DITERPENOS DAS ALGAS DA TRIBO DICTYOTEAE NO SUL CARIBENHO E SUDESTE ATLÂNTICO FREDY AUGUSTO ORTIZ RAMÍREZ UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA MARINHA Niterói – RJ, Brasil Fevereiro de 2012 O77d Ortiz Ramírez, Fredy Augusto Diterpenos das algas da tribo dictyoteae no sul caribenho e sudeste Atlântico/ Fredy Augusto Ortiz Ramírez. – Niterói: [s.n.], 2012. 205f. Tese – (Doutorado em Biologia Marinha) – Universidade Federal Fluminense, 2012. 1. Alga parda. 2. Análise química. 3. Dictyota Mestrualis. 4. Classificação. 5. Quimiotaxonomia. I. Título. CDD.589.45 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA MARINHA DITERPENOS DAS ALGAS DA TRIBO DICTYOTEAE NO SUL CARIBENHO E SUDESTE ATLÂNTICO FREDY AUGUSTO ORTIZ RAMÍREZ Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Marinha do Departamento de Biologia Marinha, Instituto de Biologia, Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do Título de Doutor em Biologia Marinha. Orientadores: Dra Valéria Laneuville Teixeira Dra Diana Negrão Cavalcanti Niterói – RJ, Brasil Fevereiro de 2012 Al más preciado tesoro que puedo tener, mi amada familia “Ilsa, Jesus, Marisol y Juanito” En especial a mis siempre amigos Siempre tutores Siempre MADRE y PADRE AGRADECIMENTOS Com um sentimento de gratidão ENORME dedico este reconhecimento àqueles que tornaram possível a realização deste trabalho. Às minhas queridas orientadoras Dra. VALÉRIA LANEUVILLE TEIXEIRA e Dra. DIANA NEGRÃO CAVALCANTI, um muito obrigado por estes anos que guardarei com boas lembranças, por tudo aquilo que aprendi com vocês, pelas sugestões, orientação e paciência para elucidar o meu “portunhol” e principalmente pelo carinho e amizade. “A mi amada madre Ilsa Ramírez de Ortiz (in memoriam 1952 – 2011), no encuentro palabras para expresarte todo el amor que siento por ti, lamento con dolor tu ausencia porque este logro es fruto de tu insentivo. A mi padre Jesus Ortiz, a mi hermana Marisol y a mi querido Juan David por ser lo que son mi familia y a quienes profeso mi profundo amor e incondicionalidad” A todos os amigos e colegas do Laboratório, Carlos José Brito, Rainiomar Fonseca, Nathalia Preciosso, Wilton Ferreira, Kelvin Osako. À amiga Magui Vallim pela ótima parceria nos testes com os ouriços pela amizade e carinho. À amiga adorável Thaisa Domingos (a sinistra) pela ótima parceria no trabalho de bancada pela ajuda incondicional e amizade. Às IC Samara França, Karla Saiukusa e Mariana Carvalho. Muito obrigado a todos vocês pelo apoio e por tornar agradável o ambiente de trabalho. À Laura Moura pela ótima parceria nos testes de hemostasia. Ao Dr. Joel Campos de Paula (Don Joel) por os apontamentos na descrição taxonômica da nova espécie, pela parceria, ajuda e pela sua amizade. Aos meus amigos e irmãos de coração Dr. Alonso Juvinao e Rafael Frenandes pela sua amizade sincera e apoio nos momentos mais difíceis. Aos funcionários do Laboratório multiusuário de Resonância Magnética Nuclear LaREM pela obtenção dos espectros RMN indispensáveis para este trabalho. Aos integrantes do grupo de pesquisa em produtos naturais marinhos da Universidade Nacional de Colômbia. À Helena Laneuville pela ajuda nos textos em inglês. A todos que contribuíram de alguma maneira e que por imperdoável omissão não registrei os seus nomes aqui. A todos, Muito obrigado. v ÍNDICE RESUMO................................................................................................................ x ABSTRACT........................................................................................................... xi LISTA DE TABELAS ........................................................................................... xii LISTA DE FIGURAS ............................................................................................ xv PREFÁCIO ............................................................................................................. 1 CAPÍTULO 1. FERRAMENTA CROMATOGRAFIA DE AUXÍLIO NA EM CAMADA IDENTIFICAÇÃO DELGADA: DE UMA ESPÉCIES E POPULAÇÕES DE ALGAS MARINHAS............................................................... 6 1.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 7 1.2. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 11 1.2.1. Coleta .................................................................................................. 11 1.2.2. Preparação dos extratos ..................................................................... 11 1.2.3. Identificação do perfil químico ............................................................. 12 1.2.4. Isolamento do padrão de diterpenos ................................................... 12 1.2.5. Cromatografia em camada delgada (CCD) ......................................... 16 1.2.6. Processamento das imagens e calibração .......................................... 16 1.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 18 CAPÍTULO 2. ESTUDO QUIMIOTAXONÔMICO DAS ALGAS DA TRIBO DICTYOTEAE DA REGIÃO DE SANTA MARTA, MAR DO CARIBE, COLÔMBIA ............................................................................................................................. 29 2.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 30 2.2. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 33 vi 2.2.1. Coleta do material algáceo .................................................................. 33 2.2.2. Preparação dos extratos ..................................................................... 34 2.2.3. Identificação dos perfis químicos das amostras .................................. 34 2.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 36 2.3.1. Espectros de massas de substâncias identificadas ............................ 40 2.3.2. Dados morfológicos e químicos das algas da tribo Dictyoteae ........... 50 2.4. CONCLUSÃO ............................................................................................ 59 CAPÍTULO 3. UMA NOVA ESPÉCIE DO GENÊRO Dictyota Lamouroux (DICTYOTACEAE, PHAEOPHYCEAE) BASEADA EM ASPECTOS MORFOLÓGICOS E QUÍMICOS. ........................................................................ 60 3.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 61 3.2. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 64 3.2.1. Coleta do material ficológico ............................................................... 64 3.2.2. Descrição morfológica ......................................................................... 65 3.2.3. Análise química ................................................................................... 65 3.2.3.1. Preparação e obtenção dos extratos ............................................ 65 3.2.3.2. Obtenção do perfil químico em cromatografia em fase gasosa .... 66 3.2.3.3. Obtenção do perfil químico por cromatografia em camada delgada (CCD) ........................................................................................................ 66 3.2.3.4. Obtenção dos diterpenos majoritários .......................................... 67 3.2.3.4.1. Isolamento dos diterpenos majoritários .......................................................... 68 3.2.3.5. Transformação (redução) do produto DvM (15) ............................ 69 3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 71 vii 3.3.1. Descrição taxonômica ......................................................................... 71 3.3.1.1. Dictyota sp. nov. Ortiz-Ramírez, De Paula et Cavalcanti sp. nov. 71 3.3.1.2. Diagnose ...................................................................................... 73 3.3.2. Perfil químico ...................................................................................... 75 3.4. CONCLUSÃO ............................................................................................ 80 CAPÍTULO cervicornis: 4. METABOLITOS UMA SECUNDÁRIOS ESTRATÉGIA QUÍMICA DE PARA Canistrocarpus O CONTROLE POPULACIONAL DOS SEUS CONSUMIDORES? ............................................ 81 4.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 82 4.2. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 85 4.2.1. Coleta do material ficológico ............................................................... 85 4.2.2. Extração e isolamento ......................................................................... 85 4.2.3. Coleta dos ouriços-do-mar, obtenção dos gametas e sua estocagem 86 4.2.4. Preparação das soluções do extrato bruto e produto puro .................. 87 4.2.5. Ensaios Pós-fecundação..................................................................... 87 4.2.6. Ensaios pré-fecundação em óvulos .................................................... 88 4.2.7. Ensaios pré-fecundação nos espermatozóides ................................... 89 4.2.8. Análise estatística ............................................................................... 89 4.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 91 4.4. CONCLUSÃO .......................................................................................... 100 CAPÍTULO 5. ATIVIDADE ANTIMITÓTICA DOS METABÓLITOS SECUNDÁRIOS DAS ALGAS PARDAS MARINHAS Dictyota menstrualis E D. ciliolata (DICTYOTACEAE, PHAEOPHYCEAE) DO LITORAL BRASILEIRO. 101 viii 5.1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 102 5.2. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................ 105 5.2.1. Coleta do material algáceo ................................................................ 105 5.2.2. Preparação dos extratos ................................................................... 105 5.2.3. Isolamento e purificação dos diterpenos ........................................... 106 5.2.3.1. Isolamento do pachydictyol A ..................................................... 106 5.2.3.2. Isolamento do dictyol E ............................................................... 107 5.2.3.3. Isolamento do dichotomano ........................................................ 109 5.2.4. Ensaio de atividade biológica ............................................................ 110 5.2.4.1. Coleta dos ouriços-do-mar, obtenção dos gametas e estocagem ................................................................................................................ 110 5.2.4.2. Preparação das soluções dos extratos brutos e produtos puros 111 5.2.4.3. Avaliação da atividade em zigotos de Lytechinus variegatus ..... 111 5.2.4.4. Tratamento dos dados e análise estatística ............................... 112 5.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................... 114 5.3.1. Atividade biológica dos extratos brutos ............................................. 114 5.3.2. Atividade biológica dos diterpenos majoritários ................................ 120 5.4. CONCLUSÃO .......................................................................................... 128 CAPÍTULO 6. EFEITOS DOS PRODUTOS NATURAIS DE Dictyota menstrualis E D. ciliolata SOBRE A AGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA E COAGULAÇÃO SANGUÍNEA ...................................................................................................... 129 6.1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 130 6.2. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................ 133 ix 6.2.1. Coleta do material algáceo e obtenção dos extratos......................... 133 6.2.2. Ensaios em plaquetas ....................................................................... 135 6.2.3. Ensaios na coagulação ..................................................................... 136 6.2.4. Ensaio de recalcificação do plasma .................................................. 137 6.2.5. Ensaio de Tempo de Protrombina (TP) ............................................. 137 6.2.6. Ensaio de Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA) .......... 138 6.2.7. Fibrinocoagulação ............................................................................. 138 6.2.8. Ensaio sobre substratos cromogênicos ............................................. 138 6.2.8. Análise estatística ............................................................................. 139 6.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................... 140 6.3.1. Efeitos dos extratos sobre a agregação plaquetária ......................... 140 6.3.2. Efeito dos extratos sobre a coagulação sanguínea ........................... 144 6.3.3. Efeitos dos extratos sobre substratos cromogênicos ........................ 145 6.4. CONCLUSÃO .......................................................................................... 154 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 155 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 158 APÊNDICE 1. Artigo publicado ....................................................................... 172 APÊNDICE 2. Artigo no prelo .......................................................................... 186 APÊNDICE 3. Apresentações em eventos...................................................... 202 x RESUMO Os representantes da tribo Dictyoteae constituem um dos componentes principais na estrutura de comunidades bentônicas dos mares temperados e tropicais. São produtoras de moléculas com especial potencial biotecnológico, sendo também uma útil ferramenta em taxonomia e biogeografia. Foram coletadas amostras de diferentes espécies em diferentes locais, sendo obtidos os seus extratos em solventes orgânicos e isolados e purificados alguns diterpenos. Foram realizadas descrições taxonômicas e a avaliação dos extratos e produtos puros mediante análises de imagem em cromatografia em camada delgada. Foram apresentados os seus efeitos sobre os zigotos de Lytechinus variegatus, além da investigação de sua atividade antimitótica, anticoagulante e antiplaquetária. Os resultados mostram que o melhor canal de cor na análise de imagens para diferenciar duas populações é o azul, não revelando discrepâncias com técnicas como a cromatografia gasosa. Propõe-se a existência de uma nova espécie do gênero Dictyota baseada em dados morfológicos e químicos. O primeiro estudo sobre os metabolitos secundários da tribo Dictyoteae no Mar do Caribe da Colômbia demonstraram que o perfil quantitativo de Canistrocarpus cervicornis é similar ao das populações brasileiras e que os efeitos dos produtos naturais desta espécie diminuem as taxas de fecundação de L. variegatus e inibem o seu desenvolvimento embrionário. Um diterpeno dichotomado mostrou alta atividade antimitótica em zigotos de L. variegatus. Finalmente, os extratos de D. menstrualis e D. ciliolata mostraram atividade diferenciada nos processos de hemostasia. Palavras chave: Dictyota, biológica, bioprospecção. Canistrocarpus, taxonomia química, atividade xi ABSTRACT The species of the Tribe Dictyoteae are one of the main components of the structure of benthic communities from temperate and tropical seas. They are also characterized by producing molecules with a special biotechnological potential and being an important tool in both taxonomy and biogeography. Samples from various species were collected in different places so that it would be possible to obtain their extracts using organic solvents, as well as isolating and purifying several diterpenes. Then, we conducted taxonomic descriptions and evaluated extracts and pure products by performing image analysis in thin layer chromatography. In addition, we presented their effects on the zygotes of Lytechinus variegatus, and investigated their antimitotic, anticoagulant and antiplatelet activities. The results have shown that the best color channel for the image analysis to differentiate the two populations is blue, since it did not present discrepancies when compared to other techniques, such as the gas chromatography. Hence, the existence of a new species of the Dictyota genus is being proposed based on morphological and chemical data. Indeed, the first study on the secondary metabolites of the Tribe Dictyoteae in the Colombian Caribbean has demonstrated that the quantitative profile of local Canistrocarpus cervicornis is similar to the Brazilian populations. Moreover, the effects of the natural products of this species are capable of reducing the fecundation rates of L. variegatus as well as inhibiting embryonic development. Also, a dichotomane diterpene has shown intense antimitotic activity in L. variegatus zygotes. Finally, the extracts of D. menstrualis and D. ciliolata have presented differentiated activities in the hemostasis processes. Keywords: Dictyota, Canistrocarpus, chemotaxonomy, biological activity, bioprospection. xii LISTA DE TABELAS Tabela 1. Vantagens e desvantagens das diferentes massas de extrato de D. ciliolata e D. menstrualis aplicadas nas placas cromatográficas. ............ 19 Tabela 2. Massa calculada pelo método RGB para a amostra desconhecida. .... 23 Tabela 3. Dados quantitativos expressados em abundância relativa (%) de alguns produtos naturais de Dictyota menstrualis das populações de Búzios e Arquipélago São Pedro e São Paulo, tomados de Ortiz-Ramírez et al. 2008......................................................................................................... 24 Tabela 4. Valores do canal de cor azul (B) e absorbância calculada das populações de Dictyota ciliolata (A1 e A2) e de D. menstrualis (BZ e SPSP) com o seu respectivo valor p do teste t. ....................................... 25 Tabela 5. Ocorrência de espécies da tribo Dictyoteae na região caribenha colombiana (segundo Díaz-Pulido &Díaz-Ruíz, 2003)............................. 30 Tabela 6. Lista das prováveis espécies que podem ser coletadas na região do Distrito de Santa Marta, Caribe – Colômbia (Segundo Diaz-Pulido & DíazRuíz 2003). .............................................................................................. 36 Tabela 7. Códigos dos Locais de coleta, Locais de coleta, códigos das amostras, massas secas das algas (em g), massas dos extratos em acetato de etila (em MG), rendimentos dos extratos das amostras (em %) e grupo segundo o perfil cromatográfico das amostras coletadas na região de Santa Marta, Colômbia. ........................................................................... 38 Tabela 8. Nome dos ácidos graxos ou derivados, estruturas moleculares, tempo de retenção (em minutos) e respectivas fragmentações em Espectrometria de Massas por impacto de elétrons (70eV) (EM-IE) e intensidades relativas (%) dos picos........................................................ 41 Tabela 9. Nome dos diterpenos identificados, tempo de retenção (em minutos), respectivas fragmentações em Espectrometria de Massas por impacto de xiii elétrons (EM-IE) e intensidades relativas (%) dos picos e principais sinais em RMN 1H. ............................................................................................ 44 Tabela 10. Produção quantitativa dos diterpenos dos indivíduos da espécie Canistrocarpus cervicornis coletados na enseada de Taganga, Caribe colombiano (em porcentagem relativa). ................................................... 55 Tabela 11. Porcentagem dos zigotos segundo o estágio de desenvolvimento embrionário nas experiências com o extrato bruto (CE) e com o dolastano 16 (D): OF) porcentagem dos ovos fecundados sem clivagem; I – IV) porcentagem das clivagens e A) porcentagem dos zigotos anômalos. ... 93 Tabela 12. Porcentagem de óvulos não fecundados nas experiências de préfecundação em diferentes concentrações do extrato bruto de Canistrocarpus cervicornis. (Media ±SD). ............................................... 94 Tabela 13. Massa seca das algas de cada espécime e população, massa dos extratos brutos obtidos em n-hexano (Hex) e acetato de etila (AcOEt). SPSP: Arquipelago São de Pedro e São Paulo; BZ: Praia do Forno, Búzios; IG: Ilha Grande, Angra dos Reis. .............................................. 106 Tabela 14. Comparação dos dados espectroscópicos do pachydictyol A (1) obtidos por RMN 1H (300 MHz, CDCl3) com dados apresentados na literatura................................................................................................. 121 Tabela 15. Comparação dos dados espectroscópicos do dictyol E (16) obtidos por RMN 1H (300 MHz, CDCl3) com dados apresentados na literatura. ...... 121 Tabela 16. Comparação dos dados espectroscópicos do dichotomano (17) obtidos por RMN 1H (300 MHz, CDCl3) com dados apresentados na literatura................................................................................................. 122 Tabela 17. Relação das espécies estudadas, tipo de solvente utilizado para extração, local de coleta das algas pardas e sua respectiva codificação. ............................................................................................................... 134 xiv Tabela 18. Perfil inibitório dos extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata sobre a agregação plaquetária. ....................................................................... 144 Tabela 19. Efeito dos diferentes extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata sobre o tempo de coagulação. .............................................................. 145 Tabela 20. Perfil inibitório dos diferentes extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata sobre a hidrólise dos substratos cromogênicos. ....................... 149 Tabela 21. Efeito dos diferentes extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata nos ensaios biológicos. ................................................................................ 150 xv LISTA DE FIGURAS Figura 1. Propostas biogenéticas hipotéticas para os diterpenos dos grupos I, II (A e B) e III (Modificado de Teixeira & Kelecom 1988; De-Paula et al. 2007). ........................................................................................................ 3 Figura 2. Representação do cubo de cores RGB (Godinho et al. 2008). .............. 8 Figura 3. A) Esquema de fracionamentos para obtenção da mistura dos diterpenos isômeros pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2). B) Placa cromatográfica em camada delgada revelada em sulfato sérico, onde as frações F8 e F9 correspondem à mistura dos isômeros usados como padrão no modelo RGB. .......................................................................... 14 Figura 4. Espectro RMN 1H (300 MHz, em CDCl3, TMS como referência interna) da mistura dos diterpenos pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2). .... 15 Figura 5. Aba da ferramenta conta gotas do programa Adobe® Photoshop CS5 versão 12.0 que mostra os valores da composição da cor no canal RGB. ................................................................................................................. 17 Figura 6. Placa CCD eluída em hexano e acetato de etila (7:3) dos extratos de Dictyota ciliolata (morfotipos A1 e A2, Ilha Grande) e D. menstrualis das populações de Búzios (BZ) e do Arquipélago São Pedro e São Paulo (SPSP), indicando alguns dos seus produtos naturais reconhecíveis pelo padrão cromático de revelação. .............................................................. 19 Figura 7. Placa de calibração em cromatografia de camada delgada com a mistura dos isômeros pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2) com R f = 0,70. A massa de aplicação X corresponde a 50µg, e foi considerada como a massa desconhecida. Esses dados servirão para a avaliação por análise univariada de cada canal de cor primária. ................................... 20 Figura 8. Absorbância em placa de CCD para cada cor primária RGB em função da massa de amostra aplicada na placa (em µg). ................................... 21 xvi Figura 9. Curva de calibração para cada cor primária, vermelho (R), verde (G) e azul (B) dos isômeros pachydictyol A e isopachydictyol A. ..................... 22 Figura 10. Comparação do extrato de Dictyota friabilis e do espécime A6 ......... 27 Figura 11. Mapa da região de Santa Marta (Colômbia) indicando os locais de coleta das algas da tribo Dictyoteae C1: Pozos colorados, C2: El Rodadero e C3: Taganga. ....................................................................... 33 Figura 12. Exemplos dos perfis cromatográficos dos extratos das amostras de algas pardas marinhas da tribo Dictyoteae coletadas no Mar do Caribe, segundo a classificação por grupos taxonômicos (A-D). A) Cromatograma da amostra da alga R1 pretencente ao grupo A. B) Cromatograma da amostra da alga R6 pretencente ao grupo B. C) Cromatograma da amostra da alga R2 pretencente ao grupo C. D) Cromatograma da amostra da alga T’3 pretencente ao grupo D. As linhas pontilhadas vermelhas delimitam os cromatogramas nas três regiões previamente definidas. ................................................................................................. 39 Figura 13. Espectro de massas do éster metílico do ácido mirístico (3) (70eV) .. 42 Figura 14. Espectro de massas do éster metílico do ácido palmítico (4) (70 eV) 42 Figura 15. Espectro de massas do ácido palmítico (5) (70 eV) ........................... 43 Figura 16. Espectro de massas do diterpeno do tipo guaiano prenilado pachydictyol A (1) (70 eV). ...................................................................... 46 Figura 17. Espectro de massas do diterpeno do tipo guaiano prenilado isopachydictyol A (2) (70 eV). .................................................................. 46 Figura 18. Espectro de massas do diterpeno dolastano, o 4,9,14-triidroxi-1,9dolastano-1,9-dieno (6) (70 eV). .............................................................. 47 Figura 19. Espectro de massas do diterpeno dolastano, o 4-acetoxi-9,14-diidroxi1,9-dolastano-1,9-dieno (7) (70 eV). ........................................................ 47 xvii Figura 20. Espectro de massas do diterpeno dolastano, o 4,14-diidroxi-dolastano1(15),7,9-trieno (8) (70 eV). ..................................................................... 48 Figura 21. Espectro de massas do diterpeno dolastano, o 4-acetoxi-14-hidroxidolastano-1(15),7,9-trieno (9) (70 eV). .................................................... 48 Figura 22. Espectro de massas do diterpeno dolastano, o 4-7diacetoxi-14-hidroxidolastano-1,9-dieno (10) (70 eV). ............................................................ 49 Figura 23. Espectro de massas do diterpeno, o isolinearol (11) (70 eV). ............ 49 Figura 24. Espectro de massas do esterol típico das feofíceas, o fucosterol (12) (70 eV). .................................................................................................... 50 Figura 25. Placa CCD comparativa dos extratos do grupo D (T’3, T’4, T’7, T1, T’1 e T5) com CC (C. cervicornis), DM (D. menstrualis) e DC (D. ciliolata) eluida em CH2Cl2 : AcOEt (8:2) e revelada com sulfato cérico a 2% em ácido sulfúrico. As linhas vermelhas mostram o padrão típico de revelação dos diterpenos dolastanos e secodolastanos. ......................................... 52 Figura 26. Canistrocarpus cervicornis: Aspecto geral, distribuição e detalhe dos esporângios. A) Detalhe da distribuição dos esporângios solitários ou em pequenos grupos. B) Aspecto geral da alga coletada na Enseada de Taganga, (Santa Marta, Colômbia), C) detalhe dos esporângios circundados por uma coroa de células corticais (seta) e uma célula no pedicelo. .................................................................................................. 54 Figura 27. Análise quantitativa dos diterpenos dos tipos dolastano e secodolastano detectados no extrato bruto de C. cervicornis, coletados na Enseada de Taganga, no Mar do Caribe colombiano.............................. 56 Figura 28. Mapa do local de coleta, o ponto amarelo indica o local aproximado (modificado de www.mapasdigitais.uerj.br). ............................................ 64 Figura 29. Esquema de fracionamento para a obtenção dos diterpenos DvD (13), DvM (14) e DvH (15)................................................................................ 70 xviii Figura 30. Holotipo de Dictyota sp. nov., Ilha Grande, Angra dos Reis-RJ. a) aspecto geral do individuo; b) detalhe dos ápices agudos e arredondados; c) corte transversal da região mediana do talo mostrando a disposição em uma camada das células medulares; d) vista superficial de um pequeno grupo de esporângios; e-f) corte transversal dos esporângios exibindo uma única célula peduncular. .................................................................. 72 Figura 31. Placas cromatográficas em camada delgada (CCD) de Dictyota sp. nov. a) comparação entre os dois extratos em hexano e em acetato de etila; b) resultado do primeiro fracionamento do extrato hexânico (EHB), onde pode ser observado a característica principal da serie de bandas de cor púrpura (diterpenos) (1 – 31 frações coletadas). ............................... 76 Figura 32. Comparação dos extratos em cromatografia de camada delgada (CCD) de Dictyota pfaffii (Dp) e Dictyota sp. nov. (Dv). ........................... 77 Figura 33. Placa em cromatografia de camada delgada dos produtos naturais DvD (13) Rf= 0,59, DvM (14) Rf=0,49 e DvH (15) Rf=0,12....................... 78 Figura 34. Cromatograma (CG/EM) do extrato bruto em hexano de Dictyota sp. nov. indicando os picos dos diterpenos diacetilado (13) e monoacetilado (14). ......................................................................................................... 79 Figura 35. Estrutura do diterpeno dolastano (4R,7R,14S)-4α,7α-diacetoxi-14hidroxidolasta-1(15),8-dieno. ................................................................... 86 Figura 36. Esquema ilustrativo dos ensaios realizados de pós-fecundação e préfecundação. ............................................................................................. 90 Figura 37. Primeiros estágios do desenvolvimento embrionário de Lytechinus variegatus e eventos registrados durante as experiências. A) óvulo sem fecundar; B) óvulo fecundado sem clivagem; C) zigoto na clivagem I; D) zigoto na clivagem II; E) zigoto na clivagem III; F) zigoto na clivagem IV; G) zigoto anômalo e H) lise celular dos blastômeros............................... 91 Figura 38. Porcentagem dos zigotos anômalos nas experiências de pósfecundação com o extrato bruto (CE) e com o dolastano (D) e nas xix experiências de pré-fecundação com o extrato bruto. Os códigos das concentrações 1 a 5 representam as diluições detalhadas em materiais e métodos da menor a maior das concentrações. ...................................... 98 Figura 39. Esquema ilustrado do isolamento e purificação do pachydictyol A (1). ............................................................................................................... 107 Figura 40. Esquema do isolamento e purificação do dictyol E (16). .................. 108 Figura 41. Esquema ilustrado do isolamento e purificação do diterpeno 9-hidroxidichotoma-2,13-dieno-16,17-dial (dichotomano 17). ............................. 110 Figura 42. Esquema ilustrado do ensaio de atividade biológica dos extratos de Dictyota menstrualis, Dictyota ciliolata e dos diterpenos pachydictyol A, dictyol E e dichotomano frente aos zigotos de Lytechinus variegatus. .. 113 Figura 43. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o extrato bruto em hexano (0; 12,5; 25; 50; 100 e 200 µg/mL) de Dictyota ciliolata da população da Ilha Grande, Angra dos Reis. ....................................................................... 115 Figura 44. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o extrato bruto em hexano (0; 12,5; 25; 50; 100 e 200 µg/mL) de Dictyota menstrualis da população de Búzios. ................................................................................................... 117 Figura 45. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o extrato bruto em hexano (0; 12,5; 25; 50; 100 e 200 µg/mL) de Dictyota menstrualis da população do Arquipélago São Pedro e são Paulo. ..................................................... 118 xx Figura 46. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o diterpeno pachydictyol A (0; 6,25; 12,5; 25; 50 e 100 µg/mL)............................................................. 123 Figura 47. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o diterpeno dictyol E (0; 6,25; 12,5; 25; 50 e 100 µg/mL)...................................................................... 124 Figura 48. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o diterpeno dichotomano (0; 6,25; 12,5; 25; 50 e 100 µg/mL)............................................................. 125 Figura 49. Imagens microscópicas dos zigotos de Lytechinus variegatus. A) ovo fecundado normal sem tratamento com dichotomano. B) zigoto normal na clivagem IV sem tratamento com dichotomano. C) zigoto tratado com o dichotomano. As setas indicam os pontos claros citoplasmáticos correspondentes ao indicativo da estabilização do aparato mitótico. A media do diâmetro dos zigotos foi 110 µm. ........................................... 127 Figura 50. Efeito dos extratos de algas sobre a agregação plaquetária em Plasma Rico em Plaquetas (PRP). ..................................................................... 141 Figura 51. Registros típicos da agregação plaquetária em plaquetas lavadas (WP) ............................................................................................................... 142 Figura 52. Efeitos dos extratos das algas sobre a agregação plaquetária em Plaquetas lavadas (WP). ....................................................................... 143 Figura 53. Efeito dos diferentes extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata sobre a cinética da hidrólise dos substratos cromogênicos. .................. 147 xxi Figura 54. Efeito dos diferentes extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata sobre a atividade catalítica da trombina sobre os substratos cromogênicos. ....................................................................................... 148 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – PREFÁCIO 1 PREFÁCIO A ordem Dictyotales da classe Phaeophyceae destaca-se por ser um importante componente na estrutura das comunidades bentônicas dos mares temperados e tropicais pela sua biomassa e diversidade de espécies (Bittner et al. 2008; Norris 2010; Tronholm et al. 2010). Dentro da ordem Dictyotales encontrase a família Dictyotaceae que atualmente circunscreve de 18 gêneros (Wysor & De Clerck 2003), por sua vez para a família são reconhecidas duas tribos, a tribo Dictyoteae e a tribo Zonarieae. Estes táxons são diferenciados pelo crescimento do seu talo por uma ou várias células apicais, sendo que na tribo Dictyoteae o crescimento do talo é realizado por uma única célula apical. A tribo Dictyoteae é composta de três únicos gêneros Dictyota Lamouroux, Canistrocarpus De Paula et De Clerck e Rugulopteryx De Clerck et Coppejans (De Clerck et al. 2006). Nas últimas décadas, o aumento significativo de novos epítetos específicos de macroalgas bentônicas ao redor do mundo (Wynne 2011), está diretamente relacionado à dificuldade em estabelecer limites de separação entre espécies, em especial na tribo Dictyoteae pelo seu alto pleomorfismo dos indivíduos e pela diferenciada interpretação dos caracteres diagnósticos, o que tem levado a confusões taxonômicas em casos reportados como coespecificidade (Teixeira & Kelecom 1987, 1988; Bula-Meyer 1994; Solé & Foldats 2003; Wysor & De Clerck 2003). O avanço em áreas do conhecimento como a química de produtos naturais e o crescente isolamento de novos e diversos tipos de substâncias, trouxe o avanço Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – PREFÁCIO 2 da taxonomia química, que baseia seu estudo na premissa de que a síntese dos metabólitos secundários reflete uma condição própria de determinado táxon (Teixeira 2010). Desde o ponto de vista químico, uma rota biogenética de síntese dos diterpenos na tribo Dictyoteae propõe que a partir do geranilgeraniol (precursor universal de todos os diterpenos), são formados quatro grupos de esqueletos diterpênicos. O grupo I é formado a partir da primeira ciclização formal entre os carbonos 1 e 10 e dá origem a uma série de produtos do tipo germacrano prenilado e derivados, sendo o tipo guaiano prenilado, o mais comum entre as algas dos gêneros Dictyota. Diterpenos do tipo spatano e secospatano, também são muito abundantes, mas restritos ao gênero Rugulopterix. O grupo II é formado pela primeira ciclização formal entre os carbonos 1 e 11, e podeser dividido em grupos IIa e IIb, de acordo com a ocorrência nas espécies, ou seja pela origem biossintética de cada tipo. O grupo IIa caracteriza-se pela produção de dolabellanos e derivados (IIa) e ocorre em algas do gênero Dictyota, enquanto os diterpenos do tipo dolastanos IIb e secodolastanos (IIb), sem relação biogenéticas com os dolabellanos, ocorrem nas algas do gênero Canistrocarpus. Para a formação dos diterpenos do grupo III existem duas propostas biogenéticas na literatura. A primeira possibilidade seria a partir da primeira ciclização formal do geranilgeraniol entre os carbonos 2 e 10 e a segunda envolveria a formação intermediária de um produto do grupo I, seguida da contração do anel de 10 carbonos em um anel de 9 carbonos, dando origem aos produtos do grupo III cujo esqueleto mais comum é o xeniano (Teixeira & Kelecom 1988; Bemfica et al. 1998) (Figura 1). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – PREFÁCIO 3 Figura 1. Propostas biogenéticas hipotéticas para os diterpenos dos grupos I, II (A e B) e III (Modificado de Teixeira & Kelecom 1988; De-Paula et al. 2007). Para o caso da tribo Dictyoteae os diterpenos tem sido sugeridos como bons marcadores taxonômicos. Em decorrência disso, estudos da composição química dos diterpenos de várias espécies deste táxon têm permitido classificá-las de acordo com suas características químicas (Figura 1) e inclusive os resultados têm sido consistentes e, com algumas restrições, concordam com a proposta de De Clerck et al. (2006) quanto aos três únicos gêneros da tribo Dictyoteae (Kelecom & Teixeira 1986; Teixeira et al. 1986; Teixeira & Kelecom 1988; Teixeira et al. 1990, 2001; De-Paula et al. 2001, 2008; Teixeira 2002; Barbosa et al. 2003, 2007; Vallim et al. 2005; Cavalcanti et al. 2006; De-Paula et al. 2007; De-Paula et al. 2007; Oliveira et al. 2008). Estes diterpenos também têm sido apontados como marcadores biogeográficos para o entendimento da distribuição das espécies e Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – PREFÁCIO 4 para elucidar padrões interpopulaçionais (Teixeira & Kelecom 1987; Vallim et al. 2005; Freitas et al. 2007; Oliveira et al. 2008; Ortiz-Ramírez et al. 2008). Os diterpenos da tribo Dictyoteae apresentam papéis importantes no âmbito ecológico, assim experiências em ecologia química tem demonstrado o papel dos diterpenos na defesa química contra consumidores, anti-incrustação e alelopática dentre outros (Steinberg 1985; Hay et al. 1987; Hay & Fenical 1988; Bolser & Hay 1996; Cronin et al. 1997; Pereira et al. 2000; Amsler 2001; Lindquist 2002; Barbosa et al. 2004b; Macaya et al. 2005; Vallim et al. 2007; Soares et al. 2008; Da Gama et al. 2008; Bianco et al. 2008, 2009). Por outro lado a mais recente revisão sobre a atividade dos terpenos da família Dictyotaceae contra diferentes tipos de agentes infecciosos e outros problemas de saúde publica (De-Paula et al. 2011) revela a importância destes metabolitos secundários com potencial biotecnológico e estimula em dar continuidade aos estudos de bioprospecção em aras de contribuir na luta contra diferentes doenças. O presente estudo tem como objetivo contribuir ao conhecimento da ocorrência dos diterpenos da tribo Dictyoteae, avaliar um método de quantificação de fácil manuseio e baixo custo por análises de cor e realizar experiências in vitro sobre o potencial biotecnológico dos diterpenos desta tribo. Em síntese o presente trabalho encontra-se dividido em seis capítulos, abordando temas inter-relacionados. Assim, o Capítulo 1 apresenta uma visão biológica no aproveitamento de um dos métodos mais usados nos laboratórios de química de produtos naturais, a cromatografia em camada delgada (CCD). O capítulo apresenta como nos dias de hoje, graças ao fácil acesso a dispositivos digitais de imagens, esta técnica rotineira pode ser uma útil ferramenta para Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – PREFÁCIO 5 biólogos. O Capítulo 2 aborda o primeiro estudo dos diterpenos da tribo Dictyoteae no Mar do Caribe, da Colômbia, ampliando assim o conhecimento sobre os diterpenos. Esse estudo estabeleceu o início de uma colaboração internacional entre o Brasil e a Colômbia, entre dois grupos reconhecidos de pesquisa na área de produtos naturais marinhos. O Capítulo 3 apresenta uma nova espécie do gênero Dictyota baseada em dados morfológicos e químicos. Os três últimos capítulos apresentam novos resultados sobre atividades biológicas de alguns metabolitos secundários da tribo Dictyoteae e perspectivas de seu potencial biotecnológico. O Capítulo 4 aborda os efeitos dos produtos naturais na fertilização e nos primeiros estádios de vida de um dos principais consumidores, sugerindo ser um tipo de química defensiva indireta. Os Capítulos 5 e 6 apresentam aspectos de bioprospecção e sinalizam o potencial de alguns diterpenos e extratos brutos como agentes antimitóticos e hemostáticos, respectivamente. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 6 CAPÍTULO 1. CROMATOGRAFIA EM CAMADA DELGADA: UMA FERRAMENTA DE AUXÍLIO NA IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES E POPULAÇÕES DE ALGAS MARINHAS Resumo: Este capítulo apresenta o uso da cromatografia em camada delgada (CCD) como um método de análise quantitativa dos produtos naturais de algas marinhas por imagens digitais. Nossos resultados indicaram que a quantidade ideal de aplicação nas placas cromatográficas, para a utilização da técnica, é de 300 µg para os extratos brutos e que o limite de quantificação obtido para os isômeros pachydictyol A e isopachydictyol A foi de 6,25µg. Para esses diterpenos, a cor primária azul foi a mais adequada como índice do análogo de absortividade, pois, ao ser empregado na comparação de diferentes populações de Dictyota menstrualis, corroboraram os dados obtidos através da quantificação por CG/EM. Os resultados indicaram que este método pode ser usado como ferramenta auxiliar em estudos taxonômicos e ecológicos por apresentar baixo custo e rápida obtenção de resultados. Publicação produzida a partir deste capítulo: Perfil químico: uma ferramenta para auxiliar a identificação de populações de algas marinhas bentônicas? Ortiz-Ramírez, F.A; Pinto, V.L.M; Cavalcanti, D.N; Villaça, R.C; De Paula, J.C; Teixeira, V.L. Trabalho apresentado durante o II Congresso Brasileiro de Biologia Marinha – 2009. Catalogado dentre os cinco trabalhos que concorreram ao premio nível pós-graduação da Associação Brasileira de Biologia Marina. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 7 1.1. INTRODUÇÃO A cromatografia em camada delgada (CCD) é um dos métodos mais usados na rotina de laboratórios de Química Orgânica, sendo a ferramenta que guia o isolamento e a purificação de muitos produtos naturais. Em alguns casos, pode ser usada em escala preparativa e ser o método de escolha para o isolamento de substâncias químicas. Seu baixo custo e tempo de análise fazem deste método o preferido para muitas aplicações nas áreas biomédicas e farmacêuticas (Stepanov 2003; Soponar et al. 2008). O método tradicional para análises quantitativas em CCD é conhecido como densitometria, baseado nas medidas de fluorescência da placa CCD quando exposta a uma radiação ou feixe de luz monocromático geralmente na frequência da radiação ultravioleta (UV). No entanto, esta técnica requer equipamentos de alto custo e medidas de proteção para o pesquisador-operador contra os raios UV (Stepanov 2003; Hayakawa & Hirai 2003; Trivedi & Pundarikakshudu 2006; Lancaster et al. 2008). Em geral a quantificação de substâncias coloridas é realizada pelo método de espectrofotometria por detecção da transmitância e absorbância da energia luminosa, e, em teoria qualquer equipamento capaz de detectar variações da cor poderia ser utilizado como instrumento de quantificação (Petrović et al. 1997). Nos dias de hoje, o uso de imagens digitais está muito difundido, porém o seu uso como ferramenta de quantificação ainda é limitado. Nos últimos anos, no entanto, o interesse da sua aplicabilidade como técnica quantitativa em setores industriais vem crescendo (Cserháti & Forgács 2001; Gomes et al. 2008; Godinho et al. 2008). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 8 A cor pode ser analisada e monitorada por meio de um programa de edição de imagens como, por exemplo, o Adobe Photoshop®. O sistema de cores mais usado atualmente é o RGB, que corresponde às siglas em inglês Red (R), Green (G) e Blue (B). Neste sistema, cada canal de cor primária varia em índices de 0 e 255, permitindo uma combinação por pixel da imagem da ordem de 2563, resultando em 16.8 milhões de combinações possíveis (Adobe Systems Incorporated 2010). Assim, cada cor corresponde a um ponto no cubo tridimensional formado pelos eixos R, G e B (Figura 2). Figura 2. Representação do cubo de cores RGB (Godinho et al. 2008). Graças à versatilidade da CCD, biólogos e ecólogos podem fazer uso desta técnica em diversos propósitos, como na diferenciação de populações pela produção quantitativa de alguns metabolitos secundários, dentre outros. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 9 Os metabolitos secundários são produto de rotas metabólicas diferenciadas que refletem características próprias de cada espécie e este é um dos princípios básicos da taxonomia química. Seguindo esta linha de pensamento os diterpenos têm sido propostos como marcadores taxonômicos da tribo Dictyoteae e os resultados obtidos têm corroborado tal indicação (Pathirana 1984; Teixeira et al. 1985, 1986, 1990, 2001; Kelecom & Teixeira 1986; Teixeira & Kelecom 1988; Yamase et al. 1999; DePaula et al. 2001; De-Paula et al. 2007; De-Paula et al. 2008; Barbosa et al. 2003; Cavalcanti et al. 2006; Oliveira et al. 2008) O presente estudo se propõe a aplicar o uso de imagens digitais de placas cromatográficas, obtidas através de um digitalizador ou escâner (do inglês scanner) de mesa, como uma ferramenta de análise quantitativa para determinar variações populacionais de algas da tribo Dictyoteae. Foram selecionadas duas espécies para a realização das análises quantitativas: Dictyota. menstrualis (Hoyt) Schnetter, Hörning & Weber-Peukert 1987 e D. ciliolata Sonder ex Kützing 1859. Essas espécies foram escolhidas por serem próximas em sua química especial e em sua morfologia (Cronin et al. 1995; De-Paula et al. 2007; Ortiz-Ramírez et al. 2008; Manzo et al. 2009), tendo sido analisadas por nosso grupo de pesquisa. Para isso, o presente capítulo tem os seguintes objetivos: Determinar a concentração do extrato bruto ideal para a obtenção das imagens das placas cromatográficas das espécies D. menstrualis e D. ciliolata. Quantificar os diterpenos pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2) para avaliar o método proposto de modo experimental por meio de uma curva Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 10 de calibração. Ambas as espécies de Dictyota utilizadas nesse estudo são produtoras desses diterpenos. Validar os resultados obtidos com o método proposto através da comparação dos resultados com aqueles obtidos em cromatografia gasosa acoplada a espectro de massas. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 11 1.2. MATERIAL E MÉTODOS 1.2.1. Coleta Os espécimes de Dictyota menstrualis foram coletados mediante mergulho livre, entre 2 a 5 m de profundidade, no mês de abril de 2003, na praia Rasa, no município de Armação de Búzios, Rio de Janeiro, Brasil (22°44’49’’ S - 41°52’54’’ W) (BZ). Indivíduos desta mesma espécie foram coletados mediante mergulho autônomo, entre 3 a 20 m de profundidade, no ano de 2005, pelo Dr Roberto Campos Villaça no Arquipélago São Pedro e São Paulo (00°55’ N - 29°21’ W) (SPSP). Exsicatas dos espécimes coletados foram depositadas no Herbário da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HRJ 10017 - Praia Rasa e HRJ11006 - SPSP). Espécimes de D. ciliolata (A1 e A2) e um morfotipo desconhecido (A6) foram coletados na Praia Vermelha, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro (23°00’ S - 44°19’ W), mediante mergulho livre a uma profundidade média de 3 a 5 m no mês de outubro de 2008. O material biológico foi triado para a retirada de epífitas e da fauna acompanhante, posteriormente foi seca a temperatura ambiente no laboratório. 1.2.2. Preparação dos extratos Após a total secagem das algas, uma alíquota de 10 g de cada amostra foi submetida à extração sequencial em n-hexano e acetato de etila, durante três semanas para cada solvente, sendo renovado a cada semana. Os volumes dos Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 12 extratos obtidos foram reduzidos sob pressão reduzida, em evaporador rotativo, sendo armazenados sob refrigeração. 1.2.3. Identificação do perfil químico Uma alíquota (de 8 a 10 mg) de cada um dos extratos foi dissolvida em clorofórmio deuterado (CDCl3) para obtenção do espectro de Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio (RMN 1H), em aparelho Varian-Unity Plus, na frequência de 300,00 ou 500,00 MHz, sendo usado o tetrametilsilano (TMS) como referência interna. Uma alíquota (2 mg) de cada extrato foi diluída em 2 mL de acetato de etila (AcOEt) e 1 μL da solução foi injetada em cromatógrafo em fase gasosa Hewlett Packard HP 5973, acoplado a espectrômetro de massas (CG/EM), em modo de impacto de elétrons (70 eV), programado a uma temperatura inicial de 160 ºC e aumentando 4 ºC/min, até chegar aos 260 ºC. Em seguida, a temperatura foi elevada até 290 ºC a uma taxa de 10 ºC/min e mantida constante por 10 min. Foram obtidos os espectros de massas por impacto de elétrons para cada substância presente no extrato. Estes dados foram obtidos durante as experiências da dissertação de mestrado do autor (Ortiz-Ramírez 2008). 1.2.4. Isolamento do padrão de diterpenos Com o objetivo de isolarmos a mistura dos isômeros pachydictyol A (1) e Isopachydictyol A (2), D. menstrualis foi coletada durante o mês de julho de 2010, na Praia do Forno, Armação de Búzios (RJ). O material seco (95 g) foi submetido à extração exaustiva com diclorometano (CH2Cl2). Após a redução do volume do solvente em evaporador rotativo sob pressão reduzida, duas alíquotas de 2,5 g, Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 13 de cada extrato bruto, foram submetidas à partição em coluna tipo flash em gel de sílica (0,015 – 0,045 mm) (Ø3 cm, altura da coluna 20 cm), usando como fase móvel, os solventes ou misturas de solventes CH2Cl2:AcOEt 8:2, 1:1, AcOEt 100% e Acetona 100%. As frações 2 e 3 das duas colunas foram reunidas (165 mg). Esta fração foi submetida a um fracionamento em coluna de gel de sílica preparativa (0,015 – 0,045 mm) (Ø2 cm, altura da coluna 10 cm), isocrática usando n-hexano:AcOEt 9:1, onde foram obtidas 24 frações(F1-F24). As frações F8 a F11 foram reunidas (55 mg), e um novo fracionamento foi realizado em coluna de gel de sílica (0,015 – 0,045 mm) (Ø1 cm, altura da coluna 15 cm), usando como fase móvel, o n-hexano. A polaridade foi sendo aumentada pelo acréscimo progressivo de CH2Cl2. Foram obtidas 24 fracões (F1-F24), sendo reunidas as frações F8 e F9 (45 mg), que consistiam num óleo amarelado, que pelos sinais espectrais de RMN 1H correspondem à mistura dos isômeros pachydictyol A (1) e Isopachydictyol A (2) (Pathirana & Andersen 1984; Durán et al. 1997; Freitas 2006) (Figura 3, 4). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 14 Extrato em CH2Cl2 5 g A Alíquota 2,5 g Alíquota 2,5 g 1° Fracionamento CH2Cl2:AcOEt 8:2 Fração 2 Fração 3 165 mg 2° Fracionamento Hex:AcOEt 9:1 Frações 8 – 11 (55 mg) 3° Fracionamento Hex:CH2Cl2 Frações 8 e 9 (45 mg) Diterpenos 1 e 2 B Figura 3. A) Esquema de fracionamentos para obtenção da mistura dos diterpenos isômeros pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2). B) Placa cromatográfica em camada delgada revelada em sulfato sérico, onde as frações F8 e F9 correspondem à mistura dos isômeros usados como padrão no modelo RGB. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 15 Figura 4. Espectro RMN 1H (300 MHz, em CDCl3, TMS como referência interna) da mistura dos diterpenos pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 16 1.2.5. Cromatografia em camada delgada (CCD) Várias soluções de concentração conhecida do extrato hexânico de D. menstrualis e de D. ciliolata foram usadas para realizar diferentes placas cromatográficas. A mistura de pachydictyol A e isopachydictyol A foi utilizada como padrão de calibração do método. Foram utilizadas placas de gel de sílica 60 F254 Merck®, com 2,5 cm x 10 cm, eluídas em n-hexano: acetato de etila (7:3). Com o auxilio de uma micropipeta automática, foram realizadas aplicações de 3µL das soluções de extratos, obtendo-se as massas de 100 a 1000 µg por aplicação. A revelação das bandas cromatográficas foi realizada através do borrifamento com solução de sulfato cérico (CeSO4) a 2% em ácido sulfúrico (H2SO4), seguido do aquecimento em placa aquecedora. Imediatamente após a revelação das bandas cromatográficas, a placa foi digitalizada em escâner de mesa HP Scanjet 2400. . 1.2.6. Processamento das imagens e calibração As imagens foram digitalizadas em formato JPEG, cuja sigla em inglês significa Joint Pictures Expert Group, com uma resolução de 300 dpi, ou seja, 300 micropingos de tinta numa área de uma polegada quadrada, usando o canal RGB, referente às três cores primárias, vermelho, verde e azul, no formato de imagem de oito bits. As cores formadas na composição RGB são expressas por valores proporcionais para cada cor da imagem gerada. A obtenção dos resultados foi realizada no programa de processamento de imagens Adobe® Photoshop CS5 versão 12.0, usando a ferramenta conta gotas, no tamanho amostral médio de 3x3 píxeis (Figura 5). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 17 Figura 5. Aba da ferramenta conta gotas do programa Adobe® Photoshop CS5 versão 12.0 que mostra os valores da composição da cor no canal RGB. Os valores decompostos do canal de cores RGB podem ser tratados como um análogo da energia radiante em espectrofotometria UV/visível, assim os valores de uma cor primária do branco foram tratados como energia incidente (P 0) e os valores das aplicações eluídas em CCD foram tratados como energia emergente (P), resultando no cálculo da absorbância (Abs = -log P/P0) (Gomes et al. 2008). Para validar este método foi realizada uma calibração quantitativa univariada da placa cromatográfica em duplicata, utilizando-se a mistura de pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2) como padrão. O branco é considerado como a média aritmética de 10 pontos aleatórios na placa CCD em áreas onde não existissem rastos da eluição da mistura, Os valores para o cálculo da energia emergente foram obtidos em 10 pontos aleatórios dentro da área da aplicação eluída e revelada da amostra dos isômeros. A partir desses dados foi realizada uma curva de calibração Abs. vs [µg]. Os mesmos cálculos foram realizados na placa CCD comparativa de D. menstrualis e D. ciliolata e a diferença proporcional obtida foi comparada com os resultados quantitativos obtidos com a análise dos extratos em CG/EM. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 18 1.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A cromatografia em camada delgada é o método a ser avaliado como uma ferramenta auxiliar para diferenciar duas populações ou espécies muito próximas através da expressão cromática dos principais componente químicos após revelação adequada. Após a revelação, podem-se utilizar as intensidades e a composição das cores susceptíveis de serem mensuradas por dispositivos digitais (escâner) para posterior processamento computacional e matemático. O uso de imagens digitais para análise quantitativa em CCD não é novo (Lin et al. 1998; López et al. 1999), no entanto não há registro de sua aplicação em produtos naturais de algas. Para estudar a factibilidade do uso deste método antes da análise univariada por decomposição das cores, tornou-se necessário testar diferentes concentrações dos extratos das algas, com o intuito de obtermos uma placa cromatográfica com boa resolução, possibilitando a definição do padrão cromático (cores) a ser utilizado. Foram realizados também vários testes com diferentes sistemas de eluentes. Após realizar as placas cromatográficas com aplicações de diferentes massas dos extratos de D. ciliolata e D. menstrualis, foi possível determinar que aplicações entre 250 e 300 µg oferecem uma boa resolução e definição do padrão cromático das manchas cromatográficas. A Tabela 1 apresenta os principais resultados obtidos nas placas cromatográficas, com diferentes concentrações (massas) dos extratos brutos de D. menstrualis e D. ciliolata, e as vantagens e desvantagens observadas. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 19 Tabela 1. Vantagens e desvantagens das diferentes massas de extrato de D. ciliolata e D. menstrualis aplicadas nas placas cromatográficas. Concentração < 200 µg 250 e 300 µg Vantagem Visualização componentes majoritários dos químicos Desvantagem Baixa resolução do padrão cromático Boa resolução com definição do padrão cromático Saturação da sílica Rastro da eluição >300 µg muito forte prejudicando a observação visual do resultado Conforme os resultados obtidos nesses testes, foram selecionadas Visualização dos componentes químicos majoritários com pouco tempo de aquecimento (alguns segundos). aplicações com a massa de 300µg de extrato na placa de CCD, eluída na mistura de hexano e acetato de etila (7:3) (Figura 6). Pachy e Isopachydictyol A Acetato do dictyol Dictyol E B Acetoxicicloxeniano Dictyol C Cicloxenia no Esteróis Figura 6. Placa CCD eluída em hexano e acetato de etila (7:3) dos extratos de Dictyota ciliolata (morfotipos A1 e A2, Ilha Grande) e D. menstrualis das populações de Búzios Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 20 (BZ) e do Arquipélago São Pedro e São Paulo (SPSP), indicando alguns dos seus produtos naturais reconhecíveis pelo padrão cromático de revelação. Para realizar a calibração do método, foi escolhida uma mistura dos isômeros pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2). Foram aplicados de 0,39 a 200 µg da mistura para determinação mudança do perfil cromático em função das diferentes massas. O limite de detecção visual foi de 6,25 µg, quando utilizado o aquecimento da placa a 80°C por cerca de 1 min. A massa de aplicação X correspondeu a 50 µg e foi estabelecida como valor de referência para avaliar a precisão da análise univariada por decomposição das cores primarias R (vermelho), G (verde) e B (azul) (Figura 7). Figura 7. Placa de calibração em cromatografia de camada delgada com a mistura dos isômeros pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2) com Rf = 0,70. A massa de aplicação X corresponde a 50µg, e foi considerada como a massa desconhecida. Esses dados servirão para a avaliação por análise univariada de cada canal de cor primária. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 21 O uso da fórmula Abs = -log P/P0 em análises de imagens digitais por decomposição de cor como um processo análogo ao espectrofotômetro, deve cumprir a lei de Beer (Gomes et al. 2008). Segundo esta lei, quanto maior o percurso óptico que a radiação tem que percorrer, em concentração constante, maior será sua absorção. Do mesmo modo, quando o caminho óptico é fixo, como no caso da placa CCD, mas com aplicações de massas diferentes deve-se obter o mesmo efeito mostrando uma correlação positiva. Após a conversão dos valores RGB em absorbância para cada aplicação da mistura dos isômeros pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2), a Figura 8 demonstra correlação positiva entre as aplicações em diferentes massas e os seus valores de absorbância, sendo respeitada, portanto, a lei de Beer. 0,35 0,3 Absorbância 0,25 0,2 R 0,15 G 0,1 B 0,05 0 -0,05 6,25 12,5 25 50 100 200 µg Figura 8. Absorbância em placa de CCD para cada cor primária RGB em função da massa de amostra aplicada na placa (em µg). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 22 A partir dos dados de composição RGB e do comportamento observado (Figura 8), foi possível determinar que a cor vermelha (R) se encontrava saturada e sofreu pouca variação correlativa com respeito às cores complementares, verde (G) e azul (B). Isto foi confirmado pelo valor de R2 no modelo linear para esta cor. A aplicação de 50 µg foi assumida como um analito desconhecido para validar o método de análise univariada (Figura 9). 0,35 0,3 y = 0,0966x - 0,0943 R² = 0,8451 Absorbância 0,25 R 0,2 0,15 y = 0,2177x - 0,1903 R² = 0,9741 G y = 0,1027x - 0,0607 R² = 0,9876 B 0,1 0,05 0 -0,05 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Log[µg] Figura 9. Curva de calibração para cada cor primária, vermelho (R), verde (G) e azul (B) dos isômeros pachydictyol A e isopachydictyol A. Utilizando-se cada modelo, a aplicação X correspondeu aos seguintes valores: 39,56 µg para a cor vermelha; 43,78 µg, para a cor verde e 59,98 µg, para a cor azul. O modelo com menor robustez foi o da cor vermelha (R), devido à sua saturação e a baixa correlação linear (R2). As duas outras cores (verde e azul) apresentaram maior aproximação com aqueles obtidos pelo método experimental (Tabela 2). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 23 Tabela 2. Massa calculada pelo método RGB para a amostra desconhecida. Cor Massa calculada (µg) Diferença entre a massa real Erro (%) (50µg) e a massa calculada (µg) R – vermelho 39,56 -10,44 26,4 G – verde 43,78 -6,22 14,2 B – azul 59,98 +9,98 16,6 Embora o modelo para a cor verde (G) mostrou-se com um menor erro e mais perto da concentração real, o modelo mais apropriado para a quantificação da mistura de isômeros foi o da cor complementar azul (B), por apresentar uma maior correlação (R2 = 0,9876), o que significa em outros termos maior precisão. Os diterpenos guaianos prenilados, como o pachydictyol A e isopachydictyol A, estão presentes em várias espécies do grupo Dictyota (Pathirana & Andersen 1984; Durán et al. 1997; Teixeira et al. 2001; Cavalcanti 2004; Siamopoulou et al. 2004; Vallim et al. 2005; Cavalcanti et al. 2006; Freitas 2006; Oliveira 2006; De Paula 2007; Freitas et al. 2007; Oritz-Ramírez 2008; Ortiz-Ramírez et al. 2008; De-Paula et al. 2008; Manzo et al. 2009) Os diterpenos desse tipo de esqueleto carbônico apresentam, na maioria dos casos, um padrão de revelação cromático muito similar, quando utilizamos o sulfato cérico como revelador. Esse padrão deve-se à funcionalização mais comum desses diterpenos, com uma, duas ou três hidroxilas. Após a confirmação da aplicabilidade do uso de imagens digitais para a quantificação da mistura dos isômeros pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2), extratos de diferentes populações de D. menstrualis e D. ciliolata foram submetidos à análise pelo método de quantificação em placas de CCD (Figura 6). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 24 A espécie D. menstrualis foi usada como padrão por ser quimicamente bem conhecida (Teixeira et al. 2001; Cavalcanti 2004; Cavalcanti et al. 2006; OrtizRamírez 2008; Ortiz-Ramírez et al. 2008; Cavalcanti et al. 2008). Os dados quantitativos do pachydictyol A (1), Isopachydictyol A (2) e outros produtos de D. menstrualis coletadas em Búzios e no Arquipélago de São Pedro e São Paulo foram, anteriormente analisados por CG/EM e refletem uma notável variação no perfil quantitativo (Tabela 3). Tabela 3. Dados quantitativos expressados em abundância relativa (%) de alguns produtos naturais de Dictyota menstrualis das populações de Búzios e Arquipélago São Pedro e São Paulo, tomados de Ortiz-Ramírez et al. 2008. Composto/áreas de coleta Praia Rasa, Búzios, RJ Arquipélago São Pedro e São Paulo Abundancia relativa (%) DITERPENOS Guaianos prenilados Pachydictyol A (1) 1.77 3.91 Isopachydictyol A (2) 1.06 1.22 Dictyotadiol 0.82 1.34 Dictyol C 0.75 1.19 6-Hidroxi-dichotoma-2,13-dieno16,17-dial 8.38 1.75 6-Acetoxi-dichotoma-2,13-dieno16,17-dial 2.64 1.14 5-Hidroxi-1,6-cicloxenia-2,13-dieno16,17-dial 5.02 1.62 5-Acetoxi-1,6-cicloxenia-2,13-dieno16,17-dial 2.68 8.03 Dichotomanos Cycloxenianos ESTERÓIS Colesterol Fucosterol 2.54 1.80 6.24 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 25 Os dados de absorbância baseados na lei de Beer obtidos pelo método de quantificação em placa de CCD para os produtos de D. menstrualis foram comparados com os dados obtidos por CG/EM previamente (Ortiz-Ramírez et al. 2008). Os resultados demonstram que a analise de imagens dos valores da cor azul (B) previamente estipulada como a mais apropriada, detectou diferenças populacionais da espécie D. menstrualis (teste t, p = 0,0001), em termos de absorbância, onde a maior absorbância corresponde à maior concentração da mistura de isômeros, respeitando a lei de Beer. No caso de D. ciliolata seus valores foram similares e o valor p igual a 0,0756 rejeita a hipótese que haja diferença significativa na produção quantitativa da mistura de isômeros nas diferentes populações (Tabela 4). Tabela 4. Valores do canal de cor azul (B) e absorbância calculada das populações de Dictyota ciliolata (A1 e A2) e de D. menstrualis (BZ e SPSP) com o seu respectivo valor p do teste t. A1 Dado da cor azul 163,0 ± 7,02 Absorbância Teste t (valor p) 0,18 ± 0,02 A2 BZ SPSP 166,1 ± 4,5 130,4 ± 9,4 94,6 ± 11,4 0,17 ± 0,02 0,28 ± 0,02 0,42 ± 0,05 0,0756 0,0001 Ao comparar os dados da mistura dos isômeros pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2) em termos de proporção, da porcentagem relativa pelo CG/EM e da absorbância pelo método de análises de imagens é possível ver que não existe discrepância e que os dois métodos mostram uma marcada diferença entre as duas populações (proporção BZ:SPSP pelo método CG/EM 1:1,8; proporção BZ:SPSP pelo método de análise de imagens do canal azul 1:1,5). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 26 Não foram encontrados estudos do uso da cromatografia em camada delgada para analises quantitativa ou semiquantitativa de misturas complexas, tais como extratos de algas. Alguns estudos fazem menção a diferenças populacionais dos componentes químicos de algas sendo observadas em placas CCD. No entanto, os resultados obtidos nesses estudos não permitiram o estabelecimento de conclusões quantitativas confiáveis (Freita 2006; De Oliveira 2006). No entanto, o uso de imagens digitais e analises por decomposição de cores vem ganhando reconhecimento na ultima década nas áreas industriais, médicas, nos processos de controle de qualidade, na educação e na detecção de contaminantes como metais pesados (Gomes et al. 2008; Soponar et al. 2008; Godinho et al. 2008). Suas principais vantagens são o baixo custo, a versatilidade e a rápida obtenção dos resultados. A CCD é uma técnica muito usada em estudos fitoquímicos e é aplicada como uma técnica rotineira para guiar processos de fracionamentos para o isolamento e a purificação de produtos naturais. No entanto, sua versatilidade vai além dos usos mencionados e pode ser considerada como uma ferramenta auxiliar para taxonomistas químicos, visto que a produção dos metabólitos secundários reflete uma condição própria da espécie, o que tem sido confirmado por vários estudos (Kelecom & Teixeira 1986; Kelecom 1988; Fleury et al. 1994; De-Paula et al. 2001; Barbosa et al. 2004; De-Paula et al. 2011). De-Paula (2000) no seu estudo sobre uma abordagem química, sistemática e biogeográfica da tribo Dictyoteae, apresenta um acervo importante de placas cromatográficas comparativas com diferentes espécies coletadas na costa brasileira. Nestas placas é possível observar que o uso de solventes de eluição Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 27 adequados, o gênero Canistrocarpus (De Paula et De Clerck) pode ser reconhecível. Um caso de polimorfismo apresentado neste trabalho demonstrou que espécimes largos e planos de C. cervicornis podem ser confundidos com um morfotipo de D. menstrualis de Búzios (RJ). Por outro lado, o perfil químico do extrato desses espécimes de D. menstrualis, revelado em CCD, auxiliou a elucidar sua verdadeira identidade taxonômica. O uso de placas cromatográficas (CDD) pode ser uma importante ferramenta de auxilio na identificação preliminar das espécies, em particular daquelas próximas morfologicamente. Durante o desenvolvimento do presente trabalho foi coletado na Ilha Grande indivíduos codificados como A6, espécimes de uma alga de pequeno porte e com características similares a D. friabilis Setchell (= D. pfaffii Schnetter ou D. humifusa Hörnig, Schnetter & Coppejans), mas o perfil químico dos extratos de A6 e de D. friabilis demonstrou muitas diferenças quanto aos componentes químicos majoritários (Figura 10). Figura 10. Comparação do extrato de Dictyota friabilis e do espécime A6 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 1 28 O resultado da placa CCD comparativa dos extratos de A6 (Dictyota sp.) e D. friabilis resultou ser o primeiro resultado sobre a identidade dessa espécie não identificada. Discussões taxonômicas mais detalhadas encontram-se no capitulo 3. 1.4. CONCLUSÃO Determina-se que a concentração do extrato bruto ideal para a obtenção das imagens das placas cromatográficas das espécies D.menstrualis e D. ciliolata foi de 300 µg de extrato, pois forneceram uma boa definição e resolução do padrão cromático. A análise de imagens digitais por decomposição do canal de cores RGB demonstra ser uma técnica importante para a quantificação dos diterpenos pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2). A cor primária azul demonstra ser a mais apropriada pelos seus valores de composição, que são mais sensíveis a diferentes concentrações, ajustando-se coerentemente aos princípios da lei de Beer. Os resultados não evidenciam discrepância quando comparados com aqueles obtidos pelas técnicas de CG/EM. Esta ferramenta é útil como uma técnica auxiliar no estabelecimento da identidade taxonômica de espécies com morfologias próximas. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 29 CAPÍTULO 2. ESTUDO QUIMIOTAXONÔMICO DAS ALGAS DA TRIBO DICTYOTEAE DA REGIÃO DE SANTA MARTA, MAR DO CARIBE, COLÔMBIA Resumo: Este capítulo apresenta a primeira abordagem quimiotaxonômica de algas marinhas da tribo Dictyoteae oriundos do sul caribenho. Foram analisadas 26 diferentes amostras de algas coletadas na baía de Santa Marta (Magdalena, Colômbia), pela técnica de CG/EM. A análise dos produtos naturais presentes nos extratos em acetato de etila obtidos de cada amostra permitiram agrupá-las em quatro grupos diferentes (A-D). No primeiro grupo (A), não foi possível identificar diterpenos como compostos majoritários. Nos grupos B e C foram encontrados diterpenos com padrão de fragmentação similar à dos guaianos prenilados. No grupo D foram identificados diterpenos do tipo dolastano e secodolastano. Baseados na proposta do uso dos diterpenos como marcadores taxonômicos da tribo Dictyoteae, os resultados sugerem que o grupo D corresponde a algas do gênero Canistrocarpus. Análises morfológicas posteriores confirmaram a identidade taxonômica dessas amostras como pertencentes à espécie C. cervicornis. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 30 2.1. INTRODUÇÃO O inventário mais recente das macroalgas bentônicas do Atlântico tropical e subtropical ocidental apresenta em torno de 1393 espécies (Wynne, 2011). Para a região do Mar do Caribe colombiano, incluindo as regiões oceânicas e costeiras, o inventario mais atual inclui 565 espécies de macroalgas, o que representa em torno dos 40% do total conhecido para o Atlântico tropical e subtropical ocidental, sugerindo uma alta diversidade específica de macroalgas para essa região. Se levarmos em consideração que a sua extensão constitui menos dos 5%, ou seja 1600 Km da linha costeira desde o litoral do estado da Carolina do norte (EUA) até o extremo sul do Brasil (Díaz-Pulido & Díaz-Ruíz, 2003). Nesta lista de espécies da região caribenha colombiana estão presentes 18 espécies da tribo Dictyoteae (Tabela 5). Tabela 5. Ocorrência de espécies da tribo Dictyoteae na região caribenha colombiana (segundo Díaz-Pulido &Díaz-Ruíz, 2003) Espécie da tribo Dictyoteae Canistrocarpus cervicornis (Kützing) De Paula et De Clerck Canistrocarpus cervicornis Kützing f. pseudohamata (Cribb) De Clerck & Coppejans Canistrocarpus crispatus Lamouroux Dictyota canaliculata De Clerck & Coppejans Dictyota caribaea Hörnig & Schnetter Dictyota bartayresiana J.V. Lamoroux Dictyota ciliolata Sonder ex Kützing Dictyota crenulata J. Agardh Dictyota crispata Lamouroux Dictyota guajirae Hörnig, Schnetter & J.M. Ove Dictyota guineensis (Kützing) P. Crouan & H. Crouan Dictyota hamifera Setchell Dictyota humifusa Hörnig, Schnetter & Coppejans in Hörnig et al. Dictyota menstrualis (Hoyt) Schnetter, Hörnig, & WeberPeukert Dictyota mertensii (Martius) Kützing Dictyota pfaffii Schnetter Dictyota pinnatifida Kützing Dictyota pulchella Hörnig & Schnetter Dictyota volubilis Kützing sensu Vickers Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 31 As macroalgas pardas marinhas da família Dictyotaceae, onde estão incluídas as espécies da tribo Dictyoteae é uma fonte rica em metabolitos secundários, em especial, diterpenos (Teixeira et al, 1991; Teixeira, 2002). Essas substâncias apresentam um valor imensurável na luta contra diferentes doenças que atingem a população humana, uma vez que alguns desses diterpenos mostraram comprovada atividade in vitro como: antiviral (HIV-1, HSV-1), antileshmaniose, anticoagulante, antiplaquetária, contra alguns dos efeitos do veneno de serpentes e atividade anticâncer dentre outros (Barbosa et al. 2004; Pereira. et al. 2004, 2005; Cierne-Santos et al. 2006, 2008; Soares et al. 2007; Abrantes et al. 2010; Vallim et al. 2010; Moura et al. 2010; Ayyad et al. 2011; Moura et al. 2011; Domingos et al. 2011; Moura et al. 2011; Santos et al. 2011). Por outro lado, os metabolitos secundários são produto de rotas metabólicas que refletem características próprias de cada espécie. Esse é um dos princípios básicos da taxonomia química. Seguindo esta linha de pensamento, os diterpenos têm sido propostos como marcadores taxonômicos da tribo Dictyoteae (Pathirana & Andersen 1984; Teixeira et al. 1985, 1986, 1990, 2001; Kelecom & Teixeira 1986; Teixeira & Kelecom 1988; Yamase et al. 1999; De-Paula et al. 2001; DePaula et al. 2007; De-Paula et al. 2008; Barbosa et al. 2003; Cavalcanti et al. 2006; Oliveira et al. 2008) e serviram como uma ferramenta útil para o estabelecimento da nova espécie Dictyota dolabellana na costa brasileira (DePaula et al. 2007). Outra abordagem importante é o uso de metabolitos secundários, no caso das algas da família Dictyotaceae, os diterpenos, como marcadores biogeográficos, o que pode auxiliar a compreensão da distribuição das espécies e na Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 32 caracterização das variações geográficas das populacionais pela sua produção diferenciada (Teixeira & Kelecom 1987; Teixeira et al. 1990; Vallim et al. 2005; Freitas et al. 2007; Oliveira et al. 2008; Ortiz-Ramírez et al. 2008; De-Paula et al. 2008, 2011; Vasconcelos et al. 2010). No entanto, apesar da região caribenha colombiana ser considerada uma de alta diversidade de macroalgas bentônicas e, portanto, com grande potencial do uso dos metabolitos secundários em diferentes áreas da Ciência, como a biotecnologia, a taxonomia e a biogeografia, existe pouca informação sobre os diterpenos das populações da tribo Dictyoteae desta região. Apenas dois trabalhos testaram extratos brutos de diferentes algas e, de acordo com os resultados obtidos, sugeriram que os componentes químicos de Dictyota pulchella apresentam atividade antimitótica (Díaz et al. 2006) e que D. bartayresiana e D. pulchella apresentam atividade antimicrobiana (Matínez et al. 2002). Buscando ampliar o conhecimento sobre os diterpenos presentes na tribo Dictyoteae das populações coletadas no Caribe colombiano o presente capitulo tem como objetivos: Identificar o perfil químico e os produtos majoritários das algas coletadas na região de Santa Marta Colômbia pela técnica de cromatografia gasosa acoplada a espectro de massas. Agrupar as espécies de algas, segundo a natureza de seus extratos através de seu perfil cromatográfico. Comparar o perfil químico das espécies com outras populações da região Atlântica tropical e subtropical ocidental. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 33 2.2. MATERIAL E MÉTODOS 2.2.1. Coleta do material algáceo Vinte e oito amostras de algas marinhas da tribo Dictyoteae foram coletadas na região caribenha de Santa Marta, Magdalena, Colômbia, em Pozos Colorados (11°09’53’’N, 74°13’50’’W, código C1), El Rodadero (11°13’00’’N, 74°13’00’’W, código C2) e Taganga (11°15’37’’N, 74°11’00’’W, código C3) (Figura 11). As coletas foram realizadas durante o mês de maio de 2008, a uma profundidade de 1-5 m, através de mergulho livre. As exsicatas de cada amostra foram depositadas no herbário do Museo de Historia Natural Marina de Colombia”, do “Instituto de Investigaciones Marinas y Costeras INVEMAR” (MHNMC 133-160 de 2008). Figura 11. Mapa da região de Santa Marta (Colômbia) indicando os locais de coleta das algas da tribo Dictyoteae C1: Pozos colorados, C2: El Rodadero e C3: Taganga. As algas coletas foram lavadas em água do mar no local de coleta, triadas em campo para a retirada de epibiontes, areia e fauna acompanhante. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 34 Posteriormente, as algas foram secas a temperatura ambiente, na sombra e, a seguir, mantidas sob refrigeração. 2.2.2. Preparação dos extratos O material seco e limpo de cada amostra de algas foi submetido à extração com Acetato de etila (AcOEt) durante 24 h, por três vezes consecutivas. Posteriormente, o solvente foi retirado, sob pressão reduzida, em evaporador rotativo. As massas de todas as amostras foram obtidas e mantidas sob refrigeração até o fracionamento. Com o objetivo de reduzir a quantidade de pigmentos para as análises em CG/EM de cada amostra de alga, cada extrato foi submetido à uma filtração em coluna com gel de sílica (60 Mesh) acrescido de uma camada de carvão ativado, depositado sobre a superfície da coluna (2 g de sílica gel e 30 mg de carvão ativado por cada 100 mg do extrato). A eluição foi realizada com hexano e AcOEt (1:1) e AcOEt 100%. A seguir, as frações foram reunidas, sendo os solventes retirados, sob pressão reduzida, em evaporador rotativo (Cavalcanti et al. 2008). 2.2.3. Identificação dos perfis químicos das amostras Uma alíquota de 10 µg de cada extrato limpo dissolvida em 1µL de acetato de etila foi injetada no cromatógrafo em fase gasosa Agilent Technologies® GC7890A acoplado ao espectro de massas MSD-5975C Agilent Tecnologies® com auto-injetor em modo de impacto de elétrons (70 eV) equipado com coluna HP-5MS (5% PhenylMethylSilox) de 60 m x 250 µm x 0,25 µm no modo Split 1:20 e empregando o hélio como gás de arraste grado 5,0 a um fluxo de 1 mL/min, Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 35 programado a uma temperatura inicial 100 °C aumentando 4 °C/min. até chegar aos 260 °C mantendo-se por 15 min, em seguida a uma taxa de 10 °C/min. a temperatura foi elevada aos 290 °C mantendo se por 15 min (tempo total 73 min). Foram obtidos os espectros de massas por impacto de elétrons para cada substancia susceptível de identificação. Adicionalmente, nas mesmas condições cromatográficas, uma mistura padrão de parafinas (C14-C26) foi injetada para calcular os índices de kovats (IK), os dados foram processados no programa MSD ChemStation E.01.00.237, os espectros de massas dos metabolitos susceptíveis de identificação foram comparados com os dados de literatura, assim como com a base de dados de espectros de massas de diterpenos da Dra. Diana Negrão Cavalcanti. Para os dolastanos e secodolastanos, as identidades dos diterpenos foram confirmadas pela análise de RMN 1H (300 MHz), de misturas ou de amostras semipuras, pela Dra. Valéria Laneuville Teixeira e pela comparação com os dados espectrais do catálogo desses diterpenos. Este estudo foi realizado em conjunto com o aluno Alonso Pardo Vargas em sua monografia final do curso de Química do grupo de pesquisa “Estudio y Aprovechamiento de Productos Naturales Marinos y Frutas de Colombia da Universidade Nacional de Colômbia, coordenado pelo Dr. Leonardo Castellanos através do projeto de convênio internacional Brasil-Colômbia ([490425/2010-0] CNPq), aprovado pelas entidades de fomento COLCIENCIAS (Colômbia) e CNPq (Brasil) no ano de 2011 entre o grupo colombiano e o nosso grupo de pesquisa. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 36 2.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Levando em consideração o mais recente inventario das macroalgas bentônicas do Caribe colombiano, até o ano 2003, 19 das 20 espécies do gênero Dictyota com registro para o Atlântico ocidental e subtropical, estão presentes no litoral caribenho colombiano (Diaz-Pulido & Díaz-Ruíz, 2003). Dentre essas, 19 espécies e segundo a distribuição local, na região litorânea do distrito de Santa Marta existia alta probabilidade de se coletar material de 18 espécies listadas na tabela (6). Tabela 6. Lista das prováveis espécies que podem ser coletadas na região do Distrito de Santa Marta, Caribe – Colômbia (Segundo Diaz-Pulido & Díaz-Ruíz 2003). Espécie Dictyota bartayresiana Dictyota canaliculata Dictyota caribea Distribuição no Mar do Caribe da Colômbia Tayrona, San Andres e Providencia Velha Tayrona San Andres e Providencia Velha Guajira, Tayrona, Magdalena, Morrosquillo, Ilhas de Dictyota cervicornis Rosario, Darien, San Andres e Providencia Velha Dictyota cervicornis f. Guajira, Tayrona, pseudohamata Dictyota ciliolata Guajira, Tayrona, Magdalena, Morrosquillo Guajira, Tayrona, Magdalena, Ilhas de Rosario Dictyota crenulata Guajira, Tayrona, Magdalena, Ilhas de Rosario, sem local Dictyota crispata Dictyota guajirae Guajira Dictyota guineensis Darien, San Andres e Providencia Velha Dictyota hamifera Tayrona, San Andres e Providencia Velha Dictyota humifusa Tayrona Dictyota menstrualis Guajira, Tayrona, Magdalena, Morrosquillo Ilhas de Rosario, Darien, San Andres e Providencia Velha Dictyota mertensii Ilhas de Rosario, Darien, San Andres e Providencia Velha Dictyota pfaffii Dictyota pinnatifida Guajira, Tayrona, Guajira, Tayrona, Magdalena, Ilhas de Rosario Dictyota pulchella Dictyota volubilis Tayrona Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 37 Após obter os cromatogramas de cada lote de algas uma inspeção preliminar permitiu definir três regiões características nos cromatogramas: A primeira encontra se dentre 0 e 2000 IK, a segunda desde 2000 até 2750 IK e a terceira região desde 2750 IK em diante. A primeira região (0 – 2000 IK) caracteriza se por apresentar as substâncias de menor polaridade onde os picos majoritários são atribuídos aos ácidos graxos e seus ésteres metílicos. A segunda região (2000 – 2750 IK) foi a que apresentou maiores variações dentre os espécimes e ofereceu um critério valido para classificar os lotes das algas, visto que esta região caracteriza se pela presencia dos diterpenos marcadores taxonômicos deste grupo de algas (Kelecom & Teixeira 1986; 1988; Fleury et al. 1994; De-Paula et al. 2001; Barbosa et al. 2004; De-Paula et al. 2011). Essas informações foram usadas na tentativa de identificar as espécies em quatro grupos taxonômicos (A – D). A terceira região (<2750 IK) caracteriza se pelas substancias de maior tempo de retenção e maior peso molecular onde predominam diferentes tipos de esteróis. As informações gerais de cada amostra e sua classificação nos grupos taxonômicos são apresentadas na Tabela 7 um exemplo do cromatograma típico de cada grupo pode ser observado na Figura 12. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 38 Tabela 7. Códigos dos Locais de coleta, Locais de coleta, códigos das amostras, massas secas das algas (em g), massas dos extratos em acetato de etila (em MG), rendimentos dos extratos das amostras (em %) e grupo segundo o perfil cromatográfico das amostras coletadas na região de Santa Marta, Colômbia. Local Nome do local Código Massa (g) Extrato (mg) Rendimento (%) Grupo segundo o perfil C1 Pozos colorados PC1 3,78 82,3 2,2 A C1 Pozos colorados PC2 4,18 201,7 4,8 A C2 El Rodadero R1 5,04 35,7 0,7 A C2 El Rodadero R2 5,03 115,0 2,3 C C2 El Rodadero R3 4,73 70,8 1,5 B C2 El Rodadero R4 5,02 240,8 4,8 C C2 El Rodadero R5 4,98 196,1 3,9 B C2 El Rodadero R6 5,25 52,7 1,0 B C2 El Rodadero R7 5,22 125,6 2,4 B C2 El Rodadero R’1 5,01 85,8 1,7 A C2 El Rodadero R’2 5,00 43,9 0,9 A C2 El Rodadero R’3 3,34 400,6 12,0 A C2 El Rodadero R’4 1,18 55,0 4,6 A C2 El Rodadero R’5 0,97 29,3 3,0 A C2 Taganga norte T1 5,02 59,9 1,2 D C2 Taganga norte T2 2,56 84,3 3,3 C C3 Taganga norte T3 5,03 291,9 5,8 A C3 Taganga norte T4 5,32 66,3 1,2 B C3 Taganga norte T5 4,67 135,3 2,9 D C3 Taganga sul T’1 5,65 181,2 3,2 D C3 Taganga sul T’2 4,35 148,3 3,4 B C3 Taganga sul T’3 7,87 440,0 5,6 D C3 Taganga sul T’4 2,77 83,9 3,0 D C3 Taganga sul T’5 2,54 35,1 1,4 B C3 Taganga sul T’6 2,34 36,5 1,6 C C3 Taganga sul T’7 1,33 51,4 3,9 D Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 39 Figura 12. Exemplos dos perfis cromatográficos dos extratos das amostras de algas pardas marinhas da tribo Dictyoteae coletadas no Mar do Caribe, segundo a classificação por grupos taxonômicos (A-D). A) Cromatograma da amostra da alga R1 pretencente ao grupo A. B) Cromatograma da amostra da alga R6 pretencente ao grupo B. C) Cromatograma da amostra da alga R2 pretencente ao grupo C. D) Cromatograma da amostra da alga T’3 pretencente ao grupo D. As linhas pontilhadas vermelhas delimitam os cromatogramas nas três regiões previamente definidas. No grupo A, foram reunidas as amostras que apresentaram apenas um componente ou não apresentaram componentes com espectro de massas atribuíveis aos apresentaram diterpenos. espectros de Os componentes massas majoritários característicos de deste ácidos grupo graxos monoinsaturados. O grupo B caracterizou-se por apresentar de cinco a nove componentes cujos espectros de massas revelaram fragmentações típicas dos diterpenos. Os seus padrões de fragmentação foram atribuíveis aos guaianos prenilados, onde se destacaram o pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2) (Cavalcanti 2004; Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 40 Cavalcanti et al. 2006; Freitas et al. 2007). Outra característica deste grupo é uma menor presença dos ácidos graxos monoinsaturados que a encontrada no grupo A. O grupo C é similar ao grupo B. No entanto, os espectros de massas apresentaram fragmentações típicas dos guaianos prenilados com menores quantidades e variedades. Alguns dos cromatogramas das amostras desse grupo revelaram picos de diterpenos minoritários, com fragmentações típicas dos diterpenos do tipo dolastano. O grupo D caracteriza-se por apresentar espectros de massas com fragmentações típicas dos diterpenos dos tipos dolastano e secodolastano (De Oliveira et al. 2008), assim como uma menor proporção dos ácidos graxos monoinsaturados em relação às amostras de algas dos grupos A, B e C. As substâncias presentes nos extratos das amostras de algas que foram identificadas pelos seus tempos de retenção, índice de Kovatz, espectros de massas e comparação com os dados de literatura com o catálogo do nosso grupo, são descritas a seguir. 2.3.1. Espectros de massas de substâncias identificadas A seguir, serão apresentadas as substâncias identificadas pela técnica de CG/EM por classe de produto natural (ácidos graxos e ésteres derivados, diterpenos e esteróis). A Tabela 8 apresenta os dados dos ácidos graxos identificados nas amostras de algas. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 41 Ácidos graxos Tabela 8. Nome dos ácidos graxos ou derivados, estruturas moleculares, tempo de retenção (em minutos) e respectivas fragmentações em Espectrometria de Massas por impacto de elétrons (70eV) (EM-IE) e intensidades relativas (%) dos picos. EM-IE m/z Nome das substâncias Ester metílico do ácido mirístico Ester metílico do ácido palmítico Ácido palmítico Estruturas Moleculares TR 18,75 (3) 23,79 (4) 24,59 (5) (intensidade relativa) 242 (14) [M]+, 185 (32), 129 (57), 97 (13), 83 (22), 73 (94), 60 (68), 43 (100). 270 (10) [M]+, 227 (12), 199 (5), 171 (7), 143 (18), 97 (7), 87 (70), 74 (100), 55 (21), 43 (25). 256 (24) [M]+, (21), 185 (16), (25), 129 (46), (20), 83 (26), (100), 60 (77), (74). 213 157 97 73 43 As Figuras 13, 14 e 15 apresentam os espectros de massas de cada ácido graxo identificado nas amostras das algas colombianas. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 42 Abundance S c a n 2 0 8 8 ( 1 8 . 7 5 7 m in ) : D T ' 3 . D \ d a t a . m s ( + ) 7 4 .0 26000 24000 22000 20000 18000 16000 14000 12000 10000 8000 4 3 .1 6000 1 4 3 .1 1 9 9 .1 4000 5 9 .0 2000 1 0 1 .0 2 4 2 .2 1 7 1 .0 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0 1 0 01 1 01 2 01 3 01 4 01 5 01 6 01 7 01 8 01 9 02 0 02 1 02 2 02 3 02 4 0 m / z --> Figura 13. Espectro de massas do éster metílico do ácido mirístico (3) (70eV) A b u n d a n c e S c a n 2 9 5 2 (2 3 .7 9 3 m in ) : D T '3 . D \ d a t a . m s 7 4 .0 4 5 0 0 0 4 0 0 0 0 3 5 0 0 0 3 0 0 0 0 2 5 0 0 0 2 0 0 0 0 1 5 0 0 0 4 3 .1 1 0 0 0 0 1 4 3 .1 2 2 7 .2 5 0 0 0 2 7 0 .1 9 7 .1 1 8 5 .1 1 1 5 .1 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 1 4 0 1 6 0 1 8 0 2 0 0 2 2 0 2 4 0 2 6 0 m / z --> Figura 14. Espectro de massas do éster metílico do ácido palmítico (4) (70 eV) Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 43 A b u n d a n c e S c a n 9 5 0 0 3 0 9 0 (2 4 .5 9 7 m in ) : D T '3 . D \ d a t a . m s 7 3 .0 9 0 0 0 8 5 0 0 8 0 0 0 7 5 0 0 7 0 0 0 4 3 .1 6 5 0 0 6 0 0 0 5 5 0 0 5 0 0 0 1 2 9 .1 4 5 0 0 4 0 0 0 3 5 0 0 3 0 0 0 2 5 0 0 2 5 6 .1 2 1 3 .1 9 7 .1 2 0 0 0 1 5 7 .1 1 5 0 0 1 8 5 .1 1 0 0 0 1 1 3 .0 5 0 0 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 1 4 0 1 6 0 1 8 0 2 0 0 2 2 0 2 4 0 2 6 0 m / z --> Figura 15. Espectro de massas do ácido palmítico (5) (70 eV) Diterpenos A seguir, serão apresentados os diterpenos identificados nas amostras das algas coletadas na Colômbia, pela técnica de CG/EM. A Tabela 9 apresenta os dados dos diterpenos identificados nas amostras de algas. As Figuras 16 – 23 apresentam os cromatogramas dos diterpenos que foram identificados nesse estudo através das técnicas de CG/EM ou CG/EM e RMN 1H. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 44 Tabela 9. Nome dos diterpenos identificados, tempo de retenção (em minutos), respectivas fragmentações em Espectrometria de Massas por impacto de elétrons (EMIE) e intensidades relativas (%) dos picos e principais sinais em RMN 1H. 1 6 R = OH 2 7 R = OAc 8 R = OH 11 10 9 R = Oac TR Pachydictyol A 31,31 288 (36) [M]+, 270 (12), 255 (27), 227 (7), 188 (26), 173 (18), 159 (100), 145 (33), 119 (86), 107 (74), 91 (52), 69 (93), 55 (63), 41 (94) - 31,30 288 (31) [M]+, 270 (12), 255 (25), 203 (25), 175 (15), 159 (82), 105 (54), 91 (70), 69 (97), 55 (73), 41 (100) - 35,40 302 (13) [M]+, 284 (30), 277 (20), 266 (13), 259 (78), 241 (100), 223 (37), 199 (39), 183 (30), 171 (29), 157 (25), 149 (40), 133 (43), 123 (60), 105 (52), 91 (65), 79 (42), 55 (42), 0,90 e 1,03 (d, Me-18 e 19), 0,69 (s, Me16), 1,47 (s, Me-20), 3,45 (H-4), 4,63 (dd, (intensidade relativa) (1) Isopachydictyol A (2) 4,9,14-triidroxi-1,9dolastano-1,7-dieno (6) EM-IE m/z Dados selecionados de RMN 1H Nome das substâncias Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 4-acetoxi-9,14diidroxi-1(15),9dolastano-1,7-dieno 43 (73) H-7), 4,78 e 4,87 (s, H-15) 35,85 344 (10) [M]+, 316 (10), 319 (23), 301 (38), 284 (12), 259 (23), 241 (95), 223 (38), 209 (10), 199 (57), 183 (20), 157 (30), 133 (40), 119(55), 105 (45), 91 (50), 79 (35), 67 (25), 55 (30), 43 (100) 0,83 e 1.03(d, Me-18 e 19), 0,89 (s, Me16), 1,24 (s, Me-20), 2,16 (s, Me), 4,82 e 4,93 (ls, H-15), 5.54 (dd, H-4) 31,98 302 (14) [M]+, 284 (82), 269 (25), 251 (25), 241 (52), 225 (37), 197 (29), 183 (24), 171 (24), 157 (30), 133 (90), 119 (67), 105 (80), 91 (100), 77 (48), 69 (30), 55 (57), 43 (95) 0,80 (s, Me16), 1,07 e 1,09 (Me-18 e 19), 1,40 (Me20), 3,87 (H-4), 4,77 e 4,91 (s, H-15), 5,45 (dd, H-7 e 5,57(s, H-10) 32,74 362(5) [M]+, 344 (10), 326 (15), 301 (5), 283 (8), 266 (18), 251 (20), 241 (9) 223 (25), 209 (10), 195 (10), 181 (12), 165 (8), 157 (15), 133 (30), 119 (27), 105 (27), 91 (30), 81 (20), 72 (75), 59 (100), 55 (50), 60 (43) 1,00 (s, Me16), 1,1 e 1,4 (d< Me-18 e 19), 2,20 (s), 4,90 (m, 3H), 5,65 (H-10) 35,67 362 (5) [M]+, 344 (10), 326 (12), 302 (6), 284 (16), 266 (25), 241 (46), 223 (40), 209 (15), 199 (20), 181 (15), 165 (20), 157 (25), 149 (45), 121 (50), 105 (50), 91 (55), 79 (30), 55 (30), 43 (100) 0.88 (s, Me16), 0.94 e 0.91 (d, Me-18 e 19), 1.47 (s, Me-20), 2.02 e 2.15 (s, 2Me), 4.86 e 4.91 (ls, H-15), 4.77 (bt,H-4) e 5.88 (dd, H-7) 34,74m 318 (5) [M]+, 300 (5), 285 (3), in 275 (7), 257 (7), 251 (14), 245 (7), 233 (12), 219 (55), 206 (7), 201 (13), 193 (50), 173 (30), 159 (57), 143 (30), 133 (33), 125 (48), 119 (30), 105 (30), 91 (31), 79 (25), 17 (46), 55 (45), 43 (100) 3.57 (t, H-4), 4.82 (ls, H15a), 4.97 (ls, H-15b), 0,66 (s, Me-16, 1.12 (d, Me-18 e 19) e 1.02 (s, Me-20) (7) 4,14-diidroxi-dolastano1(15),7,9-trieno (8) 4-acetoxi-14hidroxi-dolastano1(15),7,9-trieno (9) 4-7-diacetoxi-14hidroxi-1,9dolastano-1,9-dieno (10) isolinearol (11) 45 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 46 A b u n d a n c e S c a n 3 2 0 0 4 1 .1 4 2 4 0 ( 3 1 . 3 0 0 m in ) : D 1 5 9 .1 R 3 .D \ d a ta .m s 6 9 .1 3 0 0 0 1 1 9 .0 2 8 0 0 2 6 0 0 2 4 0 0 2 2 0 0 2 0 0 0 1 8 0 0 9 1 .0 1 6 0 0 1 7 7 .1 1 4 0 0 2 8 8 .1 1 2 0 0 1 0 0 0 2 0 3 .1 2 5 5 .1 8 0 0 6 0 0 4 0 0 1 3 7 .0 2 2 7 .0 2 0 0 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 1 4 0 1 6 0 1 8 0 2 0 0 2 2 0 2 4 0 2 6 0 2 8 0 m / z --> Figura 16. Espectro de massas do diterpeno do tipo guaiano prenilado pachydictyol A (1) (70 eV). A bundanc e S c a n 4 2 4 2 ( 3 1 . 3 1 2 m in ) : D N 3 . D \ d a t a . m s 4 1 .0 6 9 .0 2000 1 5 9 .1 1 1 9 .0 1800 1600 9 1 .0 1400 1200 1000 1 7 7 .0 800 2 8 8 .0 600 2 0 3 .1 400 2 5 5 .0 1 3 7 .0 200 0 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 m / z --> Figura 17. Espectro de massas do diterpeno do tipo guaiano prenilado isopachydictyol A (2) (70 eV). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 47 A b u n d a n c e S c a n 2 4 0 0 0 4 9 4 5 (3 5 .4 0 9 m in ) : D T '3 . D \ d a t a . m s 2 4 1 .1 2 2 0 0 0 2 0 0 0 0 1 8 0 0 0 4 3 .1 1 6 0 0 0 9 1 .1 1 4 0 0 0 1 2 3 .1 1 2 0 0 0 1 0 0 0 0 1 4 9 .1 1 9 9 .1 2 8 4 .1 8 0 0 0 6 7 .1 6 0 0 0 1 7 1 .1 4 0 0 0 2 6 0 .1 2 0 0 0 3 0 3 .1 2 2 1 .1 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 1 4 0 1 6 0 1 8 0 2 0 0 2 2 0 2 4 0 2 6 0 2 8 0 3 0 0 m / z --> Figura 18. Espectro de massas do diterpeno dolastano, o 4,9,14-triidroxi-1,9-dolastano1,9-dieno (6) (70 eV). Abundance S c a n 5 0 2 3 (3 5 . 8 6 4 m in ): D T '3 . D \ d a t a . m s 2 4 1 .1 7 0 0 0 0 4 3 .1 65000 60000 55000 50000 45000 1 9 9 .1 40000 1 1 9 .1 9 1 .1 35000 3 0 1 .1 30000 25000 1 5 7 .1 20000 6 7 .1 15000 2 6 6 .1 10000 3 4 4 .2 5000 0 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 m / z --> Figura 19. Espectro de massas do diterpeno dolastano, o 4-acetoxi-9,14-diidroxi-1,9dolastano-1,9-dieno (7) (70 eV). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 48 Abundance S c a n 4 3 5 5 (3 1 . 9 7 1 m in ): D T '3 . D \ d a t a . m s 9 1 .0 1 3 3 .1 4 3 .1 1600 1400 2 8 4 .1 1200 2 4 1 .1 1000 800 1 5 7 .0 6 9 .0 600 2 6 1 .1 1 9 9 .1 400 1 1 1 .0 1 7 9 .0 200 0 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 m / z --> Figura 20. Espectro de massas do diterpeno dolastano, o 4,14-diidroxi-dolastano1(15),7,9-trieno (8) (70 eV). Abundance S c a n 4 4 8 7 (3 2 . 7 4 0 m in ): D T '3 . D \ d a t a . m s 9000 5 9 .1 8000 7000 6000 5000 4000 9 1 .1 1 3 3 .1 3000 2 2 3 .1 2 5 1 .2 2000 1 5 7 .0 3 2 6 .2 1 9 5 .0 1000 2 8 3 .1 0 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 m / z --> Figura 21. Espectro de massas do diterpeno dolastano, o 4-acetoxi-14-hidroxi-dolastano1(15),7,9-trieno (9) (70 eV). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 49 A b u n d a n c e S c a n 4 9 9 1 (3 5 .6 7 8 m in ) : D T '3 . D \ d a t a . m s 4 3 .1 1 7 0 0 0 1 6 0 0 0 1 5 0 0 0 1 4 0 0 0 1 3 0 0 0 1 2 0 0 0 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 9 1 .1 1 3 3 .1 9 0 0 0 2 4 1 .1 8 0 0 0 7 0 0 0 6 0 0 0 5 0 0 0 2 6 6 .1 1 5 7 .1 4 0 0 0 1 9 9 .1 6 7 .0 3 0 1 .1 3 0 0 0 3 2 6 .2 2 0 0 0 1 0 0 0 3 6 2 .2 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 1 4 0 1 6 0 1 8 0 2 0 0 2 2 0 2 4 0 2 6 0 2 8 0 3 0 0 3 2 0 3 4 0 3 6 0 m / z --> Figura 22. Espectro de massas do diterpeno dolastano, o 4-7diacetoxi-14-hidroxidolastano-1,9-dieno (10) (70 eV). Abundance S c a n 4 8 3 1 (3 4 .7 4 5 m in ): D T '3 .D \ d a ta .m s 1 4 0 0 0 4 3 .1 12000 10000 1 5 9 .1 8000 1 2 5 .1 7 1 .1 2 1 9 .1 1 9 3 .1 6000 9 1 .1 4000 2 5 1 .1 2000 2 7 5 .1 3 1 8 .1 0 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 m / z --> Figura 23. Espectro de massas do diterpeno, o isolinearol (11) (70 eV). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 50 A b u n d a n c e S c a n 8 6 6 1 (5 7 .0 6 9 1 5 0 0 m in ) : D T '3 . D \ d a t a . m s 2 0 7 .0 1 4 0 0 1 3 0 0 1 2 0 0 4 4 .0 1 1 0 0 1 0 0 0 3 1 4 .2 9 0 0 8 0 0 2 8 1 .1 7 0 0 6 0 0 5 0 0 4 0 0 6 9 .0 1 0 5 .0 1 3 3 .0 2 2 9 .1 3 0 0 2 0 0 1 6 1 .1 1 0 0 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 1 4 0 1 6 0 1 8 0 2 0 0 2 2 0 2 4 0 2 6 0 2 8 0 3 0 0 m / z --> Figura 24. Espectro de massas do esterol típico das feofíceas, o fucosterol (12) (70 eV). 2.3.2. Dados morfológicos e químicos das algas da tribo Dictyoteae De Clerck et al. (2006), argumentam que, pelas analises de DNA (rbcL e 26S), a tribo Dictyoteae deve estar dividida em três gêneros: Dictyota Lamouroux, Canistrocarpus De Paula et De Clerck e Rugulopteryx De Clerck et Coppejans. Segundo De Paula (2007), em sua tese de doutoramento, argumentou que os resultados observados utilizando-se os diterpenos como marcadores taxonômicos Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 51 das algas da tribo Dictyoteae, são compatíveis com aqueles resultados filogenéticos que dividem a tribo em três gêneros. De acordo com várias propostas taxonômicas anteriores (e.g.Teixeira & Kelecom 1988, 1987), baseadas nos diterpenos como marcadores taxonômicos, as espécies dos antigos gêneros Dilophus J. Agardh, Glossophora J. Agardh e Pachydictyon J. Agardh foram finalmente incorporadas ao gênero Dictyota. As algas da espécie Dictyota cervicornis Kűtzing, considerada como um grupo diferenciado entre as demais espécies, por produzir diterpenos dos tipos dolastanos e secodolastanos, foi reconhecida como parte do gênero novo Canistrocarpus, enquanto as algas produtoras de spatanos e secospatanos foram reconhecidas como representantes do novo gênero Rugulopteryx (Teixeira & Kelecom 1988). Baseados nestas observações, nossos resultados sugerem a classificação das algas dos agrupamentos A-D conforme descrito a seguir. Pelos resultados obtidos das amostras das algas caribenhas da Colômbia, para o agrupamento A não foi possível reconhecer claramente padrões de típicos de diterpenos, sendo caracterizado apenas pelos ácidos graxos e esteróis. Nos extratos alocados nos grupos B e C, foram reconhecidos diterpenos do tipo guaiano prenilado, especificamente o pachydictyol A (1) e isopachydictyol A (2). Este fato sugere que as algas pertencem ao gênero Dictyota, com produção de diterpenos do grupo I (guaianos prenilados), podendo ou não ter diterpenos do grupo III (xenianos), como D. menstrualis, D. ciliolata, D. mertensii, entre outras. É importante ressaltar que alguns dos indivíduos do grupo C mostraram espectros de massas com fragmentações típicas dos diterpenos do grupo IIb (dolastanos). Isto pode ser devido a mistura de indivíduos na hora da coleta, pois a ocorrência Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 52 de diterpenos do tipo guaiano prenilado (grupo I) e dolastanos (grupo IIb) num mesmo individuo, do ponto de vista quimiotaxônomico, deve ser visto com ressalvas e ser melhor investigada. O grupo dos indivíduos D apresentou diterpenos exclusivamente do tipo dolastanos e secodolastanos. Esta informação sugere que estes indivíduos pertencem ao gênero Canistrocarpus, táxon composto pelas espécies C. cervicornis, C. crispatus e C. magneana (De Clerck et al. 2006; De Paula 2007). A confecção de uma placa cromatográfica comparativa CCD das amostras do grupo D com as de C. cervicornis, D. menstrualis e D. ciliolata da costa brasileira foi possível ver as semelhanças deste grupo com o padrão cromático de C. cervicornis (Figura 25). Figura 25. Placa CCD comparativa dos extratos do grupo D (T’3, T’4, T’7, T1, T’1 e T5) com CC (C. cervicornis), DM (D. menstrualis) e DC (D. ciliolata) eluida em CH2Cl2 : AcOEt (8:2) e revelada com sulfato cérico a 2% em ácido sulfúrico. As linhas vermelhas mostram o padrão típico de revelação dos diterpenos dolastanos e secodolastanos. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 53 Os diterpenos identificados neste estudo são característicos das espécies Canistrocarpus, Quimicamente não tem sido possível separar as espécies desse gênero, o que sugere uma linhagem evolutiva muito próxima entre elas (Teixeira et al. 1986; De-Paula et al. 2001; 2007; Oliveira et al. 2008). Morfologicamente um dos principais caracteres para o gênero Canistrocarpus é a coroa de células corticais circundando os esporângios, essa característica faz referencia ao nome do gênero que vem das palavras gregas “canistros” que significa cesta e “carpus” que significa fruto ou semente (De Clerck et al. 2006) o material estudado do grupo D do Caribe colombiano mostrou concordância com essa característica (Figura 26C). Além disso, os indivíduos do grupo D foram identificados como C. cervicornis, por possuírem um ângulo maior entre as dicotomias subapicais e esporângios ausentes na região apical sem formação de linhas transversais, características diferenciais entre C. cervicornis e C. crispatus (De Clerck & Coppejans (1997). As plantas estudadas concordam com a descrição de De Paula (2007), que aponta que para algumas populações da costa brasileira, podemos encontrar ápices agudos nestes indivíduos, característica que é mais relacionada à C. crispatus (Figura 26A,B). Por outro lado, a coroa de células corticais circundando o esporângio das algas estudadas difere daquelas ilustrações apresentadas por De Paula (2007). Nas populações de C. cervicornis da costa brasileira, a coroa de células corticais é bem notória, podendo chegar quase até a região mediana do esporângio. No entanto, os indivíduos coletados na região do Caribe colombiano esta estrutura apresenta-se num nível mais basal do esporângio. Essa característica pode ser apontada como uma variação morfológica entre essas amostras (Figura 26C). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 54 Figura 26. Canistrocarpus cervicornis: Aspecto geral, distribuição e detalhe dos esporângios. A) Detalhe da distribuição dos esporângios solitários ou em pequenos grupos. B) Aspecto geral da alga coletada na Enseada de Taganga, (Santa Marta, Colômbia), C) detalhe dos esporângios circundados por uma coroa de células corticais (seta) e uma célula no pedicelo. A quantificação dos diterpenos de C. cervicornis (Enseada de Taganga) foi realizada pela ferramenta de auto-integração como os valores de programação originais do programa MSD ChemStation E.01.00.237, no qual são computados os picos do cromatograma que apresentem no mínimo, 5% da área do maior pico. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 55 Os resultados da Tabela 10 revelam que os indivíduos coletados na Enseada de Taganga (Caribe colombiano) mantêm como padrão preferencial, a produção do dolastano 4-acetoxi-9,14-diidroxi-1,9-dolastadieno (7), como componente majoritário em todos os casos, variando de 10,78 a 43,90% do total de diterpenos, o que é típico dessa espécie (Teixeira et al. 1986). O segundo diterpeno mais abundante, em todos os indivíduos, exceto T’4 e T’7, foi o 4,9,14-triidroxidolastano-1,9-dieno (6). Em T’4 e T’7, o segundo diterpeno majoritário foi o Isolinearol (11). Para todas os amostras, o diterpeno minoritário foi o 4,14-diidroxidolastano-1(15),7,9-trieno (8) (Figura 27). Tabela 10. Produção quantitativa dos diterpenos dos indivíduos da espécie Canistrocarpus cervicornis coletados na enseada de Taganga, Caribe colombiano (em porcentagem relativa). Indivíduo T’4 Diterpenoa T’7 T1 T5 T’1 T’3 Porcentagem relativa (%) (6) 3,08 7,75 5,04 3,24 13,04 12,71 (7) 17,49 43,90 10,78 10,83 37,65 34,86 (8) tr tr 2,32 tr 1,96 tr (9) 4,93 2,16 2,14 tr 2,21 3,83 (10) 3,79 6,36 2,41 2,00 8,45 8,43 (11) 5,65 9,46 1,89 tr 7,05 6,81 a Códigos dos diterpenos segundo são referenciados no texto: 4,9,14-triidroxidolastano-1,9-dieno (6), 4-acetoxi-9,14-diidroxi-dolastano-1,9-dieno (7), 4,14diidroxi-dolastano-1,7,9-trieno (8), 4-acetoxi-14-diidroxi-dolastano-1,7,9-trieno (9), 4,7-diacetoxi-14-hidroxi-dolastano-1,9-dieno (10) e isolinearol (11). tr = traços ou quantidade traço Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 56 Figura 27. Análise quantitativa dos diterpenos dos tipos dolastano e secodolastano detectados no extrato bruto de C. cervicornis, coletados na Enseada de Taganga, no Mar do Caribe colombiano. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 57 O estudo dos produtos naturais das espécies produtoras de dolastanos no Atlântico tropical e subtropical teve inicio da década dos anos 80, em Honduras (Crews et al. 1982), onde sete dolastanos foram identificados em amostras identificadas como D. divaricata e D. linearis. No entanto, estudos de taxonomia química apontam a identidade desse material com D. cervicornis (Teixeira et al. 1986; Teixeira & Kelecom 1987, 1988; De-Paula et al. 2001; Vallim et al. 2005; De-Paula et al. 2007). As populações mais estudadas de C. cervicornis, no âmbito dos produtos naturais, no Atlântico tropical e subtropical são as do litoral brasileiro, onde é mencionada a ocorrência de 13 dolastanos e quatro secodolastanos (Teixeira et al. 1986a; Teixeira et al. 1986b; Kelecom & Teixeira 1988). Bianco (2008), em sua tese de doutoramento, apresenta a ocorrência de quatro novas substâncias para esta espécie e alguns compostos inéditos. Outros estudos recentes confirmam esta espécie como produtora de dolastanos e secodolastanos (De-Paula et al. 2001; Oliveira et al. 2008). Por outro lado são poucos os estudos que mencionam características quantitativas destes diterpenos, Bianco (2008) aponta que os diterpenos majoritários encontrados na população da Baía da Ribeira (Angra dos Reis, RJ) foram o 4-acetoxi-9,14-diidroxi-dolastano-1,9-dieno (7) e o 4-7diacetoxi-14-hidroxidolastano-1,9-dieno (10). Populações da Bahia e Ilha Grande (Rio de Janeiro) apresentam em comum o diterpeno dolastano majoritário 4,7-diacetoxi-14hidroxi-dolastano-1(15),8-dieno (não detectado no presente estudo), e a composição dos outros diterpenos majoritários parece manter um padrão similar (Oliveira et al. 2008). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 58 No presente estudo, os resultados revelaram que as algas C. cervicornis do Caribe colombiano apresentaram o diterpeno dolastano 4-acetoxi-9,14-diidroxidolastano-1,9-dieno (7), embora o padrão geral dos diterpenos seja semelhante às populações brasileiras. Estes resultados confirmam a importância dos diterpenos como marcadores biogeográficos. Finalmente, este estudo é o primeiro sobre os diterpenos de C. cervicornis na região do Caribe colombiano e abre o cenário para encorajar os pesquisadores locais e entidades governamentais em fomentar pesquisas nessa área do conhecimento, tendo em vista os seus diferentes potenciais biotecnológicos (Bianco et al. 2008; Domingos et al. 2009; Garcia et al. 2009; Vallim et al. 2010; Moura et al. 2010; Domingos et al. 2011; De-Paula et al. 2011; Moura et al. 2011; Santos et al. 2011). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 2 59 2.4. CONCLUSÃO Das vinte e oito amostras de algas da tribo Dictyoteae do Caribe colombiano vinte e seis foram agrupados em quatro grupos (A-D), segundo o seu perfil químico de diterpenos. As análises de espectrometria de massas em cromatografia em fase gasosa (CG/EM) e ressonância magnética nuclear de hidrogênio (RMN 1H) permitiram identificar oito diterpenos, dois do tipo guaiano prenilado, cinco dolastanos e um secodolastano. Os indivíduos do grupo D apresentam maiores informações químicas e revelam serem produtores exclusivos dos diterpenos dolastanos e secodolastanos. Pela taxonomia química estes indivíduos são agrupados como espécies do gênero Cansitrocarpus e as análises morfológicas confirmam que a identidade taxonômica destes indivíduos é de Canistrocarpus cervicornis, apesar da coroa de células corticais dos esporângios diferir em formato e tamanho daquelas presentes nas populações brasileiras. A comparação do padrão quantitativo de C. cervicornis do Caribe colombiano é semelhante às populações do litoral brasileiro, embora tenha como diterpeno majoritário o diterpeno dolastano, o 4-acetoxi-9,14-diidroxi-1,9- dolastano-1,9dieno (7). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 60 CAPÍTULO 3. UMA NOVA ESPÉCIE DO GENÊRO DICTYOTA LAMOUROUX (DICTYOTACEAE, PHAEOPHYCEAE) BASEADA EM ASPECTOS MORFOLÓGICOS E QUÍMICOS. Resumo: Dictyota sp. nov. Ortiz-Ramírez, De Paula et Cavalcanti é uma nova espécie da família Dictyotaceae do Oceano Atlântico tropical ocidental, organismo de hábito parcialmente decumbente produtor de diterpenos tricíclicos derivados dos dolabellanos, que representam cerca de 50% do extrato hexânico. Por outro lado, Dictyota sp. nov. difere de outras espécies de Dictyota de pequeno porte, por não formar tapetes imbricados, possuir o talo mais estreito, células menores e mais estreitas e pela disposição dos esporângios. Os dados morfológicos e químicos junto com a comparação de informações de espécies mais relacionadas na literatura levaram à proposta de uma nova espécie. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 61 3.1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos têm surgido grandes mudanças nos métodos de classificação taxonômica e no tratamento de diferentes táxons (Wynne 2011), e a família Dictyotaceae, uma das mais importantes dentre as algas pardas, não está alheia a estas mudanças. A família Dictyotaceae é composta pelas tribos Dictyoteae e Zonarieae, caracterizadas pelo crescimento do talo por uma ou varias células apicais, respectivamente (De Clerck et al. 2001, 2006; De-Paula et al. 2007). Nos últimos anos, uma nova proposta, baseada em características morfológicas e agrupamentos filogeneticamente compatíveis ou afins, circunscrevem três únicos gêneros para a tribo Dictyoteae, os gêneros Dictyota Lamouroux, Canistrocarpus De Paula et De Clerck e Rugulopteryx De Clarck et Coppejans (De Clerck et al. 2006). Para o gênero Dictyota 316 espécies são citadas na literatura, mas somente 76 têm sido reconhecidas como espécies taxonomicamente válidas (Guiry & Guiry 2012). São desafios para o estabelecimento dos limites de separação das espécies de Dictyota, a presença de alto pleomorfismo, além da dificuldade na observação, na avaliação e na interpretação dos caracteres diagnósticos (Teixeira & Kelecom 1987, 1988), e podem levar a identificações diferenciadas, com vários casos de coespecificidade (Bula-Meyer 1994; Solé & Foldats 2003; Wysor & De Clerck 2003). Cenários deste tipo tornam necessário o uso de outras ferramentas auxiliares além das analises morfológicas, para estabelecer taxonômicos entre as espécies. os limites Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 62 Neste contexto, os metabolitos secundários, especialmente os diterpenos, majoritários das algas da tribo Dictyoteae, têm mostrado ser uma ferramenta útil que auxilia na elucidação dos limites taxonômicos das espécies. Desse modo, os resultados obtidos em estudos de taxonomia química corroboram, em muitos pontos, a proposta de De Clerck et al. (2006) sobre a existência de três únicos gêneros para a tribo Dictyoteae (De Paula 2007). Nesse contexto, o gênero Dictyota caracteriza-se pela produção de diterpenos dos grupos I (derivados do germacrano prenilado), IIA (derivados dos dolabellanos) e III (derivados do xeniano), como principais metabolitos secundários (De Paula 2000, 2007; Teixeira 2002, 2010; Vallim et al. 2005). Em relacao ao uso dos diterpenos como ferramenta para elucidar os limites das espécies desse grupo, um estudo quimiotaxonômico de 1990, avaliou os diterpenos isolados de D. dichotoma (Hudson) J.V. Lamouroux de diferentes populações ao redor do mundo, questionou o status cosmopolita desta espécie, sugerindo que D. dichotoma era, na verdade, um complexo de espécies (Teixeira et al. 1990). Um posterior estudo taxonômico com algas coletadas na costa fluminense sugeriu que D. pardalis Kűtzing deveria ser considerado um sinônimo de Canistrocarpus cervicornis, baseado na similaridade química entre as duas espécies (De-Paula et al. 2001). O uso de diterpenos como marcadores taxonômicos auxiliaram no estabelecimento de uma nova espécie, Dictyota dolabellana De Paula, Yoneshigue-Valentin et Teixeira, produtora de diterpenos derivados do dolabellano (grupo IIA), sendo a primeira espécie com margem denticulada do Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 63 talo produtora de diterpenos do tipo dolabellano, característica que deu nome à espécie (De-Paula et al. 2007). O capitulo 3 propõe o estabelecimento de uma nova espécie do gênero Dictyota para a costa fluminense, baseado em informações morfológicas e químicas. Para essa proposta, o presente capítulo tem como objetivos: Descrever a morfologia externa e interna dos espécimes coletados, comparando-os com as demais espécies do gênero. Definir o perfil químico dessa alga, através do estabelecimento do grupo químico (I, II ou III) dos diterpenos produzidos por essa espécie. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 64 3.2. MATERIAL E MÉTODOS 3.2.1. Coleta do material ficológico O material analisado neste capitulo foi coletado na praia Vermelha da Ilha Grande, Angra dos Reis – RJ (23°09’32’’S - 44°21’08’’W) no mês de outubro de 2008 a uma profundidade aproximada de 3 a 8 m mediante mergulho livre e autônomo (SCUBA) (Figura 28). O material foi triado ainda em campo e posteriormente no laboratório separando as espécies e retirando os organismos epífitos. Uma parte do material foi conservada em formaldeído 4% para analise morfológica o restante do material foi destinado para o estudo químico e seco em temperatura ambiente no laboratório. Figura 28. Mapa do local de coleta, o ponto amarelo indica o local aproximado (modificado de www.mapasdigitais.uerj.br). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 65 3.2.2. Descrição morfológica São descritas as características externas, como o tipo de ramificação do talo, a estrutura de fixação da alga ao substrato, a coloração do talo no meio ambiente, a presença ou não de iridescência do talo, a coloração da alga após secagem, o tipo de margem do talo, a forma do ápice, a presença de proliferações e a disposição dos esporângios e etc. Aspectos da morfologia interna foram registrados com o auxílio de um microscópio estereoscópico binocular Olympus® CX 31. A morfometria das células foi realizada com o auxílio de cortes transversais a mão livre na região basal, mediana e apical do talo e com o auxílio de uma lâmina de aço, obtendo-se cortes das diferentes regiões. Foram obtidas as medidas de altura e de largura das células corticais e medulares, com 10 repetições para cada medida. Alguns cortes foram corados com azul de anilina. As laminas contendo os cortes foram fixadas através do uso do meio Entellan Merck® e observadas em microscópio ótico, para permitir uma descrição detalhada dos esporângios. As características mais relevantes foram registradas através do uso de câmera fotográfica digital. 3.2.3. Análise química 3.2.3.1. Preparação e obtenção dos extratos O material seco (9,9 g) foi submetido à extração seqüencial e exaustiva com os solvente orgânicos n-hexano (Hex) e acetato de etila (AcOEt) por três semanas cada solvente, sendo renovado a cada semana. A seguir, o solvente foi retirado, sob pressão reduzida, em evaporador rotativo para obtenção dos extratos brutos. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 66 Foram obtidas as massas dos extratos hexânico e em acetato de etila, que foram mantidos sob refrigeração. Foram obtidos 688 mg do extrato hexânico e 119 mg do extrato em AcOEt, com um rendimento do 6,9% e 1,2%, respectivamente. Ambos os extratos são oleosos e coloração verde oliva. 3.2.3.2. Obtenção do perfil químico em cromatografia em fase gasosa Uma alíquota (2 mg) de cada extrato foi diluída em acetato de etila (AcOEt) e 1 μL da solução foi injetada em cromatógrafo em fase gasosa Hewlett Packard HP 5973, acoplado a espectrômetro de massas (CG/EM), em modo de impacto de elétrons (70 eV), programado a uma temperatura inicial de 160 ºC aumentando 4 ºC/min até chegar aos 260 ºC, em seguida a temperatura foi elevada até 290 ºC a uma taxa de 10 ºC/min e mantido por 10 min. Foram obtidos os espectros de massas por impacto de elétrons para as substancias de interesse presente no extrato. O perfil químico quantitativo foi realizado pela ferramenta de autointegração como os valores de programação originais do programa MSD ChemStation E.01.00.237 no qual são computados os picos do cromatograma que apresentem no mínimo 5% da área do maior pico. 3.2.3.3. Obtenção do perfil químico por cromatografia em camada delgada (CCD) Pequenas alíquotas de soluções em CH2Cl2 dos extratos hexânico e em acetato de etila foram aplicadas sobre placas de 2,5 cm x 10 cm, de gel de sílica 60 F254 Merck®, com o auxilio de um capilar de vidro, utilizando uma mistura de hexano: acetato de etila (7:3) como eluente. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 67 A revelação das bandas cromatográficas foi realizada através do seu borrifamento com solução de sulfato cérico (CeSO 4), a 2% em ácido sulfúrico (H2SO4), seguido de aquecimento em placa aquecedora. 3.2.3.4. Obtenção dos diterpenos majoritários Os diterpenos majoritários foram isolados e purificados a partir do extrato hexânico, através de técnicas convencionais de cromatografia em coluna em gel de sílica, utilizando solventes ou mistura de solventes de grau PA (Para Análise) de diferentes polaridades. O extrato hexânico foi selecionado para fracionamento por possuir maior massa e apresentar duas bandas cromatográficas com produtos majoritários. As análises por cromatografia em camada delgada (CCD) foram realizadas conforme descrição no item anterior. Uma alíquota (8-10 mg) do extrato, de frações enriquecidas e dos diterpenos purificados foram dissolvidos em CDCl3 para obtenção dos espectros de Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio (RMN 1H), em aparelho VarianUnity Plus, na frequência de 300,00 ou 500,00 MHz, sendo usado o tetrametilsilano (TMS) como referência interna. Para a elucidação dos diterpenos foram obtidos os espectros mono e bidimensionais de RMN 13 C, COSY, ATP, HMQC, HSQC, além dos espectros de UV, IV e dados de rotação ótica (αD). Os espectros de RMN foram realizados pelo Laboratório Multiusuário de RMN da UFF (http://www.uff.br/laremn/). Os espectros de UV, IV e αD foram realizados no IQ/UFF. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 68 A elucidação estrutural dos diterpenos está sendo realizada pelas Profas Valéria Laneuville Teixeira e Diana Negrão Cavalcanti. 3.2.3.4.1. Isolamento dos diterpenos majoritários Foi realizada com 650 mg de extrato hexânico, uma partição rápida tipo flash em coluna (Ø 2,5 cm, altura de 20 cm) em gel de sílica 60 (0,015 – 0,045 mm), isocrática, usando como fase móvel a mistura CH2Cl2: AcOEt (9:1). Foram obtidas 31 frações (F1 a F31), de volume variável, que foram analisadas por CCD. As frações semelhantes em CCD e pelos espectros de RMN 1H, foram reunidas, mantidas sob pressão reduzida até a retirada total dos solventes, e posteriormente submetida a um contínuo processo de fracionamento até a separação dos produtos puros. A partir do fracionamento das 31 frações obtidas do extrato hexânico foram isolados dois diterpenos, denominados DvD (13) e DvM (14). Purificação do diterpeno DvD (13): foram reunidas as frações F12-F15 do primeiro fracionamento. Essas frações apresentaram uma serie de bandas cromatográficas em CCD, de cor púrpura escura, após revelação, com massa de 119mg. Esse material foi submetido a novo fracionamento em coluna (Ø 1,5 cm e altura de 20 cm), em gel sílica (0,015 – 0,040 mm), usando como fase móvel CH2Cl2, com acréscimos graduais de AcOEt, obtendo-se 29 frações (F1-F29). Foram reunidas as frações F15-F24 (51 mg), que foi submetida a novo fracionamento em coluna (Ø 1 cm e altura de 15 cm), em gel de sílica (0,015 – 0,040 mm), isocrática, sendo a fase móvel CH2Cl2:AcOEt (9:1) obtendo-se 20 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 69 frações, das quais as F6-F11, continham o diterpeno DvD como um cristal amorfo incolor (20 mg). A Figura 29 apresenta um esquema dos procedimentos de isolamento do DvD. Purificação do diterpeno DvM (14): Foram reunidas as frações F21-F29 do primeiro fracionamento do extrato hexânico. Essa frações reunidas (121 mg), foram submetidas a um novo fracionamento em coluna (Ø 1,5 cm e altura de 15 cm) com gel de sílica (0,015 – 0,040 mm), isocrática, usando como fase móvel CH2Cl2:AcOEt (9:1), obtendo se 20 frações (F1-F20), das quais F13-F17 continham o diterpeno DVM (42 mg) (Figura 29). 3.2.3.5. Transformação (redução) do produto DvM (15) A partir do diterpeno DvM foi realizada uma reação de redução do grupamento acetato (-OAc) a álcool (-OH). Para essa transformação foi escolhido o método de hidrólise alcalina. Foi utilizada uma massa de 35 mg do diterpeno DvM, que foi dissolvida em 3 mL de uma solução metanólica saturada de carbonato de potássio (K2CO3), a temperatura ambiente, por 24h, sob agitação constante. Após 24 horas foram acrescentados à mistura, 12 mL de água destilada, sendo a solução transferida para um funil de separação. O produto reduzido pela transformação lavado e extraído em AcOEt (4 x 6 mL). As frações foram reunidas e tratadas com sulfato de magnésio anidro, para a retirada da água. Após filtração, o solvente foi evaporado sob pressão reduzida. Os sólidos foram recristalizados em CH2Cl2, obtendo-se 30 mg de um cristal amorfo incolor. Para o produto resultante da reação de hidrolise, sob registro de Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 70 DvH foram realizadas as mesmas técnicas de elucidação estrutural e descritas no item 3.2.3.4. 650 mg EBH 1° Fracionamento 31 frações Frações 12-15 (119 mg) 2° Fracionamento 29 frações CH2Cl2 AcOEt Frações 15-24 (51 mg) 3° Fracionamento DCM:AcOEt 9:1 Frações 21-29 (121 mg) CH2Cl2:AcOEt 9:1 2° Fracionamento 20 frações Frações 13-17 Diterpeno DvM (14) (42 mg) CH2Cl2:AcOEt 9:1 20 frações Frações 6-11 Diterpeno DvD (13) (20 mg) Reação de hidrolise 24h Alíquota 35mg Diterpeno DvH (15) (30 mg) Figura 29. Esquema de fracionamento para a obtenção dos diterpenos DvD (13), DvM (14) e DvH (15). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 71 3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Seis amostras contendo diferentes morfotipos de algas do gênero Dictyota foram coletadas nas cercanias da Praia Vermelha, na Ilha Grande, em Angra dos Reis, RJ. Cinco amostras revelaram-se idênticas dos pontos de vista químico e morfológico. Essas amostras foram identificadas como D. ciliolata. A sexta amostra correspondeu à proposta de uma nova espécie. Sua identidade taxonômica foi baseada na morfologia e na química dos diterpenos, que são inéditos para as algas do grupo Dictyota. 3.3.1. Descrição taxonômica 3.3.1.1. Dictyota sp. nov. Ortiz-Ramírez, De Paula et Cavalcanti sp. nov. Plantas pequenas com iridescência azul-esverdeada quando imersas e de cor verde-oliva quando secas, medindo até 4 cm de altura, de hábito decumbente, com poucos pontos de fixação ao substrato. Talo com proliferações marginais raras ou ausentes, com ramificações a princípio alternas, sendo dicotômicas próximas ao ápice (Figura 30a). Apresenta ramificação dicotômica anisotômica. Pode haver anastomose entre os ramos. Os ramos da base têm largura de 1 mm, os da porção mediana, de 2 a 3 mm no meio, e os do ápice, de 1 a 2 mm. Os ápices dos ramos dicotômicos são agudos ou arredondados (Figura 30b). As células medulares formam uma camada com 25 a 42,5 µm de altura e 25 a 47,5 µm de largura. As células corticais formam uma camada com 7,5 a 17,5 µm de altura e 12,5 a 27,5 µm de largura (Figura 30c). Os esporângios encontram-se espalhados da superfície ao meio do talo, isolados ou em pequenos grupos, Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 72 espalhados preferencialmente pela superfície livres, ausentes ou raros na superfície voltada para o substrato, com 60 a 90 µm de diâmetro, apresentando uma única célula peduncular (Figura 30d, 30e, 30f). Figura 30. Holotipo de Dictyota sp. nov., Ilha Grande, Angra dos Reis-RJ. a) aspecto geral do individuo; b) detalhe dos ápices agudos e arredondados; c) corte transversal da região mediana do talo mostrando a disposição em uma camada das células medulares; d) vista superficial de um pequeno grupo de esporângios; e-f) corte transversal dos esporângios exibindo uma única célula peduncular. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 73 3.3.1.2. Diagnose “Planta ut 4 cm longa, prostratus habitus, ramificatio alterna et dichotoma, margine laevigato, apicibus rotundatis et acuti, cortex et medulla cellulis uno strato dispositis pro parte maxima, prolificationes superficiales absunt, esporangia solitaria vel aggregata, cellula basali singulari”. Etimologia: o epíteto específico será uma homenagem dos autores à Profa Valéria Laneuville Teixeira, pesquisadora que, desde a década dos anos 1980, tem contribuído para o conhecimento dos produtos naturais de algas marinhas da tribo Dictyoteae e na formação de recursos humanos. Habitat: substrato rochoso a uma profundidade média de 5 m em águas de baías protegidas, de modo calmo. Distribuição geográfica: Dictyota sp. nov. é conhecida até a presente data na localidade-tipo, na Praia Vermelha, Ilha Grande, Município de Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro, Brasil (23°09’32’’S - 44°21’08’’W). As espécies do gênero Dictyota tem sido objeto de diversas controvérsias na identidade taxonômica, em especial, as algas de pequeno porte. No presente estudo foram analisadas e confrontadas as argumentações de diferentes ficólogos quanto à identidade taxonômica das espécies mais próximas a Dictyota sp. nov. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 74 Dictyota sp. nov. assemelha-se a outras espécies de Dictyota de pequeno porte. Diferencia-se de D. bartayresiana por ser menor mais estreita e por ter habito decumbente. Dictyota canaliculata De Clerck & Coppejans é um alga de mediano porte, descrita originalmente para águas do Pacífico (De Clerck & Coppejans 1997). Sua distribuição foi ampliada para o Atlântico tropical ocidental, com o registro de sua ocorrência no Mar do Caribe da Venezuela (Solé et al. 1999). O aspecto geral de D. canaliculata é similar a D. sp. nov., em especial pela sua morfologia de habito parcialmente decumbente e assemelha-se aos indivíduos de pequeno porte descritos para o Caribe. No entanto, D. sp. nov. diferencia-se de D. canaliculata pela ausência de um aspecto conspícuo canaliculado do seu talo, sendo este um dos caracteres diagnósticos mais importantes para a identificação de D. canaliculata. A espécie Dictyota pfaffii Schnetter foi originalmente descrita no Caribe colombiano, com características que permitiam distingui-la de outras espécies, por apresentar talos pequenos com interdicotomias curtas, hábito decumbente formando tapetes imbricados e esporângios dispostos no meio da fita na região superior e nunca marginalmente (Schnetter 1972). Essa espécie tem sido foco de diversas controvérsias entre ficólogos, devido à similaridade com Dictyota humifusa Hörnig, Schnetter et Coppejans que foi descrita baseada nas diferenças encontradas entre D. adnata sensu Jaasund e a D. adnata originalmente descrita por Zanardini. No entanto, Bula-Meyer (1994) sugere que D. humifusa é uma sinonímia de D. pfaffii, argumentando que a iridescência do talo não pode ser considerada um caráter diagnostico, assim como o tamanho das células, pois são características Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 75 muito variáveis. O autor considerou que não existem caracteres diagnósticos formais que permitam separar essas duas espécies. No entanto, De Clerck & Coppejans (1997) indicam que é possível separar a identidade taxonômica destes indivíduos pelo tamanho das células e a textura do talo. Posteriormente, Wysor & De Clerck (2003) propõem que D. pfaffii é uma sinonímia de D. friabilis Setchell 1926. Diante do cenário controverso dos epítetos D. humifusa, D. pfaffii e D. friabilis é possível indicar que D. sp. nov. diferencia-se por não ser completamente decumbente, não formar tapetes imbricados, tendo um talo formado de uma fita mais estreita principalmente na região basal, por apresentar células medulares menores e mais estreitas e pela posição dos esporângios espalhados na superfície do talo na região mediana e não nas porções superiores. Outra espécie do gênero Dictyota de pequeno porte é Dictyota hamifera Setchell. No entanto, D. sp. nov. separa-se facilmente pela ausência de ramos com forma de gancho, como pode ser observado nas ilustrações de Solé (2003). 3.3.2. Perfil químico Ao comparar os extratos hexânico e em AcOEt de Dictyota sp. nov. por CCD foi possível perceber que não existem grandes diferenças no perfil cromático entre os dois extratos, sendo os diterpenos mais abundantes no extrato em hexano. A Figura 31 apresenta uma comparação entre os dois extratos (Figura 31a) e uma placa com o resultado do primeiro fracionamento do extrato hexânico Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 76 (Figura 31b). Em ambas as placas, os produtos majoritários (diterpenos) apresentaram-se, após revelação, como bandas de cor púrpura. a b Figura 31. Placas cromatográficas em camada delgada (CCD) de Dictyota sp. nov. a) comparação entre os dois extratos em hexano e em acetato de etila; b) resultado do primeiro fracionamento do extrato hexânico (EHB), onde pode ser observado a característica principal da serie de bandas de cor púrpura (diterpenos) (1 – 31 frações coletadas). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 77 Das espécies morfologicamente mais próximas a D. sp. nov. e conhecida quimicamente pelo nosso grupo de pesquisa é a D. pfaffii (=D. friabilis) alga produtora de diterpenos do tipo dolabellano, do grupo IIa. (Barbosa et al. 2003). Estes organismos além de possuírem semelhança morfológica, também apresentam a mesma característica na produção de poucos diterpenos de forma bastante abundante. No entanto, os diterpenos de D. pfaffii (=D. friabilis) são diferentes, o que pode ser demonstrado pela revelação das placas em CCD, onde os diterpenos de D. pfaffii aparecem como uma banda de cor parda (diterpeno majoritário), enquanto os diterpenos de D. sp. nov. são dois diterpenos majoritários de cor púrpura (Figura 32). Figura 32. Comparação dos extratos em cromatografia de camada delgada (CCD) de Dictyota pfaffii (Dp) e Dictyota sp. nov. (Dv). Dictyota sp. nov. caracteriza-se por produzir dois produtos naturais majoritários, dois diterpenos, confirmados pela análise de RMN 13 C (75 MHz), um Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 78 deles com dois grupamentos acetato (24 carbonos), o DvD (13) e o segundo com apenas um acetato (22 carbonos), o DvM (14). Os diterpenos (13 e 14) e o produto de transformação (15) são cristais amorfos e incolores, e em CCD, eluídos em fase móvel CH2Cl2:AcOEt (9:1), após revelação, caracterizam-se por serem de cor púrpura e apresentar valores Rf igual a 0,59; 0,49 e 0,12 respectivamente (Figura 33). Figura 33. Placa em cromatografia de camada delgada dos produtos naturais DvD (13) Rf= 0,59, DvM (14) Rf=0,49 e DvH (15) Rf=0,12. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 79 O perfil quantitativo calculado em porcentagem relativa indica que estas duas substancias ocorrem em cerca do 50% do extrato em hexano, sendo que 29% corresponde ao diterpeno diacetilado - DvD (13) e 23,7% ao diterpeno monoacetilado - DvM (14) (Figura 34). Figura 34. Cromatograma (CG/EM) do extrato bruto em hexano de Dictyota sp. nov. indicando os picos dos diterpenos diacetilado (13) e monoacetilado (14). As análises de elucidação estrutural demonstraram que os diterpenos isolados de Dictyota sp. nov. são inéditos, possivelmente com esqueletos novos para a ciência. A elucidação desses diterpenos está em curso, mas devido ao ineditismo das moléculas, ainda não foi totalmente concluída. No momento, podemos afirmar que os diterpenos de Dictyota sp. nov. apresentam características similares aos dolabellanos (IIa). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 3 80 3.4. CONCLUSÃO O presente estudo propõe uma nova espécie de Dictyota para a região do Atlântico tropical e subtropical, Dictyota sp. nov. Ortiz-Ramírez, De-Paula et Cavalcanti. Dictyota sp. nov apresenta características morfológicas e químicas únicas, sendo produtora de diterpenos inéditos com esqueleto carbônico ainda não descrito para as algas da tribo Dictyoteae. Suas características morfológicas e químicas aproximam essas algas do grupo taxonômico B, que reúne as populações brasileiras de Dictyota pfaffii (= Dictyota friabilis) e da nova espécie Dictyota dolabellana De-Paula, YoneshigueValentin et Teixeira, ambas caracterizadas como produtoras de diterpenos exclusivos do tipo dolabellano ou derivados. Embora os dolabellanos observados nestas duas espécies coletadas na costa brasileira sejam exclusivos de algas do Atlântico, este tipo de esqueleto é o mais representativo das populações estudadas na região do Indo-Pacífico e do Mar Mediterrâneo. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 81 CAPÍTULO 4. METABOLITOS SECUNDÁRIOS DE Canistrocarpus cervicornis: UMA ESTRATÉGIA QUÍMICA PARA O CONTROLE POPULACIONAL DOS SEUS CONSUMIDORES? Resumo: Este capítulo apresenta a primeira abordagem do estudo sobre os efeitos dos produtos naturais de Canistrocarpus cervicornis nos primeiros estágios do desenvolvimento embrionário e na fertilização do ouriço-do-mar Lytechinus variegatus. Os resultados indicam que a exposição dos zigotos de L. variegatus ao extrato bruto de C. cervicornis em diferentes concentrações afetou o desenvolvimento dos zigotos de duas formas: inibindo o desenvolvimento e gerando anomalias. Quando os gametas foram expostos ao extrato bruto antes da fecundação, os espermatozóides tornaram-se inviáveis, causando a diminuição das taxas de fecundação entre 10 – 30%. Os gametas femininos foram menos susceptíveis à ação do extrato, com proporções de fecundação até 70%. O diterpeno dolastano (4R,7R,14S)-4α,7α-diacetoxi-14-hidroxidolasta-1(15),8-dieno não mostrou ser um agente inibidor dos primeiros estágios de desenvolvimento, entretanto foi constatado que é um agente que induz anomalias nos zigotos e nas concentrações de 25 e 50 µg/mL pode causar lise celular. Os resultados in vitro sugerem que este fenômeno possa atuar como estratégia química das algas para o controle populacional dos seus consumidores, inibindo e/ou impedindo o desenvolvimento normal dos seus zigotos. Publicação produzida a partir deste capítulo: Metabolitos secundários de Canistrocarpus cervicornis: uma estratégia química para o controle populacional dos seus consumidores? Ortiz-Ramírez, F.A; Vallim, MA; Cavalcanti, D.N; Teixeira, V.L. Trabalho apresentado durante o III Congresso Brasileiro de Biologia Marinha – 2011. Recebeu o “Prêmio ABBM para Estudantes, nível Pós-graduação” da Associação Brasileira de Biologia Marinha. Ortiz-Ramírez, FA; Vallim, MA; Cavalcanti, DN; Teixeira, VL. (2012). Secondary Metabolites from the marine brown alga Canistrocarpus cervicornis (Dictyotales,Phaeophyceae): A strategy for the population control of the consumers?. Latin American Journal of Aquatic Research. “Artigo no prelo” Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 82 4.1. INTRODUÇÃO Os organismos marinhos desenvolveram ao longo da evolução diversos mecanismos de defesa, que incluem estratégias físicas e químicas para garantir a sua sobrevivência. Ao longo desse processo evolutivo, os organismos vivos desenvolveram uma capacidade de síntese de metabólitos secundários ou produtos naturais que, dentre outras atividades, também ajudam a manter o equilíbrio entre as espécies (Harper et al. 2001). Essas substâncias especiais apresentam um grande potencial biotecnológico como antibióticos, antivirais, antitumorais, dentre outras atividades biológicas (Blunt et al. 2010). Dentre as algas pardas, mais de 1.140 metabólitos secundários foram isolados, sendo os representantes da ordem Dictyotales, uma rica fonte em terpenos (Maschek & Baker 2008). Hoje em dia, são conhecidos mais de 300 diterpenos, isolados a partir de pelo menos 35 espécies, coletadas no litoral tropical, subtropical e temperado-quente de todo o mundo (Vallim et al. 2005). Canistrocarpus cervicornis é uma alga parda da ordem Dictyotales, conhecida por sintetizar diterpenos do tipo dolastanos e secodolastanos (Teixeira et al. 1986a, 1986b; Teixeira & Kelecom 1988; Oliveria et al. 2008), Por ser uma alga de química bem conhecida, há diversos estudos sobre a atividade biológica e/ou ecológica destes diterpenos. Os estudos mostram que vários de seus diterpenos apresentam atividade inibidora da enzima sódio-potássio ATPase (Garcia et al. 2009), atividade antiviral contra o vírus da herpes humana (HSV-1) e contra o vírus da AIDS (HIV-1) (Vallim Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 83 et al. 2010), anti-leishmaniose (Santos et al. 2011), contra os efeitos de veneno de cobra (Moura et al. 2010; Domingos et al. 2011), anticoagulante e antiplaquetária (Moura et al. 2011), anti-incrustante (Bianco et al. 2009) e atividade anti-herbivoria (Pereira et al. 2002). Nas regiões tropicais e subtropicais, a pressão por herbivoria é um forte fator regulador das populações de algas marinhas bentônicas e os ouriços-do-mar são um dos seus principais consumidores (Hopp & Herding 1996). Os mecanismos de controle de populações de consumidores são exercidos por complexas interações envolvendo os demais consumidores, o alimento em si e o meio ambiente. Diversos estudos têm demonstrado que moluscos e ouriços de mar, em ambientes rochosos, (Paine 1992; Hill et al. 2003) e peixes e ouriços do mar, em ambientes recifais (Hay et al. 1987; Hay 1991; Tittensor et al. 2009), desempenham um papel fundamental no funcionamento e organização das comunidades marinhas bentônicas. De forma geral, o grupo dos equinodermos é apontado como os principais consumidores de algas nas regiões tropicais (Hopp & Herding 1996). O avanço dos estudos interdisciplinares tem mostrado que as algas não são participantes passivas nas interações biológicas produtor/consumidor. Devido ao desenvolvimento de novos métodos de análises químicas e desenhos experimentais adequados, tornou-se claro que as algas apresentam mecanismos de defesa química frente aos seus consumidores e nas suas relações intraespecíficas, tornando-as agentes importantes na estrutura das comunidades Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 84 marinhas (Potin et al. 2002). Assim demonstrou-se a capacidade de defesa química de algumas algas marinhas bentônicas frente a herbívoros (e.g., Steinberg 1985; Hay & Fenical 1988; Pereira et al. 2003). Neste contexto a alga objeto de estudo, Canistrocarpus cervicornis, também mostrou estratégias de defesa química contra o gastrópodo Astraea latispina (Pereira et al., 2002) igualmente para o ouriço do mar Lytechinus variegatus (Bianco et al., 2010) No entanto, não existiam estudos ecológicos sobre o efeito dos diterpenos sobre os gametas e primeiros estágios de vida L. variegatus. Visando ampliar o conhecimento sobre a atividade biológica dos produtos naturais de Canistrocarpus cervicornis e seu possível papel ecológico o presente capitulo tem como objetivo: Avaliar o efeito do extrato bruto e do diterpeno majoritário (4R,7R,14S)4α,7α-diacetoxi-14-hidroxi-dolastano-1(15),8-dieno da alga parda marinha C. cervicornis nos gametas e primeiros estágios de vida do ouriço-do-mar Lytechinus variegatus. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 85 4.2. MATERIAL E MÉTODOS 4.2.1. Coleta do material ficológico Canistrocarpus cervicornis foi coletada no mês de Junho de 2006 na Praia do Forno, Armação de Búzios, Rio de Janeiro (22º45’42” S e 41º52’27” W) mediante mergulho livre. O material foi lavado e triado ainda em campo retirando os organismos epífitos. Exicatas da espécie foi depositado no Herbário da Universidade do Rio de Janeiro (HRJ10754). 4.2.2. Extração e isolamento O material algáceo seco foi submetido a extração exaustiva com o solvente orgânico diclorometano (DCM) cinco vezes durante 24h. O solvente foi retirado sob pressão reduzida em evaporador rotativo. 5 g do extrato bruto foram submetidos a fracionamento em cromatografia de coluna em sílica gel 60 (70-230 Mesh) (Ø4 cm x 40 cm) e eluída com gradiente de polaridade crescente de hexano a metanol, foram obtidas 228 frações de volumes variáveis. As frações 97 a 99 foram reunidas (771 mg) e submetidas a um novo processo de fracionamento em cromatografia de coluna em sílica gel 60 (230-400 Mesh) eluída com os solventes Hex e AcOEt (4:6) obtendo se em estado puro o diterpeno dolastano (4R,7R,14S)-4α,7α-diacetoxi-14-hidroxidolasta-1(15),8-dieno (Figura 35) o diterpeno foi identificado por comparação dos dados espectroscópicos (RMN 13C e 1H) reportados na literatura (Garcia et al. 2009). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 86 OH OAc Figura 35. Estrutura do hidroxidolasta-1(15),8-dieno. OAc diterpeno dolastano (4R,7R,14S)-4α,7α-diacetoxi-14- 4.2.3. Coleta dos ouriços-do-mar, obtenção dos gametas e sua estocagem Indivíduos adultos de Lytechinus variegatus foram coletados na Praia de Itaipu, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil (23°00’34’’S; 44°26’10’’W). No campo, cada ouriço foi induzido a liberar os gametas mediante uma injeção de 1 a 3 mL de solução 0,5M de cloreto de potássio (KCl) na região oral intracelômica. Os gametas foram coletados e acondicionados cuidadosamente em tubos separados. Os óvulos foram depositados em tubos FALCON com capacidade para 50 mL contendo água do mar artificial (AMA) Sea Red® preparada com água ultra pura (Milli‐Q) e ajustada a 32 UPS de salinidade. Os espermatozóides foram coletados diretamente da região aboral, a seco, com auxílio de pipetas Pasteur e depositado em tubos Eppendorf® de 2 mL. Os gametas foram transportados ao laboratório em isopores com gelo. No laboratório, os gametas foram mantidos em constante refrigeração até o início da experiência. Foram preparadas soluções estoque de Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 87 óvulos de 100 mL (16.000 óvulos/mL) e uma solução de espermatozóides (1 mL de espermatozóides concentrado diluído em 9 mL de AMA). 4.2.4. Preparação das soluções do extrato bruto e produto puro A partir do estoque padrão de 500 µg/mL do extrato bruto (5 mg do extrato foi dissolvido em 500 µL do solvente DMSO e completado com AMA ate 10 mL em balão volumétrico) foram preparadas as soluções de 250, 125, 62.5 e 31.25 µg/mL, a partir do estoque padrão do dolastano 100 µg/mL (1 mg do dolastano (16) dissolvido em 150 µL e completado com AMA ate 10 mL em balão volumétrico) foram preparadas as soluções de 50, 25, 12.5 e 6.25 µg/mL. A quantidade do solvente DMSO (dimetil-sulfóxido) foi corrigida para cada solução. 4.2.5. Ensaios Pós-fecundação Um mL da solução estoque de espermatozóides foi adicionado ao estoque de óvulos, agitando cuidadosamente durante 30s com o objetivo de facilitar a fecundação, passados 5 min a fecundação foi confirmada pela elevação da membrana vitelínica em torno de 80% dos óvulos fecundados. Para cada tratamento e controle foi depositado 1 mL de ovos fecundados em placas de cultura (TTP®) com 24 poços com capacidade para 3 mL, em triplicata. Em seguida foi adicionado 1 mL das soluções do extrato bruto e do dolastano, no controle foi adicionado 1 mL de AMA e no controle branco 1mL de AMA com a concentração ajustada de DMSO. As placas de cultura foram mantidas a temperatura ambiente durante 2 h passado este tempo foram adicionadas 2 gotas de formaldeído a 10%. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 88 De cada amostra experimental, uma alíquota de 1 mL foi depositada numa câmara Sedgwick‐Rafter, sendo realizadas as contagens dos ovos em 10 pontos aleatórios da câmara. Os ovos foram classificados segundo sua etapa de divisão celular da seguinte forma: ovos não fecundados (ONF), nos quais a membrana de fecundação não foi visualizada; ovos fecundados porém não divididos (OF), nos quais a membrana foi visualizada porém não sofreram mitose; e clivagens I, II, III, IV. Este método foi adaptado dos testes empregados para determinação da citotoxicidade, ecotoxicidade e em estudos preliminares de atividade farmacológica (Lera et al. 2006; Semenova et al. 2006; Kiselyov et al. 2010; Magalhães et al. 2010). 4.2.6. Ensaios pré-fecundação em óvulos Um mL do estoque de óvulos e posteriormente 1 mL de cada solução do extrato foi adicionado e no controle 1 mL de AMA. Após 10 min. foram adicionados 20 µL da solução de espermatozóides com agitação leve por 30 segundos. A incubação, fixação e contagem seguiram o mesmo procedimento da experiência anteriormente descrito. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 89 4.2.7. Ensaios pré-fecundação nos espermatozóides Vinte µL da solução de espermatozóides e 1 mL de cada solução do extrato bruto foram depositados nas placas de cultura. Após 10 min. 1mL da solução de óvulos foi adicionado em cada unidade experimental. A incubação, fixação e contagem seguiram o mesmo procedimento da experiência anteriormente descrito (Figura 36). 4.2.8. Análise estatística Os resultados das experiencias foram analisados pelo teste não paramétrico Kruskal-Wallis. Nos casos onde ocorreram diferenças foram realizadas comparações múltiplas, Os testes pré-fecundação foram analisados pelo teste Wilcoxon-Mann-Whitney U. Este procedimento foi realizado usando o programa computacional de análise estatística Infostat 2009 (Di Rienzo et al., 2009). Todos os testes estatísticos foram conduzidos Segundo Zar (1996), adotando como nível de significância α < 0.05. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 90 Injeção de KCl Estoque de óvulos 16,000/mL Solução de espermatozóides Fecundação in vitro 20µL espermatozóides + 1mL do tratamento Extrato bruto 1mL óvulos + 1mL do tratamento Extrato bruto 5 min. 10 min. + 1mL óvulos + 1mL dos tratamentos 10 min. + 1 mL zigotos 20 µL espermatozóides Figura 36. Esquema ilustrativo dos ensaios realizados de pós-fecundação e préfecundação. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 91 4.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pós-fecundação As experiências de desenvolvimento embrionário foram iniciadas após a confirmação da elevação da membrana de fecundação em pelo menos 80% dos óvulos (Figura 37B). Os óvulos não fecundados, fecundados sem clivagem, zigotos nas clivagens I – IV e anômalos foram avaliados em cada experiência e exemplos típicos de cada categoria encontram-se na Figura 37. Figura 37. Primeiros estágios do desenvolvimento embrionário de Lytechinus variegatus e eventos registrados durante as experiências. A) óvulo sem fecundar; B) óvulo fecundado sem clivagem; C) zigoto na clivagem I; D) zigoto na clivagem II; E) zigoto na clivagem III; F) zigoto na clivagem IV; G) zigoto anômalo e H) lise celular dos blastômeros. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 92 Os resultados demonstraram que, em todas as concentrações testadas, o número de ovos fecundados não clivados aumentou proporcionalmente a concentração do extrato bruto adicionada. Poucos ovos que chegaram a clivar, a maioria gerou anomalias, sugerindo a inviabilização do desenvolvimento do zigoto até a clivagem IV. As clivagens III e IV apresentaram diferenças significativas em relação ao controle (p < 0,0001), onde foi observado apenas de zero a 1% dos indivíduos na clivagem III. Não foram detectados ovos na clivagem IV. O efeito gerado pela adição do extrato bruto nas menores concentrações provocou os maiores percentuais de anômalos. Por outro lado, as maiores concentrações provocaram um forte efeito inibidor das clivagens, que não foi acompanhado pelo aumento do percentual de anômalos. Os resultados nos testes com o dolastano mostraram que não houve diferenças significativas (p> 0,05) frente ao controle, exceto nas variáveis III, IV e A. As diferenças encontradas nas clivagens III e IV correspondem às maiores concentrações (25 e 50µg/mL). No entanto, o valor das proporções nestas concentrações foi superestimado, tendo em vista a ocorrência de lise dos zigotos. Assim, na concentração 25 µg/mL do dolastano, foi registrada a proporção de 9,85% ± 8,8 na clivagem IV, e em 50 µg/mL, 0,8% ± 1,4 (Tabela 11). No caso dos zigotos anômalos, foi observado, de forma geral, que o extrato bruto provocou uma resposta inversamente proporcional à sua concentração, onde as menores concentrações provocaram mais anomalias. No caso das experiências com o dolastano, não foram registradas diferenças significativas (p> 0.05) de anômalos entre as concentrações do diterpeno, mas frente ao controle, indicando que o diterpeno é um dos responsáveis pelas anomalias observadas Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 93 nas experiências com extrato bruto. De forma geral, nas menores concentrações (3,125 – 12,5µg/mL) os resultados com o dolastano foram muito similares ao controle, exceto pela presença de anômalos (Tabela 11). Tabela 11. Porcentagem dos zigotos segundo o estágio de desenvolvimento embrionário nas experiências com o extrato bruto (CE) e com o dolastano 16 (D): OF) porcentagem dos ovos fecundados sem clivagem; I – IV) porcentagem das clivagens e A) porcentagem dos zigotos anômalos. CE (µg/mL) OF (%) I (%) II (%) III (%) IV (%) A (%) 250,0 86,7 ± 5,1 1,0 ± 0,9 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 12,3 ± 5,8 125,0 59,7 ± 4,8 0,47 ± 0,8 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 39,8 ± 4,3 62,5 52,3 ± 7,7 1,7 ± 0,6 1,3 ± 1,2 0,4 ± 0,6 0,0 ± 0,0 44,3 ± 7,7 31,3 46,9 ± 6,2 0,3 ± 0,5 0,7 ± 0,6 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 52,1 ± 6,1 15,62 44,9 ± 2,6 1,3 ± 0,4 2,1 ± 1,1 0,6 ± 1,1 0,0 v 0,0 51,0 ± 4,1 Controle 27,9 ± 11,1 0,8 ± 1,4 2,1 ± 2,0 10,3 ± 6,4 59,8 ± 5,9 0,0 ± 0,0 D OF I II III IV A 50 6,0 ± 3,5 2,6 ± 2,9 5,8 ± 1,7 75,6 v 12,6* 0,8 ± 1,4* 9,1 ± 7,8 25 4,7 ± 4,3 0,0 ± 0,0 0,5 ± 1,0 71,4 ± 7,9* 9,8 ± 8,8* 12,9 ± 1,5 12.5 6,2 ± 2,2 0,0 ± 0,0 1,8 ± 3,1 32,2 ± 12,7 38,7 ± 6,5 21,0 ± 9,1 6.25 2,1 ± 1,9 0,0 ± 0,0 0,41 ± 0,72 23,4 ± 3,3 61,8 ± 6,7 11,4 ± 6,4 3.125 6,5 ± 5,4 0,7 ± 0,6 1,15 ± 0,18 30,1 ± 3,8 48,9 ± 7,4 12,6 ± 9,9 Controle 6,5 ± 4,6 0,4 ± 0,6 3,7 ± 1,9 36,1 ± 7,4 53,2 ± 4,2 0,0 ± 0,0 *proporção superestimada devido à lise nos zigotos. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 94 Pré-fecundação De forma geral, o aumento da concentração do extrato bruto no tratamento dos gametas antes da fecundação promoveu um aumento na quantidade de óvulos não fecundados. Os espermatozóides foram suscetíveis à exposição do extrato bruto, onde foi verificado que o percentual de óvulos não fecundados foi superior a 70% em todas as concentrações, não havendo diferenças significativas entre estas concentrações (p> 0,05). Já quando os gametas femininos foram submetidos às diferentes concentrações do extrato bruto, o percentual de óvulos não fecundados foi significativamente maior (p< 0,05) que o controle, variando entre 30 – 86%, exceto, na menor concentração (15,62 µg/mL) onde o percentual de ovos não fecundados foi similar às encontradas no controle (Tabela 12). Tabela 12. Porcentagem de óvulos não fecundados nas experiências de pré-fecundação em diferentes concentrações do extrato bruto de Canistrocarpus cervicornis. (Media ±SD). Experiência pré-fecundação Tratamento (µg/ml) Espermatozoides (%) Óvulo (%) 0,00 14,9 ± 9,0 29,3 ± 21,6 15,62 87,2 ± 3,7 30,3 ± 18,8 31,30 83,0 ± 8,5 57,8 ± 19,3 62,50 71,3 ± 0,6 82,4 ± 6,2 125,00 73,7 ± 7,8 68,9 ± 4,6 250,00 90,3 ± 3,6 85,9 ± 2,2 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 95 Os resultados indicaram que nas experiências de pré-fecundação os gametas tornaram-se inviáveis para o processo de singamia, diminuindo as taxas de fecundação de 10 a 30% e de 20 a 70% nos testes com espermatozóides e óvulos, respectivamente. Algumas substâncias extraídas de algas marinhas tiveram efeitos sobre a fecundação animal. Dentre as substâncias testadas, as fucoidanas inibiram a penetração do espermatozóide em óvulos humanos (Oehninger et al. 1991; Patankar et al. 1993). Por outro lado, um acido graxo poliinsaturado pouco comum em algas, o ácido octadecapentenóico não mostrou a capacidade de inviabilizar os gametas do ouriço Paracentrotus lividus nos processos de fecundação, mas inibiu o desenvolvimento embrionário na primeira clivagem dos zigotos (Fériel et al. 2000). Nas experiências, os gametas masculinos mostraram menor resistência aos componentes lipofílicos de C. cervicornis do que os femininos na mais baixa das concentrações (15.62 µg/mL) (Tabela 12). Os espermatozóides de ouriço do mar são imóveis enquanto estão dentro das gônadas e a ativação da mobilidade acontece quando entram em contato com o meio salino, alcalinizando o pH intracelular e ativando a enzima ATPase que promove a mobilidade dos flagelos em resposta a respiração mitocondrial (Christen et al. 1982). A espécie C. cervicornis é prolifera em diterpenos do tipo dolastanos, sendo conhecido que dois dolastanos isolados desta espécie inibiram a atividade da enzima Na+K+ATPase (Garcia et al. 2009), podendo explicar a inviabilidade dos gametas em realizar os processos de fecundação (Tabela 12). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 96 Nas experiências de avaliação dos efeitos do extrato bruto e do dolastano no desenvolvimento embrionário, o extrato bruto inibiu os ciclos mitóticos dos zigotos de L. variegatus desde as mais baixas concentrações, ao contrário do dolastano, que não mostrou evidências claras de inibição dos ciclos mitóticos. Alguns estudos com extratos em acetona das algas marinhas Botryocladia occidentalis (Børgesen) Kylin, Ulva fasciata Delile, Gracilaria lemaneiformis (Bory de SaintVincent) Greville e Hypnea musciformis (Wulfen) J.V. Lamouroux inibiram em mais de 50% o desenvolvimento embrionário de L. variegatus na concentração de 100 µg/mL (Torres et al. 2005). Estes resultados indicam que C. cervicornis apresentam maior potencial de inibição do que outras algas, em mais baixas concentrações. Graças às divisões sincrônicas e uniformidade nas primeiras clivagens, os testes com zigotos de ouriço do mar são suficientemente sensíveis para identificar e diferenciar os efeitos tóxicos dos antimitóticos, (Jacobs et al. 1981). Apesar do efeito de inibição dos ciclos mitóticos causados pelo extrato bruto, os zigotos não apresentaram pontos claros citoplasmáticos, revelando aspecto homogêneo. A presença de pontos claros citoplasmáticos é atribuída ao bloqueio do acoplamento dos microtúbulos (Jacobs & Wilson 1986), assim nossos resultados indicam que o processo de inibição mitótica induzido pelos componentes lipofílicos do extrato bruto está relacionado com outros mecanismos diferentes do acoplamento dos microtúbulos. Por outro lado, tanto o extrato bruto quanto o dolastano induziram o aparecimento de zigotos anômalos, caracterizados por planos de clivagem Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 97 assimétricos e proliferações atípicas mesmo em baixas concentrações (Figura 37G e Figura 38). Quando os gametas foram expostos as maiores concentrações de extrato bruto, a inibição das clivagens provocou um aumento do número de ovos fecundados não clivados (Figura 37B), dando uma falsa impressão de diminuição das anomalias. Nesta concentração (250 µg/mL), ocorre a maior inibição mitótica, onde mais de 80% dos ovos fecundados não chegam a clivar e os poucos ovos que o fazem, tornam-se anômalos. Já nos testes com o dolastano, há uma formação de anômalos similar em quaisquer das concentrações testadas. Contudo, as maiores taxas de anômalos foram encontradas nas experiências onde os gametas foram pré-tratados com o extrato bruto (Figura 38). Embriões e larvas de invertebrados marinhos apresentam altas taxas metabólicas em relação aos adultos durante o seu desenvolvimento e as taxas metabólicas podem aumentar em uma ordem de magnitude antes da metamorfose ou assentamento (Hoegh-Guldberg & Manahan 1995). Experiências in vitro com Lytechinus pictus mostraram que a atividade da enzima Na+/K+-ATPase aumenta gradualmente nos primeiros estádios de vida deste organismo, chegando a um pico de 80% (estádio prisma) (Leong & Mahanan 1999). Se os dolastanos de C. cervicornis atuam sobre a atividade da Na+/K+-ATPase, a inibição desta enzima pode afetar o transporte de íons, promovendo desajustes no gradiente eletroquímico e comprometendo todos os processos celulares íon-dependentes. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 98 100 Zygote (D) zygote (CE) sperm (CE) ovule (CE) Abnormal zygotes (%) 80 60 40 20 0 Control 1 2 3 4 5 Code of the concentration Figura 38. Porcentagem dos zigotos anômalos nas experiências de pós-fecundação com o extrato bruto (CE) e com o dolastano (D) e nas experiências de pré-fecundação com o extrato bruto. Os códigos das concentrações 1 a 5 representam as diluições detalhadas em materiais e métodos da menor a maior das concentrações. Considerando que um agente antimitótico atua bloqueando a mitose enquanto há exposição às substâncias e que um agente citotóxico causa danos às células a ele expostas, os nossos resultados indicam que o extrato bruto de C. cervicornis apresenta efeitos antimitóticos e citotóxicos. Este último evento foi mais evidente nos testes com o dolastano ao exibir lise celular nas maiores concentrações (Tabela 11). As alterações no funcionamento da bomba Na +K+ podem explicar a lise dos embriões verificada quando os zigotos foram submetidos às maiores concentrações do dolastano. A bomba Na+K+ é o principal sistema de transporte ativo na maioria das células animais, assim, a inibição da Na +/K+-ATPase gera condições que favorecem o acúmulo intracelular de Na + (Aizman et al. 2001). Este Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 99 fato pode criar um ambiente de hipertonicidade celular que conduz à lise. Entretanto, outras experiências são necessárias para maior compreensão destes eventos. Uma das questões fundamentais em biologia marinha e ecologia é o entendimento demográfico de organismos que apresentam estágios planctônicos e bentônicos (Pechenik 1999), e como as interações biológicas determinam o tamanho populacional. Recentemente foi demonstrada a indução da metamorfose e recrutamento de larvas de invertebrados por sinais químicas da alga Delisea pulcra (Williamson et al. 2000), por outro lado foi demonstrado que algumas espécies do gênero Dictyota apresentam defesas químicas que facilitam sua permanência nos ambientes recifais por competição de espaço, mostrando efeitos alelopáticos nos primeiros estágios de vida de alguns corais (Paul et al. 2011). Sem dúvidas, a questão que permanece é: terão as algas a capacidade de evitar ou se defender dos novos juvenis recrutas de seus consumidores? Nosso estudo in vitro indica que os componentes lipofílicos de C. cervicornis podem inviabilizar os gametas de L. variegatus diminuindo as taxas de fecundação, impedindo a clivagem dos zigotos e promovendo anomalias, talvez na tentativa de controlar a futura geração dos seus consumidores. Entretanto, estudos complementares devem ser realizados para que essa afirmação seja confirmada. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 4 100 4.4. CONCLUSÃO Os componentes lipofílicos do extrato bruto de C. cervicornis podem atuar em duas vias sobre um dos seus principais consumidores, o ouriço-do-mar Lytechinus variegatus: na fecundação e no desenvolvimento embrionário. O extrato bruto reduz as taxas de fertilização in vitro de L. variegatus, evidenciando que os espermatozóides, quando expostos a esse extrato, são mais sensíveis que os óvulos. Por outro lado o extrato bruto mostra efeitos de inibição nas clivagens dos zigotos e na geração de anomalias. O dolastano (4R,7R,14S)-4α,7α-diacetoxi-14-hidroxi-dolastano-1(15),8-dieno revela ser um dos componentes responsáveis pela geração de anomalias nos zigotos, mas não mostra um efeito de inibição nas clivagens e nas maiores concentrações induz a lise celular dos blastômeros Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 101 CAPÍTULO 5. ATIVIDADE ANTIMITÓTICA DOS METABÓLITOS SECUNDÁRIOS DAS ALGAS PARDAS MARINHAS Dictyota menstrualis E D. ciliolata (DICTYOTACEAE, PHAEOPHYCEAE) DO LITORAL BRASILEIRO. Resumo: O capítulo 5 apresenta as experiências sobre a bioprospecção da atividade antimitótica dos extratos brutos de duas populações de D. menstrualis e uma população de D. ciliolata, os resultados mostraram que o extrato de D. ciliolata não atuou significativamente como um agente antimitótico, Entanto que os extratos de D. menstrualis mostraram ser ativos com uma diferença significativa entre as populações. Estes fatos conduziram ao isolamento dos diterpenos majoritários pachydictyol A, dictyol E e o dichotomano 9-hidroxidichotoma-2,13-dieno-16,17-dial. Os resultados das experiências mostraram que o diterpeno dichotomano apresentou uma alta atividade antimitótica impedindo em todas as concentrações testadas o sucesso do desenvolvimento embrionário dos zigotos de Lytechinus variegatus até a clivagem IV (16 blastômeros). Comparações com dados na literatura sugerem que este diterpeno na tribo Dictyoteae pode ser um bom candidato antitumoral. Publicação produzida a partir deste capítulo: Atividade antimitótica dos metabólitos secundários das algas pardas marinhas Dictyota menstrualis e D. ciliolata (Dictyotaceae, Phaeophyceae) do litoral brasileiro. Ortiz-Ramírez, F.A; Osako, K; Cavalcanti, D.N; Teixeira, V.L. Trabalho apresentado durante o III Workshop da REDEALGAS – 2011. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 102 5.1. INTRODUÇÃO Na diversidade funcional dos organismos marinhos expressada na produção de diferentes tipos de metabolitos secundários, encontram-se moléculas ainda pouco conhecidas e que atuam como sinalizador químico entre as espécies, como na defesa contra consumidores ou predadores, competição por espaço, na reprodução etc. Uma substância que atua como mediador químico de um organismo pode ser a esperança no tratamento ou cura de doenças (Teixeira 2009) e o potencial biotecnológico destas moléculas tem sido demonstrado em diferentes atividades in vitro como antibiótica, antiviral, citotóxica e antitumoral (Blunt et al. 2010). Para avaliar o potencial de um produto natural como candidato antitumoral pode-se constatar sua atividade citostática. Assim, um agente antimitótico é um tipo de substancia que bloqueia a proliferação celular interrompendo o processo da mitose e são usados para o tratamento do câncer, também chamados de inibidores mitóticos (National Cancer Institute, 2011). Hoje, vários dos produtos de origem marinha em análise pela indústria farmacêutica têm como objetivo combater diferentes tipos de câncer, estando alguns deles em fases clínicas I, II ou III ou em uso comercial, como é o caso do Yondelis® (trabectedina, ecteinascidina-743, ET-743,), da Pharmamar, isolado da ascídia caribenha Ecteinascidia turbinata Herdman 1880, e que foi aprovado para uso clínico no tratamento de sarcoma de tecidos moles. Atualmente, o produto é obtido a partir da síntese da cianosafracina B, obtido de cultura da bactéria Pseudomonas fluorescens (Schröter 1872) (Pomponi 2001; Haefner 2003; CostaLotufo et al. 2009). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 103 Um dos primeiros relatos de atividade antimitótica de produtos naturais de algas da família Dictyotaceae foi descrito para extratos orgânicos de Dictyopteris membranacea (Stackhouse) Batters, onde foram constatadas propriedades citostáticas in vitro em culturas celulares da linhagem KB (carcinoma oral humano) (Kosovel et al. 1988). Uma recente revisão do potencial biotecnológico dos produtos naturais de algas marinhas bentônicas revelou que a atividade antimitótica nos representantes da tribo Dictyoteae tem sido pouco estudada. No entanto, diterpenos como as dictyotinas A, B e C, alguns xenianos e norxenianos, todos isolados de D. dichotoma, e um diterpeno dolabellano, isolado de uma espécie não identificada de Dictyota apresentaram significativa atividade antimitótica (El Gamal 2010). Um dos métodos considerado rápido e de baixo custo para avaliar o potencial antitumoral de uma substância é o modelo com embriões de ouriço-do-mar, especialmente Lytechinus variegatus, por fornecer dados tanto citotóxicos como antimitóticos (Kiselyov et al. 2010). Este modelo permite detectar efeitos antimitóticos específicos sobre a polimerização da tubulina (Semenova. et al. 2006). As principais características que fazem de este método continuar vigente nos estudos de bioprospecção são às divisões sincrônicas e uniformes das primeiras clivagens dos zigotos e seu fácil manuseio (Jacobs et al. 1981; Jacobs & Wilson 1986). Visando ampliar o estudo em bioprospecção do potencial biotecnológico da tribo Dictyoteae, o presente capítulo tem como objetivo: Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 104 Avaliar o efeito antimitótico dos extratos brutos de diferentes populações de Dictyota menstrualis e D. ciliolata e dos diterpenos pachydictyol A (1), dictyol E (16) e dichotomano (17) frente aos zigotos de Lytechinus variegatus. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 105 5.2. MATERIAL E MÉTODOS 5.2.1. Coleta do material algáceo Os espécimes de Dictyota menstrualis foram coletados mediante mergulho livre, a 2m de profundidade, no mês de julho de 2008, na Praia do Forno no município de Armação de Búzios, Rio de Janeiro, Brasil (22°44’S - 41°52’W). Indivíduos desta mesma espécie foram coletados mediante mergulho autônomo, a 20m de profundidade, no mês de abril de 2008, pelo Dr. Roberto Campos Villaça na Ilha Barão de Tefé do Arquipelago de São Pedro e São Paulo (00°55’ N - 29°21’ W). Amostras de D. ciliolata foram coletados na Praia Vermelha, Ilha Grande, Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro (23°00’S - 44°19’W), mediante mergulho livre a uma profundidade média de 3 a 5 m no mês de outubro de 2008. O material biológico foi triado para a retirada de epibiontes e fauna acompanhante, posteriormente foi seco a temperatura ambiente no laboratório. 5.2.2. Preparação dos extratos Após a total secagem das algas, cada amostra foi submetida à extração seqüencial em n-hexano e acetato de etila, durante três semanas para cada solvente, sendo renovado a cada semana. Os volumes dos extratos obtidos foram reduzidos sob pressão reduzida, em evaporador rotativo, sendo armazenados sob refrigeração (Tabela 13). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 106 Tabela 13. Massa seca das algas de cada espécime e população, massa dos extratos brutos obtidos em n-hexano (Hex) e acetato de etila (AcOEt). SPSP: Arquipelago São de Pedro e São Paulo; BZ: Praia do Forno, Búzios; IG: Ilha Grande, Angra dos Reis. Espécime População Extrato bruto (g) Extrato bruto Hex (g) AcOEt (g) Massa seca Dictyota menstrualis SPSP 115,00 1,75 1,50 Dictyota menstrualis BZ 26,70 2,01 1,30 Dictyota ciliolata IG 87,90 3,02 1,95 5.2.3. Isolamento e purificação dos diterpenos Os diterpenos foram isolados e purificados através de técnicas convencionais de cromatografia em coluna em gel de sílica, utilizando solventes ou mistura de solventes de grau PA (Para Análise) de diferentes polaridades. A identificação das substâncias foi realizada por análise espectroscópica monodimensional de Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio (RMN 1H). Uma alíquota (de 8 a 10 mg) de cada um dos extratos foi dissolvida em clorofórmio deuterado (CDCl3) para obtenção do espectro de Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio (RMN 1H), em aparelho Varian-Unity Plus, na freqüência de 300,00 ou 500,00 MHz, sendo usado o tetrametilsilano (TMS) como referência interna. Os espectros de RMN foram realizados pelo Laboratório Multiusuário de RMN da UFF (http://www.uff.br/laremn/). 5.2.3.1. Isolamento do pachydictyol A O pachydictyol A (1), foi obtido segundo o método descrito no capitulo 1 (1.2.4.), a partir do terceiro fracionamento onde foram obtidas 24 fracões (F1-F24), Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 107 a F10 (4 mg) consistia num óleo amarelado, que pelos sinais espectrais de RMN 1H correspondem a o pachydictyol A (1) (Figura 39). Extrato em CH2Cl2 5 g Alíquota 2,5g Alíquota 2,5g 1° Fracionamento CH2Cl2:AcOEt 8:2 Fração 2 Fração 3 165mg 2° Fracionamento Hex:AcOEt 9:1 Frações 8 – 11 (55 mg) Hex: CH2Cl2 3° Fracionamento Fração 10 (4 mg) pachydictyol A (1) Figura 39. Esquema ilustrado do isolamento e purificação do pachydictyol A (1). 5.2.3.2. Isolamento do dictyol E Uma alíquota de 1000 mg do extrato hexanico de D. menstrualis da população do Arquipélago São Pedro e São Paulo foram submetidas à partição em coluna flash em gel de sílica 60 (0,04 – 0,063 mm) (Ø3 cm, altura da coluna 20 cm), isocrática usando CH2Cl2:AcOEt 9,5:0,5 onde foram obtidas 47 frações (F1 – F47). As frações F11 a F17 foram reunidas (174 mg), e um novo fracionamento foi realizado em coluna de gel de sílica 60 (230-430 Mesh) (Ø1 cm, altura da coluna 30 cm) usando como fase móvel CH2Cl2. A polaridade foi aumentada com Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 108 acréscimo progressivo de AcOEt ate a proporção 9:1. Foram obtidas 25 frações (F1 – F25), as frações F13 a F19 foram reunidas (43 mg) e um terceiro fracionamento foi realizado em coluna de gel de sílica 60 (230-430 Mesh) (Ø1 cm, altura da coluna 15 cm), isocrática usando como fase móvel CH2Cl2:AcOEt (9,5:0,5) onde foram obtidas 20 frações (F1 – F20), as frações F9 a F12 foram reunidas (22 mg) e submetidas a um quarto e último fracionamento em coluna de gel de sílica 60 (230-430 Mesh) (Ø1 cm, altura da coluna 15 cm), isocrática usando como fase móvel CH2Cl2:AcOEt 9,5:0,5 onde foram obtidas 20 frações (F1 – F20) sendo reunidas as frações F6 a F8 (7 mg), que consistia num óleo amarelado, que pelos sinais de RMN 1H correspondem ao diterpeno dictyol E (16) (Figura 40) . Extrato em n-hexano 1 g 1° Fracionamento CH2Cl2:AcOEt 9,5:0,5 Frações 11 – 17 (174 mg) CH2Cl2 CH2Cl2:AcOEt 9:1 2° Fracionamento Frações 13 – 19 (43 mg) 3° Fracionamento CH2Cl2:AcOEt 9,5:0,5 Frações 9 – 12 (22 mg) 4° Fracionamento CH2Cl2:AcOEt 9,5:0,5 Fração 6 – 8 (7 mg) dictyol E (16) Figura 40. Esquema do isolamento e purificação do dictyol E (16). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 109 5.2.3.3. Isolamento do dichotomano Com o objetivo de isolar o diterpeno dichotomano (17), outra coleta de D. menstrualis foi realizada durante o mês de julho de 2010, na Praia do Forno, Armação de Búzios (RJ). O material seco (95 g) foi submetido à extração exaustiva com diclorometano (CH2Cl2). Após a redução do volume do solvente em evaporador rotativo sob pressão reduzida, duas alíquotas de 2,5 g, de cada extrato bruto, foram submetidas à partição em coluna tipo flash em gel de sílica (0,015 – 0,045 mm) (Ø3 cm, altura da coluna 20 cm), usando como fase móvel, os solventes ou misturas de solventes CH2Cl2:AcOEt (8:2), (1:1), AcOEt 100% e Acetona 100%. A fração 4 das duas colunas foram reunidas (300 mg). Esta fração foi submetida a um fracionamento em coluna de sílica gel 60 RP18 preparativa (0,015 – 0,045 mm) (Ø2 cm, altura da coluna 30 cm), isocrática usando CH3CN, onde foram obtidas 50 frações (F1-F50). As frações 28 a 45 (147 mg) foram reunidas e um novo fracionamento em coluna de sílica gel 60 RP18 preparativa (0,015 – 0,045 mm) (Ø1 cm, altura da coluna 15 cm), isocrática usando CH3CN, onde foram obtidas 45 frações (F1-F45). As frações 28 a 35 foram reunidas (41mg) este resíduo foi submetido a lavagens sucessivas com éter de petróleo em frio obtendo-se 21mg de um cristal icolor que pelos sinais de RMN 1H correspondem ao diterpeno dichotomano (17) (Figura 41). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 110 Extrato em CH2Cl2 5 g Alíquota 2,5 g Alíquota 2,5 g 1° Fracionamento CH2Cl2:AcOEt 8:2 Fração 4 Fração 4 300 mg 2° Fracionamento CH3CN Frações 28 – 45 (147 mg) 3° Fracionamento CH3CN Frações 28 – 35 (41 mg) Lavagem Éter de petróleo Dichotomano (17) (21 mg) Figura 41. Esquema ilustrado do isolamento e purificação do diterpeno 9-hidroxidichotoma-2,13-dieno-16,17-dial (dichotomano 17). 5.2.4. Ensaio de atividade biológica 5.2.4.1. Coleta dos ouriços-do-mar, obtenção dos gametas e estocagem Indivíduos adultos de Lytechinus variegatus foram coletados na Praia de Itaipu, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil (23° 00’34’’ S; 44°26’10’’ W). No laboratório foram mantidos em aquários, posteriormente cada ouriço foi induzido a liberar os gametas mediante uma injeção de 1 a 3 mL de solução 0,5M de cloreto de Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 111 potássio (KCl) na região oral intracelômica. Os gametas foram coletados e acondicionados cuidadosamente em tubos separados. Os óvulos foram depositados em tubos FALCON com capacidade para 50 mL contendo água do mar artificial (AMA) Sea Red® preparada com água ultra pura (Milli‐Q) e ajustada a 32 UPS de salinidade. Os espermatozóides foram coletados diretamente da região aboral, a seco, com auxílio de pipetas Pasteur e depositado em tubos Eppendorf® de 2 mL e mantidos em refrigeração. Foram preparadas soluções estoque de óvulos de 100 mL (10.000 óvulos/mL) e uma solução de espermatozóides (1 mL de espermatozóides concentrado diluído em 9 mL de AMA). 5.2.4.2. Preparação das soluções dos extratos brutos e produtos puros A partir do estoque padrão de 200 µg/mL dos extratos brutos em n-hexano (2 mg do extrato foi dissolvido em 150 µL do solvente DMSO e completado com AMA ate 10 mL em balão volumétrico) foram preparadas as soluções de 100, 50, 25 e 12.5 µg/mL. De modo similar, a partir do estoque padrão dos produtos puros 100 µg/mL (1mg do produto dissolvido em 150 µL e completado com AMA ate 10 mL em balão volumétrico) foram preparadas as soluções de 50, 25, 12.5 e 6.25 µg/mL. A concentração de DMSO foi corrigida para cada solução. 5.2.4.3. Avaliação da atividade em zigotos de Lytechinus variegatus 1 mL da solução estoque de espermatozóides foi adicionado ao estoque de óvulos, agitando cuidadosamente durante 30s com o objetivo de facilitar a fecundação, passados 5min a fecundação foi confirmada pela elevação da Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 membrana 112 vitelínica em torno de 80% dos óvulos fecundados. Para cada tratamento e controle foi depositado 1 mL de ovos fecundados em placas de cultura (TTP®) com 24 poços com capacidade para 3 mL, em triplicata. Em seguida foi adicionado 1 mL das soluções dos extratos brutos e dos produtos puros, no controle foi adicionado 1 mL de AMA e no controle branco 1 mL de AMA com a concentração ajustada de DMSO. As placas de cultura foram mantidas a temperatura ambiente durante 2h passado este tempo foram adicionadas 2 gotas de formaldeído a 10%. De cada amostra experimental, uma alíquota de 1 mL foi depositado em uma câmara Sedgwick‐Rafter e realizadas as contagens dos ovos em 10 pontos aleatórios da câmara. Os ovos foram classificados segundo sua etapa de divisão celular da seguinte forma: ovos não fecundados (ONF), nos quais a membrana de fecundação não foi visualizada; ovos fecundados porém não divididos (OF), nos quais a membrana foi visualizada porém não sofreram mitose; e clivagens I, II, III, IV. Este método foi adaptado a partir dos testes empregados em citotoxicidade, ecotoxicidade e estudos preliminares de atividade farmacológica (Lera et al. 2006; Semenova et al. 2006; Kiselyov et al. 2010; Magalhães et al. 2010) (Figura 42). 5.2.4.4. Tratamento dos dados e análise estatística Os resultados das experiências foram analisados pelo teste não paramétrico Kruskal-Wallis nos casos que se apresentaram diferenças foram realizadas comparações múltiplas, as comparações dos testes entre populações e espécimes foram analisados pelo teste de U Mann-Whitney. Este procedimento foi realizado usando o programa computacional de análise estatística Infostat 2009 (Di Rienzo et al., 2009). Todos os testes estatísticos foram conduzidos Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 113 segundo Zar (1996), adotou-se como nível de significância α < 0,05. Para tornar comparáveis os dados de atividade antimitótica de cada experiência foi determinado o sucesso de desenvolvimento embrionário ate a clivagem IV e aplicou-se o princípio estatístico de relativização dos dados frente ao controle segundo a fórmula de Abott (Revilla 2009) a partir da qual foi realizado o cálculo do EC50 usando o programa computacional GraphPad Prism v5.0. Injeção de KCl Solução de espermatozóides Estoque de óvulos 10,000/mL Fecundação in vitro 20 µL de espermatozóides 1 mL de óvulos Stock tratamentos 5 min. 1 mL tratamento 1 mL zigotos Figura 42. Esquema ilustrado do ensaio de atividade biológica dos extratos de Dictyota menstrualis, Dictyota ciliolata e dos diterpenos pachydictyol A, dictyol E e dichotomano frente aos zigotos de Lytechinus variegatus. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 114 5.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.3.1. Atividade biológica dos extratos brutos As experiências dos efeitos dos extratos brutos hexânicos das populações de D. menstrualis (Praia do Forno, Búzios e Arquipélago de São Pedro e São Paulo) e D. ciliolata (Ilha Grande, Angra dos Reis), frente aos primeiros estágios do desenvolvimento embrionário de L. variegatus, em geral mostraram um efeito de retardo nas divisões celulares, para todos os extratos, em diferente grau de intensidade. Deve ser ressaltado que as experiências com os extratos das populações de D. menstrualis evidenciaram claros sinais de atividade antimitótica. Os resultados dos ensaios com o extrato de D. ciliolata demonstrou que existem diferenças significativas (p<0,05) dos zigotos não clivados (OF) e dos zigotos nas clivagens I, III e IV, frente aos resultados do controle, sendo as principais diferenças encontradas nas maiores concentrações (100 e 200 µg/mL). Ao assumir o sucesso do desenvolvimento embrionário ate a clivagem IV, a concentração de 200 µg/mL apresentou um efeito antimitótico de 28,5 ± 4,6 % de zigotos nesta clivagem, em comparação com a de 66,4 ± 5,5% do controle. Por outro lado, a exposição dos zigotos de L. variegatus ao extrato bruto de D. ciliolata mostrou um aumento dos zigotos anômalos de modo proporcional à concentração do extrato adicionada, entre 1,9 ± 1,4% (12,5 µg/mL) a 22,3 ± 15,3% (200 µg/mL), caracterizados por clivagens assimétricas e pela ausência de tubérculos (Figura 43). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 115 Figura 43. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o extrato bruto em hexano (0; 12,5; 25; 50; 100 e 200 µg/mL) de Dictyota ciliolata da população da Ilha Grande, Angra dos Reis. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 116 Os resultados das experiências com os extratos brutos em hexano das populações de Dictyota menstrualis mostraram que houve efeito do extrato no desenvolvimento do ouriço, em qualquer das categorias analisadas (p< 0,05). Os efeitos dos extratos da população de Búzios e do Arquipélago São Pedro e São Paulo sobre os zigotos de Lytechinus variegatus mantiveram um padrão em comum, que consistiu em um aumento proporcional de zigotos não clivados (OF) com respeito à concentração testada. Esta situação foi mais evidente na experiência com o extrato da população de Búzios que mostrou 61,1 ± 16,9% de zigotos não clivados, quando utilizado 50 µg/mL de extrato, 77,2 ± 12,2%, quando utilizado 100 µg/mL de extrato e 100,0 ± 0,0%, quando utilizado o extrato na concentração de 200 µg/mL, enquanto o controle manteve-se com 13,5 ± 2,1% de zigotos não clivados. No caso da população de São Pedro e São Paulo este comportamento foi verificado nas maiores concentrações, onde foram encontrados 50,1 ± 12,9% de zigotos não clivados, quando utilizado o extrato na concentração de 100 µg/mL e 80,9 ± 4,9% de zigotos não clivados, quando utilizados 200 µg/mL. Nesta experiência, o valor de zigotos não clivados obtido no controle foi de 30,8 ± 2,9%. Consequentemente este fenômeno foi refletido na contagem dos zigotos que atingiram a clivagem IV, evidenciando um padrão inversamente proporcional à concentração testada. Assim, para o extrato da população de Búzios, enquanto o controle apresentou 55,3 ± 11,4% de zigotos na clivagem IV, foram encontrados 30,3 ± 6,0% de zigotos nesta clivagem, quando usado o extrato na concentração de 12,5 µg/mL, 19,9 ± 5,5%, quando utilizado 25 µg/mL de extrato e quando foram utilizadas as concentrações de 50, 100 e 200 µg/mL, não foram encontrados zigotos nesta clivagem (0,0%). No caso da população do Arquipélago São Pedro Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 117 e São Paulo, o controle apresentou 56,9 ± 6,1% de zigotos na clivagem IV, enquanto foram registrados 33,7 ± 4,4% de zigotos nesta clivagem, quando utilizados 25 µg/mL de extrato, 22,4 ± 4,7% quando utilizados 50 µg/mL, 8,0 ± 3,1%, quando usados 100 µg/mL e 0,3 ± 0,6%, quando utilizados 200 µg/mL do extrato (Figura 44 e 45). Figura 44. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o extrato bruto em hexano (0; 12,5; 25; 50; 100 e 200 µg/mL) de Dictyota menstrualis da população de Búzios. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 118 Figura 45. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o extrato bruto em hexano (0; 12,5; 25; 50; 100 e 200 µg/mL) de Dictyota menstrualis da população do Arquipélago São Pedro e são Paulo. Os resultados demostram que independentemente da população, os componentes lipofílicos do extrato de D. menstrualis atuaram como um agente Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 119 citostático do tipo antimitótico, avaliado segundo o sucesso do desenvolvimento embrionário de L. variegatus ate a clivagem IV. Para comparação com os resultados de cada experiência em termos de inibição mitótica, foi aplicada a formula de Abbott (Revilla 2009) e realizado o cálculo de EC50. Os resultados demostram que o potencial antimitótico de D. ciliolata atua como um EC50 = ~ 99,9 µg/mL, enquanto o de D. menstrualis do Arquipélago de São Pedro e São Paulo apresentou um EC50 = 60,24 µg/mL, e a população de Búzios de D. menstrualis, como um EC50 = 25,45 µg/mL. Estes resultados mostram que o extrato bruto de D. menstrualis de Búzios é 2,4 vezes mais ativo que o extrato de São Pedro e São Paulo e quatro vezes mais ativo que o extrato de D. ciliolata. São poucos os estudos da atividade citotóxica antimitótica de extratos de algas pertencentes à tribo Dictyoteae. Ballesteros et al. (1992) testaram o extrato metanólico de 71 espécies de macroalgas do Mar Mediterrâneo e seus resultados mostraram que 50% dos extratos apresentaram atividade antimitótica, sendo o de D. dichotoma um dos extratos mais ativos. No entanto, sua atividade foi considerada baixa, de 1 a 25% na atividade inibitória das células de leucemia (L1210). Por outro lado, um estudo com zigotos de L. variegatus frente ao extrato metanólico de D. pulchella, mostrou diferenças significativas nos estágios II, IV e OF em comparação com o controle. Sem dúvidas, os autores não consideraram este efeito como antimitótico, pois não foram encontradas claras diferenças entre as experiências dos zigotos OF frente aos outros estágios de desenvolvimento (Díaz et al. 2006). O estudo com extratos em acetona das algas marinhas Botryocladia occidentalis, Ulva fasciata, Gracilaria lemaneiformis e Hypnea musciformis Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 120 inibiram em mais de 50% o desenvolvimento embrionário de L. variegatus na concentração de 100 µg/mL (Torres et al. 2005). Os nossos resultados mostraram que os extratos brutos de D. menstrualis são mais ativos que todos esses exemplos. D. menstrualis e D. ciliolata caracterizam-se por sintetizar diterpenos do grupo I (esqueletos do tipo guaiano prenilado) e do grupo III (esqueletos do tipo xeniano) (Cronin et al. 1995; Schmitt et al. 1998; Teixeira et al. 2001; Cavalcanti et al. 2006, 2008; Manzo et al. 2009). As diferenças encontradas na atividade das duas populações de D. menstrualis (Arquipelago São Pedro e São Paulo e Búzios) podem estar diretamente relacionadas com as diferenças na composição dos produtos naturais. Recentemente, o nosso grupo de pesquisa relatou diferenças quantitativas no perfil químico de extratos de D. menstrualis desses locais, onde os diterpenos majoritários foram o dictyol E (16) e o dichotomano (17), respectivamente (Ortiz-Ramírez et al. 2008). Para testar esta hipótese, o diterpeno pachydictyol A (1), abundante nas duas populações de D. menstrualis e em D. ciliolata, o dictyol E (16), diterpeno majoritário na população do Arquipélago São Pedro e São Paulo de D. menstrualis, e o dichotomano (17), diterpeno majoritário na população de Búzios, tiveram avaliados os seus efeitos sobre os zigotos de L. variegatus. 5.3.2. Atividade biológica dos diterpenos majoritários Depois de isolar os diferentes metabolitos secundários do tipo diterpeno e obter os correspondentes espectros RMN 1 H os dados espectrais foram comparados com dados descritos na literatura e mostraram ser compatíveis para cada um dos compostos: pachydictyol A (Tabela 14), dictyol E (Tabela 15) e dichotomano (Tabela 16). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 121 Tabela 14. Comparação dos dados espectroscópicos do pachydictyol A (1) obtidos por RMN 1H (300 MHz, CDCl3) com dados apresentados na literatura. n° Carbono Pachydictyol A (presente estudo) Pachydictyol A (Gedara et al. 2003) Pachydictyol A (Ayyad et al. 2011) δ 1H (n° de hidrogênios, multiplicidade, J em Hz) 1 2 3 6 14 16 2,6 (1H, m) 2,2 – 2,3 (2H, m) 5,31-5,34 (1H, m) 3,92 (1H, d, 7,41) 5,09-5,15 (1H, m) 1,68 (3H, d, 1,1) 1,8 (3H, qt, 1,47; 1,47; 1,47; 2,8) 2,6 (1H, m) 2,2-2,4 (2H, m) 5,2 (1H, sl) 3,8 (1H, d, 7) 5,02 (1H, br.t, 7) 1,61 (3H, s) 18 4,73-4,75 (2H, m) 4,6 (2H, br) 19 20 0,99 (3H, d, 6,12) 1,61 (3H, d, 0,7) 0,94 (3H, d, 6,0) 1,54 (3H, s) 17 1,75 (3H, sl) 5,33 (1H, sl) 3,92 (1H, m) 5,12 (1H, tl, 7,1) 1,68 (3H, d, 0,9) 1,80 (3H, td, 2,0 e 1,2) 4,74 (1H, sl) 4,75 (1H, sl) 0,96 (3H, d, 6,0) 1,60 (3H, s) Tabela 15. Comparação dos dados espectroscópicos do dictyol E (16) obtidos por RMN 1 H (300 MHz, CDCl3) com dados apresentados na literatura. n° Carbono Dictyol E (presente estudo) Dictyol E (Gedara et al. 2003) Dictyol E (Viano 2010) δ 1H (n° de hidrogênios, multiplicidade, J em Hz) 1 2,6 (1H, m) 2,56 (1H, m) 2 2,3-2,5 (2H, m) 2,2-2,46 (2H, m) 3 5 5,34 (1H, sl) 5,3 (1H, s) 2,35 (1H, m) 6 4,20 (1H, dd, 7,8; 2,2) 4,15 (1H, dl, 6,8) 12 1,75 (2H, m) 1,7-1,74 (2H, m) 13 1,9-2,0 (2H, m) 1,95-2,04 (2H, m) 14 5,13-5,18 (1H, m) 5,13 (1H, brt, 6,8) 16 17 1,69 (3H, s) 1,76 (3H, sl) 4,76 (1H, sl) 4,78 (1H, sl) 1,24 (3H, s) 1,62 (3H, sl) 1,68 (3H, s) 1,78 (3H, sl) 4,72 (1H, s) 4,74 (1H, s) 1,19 (3H, s) 1,6 (3H, s) 18 19 20 2,58 (1H, brq, 9,0) 2,2 (1H, dd, 15,0 e 8,0) 2,5 (1H, ddq, 15,0; 9,0; 2,5) 5,33 (1H, s) 2,37 (1H, brt, 8,5) 4,19 (1H, dd, 8,0; 2,5) 1,72 (2H, m) 2,01 (1H, dd, 15,0; 7,5) 2,1 (1H, dd, 15,0; 6,0) 5,14 (1H, dd, 7,0; 5,5) 1,68 (3H, s) 1,81 (3H, s) 4,75 (1H, s) 4,77 (1H, s) 1,23 (3H, s) 1,61 (3H, s) Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 122 Tabela 16. Comparação dos dados espectroscópicos do dichotomano (17) obtidos por RMN 1H (300 MHz, CDCl3) com dados apresentados na literatura. n° Carbono Dichotomano (presente estudo) Dichotomano (Cavalcanti 2004) δ 1H (n° de hidrogênios, multiplicidade, J em Hz) 3 4 6 7 8 9 10 12 13 15 16 17 18 19 20 7,07 (1H, t, 3,73) 2,43 (2H, d, 3,72) 1,19 (1H, d, 4,96) 1,35 (1H, m) 1,24 (1H, d, 5,4) 1,75 (1H, d, 4,5) 2,38 (1H, d, 3,2) 3,60 (1H, s) 1,90 (1H, q, 7,4; 7,09) 2,01 (2H, dd, 7,65; 15,3) 5,11 (1H, t, 6,96) 1,61 (3H, s) 9,70 (1H, s) 9,40 (1H, s) 1,07 (3H, s) 0,47 (3H, d, 6,7) 1,69 (3H, s) 7,06 (1H, t, 3,6) 2,42 (2H, d, 3,6) 1,21 (1H, m) 1,38 (1H, m) 1,26 (1H, m) 1,69 (1H, m) 2,36 (1H, dl, 3,3) 3,58 (1H, s) 1,88 (1H, ql, 7,2) 2,00 (2H, q, 7,8) 5,09 (1H, dt, 7,2; 1,5) 1,59 (3H, s) 9,70 (1H, s) 9,40 (1H, s) 1,05 (3H, s) 0,47 (3H, d, 6,6) 1,67 (3H, d, 1,5) Os resultados dos efeitos do pachydictyol A (1) e do dictyol E (16) sobre os primeiros estágios do desenvolvimento embrionário de Lytechinus variegatus mostraram um mesmo padrão onde somente foram encontradas diferenças (p<0,05) na maior das concentrações (100 µg/mL) para cada caso, a proporção dos zigotos que atingiram a clivagem IV nesta concentração no tratamento com o pachydictyol A foi 32,9 ± 18,4% frente a 48,5 ± 6,3% do controle, no tratamento com o dictyol E a proporção foi 23,5 ± 20,5% frente a 60,5 ± 4,9% do controle. Os resultados obtidos nestas experiências não são suficientemente robustos para atribuir um efeito antimitótico a estes diterpenos ambos do tipo guaiano prenilado (Figura 46 e 47). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 123 Figura 46. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o diterpeno pachydictyol A (0; 6,25; 12,5; 25; 50 e 100 µg/mL). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 124 Figura 47. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o diterpeno dictyol E (0; 6,25; 12,5; 25; 50 e 100 µg/mL). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 125 Por outro lado, os resultados do tratamento com o diterpeno dichotomano (17) mostraram diferenças (p< 0,05) de todos os estágios de desenvolvimento em todas as concentrações frente ao seu controle, tendo como padrão que o aumento da concentração diminuía o sucesso de desenvolvimento ate apresentar uma inibição total a partir da concentração 25 µg/mL (Figura 48). Figura 48. Media e desvio padrão da porcentagem dos zigotos de Lytechinus variegatus nos diferentes estágios do desenvolvimento embrionário: OF) ovos não clivados; I-IV) primeira, segunda, terceira e quarta clivagem e A) zigotos anômalos, nas experiências com o diterpeno dichotomano (0; 6,25; 12,5; 25; 50 e 100 µg/mL). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 126 O EC50 para o sucesso do desenvolvimento até a clivagem IV dos zigotos expostos ao pachydictyol A e ao dictyol E foi 97,64 µg/mL e 96,26 µg/mL, respectivamente. Estes valores tão próximos demonstraram que a semelhança estrutural do esqueleto destas substâncias e não a presença da hidroxila em C-11 no dictyol E, foi mais importante para a relação estrutura-atividade. Cabe ressaltar que os valores de EC50 para estes dois diterpenos foram próximos à maior concentração testada neste trabalho. Para aprimorar estes dados seria necessário realizar uma experiência dose – resposta onde seja considerada 100 µg/mL como a menor concentração. O diterpeno dichotomano atuou como um agente antimitótico tão efetivo que não foi possível determinar o EC50, visto que este diterpeno inibiu em 100% o sucesso de desenvolvimento dos zigotos até a clivagem IV em todas as concentrações testadas. Segundo os resultados é recomendável realizar experiências dose – resposta onde seja considerada 6,25 µg/mL como a maior concentração. Observações detalhadas no microscópio revelaram que o dichotomano atuou na estabilização da tubulina (Figura 54) e apresenta um efeito similar ao da droga Paclitaxel (10 µM) também testada em zigotos de ouriço-do-mar (Semenova et al. 2006). Esta droga atualmente é comercializada sob o nome Taxol® e é usada nos tratamento de câncer de mama. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 127 Figura 49. Imagens microscópicas dos zigotos de Lytechinus variegatus. A) ovo fecundado normal sem tratamento com dichotomano. B) zigoto normal na clivagem IV sem tratamento com dichotomano. C) zigoto tratado com o dichotomano. As setas indicam os pontos claros citoplasmáticos correspondentes ao indicativo da estabilização do aparato mitótico. A media do diâmetro dos zigotos foi 110 µm. Por outro lado, um recente estudo demonstra que a citotoxicidade do dichotomano na linhagem celular PM-1 foi >200 µM considerado este valor como baixa toxicidade (Pereira et al. 2004). Os nossos resultados mostram o grande potencial antimitótico de este diterpeno que inclusive inibiu em 100% na menor das concentrações o que corresponde a 0,02 µM. Esses resultados indicam que o dichotomano isolado de D. menstrualis, é um bom candidato para futuros testes para avaliar o potencial antitumoral. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 5 128 5.4. CONCLUSÃO A atividade antimitótica dos extratos hexânicos de D. ciliolata (Ilha Grande, Angra dos Reis) apresenta um EC50 em torno de 99,9 µg/mL, enquanto o extrato de D. menstrualis do Arquipélago de São Pedro e São Paulo apresenta um EC50 igual a 60,24 µg/mL, e a população de D. menstrualis de Búzios, um EC50 = 25,45 µg/mL. Estes resultados mostram que o extrato bruto de D. menstrualis de Búzios é 2,4 vezes mais ativo que o extrato de São Pedro e São Paulo e quatro vezes mais ativo que o extrato de D. ciliolata. Os diterpenos pachydictyol A e dictyol E não mostram ser agentes antimitóticos significativos. No entanto, o dichotomano inibe até em 100% o sucesso do desenvolvimento embrionário até a clivagem IV de L. variegatus. Esse diterpeno mostra evidências de ser um potencial antitumoral que pode atuar na estabilização da tubulina. Estes resultados sugerem que este diterpeno possa ser considerado um recurso na luta contra o câncer e que seja alvo de mais estudos para o entendimento do seu mecanismo de ação. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 129 CAPÍTULO 6. EFEITOS DOS PRODUTOS NATURAIS DE Dictyota menstrualis E D. ciliolata SOBRE A AGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA E COAGULAÇÃO SANGUÍNEA Resumo: Este capítulo apresenta os efeitos de extratos de diferentes populações das algas pardas D. menstrualis e D. ciliolata na agregação plaquetária e coagulação sanguínea. Os resultados revelam que a espécie, o local de coleta e o solvente orgânico utilizado no processo de extração têm um perfil inibitório diferenciado, onde destaca-se que o extrato hexânico de D. menstrualis da população de Búzios, sendo o mais expressivo como agente antiplaquetário, enquanto o extrato em acetato de etila foi o mais eficiente como anticoagulante. Esta experiência em bioprospecção mostra o potencial biotecnológico dos produtos naturais isolados de algas do gênero Dictyota da costa brasileira, podendo servir de alvo para estudos de desenvolvimento de drogas antitrombóticas. Publicação produzida a partir deste capítulo: LA, Moura; Ortiz-Ramírez, FA; Cavalcanti, DN; Ribeiro, SM; Muricy G; Teixeira, VL & Fuly, AL. (2011). Evaluation of Marine Brown Algae and Sponges from Brazil as Anticoagulant and Antiplatelet Products. Marine Drugs. 9: 1346-1358. . Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 130 6.1. INTRODUÇÃO A hemostasia é um mecanismo fisiológico comum a todos os vertebrados que garante o equilíbrio dinâmico da forma fluida do sangue. Esse processo envolve a agregação plaquetária e a coagulação sanguínea. A coagulação apresenta as fases de início e a de potencialização, as quais levam à geração da trombina, enzima responsável pela formação de uma rede de fibras conhecida como fibrina, resultando na formação de um coagulo que impede os processos hemorrágicos. Finalmente, ocorre o processo conhecido como fibrinólise, que atua na dissolução completa ou parcial do coagulo, promovendo a hemostasia que mantém o equilíbrio do fluido do sangue (Esmon 2000; Allford & Machin 2004; Rosenberg 2011). Quando o processo de coagulação não é revertido adequadamente, ou se acontecer de forma patológica, diferentes distúrbios vasculares podem ocorrer, levando a patologias como trombose, distúrbios cardiovasculares, embolia pulmonar e acidentes isquêmicos (Austin 2009). De fato, esses problemas contribuem na mobilidade e mortalidade de milhões de pessoas no mundo, e são considerados como um problema de saúde publica (Agnelli 2005). Hoje em dia, esses problemas são considerados como a maior causa de morte de pessoas, inclusive com maior número de óbitos que aqueles causados pelos diferentes tipos de câncer (Sattari & Lowenthal 2011). Nos dias de hoje, a heparina é o principal polissacarídeo usado como droga anticoagulante, usada na prevenção e no tratamento das desordens hemostáticas. Sua atividade anticoagulante é atribuída ao seu complexo padrão de grupamentos sulfato (Bournin & Lindahl 1993). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 131 Apesar das terapias pela heparina e seus derivados de baixo peso molecular apresentar muitos benefícios, possuem muitas limitações clínicas, incluindo eficácia insatisfatória, risco significativo de efeitos colaterais como hemorragias, plaquetopenia e osteoporose, risco de resistência ou intolerância, além da necessidade de constante de monitoramento e da administração via parenteral. Outro problema, comum a todas as moléculas de origem animal, as quais são extraídas de pulmões e intestino de bovinos e suínos, é o alto risco de transmissão de doenças relacionadas a príons (Agnelli 2005; Nutesco et al. 2005). Uma vez que as terapias atualmente disponíveis se apresentam insuficientemente eficazes e seguras no controle efetivo dos distúrbios vasculares, o desenvolvimento de novos agentes antitrombóticos se torna relevante (Nutesco et al. 2005). Atualmente, os produtos naturais bioativos são catalogados como bons candidatos para tais fins (Usami 2009; Güven et al. 2010; Costello et al. 2010) e das algas marinhas têm sido isolados um grande número de polissacarídeos sulfatados com atividade antitrombótica (Melo et al. 2004; Mourão 2004; De Azebedo et al. 2008; Melo & Mourão 2008) Dentre as algas pardas, os extratos de Canistrocarpus cervicornis, Stypopodium zonale e Dictyota pfaffii foram capazes de inibir a atividade coagulante e a hemólise, ambos provocados pelo veneno da lagarta Lonomia obliqua em ensaios in vitro (Domingos et al. 2009). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 132 Buscando contribuir na área da bioprospecção, o presente capítulo visa avaliar com ensaios biológicos in vitro, o efeito de diferentes extratos orgânicos de duas populações de D. menstrualis (Praia Rasa, Búzios e Arquipélago São Pedro e São Paulo) e de D. ciliolata (Ilha Grande, Angra dos Reis) sobre a agregação plaquetária e a coagulação sanguínea. Para tal, temos como objetivos específicos: A realização de uma triagem com os diferentes extratos das algas na capacidade de inibir a agregação plaquetária e a coagulação sanguínea. A identificação dos extratos mais ativos como antiplaquetários e anticoagulantes. . Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 133 6.2. MATERIAL E MÉTODOS Este capítulo foi realizado em cooperação com Laura de Andrade Moura durante seu mestrado em Biologia Marinha, sendo a parte experimental realizada no Laboratório de Venenos e Toxinas e Avaliacao de Inibidores (LAVENOTOX), sob a coordenação do Dr. André Lopes Fuly, do Departamento de Biologia Celular e Moleuclar, do nosso Instituto de Biologia. 6.2.1. Coleta do material algáceo e obtenção dos extratos Amostras da alga marinha parda Dictyota menstrualis foram coletados no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em abril de 2008, a profundidades entre 5 e 15 metros mediante mergulho autônomo. Outras amostras de D. menstrualis foram coletados a uma profundidade de aproximadamente 2 metros, mediante mergulho livre, na Praia do Forno e na Praia Rasa, Armação de Búzios – RJ, no mês de julho de 2008. Amostras da alga marinha parda Dictyota ciliolata foram coletados na Praia Vermelha, Ilha Grande – RJ, em novembro de 2008, a profundidades entre 1 e 4 metros, mediante mergulho livre. As exsicatas das algas utilizadas no presente estudo estão depositadas no Herbário da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HBRJ). O material procedente das diferentes áreas de coleta foi separado de epífitas e fauna acompanhante, e seco a temperatura ambiente em laboratório. Após a secagem, o material biológico foi pesado em balança analítica e submetido à Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 134 extração exaustiva com os solventes hexano e acetato de etila, de modo seqüencial, durante três semanas em solvente. As amostras de D. menstrualis coletados na Praia Rasa foram extraídas em diclorometano. Após filtração e evaporação do solvente, os extratos foram armazenados sob refrigeração. Posteriormente, os diferentes extratos das algas marinhas pardas foram dissolvidos em DMSO para a realização dos ensaios biológicos. O material foi mantido armazenado a 4ºC e sob o abrigo da luz durante a realização do trabalho. Os extratos das algas marinhas pardas avaliadas neste trabalho estão relacionados na Tabela 14 de acordo com a espécie, o solvente utilizado no preparo do extrato, o local da coleta da alga e o código utilizado na descrição dos resultados. Tabela 17. Relação das espécies estudadas, tipo de solvente utilizado para extração, local de coleta das algas pardas e sua respectiva codificação. Espécie Solvente Dictyota menstrualis Hexano Dictyota menstrualis Hexano Dictyota menstrualis Acetato de Etila Dictyota menstrualis Acetato de Etila Dictyota menstrualis Diclorometano Dictyota ciliolata Hexano Dictyota ciliolata Acetato de Etila Local da coleta (Praia do Forno) Armação de Búzios – RJ 22o45’S e 41o52’O Arquipélago de São Pedro e São Paulo – RN 00o55’N e 29o21’O (Praia do Forno) Armação de Búzios – RJ 22o45’S e 41o52’O Arquipélago de São Pedro e São Paulo – RN 00o55’N e 29o21’O (Praia Rasa) Armação de Búzios – RJ 22º45’S e 41º52’O (Praia Vermelha, Ilha Grande) Angra dos Reis – RJ 23o00’S e 44o19’O (Praia Vermelha, Ilha Grande) Angra dos Reis – RJ 23o00’S e 44o19’O Código Dm-H-PF Dm-H-SP Dm-AC-PF Dm-AC-SP Dm-DC Dc-H Dc-AC Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 135 6.2.2. Ensaios em plaquetas A agregação plaquetária foi realizada em um Agregômetro Plaquetário (modelo 490 2D - Chrono-log Corporation), com a utilização do software AggroLink, e monitorada turbidimetricamente de acordo com a metodologia de Carlini et al. (1985) e Fuly et al. (1997;2002), com algumas modificações. O sangue de doadores sadios foi coletado através de punção venosa utilizando-se como anticoagulante citrato de sódio 3,8% p/v (1:9, citrato:sangue). Em seguida, o sangue foi centrifugado a 1.800 rpm por 12 minutos à temperatura ambiente para obtenção do Plasma Rico em Plaquetas (PRP). O Plasma Pobre em Plaquetas (PPP) foi obtido através da centrifugação do sangue restante a 2.500 rpm por 12 minutos. Os doadores declararam não estar fazendo uso de nenhum medicamento que poderia alterar os resultados obtidos nos ensaios biológicos realizados. Para a obtenção de plaquetas lavadas (WP – “Washed Platelets”), o sangue foi coletado em 5 mM EDTA (concentração final) e centrifugado a 1.800 rpm por 12 minutos. O PRP obtido foi novamente centrifugado a 3.500 rpm por 15 minutos e o “pellet” de plaquetas formado (precipitado) foi ressuspenso em tampão Tyrode (0,137 M NaCl, 2 mM KCl, 11 mM NaHCO3, 0,4 mM NaH2PO4, 5,5 mM glicose, 0,35 % p/v albumina bovina), pH 6,5 acrescido de 0,1 mM EGTA e 1 mM MgCl2. O mesmo procedimento foi realizado para “lavar” as plaquetas por mais duas vezes com o mesmo tampão, até que o “pellet” final fora ressuspenso em um volume de Tyrode (sem EGTA e MgCl2), pH 7,5 equivalente a 75 % do volume de PPP obtido na primeira centrifugação. Assim, as plaquetas lavadas (WP) foram obtidas em uma concentração aproximada de 3-4 X 105 plaquetas/mL. Tanto o PRP como o WP foram mantidos em tubos plásticos a temperatura ambiente até a realização Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 136 das experiências. Os ensaios foram realizados utilizando-se 300 µL de PRP ou WP (acrescido de CaCl2 2 mM, concentração final) mantidos a 37ºC por 2 minutos em cubetas de vidro siliconizadas sob agitação constante. Em seguida, a agregação plaquetária foi iniciada pela adição de agonistas fisiológicos, como o colágeno (16 µg/mL ou 24 µg/mL, concentração final), ADP (15 µM, concentração final) ou trombina (10 nM, concentração final). 100% de agregação plaquetária foi obtida como a resposta plaquetária a concentração supra-máxima do agonista após 6 minutos de reação e 0 % de agregação plaquetária foi obtida pela transmitância causada pelo PRP ou WP sozinho. Para avaliar o efeito das algas sobre a agregação plaquetária, os extratos foram pré-incubados com PRP ou WP por 2 minutos a 37ºC, sob constante agitação. Em seguida, o agonista foi adicionado e a agregação plaquetária monitorada. Controles foram realizados na qual, ao invés dos extratos, salina ou DMSO foi adicionado às plaquetas e o mesmo procedimento realizado como descrito anteriormente. 6.2.3. Ensaios na coagulação Os ensaios sobre a coagulação sanguínea foram realizados em um Coagulômetro Multicanal (Amelung, modelo KC4A micro) e em um Leitor de Microplacas (Molecular Devices, modelo VersaMax Tunable), com o software SoftMax Pro 5. O “pool” de plasma humano utilizado nos ensaios foi obtido de doadores Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 137 voluntários sadios – no mínimo três doadores diferentes para cada “pool” utilizado. O sangue foi coletado por punção venosa e em seguida foi adicionado citrato 3,8% p/v (1:9, citrato:sangue) e centrifugado a 2200 rpm por 10 minutos à temperatura ambiente para posterior retirada do plasma. Os doadores declararam não estar utilizando medicamentos que pudessem interferir nos resultados dos ensaios biológicos realizados. 6.2.4. Ensaio de recalcificação do plasma 200 µL de plasma diluídos 1:2 em salina foram incubados a 37ºC por 10 minutos e em seguida CaCl2 (12,5 mM, concentração final) foi adicionado ao meio reacional e o tempo de coagulação monitorado no coagulômetro. O efeito das algas sobre o tempo de recalcificação do plasma foi avaliado através da pré-incubação dos extratos com o plasma por 10 minutos a 37ºC. Em seguida, CaCl2 foi adicionado e o tempo de coagulação registrado foi comparado com àquele obtido na ausência dos extratos. Em paralelo, salina ou DMSO foi pré-incubado com o plasma, e similarmente CaCl2 fora adicionado para iniciar a reação. 6.2.5. Ensaio de Tempo de Protrombina (TP) Neste ensaio foi utilizado o kit Soluplastin (Wiener Lab) seguindo-se as instruções do fabricante. 50 µL de “pool” de plasma diluídos 1:2 em salina foram incubados à 37oC por 5 minutos e, em seguida, a reação foi iniciada pela adição de 100 µL da tromboplastina cálcica (previamente aquecida à 37oC). O tempo de coagulação, em segundos, foi observado no coagulômetro e comparado com Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 138 àquele obtido na presença dos extratos das algas. 6.2.6. Ensaio de Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA) Neste ensaio foi utilizado o kit APTTest ellágico (Wiener Lab) seguindo-se as instruções do fabricante. 100 µL de “pool” de plasma foram pré-incubados por 5 minutos a 37ºC juntamente com 100 µL da cefalina ativada fornecida no kit, na ausência ou presença dos extratos. A reação foi iniciada pela adição de 100 µL de cloreto de cálcio (CaCl2, 25 mM concentração final, previamente aquecido a 37 oC) e o tempo de coagulação monitorado. Similarmente, DMSO ou salina foi adicionado ao meio reacional, como controle, ao invés dos extratos de algas. 6.2.7. Fibrinocoagulação 200 µL de uma solução de fibrinogênio (2 mg/mL, concentração final) foram pré-incubados com os extratos de algas durante 10 minutos à 37 oC. Em seguida, trombina (10 nM, concentração final) foi adicionada ao meio reacional para iniciar a coagulação. O tempo para a formação da rede de fibrina foi monitorado em um coagulômetro, em segundos, e comparado com àquele obtido na ausência dos extratos, na qual DMSO ou salina foi pré-incubado com o fibrinogênio. 6.2.8. Ensaio sobre substratos cromogênicos Os substratos cromogênicos S-2238 (H-D-Phe-Pip-Arg-pNA·2HCl) e S-2302 (H-D-Pro-Phe-Arg-pNA·2HCl) da Chromogenix foram utilizados para determinar o efeito dos extratos das algas sobre a atividade catalítica da trombina. Os extratos foram pré-incubados com trombina (0,05 – 0,1 mM, concentração final) por 10 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 139 minutos a 37ºC, e em seguida a reação foi iniciada através da adição dos substratos cromogênicos (0,1 mM, concentração final) em um volume final de 100 µL. A cinética da atividade enzimática da trombina sobre cada substrato foi monitorada em um leitor de microplacas em A405 nm durante 20 minutos a 37ºC. Como controle, a trombina foi pré-incubada com DMSO ou salina, e os substratos cromogênicos foram adicionados em seguida. 6.2.8. Análise estatística Os resultados foram expressos em média ± erro padrão da média (SEM) de um número indicado de experiências realizadas. Os resultados obtidos foram analisados através do teste t de Student, utilizando-se o programa Microcal Origin. Valores de p<0,05 foram considerados significativos. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 140 6.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.3.1. Efeitos dos extratos sobre a agregação plaquetária O efeito dos extratos de algas sobre a agregação plaquetária em PRP induzida por colágeno e ADP foi investigado (Figura 50). Como observado, a maioria dos extratos de algas não foi capaz de inibir a agregação induzida pelo colágeno ou ADP em PRP. Entretanto, o extrato hexânico da alga D. ciliolata (DcH) inibiu a agregação plaquetária induzida pelo ADP em cerca de 20%, mas não pelo colágeno. Os extratos de algas sozinhos não induziram a agregação plaquetária em PRP e nem interferiram na mudança de forma das plaquetas (dados não mostrados). O DMSO solvente dos extratos utilizado durante as experiências, na concentração utilizada (1% v/v, concentração final) não induziu a agregação plaquetária e não interferiu na agregação induzida pelo colágeno e pelo ADP (dados não mostrados). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 141 Figura 50. Efeito dos extratos de algas sobre a agregação plaquetária em Plasma Rico em Plaquetas (PRP). Alíquotas dos extratos de algas (50 µg/mL) ou DMSO (1% v/v, concentração final) foram pré-incubadas por 2 minutos a 37ºC com 300 µL de PRP. Em seguida, 16 µg/mL de colágeno (A) ou 15 µM de ADP (B) foram adicionados para iniciar a agregação plaquetária. 100% de agregação plaquetária foi definido como a altura, em milímetros, da agregação na presença do DMSO após 6 minutos da adição dos agonistas. Os resultados expressam a média de três experiências individuais (n = 2) ± SEM. (*) Diferença significativa (p<0,05) em relação à agregação plaquetária obtida no controle com DMSO (primeira coluna). A figura 51 mostra os registros típicos (traçados) da agregação plaquetária induzida por trombina e colágeno (Figura 51A). O extrato hexânico da alga D. ciliolata (DcH) inibiu cerca de 85 % a agregação plaquetária induzida por trombina (Figura 51B), e o DMSO não interferiu na agregação plaquetária induzida por ambos agonistas (dados não mostrados). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 142 A B Figura 51. Registros típicos da agregação plaquetária em plaquetas lavadas (WP) A: Registro típico da agregação plaquetária induzida por 24 µg/mL colágeno (registro preto) e por 10 nM trombina (registro azul). B: 300 µL de WP foram pré-incubados a 37ºC sob agitação constante por 2 minutos na presença do extrato da alga D. ciliolata (Dc-H 50 µg/mL, registro azul) ou DMSO, registro preto. Em seguida, trombina (10 nM) foi adicionada para iniciar a agregação plaquetária e o processo monitorado até 6 minutos. As setas indicam a adição dos agonistas. A Figura 52 mostra o efeito dos extratos das algas sobre a agregação plaquetária em WP. Podemos observar que os extratos hexânicos de Búzios e os diclorometânicos de D. menstrualis (DmHPF e DmDc, respectivamente), além do extrato hexânico de D. ciliolata (DcH), inibiram a agregação plaquetária induzida pela trombina e pelo colágeno, enquanto o extrato em acetato de etila de D. ciliolata (DcAC) inibiu apenas a agregação induzida pelo colágeno. . Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 143 B A Colágeno Trombina 100 * * 80 * Agregação Plaquetária (%) 60 40 * 20 * 80 * 60 * 40 20 Dc H Dc AC AC H Dc Dc S Dm O HP Dm F H Dm SP AC PF Dm DC DM S Dm O HP Dm F H Dm SP AC PF Dm DC 0 0 DM Agregação Plaquetária (%) 100 Figura 52. Efeitos dos extratos das algas sobre a agregação plaquetária em Plaquetas lavadas (WP). Alíquotas dos extratos de algas (50 µg/mL) ou DMSO (1% v/v, concentração final) foram pré-incubadas por 2 minutos com 300 µL de WP. Em seguida, 10 nM de trombina (A) ou 24 µg/mL de colágeno (B) foram adicionados para iniciar a agregação plaquetária. 100% de agregação plaquetária foi definido como a altura, em milímetros, obtida pela curva de agregação do WP na presença do DMSO após 6 minutos de agregação. Os resultados expressam a média de três experiências individuais (n = 2) ± SEM. (*) Diferença significativa (p<0,05) em relação à agregação plaquetária obtida no controle com DMSO (primeira coluna). Os dados de agregação plaquetária em PRP e WP dos diferentes extratos de D. menstrualis e D. ciliolata mostrado nos gráficos anteriores foram expressos em perfil inibitório relacionados na Tabela 18. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 144 Tabela 18. Perfil inibitório dos extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata sobre a agregação plaquetária. Amostra Inibição em PRP (%) Inibição em WP (%) Colágeno ADP Trombina Colágeno Dm-H-PF 9,0 6,0 29 13,4 Dm-H-SP 4,4 14,5 0,0 5,4 Dm-AC-PF 9,5 0,8 3,0 15,4 Dm-AC-SP 11,8 15,8 n.d. n.d. Dm-DC 10,2 18,3 26,7 13,7 Dc-H 2,6 24,5 84,5 63,0 Dc-AC 2,7 11,5 13,4 29,0 6.3.2. Efeito dos extratos sobre a coagulação sanguínea Para avaliar o efeito dos extratos das algas sobre a coagulação sanguínea e determinar quais seriam os possíveis mecanismos de ação foram realizados quatro diferentes ensaios biológicos utilizando-se um coagulômetro digital: 1) Recalcificação do plasma, 2) TP, 3) TTPA e 4) Fibrinocoagulação (Tabela 19). Como pode ser observado na Tabela 16, nenhum dos extratos de D. menstrualis ou D. ciliolata foi capaz de prolongar o tempo de recalcificação do plasma, porém, todos prolongaram o tempo de coagulação do fibrinogênio induzida por trombina em cerca de 2 a 2,5 vezes. Além disto, o extrato em acetato de etila de D. ciliolata (Dc-AC) também retardou o tempo de protrombina e o tempo de tromboplastina parcial ativada, enquanto o extrato em acetato de etila de D. menstrualis de Búzios (Dm-AC-PF) prolongou apenas o tempo de protrombina. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 145 Tabela 19. Efeito dos diferentes extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata sobre o tempo de coagulação. 1) Recalcificação do plasma: As amostras de algas (50 µg/mL) ou o DMSO (1% v/v) foram pré-incubados com 200 µL de plasma por 10 minutos a 37ºC antes da adição de CaCl2 (12,5 mM). 2) Tempo de Protrombina (TP): Cada amostra de alga (100 µg/mL) ou o DMSO (2% v/v) foram pré-incubados por 5 minutos a 37ºC com 50 µL de plasma e em seguida 100 µL de tromboplastina cálcica foi adicionada. 3) Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA): As amostras de algas (100 µL/mL) ou o DMSO (2% v/v) foram pré-incubadas com 100 µL de plasma e 100 µL de cefalina por 5 minutos a 37ºC e em seguida CaCl2 (8,3 mM) foi adicionado. 4) Fibrinocoagulação: Cada amostra de alga (100 µg/mL) ou o DMSO (2% v/v) foi préincubado por 10 minutos a 37ºC com 200 µL de fibrinogênio (2 mg/mL) antes da adição de trombina (10 nM). Os resultados expressam a média de duas experiências individuais (n = 4) ± SEM. Os resultados estão expressos em segundos. (*) Diferença significativa (p<0,05) em relação ao tempo de coagulação obtido no controle com DMSO. Amostra Recalcificação TP TTPA Fibrinogênio Salina 122,8 ± 16,2 21,7 ± 0,3 32,1 ± 1,2 26,4 ± 0,5 DMSO 149,7 ± 3,9 25,6 ± 0,2 38,8 ± 0,8 34,1 ± 1,4 Dm-H-PF 158,3 ± 11,0 24,5 ± 0,2 38,7 ± 2,0 46,8 ± 1,3 * Dm-H-SP 156,0 ± 8,8 25,1 ± 0,4 39,3 ± 1,3 47,3 ± 1,6 * Dm-AC-PF 172,3 ± 13,8 27,2 ± 0,6 * 40,5 ± 1,1 86,4 ± 2,6 * Dm-AC-SP 155,6 ± 3,2 24,7 ± 1,0 39,0 ± 0,7 65,3 ± 3,5 * Dm-DC 171,6 ± 14,7 23,3 ± 0,2 40,2 ± 0,5 66,7 ± 0,8 * Dc-H 177,4 ± 13,6 27,3 ± 0,2 38,7 ± 2,4 42,7 ± 0,9 * Dc-AC 166,0 ± 4,0 28,9 ± 0,2 * 46,0 ± 2,5 * 78,4 ± 11,0 * 6.3.3. Efeitos dos extratos sobre substratos cromogênicos Além da atividade biológica da trombina em clivar o fibrinogênio, observada no ensaio de tempo de coagulação do fibrinogênio (fibrinocoagulação), sua atividade catalítica pode ser mensurada através da utilização de substratos cromogênicos. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 146 Neste trabalho, foram utilizados os substratos S-2238 e S-2302, que são específicos para a trombina e para os fatores XIa e XIIa da coagulação, respectivamente. A hidrólise dos substratos cromogênicos leva a liberação de p-nitroanilina (pNA), gerando uma mudança de cor no meio reacional. Isto promove uma absorção em A 405nm diretamente proporcional a atividade enzimática da trombina ou outra enzima do sistema de coagulação. A Figura 53 ilustra o efeito dos diferentes extratos das algas sobre a cinética de clivagem dos substratos S-2238 e S-2302 pela trombina. Como observado, a trombina é capaz de hidrolisar ambos os substratos de maneira tempodependente, sendo que a partir de cerca de 100 segundos a velocidade da reação sobre o S-2238 é zero (V0). Diferentemente, a hidrólise do S-2302 pela trombina aumenta linearmente com o tempo de reação. Os extratos de D. menstrualis e D. ciliolata não foram capazes de hidrolisar os substratos avaliados, bem como o DMSO não interferiu na atividade enzimática da trombina (dados não mostrados). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 147 A S-2238 0,32 Salina DMSO DmHPF DmHSP DmACPF DmACSP DmDC DcH DcAC 0,28 A405 0,24 0,20 0,16 0,12 0,08 0,04 0 50 100 150 200 250 300 Tempo (s) B S-2302 0,8 Salina DMSO Dm-H-PF Dm-H-SP Dm-AC-PF Dm-AC-SP Dm-DC Dc-H Dc-AC 0,7 0,6 A405 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0 200 400 600 800 1000 1200 Tempo (s) Figura 53. Efeito dos diferentes extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata sobre a cinética da hidrólise dos substratos cromogênicos. Os extratos de algas (100 µg/mL) ou o DMSO (2% v/v) foram pré-incubados com trombina (0,05 - 0,1 mM) por 10 minutos a 37ºC e em seguida 0,1 mM dos substratos S2238 (A) e S-2302 (B) foram adicionados para iniciar a reação. A cinética da reação foi monitorada em A 405 nm a 37ºC por 300 - 1200 segundos. Os resultados expressam a média de duas experiências individuais (n = 2). Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 148 A leitura de 0,2 em A405 nm obtida durante a hidrólise do S-2238 e do S-2302 aos 30 segundos e 300 segundos de reação, respectivamente, foi designada de concentração efetiva (CE) e considerada como 100 % da atividade enzimática da trombina. A potência do efeito inibitório do extrato das algas sobre a hidrólise do S-2238 e do S-2302 pela trombina foi avaliada neste parâmetro. (Figura 54). A B S-2238 S-2302 100 100 * 80 * 40 20 0 * 80 * * * 60 * * 40 20 * DM Dm SO -H Dm PF -H Dm -SP -A C Dm -PF -A CSP Dm -D C Dc -H Dc -A C 0 DM Dm SO -H Dm PF -H Dm -SP -A C Dm -PF -A CSP Dm -D C Dc -H Dc -A C 60 Atividade da Trombina (%) Atividade da Trombina (%) * Figura 54. Efeito dos diferentes extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata sobre a atividade catalítica da trombina sobre os substratos cromogênicos. Os extratos de algas (100 µg/mL) ou o DMSO (2% v/v) foram pré-incubados com trombina (0,05 – 0,1 mM) por 10 minutos, a 37ºC. Em seguida, 0,1 mM dos substratos S2238 (A) e S-2302 (B) foram adicionados para iniciar a reação. O total (100%) da atividade enzimática foi definido para a leitura, em A405 nm, obtida pela atividade da trombina na presença do DMSO, aos 30 segundos da reação para o S-2238 (A) e aos 300 segundos para o S-2302 (B). Os resultados expressam a média de duas experiências individuais (n = 2) ± SEM. (*) Diferença significativa (p<0,05) em relação à leitura obtida no controle com DMSO. Como pode ser observado, apenas os extratos em acetato de etila (Búzios) e em diclorometano da alga D. menstrualis (Dm-AC-PF e Dm-DC, respectivamente) foram capazes de inibir a atividade da trombina sobre o substrato específico S- Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 149 2238, em cerca de 60% e 20%, respectivamente. Enquanto isto, todos os extratos de algas, com exceção daquele em diclorometano de D. menstrualis (Dm-DC), inibiram também a atividade da trombina sobre o substrato S-2302, em perfis de inibição entre 15% e 85%. O perfil inibitório dos extratos das algas sobre a hidrólise dos substratos cromogênicos pela trombina, mostrada nas figuras anteriores, está relacionado na Tabela 20. Tabela 20. Perfil inibitório dos diferentes extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata sobre a hidrólise dos substratos cromogênicos. Amostra Dm-H-PF Dm-H-SP Dm-AC-PF Dm-AC-SP Dm-DC Dc-H Dc-AC Inibição da hidrólise do substrato (%) S-2238 S-2302 11,5 39,5 19,0 12,5 57,0 84,5 5,5 49,5 19,5 15,0 6,5 26,5 6,5 39,5 Vários compostos, de origem natural ou sintética, são utilizados atualmente para prevenir e tratar a trombose. Mas, estas terapias podem induzir diversos efeitos colaterais nos pacientes. Por esta razão, existe uma intensa busca por novos compostos que apresentem um efeito anticoagulante e antiplaquetário satisfatório, porém que sejam clinicamente seguros (Nutesco et al. 2005). Moléculas bioativas de origem natural são fortes candidatas. A nossa avaliação dos diferentes extratos orgânicos de D. menstrualis e D. ciliolata e seus efeitos sobre a agregação plaquetária e coagulação sanguínea através de ensaios in vitro, resumidos na Tabela 21, apresenta em termos gerais que não exibiram efeito inibitório sobre a agregação plaquetária induzida pelo Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 150 colágeno. Contudo, o extrato hexânico da alga D. ciliolata (Dc-H) causou uma pequena inibição, de cerca de 20 %, na agregação plaquetária induzida pelo ADP. Estes dois agonistas fisiológicos agem nas plaquetas por mecanismos distintos: o colágeno atua se ligando diretamente aos receptores na superfície da plaqueta, mas o ADP depende de fatores plasmáticos, como o fibrinogênio, para então induzir a agregação plaquetária. Tabela 21. Efeito dos diferentes extratos de Dictyota menstrualis e D. ciliolata nos ensaios biológicos. Inibição, em porcentagem, causada pelos extratos de algas sobre os ensaios de agregação plaquetária induzida por agonistas e sobre os ensaios de hidrólise dos substratos cromogênicos pela trombina. Aumento no tempo de coagulação, em vezes, causado pelos extratos de algas sobre os ensaios de coagulação sanguínea nos diferentes métodos. Ensaios Biológicos % Inibição Aumento em vezes Amostras PRP % Inibição WP Recal TP TTPA Fib S-2238 S-2302 1,3 - 39,5 - - - - 1,4 - 12,5 - - - 1,1 - 2,5 57,0 84,5 - n.d. n.d. - - - 1,9 - 49,5 - - 26,7 13,7 - - - 1,9 19,5 - Dc-H - 24,5 84,5 63,0 - - - 1,2 - 26,5 Dc-AC - - - 1,1 1,2 2,3 - 39,5 - Dm-H-SP - - - Dm-AC-PF - - Dm-AC-SP - Dm-DC Trb - Col - ADP - Col - Dm-H-PF 29,0 13,4 - 29,0 n.d. Não determinado - Não inibiu / Não aumentou Col: colágeno; Trb: trombina; Recal: recalcificação do plasma; Fib: fibrinocoagulação. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 151 Em ensaios com plaquetas lavadas, onde as interações com componentes plasmáticos são removidas, curiosamente alguns extratos inibiram a agregação plaquetária induzida tanto pelo colágeno como pela trombina. Isto sugere que alguma substância presente no plasma sanguíneo pode estar interferindo na interação dos extratos com as plaquetas, impedindo assim a inibição da agregação plaquetária.Os extratos das algas em hexano (Búzios) e em diclorometano de D. menstrualis (DmHPF e DmDC, respectivamente) e os extratos em hexano e em acetato de etila de D.ciliolata (DcH e DcAC, respectivamente) inibiram a agregação plaquetária induzida pelo colágeno. D. menstrualis em hexano de Búzios e em diclorometano (DmHPF e DmDc, respectivamente) e D. ciliolata em hexano (DcH) inibiram também a agregação plaquetária induzida pela trombina. Por outro lado nenhum dos extratos de algas avaliados foi capaz de prolongar o tempo de recalcificação do plasma. Além disto, todos os extratos das algas prolongaram o tempo de coagulação do fibrinogênio induzida pela trombina (fibrinocoagulação). Estes resultados sugerem que os extratos foram capazes de inibir a atividade da trombina, impedindo esta enzima de expressar seu efeito biológico de converter o fibrinogênio em fibrina, não levando assim a formação do coágulo. Por outro lado, não se deve descartar a possibilidade de ligação de moléculas dos extratos com o fibrinogênio. Alguns extratos ainda inibiram a atividade catalítica da trombina, analisada através da hidrólise de substratos cromogênicos. Os extratos em diclorometano e acetato de etila (Búzios) da alga D. menstrualis (Dm-DC e Dm-AC-PF, respectivamente) inibiram os efeitos da trombina sobre o S-2238, um substrato específico da enzima trombina. Todos os extratos das algas, com exceção de D. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 152 menstrualis em diclorometano (Dm-Dc), causaram diferentes graus de inibição sobre a ação da trombina sobre S-2302, um substrato específico para calicreína plasmática e os fatores XI e XII do sistema da coagulação, ambos ativados fisiologicamente pela trombina. De acordo com os resultados obtidos, podemos inferir que o local da coleta e o tipo do solvente utilizado no preparo dos extratos das algas influenciaram no perfil inibitório nos ensaios biológicos realizados para cada amostra de uma mesma espécie. Isto se deve principalmente a variações da quantidade de determinados constituintes químicos segundo o local de coleta, além das variações químicas da extração com solventes de diferentes polaridades. No caso das amostras de D. menstrualis coletadas em Búzios e no Arquipélago de São Pedro e São Paulo foi observado que elas possuem um padrão qualitativo semelhante, ambos com abundância de diterpenos derivados de guaianos prenilados (tipo I) e xenianos (tipo III). Entretanto, houve uma variação quantitativa em relação aos diterpenos majoritários encontrados em cada uma destas duas populações (Ortiz-Ramírez et al. 2008). Alguns extratos obtiveram resultados expressivos em relação à inibição da coagulação sanguínea, mas não apresentaram resultados expressivos em relação à agregação plaquetária. Neste caso, uma substância que apresente atividade anticoagulante, porém sem efeito em plaquetas pode ser interessante do ponto de vista clínico, pois reduziria o risco de ocasionar hemorragias e/ou sangramentos espontâneos como efeitos colaterais. A hemorragia é um dos principais problemas relacionados aos atuais fármacos antitrombóticos, uma vez que seu efeito antiplaquetário e anticoagulante é tão forte, levando a um estado de incoagulabilidade sanguínea. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 153 De forma semelhante, um glicosaminoglicano isolado do pepino-do-mar Ludwigothurea grisea e seu derivado carboxi-reduzido apresentaram efeitos antitrombóticos in vivo, aparentemente não relacionados aos seus efeitos sobre a agregação plaquetária. Ambos mostraram forte atividade anticoagulante devido a inibição da trombina na presença do co-fator II da heparina. Entretanto, o efeito antitrombótico obtido nos modelos experimentais foi diferente para os dois compostos. O glicosaminoglicano nativo inibiu a trombose em desvio arteriovenoso em baixas concentrações e no modelo de trombose venosa, o efeito antitrombótico do glicosainoglicano exigiu doses maiores. Por outro lado, o derivado carboxi-reduzido impediu a trombose em desvio arterio-venoso, mas não o fez no modelo de trombose venosa. Na verdade, observou-se que era possível dissociar os efeitos anticoagulante, hemorrágico e antitrombótico destes compostos. Foi mostrado também que os polissacarídeos podem inibir de forma diferente cada tipo de episódio de trombose e que isto pode estar relacionado à aderência do composto na parede dos vasos sanguíneos (Zancan & Mourão 2004). Sobre a biotecnologia para a obtenção de um produto medicamentoso é necessário entender que o desenvolvimento de fármacos de origem marinha, no entanto, tem encontrado alguns obstáculos, principalmente no que diz respeito à produção em larga escala. O cultivo de determinados macro-organismos marinhos apresenta muitas dificuldades, seja por motivos técnicos e logísticos ou pela própria biologia do organismo, e a coleta destes organismos em seu ambiente natural se tornaria insustentável, podendo levar a espécie à extinção (Sennett 2001; Faulkner 2002). O presente trabalho representa apenas um pequeno aporte ao que deve ser Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 6 154 feito no extenso caminho no desenvolvimento de um novo fármaco. 6.4. CONCLUSÃO Os resultados mostram que a maioria dos extratos avaliados é capaz de inibir a agregação plaquetária induzida por agonistas fisiológicos e a hidrólise de substratos cromogênicos provocada pela trombina, além de prolongar o tempo de coagulação nos diferentes métodos de coagulação realizados. Entretanto, os extratos apresentam potências diferentes. A espécie, o local da coleta e o tipo de solvente usado na extração influenciam no perfil inibitório apresentado por cada extrato avaliado, sendo que a amostra da alga D. menstrualis, coletada em Búzios e extraída em acetato de etila (Dm-Ac-PF) é a mais eficiente como anticoagulante, enquanto o extrato em hexano da D. menstrualis coletada em Búzios, é o mais expressivo como antiplaquetário. Pode-se concluir que as espécies da Tribo Dictyotae avaliados neste trabalho possuem moléculas orgânicas com atividade anticoagulante e antiplaquetária. Estes produtos naturais marinhos representam então uma grande fonte de substâncias com potencial biotecnológico desenvolvimento de novas drogas antitrombóticas. como protótipos para o Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 7 155 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS No desenvolvimento desta tese de doutoramento foram abordados diferentes temas de estudo inter-relacionados entre si sobre os diterpenos da tribo Dictyoteae e sua importância em diferentes áreas da ciência. Assim, o uso da técnica de cromatografia em camada delgada (CCD) um procedimento rotinário nos laboratórios de química de produtos naturais pode ser aplicável na diferenciação ou não de populações de algas marinhas bentônicas, baseados na expressão e quantificacao cromática dos diterpenos mediante análises de imagem obtidas por dispositivos digitais, foi evidenciavel que com esta técnica rápida e de baixo custo é possível diferenciar populações de algas (Dictyota menstrualis e D. ciliolata) enquanto à produção dos diterpenos se forem seguidos os critérios e procedimentos apropriados, nas análises de imagens por decomposição do canal de cores RGB a cor azul (B) é a mais apropriada para as quantificações cromáticas dos diterpenos que revelam como bandas roxas, como é o caso dos guaianos prenilados pachydictyol A e isopachydictyol A ao serem revelados com sulfato sérico (ver capítulo 1). A síntese dos diterpenos esta regulada pelas carteristicas enzimáticas dos indivíduos e reflete condições próprias de determinado táxon, o uso dos diterpenos como marcadores taxonômicos da tribo Dictyoteae permitiu identificar dentre varias amostras coletadas no Caribe colombiano aquelas que pertencem ao gênero Canistrocarpus por serem indiviuos que sintetizam exclusivamente diterpenos do tipo dolastano e secodolastano, análises morfológicas confirmaram a identidade taxonômica como C. cervicornis, as comparações quantitativas em Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 7 156 CG/EM mostram que as populações do Caribe (Colombia) apresentam um perfil padrao similar às populações estudadas no Brasil e diferem somente no diterpeno majoritário (ver capítulo 2), assim mesmo alem das caracteristicas morfológicas o uso dos diterpenos na taxonomia forneceu maiores evidencias que suportam a proposta de uma nova espécie do gênero Dictyota no litoral fluminense. Dictyota sp. nov. sintetiza diterpenos ineditos na tribo Dictyoteae, sendo esta não somente uma contribuição para os inventários da biodiversidade desta região e do Atlântico sudeste assim como também uma contribuição ao inventário molecular dos metabolitos secundários sintetizados pelos indivíduos da tribo Dictyoteae (ver capítulo 3). Em quanto à atividade biológica dos componentes lipofílicos do extrato bruto de C. cervicornis frente aos gametas e zigotos de Lytechinus variegatus e baseados nas evidencias encontradas é possível afirmar que possuem a capacidade de reduzir as taxas de fecundação e induzir a geração de anomalias nos zigotos, neste ultimo aspecto o diterpeno dolastano majoritário é um dos responsáveis o qual também tem a capacidade de gerar lise celular (ver capítulo 4), o uso do modelo biológico com zigotos de L. variegatus como triagem para identificar atividade antimitótica evidenciou claras diferenças dentre duas populações de D. menstrualis (Arquipélago São Pedro e São Paulo e Búzios) a resposta de inibição mitótica é devida as diferenças do perfil químico destas populações, o diterpeno majoritário dichotomano da população de Búzios tem uma alta atividade antimitótica, pois inibiu o desenvolvimento embrionário até a clivagem IV dos zigotos em todas as concentrações testadas e a presença de pontos claros no citoplasma dos zigotos sugere que este metabolito atua sobre a tubulina, estas evidencias fazem deste diterpeno um bom candidato para futuras Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – CAPITULO 7 157 pesquisas como agente antitumoral (ver capítulo 5). Por outro lado os extratos de D. menstrualis e D. ciliolata tem a capacidade de inibir a agragação plaquetária e prolongar os tempos de coagulação com potenciais diferenciados segundo seja o tipo de extrato e população sendo assim estas espécies e a tribo Dictyoteae pode ser considerada uma fonte promissóra de moléculas para o tratamento das desordens da hemostasia (ver capítulo 6). Como consideração final cabe notar que o estudo dos diterpenos da tribo Dictyoteae fornece informações valiosas desde o ponto de vista do entendimento das espécies, sua dispersão, suas relações com outras espécies e por fornecer moléculas com alto potencial biotecnológico de uso em diferentes áreas principalmente na luta contra diferentes doenças. A diversidade biológica dos indivíduos expressada na diversidade molecular pode ser considerada um item de avaliação na toma de desiçòes políticas principalmente quando uma identidade biológica pode ser a esperança na cura de alguma doença. Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 158 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abrantes JL, Barbosa JP, Cavalcanti DN, Pereira RC, Fontes CFL, Teixeira VL, Souza TM & Paixão ICP (2010) The effects of the diterpenes isolated from the Brazilian brown algae Dictyota pfaffii and Dictyota menstrualis against the herpes simplex type-1 replicative cycle. Planta Medica, 76(4): 339-344. Adobe Systems Incorporated (2010) Photoshop CS5 Extended, Guia do usuário. Agnelli G (2005) Current issues in Anticoagulation. Pathophysiology of Haemostasis and Thrombosis, 34(1):2-9. Aizman O, Ulhen P, Lal M, Brismar H & Asperia A (2001) Ouabain, a steroid hormone that signals with slow calcium oscillations. 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(2012) – APÊNDICE 177 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 178 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 179 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 180 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 181 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 182 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 183 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 184 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 185 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE APÊNDICE 2. ARTIGO NO PRELO Latin American Journal of Aquatic Research, (2012) 186 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 187 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 188 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 189 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 190 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 191 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 192 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 193 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 194 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 195 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 196 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 197 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 198 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 199 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 200 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 201 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE APÊNDICE 3. APRESENTAÇÕES EM EVENTOS 202 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 203 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 204 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 205 Ortiz- Ramírez, Fredy A. (2012) – APÊNDICE 206