PESQUISA: O Projeto Educação Ambiental e Patrimonial realizado na Comunidade Boa Vista-Porto Trombetas/PA: uma experiência de desenvolvimento local sustentável. Pesquisador: Alessandra Lívia Lima dos Santos. Profº Orientador: Eugênia Rosa Cabral Comunidade do entrevistado: ________________________________________ 1. Nome: ____________________________________________________ 2. Naturalidade: __________________ 3. Sexo: |__| masculino |__| feminino 4. Idade: |__||__| anos 5. Escolaridade a) |__| Ensino Fundamental Incompleto b) |__| Ensino Fundamental completo c) |__| Ensino Médio incompleto d) |__| Ensino Médio completo e) |__| Ensino Superior f) |__| Analfabeto 6. HÁ QUANTO TEMPO MORA NESTA COMUNIDADE? ____________ 7. QUAL É A SUA CONDIÇÃO EM RELAÇÃO À PROPRIEDADE DA TERRA? a) |__| Dono da terra (proprietário ou posseiro) b) |__| Empregado c) |__| Arrendatário d) |__| Agregado-produtor e) |__| Parceiro/Meeiro f) |__| Ocupante g) |__| Outro: _____________________________________ 8. O SR. (A) POSSUI TÍTULO DE PROPRIEDADE DA TERRA? |__| Sim |__| Não 9-QUANTAS PESSOAS RESIDEM NA SUA PROPRIEDADE? a-( )De 1 a 2 membros b-( )De 3 a 4 membros c-( )De 5 a 6 membros d-( )De 7 em diante 10-QUANTOS MEMBROS DESTE DOMICÍLIO TRABALHAM? a-( )De 1 a 2 membros b-( )De 3 a 5 membros c-( )De 5 a 6 membros d-( )De 7 em diante 11. QUAL A SUA SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS MEMBROS DA FAMÍLIA? a)-( )Empregado do Setor Privado b)-( )Empregado do setor público c)-( )Profissional autônomo no Serviço ou Comércio d)-( ( ) MINERAÇÃO )Trabalhador do Setor Primário (Autônomo): ( ) Agricultura Familiar ( ) Pesca ( )Outros 64 ( ) Artesanato de argila ( ) Criação de animais e)-( )Dona de casa f)-( )Aposentado/pensionista g)-( )Outros____________________ ( ) Extrativismo florestal 12. QUAL A RENDA MENSAL DA FAMILIA (em Salário Mínimo) Até 1/2 Mais de 3 a 5 Mais de 1/2 a 1 Mais de 5 Mais de 1 a 2 Sem rendimento Mais de 2 a 3 Outra 13. Quantos membros desta família, residentes neste domicílio, têm as seguintes fontes de renda e qual a renda aproximada de cada um? a) |__||__| Salário R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| b) |__||__| Trabalhos eventuais (“bicos”) R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| c) R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| |__||__| Renda da agricultura e pesca d) |__||__| Aposentadoria R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| e) |__||__| Previdência rural R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| f) |__||__| Bolsa escola R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| g) |__||__| Bolsa família R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| h) |__||__| Auxílio doença (“Caixa”) R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| i) |__||__| PETI R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| j) |__||__| Agente jovem / Bolsa Trabalho R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| k) |__||__| Vale gás R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| l) |__||__| Seguro desemprego R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| m) |__||__| Comércio e serviços R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| n) |__||__| Outros programas sociais. Especificar: R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| o) |__||__| Outras fontes de renda. Especificar: R$ |__||__||__||__||__||__||__||__|, |__||__| 13. O SR. (A) CONHECE O PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL (PEAP) DO MUSEU GOELDI EM PARCERIA COM A MINERAÇÃO? |__| Sim |__| Não 14. (SE SIM). O SR. (A) JÁ PARTICIPOU DE ALGUMA OFICINA REALIZADA PELO PEAP? |__| Sim. Qual (is)? _________________________ _____________________ |__| Não 15. O QUE MOTIVOU O SR. (A) À PARTICIPAR DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PELO PEAP? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 65 _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ____________________________________________ 16. COMO O SR. (A) AVALIA AS AÇÕES DO PEAP NA SUA COMUNIDADE? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _________________________________________________ 17. QUAIS FORAM OS IMAPCTOS DAS AÇÕES DO PEAP NA SUA VIDA? Tipo Descrição a) SOCIAIS b) CULTURAIS c) ECONÔMICOS d) AMBIENTAIS 18. O QUE SIGNIFICA A CULTURA DO BARRO PARA O SR.(A) E PARA A COMUNIDADE? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ___________________________________________ 19. COMO O SR.(A) DEFINE COMO ERA A VIDA NA COMUNIDADE ANTES DO PEAP E DEPOIS? (Gravar a fala) __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________ 20. QUAIS SÃO AS SUAS EXPECTATIVAS FUTURAS EM RELAÇÃO AO PEAP? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________