ENSINO E LEITURA DO TEXTO NÃO-VERBAL ∗ ∗ Ana Paula Machado Janete da Costa Becker ∗ ∗ Adriana Lemes RESUMO Muito se tem discutido sobre a atual problemática da leitura no Brasil, e o país até vem tomando algumas medidas para solucioná-la. Contudo, a situação pouco se alterou, pois é necessário mais do que a simples doação de livros aos alunos para mudar essa realidade. Se, de fato, houver interesse de modificá-la, devemos avaliar as suas condições sociais na escola para podermos mudar as concepções de ensino-aprendizagem. Sabemos que isto não é fácil, mas é indispensável tendo em vista que na contemporaneidade as exigências de leitura não se restringem à palavra escrita, por isso precisamos exercer práticas de leitura que envolva as múltiplas linguagens. O ensino da leitura de texto não verbal é uma maneira interessante e eficiente para esse fim, uma vez que possibilita aos discentes o desenvolvimento dos aspectos intelectuais, social e afetivo, integrando os conteúdos e levando-se em consideração as várias ciências, que pelo caminho da interdisciplinaridade, constroem conhecimentos participativos e decisivos na formação do sujeito social. Palavras-Chave: Ensino; Leitura; Texto Não-Verbal. INTRODUÇÃO A fala e a escrita não são nossos únicos sistemas de comunicação. Telefone, rádio, televisão, imprensa são outros meios de comunicação que marcam a vida moderna e as sociedades industrializadas pelo aparato tecnológico que as caracterizam. Não se trata apenas de comunicação pessoa a pessoa, mas, os hemisférios se comunicam e transformam o universo em uma “aldeia”, na medida em que ampliam a escala das comunicações humanas. Essa estrutura informacional não precisa ser, nem é exclusivamente verbal. O traje usado para cobrir o corpo, os meios de transporte adotados não ∗ Acadêmicas do Curso de Letras e Literaturas da Universidade Luterana do Brasil - Campus Guaíba. Professora – Disciplina Lingüística Aplicada e orientadora deste trabalho – ULBRA/GUAÍBA. ∗∗ são de ordem estritamente funcional, ao contrário, dizem sem palavras, as preferências, explicam gostos. Escolher cores, modelos, tecidos, marcas significa expectativas socioeconômicas, mas, sobretudo revela o que pensam de nós, aquelas escolhas são signos da auto-imagem que comunicamos. Estes signos falam sem palavras, são linguagens não verbais altamente eficientes no mundo da comunicação humana. O ensino de texto não verbal é muito importante e deve ser trabalhado em sala de aula, pois, os alunos não possuem o hábito de ler. Com a escolha de texto não-verbal, os alunos entram em contato com a leitura, desenvolvendo opiniões críticas sobre o tema proposto. Muitas vezes a escola é o único lugar onde o aluno supre suas necessidades. Como, por exemplo, aprender a ler as imagens que o cercam no mundo, compreendê-las e interpretá-las. Assim terão facilidade em entender os significados e farão uma leitura para sua realidade. É preciso “inovar” um pouco para que o estudante se habitue aos diferentes modos de leitura e a diferentes tipos de textos, goste e aprecie as novidades. 1. A LEITURA DO TEXTO NÃO VERBAL O mundo social é permanentemente leitor e leitura dos seus indivíduos. Nossa cultura nos transfere conhecimentos sobre a realidade e formas de pensar essa mesma realidade. Aprender a ler o mundo é apropriar-se desses valores de nossa cultura. É, também, submetê-los a um processo permanente de questionamento, da qual participa nossa capacidade de duvidar. Afinal, será essa a única maneira de organizar a vida? Será esse o único mundo que somos capazes de fazer? Não será possível pensar a humanidade em outros termos? Esse exercício da dúvida é sempre benéfico, pois nos oferece condições de superar as leituras mais imediatas da realidade, atingindo releituras importantes para quem se preocupa com a saúde social e física do ser humano. Quando se fala em leitura de texto ou linguagem, normalmente se pensa em texto ou linguagens verbais, ou seja, naquela capacidade ligada ao pensamento que se concretiza numa determinada língua e se manifesta por palavras (verbum, em latim). Mas, além dessa, há outras formas de linguagem, como a pintura, a mímica, a dança, a música e outras mais. Com efeito, por meio dessas atividades, o homem também representa o mundo, exprime seu pensamento, comunica-se e influenciam os outros. Tanto a linguagem verbal quanto as linguagens não-verbais expressam sentidos e, para isso, utilizam-se de signos, com a diferença de que, na primeira, os signos são constituídos dos sons da língua (por exemplo, mesa, fada, árvore), ao passo que nas outras se exploram outros signos, como as formas, a cor, os gestos, os sons musicais, etc. Se na linguagem é impossível conceber uma palavra encavalada em outra, na pintura, por exemplo, várias figuras ocorrem, simultaneamente. Quando contemplamos um quadro, captamos de maneira imediata à totalidade de seus elementos e, depois, por um processo analítico, pode, os ir decompondo sua totalidade. O texto não-verbal pode, em princípio, ser considerado dominantemente descritivo, pois representa uma realidade singular e concreta, num ponto estático do tempo. Uma foto, por exemplo, de um homem de capa preta e chapéu, com a mão na maçaneta de uma porta é descritiva, pois capta um estado isolado. Com a organização de uma seqüência de fotos em progressão, se relata uma transformação de estados que se sucedem, configura-se a narração. Essa disposição de imagens em progressão constitui recurso básico das histórias em quadrinhos, fotonovelas, cinema, etc. Texto não-verbal é aquele que utiliza outros códigos que não sejam a palavra. Pode ser a cor, a forma, o movimento, a organização. Qualquer pessoa é capaz de ler essas mensagens, de ler, enfim, o mundo em que vive. Evidentemente, existem graus de leitura e compreensão desse mundo, mas não pode-se dizer, por exemplo, que um analfabeto não tenha condição de fazê-lo. A não co-relação com o verbal, porém, não descarta o fato de que a imagem pode ser lida. Propriedades como a representatividade, garantida pela referencialidade, sustentam, por um lado, a possibilidade de leitura da imagem e, por outro, reafirmam o seu status de linguagem. Enquanto a leitura da palavra pede uma direcionalidade (da esquerda para a direita), a da imagem é multidirecionada, dependendo do olhar de cada "leitor". Quando, por exemplo, olhamos atentamente uma cidade, o traçado de suas ruas, seus prédios, o material utilizado nas construções, podemos compreender uma série de coisas. A observação desses aspectos permite avaliar, no mínimo, a utilização do espaço e o modo de vida de moradores do lugar; nível de organização, desenvolvimento tecnológico, costumes, história, organização do trabalho, tipo de trabalho e de lazer, harmonia entre natureza e interferência humana valores, etc. É possível dizer, portanto, novamente que essa avaliação é o resultado de uma leitura que foi feita das imagens da cidade. A leitura de imagens é possível porque há nelas uma linguagem que se manifesta à parte de uma certa organização. A linguagem não-verbal das cidades, das nuvens carregadas, do vestuário, da fruta madura ou do cansaço no rosto tem uma característica importante: nela o próprio objeto constitui a linguagem. Ao significar algo, uma imagem remete a idéias, sentimentos, interferindo na interpretação do leitor, transformando esse “algo representado”, o que é diferente de simplesmente reproduzi-lo. Ler significa compreender, retirar informações, atribuir significados. A leitura ocorre por certa decodificação que se aprende a fazer, não importa se sistemática o assistematicamente, dos sinais percebidos e do objeto observado. Signo é sinal, símbolo. Portanto, deve-se se referir a alguma coisa. Quando falamos de signo lingüístico, estamos nos referindo a uma representação da realidade por meio da palavra. Palavra e objeto não se confundem como uma coisa só, mas como realidades diferentes em que uma (a palavra) representa outra (o objeto). Na linguagem visual, o signo é a imagem: suas formas, as cores, a perspectiva. Assim acontece com a linguagem verbal, há inúmeros modos de organização de signos visuais, decorrentes da relação que o homem estabelece entre a realidade e sua representação. Tendo em vista as diferentes representações visuais do real, é possível identificar três tipos de signo: o ícone, que apresenta relação de semelhança ou analogia com o referente (fotografia, diagrama, mapa, etc.), o índice, tipo de signo que em oposição simultânea ao ícone e ao símbolo, mantém relação natural causal, ou de contigüidade física com o referente (p.ex. uma nuvem negra no céu indicando chuva; uma pegada indicando a passagem de alguém), símbolo que, em oposição simultânea ao ícone e ao índice, fundamenta-se numa convenção social (O signo lingüístico p.ex.) e mantém uma relação instituída, convencional, com o referente; signo arbitrário, signo imotivado. São exemplos de símbolos, ainda, a pomba e a bandeira branca, que representam a paz, os peixes, que representam o cristianismo, a cor vermelha, que representa perigo. O trabalho de interpretação da imagem, como na interpretação do verbal, vai pressupor também a relação com a cultura, o social, o histórico, com a formação social dos sujeitos. E vai revelar que forma a relação imagem/interpretação vem sendo "administrada" em várias instâncias. CONCLUSÃO Percebemos através da realização deste artigo, que o texto não verbal consegue transmitir uma mensagem ou dizer algo sem palavras, basta que o leitor esteja apto para analisar e interpretar este tipo de texto. O estudo da imagem como discurso produzido pelo não verbal, abre a possibilidade de entender os elementos visuais como operadores do discurso, bem a sua importância para desenvolver o raciocínio dos alunos, tornando-os mais capazes de ler, interpretar e entender imagens que o cercam no seu cotidiano, deixando evidente que da mesma forma que a linguagem verbal é lida, a não verbal também pode ser. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERRARA, Lucrécia D’Aléssio. Leitura sem palavras, 4 ed. São Paulo: Ática,1997. FIORIN, José Luiz; PLATÃO, Francisco. Para entender o Texto - Leitura e Redação. São Paulo: Editora Ática, 1997. ORLANDI, E. "Efeitos do verbal sobre o não-verbal", Encontro Internacional da interação entre linguagem verbal e não-verbal", Brasília, março 1993. ORLANDI, E. "O que é Lingüística", São Paulo: Brasiliense, 1999. Disponível em< http://www.uff.br/mestcii/tania1.htm >acessado em 17 março 2007. 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