A dinâmica do Bairro do Pirambu e a conseqüente geração de inovação, com
emprego, renda e inclusão.
Teresa Lenice Nogueira da Gama Mota
[email protected]
Pedro Jorge Ramos Vianna
[email protected]
O presente trabalho visa a explicitar a dinâmica socioeconômica ocorrida no Bairro do
Pirambu, periferia da cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, de trabalho
desenvolvido na área de TI pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará –
CEFET-CE, em cooperação com a entidade comunitária Movimento Emaús – Amor e
Justiça. Este trabalho, possibilitou e ainda possibilita que a comunidade local viesse (e
continua vindo) a se beneficiar da difusão do ensino tecnológico na área de TI,
possibilitando, desta forma, à comunidade – e principalmente à juventude do Bairro –
maiores oportunidades de emprego, de ampliação do nível de renda e de inclusão social.
Dada a complexidade do assunto, antes de se analisar os resultados do trabalho
desenvolvido pelo Projeto “Pirambu Digital”, analisar-se-á o referencial teórico, base
das ações desenvolvidas no contexto do Projeto.
1. Territórios: dimensão espacial, social e produtiva.
Pode-se entender o espaço como formado por dois componentes interativos essenciais: a
configuração territorial, ou seja, o conjunto de dados naturais mais ou menos
modificados pela ação do homem, através dos sucessivos sistemas de engenharia; e a
dinâmica social ou o conjunto de relações que definem uma sociedade em um dado
momento e lugar.
Logo, a dimensão espacial e a dimensão social do território tornam-se indissociáveis
desde que a noção de território seja vista como uma dimensão social e interativa do
comportamento humano, social, econômico e político em dado espaço. Desta forma, a
conformação de um território e a organização de seus espaços reflete uma base material,
a partir da qual é possível pensar, avaliar e realizar uma gama de sensações, ações e
práticas sociais e econômicas (Harvey, 1992).
Assim, o indivíduo, grupo ou organização que ocupa um espaço tende a adotar
comportamentos de apropriação territorial, isto é, tende a exercer mais influência neste
espaço que em outra parte. A apropriação territorial dependerá, portanto, das interações
sociais, políticas e econômicas.
Estas interações podem se dar através de mecanismos de solidariedade social,
cooperação e ou competição. Elas podem ser sistematizadas e institucionalizadas. O
território delimita, portanto, além de espaços de interação, de convivência, e de fluxos
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de influência, a construção de uma identidade. O fato de compartilhar um mesmo
território permite aos seus ocupantes adquirirem conhecimentos, desenvolverem
experiências comuns, desenvolverem relações de confiança mútua, construindo uma
consciência coletiva.
Podemos, pois, falar de territórios de aprendizagem e, conseqüentemente, de territórios
produtivos, posto que a cooperação e a aprendizagem podem ser vistas como as
sementes do empreendedorismo, da formação de redes e da inovação e,
conseqüentemente, da produção competitiva.
No entanto, a competição competitiva vai requerer que os territórios produtivos se
organizem abrigando os agentes do sistema local de inovação, entre eles,
preferencialmente: aglomeração de micro e pequenas empresas; associações
representativas daquele segmento empresarial; instituições de ciência e tecnologia
capazes de prestar apoio à aglomeração instalada no território; agências governamentais
e não governamentais, do setor financeiro e do setor serviços. É importante ressaltar o
papel desses agentes enquanto protagonistas locais, dinamizando as interações no
território.
Os espaços da produção se caracterizam, portanto, pela distribuição territorial de um
conjunto de atores – empresas; associações empresariais, instituições de ciência e
tecnologia, agencias governamentais e não governamentais públicas e privadas, agentes
financeiros de crédito, bancos etc. – estreitamente ligados à comunidade local.
Percebe-se, pois, que para uma melhor compreensão da organização do espaço da
produção, o foco de análise não deve ser centrado apenas nas empresas, mas, sobretudo,
nas relações entre as empresas e entre estas e as instituições que interagem com elas
num determinado território produtivo.
Ademais, são vários os autores que fazem analogia entre a organização de uma grande
unidade fabril e a organização produtiva de um território. Cocco et al (1999) está entre
eles. Assim, realmente é possível fortalecer o empreendedorismo, a formação de redes e
a inovação. Para tanto, porém, é necessário trabalhar os conceitos de capital social,
governança e arranjos inovativos localizados, como faremos na Seção seguinte.
2. Capital Social, Governança e Arranjos Inovativos Localizados
A existência de capital social vai exigir confiança e espírito de cooperação entre os
atores do território, pois, o capital social pode ser entendido como o estoque de
recursos que serve de base para ações coletivas em busca de interesses comuns.
Por outro lado e de acordo com Fukuyama (1996) a construção do capital social exige
um código de confiança que se estabelece a partir de questões associadas à vida nos
lugares de trabalho e fora deles, porém dentro do território.
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Segundo Boudieu (1980) capital social se define como um agregado de recursos,
potenciais e reais, vinculados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos
institucionalizada de familiaridade e reconhecimento mútuo.
Há, portanto, em torno do capital social, uma expectativa de cooperação e de práticas
de ações coletivas, com reflexo no setor produtivo, gerando as chamadas economias de
escalas e propiciando aumento de produtividade. Quando a prática da cooperação se
estende para parcerias com instituições produtoras do conhecimento e,
conseqüentemente, em investimentos conjuntos em P&D se está favorecendo, também,
o potencial inovativo.
Há que ressaltar, ainda, como benefícios decorrentes da formação do capital social, o
compartilhamento da informação e do conhecimento, a criação de ambientes favoráveis
ao empreendedorismo, a coerência de ações na tomada de decisões coletivas, entre
outros.
A formação e o fortalecimento do capital social dependem diretamente: do nível
educacional; da prática do aprendizado interativo; dos sentimentos de pertencer ao
lugar; e da similaridade entre os interesses individuais e coletivos.
Por sua vez, na medida em que as ações deixam de ser cada vez menos individualizadas
e passam a ser, cada vez mais, coletivas, surge a necessidade de uma força de
coordenação, facilitando as sinergias e garantindo o alcance dos objetivos desejados.
Assim, a dimensão da cooperação acaba por influenciar as formas de coordenação e,
conseqüentemente, a governança, inclusive nas chamadas aglomerações produtivas
territoriais de Micro e Pequenas Empresas - MPEs. Desta forma, o surgimento de uma
boa governança depende de um aprendizado que pode ser derivado da construção e
consistência das ações coletivas (AMORIM et al, 2004).
Messner e Meyer-Stamer (2000) enfatizam que a governança no âmbito dos sistemas
produtivos envolve o planejamento para a negociação entre os agentes participantes que
interagem continuamente.
A governança exerce papel fundamental no estímulo à geração e ao fluxo do
conhecimento e aprendizado. Até porque a proximidade espacial ou geográfica, por si
só não é suficiente. Há que estimular a interação e a sinergia, observando cada
experiência, seus aspectos positivos e negativos, quando necessário até contrariando os
atores locais.
Estas discussões sugerem a mobilização produtiva desse tecido sócioterritorial para
planejar um contexto favorável visando às novas formas de desenvolvimento ao nível
local, com foco na inovação. Assim, devemos aprofundar as questões relacionadas ao
território e à organização da pequena produção, iniciando por mostrar as vantagens de
aglomerações produtivas territoriais. Complementa-se com o papel de diversos atores na
consolidação de referidas aglomerações, tendo como base o conceito de Arranjo
Produtivo Local – APL - e porque não dizer, de Arranjo Inovativo Localizado.
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Aglomerações produtivas territoriais de MPEs são espaços de compartilhamento do
conhecimento tácito (aprender fazendo) acentuando a aprendizagem como um processo
localizado que ocorre por meio da interação. Quando estas aglomerações produtivas
apresentam desempenho competitivo pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que o
capital social afeta o processo de aprendizagem, pois os atores ou agentes, ao
privilegiarem a interação e a atuação conjunta, consolidam estes territórios produtivos
como capazes de promover a geração, adaptação e difusão e/ou transferência do
conhecimento e, conseqüentemente, de gerar inovações.
Já no final do século XIX, mais precisamente em 1890, o economista Alfred Marshall
trazia em seus estudos a idéia da especialização espacialmente concentrada, que
ressurgiu nos anos 80, com o surgimento da nova economia regional baseada na
proposta das chamadas economias de aglomeração.
Referidas aglomerações devem atrair para o entorno, fornecedores, prestadores de
serviços, profissionais especializados na atividade e até mesmo centros de pesquisa com
foco na atividade específica.
Desse modo o lócus do aprendizado passa a considerar não só a interação entre a s
firmas, mas a interface com outros agentes existentes no território. Pode-se falar, então
de um Arranjo Produtivo Localizado, ou de um Arranjo Inovativo Localizado, pela
certeza da inovação, resultado das interações entre os diferentes atores.
3. Instrumentos de Inovação e Políticas Públicas de Apoio às PMEs
No entanto, para que a inovação ocorra, há que se assegurar a presença no território dos
fatores ou instrumentos de inovação. Em outras palavras, para haver inovação é preciso
que determinados fatores do ambiente sejam propícios à ocorrência, ou seja, é preciso
observar a forma como o território está organizado e, principalmente, a capacidade de
seus agentes de aprenderem a aprender (Mota, 2007).
A inovação irá depender da capacidade empresarial em promover pesquisa e
desenvolvimento e identificar novos produtos ou processo que sejam capazes de
assegurar vantagens competitivas. Irá depender, principalmente, da capacidade local de
criar uma atmosfera de transformação e progresso para o aprendizado regional e
coletivo.
Como protagonistas do processo os atores locais passam a influenciar e serem
influenciados pelo processo de aprendizado. Eles passam a reclamar ativos intelectuais e
a capacidade de realizar investimento em pesquisa. Passam a demandar recursos
humanos qualificados e melhor infra-estrutura do conhecimento, ou seja, infra-estrutura
capaz de facilitar o fluxo do conhecimento e do aprendizado e de desenvolver novas
competências.
É nesse contexto que o processo de inovação para estar completo, vai requerer que as
Políticas Públicas sejam capazes de implementar os elementos básicos da sociedade do
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conhecimento, ou seja, servindo de apoio e complemento ao sistema produtivo privado
e às organizações da sociedade civil nas demandas por mecanismos de capacitação e
aprendizagem e outros fatores de competitividade.
O processo de inovação destaca a economia do aprendizado, enfatizando a interação
entre pesquisa, experiência, prática e ação. É o aprender fazendo, usando, interagindo e
aprendendo. Isto significa um processo de aprendizado localizado. E é nesse processo
de aprendizado, que a informação e o conhecimento dela obtido têm que ser buscados
através de vários instrumentos, entre eles:
 treinamentos;
 consultorias;
 visitas técnicas;
 estágios;
 seminários; e
 atividades de P&D.
Como a base de conhecimentos necessária ao processo de inovação é cumulativa, é
preciso haver no território a possibilidade de fontes permanentes de conhecimentos,
para alimentar referida base. Assim, é preciso assegurar a presença no território, de
algumas das seguintes fontes de conhecimento:
 Centros de P&D;
 Universidades;
 Centros de Treinamento;
 Consumidores e Usuários;
 Fornecedores;
 Empresas do mesmo Setor; e
 Empresas de Setores afins.
Particularmente as MPEs são muito dependentes de capacitações externas. Em outras
palavras, elas têm grande necessidade de cooperação com fontes externas de informação
e conhecimento. Nesse sentido, enfatiza Castro (1996) que as cooperações estratégicas
acontecem entre:
 empresas do mesmo porte;
 empresas de porte diferente;
 o setor público e o setor privado;
 empresas e centros de excelência; e
 empresas e organizações não governamentais.
É importante enfatizar que dessas cooperações estratégicas podem resultar ganhos no
capital de conhecimento já que estes resultam do conhecimento tácito, decorrente de
habilidades e competências adquiridas por meio da prática e da experiência e do
conhecimento codificado, contidos em tecnologias e métodos profissionais
reconhecidos.
A tecnologia influi no crescimento interno e na competitividade internacional e pode
estar materializada em produtos, sejam eles bens de capital, matérias primas ou
componentes, processos, inclusive de gestão e/ou consubstanciada na capacidade dos
recursos humanos. A tecnologia reúne um conjunto de conhecimentos, existentes e
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atuais, práticos e teóricos, know-how, métodos e procedimentos, além de dispositivos
físicos s e equipamentos.
Há que distinguir, porém, o potencial tecnológico ou a tecnologia potencial que são os
conhecimentos teóricos, as habilidades práticas e, principalmente a capacidade de
aprendizado acumulada nos recursos humanos. O potencial tecnológico depende em
grande medida da qualidade dos sistemas formal de ensino em todos os níveis e do grau
de universalização do acesso da força de trabalho e da população em geral a esse
sistema. O potencial tecnológico tem enorme influência no aperfeiçoamento de
tecnologias e, conseqüentemente, de inovações (Rosenthal et al).
Seja para a absorção, seja para a transferência, seja para a difusão de tecnologia, deve
haver um ambiente de estímulo e apoio à cooperação, às interações, ao aprendizado e à
busca da informação e do conhecimento, tendo a inovação e a competitividade como
fatores de êxito. Até porque a transferência do conhecimento e, conseqüentemente, a
transferência da tecnologia ou a difusão tecnológica, não acontecem de forma linear
nem automática. Há que haver disposição do agente que domina a informação em
transferi-la e capacidade do receptor para absorvê-la.
No entanto, quando estamos trabalhando mo universo das MPEs, onde normalmente
não é esse o ambiente encontrado, é fundamental conhecermos as dificuldades que lhes
são inerentes e, conseqüentemente, seus resultados, para que possamos reverter esse
quadro. As principais dificuldades enfrentadas pelas MPEs são (Coutinho, 1994):
 estratégia produtiva de sobrevivência;
 competitividade via preços baixos;
 falta de espírito empresarial e empreendedor;
 baixa cooperação entre empresas;
 pouca exploração de iniciativas conjuntas;
 falta de cultura de inovação;
 dependem da grande empresa que detém a governança da cadeia produtiva;
 baixa interação com os demais elos da cadeia produtiva; e
 sistema local de inovação limitado.
Como resultado, verifica-se:
 limitados processos de aprendizado;
 pouca iniciativa à agregação de valor ao produto;
 baixa introdução de inovações; e
 baixa competitividade.
È exatamente com a idéia de reverter esse quadro que surgem os instrumentos de
Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos.
As incubadoras de empresas e os parques tecnológicos são instrumentos de Políticas
Públicas, normalmente concebidos, estruturados e desenhados para estimular a criação,
o desenvolvimento e a consolidação de empreendimentos competitivos e inovadores.
As incubadoras desempenham importante papel como agentes de desenvolvimento na
medida em que se constituem em ambientes planejados para acolher MPEs nascentes;
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ou ambientes para empresas que buscam a modernização de suas atividades; ou
ambientes para transformar idéias em produtos, processos e/ou serviços (Lahorgue,
2004).
Resumidamente o principal papel de uma incubadora é agregar valor aos produtos e/ou
serviços das MPEs, por meio da informação e do conhecimento advindo das interações
com as Universidades e Institutos Tecnológicos em que se ancoram.
As incubadoras desenvolvem a prática da cooperação e da construção do capital social,
uma vez que, ainda que abriguem empresas com objetivos próprios, as empresas
incubadas vivem em clima de sinergia, mobilizadas que são pelo gerente da incubadora.
A este cabe o papel de catalisador das principais idéias desenvolvidas nas universidades
e institutos de pesquisas para as empresas incubadas residentes nas incubadoras.
O ideal é que as incubadoras venham a incubar empresas de um mesmo setor para que
possa haver o desenvolvimento e o aprimoramento de capacidades coletivas.
Experiências e habilidades de produção podem ser acumuladas, trocadas e enriquecidas
com a participação de pesquisadores e técnicos de laboratórios e institutos que apóiam
incubadoras.
È importante ressaltar que as incubadoras podem e devem incubar empresas e setores
empresariais produtores de tecnologia ou usuários delas, sejam tecnologias de produto,
de processo ou de gestão. As incubadoras devem compartilhar laboratórios, serviços
administrativos, serviços de marketing, entre outros. Mas, a principal função da
incubadora é o compartilhamento da informação e de capacitações gerenciais e
tecnológicas, o que reforça a importância de que as empresas incubadas venham a ser,
preferencialmente, de um mesmo setor.
Incubadoras de empresas e parques tecnológicos fazem parte de uma mesma “família”
de instrumentos de políticas tecnológica e industrial. Na verdade o funcionamento de
um parque tecnológico exige parcerias consolidadas entre universidades, associações
empresariais e o poder público. Os parques tecnológicos têm resultado em benefícios
para os locais onde se implantam, mesmo quando em locais de menor porte.
Embora sejam inúmeras as definições para parques tecnológicos (Mota, 2005) é
possível como sendo um empreendimento que agrega empresas e instituições,
principalmente instituições de P&D, em uma mesma área, geograficamente delimitada,
áreas físicas que variam de milhares de hectares até menos de 20 hectares, onde se
concentram 51% dos parques existentes no mundo. A dimensão dos parques pode ser
ainda caracterizada pelo número de empresas que lá se instalam. A grande maioria dos
parques do mundo abria até 50 empresas.
Os parques tecnológicos requerem uma força de trabalho altamente qualificada e uma
infra-estrutura sofisticada, formando, assim, um ambiente propício para inovações
contínuas e permanentes.
Os parques assumem características diversas. Uma delas diz respeito à interação com as
universidades. O fato de a universidade estar na base da origem e da criação de
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inúmeros parques tecnológicos, não é um pré-requisito obrigatório para o surgimento de
um parque. Nem a falta de proximidade física com a universidade pode resultar na
inviabilização ou no bloqueio da iniciativa. O importante é considerar o papel decisivo
que essa instituição representa no desenvolvimento de um parque tecnológico,
independente da proximidade física.
Outra característica dos parques é abrigar o fenômeno da economia de aglomeração.
Assim os parques tecnológicos podem surgir por iniciativa dos agentes econômicos, ou
de aglomerações produtivas, desde que haja sinergia e acordo com instituições de
pesquisas, quando ele abrigará um Arranjo Produtivo Local – APL.
Diferentemente, os parques têm características multitemáticas quando se ancoram nas
áreas de excelência das universidades, assim entendidos o capital humano e a infraestrutura física e laboratorial disponível nas respectivas instituições de ensino.
Conforme Lahorgue (2004) pesquisas em várias economias do mundo mostram que o
desempenho de MPEs localizadas em parques tecnológicos é bem melhor do que
empresas do mesmo ramo em outros habitats. Com mais razão, em regiões menos
desenvolvidas, os parques tecnológicos podem ter um papel mais efetivo no apoio as
MPEs.
O papel do poder público na implantação e desenvolvimento de parques tecnológicos é
de vital importância, devido à necessidade de fortalecimento das bases de P&D e de
aceleração ao processo de pesquisas conjuntas com o setor privado, além do apoio na
oferta dos demais serviços necessários à competitividade.
Isto porque os parques devem focar em serviços especiais e básicos, com baixo custo e
desempenhar papel significativo como catalisador no processo de formação de rede de
cooperação entre empresas, institutos de pesquisa e universidades, conferindo particular
ênfase ao treinamento e ao apoio gerencial para empresários iniciantes contando com a
própria experiência dos já iniciados.
De uma forma resumida, os serviços que um parque tecnológico podem oferecer para
criar vantagens competitivas reais para suas empresas são (Vasques et al, 2006):
 espaços para escritórios;
 incubadoras de empresas;
 condomínio empresarial para empresas incubadas;
 agência de inovação;
 serviços do tipo desenho industrial, consultoria gerencial, contábil, e legal,
transferência de tecnologia, propriedade intelectual;
 oportunidades de novos negócios;
 gerenciamento do fluxo de informações;
 escritório de projetos;
 organização de redes empresariais;
 escritório de comércio exterior;
 recursos para financiamento e capital de risco;
 P&D compartilhado inclusive com acesso a laboratórios; e
 capacitação e formação de recursos humanos.
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Dito de outra forma os parques tecnológicos devem oferecer uma infra-estrutura de
serviços que espelhe o Sistema Local de inovação daquela aglomeração produtiva que
abrigam. È conveniente frisar que a idéia que aqui se trabalhe de Sistema de inovação é
a mais ampla possível, baseando-se em diferentes pilares que vão desde a existência de
infra-estrutura tecnológica até canais compatíveis de comercialização, o que pressupõe a
existência de informações sobre mercados e uma logística adequada.
Assim, os sistemas nacionais, regionais ou locais de inovação se constituem (Lemos,
2000) de uma rede de instituições, públicas e privadas, cujas atividades e interações são
capazes de gerar, adaptar, transferir e difundir tecnologias, necessárias à dinamização da
economia, através do processo de inovação.
Como a tecnologia é influenciada por fatores econômicos, sociais, políticos,
organizacionais e institucionais, estes fatores têm que ser levados em conta ao se
trabalhar com o sistema de inovação.
O aprendizado interativo deve ser fator fundamental na busca de novos conhecimentos e
novas técnicas de produção. Assim, o sistema de inovação deve visar à interação em
todas as direções e sentidos, particularmente no que diz respeito aos aspectos do
conhecimento e do aprendizado, considerando:
 o subsistema de P&D;
 o subsistema de educação e treinamento de pessoal; e
 o subsistema de habilidades decorrentes das rotinas das atividades econômicas.
O Sistema Nacional de inovação deve se configurar a partir de Sistemas Locais que, por
sua vez, espelhem a necessidade de setores específicos e estratégicos, garantindo a
permanência de empresas, atraindo novas e permitindo uma interação intensa com
diferentes segmentos das economias locais.
Só através desses mecanismos e utilizando-se esse conjunto de ferramentas, acredita-se
ser possível reverter o quadro de atraso dos pequenos aglomerados territorialmente
localizados. Instrumentos como Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos
podem, sem sombra de dúvidas, virem a se constituir em alavanca da inovação.
No entanto, é preciso que tais mecanismos, que levam à capacitação, à aprendizagem e
a outras ofertas de serviço de competitividade de forma coletiva, funcionem a partir de
uma parceria público-privada, o que requer que sejam vistos como instrumentos de
Política Pública e, mais importante, que sejam demandados pelas organizações da
sociedade civil organizada, principalmente dos pequenos e dos excluídos.
Dentro desse referencial teórico é que o Projeto “Pirambu Digital” foi implantado em
2005, através do convênio pactuado entre o Centro Federal de Educação Tecnológica do
Ceará e o Movimento Emaús – Amor e Justiça, uma ONG francesa, radicada em
Fortaleza desde 1992, para propiciar a inclusão social de milhares de jovens em uma
comunidade carente de mais de 350 mil habitantes. O Bairro do Pirambu é o maior
bairro de Fortaleza e um com os mais baixos níveis de renda.
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Assim, o primeiro aspecto a ser notado é o inter-relacionamento público-privado: o
CEFET é uma instituição de ensino federal; o Emaús, uma ONG. O segundo aspecto é o
objetivo: “não dar o peixe, mas ensinar a pescar”, oferecendo os instrumentos
necessários. Em um País onde a “esmola” pública é a regra, sem se preocupar com os
resultados; no Projeto, o retorno social é o objetivo.
4. A Cooperativa Pirambu Digital
Para o estudo de caso do Bairro do Pirambu, periferia do Município de Fortaleza,
espaço que vem sendo dominado pela Tecnologia da Informação (TI), utilizou-se a
metodologia da pesquisa de natureza qualitativa.
Conforme depoimento dos jovens que hoje fazem a Cooperativa Pirambu Digital, o
bairro do Pirambu, que na língua indígena significa peixe roncador, surgiu da
desativação de uma antiga fábrica existente no local e através de invasões por pessoas
de baixa renda.
O bairro está situado no litoral leste da cidade de Fortaleza, abrigando uma população
de, aproximadamente, 350 mil habitantes com algo em torno de 70 mil famílias, que
percebem uma renda média mensal por domicílio ao derredor de R$ 50,00, portanto
abaixo da linha de pobreza estimada pela Organização das Nações Unidas, sendo a 2ª
maior favela do Brasil, só perdendo para a Rocinha, no Rio de Janeiro. Dados mais
recentes mostram que a população de jovens entre 16 e 29 anos está ao derredor de 137
mil indivíduos.
A situação do Pirambu mereceu o apoio do Movimento Emaús – Amor e Justiça, ONG
criada na França e que chegou ao Brasil em 1986, e em Fortaleza em 1992. Referida
ONG começou a exercer sua ação no Bairro através de vários projetos, dentre os quais a
Casa do Saber.
A Casa do Saber é um projeto que assiste a comunidade do Pirambu e, em especial as
crianças, adolescentes e jovens, estimulando o gosto e o acesso à leitura, através da
inclusão digital monitorada, realizando esforço escolar de nivelamento, bem como
oferecendo alimentação para os jovens e promovendo cursos de ingresso ao Centro
Federal de Educação Tecnológica do Ceará -CEFET-CE, dentre outras ações.
Estava, pois, plantada, no território, a semente do aprendizado e da capacitação na área
de TI e iniciavam-se os alicerces para a construção do capital social. Ressalte-se nessa
direção o trabalho realizado na área de Direitos Humanos, onde através de um advogado
a comunidade local era acompanhada e orientada.
Há que se ressaltar, também, o espírito comunitário existente já no nascedouro do bairro
do Pirambu, determinando todo o processo de resistência e de união das famílias
invasoras, característica transferida para a geração atual, estimulando o surgimento de
associação de moradores no Bairro.
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Some-se a essa característica, a implantação de um projeto denominado UTI da
Solidariedade, cuja finalidade é ajudar o dia –a- dia das pessoas necessitadas, doando,
por exemplo, cadeiras de rodas, materiais de construção etc, trabalhando sempre o
estímulo ao associativismo e à solidariedade.
Todos esses aspectos juntos fizeram com que o CEFET-CE se aliasse à ONG Emaús e
investisse na educação profissional, na formação empreendedora, no espírito associativo
e de inclusão social dos jovens do Pirambu, utilizando TI como ferramenta de mudança,
resultando no projeto Cooperativa Pirambu Digital.
Assim, foram ministrados, inicialmente, cursos do pró-técnico para mais de 240 jovens
do Bairro. Desde o início vale registrar que aproximadamente 320 já ingressaram nos
Cursos técnicos do CEFET-CE em “Conectividade” e “Desenvolvimento de Software”,
em três turmas de 120 cada. Também vale registro o fato de que dos 120 jovens
egressos da primeira turma do CEFET-CE, através de um trabalho de construção do
capital social, 60 retornaram ao Bairro e foram os primeiros protagonistas do que veio a
ser uma aglomeração produtiva territorial.
Esses jovens precisavam não só sobreviver, como contribuir com as famílias de onde
vêm, pois estão em melhores condições de capacitação profissional que seus familiares.
No entanto, ao abrirem mão de oportunidades de trabalhos outras, que se lhes
apresentaram, como o fizeram alguns de seus colegas, e retornarem ao Bairro,
mostraram bem o sentimento de pertencer àquele território, sentimento que os
caracteriza e é determinante para toda a dinâmica que vem ocorrendo no Bairro.
Desse modo, foi preciso iniciar um processo de “cooperação competitiva”, capaz de
mudar a situação do Bairro, a partir da geração de inovação, com emprego e renda. Em
outras palavras foi necessário cooperar para competir e, para tanto, os jovens se valeram
das potencialidades que possuíam a partir do conhecimento que lhes foi propiciado no
CEFET-CE, tratando, sempre que possível, de aprimorá-lo.
Para a consecução desse objetivo foi preciso identificar oportunidades de criar e
expandir empresas prestadoras de serviços na área de TI. Assim, há aproximadamente
dois anos, organizaram-se em uma associação com o apoio do CEFET-CE, através do
Centro de Pesquisa e Qualificação Tecnológica – CPQT e, contando com capital inicial
de uma empresa de TI que resolveu investir nos jovens, dentro do novo paradigma de
responsabilidade social, vêm realizando empreendimentos e prestando serviços capazes
de gerar renda para os jovens e suas famílias, elevando as condições de vida da
comunidade local.
Embora não formalmente constituída, os jovens se organizaram em torno de uma
proposta de cooperativa, a Cooperativa Pirambu Digital, instalada no próprio bairro do
Pirambu, onde colocaram em funcionamento as seguintes iniciativas:
 PODES – Pólo de Desenvolvimento de Software – atuando no
desenvolvimento de sistemas de software para pequenos comércios e por
demanda para clientes de médio e grande porte; desenvolve soluções web
como sites e portais com gerenciador de conteúdo e sistemas on line, todos
com a mais sofisticada tecnologia de animação.
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 FACIL – Fábrica de Computadores com Inteligência Local – atua na área de
hardware e rede de computadores, prestando serviços de manutenção
corretiva e preventiva para empresas e pessoas físicas; elaborando e
implementando projetos de rede cabeada e wireless, baseados em políticas
de segurança; instalando, configurando e oferecendo suporte técnico a
servidores; e elaborando projetos sob encomenda.
 TREVO – Treinamentos e Eventos – oferecendo inclusive um serviço
inovador de treinamento, o Personal Trainer de informática, com horário,
local e informação personalizada; oferece também treinamentos básicos em
linux e Windows; e treinamento avançado em lógica de programação,
linguagem SQL, interface web, Java para web, redes, hardware, web
designer, e designer gráfico.
 NEGA – Negócios e Administração – atua em busca de novos negócios de
interesse da Cooperativa e é a responsável pelo gerenciamento dos demais
negócios.
É conveniente enfatizar que hoje participam da Cooperativa Pirambu Digital, além dos
técnicos formados pelo CEFET – CE, moradores do Bairro e Professores daquela
Unidade de Ensino. Estes últimos, quando os projetos executados em qualquer das áreas
da Cooperativa assim o exigem. No mesmo prédio da Cooperativa funciona, também
um laboratório de Pesquisa na área, ligado ao CEFET-CE, o que possibilita a interação e
a curiosidade dos jovens pelas pesquisas que lá são levadas a efeito por um grupo de
doutores.
Atualmente a Cooperativa já tem em seu portfólio clientes do setor público e privado;
empresas de portes diferentes; a comunidade local e demandantes fora do bairro e até
mesmo do Estado. Como exemplos podemos citar:
 Instituto Brasileiro de Qualidade e Gestão Pública – IBQGP (Minas Gerais);
 Universidade Federal do Ceará;
 Secretaria de Trabalho e Empreendedorismo do Estado;
 Prefeitura de Fortaleza;
 Banco do Nordeste do Brasil – BNB;
 Instituto Atlântico –(instituto de P&D, braço do CPQd no Ceará);
 Instituto Nordeste cidadania;
 Cooperativa Via de Acesso;
 Educ.Com;
 InfoBrasil (Feira de TI no Ceará);
 Secrel;
 Focvs Consultoria;
 Tecner;
 Media System;
 Equalitas;
 Fortalnet;
 direitoce.com.br; e
 Brasil USA Vacations.
Referido portfólio evidencia a capacidade de empreender dos atores da proposta e de se
manter no mercado. Atualmente a Cooperativa tem 10 (dez) contratos e convênios
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assinados com diferentes empresas, o que tem possibilitado aos jovens uma renda em
torno de R$ 500,00 mês, apesar de ainda trabalharem com subsídios de aluguel de
espaço, água, luz, telefone, segurança eletrônica e Internet. O nível de qualidade da
proposta pode ser evidenciado quando se afirma que a Cooperativa já está exportando
software para outros Estados, como é o caso do software produzido para o IBQGP.
Destaque-se que, acoplado a este programa de exportação, há a participação de jovens
da Cooperativa, ministrando treinamentos para os usuários dos sistemas exportados.
Também há de se enfatizar que a Cooperativa já está atraindo empresas de TI para o
Bairro, o que no futuro poderá caracterizá-lo como um verdadeiro APL de TI. Registrese, também, que a expansão física das ações da Cooperativa, requereu a ampliação de
suas instalações físicas, o que motivou o Governo do Estado a ceder espaço em uma das
escolas de ensino fundamental e médio, que no Bairro, futuramente, deverá ser
transformada em uma escola de ensino médio e técnico em TI, com capacidade para
3600 alunos.
Destaque-se, também, que a ONG Emaús acaba de assinar um convênio com a
Universidade Norte do Paraná para, com a interveniência da Cooperativa Pirambu
Digital, instalar uma unidade dessa Universidade no Bairro.
A manutenção e o crescimento do espírito associativista é levado adiante pelos que
fazem a Cooperativa Pirambu Digital, através dos projetos sociais que participam, em
parceria com a ONG Emaús, ou por iniciativa própria. Entre eles, além da Casa do
Saber e de outros já comentados, podemos citar:
 BILA – Biblioteca Integrada a Lan house;
 Universidade do Trabalho;
 Pirambu Business School;
 Agente Digital; e
 Condomínio Virtual.
A Biblioteca Integrada a Lan House – BILA – disponibiliza acesso a lan house, gratuita,
por uma determinada quantidade de horas, proporcionais às horas de leitura na
biblioteca. Como expansão do projeto Casa do Saber, a BILA pretende à medida que
possibilita a inclusão digital, estimular o gosto pela leitura. Isto porque, em função da
situação do Bairro, existe dificuldade de acesso a bibliotecas, seja pela necessidade do
trabalho prematuro, o que os afasta da escola, seja pelo pouco investimento das escolas
no incentivo à leitura. Tal fato dificulta o acesso da população às universidades e postos
de trabalho. O projeto vem revertendo este quadro, posto que, após a leitura, o uso da
Internet gratuita vem sendo orientado para pesquisas na internet, preferencialmente
voltadas para o tema, obeto de leitura.
Universidade do Trabalho – prioriza a formação dos jovens no bairro, preparando no
curso pré-vestibular, atualmente beneficiando 60 jovens do Bairro; no pró-integrado e
pró-técnico e nos cursos técnicos do CEFET–CE de “Conectividade” e
“Desenvolvimento de Software”, como os 120 que já integram a 2ª turma.
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Pirambu Business School – prioriza a formação do jovem empreendedor, através de
curso de empreendedorismo e de inglês. Atualmente o curso de inglês vem preparando
50 jovens.
O Agente Digital é um projeto que se desenvolve tendo os alunos do CEFET-CE e
universitários como monitores/animadores voluntários de atividades dirigidas à
popularização da TI no Bairro. Assim, cada aluno beneficiado com a formação de
Agente Digital, tem obrigação de visitar escolas, entidades filantrópicas e ONGs no
Bairro e repassar, em no mínimo 24 horas, repassando as informações com as quais foi
beneficiado, promovendo, assim, a socialização do conhecimento. A formação do
Agente Digital, para a população local, por sua vez, é de 240 horas e além de cursos
tecnológicos sobre windows, office, internet explorer, linux, open office, mozilafirefox,
e hardware básico, os treinandos recebem cursos sobre formação humana nas áreas de
desenvolvimento pessoal e orientação pedagógica.
Já o Condomínio Virtual, um projeto de inclusão socioeconômica digital, permite um
sistema de distribuição baseado na idéia de condomínio, onde uma casa adquire uma
antena receptora (síndico digital) e compartilha a conexão com seus vizinhos
(condôminos) em uma rede local (condomínio virtual), constituída por um número que
varia de quatro a dez moradores. Por ser o responsável por receber o sinal e
compartilhá-lo com os condôminos, o síndico é também a pessoa que coordena as
inúmeras situações criadas a partir do relacionamento com seus condôminos.
Os computadores são conseguidos por meio de doações de pessoas físicas e jurídicas e,
depois de reciclados na Cooperativa, são repassados à comunidade a R$ 10,00 mensais,
durante 10 meses, sendo que após esse período a máquina passa a ser do condômino. Os
condôminos também recebem treinamentos personalizados, com a colaboração dos
Agentes Digitais.
O projeto surgiu porque houve a constatação de que no Pirambu existia um computador
apara cada dois quarteirões, o que evidencia total exclusão e, conseqüentemente,
desconhecimento dos recursos que a TI pode oferecer. A idéia é atingir um número
mínimo considerável de participantes, capaz de organizar o Bairro Virtual ou o Pirambu
On-line, onde por meio desse toda a comunidade possa se conhecer e fazer melhor uso
dos recursos existentes em seu Bairro. O bairro virtual deverá, pois permitir o acesso a
todos os comércios, empresas, escolas, pontos culturais, hospitais, enfim a todas as
institucionalidades presentes no Bairro.
Destaque-se, ainda, que consubstanciando sua ação social, a Cooperativa tem
extrapolado sua ação no Bairro, doando mesas e computadores para um Bairro vizinho,
com características semelhantes, para que lá possa vir a iniciar-se proposta semelhante.
Assim, os mesmos jovens que trabalham com doações, têm o desprendimento de fazer
doações para instituições mais necessitadas que eles.
Como se pode observar os jovens que fazem a Cooperativa Pirambu Digital, seja através
das iniciativas associadas a negócios, seja através dos projetos sociais, vêm estimulando
mecanismos de circulação do conhecimento e dos processos de aprendizagem. Redes de
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cooperação, capazes de fortalecer o capital social, estão presentes em todas as suas
decisões e deverão culminar com concretização do bairro virtual.
Pode-se afirmar, sem medo de errar que, apesar de jovens, os que fazem a Cooperativa
Pirambu Digital têm tentado construir um entorno político institucional favorável à
inovação e ao desenvolvimento local.
As parcerias institucionais já construídas dizem, ao mesmo tempo, dos seus esforços e
êxito. Órgãos federais como o Ministério do Desenvolvimento Social, também já foi
parceiro da iniciativa e, recentemente o SEBRAE-CE realizou parceria com a
Cooperativa, reservando para que o espaço de TI na Feira do Empreendedor 2006,
realizada em novembro do ano findo, fosse ocupado pelos jovens da Cooperativa
Pirambu Digital, o que lhes proporcionou a oportunidade de várias outras parcerias.
No entanto, para que os demais (algo em torno de 180) jovens do Pirambu, que já se
encontram no CEFET–CE cursando a 2ª turma dos Cursos Técnicos possam vivenciar
processo semelhante, será necessário investir utilizando e até aprimorando a
metodologia empregada com os primeiros.
Aqui merece comentar que os jovens do Pirambu já foram procurados pela Fundação
Ana Lima, do Plano de Saúde Hapvida, para transferirem a metodologia trabalhada na
proposta da Cooperativa Pirambu Digital, para os jovens assistidos por aquela
Fundação. Ressalte-se, contudo que, um dos grandes fatores de êxito da proposta, sem
querer desmerecer a metodologia trabalhada, que ao contrário, já foi por nós motivo de
elogios, reside no fato dos jovens pertencerem ao território para o qual e no qual estão
trabalhando e propondo mudanças.
Naquele território, todavia, investimentos devem ser realizados em torno do
fortalecimento dos projetos da Cooperativa. Senão vejamos. É redundante falar sobre a
potencialidade da indústria de TI e a posição do Brasil, entre os cinco principais
exportadores de serviços. Como a proposta se baseia na formação em TI, na
possibilidade de uma sólida capacitação na área e na elevação do nível de renda,
gerados como conseqüência de referidos negócios, a idéia por si só se justifica tanto do
ponto de vista econômico, como do ponto de vista social.
Sem falar que a proposta deverá atender, também, o Pólo de Tecnologia da Informação,
que se instalará na circunvizinhança do Bairro. O Pólo, que dará ênfase ao mercado de
off shore, poderá usar os serviços da Cooperativa, seja na formação de recursos
humanos, seja na fábrica de software.
Finalmente, vale ressaltar que a Cooperativa Pirambu Digital começa a ter projeção
nacional, tanto é que está sendo convidada a se apresentar na Câmara Federal e, no final
do ano, foi homenageada pela Rede Globo, em seu Programa Especial “Central da
Periferia”.
Embora ainda muito jovem, o Projeto “Pirambu Digital” já mudou o rendimento e a
condição socioeconômica de, pelo menos, duas centenas de jovens do Bairro do
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Pirambu, possibilitando-lhes não só a “inclusão digital”, tornando-os profissionais de
TI, mas promovendo a inclusão social dos mesmos, tornando-os, portanto, verdadeiros
cidadãos brasileiros.
Para se ter uma idéia da importância do Projeto, é suficiente saber que a cada nova
turma formada, 120 jovens têm a oportunidade de freqüentar um curso técnico de
desenvolvimento de software, em universidade pública e de qualidade. Por outro lado,
são ofertados atualmente três cursos de formação de mão-de-obra técnica qualificada,
envolvendo 500 vagas de ensino totalmente gratuito.
Apesar do sucesso do Projeto “Pirambu Digital” muito há a fazer. É por isso que no
item seguinte levantam-se as dificuldades que ainda precisam ser superadas para que se
possa afirmar, sem sombra de dúvida que tal Projeto está cumprindo à risca seu objetivo
maior: mudar a face da comunidade do Bairro do Pirambu.
5. Os Esforços Individuais e Coletivos Necessários para a Consecução dos
Objetivos Colimados
Apesar do êxito alcançado até agora pela Cooperativa Pirambu Digital, em pouco
espaço de tempo, acredita-se que é possível apresentar algumas propostas capazes de
fortalecer as relações institucionais e atrair iniciativas que ampliem o entorno já
existente.
A primeira sugestão proposta diz da própria vinculação com o CEFET-CE. Apesar da
Cooperativa Pirambu Digital estar localizada no prédio que leva o nome de CEFET –
Pirambu e, de grande parte dos custos operacionais da Cooperativa serem suportados
pelo CEFET-CE, através do CPQT, a Cooperativa, cujas ações se assemelham a uma
Incubadora de Empresas, não participa do Programa de Incubação de Empresas do
CEFET-CE.
Conseqüentemente, percebem-se nos jovens da Cooperativa dificuldades no trato com
negócios, que vão desde a falta de experiência no marketing até a abertura de espaços
junto a clientes potenciais, como, por exemplo, participação em feiras, passando pela
falta de experiência na apresentação de orçamentos até o cumprimento de prazos.
Referidas dificuldades poderiam ser sanadas através de consultorias apoiadas por órgãos
de fomento, como o SEBRAE, por exemplo, se a Cooperativa estivesse vinculada
institucionalmente a um Programa de Incubação de Empresas. A associação a um
Programa de Incubadora de Empresas lhes permitiria, entre outros aspectos:
 Aberturas de novos mercados para os produtos e serviços gerados pela
Cooperativa Pirambu Digital; e
 Parcerias com empresas já constituídas, nas áreas onde os jovens da Cooperativa
possuem especialização.
Percebe-se, também, a necessidade de uma maior formação em gestão associativista
para evitar, de inicio, erros que nos parecem, podem vir a desmotivar, como o da
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remuneração dissociada da produtividade, o que tem levado a um esforço imenso por
parte de alguns que são obrigados a levar adiante suas obrigações e a de colegas que não
têm, ainda, o mesmo grau de comprometimento. Aqui, também a interação com uma
instituição que possua profissionais especialistas na área poderia facilitar a condução do
processo.
A questão da governança é outro aspecto interessante que tem que ser considerado. Do
ponto de vista dos atores locais, ou seja, da comunidade jovem do Bairro, os líderes da
Cooperativa podem perfeitamente exercer o papel de coordenação e de catálise e estão
dando prova de que estão conduzindo o processo com maestria.
No entanto, com os demais segmentos populacionais do Bairro fica a dúvida de como o
processo vem sendo conduzido. A idéia do Bairro Virtual, que vem sendo antecedida
pelo Condomínio Virtual, caminha indiscutivelmente na direção de uma maior
articulação com outros atores importantes do Território. Porém, parece não ser um
processo tão rápido.
Na metodologia a ser trabalhada na 2ª etapa do projeto, e como conseqüência de uma
crítica ouvida no próprio Central da Periferia, da Rede Globo, os jovens da Cooperativa
estão se propondo a trabalhar com os professores das escolas, e através de associações
do Bairro, para estabelecer um Fórum Virtual, visando à minimizar o problema do lixo
e, conseqüentemente, das questões ambientais e de saúde ainda existente no Bairro.
Dessa forma, além de estarem procurando soluções efetivas para os problemas do
Bairro, estarão envolvendo outros segmentos da população local, edificando, cada vez
mais, o capital social, tão necessário ao processo de desenvolvimento.
E já que estamos falando de problemas de Bairro é bom que se diga que o projeto não
aponta também a governança no nível público. Mesmo limitando-se a área de TI, apesar
da proposta da Prefeitura para um Pólo de TI na circunvizinhança do Bairro, não se vê
com clareza o papel da Cooperativa em referido projeto municipal.
Na verdade, se a parceria público–privada viesse funcionando, principalmente em torno
da sociedade civil organizada, o projeto da Prefeitura se ancoraria na Cooperativa e
traria com mais clareza a interface entre as empresas que lá viessem a se instalar e a
parceria com os jovens na suas áreas de especialização, organizando, um Parque
Tecnológico de TI e, portanto, o Sistema Local de Inovação na área de TI.
Até porque como já vimos, a Cooperativa tem se movimentado em termos de
investimentos em formação de recursos humanos e em pesquisa e desenvolvimento.
Caberia à Prefeitura, otimizar, portanto, a atração de investimentos em TI, completando
os elos da cadeia produtiva e buscar levar para a proximidade os demais serviços de
apoio à competitividade das empresas do setor.
Finalmente, um projeto de tamanha envergadura social vem recebendo apoio esporádico
de instituições do governo estadual e federal, sem que nenhum assuma a governança do
processo, o que facilitaria, entre outras, as seguintes ações:
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 realização de convênios com outras ONGs, inclusive para a transferência da
metodologia;
 parcerias com instituições públicas para replicação do projeto em outros
“territórios” com características semelhantes;
 difusão do uso da TI como forma de organização e potencialização da força
jovem; e
 busca de novos patrocínios junto a empresas que investem em responsabilidade
social.
Apesar de tudo, há que se admitir que do ponto de vista do desenvolvimento local, da
inovação e da inclusão social, a Cooperativa Pirambu Digital atende aos principais
requisitos, pois:
 os jovens da Cooperativa Pirambu Digital são os protagonistas do seu
desenvolvimento,
 têm pela Cooperativa uma paixão, ou seja, algo muito forte que lhes mostra o
sentido da vida;
 longe de “irem levando” sabem o que querem e no rol de suas decisões está a
capacidade de inovar;
 por isso fazem do aprendizado um processo cumulativo e estão buscando
constantemente novos conhecimentos (vários dos 60 jovens já estão ingressando
em cursos universitários); e
 não se conformam de serem felizes sozinhos, querem que os outros também o
sejam por isso replicam as propostas de inclusão social.
Foi e é com esse espírito que eles estão mudando a dinâmica do bairro do Pirambu, que
poderá gerar mais inovação, emprego e renda se, cada um de nós que somos parte
integrante do Sistema Nacional de Inovação participarmos.
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