- --: -_-_- ___ • yÁ Ano 3/N? 27 Rio de Janeiro, agost o de 1980 - Cr$ 40 ,00 da esquina maomde18aaos 1 JJILL ' ' ; çkC • ':: - :vs - -. menos rri irir (O papa vazelina, troca-troca, SBPC, partidos políticos, Frei Betto, ativismo, violação de homossexuais: tudo no mesmo saco de gatos) .1 ,j'}j •;- - rã 0 1 513PC. Stas$ar torev 1n Cr,^ N1UCCILÍ ** APPAD i da parada da di trs,cl.idt Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott MI GRU PODIGN IDADE 1 OPINIÃO 1 Quem liga pro meio ambiente?, Dia 5 de junho comemorou-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. Ironicamente e talvez proposilaimente nesse dia, o nosso simpático Presidente assinou decreto de desapropriação de uma área entre Iguape e Peruibe, no Estado de São Paulo, área essa, além do mais. considerada reserva ecológica. Ali serão instaladas duas usinas nucleares. Desaforo proposital. desprezo pelo mo ambiente em beneficio dos interesses tecnocratas (ou altas corrupções?), ou apas descaso pelos destinos do pais e do povo? A verdade e que, apesar de toda a reação popular expressa em manifestos, passeatas, criticas nos meios de comunicação, apelos dos especialistas e das entidades ecológicas, o poder constituido mais uma vez mostrou que só faz o que quer: a instalação foi decidida sem qualquer consulta prévia ao povo. Pronto! Estamos conversados! Ai Brasil... Como disse a Norma Bengeil: "Abertura? Só se foi- das pernas!" - no caso as nossas, povo brasileiro, que mais uma vez terá que pagar e bem caro pelo que não deseja e que é comprovadamente desnecessário. Além disso, toma recriminação deles: falta de patriotismo. subversão, atraso cultural, etc. Porque eles, os tecnocratas da Nuclebrás, é que sabem o que é melhor para nós. Chegam ao absurdo de acusar os que se opõem aos seus planos, de estar organizando um compló internacional com a Rússia e os Estados Unidos (sio. asorganizações sionistas etc., etc.. a fim de impedir o Brasil de colocar-se lado a lado com as nações tencnicamente evoluídas. Pode tamanha hurrior!? Estranhamos que o Sr. Said Farah. que é o comunicador oficial do Governo, tenha deixado escorregar uma tal chanchada. tão ingênua quanto dedaradamcnte fascista. Enfim, o "abacaxi" nuclear agora é nosso!... Em breve estará tanto nas nossas mãos como nos nossos pés, nas nossas cabeças, no ar que respiraremos, nos alimentos que comeremos, na água que beberemos e... prontinho para explodir, boonsl e acabar com a pouca alegria que ainda nos resta nesta época de penúrias. Os ecólogos e preservadores da natureza levantaram mais uma vez o seu apelo (inútil): as populações do Iguape e Peruibe. apavoradas com ti terror permanente que representarão as usinas, organizaram manifestações de protesto e rezaram missas pelas futuras vítimas das radiações nucleares. No dia 5 de junho deslocou-se para Cubatão um grande contingente de pessoas a fim de apoiar. os protestos do povo daquela cidade, considerada a mais poluída do mundo, Em São Paulo. os grupos ecológicos, conjuntamente, fizeram uma reunião na Praça da Se, e, como parte do protesto geral o grupo "Arte e Pensamento Etrslogico" realizou uma dramática passeata pela Avenida Paulista com os atores do Grupo Teatral "Abre mais que agora vai", maquilados de vítimas da explosão nuclear ou usando máscaras contra radiações e puxando até debaixo da marquise do Museu de Ai-te um andor com Mão e Eva incinerados. São Paulo teve então nestes dias passados o que se pode chamar de um período bastante agitado: a partir do dia 26 de maio o delegado Richetit começou a sua sádica "hlitz" dita moralista, caçando prostitutas e travestis. Na semana seguinte Iguape e Peruibe ganharam por decreto as suas usinas nucleares. Se não tivesse sido um período mais longo que uma semana e a tal caçada humana não tivesse continuado, poderíamos até pensar numa nova "Semana da Pátria" na qual dois dos grandes interesses do país estariam sendo defendidos: a boa moral dos privilegiados e os grandes interesses econômicos. Protestar? Claro que podemos. sim! Afinal, estamos num regime democrático que nos garante (finalmente) esse direito, através de uma abertura pol)tic.a, depois do longo período de obscurantismo. Mas será que adianta clamar para o povo, que certamente já está conscientizado de tudo, quando a ação neste nosso país depende somente da vontade de alguns? (Darcy Penteado) Recadinlw a Alice Querida Alice, aqui no Pais das Maravilhas as coisas vão indo sem muita graça. Como eu já te disse antes, nota-se uma crise de miitância no ar. E isso eu acho saudável, apesar de não ser facal. Nestes dois anos de discussão, parece que aprendemos a andar em círculos. Afinal, que diabo f17emos se hoje não temos nem tempo (ou piquei para trepar? Não se trataria de um fracasso em criar instrumentos novos para analise e discussão? O máximo que estamos conseguindo é passar a limpo o que tínhamos de politicamente mais original, provocador e rebelde, pois acabamos rezando de acordo com os manuais e catecismos da moda. Essas circunstâncias podiam ser constatadas naquele infeliz congresso da UNE para bichas e lésbicas, onde as pessoas inclusive teimavam em se chamar pudicamente de "companheiras". Desconfio que, em tudo e por tudo, acabamos imitando os meninos do movimento estudantil. Houve um bruto esforço e afinal a montanha pariu um rato. Viemos cair no mesmo equivcsxi de nossas esquerdas puritanas: estamos extravasando nosso desejo num ativismo político desvairado e nos tornando imunes à sensualidade que outrora foi importante em nossas vidas. Nas mesmas reuniões onde se discutia o prazer. já não há reflexões ousadas. Agora vêem-se enfadonhos rostos de militantes cuja rigidez muscular reflete suas propostas politicas. Vivemos no mesmo universo religioso, só que agora feito de dicotomias do tipo "revolucionário! reacionário", "hetero humo", "machista' feminista" - enfim, variações em torno da idéia "bandizio/ mocinho". Pensando que estamos sendo democráticos, exigimos votação para tudo - ou seja, nossas relações so se tornam através de mecanismos consagrados do poder. Acho que a tão malfadada militincia, que já estropiou nossas melhores cabeças de esquerda, está diluindo lambem aquilo tudo que nós teríamos de mais pesscsil, especifico e original a propor. ri Isso me dá um pouco de pânico, sabe Alice, porque eu não gostaria de substituir um rei por outro. Acho que dentro dos grupos há uma forte tendência de se criarem algo assim como ciuhtnhos e igrejinhas. Exiamente igual àquilo que criticavamos. Pior: tenho essa sensação lambem ao ler este jornal, onde certos artigos parecem ter sido escritos por guerreiros de uma nova causa. falando uma linguagem demaiiogica, superficial e edificante. Noto que. ,itualmenie, é comum entre nós um tom ufanista ou atitudes revanchistas que são sem dúvida um sentimento de culpa ao inverso. Ou então lembram a insegurança do adolescente que fala obsessivamente de sua beleza, mas na realidade se acha feio e quer, a qualquer custo. cosi- IM L1LA1Ao1 Conselho Editorial Mão Acosta, Aeinaldo Silva, Aatônlo bry,6*ouio, aó. Marqu., Darcy Peado, Frandaoo 06v119 ltiaiIn1, G.ap.rino Demais, Jesu-Qaude Busrdai, João SIv&b Trkaa e Paiut Fry. Correspondentes - Fran Taeabe (San Coordenador de Edição - Ag. sido SII• va Colaboradores - Lula Mkt, Rubem Coalaie, Antônio Cano. Moreira João Carlos Rodelguns Luiz Carlos Lacerda, Dolor. Rodriguez, Agildo Gunsrâ., Fr.dar1 Jerge Daataa, Alente Ph.ko, Paulo Srg10 P.aiaaa, José Fernando Basto., Hanrlquc Nelva, Mb'na (dch, João Canielro e tóeles Rodriguas (Rio); k.ó Pires Barroso Filho e Carlos Alberto Miranda (Nhersll); Manha, Edw.rd M.cRae (Cnsnphaa); Glaacv Matoso, Culeo C&l, EtidD Momaço, Paulo Página 2 Augusto, Ciithla Senti, Fanai Fuknsblnia (São Paulo); Eduardo Destas (Campo Grande); Amiton de Almdda (Vitória); Zé Albuquerque (Recite); Luiz Moi (Salvador); Gilmar de Carvalho (Fortaleza); Alexandre Ribondl (Brasília); Pol5o Alva (João Pitama); Franklln Jorge (Natal); Paulo Ha Filho (Ponto Alegre); Wil.on Bueso (Curitflia); Edv.1&s Rlbdro de Oliveira (lacarei). Francoo); Alies Yotang (Nova York); Arando de Fulvia (Barcelona); Ricardo e H.ctor (Madri); Addy (Londres); Cel.*o (Pari); Amou Lckbt e Nator Pakal (Frack1-). Revisão - Dolores Rodniguez e (Àady. Paniplona. LAMPIÃO da Esquina é ama publicação da Esquina - Editora de [iwos, Jornal. e Revista. Lida.; CGC (MF) 2952985610001 30 huIçio Estadual, 81.547.113. Endereço - Rua Joaqidai Silva, II. .1707. Lapa, Rio Coerespoodâidat Caixa Postal M41031, CEP 20400, Santa Tua, Rio de Janeiro-Ri. Cosupoato e Impresso na GréBca e Editora bical do Coinmardo S.A. - Rua do Li. ramato, 189149 andar, Rio. Fotos - Citla Marts, líam Reli (Rio); QI. 'Cmlii e Fanny, Dbeaa Sdultnl (São Paulo); Dimitri Ribeiro (Rio) e Arquivo. Distribuição - Rio: Dbtnlbiddora de Jornais e Revistas Presbleste Lida. (Rua da Constituição. 65/67); São Paulo Paiélno Cai. canbeti; Saivadori Livraria Lkeranie; Florianópolis e Joinville: Amo, Represesuiaç5es e Arte - António Carlos Moreira Ante Final), Nelson Souto (Diagnainaçio), Mam de Sé (capa), Pmtrklo Bluo, Manar e LM. Oistribulçio de Livros e Palódkes Lida.; Belo Horizonte: I)ia*ribuldos'a Rkdo de Jornais e Revistas lida.; Porto Alegre: Coojtw. APPAD ir da parada da diversidade vencer a si mesmo ao convencer os outros. De repente o homossexual é aquele que faz tudo certo e caminha aceleradamente para a vhó,la. Nossa linguagem comporta ideias como: "ganhamos mais um ponto". "passaremos ao ataque". "combateremos quem quer nos esmagar" Coisa de santa causa, outra ver. Alice! Ou então, sofremos de um generalizado obaoba político. onde o ato de desmunhecar virou coisa de manual: para uns, desmunhecar é "revolucionário"; para outros, e 'decadente". Já existe então a bicha "verdadeira", o viado 'mais autêntico", Provavelmente, não demora muito estaremos aguardando a vinda de um Messias Bicha (ou Lésbica(. E não mudamos em nada o sectarismo que ainda condena nossas práticas sexuais alternativas. Apenas viramos o lado da moeda. Pois até mesmo nossas paqueras se tornaram estereótipas: paquerar já é uma forma de militânda. Trepar é mais sagrado ainda. E por isso, nossa vida sexual anda uma merda. Porque de repente estamos nos comportando com a mesma te velha) maneira doutrinária, respeitando o mesmo principio de autoridade. Mossa boca anda cheia de palavras como "puro". "verdadeiro", "natural" - as mesmas qualificações £ltiC os psicólogos usam para nos condenar. Enfim. Alice, acho que alguma coisa está precisando ser checada nessa famigerada "militància" - dentro do Lampião e dos grupos organizados. Acho que esquecemos de estender a critica à nossa própria ação e nossos vtuos de gueto. Definitivamente, não unos melhores ou ideologicamente mais corretor por sermos homossexuais. Se a vivência da marginalidade à qual nos obrigam acaba nos fornecendo elementos novos de crítica, isso depende do sentido que imprimimos à nossa ação. Não existe varinha magica que nos mude - seja ela heteroou homo. Ê como a maconha ou o feminismo. Conheço gente olinsa e gente péssima que fuma maconha. Conheça também feministas autoritárias e machistas. Em resumo. Alice. acho que não podemos nos dar ao luxo, neste 1980, de achar que o paraíso ainda existe e que nós somos os anjosguardiões de suas portas. Existem sim os guetos. Mas não se iluda: o Richetti mostrou que este não é exatamente o pais da Bicha (ou Lesbidai Maravilha. Olhe querida, um beijo. responda logo, viu? E não esqueça de me contar do seu último show no Bifão. iloão Stieio Tresisan) LAMPIÃO. Assine agora. nai; Curitiba: 1. Chignosie e Qi. Ltd..; Vitória: Angelo V. inalo; Campos: R.S. San. tesa; Jundial: Distribuidora Paulista de Jornal, e Revistas Lida.; Campinas: Distnl. buldora Campiselra de Joniali e Revistai Ii. da.; e DlstrD,uldona Conutajizo de Jornal, e Revistas Uda.; Ribeirão Preto - Centro Acadêmico de Fllo.oBa; Juiz de Fora: &ode Canino & as, Lida.; Braslia: Anazir 'kba da Silva, Goiânia: Agrkio Braga & Qa. Li. da.; Recife: Diplomata Distribuidora de Publicaçã. e Repreamitaçoes Lida.; Fortaleza; Orbras - Organização &'aulldna de Saviço. Lida. Aubiatura Anual (doze nnaos)t Cr$ 450,00. Nnaos atrasadiosi Cr$ 50,00. Aaabi 5* uru para o Ezienlori IJSI 25,00. As matérias não solicitadas e não publicadas não serão devolvidas. As tnat&ias assitiadas publicadas neste jornal são de exg responsabiidade dos seus autores. LAMPIÃO da' Esquina Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE ATIVISMO Brasilia: carta aberta ao Sr. arol Woítiila Foi quase com um grilo de vitória que um dos integrantes do Beijo Livre ficou sabendo, por telelone, que a carta aberta ao Papa havia chegado ate pertinho de João Paulo II e, ao que udo indicava, chamado a sua atenção. Afinal, ninguem merecia mais ler aquela carta que seu proprto destinatário. S C íETA(O Do PAPA P4GIDE flOMO5SFXU! 1,5FA1ÇA El 5f HA MM 5ACI5TiA Nesta carta, escrita a várias mão,, os rapazes do Beijo Livre falavam principalmente das declarações do Papa em Chicago, quando ele acusou o homossexualismo de ser "moralmente errado" - coisa, aliás, que sempre me levou a pensar na curiosa coincidência entre a moral de Cristo e a da classe dominante. Está lã. escrito: "Reconhecemos a ampla influência da Igreja no Mundo Cristão. Dessa forma, acreditamos que as declarações de S.S. justificam a repressão, a violência e o preconceito de que são vitimas os h omossexuais." Prosa disto é que muita gente que foi presa quando passava as férias em São Paulo soltou para Brasilia com a impressão de que estavam limpando a cidade para receber o Papa. O trabalho de divulgação da carta começou nas redações dos Jornais. Em seguida, munidos de traduções para o francês e o inglês, os rapazes do Beijo Livre foram bater às porias do monstruoso e babilônico (entro de Convenções onde estavam reunidos todos os jornalistas encarregados de cobrir a visita do representante da Igreja, e por lá se espalharam, empenhados que estavam cm dizer ao mundo o que achavam da opinião do Papa. Ao receber acarta, o jornalista do Washington Posi mal conseguiu disfarçar a vontade de rir - o que lhe garantiu olhares furiosos. As duas jovens senhoras representantes da imprensa chilena não sabiam se rasgavam ou escondiam o papel. Já um jornal ista da Espanha, que teimava em se comunicar em italiano, mostrou milito interesse e leu a carta várias vezes enquanto tomava um sal de fruta no balcão do res1 aurati te. As quatro mil cópias xerocadas foram distribuidas pelas caixas de correspondências dos edificios da cidade e nos pára-brisas dos carros. Assim, muita gente deve ter IidoqueoBeijo Livre acredita que "o Homem tem o direito inalienável de ser livre, de que o principio biblico do livre arhitrio deve ser exercido pelos seres humanos com Plena responsabilidade e de que a opção homossexual é tão bela e digna quanto qualquer outra". Feito tudo isto, faltava o mais importante. Tom, um seminarista disposto a pôr em xeque a infalibilidade papal e amigo do Beijo Livre, ofereceu-se para entregar a carta quando estivesse na fila dos 220 diáconos cumprimentados pelo Papa. Do lado de fora, esperávamos impacientes. sKo! i-j E chegou o momento. Tom chamou o Papa, que se v oltou, O Monsenhor Paul Marcinkuç, presidente do Banco do V aticano e chefe de segurança, conseguiu chegar antes e apanhou a carta, abriu-a e respondeu à curiosidade do Papa, que queria saber o que estava se passando, com um " não estou entendendo nada," dito em italiano com seu sotaque americano. João Paulo II voltou, abençoou Tom e retirou-se para a sacristia acompanhado de Marcinkus, que ainda Linha a carta aberta em sua mão. É importante deixar bem claro que a correspondência foi interceptada pela segurança. E, baseado neste exemplo, indagar quantas outras cartas de Protesto e denáncia não chegaram ao Papa e das quais ninguém ficou sabendo. Se o destinatário leu o documento, acho dificil que a gente fique sabendo, já que, até agora, ele não se pronunciou a respeito e deu a impressão de que tudo correu exatamente como havia sido planejado nos corredores do V aticano. Mas se, com um número pequeno de integrantes, o Beijo Livre conseguiu furar o cerco e chegar bem perto da batina da autoridade, o que não seria possível fazer se os grupos homossexuais pudessem contar com muito mais gente disposta a pôr ventilador na farofa dos donos da moral? Dá até água na boca, só de pensar. (Alexandre Ribondi) A matéria de Alexandre Ribondi Já eslava pronta quando nos chegou à redação, vindo de Goiáni, um depoimento do seminarista a quem coube a tarefa de entregar a carta a Karol WoJt. Ele conte tudo em detalhes, e fala a seguir da repercussão do seu gesto junto aos seus colegas seminaristas. A gente não podia deixar passar. sem um comentário, a coragem de Tons, o rapaz Que ousou enfrentar a fúria do onipotente Mar. einkus, Boa, Tom; você é dos nossos. Leiam abaixo o seu depoimento. Fico pensando no relato das últimas ações de caráter repressivo originadas pelo meu ato inconseqüente." Sem nenhum sentimento de heroísmoou gloriosa fama, reconheço que não errei. E se agora alguns se reúnem, à moda da Santa Inquisição medieval, procurando um meio requintado e 'santo" de me punir, nada mais consigo sentir que nojo. Nem a famosa "piedade cristã" pode me fazer sentir outra coisa. Aquela sen. sao de asco que nos assalta ao descobrirmos um naco putrefato, fétido e nojento de carne podre num armário, me invade. O que fiz é-lhes imperdoável. Eu tivera a ousadia de fazer chegar, ás mãos de S. Santidade, uma carta reivindicando uma atitude mais condizente com as palavras e o cargo que ocupa o Sr. Xarol Woitjila. Recordo mitibas peripicias para conseguir tão libertário aio. Na séspera havia procurado aIiima discreta máquina de escrever, e nela passei a impo a carta verografada que eu havia recebido e mc' comprometido a entregar em mãos ao Beatissirno Padre. De posse cicia, viajei com os setilinaristas para Brasilia e lá na Catedral, onde o clero recebia o Papa, esperei e estudei o meio de coni actar S. S. A Catedral estava repleta de "agentes de s&'guran t ,' e o único meio seria tentar quando, apôs a entrevista, o Papa se dirigisse à sacristia. Fiquei por lá, junto a dois padres idosos, ás mãos dos quais fiz chegar uma cópia da carta. Para meu espanto eles 'a leram e não se assustaram. Pareceu-me que, lá no fundo, eles api-ovaram, A passagem do Papa e sua comitiva chamei a mim a atenção do Sumo Pontífice e estendi a carta. E-li' tc'iltoo apanhá-la, no que foi impedido Pelo famigerado Mons. Marcinkus. Dei a ele a cai ia e lhe pedi que a entregasse ao Papa. Fie, meio assustado curioso e furioso, me gritou do alio dos seus dois metros de altura: "Non capice niente. Paria italiani." Ao que lhe gritei, numa mistura de italiano, espanhol e português; "Per favore, entregue a la Su Santidad". Não sei se ele entendeu, mas virou-se para o Papa e mostrou-lhe a carta, disse-lhe algo, guardou-a na batina e prosseguiu-se o cortejo. Pude ainda perceber que o Papa me sorriu e acenou benevolente. Durante a missa na Praça dos Três Poderes, tentei falar ao referido Monsenhor, que teimou em responder-me em italiano. E eu, nervoso que estas-a, nem me lembrei de lhe falar em inglês, lingua que ele fala fluentemente, pois é meio norte-americano Soube depois, estra-oficialmente, que Sua Santidade não responderia ao documento, por considerá-lo irrelevante, e por não querer dar um realce indevido ao problema. t.ma revista publicou tudo, com o meu assentimento, e as repressões não tardaram a surgir. Fiquei assustado, mas não surpreso, pois nuncaignorei as corisequtências de tal fato. Só espero que as pressões sejam suportáveis. Aos corajosos que me apoiaram, agrade. Aqueles que apresentaram voas veladas, modestas e cautelosas defesas rnuuilias condolências (a mediocridade e a morte se parecem). E: aos que tentam, do fundo do seu egoi.smo, me reprimir eni nome da santa, caduca e inquisidora moral pseudocristã, eu respondo: Fiz, Tasj e farei. Não por insãnia, irresponsabilidade ou glória. É porque creio nesta causa e porque, legitimamente, eu -a creio minha. (Tom) LAMPIÃO Assine agora, Quando a política é uma festa Sem maiores pretensões que chegar mais perto dos rapazes e moças que iluminam as noitadas gass de Brasilia, o Beijo Livre preparou uma festa e um shciw que foram apresentados dia II de julho, na New Aquarlus Gay Oub, Mas um Jornal, no dia, anunciou em primeira página que o grupo homossexual da cidade Iria promover um espetáculo que discutia o homossexualismo e P rovocou uma pequena enchente de fregueses nada habitués que queriam ver que coisa era esta. Foi por isso mesmo que Humberto Pedrancmi. o diretor do show de apenas 20 minutos, comentou no camarim, enquanto se maquiava, um pouco nervoso "E a gente que fez tudo sem tinia pretensão.,,". Mas valeu a pena e pode-se dizer que o Beijo Livre e a Aquarlus conseguiram sucesso: afinal, eram quase quatrocentas pessoas que se apinhavam, de pé, sufocadas pelo calor e que tentavam fizer silêncio, à uma hora da manhã, em meio a uma platéia que, àquela .1. lura, já eslava, no minimo, de pilequinho. A idéia do show nasceu de um problema básico do Beijo Livre: falta de ente. A maioria das pessoas aqui em Brasília ficam ssitfe1las em saber que existe um grupo disposto a "resolver tanto problema", mas quase ninguém parece atinar que, sem parilcipantes, o Beijo livre cone o sério risco de ficar chovendo no molhado, Por isto, decidiu-se que estava na hora do grupo Ir à montanha e tentar fazer seu sermãozlnho. esperando ser bastante convincente. Vai dai que os rapazes que primeiro subiram ao palco não portavam nenhuma roupa colorida, nem jogavam fantasia sobre a platéia. Fizeram apenas ler um texto onde convocavam todos os participantes e denunciavam a repressão paulista, temendo que ela se repetisse aqui - repressão, aliás, que já se pode detectar limidamente nos pontos mais badalados da cidade. Em seguida, um outro participante fez um empolgante discurso de Improviso falando das vantagens do trabalho unido. Os quatro rapazes do espetáculo subiram ao palco cantando "Cantoras do Rádio" - o que trazia um certo sabor de novidade porque, pelo menos aqui em Brasília, foi a primeira vez q(le travestis cantaram e não apenas dublaram Incompreensíveis canções em Inglês. Um velho LAMPIÃO de Esquina APPAD i cl a diversidade d p ar ada travesti lamentou, no pico, que, de produto de luxo, tivesse passado a tu-lIgo descartável, desses que a gente usa e joga fui-a e declarou, de alta voz, que — fazia questáo de morrer caída na vida". O terceiro quadro mostrou dois rapazes nus tentando fizer amor com as mãos amarradas e as bocas lacradas com esparadrapo. O show terminou com um poema escrito a partir de Civafts. Para o Beüo [.Ivi-e, o resultado não poderia ser melhor: discutiu o homossexualismo em um local onde as bichas e lésbicas se reúnem, invariavelmente, apenas para se divertir e fugir dos mevitáveis olhares reprovadores da Policia e provou Que a finalidade de um grupo homossexual não é exatamente promover uma infindável discussão sobre quem tem mais razão ao reivindica, seus direitos, o que muito se me assemelha ás cotidianas porradas trocadas pelos politicos do Congresso Nacional. Além disso, as questões tratadas foram bastante objetivas e diziam respeito a todo mundo que tem consciência de que a repressão distribui cacetadas a torto e a direito - e, para nos, discutir estas questões é o que realmente importa. (Alexandre Ribond), Página 3 Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE 1ATIVISMO 1 Uma cachoeira de grupos gueis ti IAMI'IÃ() recebeu, durante o m& de julho. cerca de uma dúzia de textos produzidas pela, vários grupo% de atii.mo homo.seuaI, já tistente% ou em formação. A maioria desses lexI(N di, respeito a 11 11e. I Õcs perIincnles apenas ao grupo que a prrxlu,iu - plataforma, métodos de 4ç1J, programa de esentos futuros, análises do que já foi Feito, etc.. 1 odo este material. transformado em laudas de 30 linhas de 72 loques, daria umas quatro páginas de IAMF9ÁO, o que, somado às páginas de atisismo que já publicamos nesta ediçáo, dona mais de um terço do jornal. Apisida dos debato, no Dia deLuta naFACHA. 28 de junho, um dia de Luta Na noite da 28 de banho de 1969, em Grean EUA, cerca da 400 laezui Miram Ii lua, pata detanderem'se da onda de violenda e repressão poHdal que vinham ocorrendo. Ireqüentamanie, nos bares g.s do local. O protesto de uma aina leve origem ao batida ocorrida a. noite interior, quando a polida lo. vadia violentamente o Stonewall Lua Bar, prendando 13 fregueses. (eanw1cb %illage virou uma praça de guerra coei bldia, e lésbicas brigando ira o, poildali que tentaram, em vão, repelir a operação. Desde então, iodo, o. .nol,no tImo sábado do mia de Jiaiho é comemorado o Dia Lotaro adosssl do Orgulho Ga y , conto prova da força do Movimento Homossexual em iodo o Mando. Os primórdir' da luta homossexual no Brasil «incidem com a tentativa de organização de uma imprensa Guei. Já na década de 1960, era criada a ABIG - Associação Brasileira de Imprensa Gay, presidida por Anuir Farah e o travesti Tbula Morgani, com reuniões na redação de "0 Estábulo' (Niterói) e com representantes da imprensa "entendida" ou ' rosa choque" axno gostavam de se rotular jornais como SNOB. (de Agildo Guimarães, Rio), La lemme, Subúrbio ã Noite, Le Vic, Le Sophistique (de Campos), 0 Felino, Mito, Darling e os jornais de Salvador: La Saisou (Jay Society. Foto. e Fofocas (o primeiro jornal a cores segundo seu editor Waldeitoo Di Paula - vide Lampião a? 4), Baby, Zéfiro, Little Darhng (posteriormente Tiraninho) e Elo, todos mimeografadas e distribuídos de mão em mão nos pontos de encontros homossexuais. Havia também colunas Guó,s que veiculavam notas sociais e amenidades: "Tudo Entendido" (de Fernando Moreno, na Gazeta de Noticias, Rio), "Gu&' (de Gloritiha Pereira, no Correio de Copacabana. Rio) e "Coluna do Meio" (de Celso Cun, na Última Hora, de SP). Entre os super-nanico. destacavam-se: Gente Gay e Gay Presa (Rio ambos xerocados, 100 exemplares), Aliança dos Ativistas Homossexuais (RJ), e. por fim, Entender, o primeiro jornal impresso Guei, com tiragem inicial de 10 mil exemplares (distribuição mão-a-mão) e Jornal do Gay (depois Gay News), estes últimos vendidos em bancas de jornais (SP). Só em 1978, no entanto, se consolidaria em definitivo e de modo irreverilvel, a tentativa de organização Guri, com a fundação do jornal Lampião por homossexuais cariocas e paulistas. O saiU .qualitativo era evidente: superava-se as meras amenidades para urna discussão séria da repressão ao homossexualismo, que passava a ser visto como uma das muitas "minorias" oprimidas. Essa mudança de enfoque trouxe uma cotiseqüãncia imediata: a formação doa primeiros movimentos organizados homossexuais no Brasil. Dois anos depois, o avanço já era tão grande que em abril de 1980, foi penilvei a realização do 1 Encontro de Grupo. Homossexuais Organizados (u SP), onde foi tratada a comemoração da data de 28 de junho, significativa para o' 'gay power" americano, por ter sido travada a célebre batalha entre policiais e homossexuais de New York. 028 DE JUNHO aborto, as livres opções corporais. Seguiu-se a leitura de um dossiê, enumerando casas de violência IXX todos estes anos, e depoinientos de algumas vitimas diretas, fazendo-se um minuto de silêncio por todos os homossexuais (incluindo-se os negros e as mulheres), sacrificados pela repressão. Após. João Luís. do Auê/Rio, falou da necessidade da organização dos grupos oprimido., entoo uma resposta A repressão, enfatizando que cx movimentos organizados têm asno tarda detectar e denunciar esses agentes repressores para combatê-los. Como a luta homossexual não visa a tomada do poder, a política tradicional tende a sê-la como luta menor, se esquecendo de que é necessária a mudança dos padrões culturais que oprimem a todos, para que haja a transformação da atual sociedade numa outra que respeite o indivíduo e suas opções (qualquer que seja de), na luta pelo bem-estar coletivo. Foi aberto o debate que durou quase quatro horasZt Maria (do Auê) defendeu a importância das alianças entre os diversos grupos oprimidos para fortalecimento da luta comum e tentativa de se fazer um discurso politico, onde o ideal liberCOMEMORAÇÃO tário possa contribuir para a mudança do discurso tradicional. Otávio (do Somos/Ri) fez urna in Só os grupo. do Rio - AUÊ e SOMOS teressante distinção entre aliança e incorporação comemoraram, pela primeira vez no Pais, o28 de esta seria negativa, mas nada impediria que os junho, com um debate na Faculdade Hélio Alon- movimentos se aliassem para lutas paralelas, desia. Na mesa, contou-se com a presença do Co- - de que respeitadas as especificidades de cada um. letivo de Mulheres, através de Ligia Rodrigues, e Marcelo (Auê) lembrou que a luta não deveria do Movimento Negro Unificado, oixn Lélia Gon- ser colocada em termos de defesa do. "direitos zalca presidindo o. trabalhos. doe homossexuais", já que a distinção entre estes Para que houvesse a comemoração, a comis- e os heterossexuais é irreal e meramente iden são paritána teve que vencer inúmeros obstálógica. Deveríamos lutar, isto sim, por uma culos, sendo o mais grave de todos o local, pois sociedade onde cada indivíduo pudesse exercer nenhum estava disponível quando se inteiravam seu direito à livre opção sexual, fosse à maneira do motivo do debate.,. A própria FACHA, hcsnoou hetes'o. Assim compreendida, esta briga através do seu diretor, na véspera do dia 28, trandeixaria de ser só de uma minoriasezual, passansferiu a cerimônia das 17 para às 19 horas, do, também, a ser de todo aquele que desejar um acarretando uma série de transtornos, inclusive mundo mais democrático e humano. Paulo (do com as filipetas e os convites. jornal Em Tempo), lembrou que é justa a aliança Embora esta mudança de horário tenha como os operário., pois eles também são um grupo desanimado muita gente que não esperou mais oprimido. O único problema, nego, é que ainda duas horas (mesmo que na portaria estivessem há lideres sindicais, como o Lula, negando a ais meninas e meninos animados entretendo os téricia de homossexuais na classe operária. Assim votados pontuais. .). cerca de cem pessoas esfica difícil, ad?... tiveram presentes ao debate, com o calor de sua A fala de Ugla Rodrigues (Coletivo) foi um presença e participação. dos pontos altos da noite: a mulher e o homos De inicio, Lélia abriu a solenidade, lembransexual têm uma luta multo próxima, na medida do o significado da data, e, a seguir João Car- em que ambos possuem o direito de uma se- neiro, do Somta/IU, dissertou sobre a repressão zualidade que não leva necessariamente à re aos homossexuais, denunciando uma série de arprodução, não bastando, para eles, portanto, bitrariedades (da policia, doa tribunais, lo amuma mudança na estrutura sócio-econômica, se biente de trabalho, da Igreja, da escota, da fa- não for mudada também a ideologia desta somília, dos tratamentos psicológicos e testes ciedade. Lélia Gonzalez encerrou a comemopsicotécnicos, dos meios de comunicação, dos ração, frisando a importância da articulação des partidos pollticoa), enfim, de todo um sistema tes movimentos com interesses comuns, através machista, mancomunado para manejar a mo- -da efetivação de uma aliança sólida, contra o disralidade conforme seus interesses mais imediatos, curso de escamoteação imposto por uma cultura e acirrando a violência em determinadas épocas, capitalista ocidental, sendo imprescindíveis a como agora, por exemplo, com as "operações mobilização conjunta e a organização para fazer limpezas", pela vinda do Papa, de um papa que frente a um poder machista. branquista, anticondena expressamente o homossexualismo, o sexualista e outros" istas" mais... (141a Mlccoiã.) A primara noticia da comemoração de uma data homossexual no Brasil foi em 77, quando Paulo Augusto, no Rio. convocou para o dia 4 de julho manifestação no Passeio Público, onde Iodos fossem de verde - a cor' gay" interna- cional. Meses depois, nos jardins do Museu de Arte Moderna, marcou outro encontro, também fracassado, pois lá só apareceram policiais. Só no 1 EGHO, abril/80, cogitou-se de uma manifestação do gênero, alterando-se a deno- minação de "Dia Internacional do Orgulho Gay", para "Dia Nacional da Luta Homossexual", em- bora permanecessem muitas criticas quanto ao fito de a data ter pouca ou nenhuma significação na história brasileira. No entanto, a maioria dos participantes decidiu mantê-la e deixar a critério de cada grupo uma eventual comemoração. Vale registrar a proposta de Darcy Penteado, para que a data nacional da luta homossexual fosse a de? de setembro, deliciosa ironia anarquista que, no entanto, não vingou. talvez por sua sutilez,a não ter sido percebida no calor da discussão. Pagina 4 AiPPAD 3 r da l);lraliI da (lls'rsI(l.I(lt' lnIeli,mente não é possível, para fie., transflirniar o IÀ,%1PIA(l numa espécie de "diário oficial'' do alisismi, guei. l4eçonhcçemos a treina impirtãnciu do Formação de grupos de hoine.sesuais, saudamos o', nste. grupos (,rupii de Atuação 1 1 oniossesual 1 Recifel. noi' também 1J0A0 Pessoa) - surgidie., ineenhismno" aqueles que desejam criar outro, grupos tI.m t,iiàni, ( , 1s lut'tn estiver interessado, escreva para a Coisa Postal 10,047, naquela cidade, aos cuidados de 1 oml, mas precisamos manter, a qualquer preço, o tom jornolislk'odo l.Av1 PIÃO. 1-. graças a ele que o jornal atinge milhares de leitores, os quais, quase sempre, só através deste jornal é que toma conhecimento da existência e do atividade do'. grupos. Foi - mais uma sei - levandoem conta esse critério jornalístico, que selecionamos o material a ser publicado nas páginas de ali', ismo. já que não podemos seguir o sugestão de ieié (Grupo LAMPIÃO de. Outra Coisa, sl'), para quem o LAMPIAO veria aumentar o número de páginas, de modo a poder publicar todo o que no, mandam (seria Mimo, querido ktê, mas é insiável: haja grana ... ). A comemoração do 28 de junho e a 'mnvasão" da reunião da 'iBP( pelos grupos 'tornos Ri e Aué:RJ, por exemplo, o assunto, aqui, é visto) de sário prismas. A entrega da (iria do Grupo Beijo Ii'.rc (Brasilia) ao Papa, e a festa que o mesmo grupo organi,ou na capital federal, urna maneira certamente original de arrebanhar novo', adeptos. 1)us lestos produzidos, selecionamos dois com atualidade jornalística inegável: o do Grupo Ga y da Bahia denunciando a ligação doa clenlislas da SBPC com tu donos do poder, e o das mulheres do Grupo Lésbico-Feminista sobre os novos rumos que elas decidiram dar ao seu trabalho. Havia, ainda, textos do Beijo Livre, da Fração Gav da Convergência Socialista, (de novo) do Grupo Gay da Bahia, do Grupo de Atuação Homossexual (Recife), do libertos (Guarulhos), do Outra Coisa, e do Terceiro Ato(BeloHorizomite). Esperamos que essa explicação baste para que não haja queixas do tipo feito pelo Beijo Livre, para quem LAMPIÀO não lhe estada dando a devida importância, ou acusações (neste caso, fritas especificamente a mim) de que nona neutralidade, no rompimento entre os grupo. Outra Coisa e Fração Gay da Convergência, seria uma neutralidade "a favor" deste último. Sabemos que será sempre difícil atingir, neste campo, um equilíbrio-, além de nosso critério ser apenas mais um critério (embora aquele que achamos ser o melhor para a existência e a continuação do jornal como uma coisa viva), há outros problemas: é multo difícil para nós, por exemplo, manter em dia a correspondência com os grupos, , que fazer ojornal nos toma iodo o tempo. Assim, de vez em quando acontece que não respondemos com a devida presteza a uma consulta, ou não nos pronunciamos sobre um assunto que. do ponto de vista do grupo que o levantou, é de Iranscendental Importância. Assim, pediulamos aos grupos que levassem em conta, sempre que pensassem na posição deste jornal em relação a (iodos) eles, o fato de que foi IAMPIÀO quem teve a Idéia de reuni-los num encontro nacional. Um encontro que, se a curto prazo rendeu o choro e o ranger de dentes das deserções e das rachas, a longo prazo funcionará corno uma espécie de divisor de águas: a partir do l F:Buo já não é possível brincar de alivisino, nem se pode levar a sério este ativismo sem se chegar a uma conclusão sobre que caminho ele deve seguir. E mais um pedido aos grupos: não deixem de nos mandar seus les(os; eles têm um lugar da maior importância no arquivo da nossa Memória Guel. (Acuina1do:ka) LAMPIÃO da Esquina Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott V Í5 w GRU PODIGN IDADE IATIVISMOI r Homossexuais invadem SBPC "Homc*sezua1jsrno, Repressão eCiemna,' foi tema do Debate que os grupos SOMOS e AU, do Rio de Janeiro, organizaram paralelamente aos trabalhos da 32! Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para O Progresso da Ciência - SBPC. no último dia 10 de julho, no hall do nc noandar da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ. A idéia de se criar um espaço para a discussão e debate sobre a homossexualidade, de uma forma acadêmica e científica, surgiu a partir da realização do 1 EGMO quando. após urna série de discussões, ficou patente que a ciência em quase todas as suas expressões, é uma das maiores responsveis pela alual marginalização e opressão sofrida pelos homossexuais. Basta dar uma olhadela nas teorias aplicadas pehrs antropólogos, sociálogos, psiquiatras, etc... A tomada de um espaço no seio da chamada comunidade cientifica, se faz necessária como sendo mais um canal de luta contra a discriminação, não que se considere a 'verdade cientifica" como acudo absoluta. mas por entender que esta "verdadd' encontra-se intrujada e respaldada na sociedade como um todo, servindo de ponte par. uma série dc aios repressivos e diacrimmatLaios. Devido a uns certo imobilismo que pairou sobre os grupos após o Encontro de São Paulo, tornou-ao imposalvel a realização de um trabalho dentro da programação da SBPC. como havia sido aprovado no Encontro, pois nada foi feito para que se desencadeasse este processo. De última hora os grupos do Rio. SOMOS e AUÉ, resgatam esta proposta resolvendo encampar um debate, ',isto 4uc a SBPC se reuniria em seu espaço de atuação. Foi tentado atrava da Secretaria regional da entidade e do Departamento cfe Ciências Soais da UER,J, a cessão do uma saia nas dependências da Universidade para que pudesse realizar o tio esperado debate, Tal pedido foi negado, sob a alegação de que havia um deficit de espaço e que outros pedidos mais importantes haviam sido, da mesma forma, negados. Sem sentir-se derrotado, o pessoal decidiu pela tomada do espaço, literalmente. 'Já estamos habituados a termos as portas fechadas para nós. e estamos habituados, também, a arrombá-las'. Com o apoio do Centro Acadêmico de Ciências Humanas da UERJ, o SOMOS e AUË resolvem invadir o bal dos elevadores do 99 andar da UERJ, e desencadeiam uma convocação em massa com cartazes, faixa,, panfletos e comunicados nos vários debates que estavam sendo realizados. O grupo de trabalho contou com a ajuda de várias pessoas de São Paulo, que já se encontravam no Rio áespera de ação O DEBATE Depois de Iodo um trabalho acelerado. chega finalmente o tio esperado dia. Desde cedo, no sanguão de entrada da UERJ, junto as várias banquinhas que vendiam desde jornais de organizações políticas dandeatinas, até os não menos conhecidos posters de Che Guevara, se encontrava uma banquinha do Movimento Homossexual, que vendia além do LAMPIAO, livros relacionados ao homossexualismo. Por vvlti das 15h:30m, pouco mais de 600 pessoas lotavam o hall do 99 andar. Espalhadas pelo chão, em pé ou pendurada nas escadas e rampas do prédio, mostravam-se ansiosas para o -início do debate. Neste instante é formada a mesa: João Carneiro (SOMOS/RI); Zé Marta (AUË/RJ); Maria Alice (SOMOS/SP - representando os grupos de São Paulo) e Antônio Carlos Moreira (SOMOS/Ri - na coordenação dos trabalhos). O primeiro a falar é João Carneiro, que fez uma breve exposição sobre os maiores agastes da repressão contra os homossexuais. Cita a Or'gani ração Mundial de Saúde, que em seu Código Internacional de Doenças danifica, através do 0 302.0. homossexualismo como doença mental; várias associações médicas e psiquiátricas, no Brasil, utilizam tal classificação. Segue Maria Alice que faz um breve relato sobre a atual situação de São Paulo, onde foi desencadeada uma onda de repressão às pistas caos homossexuais. O último a falar é Zê Maria, que fez uma exposição detalhada sobre a organização do Movimento Homossexual como resposta à repressão. Segundo Zé Maria, "ao tentar responder aos agentes de repressão, seja o Estado, a Igreja, a Família, a Lei, a Ciência (e é esta a razão principal do MH), os grupos procuram encaminhar suas lutas contra a formação e continua reprodução, em vários uivei,, do estigma. Neste sentido a tarefa principal do Mli é detectar e denunciar as fontes da opressão desde a sua expressão mais social até a introjetada em cada indivíduo!'. Várias questões 'importantes foram levantadas no decorrer do debate, sendo a mais polêmica a reprodução de papéis heterossexuais no relacionamento homossexual. Picou daro que um dos maiores problemas enfrentados pelo MII, é o machismo exacerbado de certos homossexuais que além de aceitarem todos os padrões de dominação impostos pela sociedade, assumindo relacionamentos macho! fêmea, rechaçam qualquer proposta de luta contra a opressão e discriminação, adiando que esta só levará a uma repressão ainda maior, acabando por assumirem um imobilismo alienante. Um integrante do grupo negro André Rebouças acusou o MII de associar a luta do negro à sua, dizendo que não concordava com essa forma de cooperação. 'A luta dos negros nada tem a ver com a luta dos homossexuais". "Os homossexuais discriminam os negros e depois querem pegá-los como bandeiras para reforçar sua luta", A Igreja faz o mesmo há 400 anos.' Neste momento formase um grande tumulto vários papos paralelos surgem, ficando a mesa bastante embananada. Terminado o tumulto. Lygia, do Coletivo de Mulheres do Rio de Janeiro, faz a seguinte intervenção: "Quando se diz que oshomossexuassdiscriminam os negros eu digo: Os homossexuais discriminam as mulheres os negros discriminam as negras; os negros discriminam os homossexuais etc... Eu adio que isso realmente é um dado novo. E isso que queremos dizer quando afirmamos que é necessário que cada grupo oprimido levante sua especialidade. E na união de todas essas lutas que é a luta contra todas as formas de opressão e exploração assumidas numa sociedade patriarosi, é realmente essa luta, e a nossa aliança em cima disso, que será o embrião de uma estratégia revolucionária alternativa, e não a estratégia revolucionária que criou um discurso dominante e que acabou se transformando num discurso opressor". (Antêulo Carkjs Moreira:' -.5 — Na banca do Lampilão, alem do jornal, Multa gente tem perguntado qual a posição do GRUPO DE AÇAO LÉSBICA-FEMINISTA (G.A.LF.) frente aos últimos acontecimentos de São Paulo. Após o racha, vários artigos polêmicos têm saldo no Lampião, alguns carrregadoa de ressentimento e mágoa. Em vez das diacordincias, portanto, serem um fator positiva, Já que uma luta libertária teria de comportar mil e um posicionamentos, as dlvergênclaa enfraqueceram o movimento, tornando-o muito mais vulnerável do que já é. A autonomia do GALã' em relação ao SOMOS/SP era anterior à divisão do grupo. Foi então mera "coincidência hiatõelca" da ter acontecido no mesmo dia em que algumas pessoas saíram para fundar outro grupo. p De re ente, essa situação gerou outra multo delicada para nós, Já que não tínhamos a mínima Intenção de nos chocar com nenhum doe lados. Não tínhamos e não temos, Não se trata de opor. tunismo demagógico, mas da reação natural por parte de quem achava salutar e coexistência e simultaneidade de várias correntes dentro de um só grupo, como elemento enrlquecedor da prática de nossas dlscussães. Não há nada de Incoerente entre esse pensar e a nossa salda: não cabíamos no Somos enquanto mulheres, Já que, como explicado anteriormente em nossa cana, temos que nos organizar sepuradamente para atender às nossas especUleidades, o que não era absolutamente o caso das bichas. O que fizemos foi apenas tornar pública uma situação que já havia de fato: a nossa Independência. lssd não significa, porém, que estamos fora do movimento ou que agora sejamos apenas um grupo feminista. Ao efetuarmos um trib.lho junlo is feminista,, estamos buscando atender à outra faceta prioritária de nosso movimento, uma vez que sonsos um grupo de molhem. Buscamos. também, ampliar o universo de atuação dos grupos homossexuais, através deste novo espaço conquistado. que o feminismo apesas aos acrusesaitou novas frentes de luta. guâs ferenças entre nós se acirraram, já que passamos a nos preocupar com uma série de diferenças que antes não tinhamos nem condições de aprotusdii. Então, se por um lado a autonomia nua deu maior liberdade de atuação e profundidade, por outro, também, aumentou a responsabilidade de nos reconhecermos e de convivermos com uma série de divergendas nunca afloradas, por falta. bidushe. de um espaço espeFflco. Redescobrimo, a América ao perceber que Ante pessoas não podem falar ao mesmo tempo, e então dividimos as reuniões gerais de trabalhos nu pequenos subgrupos de reflexão coes no máximo quatro parildpantes, tentando, saab. garantir o espaço para que todas ia mulhista se coloquem Individualmente, a fim de criarmos em discurso colei limo. Mantlsanos - embora quesdoemido e buscasdo alternativas - a estrutura anterior do Somos quanto ao reconhecimento; todas as pessoas nevai que entram no grupo passam por este proomso, que é basicamente a reuperação de nua aulo-estb.a e auto-afirmação. As outras frentes de atuação ao GALF aio ao sieslmãa de trabalho, criadas para atenderam Interesses Imediatos do grupo, tais enesot a criação de um jornal lésblen-femlalata ('Osana com Chasaa", de um livro de poesias ("Hoesnagem a Saio";, o LF-ARTES (nádas casatiaador de atividades artísticas), etc. No momento, nossa atenção está voltada para ai mulheres que freqüentam Ingaim homostesisais loa guetoa), a nível de aiescáwtlxaçio, e estemos promovendo aos domingos, qulnxesalmente, e partir das 16 h. na Boate Mhtsws Fia., projoção de NImes, apresentação de shows, Jogo de "bingo", coes prémios que vão desde livres lenlalpta.s até fitas de músicas compostas por mulher,. labiosa Outra Instancia de participação ÕoGALFsio os debites, congressos, passeata., enfim, aliviciada alternas cuJo público não é aamssanlasneste homossexual, mos onde testamos atuar nu conjunto com outros grupos estigmatizados. Lembramos também que, mo nossa saída do Somos/SP, (roemos de nome: nu vez de Grupo de Atuação Lésbico-Feminista, somos agora Grupo de Ação Lábica-Femtnlata (tudo no feminino 1... NÃO FECHAMOS O DIFICIL EXERCIdO PRA BALANÇO DALIBERDADE Completamos um ano de vida duas semanas depois da separação coes o Somos/SP; e olhando para trás nos defrontamos coes . necessidide de uma avaliação critica de nosso histórico. Enquan - to estIvemos Ilhadas num grupo masculino, nos- ass tmsôea eram repartidas em função do Inimigo coesumi o madsi,mn. Com nossa autonomia, concomitante ao crescimento do grupo, as dl- A conclusão socas Ju perceberam. Lugares comuna 1 pane, a Independência traz direitos e dever,.. Há uma autonomia a ser stvendada e sana mobilização a ser mantida. É ampliar e não bipartir. Somos san todo em aprendizado, acumulando esperllncisi em diverso, nivela e negando vhs- silos que possam nos servir futuramente de peso,. trepou na mesa e deu um tremendo pia Página 5 LAMPIÃO da Esquina *s APPAD it livros A posição do GALF Em asas., trouxoa para o movimento homossexual o cunho revolucionário do movimato issufaina - a busca de om. .0va praxia, transformador* de realidade sociaL Queremos frisar que continuamos a ser um grupo lésbico e Leia Mcuslfs -iv da parada di di'ricl:id Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott E] CRU PODIGNIDADE 1 ENTREVISTA 1 N uccia Bi*anchi*, depois da absolvição N1NUCCIA BIANCCHI. Brasileira. solteira, secretária. 29 anos. foi acusada da morte de VInla, sua ex-companheira de anos atrás, e julgado pelo 40 Tribunal do Júri, no Rio. Nenhuma provi havia nos autos que justificasse sua mdiciação. a não ser o fato da sua opção sexual constatada com a descoberta de cartas amorosas entre as duas. Baseand.-se apenas nisso a acusaçáo tOiInij incriminá-la por homicídio. Mas, em 26 de junho de 1980, por cinco votos contra dota. ela foi xuuniada: mais mcliso para a imprensa demonstrar sua ma-fe; ''absolidij o amor entre mulheres"; - foi a manchete de um jornal carioca. Mas, embora possa haver apelação, Ninuccia está segura do vnodito final. Exteriormente, urna mulher alta, esguia, bonita, de poucas palavras; mas, em sua fala reservada, vocês vão notar uma enorme coragem, não sei se anterior ao processo ou nele adquirida, por ter enfrentado todas as humilhações que a grande imprensa deu ao seu cas& todas as deturpações a que foi condenada a ouvir por uma promotoria ávida apenas em devassar intimidades de sua vida particular, e não em escurecer a verdade dos fatos. Por isso, tivemos o cuidado de não machucála mais do que o necessária embora fosse impousisal deixar de tocar em assuntos dolorosos, tenlarri ,^ ouNi-la uwno peincai. asno ser massacrado impiedosamanle durante estes três anos ao que durou o processo e até talvez por mais alguns, no caso de uma apelação. Só que seu drama não termina com o feliz final jurídica da continua desempregada, com dificuldades em arranjar trabalho, porque, MESMO ABSOLVIDA, sua' fama de homossexual' continua a persegui-la. A estigmatização. agora, não é por um crime, mas, pior ainda, por um preconceito. (Quando virá a verdadeira absolvição social. de fato, de Ninuccia?). Assim, esta entrevista é quase uma forma de apoiar quem, como ela, simboliza as vitimas da repressão institucionalizada exercida pelos tribunais e explorada pela imprensa, com o intuito de apoiarem o pseudomoralismo tradicional e alimentarem seus neuróticos mecanismos de consumo. (LoJia Miemilal. Li-lIA - Ninuedi, se não doa' multo, explica o que bes,e aquela neltei lad&cus o que soc lula na lora da morta se bois,e briga smias asiz. voc4 • Vânla, como a lmprmai divulgou, l mista a aia versão dos latoi. NINUNCCIA - O fato da morte de Vânia foi um Inste episódio, principalmente pelas circunstâncias que o ca'osras, Ainda sinto os efeitos, mesmo, porque Vânia carecia de efeto, pois tinha sido repudiada por toda a família. notadamente pelo pai, José Luis Batista, que sequer permitia a sua aproximação do lar. No dia do acidente, Vânia chegou muito nervosa, sem dizer o que se passava. Após permanecer por algum tempo, saiu novamente sem dizer onde ia, retornando após às onze horas, ainda mais excitada; procurei conversar, não adiantou, e a conselho de uma vizinha chamada Wiltna Sampaio dei-lhe água açucarada, ajudei-a o despir-se, cem seguida. consoeis já estivesse deitada no sofá da saia, onde dormia. fui para o meu quarto deitar-me, sendo acordada pelo sindicodo pr&hio— Valentimda Silve Prado - que me informou ter a Vânia caldo da janela da sala. Quanto briga que teria havido ameado fato, não é verdade, riem durante toda a instrução do processo qualquer testemunha fez referência a tal fato. LEILA - Co áqise, de .alddlo, o delegado José Gasdo pas.oa a flinciarar moio suepelta a morte de Vâala? Pana --.'.. , .6 , , -.......-.,.,-.... ....., 1 ' NINUCCJA - Na verdade, a morte de Vânia nunca foi considerada como 'suspeita" pela policia. O que ocorreu foi que oddegadoda32a DP remeteu os autos à Justiça, e ali o Juiz, por iniciativa cio Promotor, determinou que o inquérito tivesse prosseguimento normal, sendo eu indiciado. Acredito que este fato tenha tido relação com as cartas que eu e Vânia escrevíamos uma para a outra. LEILA - E $ quefalemos nas cartas, qual fel . sua reação ao ver sua cois'eupoudimda tulima devassada publkasse,it, e de forma maio torpe? NINUCC1A - A publicação das cartas que ambas escrevemos provocou em mim uma reação naicral de revolta pelo desrespeito para com a memória de Vânia, e, sobretudo, pela absoluta deavinculação com sua morte. LEILA— Como eira a vida de,ocêsdw? NINUCCJA - Vânia foi acolhida em minha casa por duas vezes em períodos distintos, e em ambos, apenas por piedade, (sendo que da primeira vez surgiu um estreitamento mais Intimo de nossas relações). Nesta época, também tiahiiou em meu apartarnenio sua irmã, Vilma, que há muito morava fora de casa. No segundo período, apenas Vânia ficou lá, sem que tivesse prosseguimento o relacionamento Intimo interior. LI—:IL. - Na sua opinião, o que levou Viola a cometer o auleldio? NINUCCIA - A gravidez adiantada, o desemprego, a crise financeira que atravessava deram motivo ao meu segundo acolhimento, que terminou da foi-ma trágica que vocês sabem. LEILA - Como ana o guio de Vâulai alegre, trhte? NINUCCIA - Vânia possuia uma personalidade marcante, sendo exteriormente triste. considerando, principalmente, a repulsa que lhe votava toda a sua família, a começar pelo pai. DOLORES - Como vovii explicaria a possível mudança docomportassaito do'. lemitos de Viata ao Tribsual, visto que aatoi do acidente ela freqüentavam sua casa? NINUCCIA - A família de Vicia, evidesitememe, procurou minimizar a culpa que lhes cabia na morte dela, atribuindo a mim toda,. parcela de r esponsabilidade. Mas este fato ficou patente durante o julgamento. DOLORES - Qual era o em relacionamento caso Vila quando a norte aconteceu? NINUCCIA - Na época da incite de V&nia, como já disse, o meu relacionamento coto ela era restrito ao apoio que lhe dava, comovida pelo seu estado de abandono e desespero. LEILA - Conto ã o banco doa réus para quem é luociste? NIT'IUCCIA - O banco doa réus é uma expa'iencia amarga, não só para inocentes, como para culpados, pois ali começa e expiação, ante o público, de um fato muitas vezes não praticado por quem nele se senta. L.EIL& - Qual Sul asa reação ao ser mdidada como NINUCCIA - A reação de toda pessoa que sabe ser injustiçada. Mas, antes disto, o desnudamento cruel da minha privacidade tornoume profundamente triste: mas, por rastro Lado, deu-me o alento que eu precisava para lutar por provar minha inocência. LEILA - Como voei encarou o enorme pábllco que lotou o um Julgamento? NINUCCIA - Em parte pelo interesse juridico, pois a maioria era de estudantes de direito ou advogados, cem parte pelo interesse motivada pelo extenso e sensacionalista noticiário dos jor- f Disseram cobras e lagartos dessa mulher. Mas agora chegou a vez dela falar. nais, e de suas manchetes. LEILA - Então vamos falar exatamente sobre lues sobre o ,easadonalhmo dos Jornata. Como você sentis ev4 a deturpação dos latos feita por uma impreona que se arvora em "Informar" o público, e, sob mie lema, apensa 1 ocalixa o aectomaio lucrativo para ela? NINUCCIA - Acredito que sendo um fato incomum, e pela circunstância de ter sido levado aos tribunais, deu motivo à exploraçãojornalística, aliado ao fato de ter sido o advogado assistente da acusação antigo jornalista, e intimamente relacionado ran o meio, tendo ele aproveitado a publicação das matérias para projetar o seu próprio nome. LEI LÁ - Você i omhedao LampMo? Leu o artigo publicado em Juibo de 1979 em sua de. lua? NIJ4UCCIA— Conheci Lampião, justamente, quando publicou a reportagem, em junho do ano passado, sobre o meu caso, e que foi que mais se aproximou da realidade do processei, ficando agradecida pelos termos moderados da mesma. DOLORES - Mesmo sendo para o Lampião, você tio auutumada a ver os latos deturpados, não emitiu nenhum problema em dar a entreviata? NINUCCIA - Não, pois acredito, ou melhor, continuo acreditando na sinceridade das pessoas e no propósito de trazer á luz a verdade deste processo. LEILA - Algo= lornal cesta você cismo pensos saio apenas como uma notícia, ou .e, como "W' cismamo o " abec*i'tda"? NINUCCIA - Não fui ouvida, até o momento. por nenhum órgão informativo. DOLORES - Por que, até agora, você aio deu nenhuma entrevista a NINUCCIA - A conselho dos meus advogados, ti... t 1 • • ' ii,.,.. DOLORES - Como 1I, desde o Inido, a age relação com o seu advogado? NINUCCIA - O meu advogado é um velho amigo, pci' quais tenho o mais profundo respeito e admiração, tendo cuidado do caso desde o primeiro dia, coto dedicação incomum e competência reconhecida, que culminou com o resultado feliz do mau processo. LEItA - Você acreditava nu absolvição, com toda a lmpra senaadcsallsta .aeipulasdo. opinião pública. prenlonand% e. portanto tentando InfluIr, Indiretamente, ao j&I? NINUCCIA - Desde o inicio deste caso que acreditei na absolvição, não só por ser inocente, eceno pelo apoio, pelo estimulo e pela segurança que sempre me infundiu meu advogado. Dr. Gicrisno Mulier. LEI LA - Como você encara uma possível apelação? Acha poselvel a rekimuisçio da ueatonga umfla vt NINUCCIA - Encaro com a mesma tranqüilidade com que esperei o julgamento, e com a mesma certeza, caso isso acirra, cio um resultado semelhante. LEILA - O qu.â que você adiou deste processo, como um todo? NINUCCIA - O processo, a meu ver, tese a finalidade única de justificar a necessidade da policia em apresentar uma estatística positiva, e teve continuidade em juizo pela promoção inusitada da raridade do fato levado a apreciação do Júri. Mas, desde o inicio do processo, toda a prova conduzia à certeza da absolvição, pela inexistência de qualquer fato que comprovasse a suborna que me era atribuída. E isto ficou caioprovado por ocasião do julgamento a que fui submetida. LEILA - O processo atrapalhou asa vida de alguma maneira? L*MPFAOda Esquina . - 5 , - . •M45Iit ** APPAD it da parada da divt'r'.scladr Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott . . 1 . t t '4 14.4. 4 4 • é 1 Mw, GRUPODIGNIDADE ENTREVISTA NINUcQA - Com relação à vida prhshasal, sim. LEILA. - Voei era i.er.tksti .at da mo.ta de Vi., allo é? E agora, voei está teiado alguma dificuldade — arranjar emprego? NL?4UCCIA - A repercussão ampla que teve o processo, e evidentanepte, num pais como o nosso onde impera ainda uma Icale dose de preconceito, não poderia deixar de Influir na minha vida priuitmal, causando u&tos problemas. LEILA - Vuei recibos unho gemo de io Ildesleded.? NINUCCJA - Tenho recebido, tanto da parte de pessoas que csaheço como de desconhecidas. as mais autenticas provas de solidariedade e fraternidade humana. LEILA - .em ___ NINUCCIA - Da parte de minha mie, de meus parentes e de meus amigos, não houve nenhuma alteração, pois sempre tive e recebi deles as mais calorosas demonstrações de carinho, afeto e compreensão, alio tendo faltado qualquer tipo de apoio. LEILA - Voei em dhaálaada, pat, do Processo, por .m (aaIlIa, d.vWo á mi cpçlo NINUCCIA - Na verdade, não havia, como não há discriminação por parte de minha família ar relação a minha opção sexual. LEILA - Voei tem Irmão.? Mera esma NINUCCIA - Sou filha (mica e Isã muito tempo que resido só, pw Iniciativa própria, trabalhando e provendo meu sustento pessoal. LEILA - Como sua famlMa o.ros a traNINUCCIA - Cem a surpresa e naturalidade pcashecis, em caso de suicídio. LERA - Voei si odflloou duçada do pSOO.lO? N1NUCCIA - Nilo, no que diz respesto à minha conduta pessoal. LEILA - E ao amei voei sebe q ta tragédIa MfluIa .sptivamosta em sua sosslIded. aMoro.i? NINUCCIA - Evidentemente que a eauebilidade, não só minha, mas de qualquer pessoa aorta .balada com cextensio dessa tragédia. Mas tenho procurado superar os residucu que ficaram, soltando a ser uma pessoa alegre, comunicativa e feliz, que sempre fui. LEILA— Canso voe.edefbitrla, quais aio oe seus hábitos, o que voei mais gosta de fazer? NINUCCIA - Como falei, sempre fui uma Pessoa alegre, comunicativa e feliz, e como toda pessoa que possui estes atributo., ali1140111 à juventude, gosto de música, praia, baste, cinema e todas as diversões próprias. LEILA - O prorm.o lios sua drc.Iaçio — lugar. 'gayi"7 NINUCCIA - Na verdade, todo omeu tempo é dedicado quase que exclusivamente ao trabalho e contatos com meus parentes e pessoas amigas. que compõem um circulo restrito. LEILA - Já que YOi.4 teve ligações tio fortes cem o amor e a morte, eu queria saber maIa você moam,a e ia dois, Houve alguma dasreaça? Quer dkeri exatamente, o que a norte os de Vêa raios pra voei — termo. perNINUCCIA - A morte de Vinia deixou o resíduo de um processo rumoroso e uma amarga recordação que pretendo esquecer. Contudo, ficou também dela a lembrança de uma menina infeliz, a quem sua prápria família conduziu ao suicídio. LEI IA - Você gosta da vida? MINUCCIA - Amo a vida e tudo o que ela inc da, recebendo com humildade tudo o que é provação. LEI IA - Na sua opinião, cm que medida o seu homossexualismo pesou no processo? NINUCCIA - De modo geral, o homossexualismo ainda causa certo impacto, e neste caso em particular, dada a ampla divulgação, não poderia deixar de exercer uma foi-te influência, mais em juízo do que na fase policial, haja vista os termos em que foi vazada a denúncia, LEItA - Como você vê a criação de grupos organizados, que possam futuramente dar um apoio mais incisivo, Inclusive jurídico, aos homossexuais acusados só por sua opção sexual? f1NUCCIA - A minha opção sexual é um ato isolado, não tendo me engajado em qualquer movimento desta natureza. Acredito, porém, que a defesa de homossexuais deve ser vista em relaçàoa cada caso que se apresente. LEI IA - Você tem planos futuro.? Quais? N1NUcCIA —Para o futuro tenho planos de uma vida feliz, buscando esquecer todos os momentos dificeis por que passei, e com muito trabalho pela frente. LEI LA - Dizem que em lodo falo há um lado positivo. Houve algum, no seu caso, alguma lição boa a ser (Irada de toda esta tragédia? N1MJCCIA - ('cm esta tragédia fiquei conhecendo melhor o lado bom e também o lado mau das pessoas. O lado responsável e o inconsequente, a amizade e lado adverso. Fiquei mais vivida. Aprendi que o sentimentalismo pode ser prejudicial à pessoa, em grau elevado, quando não está conjugado com a razão. Agunk: "Hbtódaa de Amor" Agora, dois deslumbrantes musicais de travestis 'm !I" 4 Hollywood Ga y Com Angela Leclery KiriakI _Fuglka _ Eduardo Aliando ! Cecília Salazar - Tânia Tupi Jorge Eliano - Ronaldo Reis. Coreografia: EDSON FAHR. Participação especial: ANA LUPEZ e MÁRIO ROBERTO. Figurinos: HUGO VERMON. 28 e 3 5 às 21h30mifl 6 e sábado, às 23h15min. Domingo, às 19h30min. 18anoS. *V Gay Giris Com Veruska Cláudia Celeste _Fugika _Aria Lupez _Kiriakl Edson Fahr -Eduardo Aliende e MarisaJones — - Evellyn MARLENE CASANOVA. Participação especial: NELIA PAULA. 4., 5 e domingo, às 21h30m1n. 6 e sábado ás 21h. Livros novos na Biblioteca Universal Guei Estes livros falam de você: suas paixões e problemas, suas alegrias e tormentos. Leia-os. ALONGA ESPERA DO PASSADO GoceVidal 206 páginas, Cri 230,00 "The City and thc Piliar", um clássico da literatura norte-americana; o primeiro romance a abordar abertamente o tema da homossexualidade naquele pala. Uma hist6ria de amor entre 4oss homens que atravessam as Incompreensões e aos anos. "um livro emocionante, que comoverá a todos os seus leitores", disse o New York Herald Tribuno. Do mesmo autor de "Mva Beckirindge" OS HOMOSSEXUAIS Marc Daniel e André Baudry 173 páginas, Cri 210.00 Uni livro pedagico, escrito pci' dois espeaalistas franceses para substituir nas bancas e livrarias as obras análogas eróticas, sensacionalistas, comerciais, etc... Um livro escrito «sai o intuito de desmistlficar o heunossexuahsmo enquanto assunto tabu. Urna das primeiras obras a tratar a homossexualidade, na França, não como uma anomalia ou perversão, mas tiosomente como um fato que condiciona a vida de milhões de homens e mulheres em todo o mimdo. PIA7JAS Roberto Piva 56 páginas, Cri 150,00 Do mesmo autor de 'Cosas", um livro de poemas que vala como uma "Introdução à orgia", segundo o seu prdacicmador, Cláudio W ilier. Piva reafirma, aqui, sua condição de poeta da marginalidade, colocando-se ao lado de outras "flores do mal" - de Baudelaire e Ginsberg, de Sacie a Genet. O DIGNO DO HOMEM Pauto Hecker Filho 72 páginas. Cri 1.000,00 Um livro rabelesiano, sem igual no Brasil, na sua vertigem erótico-qui sot esca,,Publlcado em 1957. é uma antevisão das viagens palcodélicas. Edição especial do autor, em papel de luxo, de apenas 200 exemplares. Estamos vendendo os últimos exemplares. LAMPIÃO da Esquina INTERNATO Paulo Hecker Filho 72 páginas, Cri 220,00 A história de um grande amor homossexual adolescente. A novela, publicada em 1951, é pioneira no tema, no Brasil. Paulo Hecker Filho, escritor gaúcho, estreou na literatura aos 22 anos. laissuato é a terceira obra do autor, que escandalizou a pacata intelligentsia nacional daépoca. TEOREMAMBO Darcy Penteado 108 páginas, Cri 150,00 Um Papai Nod muito louco, uma bichinha sorveteira, uma fada madrinha desligada, a bistoda do bole a prazo fixo: muito humor e muito nos .e.ae no novo livro do autor de A Meta e Crescida • Esparianca. A META Darcy Penteado 99 páginas, Cri 40,00 "Darcy Penteado ilumina detalha do gueto que a maioria gostaria que o homossexual fosse circunscrito "(Léo Gilson Ribeiro), O livro de estréia de um escritor que é também uma ativista em favor dos grupos estigmatizado.. CRESCI LDA E ESPARTANOS Darcy Penteado 189 páginas, Cri 170,00 "Como este, que fala tudo aberta e dmafiantanente, dignidade bem mais culturalmente verdadeira de resistir aos bárbaros preccmmito." (Paulo Hecker Filho). Duas novelas e cinco contos, do total um sae ao realismo TESTAMENTO DE JÓNATAS DEIXADO A DAVI lodo Silv&io Treviaan 139 páginas, Cri 150,00 Uma viagem do autor em busca de si mesmo. Anos de estrada, de solidão e torne assumidos num livro escrito com suor e sangue: nastea contos, a história de uma geração cujos sonhos ferem queimados lastimaste em praça pública. MULHERES DA VIDA vário. autores 77 páginas, Cri 120,00 Norma Bengueli, Leila Micdia, Isabel Camara, Socorro Trindad e outras mulheres quentíssimas mostram neste livro a nova poesia das mulheres que não se conformam «an a pressão machista e tenta inventar sua própria linguagem. A poesia feita nos bares, calçadas, ônibus, boates, prisões, manicômios ebcrdêls. O CRIME ANTES DA FESTA Aguinaldo Silva 136 páginas. Cri 140,00 Através da históri* de Ângela Diniz e seus amigos, que ele trata como se fosse ficção, o autor interpreta e esclarece todas as conotações de um instante dramático de nossa alta aoaedade. Um libelo contra o machismo e a opressão. NO PAIS DAS SOMBRAS Aguinaldo Silva 97 páginas, Cri 150,00 Deis soldados portugueses vivem um grande amor ais pleno Brasil colonial; envolvidos numa conspiração forjada, acabam na forca. A bistoda reccaitada a partir de 1968 fiz um levantamento de quatro séculos de repressão. REPÚBLICA DOS ASSASSINOS Aguinaldo Silva I57páginas,Cr$ 180,00 Bichas, piranhas e pivetes enfrentam o Laquadrão da Morte (e vascemi), A Incilvel história de um dos peilodos mais conturbados da vida brasileira, de 1969 a 1975, tendo como pano de fundo eu cenários do submundo osrioo.. 'COMPANHEIRO Waiker Luas 100 páginas, Cri 150,00 "Não éban estetipodeamca- quealingea tantos". Publicado em 1979, o livro de poemas de Waiker Luzia traduz sua vocação de poeta confessional, que tem o poder de dizer o que apenas se advinha e de advinhar o que não se ousa dizer como homem e como amante. SEXO é PODER Vários autora 2l8 páginas, Cr$ 180,00 Jean-Claude Bernardet, Aguinaldo Silva, Maria Rita KehI, Guido Mantega e Flávio Aguiar e muitos outro. discutem as relações entre sexo e poder. Dois debates: um sobre homossexualidade e repressão, cem o grupo SOMOS/SP. SHIRLEY Leopoldo Serran 95 páginas. Cri 130,00 A história de amor entre um travesti da noite Paulista e um operário de Cubstio. Waldir/Shirley é um personagem que ata enfrentar todas as humilhações pari mor fiel ao seu desejo. Dois seres humanos, oiisificados pela opressão, brigam nela vida. Os SOLTEIRÓES Gasparino Damata 2l3 páginas, Cr$ 180,00 Um livro que se dispõe a esmiuçar o mundo dos homossexuais e tudo o que os tolhe: a incompreensão que eu cerca, o modo. ~tosem meias palavras, de vai buscar a linguagem dos seus personagens lá onde o autor eu encontrou. A TRAGÉDIA DA MINHA VIDA Oscar Wijde 194páginas,Cr$ 100,00 O famoso depoimento de Oscar Wikie sobre sua vida na prisão, onde cumpriu dois anos de pena, condenado pela justiça inglesa pelocrinie de homossexualismo. Um livro em que Wilde acusa e se defende, envolto pela solidão das prisões e marcado pelo sdrimaito. Esco&a os quei você qatr ler • laça o saí Pedido psiu resesbolso postal á Eaqulaa Editora da Livros, Jornais • Rrv4sta, Ltda. Calva Postal 41031, CEPJO400, Rio delaaáo, Ri, Se você pedi mal, de trio "r' rembesá como b,Iads, Inteiramente giáti., um exemplar de EXTRA/LAMPIÃO .P 1. Página 7 *v APPAD ii da parada tia (lIvcTI(l.ldr Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDItDE ENSAIO Mais tesão, menospoliticagem ter sido um doi poucos brasileiros que aio siu o Papa pela televisão durante lua 'slia esangelka ao pula, pela simples razão de eu não ler aparelho de TV. Mas pelo que ate dluser.m a pelo que II nos Jornais o santo homens arrebatou as multidões. Todas ai camadas sociais, todas ai Idades, iodos os sexos me d er am exemplos da (moção que o chamado Vigário de Cristo despertou no Brasil. Mais (Ir uma mulher me disse que Joio Paulo um verdadeiro "bdâ Jolinuo.", de tio saudável e cswadot a depois, aquele sorriso... Os era homens, para disfarçar a umoçio, dsi.rais..o 11 de atleta", "agreuulso'c as bichas, aio podendo frue atrás eni malária de seslo (sô que elsa pr.tl 80~0 multo Is objet ivo,m (rí1 \j1'Ji sexual braslidro, ainda tio Jovem mas játio velho, não pensa um lazer esta recidagnu do u discurso e mesmo do comportamento de certos ativistas não está na pauta das reuniões. O que o ?KIII... AQUUv Ï4l. Q 5(1 (MA FAA Ç \ F'1iA ' 7T5 rU P V1 5OA Tk VI AQUI DL tOYt) sI hipócrita. dkaeram asas "Que osfosl f]. aio iam aquela soe de casi raio da maioria do duo." Oh sarsaçio mais elbilina só o a de Ragar Ptyrefte, o chamado "papa da laiiigo e da malida", que *Erm a n'um boosaeausls en de por cento do duro, saudo que a c omo mala UMA ^^Ç A 1 É alta encontra-se entre os príncipes da Iteufa. Por falar nisso - (a dó4he ivahc, mas(I uma história que som cuuftomsr as tesas alad. andas de Ptyelee... quando e st ive um Roma, um amigo que sabe das coisas pargunloume seca queria se uns dos ambientes .uaIa hosasossesuala Etersa. Claro que entreguei as mim de ournenlamento. Ele siulo me aunsidou para .1. moçar atam restaurante aoftsticadkssimo a caro, quase solado da Praça de Sio Pedro. A mesa (01 marcada csam ant ecedência e ficamos parto da porta, podendo ser todos os que entravam e VL da Cidade sam, Poli bum, meus amigos, o que eu si foi um. kuvur., ou melhor, um delicioso desfiar de praticamente ioda a cárie romana ou (pelo menos de gente vestida com toda a pompa dos cardeais, nas suas cores púrpuras que r'vam constamo— esnesue e faziam eu me sentir como se estivesse numa espécie de sacristia sacrllega, onde o per - coudImeto, substitala o do Incenso) acompanhada de Jovens latagões à paisana que fume dos ópera de Wagner. 'Esses )osesu, aio oficialmente os ieaetárks Particulares de suas esuinencias. mas na serdade peslssscen. à Guarda SuIça do Vaticano', es• plicou-me o amigo Italiano, deliciado ao me ver quase engasgado com suas obaers.çies. "Voei pensou que era uni time de Feilivil ou aquelas brincadeiras da Sofia lorca vestida de cardeal? pareciam te saldo do coro de mui Aqui não e o Rio, boneca, onde o camas-ai clara o ano Inteiro." Calei-me, para aio brigar, pois eu Já tinha notado em seu tom agressivo e desafiante que «n Roma, canto ou mais que no Rio Ique ele conhece e adora) as coisas podem ser bem praimistuas. Mas soltemos à Visita do Papa. f)Izrm que ele um grande ator e que cada geMo, aluado ou pausa são cronometrados cuidadosamente, (Esta semana fui ver uns filme interessantíssimo, 'O (iilimo casal casado", e no jornal nacional tive oportunidade de assistir a chegado de WoJtIa ao Brasil. O gesto e o que ele dizia pedindo que se afastassem do chio que eia ia beijar eram de pura impaclëncla. daqueles que calão exaustos de repelir um amo mecinico.) IA no "Time" que um O BifAo Homenagem ao Rio antigo Show r&mbrando a época d. ouro do Rio de janeiro, com An dróa C.asp.rsiii - Ana Ksrina erg - Laura de Visou - Clnthia Lavy - Sam.nths - Mabei Luna 'Rodhê. Apresentação de Feman Moreno - Produção de Adão Coata. Rua Santa Luzia, 760 - Te lefone 240-7259, Rio de Janeiro (Centro). Todos os sábados. Aberto a partir de 22h30m1n. ingressos: Cr$ 150,00 (com este anúncio, o Ingresso custa apenas Cr$ 100,00). SAL VEMOS A I7AZON IA I computador norte-americano já linha aponlado, soles da eleição, claro. o cardeal de Cracóvia como o papa a ser eleito pelo último concilio. Quer dizer, ele tinha todas as qualidades não só de homem autoritário, acostumado a mandar num rebanho que entre o comunismo e a Igreja preFcre entregar-se a esta, como de histriônico de ' a lto gabarito, não para preencher um mandato tampão, como João XXIII e João Paulo 1. mas pura ser o porta-voz do mundo ocidental, espirilunimenle, sim (como eufemismo), mas em primeiro lugar nualerialmenie. Isso ficou perfeitamente comprovado nas suas homilias para diversos tipos de reuniões. Ele não foi contra nem a favor de nada, multo pelo conlràrio. È o papa vaselina lobrigado a Reginaldo pelo ct)f.y !aite), o papa mineiro, mais do que o Tan. credo Neves, que fala em direito da terra sem explicar quem detém esse direito e que diz aos pobres que devem permanecer pobres porque o tempo deles ainda não chegou. O papa esportivo. Sei. Só que permitiu que montassem à sua volta um aparelho repressivo vergonhoso e aceitou que um país pobre e em péssima situação financeira criasse um esquema milionário pari asma visita. Com isso ele tornou realidade as palavras de Baodaiaire: 'Dieu cal un scandak - mais c'est uun scandale qul rappurte". Deus é um escândalo que rende juros. E Isso é verdade, gente, eu vi, eu st! Uma amiga minha, mie solteira, pula da vida porque não tem como dar um jeito na sua vida, queria ir se jogar aos pés do papa na sua passagem pelo Rio. Uma bicha amiga que encontrei no último domingo, mal pôde falar comigo, ia correndo com o caso para a missa das 10 horas, "Mas desde quando você é religiosa de Ir à missa, bicha?", ainda, tive tempode perguntar. Resposta: "Desde que o papa nos visitou, claro". Ti certo isso? Como diz o autor de 'Monsignor" (uma biografia romanceada de Marclnkus), é assim que a Igreja enche seus cofres quando eles estio sinos. Obuio, óbolo., turno na Idade Média. pessoal! E, afinal, somos ou não somos o maior pais católico do mundo? Vejam a diferença de tratamento. Entre n6 ele pediu calma e que fnsemos devagar com o atador, no. Estados Unidos falou contra as questões mais em esidncja da década, como feminismo e homossexualismo. Um dos maiores defeitos da Igreja é dar palpite sobre tudo, do espiritual no secular, Qualquer padreco, desses que ainda se mijam de medo na batina quando 4am um superior, deitam falação ao leigo sobre não Importa que problema. um vício que sem também da idade Média. Agora mesmo, na edição de julho de "Status", o nosso "avançado" Frei Belto (por que dais tis, meu Deus?l falou sobre homos-. sesualismo, feminismo, aborto, tudo. Disse que Gabeira em ser de ter soltado pra Ipanema devia ter Ido pro Xingu, ser a condição doa í n dios. Agora eu pergunto ao Frei Berto (sem ter qualquer procuração de C.be4mn, claro) por que ele não foi trabalhar no Interior, em vez de ficar meditando e transando como Luis, o PT deles esta São Paulo, Vitória ou Porto Alegre. Com que É direito ainda, pergunto eu, ele é contra o aborto e odlsorelo se não pode fazer nenhum dos dais? E o homossexualismo, esse vicio urbano.. e as bi- chinhas que 4m do interior? E olhem que o Frei Betto é considerado membro da chamada Igreja Progressista, Imaginem quando o D. Scbrrer resolver dar entrevista para uma revista de mulher nua, o que não dirá, É essa posição hipócrita da Igreja em bloco, seja ela progressista ou conservadora, em relação is questões cruciais desta década que me deixam completamente reticente quanto a qualquer es- pécie de entendimento das minorias discriminadas em luta - sejam aias as feministas, os negros ou os homossexuais - com o Estabilshment (governos, igrejas e mesmo as SBPC da vidal, Vocês já devem ter lido aqui mesmo o que aconteceu com um seminarista homossexual que ousou entregar na catedral de Brasília uma carta de defesa do homossexualismo ao Moijenhor Marcinkus, A bichinha parece que recebeu apenas uma coloselada, mas no primeiro momento me telefonaram de Brasilia dizendo que el a tinha levado tabeles do Monsenhor na frente de Wotjila e do Núncio Apostólico, que também recebeu uma cópia da tal carta do insistente seminarista. 0 documento, produzido pelo Beijo livre (grupo homossexual de Brasília), esta dentro de um plano, que eu não consigo aceitar, de tentativa dos homossexuais de se Inserirem no contexto social, de se tornarem parte do Estahltshmeni como bonecas. Não nos aceitarão nunca como tais, queridinhas, tirem Isso da cabeça de vento de vocês, O homossexualismo é tão herético e tio subversivo que jamais poderá funcionar dentro de uma sociedade que não for verdadeiramente revolucionária, isto é, que não partir do homem em si, aceitando-o como ele é, e não do arquétipo de homem que mais interessa a essa determinada sociedade. Aconteceram lentas coisas em iulho.,. O as' contro da Sociedade Brsslldra pelo Progresso da Qênda (SBPCJ realizou-se este ano no Rio. Um mês assim da reunião uma jornalista encarregada da divulgação do esoato telefonou pro LAMPIÃO pedindo cobertura. Ach ei olfato, com a janta de liberal que a SBPC tais. Mas patgimtd se havia programada alguma coisa sobre mulheres, aegros ou homossexuale e a moça me chame que não, que a delegação do Rio .6 havia ata ou dois debates sobre mulher, organizado por gaste do Museu Ulsiíjs'lco Nacional. Mas e os n eg ros, nada? O. homossexuais, nada' "Nada, mas se eles quilserem podem marcar debates e mesas-redondas nos espaços livres da UERJ." Cheirei no aroperfume adocicado do paternalismo, mas me recitei. Depois disso essa moça só entrou em contato comigo (ou com o LAMPIÃO) mais uma vez: para dar uma informação errada sobre olocalem que José Coldenberg daria uma entrevista á Imprensa, O palernalismo se materializou certamente durante o encontro. Os negros adio que nem Apareceram por li, e os homossexual, lotam dar vexame num aaguio, cedido com o maior desd éns Pelos Promotores do eaucont ro (e as bichas dizem que "hivadtrans" o congresso da SBPC!) para que ci representantes de alguns grupos homossexuais usassem mala uma vez de sena ja rcam mala batidos do que os do Partido Comunista. Esse uipo de autoerhica. porém, o movimento homos- Página 8 cl., parada da ,I, tr,cI.idc' saram para u páginas de LAMPIÃO um discurso ou ama terminologia que eatl demoro da filosofa do Jornal, mas que sem sendo usado de mandri tão adolescm.ie e antiga que parece usais apenas para "áputer ias bourgecis" . Palavras como mpsto.a e 'dado estio sendo uaadaa dentro de uma linguagem de comIdo que as torna aio peJoralbas, mas de duas lacem, e de um acento macirisi, que lembra maio o "Pasquim" . Se- ramos Incorrigisda? Não acredito prefiro antes pensar que o movimento homossexual braslidro está cheio de elemento, que ainda aio estão maduros para uma verdadeira milhínda (que deve ser leite muito mala a nível de eipa'lisuda de , tampo e não com a Formação de grvpefsos, lato é, que precisam seguir o lassa "mali tesio e maios politicagem" de um dos editores de LAMPIÃO. E todo isso, na verdade, me reflete de maneira negativa no Jornal. O movimento homossexual brasileiro não deve se InIciar por onde os de outros palses começaram a se desintegrar. Aqui, devemos partir do uida, pois as coisas aio só acontecem difereattensense. como no, (alta experliocla para uma organização "pulltlzada" . E preciso Iniciar o baubá da fraternidade, aprender que , promiscuidade entre homossexuais não chega a ser algo malaio, ao contrário do que nos ensinarani ou moralistas ludeus e cristãos. E na promiscuidade de que falo não ve)o qualquer elemento nocivo ao dele nir de uma sociedade Justa. Será uma promiscuidade revolucionária, como a luz no fundo do túnel de que [alam os edicos ainda não de todo renitentes. E precisamos ter raiva, também. Raiva de uma sociedade que á Injusta por todos os lados. E autor. Eise amor que aspiramos, mas que alada não conscgudmou realizar. que tom de chagar um dia a unir todos os movimentos ditoe minoritários e estigmatizados. Por enquanto nós somos ré. probo. e não devemos nos envergonhar disto disfarçindo noaao discurso coas palavras de iusp.cto' O que cela, sfhsul,o "marginal sexual," como o dtanta John Rediy ais "lhe Sexual Outiaw"? " A raiva," responde. E continua o autor de "Cidade de Noite" s "Ninguém mals facilmente oprimido —mesmo oi chamados liberala umdeitam ama oprmià.o -. E a única minoria que tem laia contra sua ez1atda. Rotulado como sedutor de parc~ forçados, o homossexual sabe que a dita violação homossexual é a violação de homossexual, por haterossexusis. Marcado como violentador de menor.., de sabe que a violoutação praticada por hecn'osaexuais sal multo inala além da homossexual. E ele sabe que aquilo que os delegados de policiei proclamam ajeno "os cada ser mais siolastoe crimes boato.sexual.' ' são os crimes praticados por heterossesuala que odeiam homossexuaIs". Acho que este trecho do ilvro'doaimájo de Reby calha assustadoramente cosa o momento atual braslidro e cosa de encerro catas notas para que o meu leitor possa meditar sobre o queé mala Importante para nóic se a verdade de [ratee, sem os espelhos que os homossexuais tendem criar para nele§ se verem refletidos, ou seguir por esse caminho toqtutsso da politicagem, que certamente levará modos nós a um beco sem salda. (Francisco Rusuenc.ourt LAMPIÃO Assine agora. LAMPIÃO da Esquina ** APPAD pessoal quer é entrar mesmo para o PT e colheras migalhas de poder que lhes forem lançadas. isio, silai, Já se reflete claramente em cenas s_ do LAMPIÃO. Jornal que surgiu para subverter e trazer à tona o sal da terra. VeJam vocás, por exemplo, Troca-Troca, leiam com atenção ludo o que está asaho ali. Por baixo do adulCoramento da terminologia - "j ovem . " "bonito", "23 anca", "universitário", só falia mesmo o "brinco" - se trata na verdade de formar um co&eiio eugénico de gueto que é multo pior do que o de elitismo cultural. Da mesma formas, na seção "Canas na Mesa" foi-se formando ate Pouc os um clima paternal, de passar a mio na cabeça, que nada tem a ver cosa os editores do jornal e que surgiu,pode-se diser, apesar deles. o mundo sufocante demais pari um ser matizado - que leva talvez - iodos sós a cair nas mesmas armadilhas. Por Ouro Lado, ilguas «ulaboradote, troa- *1 Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE IBOFARADAI Finalmente: o nu ffirontal! Antâ&o Masálo A nudez é o homem em seu estágio ecológico mais perfeito. Nas civilizações primitivas o ser humano não escondia a nudez, ao contrário, exaltava-a, principalmente os órgãos sexuais, por serem os elementos geradores da continuação da espécie. Sendo o judaismo uma religião que proibia os prazeres do corpo em beneficio da alma no peat-morsen, criou para si e transmitiu-o ao seu filho, o cristianismo, uma série de imposições repressivas denominadas pecados Porém, desde muito antes o erotismo já existia, certamente nasceu com o ser humano, mas acontecia nele como um atributo normal à sua natureza. Com o Judaico. Cristiantsnio. porém, o que era natural passou a ser inatural porque proibido e viceversa. Da mesma maneira o traje, que antes era apenas para uma proteção contra as intempéries, tornou-se obrigatório, não só para escondeT,as partes sexuais, como para escamotear as demonstrações naturais ,iia sexualidade. Estava assim criada e re!srtamentada a moral sócio-político. religiosa que perdura ate hoje. O tabu da nudez tem sido combatido em algumas épocas, de raro em raro. O caminho da desmitificaço, que estaoios tentando no mundo de hoje já não é mais o da exaltação pura do erotismo, que é sadia - mas o da permissividade, que conduz ao obsceno e ao pornográfico. Essa permissisdade, sem ser libertação, é a mesma imagem moral da rcpresso. só que vista pelo lado reverso. Existem, porém, os que teniam retomar os caminhos aparentemente perdidos de uma nudez saudável e bonita, paga e sem complexos de culpa que, a meu ver é a trilha da verdadeira moral. Vânia Toledo é uma dessas pessoas, ao pesquisar o nu masculino neste livro de ensaios fotográficos. Qualidades: o bom gosto, mesmo nas fotos propositalmente para chocar os moralistas, como a do ator Antônio Maschio além disso, bom conhecimento técnico e, principalmente, um erotismo que emana naturalmente do fotografado, dispensando stritIo ' ismos ou posturas propositais. Defeitos: uma seleçân um tanto arbitrâria dos modelos, isto é, certa repetição de tipos e caráteres, num livro que pretendia e deveria ' er inai,ahr:ientc. e o titulo é" Ho. mnens" e a proposta e niosirá-los despidos, Liltou, por exemplo, um homem do campo ou uru metalúrgico (eles estão na pauta), um velho, fosse do campo ou da cidade, um polilico ou um alto executivo, etc. etc. As ausências serão compreensiveis se considerarmos as barreiras de uma moral preconceituosa, mas o bom artista tem que tentar superar essas conotaçes burguesas, contestando. Dant iaMIii i; outro defeito, talvez maior, é o da auto. repressão de alguns modelos que parecem ter posado de má vontade, apenas para não se negar à fotógrafa amiga. Ë o caso do Nuno leal Maia, numa foto infelizmente comprometida. Dos nossos atores, talvez seja o Nuno aquele que possui corpo mais bem formado e belo, com a vantagem de que, após os 30 anos como é o seu caso, o corpo masculino ganha zonas de mistérioe de erotismo que poucos jovens têm. Na foto, no entanto, Nuno está "amarrado" e constrangido, como um pecador abandonado com sua eterna culpa a um canto do inferno, P.S.: "Homens" é uma edição da Livraria Editora Cultura. Tem 31 fotos de homens nus e custa ('iS 2.000.00. Pedidos pelo reembolso postal para o Lampião, Caixa Postal 41.031, CEP 20.400, Rio de Janeiro, RJ. 3. Ney Matogrouo -tAIVlrlRUUatsqWna' :.'. ......' * APPAD * associação para narn' da parada da divcrulade Q . '':. ...........- - Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott . G RU POD 1 C N IDADE 1'fREVISTA Na última entrevista de Jean~Paul Sartre, um unico tema: os homossexuais à Já 1, i 1. L L L Li. t 1, h a, . L 1. . . . k. , . Ç , L 4. 1 1' 1 ._Z) '. ;i. . \ r , \\) IJ . /• ________ - , Ilía-. '70 c-lPtÁ bcs€ d' .- ,..-. -Ç, %ASA #fiSW APPAD IIe tia parada tl.t ciiv,ridad, /)c.L fetO (' S-QÂ44 L-( fr) "Minha paixão fr compreender os homens", diz ele. Estamos perfeitamente de acordo. Esta é uma pedra a mais que trazemos para o reconhecimento deste homem entre os homens." (Jean Le Bitoux). O75 fL- - "Minha feminilidade" - Certos personagens masculinos de sua obra, como Mathieu em "Os Caminhos da liberdade'. Requeria em "A Náusea", aio estio muito persuadidos de sus virilidade e se quisdanam sem cessar sobre as relações que mantini em mulheres e os homens. Por qisi? - Porque isso corresponde mais ou menos ao que eu sou, ao que eu me pergunto de mim mesmo. - Poder-se-ia dizer, repetindo Flaubert com seu "Madame Bovsry sou eu", que Roquetin de "A Náusea" e outros personagens de seus romances são de algama maneira mulheres Investidas de homens? - Não, seria exagerado chegar a esse ponto. Não, são homens que têm relaçes sexuais com mulheres, mas que não estão persuadidos de sua virilidade, que não pensam que ser viril é a seus olhos uma qualidade essencial. - Nas seus estudos sobre Flauberi Riudcliii, o senhor insiste nas dificuldades deles pari se situar sexualmente. O senhor chega a ver mesmo'na letra de Fiuubert ou no aspecto de dividi de um Usudelalre uma parte dolorosa de sus as e feminilidade. Essa feminilidade lhe parece importante, essencial mesmo, para compreendi-los? Sem essa parte de feminilidade teria existido um Baudelalre, um Fhsubert, um Mallarnié? - Mallarmé, cm todo caso, tem uma feminilidade de um gênero diferente. Digamos an. tes que lhe falta absolutamente o machismo do hoenn. Quanto a Flaubert e a Baudalaire, é possivel e mesmo muito provável que tenham tido experiências homossexuais. Isso parece certo em relaço a Baudalaire, e durante longos anos flaubert esteve apaixonado por seu amigo Maxime. Existiu portanto, qualquer coisa de feminino tanto num como no outro. - No seu "Baudelalre" parece que o senhor afirma que o escritor adquire urna certa "femInIlidade" porque ele não ganha $ vida entre os homens. Será o ato de escrever antes de lado usa ato feminino? - Não, não antes de tudo. Mas constato que ele se torna cada vez mais feminino. - Será que o componente fcsnlnhso do escritor (1) é o que o faz preferir a companhia das mulheres à dos homens, que o senhor declarou achar aborrecida? - É possível, porque eu não gosto de falar da minha profissão, que aliás é apenas uma profissão. E gosto de falar de assuntos mais livres, mais bem possível que essa seja gratuitos, talvez. uma certa maneira de feminilidade, que me faz preferir as mulheres. pque essa preferência, embora eu também goste das mulheres do ponto É PôgIna 10 *. 1 - _&__ - OL4 4W-a IN .a}flta&. A brilhante publicação homossexual francesa «(;aI Pird" ler com o filósofo .kan-Paul Sartre a última entrevista exclusiva do grande autor. esse documento de suma imparlàneia que 1 ampiao passa agora aos seus leitores, com a devida licença dos companheiros de '(;al PIed". A tradução para o português foi feita por Francisco Itlttencouri. Esta é a noa original que abre a entrevista: 11 1 siamos contentes de poder publicar a coresi. que nos foi concedida por Jean_Paul Sartre a 28 de fevereiro passado. Enquanto Claude fazia esboços do homem ilustre (que festejava naquele mês seu 75? aniversário), ('lhes ecu (cotásanios com nossas perguntas elucidar um misério. Sim, porque notávamos depois de muito tempo que havia um fio negro secreto no longo de sua obra romanesca, de suas peças teatrais e de seus estudos biográficos: a problemática homossexual. Ela está lá, serenteante ou radiosa. como em "Saint Genei", que Sartre considera seu livro melhor acabado. nada entretanto levara a crer na exegese de sua obra, que aliás já é enosme. "Achamos que não nos enganamos: Sartrc, como se será abaixo, tinha muita coisa a dizer sobre o assunto. E ficou claro que ele estava com vontade de escapar de certas fórmulas, de certos coeneniários que já pretendem normalizar sua obra. Foi por isso que ele nos deu esta entrevista, sozinho cem casa. Entrevista, aliás, sem Igual no gênero, porque pela primeira vez homossexuais o inlerrogaram sobre o homossexualismo. Mas (1 Vfrt4 LeL_ (o e de vista erótico, não tem originalmente nada de sexual. E a preferência pela conversação das mulheres. "Escrever É um Ato Solitário" —O senhor vã em Genet uma só salda para o assaae san destino Indecente, que aliás plenamente: escrever. Pode fazer um paralelo ensus condição e o tre o escrever que salva Genet seu escrever que, de acordo com "As Palavras", o teria salvado de sus Infinda? - Não tinha pensado nisso. Digamos que o desenraizamento foi mais duro e mais benéfico para Genet; Genet, criança abandonada, entregue a camponeses e depois preso por roubo. Essa é verdadeiramente unia infftncia trágica para um menino sem pais e que tem de passar pela prisão. E no entanto ele gostava dos camponeses com quem morava, era bastante feliz. Mas, enfim, foi uma infinda trágica. Eu não tive unia infincia trágica. E me arranquei de faro da minha infância porque ela era demasiado cômoda, demasiado protegida. O ato de escrever é de uma grande solidão. Mas há, apesar de tudo, na maneira de escrever de um e de outro uma relação, ainda que o que foi escrito e as circunstâncias de que provêm sejam muito diferentes. - Quando se é levado a escrever é porque se preaseale um destino do qual tentamos nas desente um sembaraçar? No momento em que perigo, começamos i escrever? ele de se LAMPIÃO da Esquina Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott VI GRUPODIGNIDADE IENTREVISTA1 — Talvez. Desde que cientes de que não se saiba qual é perigo. Tenta-se fugir de alguma coisa, sem saber de que, É uma espécie de estado vago. — Em "Saint Ganet" o senhor disse que "escrer ê um meio erótico". Com Isso o senhor quis dizer que o ato de escrever está orientado pra a seduçio, já que é também uma ustaa de tantasmas? — Sim, escrever pode ser isso, pode estar relacionado com a sedução e com o lado erótico em geral daquele que escreve. E assim que é criado o aspecto erótico de gesto de escrever. — O senhor também se Interessou por obras nas quais utaos bem cedo "o poder negro e mágico": Fla.berl, Sade, MaIIarmé e em última lugar Genei. Por que tal £.teres.e, quando em resumo sua obra parece ter uma preocupaçio permanente de convencer pelo raciocínio sólido, pela dialética? - Penso de fato que me interesse pela literatura secreta, e inevitavelmente essa literatura é no essencial erótica, salvo em perloda de opressão social, quando há uma literatura política, igualmente escondida. Mas, vendo bem, as grandes obras secretas 5*0 eróticas. E acho que não se pode compreender a literatura se nio conhecemos tais obras, se essa metade obscura nio estio acesstvel. Aqueles que conhecem apenas Pascal, Saint Simon e Bdleau tem uma visio muito inçoinpleta da literatura. — Mas Ribaud ou Mallirmé Itabam ua preocupaçio de preds*o dialética? — Eles tinham um sentido de precisão, que é muito importante. A precisão para a metade sombria da literatura é tio ou mesmo mais essencial que para a literatura ao sol Há uma precisio nos poemas de Baudetaire que é muito particular, muito sens$vel, há uma precisio quando Genri se conta através dor mitos que ele inventa, todas as imagensa que forja, nas idéias que expressa e a literatura é certamente para ele, como para tantos outros, como para mim, uma coisstruçio precisa que pode ter tudo de vago e de lcmglqüo, todo o trande do sublime, mas que é constantemente precisa e tenta definir uma situação. Foi isso que eu encontrei em Sade e nos escritores negros do século XIX, ainda que com variações: uma espécie de racionalidade negra. "Ilomomexuallsmo: Urna Escolha E,dulendai". — Nor seu "Escritos" há uma pamagem Inédita (2) de "Saint Ge.et" onde o senhor diz: "a literatura, como a pederastla, representa urna salda virtual que se inventa em certas situações e que, em outras, não é sequer pensada, porque eutio fio seria de nenhum auxilio". Por que faz tal comparação? — Ê a propósito de Genet, claro. E depois, eu achava que a maneira pela qual Genes assumiu seu estado quando era prisioneiro, pira praticar realmente o hcencnsexualismo, parece o estado de um homem sem salda, completamente confuso, perdido diante dos outros e que inventa a literatura, isto é, que inventa escrever para encontrar uma salda. Em suma, a vontade de pederastia em Genes, a vontade de tornar-se inteiramente pederasta, de aceitar a violência a que era submetido de vez em quando pelos companheiros de Mettray, e ele queria que a violência fosse aceita, pedida: assim ela deixava de ser violência. Um escritor tenta pensar em liberdade sobre as relações das pessoas entre si e sobre a violência que se fazem. Chega-se a uma espécie de gratuidade, de aceitação e de vontade. - Em "Saint Genet" encontramos esta frase: "Nio se nasce homossexual ou normal, cada um torna-se uma colas ou outra com os acidentes de sua htstória e sua própria reação a esses acluente,". O senhor afirma também: "É uma salda que uma criança encontra ao momento de sufocar". Dizendo isso o senhor aio faz do homossexual o melhor exemplo de sua tese exIstencialista? — Certamente, porque quando tomei a decisão de fazer um prefácio para Genes tomei o homossexual que era Genet como o próprio tipo do homem que se faz numa situação... Finalmente, GeneS é homossexual porque é órtI.o e ladrão, porque ele é feito de roubos. Então, o homossexualismo é uma espécie de retomada de tudo isso e ele tornou-se, como diz, o Ladrão. O ladrão é ao mesmo tempo o pederasta, ou antes, o homossexual. - Por qui? — Eu já expliquei em "Saint Genet". Genes, naturalmente, é um c.so particular; fio se pode dizer o mesmo de qualquer homossexual, nem que todo homossexual é ladrão: isso não quereria dizer nada. Mas esse é ocaso de Genes; quando se deu conta, ele era ladrão, maltratado pelos adultos, jogado numa prisão e enfim encontrou meninos que eram como ele, ladrões, e que o trataram sexualmente corno sitima. Ele não podia mais escapar dessa situação. Tinha caído numa armadilha, estava nas mios de meninos e era sua vitima; a menos que ele tenha querido, para se libertar, ser justamente a vitima. Ele desejava sêlo, como explica mais tarde que há outras pederastias além da passiva. Então ele se entregou para tornar-se o menino que deseja ser apanhado, aquele que se torna um dos componentes essenciais de sua personalidade... Transformou assim uma espécie de derrota — urna captura — em vitória, que passa a desejar. — E quando fio SC é homossexual é por falta de clrcunstinclas? — Não, porque se pode ser poeta sem passar pela homossexualidade. Pode-se fio ser, depende das circunstàncias. Por exemplo, penso que a única saída para Genes era a de tornar-se homossexual. Mas pode-se imaginar circunstáncias igualmente constrangedoras que fio tem essa solução, essa saída sexual. — De Genel o senhor também disse: "Admiro essa criança que se quis assim." Por que uma tal fascinação por essa escolha precoce da rnarginalldade7 — Porque escolha, e escolha precoce Era preciso evidentemente uma escolha de um menino de dez anos, que só pode ser — se ele é profundo — a marginalidade. Ele não pode seguir o caminho dos outros porque já fio seria uma escolha, mas a .imposiçio da torça dos outros. E consequentemente essa escolha pessoal, profunda e rigorosamente individual, com um único fim, é de tato um ato de vontade formidável da pane de urna criança. "Essa Profundidade que o. Heteroasexuala aio — Há um paralelo constante na sua obra entre o fascialo da ordem militar, a recusa da violência e o homossexual em buscas muito simbidicas. Por exemplo, o homossexual DanIel em "O Caminho, da Liberdade" aplaude a entrada das tropas alemãs em Paris. Esta sdea*o á ordens masculina é encontrada em Genet O homossexual na política seda um traidor virtual? — É possível. Não odisse porque em um sentido isso cessou de me interessar. Como eu não era homossexual, não poderia dizé-lo. Poderia tentar pensar sobre o assunto, ou pensar alguma coisa equivalente se eu fosse homossexual. E acho de tato que um homossexual é um traidor em pênda. Mas é preciso compreender muito bem oque isso quer dizer. O traidor é o aspecto negro da coisa, mas o aspecto branco, dourado é o do homossexual tentar ser uma realidade profunda, muito profunda. Ele tenta encontrar uma profun., didade que os heterossexuais não possuem; mas isso também, essa profundidade que ele tenta obter com simplicidade, com clareza, pois bem, o lado negro se apasssa. Existe no homossexual um aspecto negro que o define, que se faz presente para ele e não necessariamente para os outros. — Hitler mandou massacrar os SA em 1934 dizendo que o homossexuaHsmo era perigoso para a ordem social. Stalin tinha acabado de realizar chacinas semelhantes. Será o homossexual o espantalho necessário que é erguido toda vez que um regime quer consolidar seu poder? — Toda vez, não sei. Em todo ocaso é um espantalho que se ergue. Um regime fascista é em geral contra os homossexuais. Só que vocês não devem esquecer que no regime hitlerista havia também o inverso; os Hiltler Jugend eram muitas vezes homossexuais ou, em todo caso, se orientavam em direção ao homossexualismo. Havia os dois aspectos. Tal ambigüidade existe em todos os exemplos de fascismo, cada vez que existem mas- sas retidas, unificadas ou em exercício militar. De qualquer forma há uma tendência ao homossexualismo porque os homens estão sempre juntos, vivem juntos, têm relacionamento mais ou menos íntimo. Há portanto uma ameaça do homossexualismo; digo "ameaça" porque os chefes fascistas sabem que há a homossexualidade que nasce com o fascismo e, eles querendo ao mesmo tempo ser machistas, são contra essa homossexualidade. É a prova que há os dois aspectos e isso cria a contradição profunda de um regime fascista, digamos ditatorial. - Mas esse foi também ocaso de Stalia. — Sim. - Por que não há urna palavra em seus escritor políticos sobre o extermínio de homossexuais por Stalisi e Hitler? — Porque eu nio sabia exatamente de que tipo eram esses massacres. Não sabia se eram sistemáticos, quantas pessoas tinham atingido; não estava certo. Eu podia então reprovar muita coisa nesses ditadores, mas essas justamente eu não podia por não saber. — A que o senhor atribui o tato de não ter conhecimento desses casos históricos? — Os historiadores falam pouco a respeito. O jornal de vocés é feito para denunciar casos desse género. Façam análises de tempos em tempos. - O seu conto "A Infinda de um Chefe", em "O Muro", põe em cena L.cleu Pleurler que, conto "O Conformista" de Mora,1a, eeuss.e a ser homossexual se estagiando as ordem fascista. O senhor pensa que esse é o caso de muitos homossexuais em busca de sólidas referucbu hierárquica? — Não sei. O caso de Lticien Fleurier indica que aquilo a que ele se recusou foi mais a desordem. Ele sentia o homossexual aio como a ordem, mas como a desordem. E com efeito Lucien Fleurier não 6 um homossexual. Ele tem uma tentação, mas é essencialmente heterossexual, aiqda que senha tendências homossexuais. Em todo caso, o desejo de ordem fio parece lhe provir do homossexualismo; ele o sem há multo tempo. "Voeis não devem Aceitar Essa Sociedade Pudibunda" - Em seus romances, certos personagens fazem da sodomia o ato dominador por excelincia, que permite a um homem de subjugar um outro. Franta em "Os Seqüestrados de Mtoaa" declara: "Quando há dois cheias eles têm di se matar, ou então um deles tem se Iranskirmar na mulher do outro." Por que ver na sodomia pastive uma execução capital?. — Isso é um pouco o resultado das impressões que tive e amadureci depois das discussões com Genet. Quando escrevi o liviosobre ele tinha possibilidade de lhe falar, criava minhas hipóteses e as submetia a ele. Às vezes, apesar de suas abjeções. eu mantinha hipóteses, mas de tempos em tempos era ele quem tinha razão. E depois, eu via a coisa assim. Nunca pretendi que cm qualquer circunstincia era assim que era preciso vé-Io, mas na situação de Frantz, jogado no exército pelo. alemães — seus Chefes —. Eu via isso como uma execução. Ele durante todo o tempo submetido a unia execução, e finalmente era a uma execução capital que o submetiam. Digo-lhes que vejo ai um destino possível do homossexual: a sociedade heterossexual o domina e o conduz mais ou menor sorrateiramente para uma execução capital. — O senhor não acha que falta uma anilho Importante sobre o homossexualismo disfarçado que existe na tortura, no esporte e em todas Instituições "aiaacuiinas"? — Acredito sim que o fato existe e que certamente deve ser analisado. — Esse tabu geral que atinge o homoasezualismo aio terá por única origem o terror da sodomia passiva? - Sim, é possível, é mesmo provável. — O Homossexual passivo se oferece e se dá. Para os outros ele então perde toda a dignidade; seria, como o senhor escreveu, "uma mulher hn- ginárla que tem seu prazer com a ausência de prnzer" Por que urna tal descOnsIderaÇão que parece atingir e englobar tanto o homossexual passivo como qualquer mulher que tenha relações beirrossezuais? — Leiam Genet: é ele quem dá essa impressão. E ele quem diz que não tem prazer; ele o procura mas não encontra. E quando se transfere a esse papel artificial do homossexual ativo, passa a desprezar um pouco os homossexuais passivos, embora considere a homossexualidade passiva como a verdadeira homossexualidade. Para ele, é ela que conta: a outra, é uma homossexualidade à que se chega, onde o homossexual fica ativo depois deter sido realmente homossexual passivo. E nisso eu me fio em Genet, pois era dele que estava falando. — O senhor acredita realmente que toda sodomia passiva cria uma auséncla de prazer? — Não há razão para isso. Mas é certo que Genei não parece ter tido grande prazer. — Em 1910, como o senhor vé o status social dou homossexuais: essa minoria pode ser absorvida pela hipócrita liberalização de costumes? — Não. Penso que no momento ela tem de ficar bastante isolada, de permanecer um grupo dentro da sociedade pudibunda, um grupo separado que não pode se fundir com essa sociedade, que ela não deve aceitar mas, ao contrário, de certo modo, odiar. Os homossexuais não devem aceitá-la, mas a única coisa que podem espai-ar, em certos Estados, é uma espécie de espaço livre onde lhe seja permitido se reunirem, corno nos Estados Unidos, por exemplo. - Entrevista feita por kaa Li Bltoux e GUies Barbedette em Paris, em 2$2J0 Desenho de aaude Lochu. Todos direitos de reprodução reservados ao "Gal PIed". 1. "Sempre acrediteI que há em mim uma espécie de mulher", entrevista com Simone de Beauvolr ('Sltuations X", Gsllimard, 1975). 2. in "Les Ecrits de Sartre", por M. Contat e Rybal. ka (Gallimard, 1976). "Eu sou um pederasta, se diz e. sente-se des moronar com isso. - Levanta, Lucien, grita-lhe a mãe pela porta fechada, tens escola hoje. — Sim, mamãe, responde Lucien docilmente ( ... ) Era cri- APPAD * da pai adi da tlIver\ldadl "Temendo ser visto, Baudelalre se impõe aos olhares. Espantam-se as pessoas de que ele tenha às vezes o aspecto de uma mulher e se procura nele os traços de uma homossexualidade que nunca se manifestou. Mas é preciso que se diga que a "feminilidade" resulta da condição, não do sexo. ( . .. ) Quando ele sai, fantasiado como se forse uma caça. trata-se de uma verdadeira cccimânia; é preciso proteger suas roupas, saltitar entre os charcos d'água; ( ... ) enquanto gravemente realiza os mil pequenos ates impotentes de seu sacerdócio, ele se sente penetrado, possuído pelos outros. ( ... ) Mas um homem-mulher não é necessariamente um homossexual. A passividade de objeto sob os olhares, que ele tenta compensar com urna composição cuidadosa de seus gestor e de sua maneira de vestir, lhe dá um prazer que talvez ele tenha transformado de vez em quando, em seus sonhos, numa outra passividade: a de seu corpo sob um desejo masculino. Dai, sem dúvida, ,,s eternas e mentirosas acusações de pcdem-astia que ele carrega contra si mesmo." (Bandoleira, 1946, Gailimard e col. Poche/ldées. Páginas 193 e 95.) "É preciso que o pederasta permaneça um objeto, flor, inseto, habitante da antiga Sodoma ou da longínqua Urano, autômato que salta á luz do palco, tudo o que quisermos exceto meu próximo, exceto minha imagem, exceto eu mesmo. Porque é preciso escolher: se todo o homem é o homem, é preciso que esse transviado seja apenas um seixo, ou entioele seja eu..." (Paginas 648 a 649) "Lendo Genet ficamos tentados de nos perguntar: Um pederasta existe? Pensa? Julga, nos julga, nos V6? Se ele existe, tudo muda: se a pederastia é a escolha de uma consciência, ela torna-se uma possibilidade humana. O Homem éi pederasta, ladrão e traidor. Quem negar isso po de renunciar aos seus mais belos louros: foi porque você gostou de furar a barreira do som com aquele aviador, e com ele. Vocé fez recuar os limites das possibilidades humanas e, quando ele aparece, Você se aclama a si próprio. Não vejo nada de mal:; toda a aventura humana, por mais singular que possa parecer, compromete a humanidade inteira." "O cume é a feminilidade secreta dos homens, sua passividade. " (Página 508) "Genei se entrega... a crises catárticas que reproduzem e elevam ao sublime o primeiro encantamento: o ciúme, a execução capital, a poesia, o orgasmo, o homossexualismo. " (Página 12) (Saint Genel — Comédien ei Marti —, Gallimard, reeditado em 1978) "Gavi: Como os homossexuais ainda são uma minoria, ninguém os toca. Por isso quero saber o que pensas disso. - Sartre: A tua pergunta é difícil, porque o movimento homossexual não é popular. Se fizermos no jornal artigos sobre o homossexualismo, receberemos muitas cartas de leitores que tio completamente contra. Não temos como tirar um denominador comum. Quando tivermos 25 ou 30 cartas de leitores que nos dirão: o homossexualismo é horrível, ele é contra a luta de classes, e do outro lado uma ou duas do FHAR, de que forma fundir as duas opiniões? E nota que, de um certo ponto de vista, os que dirão que são contra a Luta de classes não estarão totalmente errados. Esse era o caso até agora, atualmente a coisa mudou, mas... ( ... ) Não se trata de sair gritando "Viva os homossexuais". Pessoalmente eu não posso fazer isso, já que não sou homossexual. Trata-se de mostrar aos leitores do jornal que os homossexuais têm o direito de viver e de serem respeitados como qualquer outra pessoa." (Ou a raison de se ris'olter. 1974. Debate para a fundação do diário Ubération. Páginas II 1J7. Gallimard, col. La France Suavage). • 5a LAMPIÃO Assine agora. Página 11 LAMPIÃO da Esquina J5'.(I(i.IÇ.IU I)riII1r1se graçado — Lucien sorri com amargura — podiase perguntar por dias inteiros: scsstinteligente,es- tirei me enganando,aesn jamais chêgar * uma conclusão? E ao lado disso havia as etiquetas que você se pregava um belo dia e era depois obrigado a levá-las pelo resto da vida: por exemplo, Lucien era alto e loiro, lembrava o pai, era filho único e, desde ontem, ora um pederasta. Diriam dele: "É o Fleurier, aquele sitio loiro que gosta de homau." E as pessoas responderiam: "Sei, sim. Aquela bichana' grandalhoni? Sei muito bem quem é." 1. — O termo pederasta 6 para Sartre, corno para os de sua geração, empregado mais seguidamente em lugar de homossexual. (Li 1937, Gallitnard e Poche, páginas 206 a ;, *1 Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott VI GRUPODIGNIDADE 1 ESQUINA 1 Nossas mulheres em Copenhague "Fadas companheiras as mulheres do Aué!Rio e do Sumos/Rio, grupos homossexuais organizado., vem se juntar às suas irmãs, na luta comum pro'seus direitos específicos. já que este é o caminho de toda mulher - pratique ela atos homossexuais, heterossexuais, ou ambos. "Nosso pais, além dos conflitos gerados por uma sociedade machista patriarcal, de causas seculares, ainda enfrenta um grave problema que é a enorme miséria sofrida pela maioria da população. Então. a luta faninsta tem se ser simultânea a das classes oprimidas. Para nós, no aitanto duas são fundamentais: dentro da atual realidade brasileira, acreditamos que. a par de uma transformação poli ico. econômica, e indispensável uma mudança ideológica que permita cada mulher ter direito ao seu prazer, ao seu tipo de sexualidade. o acesso aos meios contraceptivos e não-reprodutivos, se assim deser, mesmo que esta atitude seja contrária aos propósitos de uma sociedade preocupada tão-somente com seus int'esses mais imediatos. 'Muitas mulheres com vivência homossexual têm filhos, sentindo, portanto. todos os problemas inerentes às desquitadas ou mães solteiras e sendo duplamente discriminadas. Assim, a sexualidade não é apertas a reivindicação de um direito indis,dual, mas também social. já que o sistema a reprime e a controla, de acta-do com seus proposirus. mane jando o moralismo corno arma polttica. "Procuramos debater nossa sexualidade não com uma visão reformista. mas revolucfl)Tláfla, na medida em que estamos introduzindo um novo discurso poiltico itt) falarmos do específico, domdisulual. sem ficarmos apenas na teorização generica de temas abstratos, conduta que só serviu ate ho j e para nos oprimir. Não nos interessa. portanto, a mera aceitação e adaptação nesta sociedade injusta e anti-democrática: queremos. exatamente, e a mudança dela, tanto em sua esirul ura quanto no seu arcabouço ideológico. "Querc-nios não uma reprodução de papéis, tão a repetição de relaçóes autoritárias entre dominador e dominado, mas a com soentização da mulher atrases ti seu c'.trpo. inclusive com resposta a padrões de comportamento que lhes são diariamente impostos. "E as mulhéres de todo mundo iam de estar unidos na busca de sua identidade, caminho longo e árduo, mas fundamental para encontrarmos uma solução terdadeiramente feminista e libertária pai a nossa liberação e emancipação" Esse foi o documento que as mulheres do grupo AUË/RIO (através de Leda) e as do grupo SOMOS/RI (através de Dolores) entregaram à Lélia GonzaieL, para ser lesado a Kopenhagen. Eis a conversa das três: LEILA - Lélia, exatamente o que é esse aicontrona Dinamarca? LËLIA - Nós vamos ter a Conferência Mundial da Década do Ano Internacional da Mulher, organizado pela ONU. DO1,ORES - De quando a quando? LELIA - De 14 a 30 de julho, com apresença dos representantes de cada pais. Agora, paralelamente á Conferência, ocorrerá o "Forum das Organizações Não-Governamentais", sobre o tema: "Igualdade. Desenvolvimento e Pai", abrangendo como subtemas: "Educação. Saúde e Emprego". Racismo e Sexismo" (incluindo o apartheid), "Migrantes. Refugiados e Família—. LEILA - E qual a sua participação neste Forum? LÉLIA - Eu faço parte do comitê de organi ização do For um. que vai coordenar, indusive, o painel sobre racismo, sexismo e aparthetd. Na parte de sexismo, e claro que discutirei amplamente a questao do homossexualismo e lerei a carta de vocês. DOLORES - Do Brasil é só você quem vai? LELIA - Eu estou sabendo que outras mulheres irão por conta própria, mas a única convidada oficial e dentro da organização do Fórum sou au, que fui a todas as reuniões preparaiorla.s na Suíça. Canadá, Finlândia, França e Estados Unidos. LEILA - Tantas assim?... Então há quanto tempo socas estão organizando esta conferência? LËLIA - Bonn, ela ficou estabelecida desde a Comemoração do Ano Internacional da Mulher, que foi em 75. Como estamos no começo da década, ela vai servir para se fazer um balanço do o que correu com a mulher nestes cinco últimos anos So nos restou desejar boa sorte à nossa companhef'ra Lélia Gonzalez, que, inclusive, foi escolhida como patrona da Turma de História da IFICS da UFRJ, com solenidade de entrega de diplomas marcada para 29 de julho, às 14:00 horas, na faculdade do Largo de S. Francisco, no Rio. Bom se frisar que é a primeira vez num sistema universitário racista que acontece fato deste tipo com uma mulher negra, homenagem aliás merecidíssima. diga-se de passagem... lLdla Mkcolia. Escolha Seu Grupo "GOLS" - ABC - Grupo Opção À Liberdade Sexual - Caixa Postal 426, Santo Andrd, SP— CEP09.000. GATHO - Grupo de Atuação Homossexual/PE - Centro Luiz Freire, rua 27 dejaneiro. Carmo, Olinda, PE— CEP 53.000. NOS TAMBÉM/PB - Rua Orris Soares, 51. Castelo Branco, João Pessoa, Paraiba— CEP58,000. AIJ/Recjfe - Rua Francisco Soares Canha, Quadra 2. Bloco 5. api° 301. 2 andar. Curado III, Jaboatão, Pernambuco— CEP 54.000. GRUPO GAY DA BAHIA - Caixa Postal 2552, Salvador, Bahia - CEP 40.000. TERCEIRO ATO/BH - Caixa Postal 1720, Belo Horizonte, Minas Gerais CEP 30.000. ,BEIJO LIVRE/ Brasília - Caixa Postal 070812, Brasilia, DF - CEP 70.000. 'SOMOS/RJ - Caixa Postal 3356. Rio deJaneiro. RJ - CEP 20.100. AUÊ/RJ - Caixa Postal 16218125029165022, Rio de Janeiro, Ad - CEP 20 .000. SOMOS/Sorocaba - Rua Fuad Bachir Abdala. 53 apt? 31, Sorocaba, SP— CEP 18.100. LIBERTOS/Guerulhos - Caixa Postal 132. Guarulhos, SP - CEP 07.000. GRUPO DE SANTO ANDRE— Caixa Postal 426, Santo André, SP - CEP 09.000. GRUPO LÉSBICO-FEMINISTA/SP - Caixa Postal 293, São Paulo, SP CEPO1 .000. EROS/SP— Caixa Postal 5140, São Paulo, SP - CEPO1 .000. SOMOS/SP - Caixa Postal 22196, São Paulo, SP— CEP 01 .000. FRAÇ ÃO HOMOSSEXUAL DA CONVERGÊNCIA SOCIALISTA/SP Av. Afonso Bovero, 815, Vila Pompóla, São Paulo, SP— CEPO5.019. GRUPO OUTRA COISA/SP - Caixa Postal 8906, São Paulo, SP - CEP 01 000 Atenção turmas de Porto Alegre e Goiânia Quem estiver a fim de formar um grupo nestas cidades, basta entrar em contato com o seguinte pessoal: Porto Alegre - Grupo Feminista"Costela de Adão", Caixa Postal 10.056 Porto Alegre - AS - CEP 90.000 e Goiânia— Tom, Caixa Postal 10.047 Goiàrtia - Goiás - CEP: 74.000. Este pessoal tem mil dicas e informações para passar. Entre nesta testa!!! ^h . ** APPAD t da parada da tlivrrsiilidi' PdOJLÔ SENHOR, boa situação, procura homem jovem e bonito para compromisso sério. N.Del - Caixa Postal 070063 Brasília - D. F. - CEP 70.000. LOIRO acastanhado, 1,76sn, 19 ano., 58Kg, deseja corresponder-se com rapazes de idade igual ou pouco mais, para troca d idéias e bom relacionamento. Reglnaldo Palha - Estrada Capineira, 16 - Barro. Filho - Rio de Janeiro - Ri —CEP 21510. ESTILISTA em moda, bonito, 24 ano., claro de olhos verdes acinzentado.. Moro só. Devido compromissos atendo telefonemas a partir das 23:00h. Viiee - DDD (0473) 551220 —Brusque. SC. MULATO, 32 ano., nível superior, 1,70m, 57Kg, discreto, deseja se corresponder com pessoas do mesmo sexo, que curta a vida com Inteligência, para fulura amizade. Oaudlonor de Souza Filho - Rua Navarro, 985 - Catumbi - Rio de Janeiro, Ri CEP 20521. PAULISTANA. 22 anos, estudante Quero corresponder-me com você. Elisa da Glória —Rua Jahoticabal, 670 - São Paulo, SP - CEP 03188. UNIVERSITÁRIO. 28 ano., moreno claro, 1,*0m, 70Kg, olhos cor de mel, barbudo, gostaria de se corresponder com Iampiõnlcos acima de 35 anca, morenos e de cabelos grisalho, para amizade e algo mais. L.L. .- ('alva Postal 65086 - Rio de Ja' .'nelro,RJ— C'EP2OII5. RAPAZ, guei, discreto. gosta de pintar e entalhar. 30 anos, 1,88m, 90K&, deseja corresponder-se com rapazes guris para futura amizade. Pedro Celso Miranda Coelho - Rua Manuel de Almeida Belo, 475 - Bairro Novo - Otinda PE - CEP 53000. SENHOR. 50 anos, aparência e espirito jovem, procura amizade sincera de rapaz ativo, bem dotado, que acredite no amor. Carta franca e desinibida com foto que será devolvida. Eduardo Santo. - Caixa Postal 8879 - São Paulo, SP - CEP 03033. GUEI passivo, deseja se corresponder com rapazes até 28 ano., sem preconceitos. Sou moreno, cabelos e olhos castanhos, 1,63m. 53Kg. - amante de natureza e de todo tipo de arte brasileira. Divino Alves Sitio Betelii, 1709 - Bairro Medeiros Itupeva, São Paulo - CEP 13210. JOVEM universitária, apaixonadamente viva, pede as mulheres que se comuniquem com foto. na 1 carta. Mônica - Rua Areal de Baixo, 511 - Largo 2 de Julho - Salvador, BA - CEP 40000. RAPAZ, 30 anca, simpático, boa aparência, gostaria de manter correspondência com rapazes bem dotados de todo pais. Foto na P carta. José C. Silveira Caixa Postal 1423 - Belo Horizonte, MG CEP 30000. CARIOCA, 28 anos, 1,81m, descendente de italinos e portugueses, discreto, desejo corresponder-me com gueis discretos, ecoscientizados de que ser homossexual é ser multo mais homem do que muitos heteros que existem por ai. Ser guei é ter cuca. Temos muito o que conversar. Paulo Cesar Albini - Caixa Postal 040384 - Brasília, D.F. - CEP 70300. ENTENDIDO, tímido, discreto, cabelos loiros encaracoladas, olhos castanho. esverdeados, 18 anos. romântico. carinhoso. Gostaria de correspondência com rapazes entendidos, com Idade superior, que sejam românticos, carinhosos e acima de tudo discretos. Foto na 1 carta. Filas G. de oliveira, Rua Estado. Unido., 388, Jardim I5aullsta - São Paulo, SP - CEP 01427 .!4,12 Troca • CRITICO do sistema social, universitário, 27 anos, discreto, culto. 1,8Im, 79Kg, deseja selecionar amizades entre pessoas discretas. Peço caraciertaticas gerais na 1' carta. R.tso - Caixa Postal 2998 - Cii. ritiba, PR - CEP 80000. GRINGO, 25 anos, cabelos claros e olhos azuis, discreto, intelectual e sem preconceitos raciais, deseja trocar cartas e idéias com jovens brasileiro. até 30 anca, sobre artes visuais, literatura, amizade e que sejam sinceros e discretas, autênticos e sem Interesses financeiros. Foto na 1 carta. Denis 10. - Caixa Postal 4515 - Rio de Janeiro, Ri - CEP 20100. SOLITÁRIO. Jovem entendido, culio, sensível e romântico, deseja manter correspondência com entendidos para fins afetivo. sinceros e duradouros. Geraldo Mello Rua Panamá, 70 - Penha, Rio de Janeiro, Ri - CEP 21020. ESTAMOS AL pira o que der e vier e para o que vier e der. Escreva-me por favor. Qualquer idade, sexo ou cor. Fotografias da alma na Ir carta. Jean D. Lavil - Caixa Postal 2.149 - São Paulo, SP - (V.P. 02,051. lAÇOS DE AMIZADE. Desejo corresponder-me com rapazes ativos e entendidos, que possuam boa formação pessoal e cultural, capazes de formar um verdadeiro laço de amizade. Jeremias de Souza, 40 anos. 1,72m, moreno claro. Rua Evarlato da Veiga. 16-A - Centro, Rio de Janeiro. Ri —('EP. 20031. PROFESSOR de nível universitário, solteiro, 48 ano., procura amigo, de preferência de Curitiba - PR, até 35 ano., solteiro, de profissão definida e que sinta necessidade de amizade e Intercâmbio cultural. Marcelino da Cruz - a/e do agente do correio - Conselheiro Malrink, PR - CEP 86.480. UTILIDADE SOCORRO gays executivos desta terra!t Preciso de um trabalho. Quero sobreviver as agruras do sistema. Gordon Rui Braga, 168 - Penha, Rio de Janeiro, RJ_CEP 21.011. MAQUIADOR - Filmes: super 8, curta e longa. Maquiagem para modelos, comercial, foto.. Luiz - Tel. 246-4180, BIP 3IJK - Rio de Janeiro. 2? GRAU - CONTABILIDADE. Emprego de escritório ou não. Algo que dê futura estabilidade e acima de tudo uma chance para vencer. Pedro Paulo Ignáclo da Silva. Rua Carlos Marques de Castro, 50 Vila Torina, São João do Mcdli, Ri - CEP 25.500. MOTORISTA PARTICULAR mulher de 22 anos, experiência, cultura e aparência razoáveis. 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A sombra cúmplice e aconchegante das árvores e ao conforto dos bancos de madeira do tamanho de uma cama. Essa avenida já é conhecida há anos como o ponto guri central de Golinla. Pira quem faz o gênero discreto existe a "rua de lazer" perto do cine Casablanca, onde tem também uma casa de diversões eletrônicas Ireqentada por diversões menos elelrõsilcas, todos multo acessíveis. As galerias dos tines Ouro e Capir tapsbém não ficam atrás. Ela Campinas a praça da matriz e a Avenida 24 de Outubro oferecem multas opções para quem prefere o "boi ao ponto" ou o "mlchê" amador. Se você tem Mio, até mesmo os pontos de lisilbus servem. Se você tem carro, parabéns! Em troca de uma carona pode-se conseguir muito. Os hotéis Sanou Antoninho e Sayonara, no centro, aceitam dois homem ou duas mulheres por algumas horas a (ri 120,00 cada um. Nas imediações da estação rodoviária a hotéis e pensões mais modestas aceitam pares sem pedir documentos, a preços razoáveis. O Cate Central é rico de opções, a partir dos garçons. Idem a vizinha Pastelaria Real. Ambiente tipica mente entendido é o Bakukiê, meio distante, mas sempre cheio e bem frequentado. Alguns dias tem sho',v e é costumeiro ver-se grupos de amadores animando o ambiente com violão e alabaques. Lá também se come boa comida e, na quarta-fira, a casa enche e se anima. Mas o ponto alto da noite guri goiana é o Monks I)rinks, na Avenida Anhanguera. Ambiente acolhedor, simples e muito gostoso. A proprietária e maitre ofenda é uma pessoa fabulosa, que tem como máxima que "o casal de guris se síniS à vontade'. LA é o único lugar exclusivamenle guei em Goiânia. Tem reservado onde se pode dançar ao som de FM, di giro ou fita, tudo A meia luz, muito gostoso. Dizem que é Impossivel chegar li sozinho e sair sõ. A poria, um verdadeiro contingente de boles, bichas, lésbicas, etc. esperam por você. 4 Tom). artistas, jornalistas e politicos num papo alcoolico até de manhã. t facílimo tile acompanhado dali. O que os paraenses reclamam é do tamanho do banhelrot t"olco pequeno para tanta geme, O Stop, ja la: indo um gàso mais fino, é mdi,cutivelmenie o melhor da cidade. Invariavelmente o gav paraense da uma passadinha no Stop lá pelas dez da noite pira bater um papo ou na esperança de algum turista do,avisado, Ji que entre eles fica difícil um relacionamento mais profundo por já se conhecerem de longa data. No caminho para lcosesto nd g e a única boate gav de Belém. que praticamente só funciona nos Uni de semana, a" Marcos". Lá você vi gente de todos os niveli e condições sociais . se divertir num calor Insuportável mas longe dos olhares onrloaos dos heteroa. Promoções aio feitas tala como MiasBrasil gay, desfile disso, dealie daquilo para atrair o gay com maio, poder aqui' Ruddy, o 'coiffeur", agora poeta Esse rapaz aí do lado muita gente manja: é o Ruddy, mLflr capaz de pegar a cabeça mais quadrada do mundo e transformar numa coisa interessante. Tudo isso porque ele nãó é apenas um cabeleireiro; é um artista. Quem duvidar, que leia "Eu Ruddy", livro que de lançará no dia l8deagcsto, às 20h, na Galeria Saramenha, ao Shopping Center da Gávea. O livro reúne poemas que de escreve há 15 anos. o uma espécie de catarse, sem maiores pretensões. Estes poemas chegaram às mia de Pa're*ra Guilar, que descobriu - e apadrinhou - o poet&Rudyy que agora chega às livrarias. LAMPIÃO estará presente no lançamento e Rudyy estará no Lampa no próximo número: ele já combinou conosco uma entrevista na qual promete "contar tudd'. O que, em se tratando de Rudy, podem acreditar: é muita coisa. Você não pode conhecer Belém um dar uma passadlnha nos aras dois pilacipila balneárlost o Mosqueiro, a uma hora de carro, onde, onquiato você toma banho de rio, pode apreciar mos e rapazes fazendo o top e o bônonleas, mesmo mLindo em carro, que peusam a razoável sdocidada. E Salinas a ires horas de carro, onde você coloca em aulomó'sd na praia e curte ai ddidis de um local maravilhoso, com ama vida gay iatossi. Ê importante que você demonstre ao paraense não ser da cidade, o que Use faskarI um relacionamento mala profundo. O medo que os amigos saibam ou que a Isnalila venha, sabor os mas transações é bastante import an t e para o paraense. No mais, é você conhecer 'dgum gay pela cidade (é bastante fácil i, sair de [ancha pelo rio GuemI e curtir as delícias de uma bonita, aberta e bem transada. (José Fernando Rastos). Receba este rapaz em sua casa Belém isaim cidade com quase um milhão de hahitantos, situada no esbremo norte do pais, me surpreendeu de uma maneira bastante favorável. Fora do eixo Rio-São Paulo não me recordo de outra cidade brasileira leconheço multasi onde o gay seje tio bem aceito pela alta burguesia como em Belém. Desde que não se proclame homossexual. o gav paraense é aceito em qualquer parte da cidade, em qualquer local. Os ricaços e de famílias tradicionais podem ser encontrados ato lace Clube e nas boates chamadas mistas da cidade como o Signo e a Gemini. Como em qualquer cidade que se preza, Baleni tem em seus poucos e desconlon Iseis cinemas um motivo a mais para uma pegaçio desenireada, principalmente no cine Nazaré, situado em Isente à famosa Igreja. Muitos tomam cuidado, como diz o folclórico Reja Guntus,, figura das mala populares do local: "não 1ka bem sermos '.btos entrando nasce cinema ou passando por essa praça á noite". A preocupação em esconder • preferência sexual é uma constante em Belém. embora os gavs consisam com os hetero numa boa, desde como já disse, que possuam um certo si ou',. Afinal de contas, é mais fadi expulsar uma bichinha desconhecida do late Clube como acontecesci do que colocar pra fora figuras da sociedade tocai. Em relação aos bares, o mais conhecido é o Rir do Parque, o. avenida Presidente Vargas, em fronte ao Teatro da Paz. Funcionando vinte e quat,ç hr s . por , 4i:d i lisie. obsrnil,íuii - Iniciamos com esta belissim a serigrafia de Luiz Beltrame o lançamento de uma série de trabalhos eróticos, na mesma técnica, dos mais famosos artistas nacionais. Lampião está cada vez mais Interessado no surgimento de uma ver- dadeira e sadia cultura guei entra nós. Luiz Beitrame nasceu no Rio Grande do Sul e afinou sua sensibilidade estudando durante quase dois anos numa universidade da India. Foi de lá que ele trouxe esse risco que é ao mesmo tempo lânguido e firme, atemporal e presente como forma sensual e acabada. Nos desenhos de Beitrame há mais erotismo do que pode imaginar a nossa fantasia. Enriqueça sua coleção -de arte, taça agora mesmo um pedido de reembolso postal para Esquina Editora de Livros, Jornais e Revistas Ltda, de uma serigrafia de Luiz Beltrame. Esta é uma edição restrita e vendida exclusivamente por nosso jornal. Apenas Cr$ 1.000,00 a unidade, mas Cr$ 100,00 de despesas de correios. ,pã4T ná 13 LAMPIÃO da Esquina ** APPAD it da parada da diversidadt- Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Motit CRU PODIGNIDADE REPORTAGEM A incrível metamorfose de Andrea Caspareny Quando na reunido de pauta deste número de LAMPIÃO, ficou decidido que eu faria uran reportagem Andrea Casp.relly, fiquei emoritmadimimo, pcs.s $ tinha imaginado fazes tudo, menos estar lado a lado, na intimidade, com uma das maiores estrelas do Show Gay Brasileiro. Senti-me como um daqueles grandes txumstai do "Variety' de Ho&I~ que vive cada momento de seu entrevistado. Depois de alguns ccotatcz,.nlarcamos um coomito na redação do jorval, o que me valeu um grande bolo. Desesperado, sal a cata de Andres pela noite da Lapa, pu dela dependia meu sofrido salino deste mes, ou seja, olát e dos meus garotos (cruzesi ! 1). Fui encontrá-la no final do show do Casanos'a, por volta das tres horas da madrugada de um sábado. Faltavam dois dias para quç eu astree meu trabalho mi o ai" editor do Limpa. O jeito foi eu me mandar pra casa de Andrea. àquela hri'a da madrugada, e pela manhã tentar extrair alguns depoimentos. E lá vou eu pra Realengo, subúrbio do Rio, junto *n Ana Karina Berg e o maravilhoso caso de Andrés. Estava disposto a só sair de IA cem meu trabalho concluído. Pela manhA, fui recepcionado pelas bichas que moram na mesma vila de Andrea - por sinal maravilhosas, beijo pra vvcial Tentei iniciar logo o meu trabalho, mas fui interrompida por dota convites: um para ficar e almoçar o Pessoal e outro para ir até Bangu e ajudar afazer a feira pro almoço. Não pude resistir ao primeiro convite e nem recusar o segundo. Pegamos as bolsas de supermercado e temos para Bangu fazer nossa ferinha. No caminho fiquei estarrecido cem a bdarada do lugar; é algo maravilhoso. E quanto aos garotinhas que pintaram, nem se comparam om os parafinados ipanemenses, fiquei em "lrgaamui preaxis". Na volta me propus a ajudar na cozinha. Já Imaginaram quantos jornalistas podem dizer por ai que, por exemplo, ajudaram Emilinha Borba ou Lixa Soares a fazer almoço? Nau Anttiio Cbrysóslotno, cem toda a sua in' Umidade cem os astros chegou a este estágio. Pois bem, amanhã ou depois, quando los' requisitada uma biografia de Andrea Caspsrelly, lá estarei eu figurando como o audacioso jornalista que ajudou a estrelissima a preparar seu reputo. Ah! Quanta emoçio numa única reportagem! 1! Decidi por descascar batatas. algo que laço muito bem. Depois de vi-la caracterizando Gal Costa como ninguém - dizem as mais audaciosas que seu trabalho é tio perfeito que até parece que Gil é quem faz a dublagem de Andrea Caspsrelly -, e assistir seu avesso no Bifio ou no Casanova. haja coração para té-la ao meu lado, respondendc As minhas perguntas, avidamente. Mis vamos ao que interessa. Do S.b4rblo Para a Lapa Andrea Casparelly ou melhor. André Marcilio Parreira, sua verdadeira identidade, nasceu em Oawildo Cruz há 25 anos. Criado no ambiente aconchegante de ruas não poluídas e menos movimentadas do subúrbio do Rio, cameçou a expressar-se através da arte bem cedo. Por volta dos 9 anos foi matriculado numa escola de música onde começou a estudar piano e acordeio. e $ nessa idade pensava em um dia estar num recital ou fazer um show seu. Aos 14 anos, devido as dificuldades financeiras, foi obrigado a trabalhar e estudar à noite, tendo que largar seus estudos musicais. As osperanças de um dia poder ser conhecido por seu trabalho não se apagaram por muito tempo. Por volta de 1966 conhece seu grande amigo Paulo Roberto, a não menos conhecida Ana Karina Berg, que nesta época fazia teatro amador e convidou André para fazer alguns esquctes em clubes e teatros do subúrbio. t Eai astaitsem Aia K.arlua que ocmac.t faha cansAra, pois lei da quem me lançoa ia molo artístico py. Eu .uaea havia mo vustUo da malhar, quaado fui cia,ld.do para pardsr de me so am Ira», ?sa l.iab. a, karina mediu a maine tospa, . ia quis satio aiI o travfa Ido pua dr, acabai balho. ,caodo, p.rttdp.r de saires cofficaraw% Nesta epoca André iÕ desfilava, quando um dia o travesti une, falando cem Kanlna, disse que não tinha sentido eles as vlrsin de mulher al para dotrtlsr. e perguntou porque eles não co- L meçavam a fazer akow. André explica qual foi sua reação: "Karfaa foi e coavaraca comigo, ai ia do.u, que aio iliba nada a ver eu taan sbow, pesque rmlmsate es aio queria continuar a fazer trasisil, «a só um período de curdçdo sphsmiais. Na mesma iioos os c.d Fraik Caa• parsly, que ficou asado em caso foi deie que ia aproveitei o Caap.rdly. Atece que comoçou a maine giesTa, assim que ia fiquei de caso de. As pessoas de usa ceu4vlo aavam que eie iliba stattl no mundo gay e ia aio tinha. Bbs aáavme qu* es tinha que ter .m ame., ar conisacido que usa êa, mas os aio tinha". Devido à barra, André resolve mostrar às pessoas que também poderia ser alguém conhecido, se quisesse. e partiu para a proposta de Jane. Seu primiero show foi numa churrascaria na subida da serra Grajaú-Jacarepaguá: "Minha paim*a apre.açio tal mesa charrascaíria, aio me rusdo o ames, ame ihow sada todo o dsacss, de trausatis, dublava aia fui a mala atne,Idi e quis aspar cantando umas minlosa do Rob..io Carlos. Foi o fracaaao total. AI os vi que meta, aio tinha nada a ver comigo, • p.rd para a Mais tarde, por ocastio do concurso Boneca Super Star, no Cassino Bangu, em 76, conversando oxu o organizador da festa, André pede uma chance para lazer um trabalho. 'E eia dli.. tudo bom, ai ia partir para daNar Skbisy Isaisy, a pábico me ~ou de oma maa*a Impres.lo.aata. Eu ciaisgul saodoaar multa go eia aso fiquei multo .adoaado". Durante um bom tempo André dubla Shirley Bassey, e nesse período orm.çam a surgir ci umtratos; Andrea Casparelly sal do subúrbio e ueça a transar seu trabalho no Centro e na Zona Sul. "Então Pudeinho Mandas me co.vbla paraInangurar a Bá. Zazatrusta, ia Praga MiaS, • fiquei um bom to lá". Sendo umvidido para organizar uma festa na Beija Flor, Andrei entra au contato Georgi a Borgaslan, que a convida para participar de um especial na Solte ig-Zaag. noLeblcas. "Mala tardas. tal amvldada per Gsagla., am'amte, para pardilpar do Co~ Pifli. lesa Nnets, ondo eia «a raspomável - negaulsaçio do sisow. Bailo on teria que dublar uma cantera e fazer a cineimizaçio de outra. Foi .1 que pintou a Gal Costa., .me 7$, quando eia graves Tigresa. FOTOS: CYNTHIA MARTINS A partir dome trabalho com.csi a aperfeiçoar a ciructeiliaçio e fiquei me bom sapo taxando Gal. De Cal Costa À NáedoAvstso. Aos poucos o nome de Andros Casp.rdly passa a figurar entre a relação dos melhores atores transformistas. Seu sucesso chega ao ponto de lotar sucessivas casas por onde se apresenta. Torna-se raro a estréia de um show ou casa noturna gay, sem que a presença de Andres seja confirmada. Ao ser designada pata receber o Oscar Gay de 79, soube de antemão que Gil Costa e Maria Bethinia estariam presentes na platéia. "AI ia copiei a roupa de Gil e me apruomiei com Genegla Bargaslos, fazosdo "Sambo Mia'. Eu fazia Gal e Gomgts , B.tbA A piõpda Cal escandalizada, • subiu ao palco »nto mau Bo. e ai doas as. abraçam= • pergUntaram as a roupa que ia ostiva usando havia sido pega ao oamazbn tia Gel Eu atava acópia flui dde". Surge a Gayfiara e Andrea é chamada para inaugurar a casa e faz uma temporada caracterizando Gil. Agora au Cai Tropical. Um dia havia tarasliado a minha tsapor.da ia fieira, ostio fui de rapazinho pra car*, alguém. O André também pradaa domas caísse. Foi quando conheci o AdioAcostspe.soaimás, asa estar ita,uaddo. Cheguil para eie e pargua. tei Tudo bem vo Eis me comprimantou como w ia tossa me qualquer, 5 ia falai que ei tara aando sie multo ustranho E eis me par. guitou porquâ? Q~ estes tav.tido voei faia comigo, T,ie papo, mi cuba.. Agora voei sé cortando a minha, "lé"? Eu asa Andras Caipsnully. Ela da .scurinho ficou branco, sereis, fies. ás tudo quente é em, • rsaim~ aio aaudkca, e ia tira que u detalhe, para que de flndsat. aor.àltaiaa. Adio ao me casbocur, ficou lego com vesatada de transar ma ow cmeIgo Em aáo de pegou, me ligou . disse. - Andros pintou o Rifão,, que agora sul luaelmer como casa gay, • gostaria que soes t~ uma das primáao pessom a ou medásdas a irabolbar comigo. Voei omita? Eu dima, láglool Cosa o passar dos meses o elenco do sbow do Bifio sentiu necessidade de mudar o trabalho. Surgiu então a idéia da Noite do Avesso, originalmente boiada por Orlando Miranda. diretor da ,Soite Medieval, em Sio Paulo. 'A principio eu APPAD tra flat'flse t da parada da divt'rid.idt Ema Metaaorios. Anditaianie Finalmente é chegada a estréia da Noite do Avesso, Andrea Guparielly saia a última a se apresentar. Algo de surpreendente aguardava a platéia. Ao entrar em cena. -um espanto geral. De onde saira tio formosa mulher, que ofuscava os olhos dos espectadores que, a esta altura, atumtravam-se estarrecidos? O disco começa a rodar e Andrea, docemente, começa a interpretar "It's My Life". da Shirley Bassey. Em gastos miiimetricamente calculados e de maneira bastante lenta, algo começa a acontecer. Inaaeditável! Uma metamorfose humana! Aos pouca Andros se desvencilha dos apetrechos e das atitudes femininas e começa a assumir uma postura máscula e mágica. Libera-se, finalmente, da peruca e de seu vestido. Todos aplaudem fic*mente. De sunga, como se tivesse assumido uma nova personalidade, e na realidade assumiu, ao som de "M Wa", de Paul Anka, começa a surtir-se. Deita vez, ao invés do longo esveaçante, veste-se com um Mas Juns surrado e uma camiseta. Completa seu ritual calçando o par de tinia e sai, sem destino, como um rapaz qualquer. Andros Casparelly, a esta altura do rito se encontra bem guardada, no fundo de uma grande bolsa de nylon. A platéia delira, várias pessoas choram, inclusive André Mardlio Penara. um rapaz de 25 anos, meigo, bonito, que trabalha numa re partição qualquer e que nas bom vagas, para ganhar dinheiro cai se divertir, transforma-se numa formosa mulher. E assim aumteceria por sucimivos 1hz de semana, naquele recanto esumdido do centro da cidade, até que a necessidade de modificar. novamente, pusesse um fim no rito mdaniorfúsico e desse por encerrada a catarse coletiva. (Antislo Carlos Moreira). LAMPIÃO da Esquina Pbgtr li *, achei a ideia um pouco estranha, porque nunca tinha acontecido comigo, entrar em ema de homem. Eu achava que não tinha nada a ver. F t ai que comecei a pesquisar e ver realmente como poderia fazer esse tipo de trabalho". Tudo Indicava que o mesmo talento que maruai as dublagens de Marilyn Monroe, Gil Costa e Outros, mais uma vez seria impresso neste novo trabalho, que André aio cansa de afirmar: "foi uma das coisas mais importantes de sua vida até hoje". Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE APPAD * Centro de uocumentaçao Prnf.. flr.. hiii Mntt Vá 1. inxo raia PVBouPVdoB? Durante o debate sobre prostituição promovido pela Frente Feminista de São Paulo, uma bicha "atacada" apanhou o microfone e pôs-se a criticar o moralismo paternalista do publico que sempre se referia às prostitutas como "elas lá" muito indignada, a bicha encerrou sua intervenção com o mais espontâneo buquê das suas desmunhecações. Em coro, oauditcirjo(90% de mulheres) emitiu gritinhos de "ai, ai" apesar de as vozes mais finas, otom era o mesmo dos machões ao ridicularizarem os vindos. Pois bem, nenhuma das politizadíssimas bichas ali presentes ousou levantar a voz, pois o grupo se dirigia a um viado do grupo rival... Como já se imaginam às portas do poder, essas bichas agora dão PRIORIDADE às alianças externas, tornando SECUNDÁRIA a repressão à sua sexualidade. Se as coisas continuarem assim, não demora teremos um PVB (Partido dos Viados B rasileiros i, um PVd0B(djssjdêncja) e naturalmente uma Convergência Bichalista. Todos disputando-se as primissas da "revolução"! Na entrevista que deu a uma revista de sacanagem, o Frei Bet-to-tto disse que não conseguia aceitar o homossexualismo como uma coisa natural. Aí, o narizinho dele, que já e bem grande, fez tóoing, cresceu igual ao do Pinóquio. Outra da Madre Bettina: em entrevista a Isto E (notória, bem, queridinha?), disse que os intelectuais devem "conviver organicamente" com a classe operária. Isso, meu bem, a gente já faz há muito tempo. Quando uma bicha entra no buraco do metrô e transa com um metrolino, está "convivendo arganicamente" com ele. E nossa transa é muito mais autêntica que essa apregoada por pessoas como você, vampiros de almas proletárias... • Depois de 2€ números, Lampião deu uma desmunhecacia e cometeu um erro daqueles que a gente só encontra no Jornal do Brasil: na capa do nosso numero anterior, onde se lia "A ¶grejae o &snossesualismo: vinte anos de repressão", leia-se "vinte séculos". Parece que a maioridade está nos afetando: só a grande imprensa comete erros desse tipo. Houve tempo em que a expressão "revolucionário de primeira hora" esteve em moda no Brasil; hoje, há os "LampIbulone de primeira hora", caso de Francisco Rodrigues, um doa primeiro. assinantes- incentivado~ do nosso jornaleco. Agora, dia 18 de agosto, Is 21hs., Francisco lança, na livraria Muro de Ipanema, o seu primeiro livro de poemas, crônicas e axitos, sugestivamente intitulado 'Fumando Espero'. Ralada Mambaba já mandou fazer uma roupa nova, de astronauta, para o arremesso do Chiquinho. Convoca: todas lá! • Rafada Manibaba, autoprodamada copy-desk desta coluna, após ler atentamente todas as notas aqui Publicadas, comentou: "Primeiro Lampião não entrou na tal lista dos jornais comunistas; segundo vocês publicam essa Bixórdia toda; agora mesmo é que vão dizer que a gente é de direita". Ora Rala, e você acha que a gente vai se meter nessa briga de branco.? Alô, alô, rapaz de sotaque americano que alicia bichas para a Convergência Socialista: recebemos o novo panfleto de propaganda do seu grupo político, onde o Lampião continua sendo bodeexpiatório dos seus equívocos ideológicos. Continue assim que você está melhorando. Seu estilo já não tem anglicanismos. Ou será que você arranjou alguma secretária brasileira entre as "companheiras" do partido? E por falar em Frei Bet-to-tto, não dá mais para aguentar os mitos de direita e de esquerda - desse pais. De PeIê ao frade em questão, de Emerson Fittipaldi a Gregório Bezerra, de Eugênio Gudin aos irmãos Vilas Bons e cientistas da SBPC (todo o mundo, aqui, é farinha do mesmo saco), é tudo de uma pobreza, de uma velhice assustadora. Em matéria de mitos, o Brasil anda tão por baixo que até o senador Jarbas Passarinho já se atreve a fingir que é um deles... Ah, sim, e os Vilas Boas: vocês não acham que já está na hora de a gente ver o que é que eles realmente fizeram pelos índios brasileiros? A ;'4I kYI louca da Consolacão "Quem, souber exatamente o que é um travesti que levante o dedo"'. Porém, cuidado: é jwedio pia, bem soca de diz qualquer opinião esu4otIpad ou apenas iuperftcI. E dois irtlgoi anteriores no Lampião tentei levantar e "'éu diáfano" de muka fantasia e mka porsd e, reconhecendo o meu (ainda) descouihImito do assumo, que ,ó me permitiu teca hipóteses, batizei -os com o título de "O Tri'reatl", ee diaconhecido". Mircco Bragato, amor do leito e diretor de ,, A louca da C4111104aç$o' ' (Teatro Ofichia, Sio Paulo), não responde'a tudo, mas acrescenta esiestco úteis para a pesquisa dessa margi . iodldede (?) social, um dúvida a mate anilconformista e mais fora dos padrões cosesdooali ('t) da sociedade atual. Attui de escapar 1 facilidade de apesas mostrar o toidora do travesdimo, o que semdúilda aáo i iu tntesç5o, o autor optou por um discurso que chega a ser literário e quase panfletário. Ai colocações polttkai devem certamente passar peias cabeça, desvairadas (7) dos travestis sem que, no eninto, dos encontrem palavras par. ezprmsl-iaa. Mia a beleza da internacional Angela Leclery. 5$ distribuição em todas as capitais do Vale ver urgente. mente. ocorre Paulo Baz, um ator e de &no visual, tuierpra o travesti com boas nuancos e contrastes, fazendo ~ar o cuidadoso "Iaboratór" teatral que desenvolveu mies de colocar o personagem sob os "Á ki da Consolação" fleari na Oflebi. (Rua lacequsi 520, id.r 32 . 3039 - SP) até 4 de agosto. Depois, convém consultar a programação nos Jornais porque a Companhia do Pmado (asabu ir disma o Grupo) está á opera de vaga nem dos teatros da Prelaitura. (Darcy Penteado). refletores. Só dói quando a gente senta Atenção, frenéticos devoradores do Lampião: a vocês que contribuem tão intensamente com a nossa Memória Guei, que inundam o nosso Troca-Troca, e que mantêm o nosso reembolso postal e o nosso fichário de assinantes a todo vapor, .queremos pedir mais um favor. t o seguinte: um dos próximos lançamentos desta editora será um mimoso compêndio intitulado "A Bicha que Ri', no qual a gente pretende publicar as melhoras piadas - incluindo charges, , historinhas, etc. - sobre bichas. E, para que nossa antologia saia à perfeição, é preciso a colaboração de vocês: mandem pra gente aquela historinha que vocês ouviram, aquele desenho que guardaram. aquela charge que mantêm pregada na porta do guarda-roupa, e que sempre mostram ao bote pra descontrair antes do embate. Aqui na casa, , caberá a Francisco Bittencourt julgar as colaborações de vocês com o mais rigoroso mau humor (só as geniais serão aprovadas por ele). Contamos caos vocês já? E por falar em nossa editora, devemos uma sa:isfaçao a vocês: "Histórias de Amor" já está em fase de fotolitagem, junto com o livro n? 2 da Esquina (que sairá junto coro o primeiro): "Escola de Libertinagem", , do Marquês de Sade. "Homossexualidade e repressao", de Dennis Altman, está sendo traduzido pelo mesmo - e fero - Chco Bittencourt (quem traduziu Sade foi o sádico Aguinaldo Silva), de modo que a gente quer char ao fim do mo com quatro livros Iançadcs (incluindo o supracitado "A Bicha que Ri") e mais uma surpresa, que sai em outubro, mas a gente só anuncia em cima da hora pra que no nos roubem a idéia, ,tudo o que se pode dizer é que é uma sur presa renleta de homens MIS! AGORA. NO BRASIL! O LAN ÇAMENT O QUE VOCË ESPERAVA (SEM CENSURA) / • Mais uma excelente produção de João Paulo Pinheiro, estreiou em julho • LAMPIÃO adentrou à sociedade no teatro Alaska. Trata-se de de Bdéfll através da coluna de João "HOLLYWOOD GAY' com texto do Aberto. um jornalista local que deu, lampiônico José Fernando Bastos, aos seus leitores, a dica sobre o que ele figurinos lindíssimos de Hugo Vernon disse não ser "apenas uni jornal guel, e coreografia de Edson Falir. No elen- mas um trabalho sério e Independen. co, alem de três atores e quatro W. A nota de João Alberto foi uma bailarinos, o talento de Fugika e Ana espécie de apresentação: brevemente o Lupez, a graça e charme de Kiriaki velho Lampa também estará nas ruas (muito mal aproveitada). Evellvn e a de Belém, fechando o circuito da nos- - -iin:ageu do teatro sobre . realidade é que e ,c permite rr1r Os e tocar palavras e IniiçÔ'es que foram .penai ebodu na AuIm, a "Louca" tranIte Intetecui1mte o i recado, mtripoido a ia Intenção do tezto a açio ahvacs*.da e eutoric,ete citedorizada, tão mu m aoi travestis (e que, a meu , pouco diz multo que debaixo dai perucasi. Ouira qualidade da propona de Marco. Bragito é deixar abertos e á descoberto, num teua onde ainda rilit, multo, it aio iodo a pesquisar. 4 13x18 cm Cr$ 650,00 GBG - Caixa Postal 17.034 Rio de Janeiro. RJ - CEP 21.310 Uma produção erótica masculina leva até você em exclusiva primeira mão 10 fotos sensacionais SEM CENSURA, de modelos capazes de trazer para você a mais completa excitação ENVIE-NOS JÁ ESTE CUPOM NOME................................................. ENDEREÇO ............................... N° .......... CIDADE................................................ ESTADO CEP ......... PagÍ 16 * 1* APPAD IIt' cia parada da diversidade Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott GRU PODIGN IDADE TENDENCIAS Uma pequena voz pessoal 1raduiido e publicado Uinalrnente) O Carnê Dourado de Dori E esing (editota Record, Rio), Pena o titulo, que esa muito mais o pagamento das prestações de um bens inatingível ou aquelas lindas cadernetas cm que a avô da gente anotava os nomes dos candidatos à próxima contradança do que os cadernos de anotações através dos quais a historia :idqtii te turma. engraçado, porque o iSTO de Rilke não foi traduzido como ''Os (arnés de \Eihe 1 aio id, Br ge Pena .imheni que as outras traduções pu . hlidss pareçam ter sido escolhidas meio ao .icaso (quem sabe pelo número de côpias vendidas na Europa e nos EstadosUnidos?) e não é de duvidar que Children of % ioIene. urna série de cinco romances (Maflha Quest. A Proper Marrluge. A RippIe from lhe Storm, I.andhjcked e Thc Four-(.aied ('in), que Doris Lessing levou deies.eie ano, para escrever, apareça de trás para diante das livraria à que o úl&no titulo é tão famoso conio o O Carné Dourado, Ta1s7 isto não tenha Iliponlância: como ela rne',ma di,. no Vejam que preciosidade! Winston Leyland, que uma bicha patrícia já chamou maldosamente de "a papisa do movimento gay", e que, na verdade, além de editor do Gay Sunshine. de San Francisco, é um grande amigo do pessoal aqui de casa, continua com a sua Gay Sunshine Press de vento em popa. Agora mesmo ele acaba de lançar um livro que é uma preciosidade: "Straight Heiãrts' Delight', reunindo "love poems and selected letters" de Alien Ginsberg e Peter Orlovsky. O primeiro, todo mundo conhece, é um dos maiores poetas norte-americanos, uma das cabas do "beat generation", junto com Jack Kerouak. O segundo, além de amante do primeiro há um porrilhão de anos - mais de 20, seguramente -, é outro poeta importante. Só pra que vocês (voc, quer dizer, as que lêem inglês) tenham uma idéia, a gente transcreve aqui o poema "C' mon Jack, turn me on your knees. . ." de Ginsberg: "C'mon Jack/Turn me on your knees/Spank me & Fuck me/Hit my ass with your hand/Spank me and Fuck me/Hit my hole with your fmgers/Hit my ass with your hand/Spank and fuck me/Turn me on your knees/Ah Robertson it's you/Yes hit my ass with your hand/real hard, ass on your knees/Sticking up hard haider slap/Spank me and Fuck me/Ah Fm coming fuck fuck me/Got a hard on Spank mel When you gel a hard on Fuci me". A foto acima, dos dois amantes/ei autores do livro, ilustra o próprio. Quem quiser comprá-lo escreva para a Gay Shuishine Press: Boa 40.397, San Francisco, CA 94140 USA. O preço éUS$ 8.95. Vale a pena. prelacio, a única maneira de ler e apanhar Os loros que no alraiani e ler apenas estes. Mas tal. Sei tenha, porque desde seu primeiro lisTo ( [he (.rass ir, Singing, 1951), um tensa a atormenta, além da preocupação constante com a condição da mulher: o das relações iniusnas entre brancos e negros na África doSul. Doris 1 essiiig nasceu ria Pérsia em 1919, de pais ingleses, irias aos cinco anos de idade mudou-se para a Rodésia onde seu pai tornou-se Ii,endeiro. Durante quase trinta anos ela conviveu com uirfia sociedade montade sobre a esobração da imensa maioria nativa por um peuiciio numero de brancos, uma sociedade di'. dida pela "barreira racial", e foi certamente esa eoiisisêiici,i que a tornou tão sensivel a qualter tipo de relação de dominação. Essa sen' 1 hilidade e rnarasilhosaiiicnte espressa nesic ISTO (tie de certa krma concentra um pouco de todas as inquietações desenvulsidas ao longo de .11 obra: com as mulheres, certamente, mas annheiii coili a' crianças, os loucos, os humos-esuai, o' judesis, os perseiiidos polilicos - e rios litros seres subordinados ou de alguma 'mli estiniagtuiados ciii nosso mundo. SEis o que e importante, e parece ser o que ela Lirnertta são ter sido compreendido pelos criticos deste romance. é a sua preocupação por expressar sempre, ou pelo menos esar, iodos os nem ' de que c composto este par dominação /subordiniçài) que ,ltrasessa rodas as relações ns ' nossa ssiedtd - o que inclui a dominação dos (lute 'ão suibordiisad,y, cai a subordinação dos dominadores, para não falar cnn c(inibinações mais elaborada. "este livro encontramos tanto uma antida percepção das ditictildades que uma mulher "livre" encontra no seu relacionamento 'n1 os homens - os mal-entendidos, os desennt ros. as tru st rações m itt ua s - com o a deli—ida descrição das tensões presente' riaN relações ulI re mulhers' ' , ou cru re mulheres e huimossesuas. E E que pai ccc surpreçndé-la muito e a 'itiliiuiço de ' ia ' pulas ras como bandeiras de '11,1. n o resumo indelicado e pouco sutil (''o livro e lhe darà novas armas ria guerra entre os esos'', dizia urna das capas deste romance) de iria tetilai iva penosa de iq-Cettio glcu de todos elciiicnius que ecnsm lulii situação, incltnnviu-se ai tinsa Incidi e constante autocritica, e unia perrisailenie ironia, a respeito de sua própria são do mundo. Isso porque suas palavras não assumem nunca um tom pais tietár tu e porque Anna, a personagem central, parece caminhar o einpo Ludo, de maneira insegura, nos espaços esleitos entre os abismos de certezas que a r deam, tentando não bloquear as brechas, as achaduiras em suna imagem, através das quais ugo de nos o possa passai. E é Justamente esta tentativa de se manter aberta a possibilidade de criação de um novo ser humano enquanto é trnpo - apesar de todo o cinismo sofisticado e amargo aprendido com a espcniincia politica - que torna a leitura de Doris 1 cssutig tão ai raentte, e seus pensoilagens tão sulnci ásici,. Personagens que parecem ter uma triste consciência de que catisinharnos para um flnt trágico (como ciii Memórias de um Sobrevivente) mas que, como sua autora diz, insistem ens resistir, cm sobreviver, como se. Por isso, é uma pena também que seus livros não estejam sendo traduzidos numa certa ordem, porque eles formam uma unidade nascida de um processo que é também a história do nosso tempo. Lendo a Doris Lessing dos últimos anos em São Paulo ou no Rio, parece fazer Sentido a tradução agora de um livro de dezoito anos e to cheio de problemas novos ainda. Mas lendo suas histórias áfricanas na Bahia ou no Maranhao, ela se torna muito mais próxima, é muito mais aguda a possibilidade de comparação, de surpresa perante uma semelhança que talvez devesse nos envergonhar entre a África do Sul e o Nordeste brasileiro. A face externa deste processo que é a sua trajetória literária não é muito difícil de acompanhar: a infância na África, a chegada na Inglaterra (1949), depois de dois casamentos e três filhos, a participação no Partido Comunista Inglês e a desilusão com a sua ortodoxia e autoritarismo etc., cada um desses marcos de, sua história pessoal produzindo uma visão mais profunda da realidade imediata - como a fascinarte etnografia da vida inglesa (In Pursuil ol the En. gilsh, 1960) ou da vida na Rodésia (Golng Hosne, 1957). Mas há um aspecto interno dele que não é tão facilmente perceptível e a origem do fascínio de Doris Lessing parece estar nessa capacidade de recriar em quem lê o som de unia voz que se- APPAD in da parida da diversidade • R.M. Rilke, Os Cadernos de Malte Laurida Bnlgge, cd. Nova Fronteira. 1980 Doris Lessing, Roteiro para um passeio ao laferno(de 1970), ed. Nova Fronteira, Rio; O Vrrio antes da Queda de 1973) e Memórias de um Sobrevivente (de 1974), editora Record, Rio. O único conto traduzido de Doris Lessing de que tenho notícia e"O dia em que morreu Siahin", tradução de Tite de Lemos, na Revista Senhor de julho de 1962. Há dois volumes, publicados pela Panther inglesa, que retinem as suas histórias sobre' a África (Collecled AMem Stories) e outros dois, da mesma editora, que reúnem a maior parte de seus contos (Cotiecled Siories). Estes livros e seus romances não traduzidos podem ser encontrados em algumas livrarias. (Mania). SALVEMOS MAZON h Página 17 LAMPIÃO da Esquina * hemos ter ouvido alguma vez, a cor de uma paisagem que já visitamos, lembranças esquecidas, soterradas, e que graças a ela nos são restituidas. Ú o lentoe minucioso mapeamentodeste território interior (que tantas vezes se confunde e se sobrepõe ao território africano de sua infância: os vermelhos e azuis brilhantes, tão perto da mão de uma criança graças às fendas nas paredes das casas) que é possível acompanhar ao longo de seus escritos. Particularmente através dos contos***, que ela adora escrever e insiste em que continuará a fazê-lo mesmo que o mercado de livros na Inglaterra seja mais favorável a publicação de histórias longas. De forma concentrada nestes contos, mas também em alguns romances como A Cidade de Quatro Portas ou nas Memórias de um Sobrevivente, parece com frequência a experiência de Arma, do Carnê Dourado, à procura de seus sonhos, ou de Elia, personagem de Arma, fitando um lago interior onde se refletem suas descobertas do mundo exterior. Esta busca, esta tentativa de acompanhar caminhos pouco percorridos, não nomeados, de uma paisagem que apesar disso reconhecemos, nasce da persistência de Doris Lessing em fazer ouvir a voz do escritor, que ela chama de 'uma pequena voz pessoal', como parte da luta pela criação de um homem novo que reconheça tão bem seus horizontes externos quanto as suas fronteiras internas. "Estou convencida, diz ela, de que nós todos estamos diante de uma porta aberta e que há um novo homens por nascer, que não tenha sido deformado pelo trabalho humilhante; um homem cujo orgulho como homem não será medido pela sua capacidade de suportar trabalho e responsabilidades que ele deteste, que o enojem, que sejam mediocres em relação ao que ele pode ser; um homem cuja força não será Ircada pelos valores da mística do sofrimento. "As palavras de 1)sr1s 1 ,cssIisg nos ajudam a manter a esperança de que tal criação humana seja possível. (Mar izal. Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott E] GRUPODIGNIDADE CARTAS NA MESA Bonifácio ou Bias? Antigas larnprônicas, Estamos aqui intensamente aflitas com os bordados, arranjos, e maquilagem, já que estamos próximas à tão esperada data de eleição da MISS G.AY 80. Barhucena embora fria/ Politjcando a valer,Ainda è palco da folia' Se gcal, que venhas ser. 1 'O rao maior problema, queridinhas, e a divulgação, mas confiantes nestas penas liberais que fazem do Lampa o grande dinarno da imprensa alternativa brasileira, reforçamos através destacartinha o nosso carinhoso convite, venham conferir o nosso clima, nossas rosas, e lógico, a nossa festa. Os ventos da liberdade soltam a soprar na Serra da Mantiqueira. e animados por eles nasce a desinibida SOCIEDADE PURPURINA, que, denomina pelos brilhos e pela alegria, Promove no dia 27 de junho, na lkÈe Hirorideiles, o toncante concurso "MISS GAY 80", ás 23 horas, com muito prazer que o convidamos para fazer parte do corpo de jurados que elegerá a nova Rainha da Vida Barbacense. Antecipadamente gratos à sua participação, subscrevemo-nos, pela Comissão Organizadora.. l.ukas Buganvília e Timótheo Sammambaya Flarbacena, MG. R. - Queridas flores serranas: vosso convite chegou com um Imperdoável atraso, e por Isso s podemos Falar de vossa Festa depois que a mzna se realizar ( esperam os que com o maior brilho). Da prÓxIma sei, excekntlsslm.s safadas, façam o favor taI Ou a gente dá pinta ou caprlche nos pronomes; as duas coas, rijo dá) de convidar com uma antecedência bem maior, que a lente aqui está louca para conhecer os desvios escuros da Serra da Manliquelra, devidamente cicero. neados pelos rapazes de lá.., de ação para a desopressão. Gente, quantas vezes pensei em montar um grupo, mas não tenho condições: sou pobre, trabalho de sol a sol, não tenho quase instrução (Tirem suas conclusões, lendo es1 a). Mas não pensem que fico parado, não, quantas seles já sai lesando o lampião ria mão, para clarear a sida de gente oprimida, gente que nem sonhava coro a existência do tampa, e sempre que kr possiwl estarei divulgando, fazendo os meus irmãos verem que não estamos sozinhos. Portanto, fica aqui o meu apelo. O meu abraço especial a todos, abraço este de gaúcho, assim, tipo quebra-costelas. locasa - Esteio. RS R. Barbaridade, ,Jocava; trilegal a lua caria, tche. E o segundo gaúcho que, neste número, nus questiona sobre a (in)existincia de um grupo ativista em ss'ras fan'oo. (isico Eklencourj gaúcho ('orno soei, todos os dias medita sobro isso, aqui na redação, enquanto saboreia o seu inlerminiasel chimarrão pacienlemenle preparado pela Rafada Mambaba: porque não há ativistas em POA ? , 'Tlvef', diz o (bico, "porque o clima é mais saudável". Talvez, diríamos na, porque o machismo gaúcho é mais terrível (vide "A Intrusa", o filme de (hrisiensen, uma obra prima sobre o lema). De qualquer modo, ativismo guri no Rio Grande do Sul é o que não falia; você, quando sal divulgando o Lampa, está Fazendo exatamente isso: ativismo; e não é a instrução o que nos torna ativistas, querido; pelo conírárlo, ela até atrapalha, pois acrescenta, às necessidades mais imediatas das pessoas, queslões melafisicas, angústias existenciais que SÓ servem para atrapalhar. Veja o exemplo de Latia, o magní fico metalúrgico (atenção, queridinhas: nada a ser com o PT): por não ter instrução (Felizmente) vai direto ao assunto; angústias existenciais, questões .netaririicas, ele deixa para o bobo de sua corte, o Frei Betto,,. Hotel barato Sem instrução Oigatê indiada rnacanuda tché! Gente o negócio e o seguinte: quero aprovei [ar a chama dc liempião para ver se a mesma clareia ti ia pouco Rio Grande do Sul. Acontece que todas as vezes que pego rio Lampião fico na ânsia de ler a noticia de que no Rio Grande do Sul foi fundado um grupo, desses que tem em SP/RJ/BH/, etc. Mas não, procuro, procuro e nada. Então penso: tem e o Lampião não dá a noticia (acho imposuseI), Agora eu pergunto, será que no Rio Grande do Sul não tem oprimidos? (bichas, negros. etc.). Meus irmãos, vocês não acham que está na hora de pegar o laço, calçar as esporas e sair pra luta? Ficar sentados tomando chimarrão, só, não dá. Vocês não sabem como eu ficaria alegre, feliz, etc., quando fosse ali na Praça I (a do "chalé": aproveito para dar a noticia que na banca da praça sempre tem o 1.ampiào, vão lá. O nosso querido Lampiâo está lá sempreaceso) comprar o meu querido Lampião e nele estivesse a noticia que no Rio Grande do Sul foi fundadoum Grupo Belsco's Bar 1 Para Marias Bonitas ••'" ...e Lampiões De terça a Domingo Desde 11 horas R. Visconde de Cairú, 26 C Tijuca Nf(JSICAS INtDITAS Oíereço a cantores para reperóno. Estilo romântico. C'FLLJO. Fone 270.4990 io Pat Senhor Redator: Venho denunciar o Hotel Alteia Jatiuca, ema Maceió, Alagoas, que estão se negando a aceitar hóspedes que a gerência arbitrariamente t t ii alitica de "bonsossesuai.s'', 1 rara-se de revoltante discriminação, tão mais revoltante quando baseada em dados que só se situam na puicralidade de julgamento de uma gerência inepta, t I ne , contrariando todos os principios legais vigentes, se permite separar hóspedes Por categorias ou estados jamais previstos no (ódrgo Civil Brasileiro. O horiit,ssesiilismo não tendo nenhuma caríictenisrii.'a particular assinalada e/ou punida em nossa legislação; não cabe à gerência de nenhum estabelecimento comercial recusar clientes alegando tal estado. O inqualificável gerente do .kstiuca Palact', que assim está agindo, pode e deve ser processado, pois hotel é estabelecimento publico de pi csmalo de serviços, e não compete a gerente algum recusar hóspedes por razões que a li desconhece e que só a ele, gerente, perturbam ou inquietam. Gerente de hotel não é censor de costumes nem jul, de opções, se censura de cciv1 uincs C\iste 011 jamais existiu realmente... P,kwu'.pl. Existencial - TrapIa ceg akls• 411u.1 4rLU4keies 05.2512 Radrigi,,s - Pskák 10 CRP. Trata-se, é verdade, de um fato isolado, ocorrido numa pequena mas prazerosa capital do nordeste, que com moiro atraso está despertando para o turismo, para o progresso e talvez para a vida... Muito atraso eis como poderia ser elassif'rcada a atitude do gerente do Jatiuca Palace. \las, arbitrariamente poiicialesco ou atraso Provinciano, uma atitude que deve ser denunciada corri vee mência, pois a todos nós cumpre assinalar o ilegal, o pernicioso, o mesquinho, o rctrógado, o anti-social. E, nenhum melhor sek-ulo para o nosso protesto que lampião, que com tanta coragem sem se batendo pela defesa da liberdade coletiva e individual, Rodrigo Argollo - Rio. Bicha religiosa Queridos lampiõnicos. confinando na abertura deste jornal a todos os assuntos que dizem respeito ao homossexual e também querendo tocar num assunto que (por medo de sermos rachadas de carolas, caretas etc.), não se discute com muita freqüência mas que também é vital, resolvi escrever esta carta que, se não puder ser publicada, espero que possa servir como dica para algum comentário sobre o assunto: é sobre hichice e religião (não é um "tratado de Teologia", apenas uma curta reflexão que me parece não se apenas minha mas de muita gente por ai). Penso que a mais "atéia" das pessoas não passa uma vida inteira sem questionar-se com relação a um 'Sentido Ultimo" da vida, a um Deus. Para nós, bichas (prostitutas, ladrões, vagabundos, crioulos revoltados, adolescentes rebeldes, e le . ) esta questão (apenas esta?) parece ser um pouco confusa. Por quê? Primeiramente porque a sociedade machista nos impõe escalas de 'alores, ideais e mesmo religião segundo o que ela mesma experimenta e vive, sem levar em conta a nossa "diferença". Se a bicha está preocupada com Deus, ou seja. se uma parcela marginalizada da sociedade quer ter um relacionamento com o transcendente (seta a Ele dado o nome que for), de inicio ela vai ter que negar (ou sair de) sua condição; isto se confunde muito com o termo "conversão": se vivêssemos num outro sistema de vida, os assaltantes, os revoltados talvez pudessem inexistir (?!), mas como pode um negro deixar de ser negro? ('orno pode uma bicha deixar de ser? Como pode um adolescente não ser inconstante? E, no entanto, não queremos abrir mão do nosso direito á vida, mais, do nosso direito de procurar um sentido para a vida. Será que, para crer em Deus, preciso negar minha bichice? Quando falo de meu relacionamento com Ele, posso responder um não a esta pergunta mas, e na hora de explicitar essa crença? Digo isto porque, para mim, crer em Deus não é apenas crer mas lazer de Ca-Isto um modelo de vida, mais, encontrar Nele um sentido para a minha vida. Preciso explicitar minha fé (como compromisso social) e, muitas veres a sociedade não deixa: "Onde já se viu uma bicha religiosa?" "Vê se deixa essa ,ida..." São frases que já ouvi e que nàogostaria de ouvir mais. Será que ate mesmo o nosso relacionamento HÉLIO & DALD1 - .Jc. - d.ko puv.. Miu ê data T4,, 39 5214999 - plahó Miujaw fps Ad litsrtc., .té e,t, ciii SOI Fe F..n 2M.9561 e 226.7147 Ri. Hja de Lucesta 25. 28-A - afao Encontre um amigo. Visite Depilaçio definitiva STELA Rosto e variadas partes do corpo Tratamento. Método: ele.. trocoaguiaçâo, com aparelhos Importados, os mala modernos dos Estados Unidos, No deixa manchas os sexos. nem cicatrizes. Ambos Rio: Largo do Machado, 29/808 Fone 265-0130 - So Paulo: Alameda Franca, 816, $/01 Fone 288-5163 ie da parada da diversidade M,AP\I - Niteroi Novo assinante Queridos lampiônicos, acabo de comprar o Lampião do mês de julho, nf 2. Sou leitor assiduo desse jornal e só agora me toquei sobre fazer uma assinatura, depois de ler o anúncio do aumento do preço (cruzes, que bicha econômica e pirangueira). Sempre compro o jornal na banca próxima do lugar onde trabalho, mas hoje me apercêbi da comodidade de recebê-lo mensalmente em minhas mãos. Não que eu me grile com os olhares atravessados que partem em minha direção, todos os meses, quando chego naquela banca e grito: O LAMPIÃO POR FAVOR: muito pelo contrario, às vezes é até uma forma de fisgar alguém por perto, que ouve o pedido e já vai se interessando por uma pessoa tão assumida ou tão pinrosa. Nunca arranjei nenhum namorado dessa forma, mas bem que já fui paquerado muitas vezes. Falando de coisas menos sérias agora: es1011 enviando tini cheque, que se destina a uma assinatura do jornal por período de 12 meses. Não estou enviando recorte do jornal, pelo fato de não desejar que a reportagem sobre o "Gran Delegado" seja decapitada, principalmente pelo fato de fato de que passo o meu jornal, após lé-lo, para alguns amigos, e eles não iriam poder ler toda a reportagem. Sei que vocês compreenderão o fato (Freud explica?') e enviarão meu jornal brevemente. kmsemilson B. - Recife R. - Queremos que haja muitos leitores "econômicos e piranguelros" como você, Josemilsois, pois Lampião está em plena batalha por novos assinantes, A gente só lamenta que você, depois de ler o seu jornal, empreste pros amigos; diga a eles que comprem, ou melhor ainda, que assinem, como voei, pois assim o Lampião poderá continuar, firme e tranqüilo, a atravessar os procelosos períodos deiflnianos que ora temos a Infelicidade de enfrentar, APRENDA INGLÊS • M&odo Prático e Eftcte • Audlosãival • Aulas IdMdua1, à tarde a usolte, ou em MASSAGEM grupos psiu miaM, • PM. José Mora Me.diça 'Rua B.uio Lisboa, 59_ C/01 - Catei. MEMÚRIA GUEI De alguns anos para cã, a Imprensa Brasileira tem dado um certo destaque a Questão Homossexual. Ensaios, entrevistas, matérias, reportagens e contos, têm sido publicados freqüentemente em jornais e revistas de norte a sad do pais. Para que todo esse material no se perca no tempo e no espaço, o Jornal Lampião resolveu organizar uma Memória de tudo que tenha sido publicado sobre homossexualismo e as ditas minorias. Para Isto, pedimos a colaboraçào dos leitores, que enviem-nos recortes (original ou xerox) desse material com a Indicaçio da fonte e data de publicação. LAMPIÃO da Esquina: Caixa Postal 41.031, Rio de Janeiro, RJCÈP 20.400, Rua lagua.rlbe, a° 484 FDne66-7101 sio Paulo 1$,'- ** APPAD co- o Transcendente, com Aquele que dá sentido a nossa vida, tem que ser feito segundo o modelo" heterossexual? LAMPIÃO da Esquina' Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE CARTAS NA MESA Novas mortes Volto a lhes escreser para dizer da minha alegria, ao receber o ri? 25. Para mim infelizmente é o 2 digo infelizmente por mim, porque cheguei atrasado, porque minha vontade e o meu maior desejo era possuir todos os números do Lampa. Apenas fiquei um pouco magoado por não ter lido o meu pedido publicado na seção traa-Troca, pois eu me sinto iemxelnwtiie só; por incrivel quepareça, eu me sinto como se c'tisesse em um deserto. Uberlândia com 300 mil habitantes, e a gente sente solidão. ' Para mim muito triste saber que mais três homossexuais Riram barbaramente assassinados e que poucas pros'idncias estão sendo efetuadas, ou quase nenhuma. Mas isto não me surpreende, lá que aqui em VherUndia. há 8 meses o josem ga\ Jorge Borges de Oliveira foi morto com 17 lacadas. O que mais me espanta e me apavora que ninguém disse nada, nenhum árgão noticioso se manistcstou, foi como se um cachorro tivesse sido cuctai irado em Lima sala num terreno baldio, pois foi assim que encontraram o pobre Jorge. Pois bem, não parou ai: uni mès depois um travesii daqui de Uberlândia foi morto também, a facadas, em ltuiucaha. Também ninguém falou nada. Na mesma sasião um meu grande antigo lque já está providenciando sua assinatura do lampião) levou 8 facadas, escapando da norte por milimetros, aqui ria izinha cidade de Araguari, sobre este os jornal ' de lã disulgarani iii Liii O, P°' ' Prl ssOr mui lo csinccit itado lá Mas o que me entrisieee, aborrece e revolta, e pui que esta discriminação com os homossexuais? Iii sempre Oco ohscrvnndo o nosso ambiente, e íicn feliz, por ver que ouro mundo de iaiiLo'. preconceitos e sjolêricias, as bichas siveni espalhando alegria e amor. Lu pergunto, já pensou que inundo maras ilhos o seria se a maioria los se homossexual? 1 emos a esperança e a firme convicção que os martírios de Luiza Felpuda, Baniha, Ni iii on Jorge e ('re mi Ida (este último morto em It uiuiaha) não sera em vau. Itrescmcnic chegai 3o ai vários pedidos de as. inaturas daqui e da região; todos pularão de contentes por saber que existe o Lampião iluminando nossas esquinas da vida. Uma sugestão: Porque vocês não deixam um cantinho para os aniversariantes do mês? Podem começar com o meu, que é no dia 21.7. .lox (lósis - Uberlândia, MG - O tempo está quente na tua região, bem, (lósis? flua, mortes e um que escapai por milagre! f Isso ai. Fniivanlo, nos grandes centri pi, o atisismo I,oinossexu*l se moslna paralisado devido ii s'seessisa prt'ixupaçàu com a polilica, no resto do pais as bichas eslitii sCflcJ(1 sumariamente executadas pelo sL'55Ifl4) .. ( orno si" vai notar no com desta seção de varias, c'.tamiw, em plena campanha por mesas assinaturas; e as de Minas, meti amor, são especialmente hensindas. Mande o pessoal assinar o 1.ampa, (lósis! O teu pedido para o Trtwa-Triwa entrou na fila: é aié possis'eI que saia já neste número, A sugeslão para o "nlinho dos inisrrsaruanles não pode ser aceita: eles seriam centenas, a cada inês. querido! lhe qual. quer modo, parabéns prlx', sui? Lamentei profundamente não poder estar presente no 1' Encontro Nacional de Homossexuais. Tirando toda aquela frescura típica da classe, considero o encontro de suma irnpor,ãncia. Por que-não encontros mais constantes? Ressinto-me de não haver em Porto Alegre nenhum grupo organizado. Porto Alegre, uma cidade bastante grande, já comporta coisas deste gênero. Os locais tipicamente homossexuais são também de uma pobreza total. Gostaria, portanto, que vocês estimulassem os gaúchos. Unia boa noticia é o jornal de vocês e de todos nós, exposto em muitas bancas de jornais e revistas aqui na capital dos Pampas. Quanto a propagá-lo, podem ter certeza, faço isto com o melhor prazer. Não empresto os meus (coleciono e não abro mão deles!) e quase forço meus amigos a compra-lo. E um grande mal, bicha não lê, sÓ pensa em frescuras. Minha vontade de participar é enorme. Até penso em pedir remoção para São Paulo. No mais, meus votos de que continuem em seus propósitos e, tenham em mente, que aqui encontrariam uni forte colaborador. O meu idolo Darcv Penteado, freqüentando a Luiza Felpuda! Isto deixou-me triste desapontado. Até breve e aquele abraço. Walter Pereira - Porto Alegre. pessoal dai funde brevemente o seu grupo, mas, por favor, sem complicar muilo, hem gente? Abraços pra você também, amor. Recife falando Quer-aios lampiônicoa: através desta carta, que, esperamos, seja a primara de uma série futura de comunicaçies e intercâmbio, queremos pedir ao conselho editorial deste jornal urna pequena nota de divulgação da existência, aqui em Recife, de um grupo de homossexuais, que há algumas semanas se reúne com a finalidade de agrupar homossexuais masibnos, femininos e pessoas simpatizantes, essn o objetivei de lutar juntos por nossa causa e contra a repressão. Trata-se do GATHO - Grupo de Atuação Homossexual, que surgiu a partir de fatos ocorridos nesta cidade e que nos alertaram para a necessidade de tentar combater a violência contra homossexuais, em casos em que as vítimas (homossexuais) acabaram aparecendo como réus. Após a morte do bailarino Tony Vieira (assassinado pelo amante) e do músico Bamba (também vitima de assassinato), que sendo vitimas e por serem homossexuais, acabaram como culpados de suas mortes, um grupo de amigos se reuniu cm torno da questão e principalmente motivados pela publicidade negativa feita contra os respectivos assassinados, resolveram congregar pçssoss na tentativa de fazer voz forte (ou pelo menca tentar) contra estes procedimentos repressivos e machistasda imprensa local. Sendo assim, dentro de pouco tempo o nú- R. Waltlnho, querido, Rafarla. bem aqui do meu lado, pede pra escrever que ela lhe retribui os elogios. Sobre a luiza Felpuda: uivei você lenha razão (há quem diga cobras e lagartos da coitada), mas "não há nada que justifique a violência, a mune estúpida que ela les-e". O 1 FBHO foi óuimo, apesar dos traumas iniergrupais que provocou; no próximo, a gente espera que lenha mais lesão e menos encucação. Lampião, via o nosso distribuidor, o Coornal (leiam e assinem também), invadiu Porco Alegre. Espera-se que o mero de pessoas loi aumentando e se constituindo numa força conjunta de objetivos e necessidades, culminando com a redação de objetivos comuns, e a escolha de um nome que desse condições ao grupo de se identificar. Reunimo-nos semanalmente, aos sábados. às 19h, noCentro Luiz Freire, locajizadoem Olinda, e debatemos os nossos problemas preliminares de organização, para que depois de organizados possamos realizar um trabalho sério, de boa qualidade e com bases sólidas, na tentativa de se no resolver, pelo menos marcar a nossa presença como grupo atuante dentro do sistema e contra a disorimínação. Esperamos que outros grupos de toda parte do pais se comuniquem conosco, mandando os seus endereças e nos ajudando, assim, a reforçar a luta geral pela nossa causa maior. Estamos certos de que podemos contar com a colaboração de vocês e agradecemos desde já a força que nos puderem dar. Gotho— Recife, PRA QUEM ENTENDE DE SAUNA saímitamilimimilmomir k* &=h~ - - pbd. - pilvate roi - TV - .IlitL44tJ De 9 da miabã ia 6 tIa manU do dia sealt. Ra. Huarque de Macedo, 51, FI1o5 Rio Tdelo.rt 26543$9 Tânia Rabos: ex-manequim, hoje candidata a mie do ano - T?nia. nora ue você assina Larnpio? - Pela independência dos colunistas, pela seriedade dos comentários, pela atualidade do noticiário internacional.. Por. que Lampião me mantem sempre bem informada. 'a Ainda a Felpuda Olii pessoal, quem lhes escreve é um incarisitscl admirador deste insuperável Lampio da Esquina! A5 veles Oco puto da vida com algum dos artigos publicados por vocês. De qualquer maneira, continuaria apoiando o trabalho de vocês. Bem, samos a alguns comentários e pedidos. Acho esta tal de Rafaela Niambaba de uma pobreza sem tamanho. Quantas mentiras e bobagens naquela entrevista fornecida por ela' Acredito que não desa passar de uma reles piranha metida a intelectual. Agora, querem fazer da Luiza Felpuda uma mártir. Não há nada que justifique a violência, a morte esiúpida que ela teve. Mas que não era nenhuma santa, isto iodos sahcni! Vivia de explorar pobres bichas e de chantagear pessoas importantes. Têm toda a certeza quando di,'em que a casa dela era um ninho de sespas, uni local de comprometimentos ir Faça como Miss Rabos: assine o jornal que não tem vergonha de você fl,ero receber uma .a.lnitUTI animal de Faça de LAMPIÃO da Esquina o seu jornal. Assine agora l..AMPLÃO dei Esquina ao Preço de (rS 450,IX1 Nome Endereço CEP Editora £nvx c.hequu Ou va t e posta' para a Esquina os Livros. Jcjrrsais e Revistas 1 ida - Caixa Postal 41031 Santa Teresa - Pci de janeiro-Ri CEP 20241 sina 19 LAMPIÃO da Esquina *r APPAD lt da parada da diversidade Cidade Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE LITERATURA U insólito rendeziiiinvous de Maria Felix eom CIw (uwsi'g O romance de Manuel Puig. O Bailo da Mulher Aranha Codecri, 1980. irad. Olaria Rodrigitez. lançado na Espanha em 19'76t. nos introduz l tnitmtdade de dois unisersos que. por rcun st ànci ,ts especiais, são obrigados a cornpartilhar o mesmo espaço: uma cela na penitenciária de Buenos Aires. no ao de 1975. A ela Valentin e Moltna foram condenados por motissa totalmente diversos: o primeiro por terrorismo: Molina. pot corrupção de menores. Em conivência com o diretor da penitenciaria, e sob a promessa de receber indulto. Moina é transferido para a cela de Valentin a ítni de obter dele informações Çobre a grupos guerrlhciros. São colocadas assim, frente o frente, duas ideologias aparentemente opostas e coniraditõrias: a do marxista engajado na guerrilha e a dhomossexttal que sonha e sofre t'l'n função dos mitos foi das pela sua vivência. Corri ' tempo e o espaço suspensos pela realidade de uma prisão. Molina começa a ter uma trama fjnssjnsa mas resistente. atrases da narração de filmas que visam a preencher o tempo dos protagonistas, assim como o espaço do romance. Valentin e a primeira "vitima" da seçreão narratisa de Molina e. simultáneamerne, nos ltitore,,., nos entregamos ao mundo da Imaginação e do prazer sugeridos pelos argumentos cinemaititgraticos. Nos tambem somos presas da sedução serbal medraiiz,ada pelas narrativas centradas au heroinas românticas das décadas de 30 e 40: sedutoras, vítimas de maldições. espiãs, mulheres fatais, etc. Seguindo a tradição instaurada nus seus três romances anteriores (A tradição de Rita H.yworth. Boquinhas Pintadas, The Buenos Mres AIFair, itxlos eles já tradu7idos ao português). Puig pode ser considerado um ssrdadeiro demolidor de mulos No caso deste romance, é colocada em seque a mitologia da esquerda - via Valentin -, atrases dos seus desejos. ideais, conflitos e frust rações. e os mitos do mundo heterossexual em relação a homossexualidade Os sabres inicialmente em oposição, através da', duas personagens, são o discurso político vs. o discurso do prazer. Valentin logo de início representa a censura repressora. Ele esmaga as possibilidade, do discurso do prazer, preferindo a sisudez do discurso racional: um mundo de valia-es onde a moral da "reflexão seria" e dos esrudos leoncos, visam a obliterar o prazer e a Fantasia, qualificados por ele como "besteira" Valentin forja uma imagem de si mesmo cartesiana-engajada. onde tem que prevalecer uma lógica de pensamento coerente, argumentativa e acima de tudo, racional. Apesar do fascínio que a narrativa de Molina sobre um Filme da época nazista lhe causa, nele é imperalussi o julgamento: "uma imundície nazista" 5e por um lado Puig constrói uma mitologia gay atrases do gosto camp (cafona) das heroínas Manuel Pulg romãnticas com as quais Molina inevitavelmente st' identifica. Valentin reproduz às avessas ornesmo esquema. No cap. VI. e através do artificiodo fluxo de pensamento irnenonzado. Valentin mostra o re',erso da medalha do heroismo romântico com o qual ele se identifica: heróis da guerrilha, intelectualizados, dedicação total à causa, coriSciência plena dos esquemas de exploração, etc. Os mitos do celulóide que ecoam no corpo e na ss.)z de Molina, equivalem às aspirações heróicas do guerrilheiro Valentin: duas utopias de um mundo colonizado. onde Maria Felix e Che Guevara se complementam e acham um lugar com m. Nte confronto de personalidades. Valentin recria dentro da cela, aquilo que ele mesmo tenta combater no sociedade: a figura de explorador. Inconsciente disto, ele afirma: "Aqui ninguém oprime ninguém" 1175). quando na realidade de reproduz, entre as quatro paredes, o estereótipo da relação heterossexual machista: de é cuidado por Motina. de quem exige continuamente produção: produção narrativa, produção culinária. Por sua vez, e simbolicamente, ele vau a "O BC&O da Mulher Aranha" também está no nosso reembolso postal. Quem quiser receber o livro de PuIg, é só pedir à Esquina Editora de Livros, Jornais e Revista, Ltda., Caixa Postal 41031, CEP 20400, Rio de Janelro. RI O livro tem 246 páginas e custa Cr$290,00. Perante a noticia da salda de Molina, seu corpo se manifesta antes que sua mente: "Nácisei, meu estômago se fechou com a not)da; aos poucos. a camada racional de Vajentin vai-se desarticulando, para dar lugar aos sentimentos e ao prazer. Chegamos ao centro da tessitura da aranha. onde se produz o beltissimo encontro dos carpos. A fusão das personalidades se realiza da maneira mais notável: Molina procura no seu próprio roato sinais pertencentes ao rosto de Valentin: (Molina) - Agora sem querer botei a ruão na minha sobrancelha à procura do sinal. - Qual sinal?... Eu saibo um sinal, ssXê não. (Molina) - Sim, já sei, mas bs*d a mão na minha sobrancelha para tocar o sinal.., que não tenho (189) Vemos corno os opostos se anulam, a alteridade se dilui. Há um profundo processo de identificação, gesto antropoíágico por excelência, mediatizado pela 'devoração' sexual: "Ou que eu não era eu. Que agora eu... era so", balbucia Molina. A sucessão dos escutas Faz das persanagens, inicialmente em oposição, uma relação cruzada: não só pelo caráter dramático do enss,lvimcnio, mas pelo imprevisível desfecho. Neste sentido, o domínio da narração folhetinesca é perfeito: a intriga adquire um ritmo vertiginoso; os filmes têm cortes nos moi-isentos de maior suspense. criando "ganchos" para dar continuidade nos capitulas seguintes, aguçando assim nossa curiosidade. preencher um dos mitos mais arraigados na psique de Molina, de um feminino estereotipado: sustentar o bole, submeter-se a ele: Molina almeja ser mulher-objeto, ter, por função, dar prazer ao outro. Ao questionar sua submissão. responde Molina: "Mas se um homem.., é meu marido, ele teu que mandar, para se sentir bens. Isso e natural, porque então de... e o homem da casa'' t210i. a Ptiig è implacavel na apresentação de uma tipologia das personagens Cabe perguntar. Há lugar para a abs'açâo? Sim. Fiel à tradição do romance fo!hctinestxs, a redenção só pode se dar atrases do amor. A partir do sexto capitulo. o universo racional de Valentin começa a ruir. Ao poucos vai-se criando uma fissura que permite a penetração de Molina no mundo de Valentin, na medida em que a narração dos filmes - uma grande vagina - gradativamente vai absorsendo Valentin Sua dependência cm relação aos Paralebamente, alguns caphulos vêm acompanhados de extensas notas de rodapé. que recuperam as mais disersas teorias sobre a homossexualidade. Ê um discurso científico, uma espede de marginália teórica, distanciada da fiecioiiab. e que passa por Freud e seus seguidores, Melaine Klein. Marcuse, Denis Altman e outros. A função didática e inegavel. diversificando bitpressão estereotipada que possamos ter de Molina mulher", ao mesmo tempo que cria um outro discurso, ou outro ponto de vista, sobre a mesma personagem. relatos é cada vez maior: e se no início Valeniju questiona certos esquemas "reacionários' propostas pelos filmes, no Final sua fortaleza argumentativa começa a desmoronar. Hipnotizado pela teia narrativa do penúltimo filme (Aoha da mulher zumbi, inspirado provavelmente em 1 walkad s.lth a zombi. prod, Vai Leion. 19444, ele nem chega a questionar o paródico argumento da exploração colonialista. em que um americano mantém. em regime de escravidão, um séquito de zumbis numa ilha do Caribe, a fim de aumentar a produção de bananas. Gradativamente, Valentjn acaba assimilando e até reproduzindo o reperTcii-io de Molina. Urna das maiores dificuldades de Valentin é a de verbalizar seus sentimentos, por ele qualificados, no início, como" fraqueza" (39). O evidente sucesso do romance reside justamente naquilo que ele mais quer desmascarar: o discurso da opressão e a porosidade de certos modelos esquemáticos. O romance acaba também sendo vitima de suas próprias investidas: sua proibição na Argentina (lugar de nascimento do Autor) e eu Cuba, mostra insuspeitadas coincidências ideológicas da estrema direita e extrema esquerda, desvendando a radical intolei-Ancia com a crítica. Por isso, muito cuidado ao mexer com os mitos! Eva Perón e Fidel devem ser preservados no panteão sagrado dos heróis nademais. Ai de quem os converter numa ópera' rock, num romance folheinesco, numa paródia, ou os puser lado a lado com a Garbo, heroína incólume. (Jorge Schwarlz) -J ** i APPAD da parada tia divt'rsidadi' Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE