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O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES DE LEITURA EM
LE:
UMA REFLEXÃO SOBRE O LIVRO DIDÁTICO DE INGLÊS
Agnaldo Pedro Santos Filho (SME/SAJ)1
Lêda Regina de Jesus Couto (UNEB/PPGEL)2
1 Introdução
O livro didático é um instrumento de crucial importância nas aulas de inglês,
sendo peça principal no seu desenvolvimento. Sua importância é tal, que, por vezes, o
professor centraliza sua aula unicamente no uso deste material didático. A aula de inglês
passa a ter as características do livro. Podendo, portanto, ser um instrumento de
transformação, formação de identidades, propiciando o respeito pelas idiossincrasias ou,
em contraposição, pode limitar este aluno a atividades acríticas, estereotipadas e
descontextualizadas.
Segundo Almeida Filho (1993, p.43) “o livro didático é potente no seu papel
centralizador de experiências para a construção do pobre processo de ensinoaprendizagem de línguas em muitas escolas brasileiras.” Pesquisas como a de Almeida
Filho assinalam a preocupação com a qualidade dos livros didáticos utilizados no
ensino-apredizagem de língua inglesa. Com referência à seção de leitura, muitos livros
didáticos restringem o uso do texto a questões gramaticais e lexicais desconsiderando
sua importância como produto social e de interação com o mundo.
Neste trabalho, faz-se um estudo sobre o aprendizado de língua inglesa e uma
análise das seções de leitura de dois livros didáticos para o Ensino Médio. Foram
observadas a tipologia dos textos, as atividades de compreensão escrita e a aplicação
das estratégias de leitura. Observa-se se os livros analisados favorecem a aplicação
dessas estratégias e o desenvolvimento da habilidade de leitura crítica em inglês.
2 A ESCOLHA DO LIVRO DIDÁTICO DE INGLÊS
O livro didático constitui-se uma importante ferramenta utilizada pelos
professores nas aulas de inglês. Suas principais funções, segundo Grant (1994), são
Especialista em Metodologia do Ensino de língua Inglesa. Professor de inglês das redes
pública e privada de ensino.
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Professora auxiliar do curso de Letras/inglês da Universidade do Estado da Bahia (UNEB),
mestranda do curso de Estudo de linguagens pelo PPGEL/ UNEB.
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alcançar as quatro habilidades comunicativas e funcionar como “uma vitrine” para a
língua. Quando bem escolhido e utilizado, contribui de forma positiva com o professor
auxiliando-o metodologicamente e fornecendo diferentes recursos direcionados a um
determinado público.
Devido às transformações que tem ocorrido no meio educacional, tais como o
surgimento e o aprimoramento de abordagens no ensino de línguas, as novas pesquisas
lingüísticas e as necessidades educacionais, os livros de língua inglesa têm sofrido
constantes mudanças, a fim de adequá-los às novas realidades que surgem ao longo do
tempo.
Ferro e Bergmann (2008, p. 25) afirmam que:
[...] o livro didático é um excelente recurso para ser usado em sala
de aula, [...] mas que não deve ser utilizado como um recurso único e
restrito, sem que permita a interferência do professor e do aluno com
outras possibilidades de atividades, textos etc.
Muitos professores, ao adotar um livro didático, utilizam o mesmo como “Livro
Sagrado”, onde encontram todas as informações e orientações que devem seguir no seu
fazer pedagógico, conforme afirma Meyer (2008). Por isso é importante que, ao
escolher um livro didático, o professor tenha a possibilidade de criar, agregar novos
recursos a ele e adequar o seu conteúdo à realidade de seus alunos.
Outro ponto importante que deve ser observado na escolha de um livro didático
são os valores sociais, étnicos e culturais presentes no mesmo. Em um livro didático não
pode haver supervalorização de uma cultura estrangeira em detrimento de outra, tão
pouco a mesma pode ser desvalorizada ou estereotipada. Sobre a supervalorização da
cultura estrangeira Siqueira escreve que:
É nessa ‘aventura’ de buscar o entendimento da cultura do outro que,
ao longo do tempo, tem-se notado também dentro das salas de aula um
crescente estado de idolatria pela cultura estrangeira, levando os
professores a, além de não debaterem questões culturais de forma
crítica, tornarem-se verdadeiros seres ‘re-aculturados’ na sua própria
terra [...] Siqueira (2005, s. p.)
É importante que alunos e professores entendam e respeitem as diferenças e a
cultura do outro, fazendo uma comparação com a sua própria cultura e debatendo
questões culturais, evitando assim tanto a criação de estereótipos negativos que
interfiram em seu aprendizado quanto a idolatria de uma cultura.
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Segundo Meyer:
Os valores sociais, éticos e culturais fazem parte do ‘currículo oculto’
de qualquer livro de Inglês. O professor precisa estar atento às
representações desses valores, para que possa, junto com os alunos,
discuti-los, avaliá-los de maneira crítica, e se tornar capaz de exercer o
papel de agente cultural que promove o entendimento das diversas
culturas, inclusive a sua própria. (MEYER, 2008, p. 21)
Como a principal habilidade comunicativa a ser desenvolvida no Ensino Médio é
a leitura (BRASIL, 2002), é importante salientar que, ao escolher um livro didático, o
professor deve estar atento para os objetivos de suas atividades. Segundo Meyer (2009),
estes objetivos podem ser: desenvolver habilidades de leitura e estratégias, ampliar
vocabulário, informar o aluno sobre vários assuntos, fornecer modelos para a produção
escrita, servir como ponto de partida para conversação, apresentar e/ou revisar pontos
de gramática.
De acordo com Corbett (2004), além destas habilidades, deve-se dar importância
ao desenvolvimento das habilidades de observação, explicação e mediação de
conhecimento que está presente no aprendizado de uma nova língua e uma nova cultura
através de textos autênticos.
Para Grant (1994) textos criados especialmente para o livro didático tornam a
atividade de leitura bastante cansativa, desinteressante e mecânica, não contribuindo
assim para o desenvolvimento das habilidades de leitura.
[...] uma desvantagem é que a leitura pode se tornar enfadonha se
estiver sempre escrita em “textbookese”. Além disso, nossos
estudantes precisam ter uma variedade de textos que abranja uma
gama de situações humanas se eles querem desenvolver suas
habilidades de leitura completamente. (Grant, 1994, p. 65)3
Concordando com Grant, Ferro e Bergmann (2008) afirmam que:
Trabalhar com textos artificiais, desprovidos de significação real,
implica destituir o material didático de um dos aspectos fundamentais
à sua efetividade: o interesse. Mais do que isso, significa excluir os
dois elementos mais importantes do processo de aprendizagem: o
leitor e o mundo. (FERRO & BERGMANN, 2008, p. 70)
[...] one disadvantage is that reading can become rather boring if it is always written in
‘textbookese’. In addition, our students need to have a highly varied diet of texts covering a wide
range human situations if they are to develop their reading skills to the full. (Tradução nossa)
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Com a ênfase na leitura nas aulas de inglês do Ensino Médio, busca-se contribuir
para que o aluno se torne um mediador do seu próprio conhecimento, desenvolvendo
uma postura crítica com a capacidade de relacionar o seu conhecimento já existente ao
novo.
3 CARACTERIZAÇÃO DOS LIVROS ANALISADOS
Para o desenvolvimento deste trabalho foi analisada uma seção de leitura de dois
livros didáticos de inglês para o Ensino Médio, disponíveis nos anexos do trabalho.
Antes de apresentar esta análise, faremos uma breve descrição das partes que compõem
as unidades de cada um deles.
Analisamos o livro Compact English Book da editora FTD que será identificado
neste artigo como LD1 (livro didático) e o livro Sun up da editora Richmond que será
identificado no trabalho como LD2.
O LD1 é um volume único de quatrocentas e trinta e uma páginas e vinte e quatro
unidades, oito delas para cada série do Ensino Médio. As unidades do livro apresentam
um ou dois textos e são divididas em seções de gramática, vocabulário, testes de
vestibulares e a seção de leitura, que é nosso objeto de estudo.
A seção de leitura da unidade analisada é dividida em três partes: o texto,
glossário com algumas palavras do texto e as questões para interpretação. Como o livro
não tem manual do professor, as orientações didáticas são feitas no início das unidades
ao lado do texto ou exercício.
O LD2 é composto de três livros com 12 unidades e cinqüenta e seis páginas
cada, um volume para cada série do Ensino Médio, da qual a seção de leitura do
segundo foi analisada. As unidades são divididas em leitura, interpretação de textos,
vocabulário e gramática.
As seções de leitura são compostas de seis partes com dois ou mais textos,
incluindo atividades de pré-leitura e pós-leitura. As orientações didáticas quanto aos
textos e as demais seções da unidade encontram-se no manual do professor, no final do
livro.
5.3 A ANÁLISE DAS SEÇÕES DE LEITURA
Na análise dos livros tomou-se como exemplo a seção de leitura de uma unidade
de cada livro didático estudado. As unidades escolhidas abordam temas similares.
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O LD1 inicia a unidade com um diálogo, o texto “Applying for a Job”, uma entrevista
de emprego em uma empresa de moda. Quanto à disposição gráfica, o livro apresenta
uma imagem relacionada ao texto e uma introdução com a descrição da situação em
inglês. O uso de imagens no texto é muito importante, pois permite ao aluno fazer
previsões acerca do que será lido.
Nas atividades de interpretação o livro não apresenta nenhuma atividade de préleitura ou pós-leitura, nem para o aluno nem nas orientações ao professor. Nas
orientações direcionadas ao professor, o autor sugere a ênfase da gramática para a
exploração do texto. Além disso, o texto utilizado na unidade não é um texto autêntico,
já que se trata de um texto criado para enfatizar o uso de question words o que segundo
Bergmann e Ferro (2008, p. 70) “[...] implica destituir o material didático de um dos
aspectos fundamentais à sua efetividade: o interesse.”
A atividade de leitura do LD1, não discute o tema abordado, nem contextualiza
com as experiências dos alunos sobre o tema a fim de ativar o conhecimento prévio do
aluno engajando-o no assunto do texto que será lido. O que segundo Kleiman (2004, p.
25) é essencial para a compreensão.
[...] A ativação do conhecimento prévio é, então, essencial à
compreensão, pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto
que lhe permite fazer inferências necessárias para relacionar diferentes
partes discretas do texto num todo coerente.
O livro não oferece atividades de previsão, nem orienta o professor a fazê-la.
Apesar de tratar de um tema comum no Brasil, o desemprego, não há qualquer
discussão sobre o tema.
Nas orientações dirigidas ao professor para a exploração do texto, a única ênfase
dada é aos aspectos estruturais da língua, as questões de interpretação textual são
constituídas em sua maioria de questões de múltipla escolha e as discursivas estão
relacionadas apenas à gramática ou perguntas com respostas que podem ser facilmente
encontradas no texto e copiadas pelos alunos, exigindo deles um mínimo de esforço
para resolver a tarefa. Este tipo de leitura não estimula o senso crítico do aluno, uma vez
que as respostas estão pré-construídas e os mesmos não são estimulados a expressar
opiniões próprias acerca do texto, tampouco relacioná-lo ao seu cotidiano.
A unidade escolhida do LD2, disponível nos anexos do trabalho, é intitulada
“Professions of the future”, e apresenta na seção de leitura textos autênticos de gêneros
diferentes: o trecho de um artigo de revista e o depoimento de estudantes sobre
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profissões. Antes da leitura, os alunos são apresentados ao tema da unidade, com uma
atividade onde os mesmos, guiados por algumas perguntas, fazem uma discussão sobre
as profissões do futuro e suas expectativas em relação à vida profissional. Este tipo de
atividade aproxima o aluno do texto e permite que ele traga o seu conhecimento para a
sala de aula, o que facilita a compreensão do texto, pois os mesmos criam previsões
acerca do que lerão a seguir e sentem-se mais motivados à leitura.
Antes de iniciar a leitura do texto os alunos são apresentados a uma atividade
onde relacionam algumas profissões às suas características. Após o texto, algumas
palavras-chave são apresentadas através de uma atividade de substituição, onde os
alunos marcam um sinônimo para o vocabulário em destaque. Nas atividades de leitura,
o livro apresenta questões objetivas e abertas sobre o texto lido. Após a interpretação de
texto, os alunos são apresentados a um pequeno texto retirado de um website, perguntas
relacionadas ao texto anterior e uma discussão sobre o tema da unidade.
Ao analisar os dois livros didáticos escolhidos, observa-se que estes privilegiam
o uso de questões classificadas por Marcuschi (2008) como objetivas e cópias. Segundo
o autor, perguntas objetivas configuram-se em atividades de decodificação, já que a
resposta está explícita e centraliza-se no texto e as perguntas do tipo cópia que sugerem
atividades de transcrição de frases, onde o leitor precisa apenas completar, copiar ou
transcrever as informações encontradas no texto.
Como atividade de pós-leitura os alunos são apresentados a um pequeno texto
retirado de uma enciclopédia online, e a algumas perguntas relacionadas com o tema do
texto, mas que devem ser respondidas com a opinião dos próprios alunos, o que os leva
a uma reflexão do que acabaram de ler. Outro aspecto importante do LD2 é que os
textos são bastante ilustrados e possuem um layout que motiva a leitura e possibilita ao
aluno a oportunidade de fazer inferências acerca do texto observando suas
características.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escolha do livro didático deve acontecer de forma criteriosa, adequando o
material aos interesses e realidade do aluno com atividades que desenvolvam uma
competência intercultural comunicativa com respeito ao outro e a si próprio, para que as
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aulas de língua estrangeira estimulem os alunos a lidar com este universo pluricultural
que é a língua inglesa.
5 Referências
ALMEIDA FILHO, J.C.P. de. Dimensões comunicativas no ensino de línguas.
Campinas: Pontes, 1993.
CORBETT, J. An Intercultural Approach to English Teaching. United Kingdom:
Multilingual Matters Ltda, 2004
FERRO, J. & BERGMANN, J. C. Produção de Materiais Didáticos em Língua
Materna e Estrangeira. Curitiba: Ibpex, 2008.
GRANT, N. J. H. Making the most of your textbook. Longman, 1994.
KLEIMAN, A. Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura. Campinas: Pontes, 9ª
Edição, 2004.
MEYER, M. H. Análise Crítica do Livro Didático. Salvador: FTC, 2008.
SIQUEIRA, S. O desenvolvimento da consciência cultural crítica como forma de
combate à suposta alienação do professor brasileiro de inglês. In: Revista Inventário.
4/jul/2005. Disponível em: <http://www.inventario. ufba. br/04/04 ssiqueira.htm.>
Acesso em março de 2010.
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LIBERATO, Wilson. Compact English Book. São Paulo: FTD, 1998.
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AMOS, Eduardo, PRESHER, Elisabeth, PASQUALIN, Ernesto. Sun Up: inglês para o ensino médio. São Paulo: Richmond Publishing, 2008
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uma reflexão sobre o livro didático de inglês