TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO: REPENSANDO A FORMAÇÃO DOCENTE A PARTIR DA PERSPECTIVA SISTÊMICA WEISSBÖCK, Lara Pires – UNICENTRO [email protected] Eixo Temático: Comunicação e Tecnologia Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo é parte de meu trabalho de conclusão do curso de Pedagogia: Docência e Gestão Educacional da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (UNICENTRO), realizado no corrente ano, sob a orientação da Professora Doutora Margareth de Fátima Maciel. Buscou-se analisar, através de pesquisa bibliográfica com abordagem na Teoria Sistêmica a partir de estudos de Fritjof Capra (1996), as possibilidades pedagógicas das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC’s) e a importância de se repensar a formação do professor no que diz respeito à utilização dessas tecnologias, em específico da internet, tendo em vista que a aprendizagem não deve ser encarada tão e somente como uma atividade, mas como uma atitude. Procurou-se relacionar a teoria sistêmica com a importância de uma ação docente pautada em objetivos que promovam comportamentos e atitudes que levem à ação e à reflexão dos discentes, bem como a uma prática crítica, criativa e reflexiva dos docentes. Ao mesmo tempo, discutir a velocidade de acesso à informação pelos alunos por outros mecanismos que não o ambiente escolar e de como poderia ser se utilizadas adequadamente as ferramentas tecnológicas. Este estudo apontou para o entendimento de que as TIC’s, a priori, tem potencial de interatividade (potencial oferecido pelos meios de comunicação), no entanto, não garantem a interação (participação efetiva no processo de comunicação), a qual depende dos envolvidos nos processos. Além disso, trouxe contribuições no entendimento de que ao participarmos desta rede comunicacional, ao considerarmos mudanças paradigmáticas no campo educacional, faz-se necessário que descontruamos algumas certezas que temos, lembrando que uma mudança não ocorre quando adotamos novas ferramentas, mas quando adotamos novos comportamentos. Palavras-chave: Formação de professores. Informática na educação. Teoria sistêmica. Introdução O desenvolvimento científico e tecnológico, decorrente da sociedade da informação, é entendido como um marco para o repensar do ensino oferecido. Vive-se um momento em que 3820 o conhecimento está disponível nas redes virtuais, televisivas, fazendo com que o acesso a ele não esteja mais apenas nas instituições de ensino, mas sim em toda aldeia global. O desafio está na forma com que acessamos essas informações recebidas, como as interpretamos e, acima de tudo, como produzimos novas informações pautadas na criatividade, na colaboração e na ética. A partir do entendimento de que a educação, no contexto atual, em certos momentos ainda está pautada em um modelo pedagógico tradicional de ensino que, de certo modo, impede o desenvolvimento do ser humano em sua totalidade, este estudo faz uma referência inicial ao processo histórico da tecnologia na educação como forma de contextualizar e compreender a sua evolução até os dias de hoje. Após, passa a analisar, a partir de uma pesquisa bibliográfica com fundamentação teórica na abordagem sistêmica, a importância das TIC’s na educação e a formação do professor no que diz respeito à utilização dessas tecnologias, em específico da internet. O advento da tecnologia na educação e suas repercussões Tendo por base os estudos realizados por Dreifuss (1996), Carvalho (2008) e Levy (1999), os primeiros computadores surgiram na Inglaterra e nos Estados Unidos em 1945, como calculadoras programáveis capazes de armazenar programas e por muito tempo foram reservados aos militares para cálculos científicos ou a tarefas pesadas de gerenciamento como folhas de pagamento. Seu uso civil disseminou-se durante os anos 60. Porém, apenas nos anos 70 é que houve maior comercialização do microprocessador (unidade de cálculo aritmético e lógico localizada em um pequeno chip eletrônico), disparando diversos processos econômicos e sociais de grande amplitude e, abrindo uma nova fase na automação da produção industrial, da robótica, das linhas de produções flexíveis, das máquinas industriais com controles digitais etc. Nascido na Califórnia, na efervescência da contracultura é que o computador torna-se pessoal. Nos anos 80, a informática perdeu seu status de técnica e de setor industrial particular e começou a fundir-se com a televisão, telecomunicações e com o cinema. No final dos anos 80 e início dos anos 90 configurou-se um momento em que as tecnologias digitais 3821 surgiram como um espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização e de um novo mercado de conhecimento. O avanço da tecnologia proporcionou a construção do computador, criando-se um sistema de redes de telecomunicação que é um complexo baseado em um sistema composto de imagens, informações e comunicações, em que sua finalidade é aproximar diferentes pessoas, independente de sua posição geográfica. A partir desse sistema de redes, a forma com que se adere à informação modificou-se nas últimas décadas. No início da década de 90, segundo Carvalho (2008, p.76 apud BERNERS-LEE, 1994, p. 76) referem que este sistema, a Web, “foi desenvolvida para ser um repositório do conhecimento humano, que permitiria que colaboradores em locais distintos partilhassem as suas idéias e todos os aspectos de um projecto comum”. A ideia de partilha e de fácil acesso contribuiu para o seu sucesso, superando as expectativas. Para Carvalho (2008) a Web começou sendo texto com hiperligações, às quais foram sendo incorporadas imagens, sons e mais tarde os vídeos. Em alguns momentos pareciam mostruários de cores, sons e animações. Depois da euforia multicolor e sonora, passou-se a uma fase de maturidade em que se procurou a sobriedade e a simplicidade. Com a Web houve a democratização à publicação online e o acesso à informação. Aqueles que fizeram crescer o ciberespaço1 são, em sua maioria, anônimos, amadores dedicados a melhorar e expandir constantemente esse espaço de comunicação e compartilhamento de informações e, que, com isso, passaram a ser vistos com outros olhos no cenário mundial. Há no ciberespaço um dispositivo de comunicação interativo e comunitário, o qual se apresenta como um instrumento privilegiado da inteligência coletiva, em que, segundo Levy (1999, p.30) “constitui um dos melhores remédios para o ritmo desestabilizante, por vezes excludente, da mutação técnica”. A relação com o conhecimento modifica-se com essa nova perspectiva de aquisição do conhecimento e de relacionamento. Nas sociedades anteriores à escrita, o conhecimento prático e mítico era representado e repassado pelos mais velhos. Com a sua morte, era como se uma biblioteca queimasse. Com o surgimento da escrita, o saber é transmitido pelo livro, em que um intérprete domina o conhecimento. Após, há a invenção da impressão em que o 1 Para Levy ciberespaço é “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores.” (LEVY, 1999, p. 42) 3822 conhecimento passou a ser transmitido pela biblioteca e estruturado por uma rede de remissões dominadas pela figura de um sábio, um cientista. Segundo Levy (1999, p. 164), com o advento das tecnologias, um quarto tipo de relação com o conhecimento passa a existir em que “o portador direto do saber não seria mais a comunidade física e sua memória carnal, mas o ciberespaço, a região dos mundos virtuais, por meio do qual as comunidades descobrem e constroem seus objetos e conhecem a si mesmas como coletivos inteligentes”. Segundo Levy (1999, p.15) o dilúvio informacional jamais cessará e “não há nenhum fundo sólido sob o oceano das informações. Devemos aceita-lo como nossa nova condição. Temos que ensinar nossos filhos a nadar, a flutuar, talvez a navegar”. A nós, educadores, cabe este mesmo desafio de reconhecer a existência do mundo virtual procurando orientar a sua utilização consciente. Para Kenski (2007, p.68) “o desafio é o de inventar e descobrir usos criativos da tecnologia educacional que inspirem professores e alunos a gostar de aprender, para sempre”. No entanto, o virtual não substitui o real, assim como as tecnologias não substituem o professor, apenas multiplicam as oportunidades de atualização das informações, podendo proporcionar outras formas de apropriação e/ou reapropriação das mesmas de forma interativa. Teoria Sistêmica e as TICs na Educação Para Behrens (1999, p.17): Um dos grandes méritos deste século, sem dúvida, é o fato de os homens terem despertado para a consciência da importância da educação como necessidade preeminente para viver em plenitude como pessoa e como cidadão envolvido na sociedade. Pensar na Educação, implica refletir sobre os paradigmas que caracterizaram o século XX e sobre a projeção das mudanças paradigmáticas no século XXI. O século XX, como o anterior, esteve fortemente influenciado pelo método cartesiano, apresentando uma dicotomia que marca a divisão entre mente e matéria, corpo e espírito propondo também uma divisão do conhecimento em campos especializados e específicos. Isso acabou levando a comunidade científica a um reducionismo e a uma visão fragmentada da realidade, dos organismos vivos, dos seus valores e sentimentos. Isso influenciou o campo da educação registrando a marca de um pensamento racional, fragmentado e reducionista. 3823 Porém, esta visão caracterizou-se como uma trajetória necessária ao processo evolutivo do pensamento humano. Esse saber fragmentado influenciou a separação dos cursos em disciplinas estanques, em períodos e séries, restringindo a ciência e os profissionais a especificidades. Segundo Behrens (1999) a tendência acentuada, ao ser entendida como tecnicizante, com finalidades específicas e objetivas da natureza, caracterizam-se por oferecer uma formação utilitarista, técnica e científica. Neste momento, no campo educacional, há uma forte influência positivista passando a credenciar como legítimo todo o conhecimento científico comprovável, racional e objetivo. Passa-se a assumir e aceitar o paradigma mecanicista, ocupando um papel fundamental na reprodução de toda atividade científica. Afirma ainda, que a visão fragmentada levou professores e alunos a processos que acabam por restringir a produção do conhecimento, em que as metodologias utilizadas pelos docentes, muitas vezes, têm estado assentadas na reprodução, na cópia e na imitação. A ênfase do processo pedagógico recai no produto, visando cumprir tarefas repetitivas que, muitas vezes, não apresentam sentido ou significado para quem as realiza. Behrens (1999) compreende que não se trata de anular esta concepção, a qual é um processo histórico, mas de superá-la, progredir qualitativamente segundo as novas exigências históricas. Diante de um contexto de mudanças, em que há o desenvolvimento por parte de cientistas e intelectuais de teorias inovadoras que desestabilizam verdades tidas como absolutas e mesmo inquestionáveis, como ocorre com todo novo conhecimento adquirido, destaca-se a teoria sistêmica, que começa a ser discutida a partir da década de 1950 por Von Bertalanflly. O foco desta teoria estava em torno dos sistemas biológicos e sociais, afirmando que todo organismo vivo se mantem por meio de interações dinâmicas num estado de equilíbrio constante. O pensamento sistêmico apresenta uma compreensão da realidade em totalidades integradas não descartando a sua constituição em partes menores, mas considerando essas partes como fundamentais para o todo. Essa teoria geral dos sistemas influenciou várias áreas do conhecimento, entre elas a física na qual se destacou Fritjof Capra que ampliou o conceito de sistema afirmando que todo sistema é um conjunto de partes interdependentes que forma um todo com determinadas características e funções. 3824 Para Capra (1996) o pensamento sistêmico determina uma abordagem em que as partes são entendidas a partir da organização abstrata de fenômenos, de relações e interações entre essas partes, independente de suas formações e configurações presentes, não devendo ser isolada uma entidade para o estudo individual das propriedades e sim focalizar nas suas interconexões. Logo, no momento em que um dos elementos é isolado, o pensamento sistêmico deixa de existir. Morin (2007, p.20) afirma que a teoria dos sistemas é ampla e sua virtude está em: a) ter posto no centro da teoria, com a noção de sistema, não uma unidade elementar discreta, mas uma unidade complexa, um “todo” que não se reduz à “soma” de suas partes constitutivas; b) não ter concebido a noção de sistema como uma noção “real”, nem como uma noção puramente formal, mas como uma noção ambígua ou fantástica; c) situar-se a um nível transdisciplinar, que permite ao mesmo tempo conceber a unidade da ciência e a diferenciação das ciências, não apenas segundo a natureza material de seu objeto, mas também segundo os tipos e as complexidades dos fenômenos de associação/organização. Nas décadas de 1950 e 1960, o pensamento sistêmico influenciou a engenharia e a administração, em que essas concepções eram aplicadas na resolução de problemas práticos, dando origem às novas disciplinas da engenharia de sistemas, da análise de sistemas e da administração de sistemas, com uma concepção direcionada ao desenvolvimento tecnológico e não ecológico. Embora isso tenha ocorrido, o pensamento sistêmico nos dá a possibilidade de estruturar as relações sociais a partir de uma concepção de rede, em que: A percepção do mundo vivo como uma rede de relações tornou o pensar em termos de redes – expresso de maneira mais elegante em alemão como Vernetztes Denken – outra característica-chave do pensamento sistêmico. Esse “pensamento de rede” influenciou não apenas nossa visão da natureza, mas também a maneira como falamos a respeito do conhecimento científico (CAPRA, 1996, p. 47). A noção de conhecimento científico como uma rede de concepções e de modelos em que nenhuma das partes é mais fundamental do que as outras, na década de 1970 foi formalizada, por Geoffrey Chew2 em sua filosofia bootstrap, a qual abandona a ideia de 2 Físico contemporâneo. Sua teoria é fundamentada na mecânica matricial de Heisenberg. Nele o mundo é visto como uma teia dinâmica de relações configurada por hadríons, partículas de alta energia e caráter auto-gerativo, presentes em todo o universo. Não se admite a existência da partícula fundamental, mas sim que a ilusão de concretude e finitude da matéria nos é dada por limitações humanas em termos de percepção e de consciência. 3825 blocos de construção fundamentais da matéria não aceitando entidades fundamentais, nem mesmo leis e equações, percebendo o universo material como uma teia dinâmica de eventos inter-relacionados e conectados. Este, “postula a existência de consciência na natureza como um elemento necessário à auto-consistência desta última e, se assim for, as futuras teorias da matéria terão de incluir o estudo da consciência humana” (SANTOS, 1988, p.14). Ainda acerca das concepções da teoria sistêmica: O pensamento sistêmico é sempre pensamento processual, e a linguagem sistêmica é uma linguagem ecológica – a qual faz um estudo profundo das relações entre os seres vivos e seu meio ambiente – é um pensamento relacional, dialógico, indicando que tudo que existe, co-existe e nada sobrevive fora de suas conexões e de suas relações de troca e realimentação. Onde quer que encontremos sistemas vivos – organismos, partes de organismos ou comunidades de organismos – podemos observar que seus componentes estão arranjados à maneira de rede. Sempre que olhamos para a vida, olhamos para redes (CAPRA, 1996, p.77-78). O processo educativo pautado em relações dinâmicas passa a ser concebido em termos de conexões, de inter-relações, teias, movimentos e fluxos de energias em um processo de mudanças e de constantes transformações, contemplando o conhecimento construído, metaforicamente, como uma rede. Esses momentos caracterizados por transições paradigmáticas causam turbulências e manifestações, influenciando diretamente a sociedade e a educação. No campo educacional, Moran (2000) afirma e questiona sobre o fato de que muitas metodologias utilizadas não correspondem mais com as necessidades dos alunos, parecendo que se aprende pouco e que há uma desmotivação por parte de quem frequenta a escola, sejam professores ou sejam alunos. A sensação é de que muitas aulas estão ultrapassadas e sem perspectiva de mudança. Diante disso, como atuar pedagogicamente em um meio digital? As mudanças educacionais dependem, além de professores e gestores amadurecidos intelectual e emocionalmente, de alunos curiosos e motivados a participar deste processo. Quando há a referência à mudança entende-se “a transformação histórica qualitativa pela qual passa uma sociedade alterando a relação entre os homens na direção de maior justiça, de verdade, de sentido ético, estético e de maior liberdade” (ALMEIDA, 1999, p. 51). 3826 Essa visão parece modificar a importância da educação na sociedade. Para Almeida (1999, p.52) a mudança na escola está relacionada a “ensinar a pensar e criticar as realidades opressoras; educar para autonomia; partir das reais necessidades dos alunos; instrumentalizar a todos para participarem dos benefícios produzidos pela sociedade, isto é fazer uma educação para a mudança”. Na leitura de Arroyo (1991), as contradições que existem no sistema escolar inibem essas mudanças e que a inovação educativa representa a ideia de que as decisões sobre a escola vêm de fora para dentro, comprovando que essas decisões não se efetivam no âmbito escolar porque a ação pedagógica é outra. Por outro lado, há canais que pretendem facilitar a participação dos professores, mas que são insuficientes, pois os professores não têm em suas condições de trabalho como acompanhar as mudanças e, ao mesmo tempo, estarem preparados para enfrentá-las. Por estes motivos a era digital, que vem alterando os comportamentos e o modo de aprender dos alunos, não fez o mesmo com os professores. Muitos são chamados a enfrentar uma nova postura instalada na escola e “o aluno já chega à escola transportando consigo cada vez mais um mundo e uma carga de informações que ultrapassam o estreito âmbito da família, transmitidos sobretudo pelos meios de comunicação” (GADOTTI, 2000, p.45). Hoje, espera-se que as relações na escola não limitem-se somente àquelas que incentivam os padrões de comportamentos de senso comum recebidos por ambientes externos, mas que acompanhe as mutações do mundo atual, em que: O uso de novas tecnologias no processo de ensino e da aprendizagem torna-se uma das alternativas que pode contribuir para a melhoria da qualidade da educação, desde que sejam articuladas ao projeto de trabalho docente-discente. Isto é, primeiro se apresenta e se discute o quê e para quê determinado conteúdo será estudado (SILVÉRIO E ALTOÉ, 2008, p.27). Nesse sentido, é imprescindivel que haja interesse e investimentos de órgãos públicos na capacitação de professores desde o ensino fundamental aos cursos de pós-graduação com o intuito de melhorar o desempenho, enfocando as mais diversas áreas. Busca-se uma prática pedagógica que supere a fragmentação e reprodução do conhecimento, em que: 3827 (...) a melhor forma de propor o trabalho com as novas tecnologias é fazê-lo em grupo, definindo coletivamente o que será feito, estudando juntos para superar as dificuldades e partilhar os resultados. Assumir um trabalho isoladamente, sem que a escola se conscientize do que ocorre em seu interior, pode não ser a melhor saída (SILVA E ALTOÉ, 2008, p.35). Além disso, compreende-se como necessário estimular a análise, a capacidade tanto de compor quanto de recompor dados, informações e argumentos. É imprescindível que se busque instigar o aluno a reconhecer as realidades, refletindo sobre ela. O professor, neste contexto, deve propor um estudo sistemático, uma investigação orientada a fim de ultrapassar a visão de que o aluno é apenas um objeto, entendendo-o como um sujeito produtor do seu próprio conhecimento, o qual deve ser criativo e crítico. Estes entendimentos conduziram a mudanças paradigmáticas no campo educacional, no sentido de encontrar parâmetros para uma mudança nos planos epistemológicos e práticos. Esse paradigma, como uma nova forma de pensar e conceber a realidade é apresentado por Moraes (1997) como um paradigma que reconhece “a interdependência existente entre os processos de pensamento e de construção do conhecimento e o ambiente geral”, uma proposta que traz “a percepção de mundo holística, global, sistêmica” (MORAES, 1997, p.17). A Importância da Formação Docente em Ambientes Informatizados A recente inserção da informática na escola e, em particular, os cursos oferecidos aos professores, parecem denotar pouco entendimento acerca dos objetivos pedagógicos desta formação. Para Moraes (2000) os projetos de informática educativa têm se limitado, na maioria das escolas, a aprender informática, fato este que ocorre pela falta de compreensão e conhecimento para que o uso dessas tecnologias seja adequado nos ambientes escolares. Para Kenski (2007), os projetos educacionais para o uso das tecnologias não podem ser pensados apenas como uma forma diferenciada de promover o ensino. Devem ser entendidos como formas poderosas de interação, cooperação e articulação, podendo abranger professores, alunos, pessoal administrativo e técnico das escolas, pais e demais segmentos. “Eles viabilizam o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da gestão da educação em caminhos novos e diferenciados” (KENSKI, 2007, p.68). Neste sentido, “estamos falhando por falta de metodologias adequadas e epistemologicamente mais atualizadas, inspiradas em paradigmas que facilitem a 3828 operacionalização dos trabalhos na direção construtiva e criativa que almejamos” (MORAES, 2000, p. 27). Sob essa ótica, a educação é considerada um sistema aberto e transformador que valoriza as ações do sujeito com os demais e com o meio em que vive. A educação tende a seguir outro parâmetro que não seja somente o desenvolvimento de habilidades cognitivas, mas também implica uma ação conjunta da “intuição, da criatividade, da responsabilidade social incluindo os componentes éticos, afetivos, físicos e espirituais” (MORAES, 1997, p. 211). Para isso, há que se rever a prática e a formação dos professores no sentido de promover uma mudança capaz de cumprir com os propósitos acima, uma mudança de paradigma que se configura numa reconstrução e melhoria das “concepções e prática pedagógicas, resgatando o prazer e a alegria na práxis docente criando novos ambientes de aprendizagem e construindo novos horizontes capazes de gerar novas dinâmicas, novos processos e valores” (MORAES, 2000, p. 11). Portanto, a educação começa a tomar rumos bem distintos de tempos atrás quando os recursos disponíveis para o ensino eram apenas o quadro negro, a cartilha, a disciplina e o controle. Não se nega a necessidade da competência técnica. É imprescindível que o professor tenha o “conhecimento dessa ferramenta e seja capaz de proporcionar ambientes fecundos para que a aprendizagem ocorra por meio da construção de novos conhecimentos. Assim, o papel do professor deve ser o de desafiar o aprendiz a investigar, refletir, levantar hipóteses, testá-las” (KANNO E ALTOÉ, 2008, p. 23) e corrigir os percursos quando necessário. Compreende-se como imprescindível a discussão acerca de que competência é esta e para quem ela se faz necessária. O desafio está na superação do saber fragmentado, em que o professor, segundo Behrens (1999), deve buscar ultrapassar a reprodução para a produção do conhecimento, buscando caminhos alternativos, visto que os desafios da prática pedagógica são cada vez mais complexos. Complementarmente, Alarcão (2005, p.15) compreende que na era da informação, da comunicação e do conhecimento, o saber não se limita à escola e, mais do que isso: 3829 O professor não é o único transmissor do saber e tem de aceitar e situar-se nas suas novas circunstâncias que, por sinal, são bem mais exigentes. O aluno também já não é mais o receptáculo a deixar-se rechear de conteúdos. O seu papel impõe-lhe exigências acrescidas. Ele tem de aprender a gerir e a relacionar informações para as transformar no seu conhecimento e no seu saber. Também a escola tem de ser uma outra escola. A escola, como organização, tem de ser um sistema aberto, pensante e flexível. Sistema aberto sobre si mesmo, e aberto à comunidade em que se insere. Além disso, faz-se necessário instigar os alunos para a recuperação de muitos valores perdidos na sociedade moderna. Não há a pretensão, neste estudo, de estabelecer ações, leis e respostas prontas, mas propor encaminhamentos que instiguem a busca por metodologias com criticidade, em que professores e alunos trabalhem, nesta concepção, em parceria, prevendo a práxis, estabelecendo relações dialógicas a fim de realizar um trabalho coletivo. Segundo Maciel e Faccin (2009, p.9), esta postura acaba por interferir no modo de agir e pensar do aluno, pois “as atividades são mais diversificadas e envolvem outros conhecimentos, habilidades e potencialidades, levando-o a obter maior conhecimento da realidade através da descoberta, da exploração e da criatividade”. Kenzi (2007) afirma que professores bem formados são detentores de habilidades para lidar com a diversidade de seus alunos e, colaborativamente, aproveitar o progresso e as suas experiências prévias na utilização criteriosa das tecnologias sob uma ótica educacional. E mais, que: O uso criativo das tecnologias pode auxiliar os professores a transformar o isolamento, a indiferença e a alienação com que costumeiramente os alunos frequentam as salas de aula, em interesse e colaboração, por meio dos quais eles aprendem a aprender, a respeitar, a aceitar, a serem pessoas melhores e cidadãos participativos. Professor e aluno formam “equipes de trabalho” e passam a ser parceiros de um mesmo processo de construção e aprofundamento do conhecimento: aproveitar o interesse natural dos jovens estudantes pelas tecnologias e utilizá-las para transformar a sala de aula em espaço de aprendizagem ativa e de reflexão coletiva; capacitar os alunos não apenas para lidar com as novas exigências do mundo do trabalho, mas, principalmente, para a produção e manipulação das informações e para o posicionamento crítico diante dessa nova realidade” (KENZI, 2007, p.103). A partir destes entendimentos, devemos refletir sobre a necessidade de superação, como já foi dito anteriormente, de metodologias reprodutivas e conservadoras mantidas na ação pedagógica da cópia e da repetição. Além disso, “a percepção de que o conhecimento 3830 constitui-se em uma teia de relações complexas” e que se “exige pensar cada vez mais na possibilidade do trabalho interdisciplinar e em novas maneiras de comunicação e interação” (SILVÉRIO E ALTOÉ, 2008, p.32). Alarcão (2005, p.41), neste sentido, acredita nas potencialidades do paradigma de formação do professor reflexivo em que: (...) a noção de professor reflexivo baseia-se na consciência da capacidade de pensamento e reflexão que caracteriza o ser humano como criativo e não como mero reprodutor de ideias e práticas que lhe são exteriores. É central, nesta conceptualização, a noção do profissional como uma pessoa que, nas situações profissionais, tantas vezes incertas e imprevistas, actua de forma inteligente e flexível, situada e reactiva. Para esta mesma autora, o ensino reflexivo está como uma preocupação ativa com objetivos e consequências, bem como com significados e eficiência técnica. O contexto social da aprendizagem tem influência no desenvolvimento de determinadas atitudes. Essas atitudes, quando positivas no que diz respeito à forma de pensar, acabam sendo encorajadas por um ambiente aberto ao questionamento e à exploração, da mesma forma que podem ser desencorajadas por ambientes autoritários e por aqueles em que a ênfase recai sobre a memorização (ALARCÃO, 1996). Desta forma, a aprendizagem não deve ser encarada tão e somente como uma atividade, mas também como uma atitude, visto que para ensinar a pensar, não se faz necessário ensinar apenas estratégias de pensamento, mas também criar um clima de liberdade. Considerações Finais As mutações no âmbito educacional quanto à expansão das metodologias de ensino a partir da informática, permitem que professores e alunos tenham a possibilidade de manter relações participativas pautadas na coletividade e na interatividade. Parece impossível segurar o anseio pela autonomia comunicacional nessa era em que as tecnologias digitais levam a mudanças paradigmáticas, permitindo que o indivíduo e/ou o coletivo identifique-se e participe, ou não, da rede. Ao participarmos desta rede, faz-se necessário que desconstruamos algumas certezas que temos, lembrando que uma mudança não ocorre quando adotamos novas ferramentas, mas quando adotamos novos comportamentos. Ferramentas não causam, mas viabilizam mudanças. Não dá para pensar na 3831 ferramenta, mas com as ferramentas. A tecnologia está disponível, a questão é saber como e quando usar. Quando se aumenta a conectividade, se diminui o grau de separação. Concordo com Alarcão (1996) quando afirma que ninguém é obrigado a adotar uma postura reflexiva, embora todos devam ser estimulados a ter esta postura. É preciso compreender as pessoas que fazem parte da rede, a forma com que se relacionam com o conhecimento, com os valores e com as outras redes. O digital não substitui, mas pode potencializar os recursos pedagógicos. Com isso, é imprescindível que entendamos que não é suficiente falarmos em tecnologias digitais levando em conta apenas fatores tecnológicos, devemos levar em conta as pessoas que interagem entre si. REFERÊNCIAS ALARCÃO, Isabel. Formação Reflexiva de Professores: Estratégias de Supervisão. Portugal: Porto Editora, 1996. ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo, Cortez: 2005. ALMEIDA, Fernando José de. 500 anos de buscas sobre educação: de Anchieta até nós. IN: FAZENDA, Ivani (Org.) Interdisciplinaridade e novas tecnologias: formando professores. Campo Grande: UFMS, 1999. p. 47-73. ARROYO, Miguel. Revendo os vínculos entre trabalho e educação elementos materiais da formação humana. In: SILVA. T. T. (org.) Trabalho, educação e prática social. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. P. 163-216. BEHRENS, Marilda Aparecida. O Paradigma Emergente e a Prática Pedagógica. 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