UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA
PROJETO DE PESQUISA
O PÓLO COROADINHO: Diagnóstico preliminar
Outubro/2005
PROJETO DE PESQUISA
O PÓLO COROADINHO: Diagnóstico preliminar
1. JUSTIFICATIVA
A presente proposta de trabalho é referente a um diagnóstico preliminar na
região conhecida genericamente na cidade de São Luís como Coroadinho e que no
presente estudo passamos a designar Pólo Coroadinho.
Segundo a Lei Municipal 3.253, de 29 de dezembro de 1992, que dispõe sobre o
zoneamento, parcelamento, uso e ocupação do solo urbano de São Luís, o Coroadinho é
definido como pertencente à Zona de Interesse Social 1 – ZIS 1. Esta Zona é composta
por “áreas ocupadas espontaneamente por assentamentos habitacionais da população de
baixa renda, onde existe interesse social em se promover a regularização jurídica da
posse da terra e a sua integração na estrutura urbana” (grifo nosso). O texto da lei
descreve o Coroadinho da seguinte maneira:
Inicia-se no ponto de interseção do prolongamento da Av. Presidente Médici1
com a Rua 13, seguindo pela última até encontrar o limite da linha de Alta
Tensão (A.T.), seguindo por esta rumo à direita até o encontro do
prolongamento da Rua Santa Isabel, donde prossegue rumo à esquerda, até
atingir a Rua São Nonato, prolongando-se por esta à direita até interceptar a
Rua do Muro; daí prossegue à direita até atingir a Rua Boa Esperança;
dobrando à direita, segue pela mesma até atingir novamente o limite da linha
de Alta Tensão (A.T.), seguindo pela mesma com orientação à esquerda até
encontrar o prolongamento da Rua Epitácio Cafeteira, dobrando à direita, e
seguindo pela mesma até atingir a Rua Risoleta Neves, donde prossegue rumo
à esquerda, passando pela Rua Menino Jesus e Rua da Reforma Agrária até
encontrar a Av. Brasil, dobrando à esquerda e seguindo pela mesma até
encontrar a Rua Gardênia, donde segue rumo à esquerda, passando pela Rua
Isabel Lima, até encontrar novamente a Av. Brasil, seguindo por esta com
orientação à direita, até atingir a Rua das Cajazeiras, seguindo por esta rumo à
esquerda até alcançar o limite da Zona Residencial-2 (Pindorama), seguindo
este até atingir o ponto de interseção deste com a Rua Vicente da Mata e Av.
Vicente Queiroga, seguindo pela última até atingir a Av. Presidente Médici,
donde se prolonga rumo à direita até atingir o ponto inicial deste perímetro
(Lei 3.253 de 29 de dezembro de 1992).
Segundo o texto oficial, a área do chamado Coroadinho está compreendida entre
a Zona Residencial 2 – Pindorama – e a Linha de Alta Tensão, que delimita
oficialmente a Zona de Reserva Florestal – ZRF.
1
A Avenida Presidente Médici atualmente recebe o nome de Avenida dos Africanos.
Esta é uma região da cidade formada por várias vilas e aglomerados urbanos
que, ao contrário da imagem uniformizadora veiculada pelos meios de comunicação e
documentos de agências públicas e privadas que atuam na área, é constituída por
particularidades e diferenças. A despeito de características comuns, constitui um
complexo de realidades localizadas e, desta forma, um desafio para quem procura atuar
na área e necessita, portanto, conhecê-la. A pesquisa que aqui se propõe procura trazer à
tona elementos desta realidade, na busca de servir como instrumento de atuação para as
instituições empresariais articuladas no Instituto de Cidadania Empresarial.
O Coroadinho, não raro, é veiculado nos jornais locais como sendo lugar de
violência e de abrigo de marginais que se articulam em grupos (geralmente juvenis)
denominados de gangues, que segundo relato de alguns moradores desestabilizam a
ordem do lugar e atormentam a paz daqueles que ali residem e trabalham. Associada à
violência, outra característica normalmente associada ao Coroadinho é a carência de
infra-estrutura básica como rede de esgoto, asfaltamento da maior parte das ruas,
abastecimento regular de água, bem como outros aparelhos urbanos como área de lazer,
escolas de ensino fundamental e médio, assistência à saúde. Perpassando estas
características, a imagem do coroadinho está normalmente associada à pobreza de sua
população e à sua dificuldade de inclusão social.
De acordo com os dados obtidos junto a Secretaria Municipal de Saúde
(SEMSUS, 2005), o Coroadinho está localizado na Zona Urbana de São Luís, sendo
denominado bairro e possuindo no total 5.671 prédios e 15.689 habitantes. Constitui
em uma forma de ocupação urbana não planejada por organismos estatais, cuja
população, em grande medida, recebeu incentivo de agentes públicos (vereadores,
lideranças comunitárias) para a ocupação da área.
Por ser composto por uma série de iniciativas de ocupação urbana irregulares no
tempo e no espaço e pelas características gerais de carência e abandono por boa parte
dos poderes públicos, os dados existentes atualmente nas diferentes agências estatais
que atuam na área são, na maior parte das vezes, divergentes e, até mesmo
contraditórios, apontando para uma grande dificuldade na obtenção de estatísticas
confiáveis que ajudem a entender a realidade da região. Além disso, o dado estatístico,
mesmo sendo uma ferramenta fundamental para qualquer aproximação com realidades
populacionais, apresenta limitações quando se busca compreender com maior
fidedignidade quaisquer destas realidades. As ciências sociais têm buscado, de forma
majoritária, aliar a utilização de dados estatísticos com a aproximação do pesquisador
com a realidade pesquisada, permitindo que a “objetividade” do dado estatístico seja
balizada pelo contato direto com pesquisado, que passa a ser visto não mais como mero
“objeto de pesquisa”, mas como “sujeito de ação”, que pensa, analisa e interpreta a
própria realidade, tendo muito a dizer sobre ela e sobre as relações estabelecidas entre
sua realidade local e a sociedade envolvente. De “objeto de estudo” o pesquisado passa
a ser visto como “agente social” portador de representações sobre suas relações com os
demais “agentes” e com o meio. Assim, para além do, incontestavelmente necessário,
levantamento estatístico, as ciências sociais têm apontado para a pertinência de aliá-lo à
análises de cunho qualitativo, aproximando-o da fala e das representações formuladas
pelos pesquisados, permitindo uma aproximação mais qualificada da realidade que se
pretende conhecer e na qual se pretende atuar.
O presente estudo apresenta algumas limitações em função do tempo de sua
realização e dos recursos (humanos e financeiros) disponíveis para tal. Portanto, ao
estabelecer seu alcance e seus métodos de trabalho, leva em consideração estas
variáveis, sem perder de vista a qualidade e a dimensão sociológica do trabalho a ser
realizado. Assim, quanto aos dados estatísticos, deverá limitar-se ao uso de dados
secundários produzidos por agências públicas, procurando trabalhar com a comparação
dos dados obtidos e a elaboração de estimativas, segundo técnicas e procedimentos
produzidos no âmbito da tradição sociológica e largamente testados em pesquisas
semelhantes. Em função da dimensão da área a ser estudada e de sua complexidade, a
obtenção de dados estatísticos primários (do tipo censitário, por exemplo) exigiria a
mobilização de uma grande equipe de trabalho, a disponibilização de um tempo maior
e, conseqüentemente, o aporte de uma significativa quantidade de recursos financeiros e
materiais. Os dados estatísticos que podem ser atualmente obtidos, contudo, deveram
ser balizados pelo trabalho de campo e pela observação in loco, imprimindo assim o
caráter qualitativo na pesquisa. No entanto, não se pode deixar de reconhecer que os
limites existentes determinam que o trabalho a ser realizado permita elaborar um
diagnóstico de qualidade, porém de caráter preliminar, podendo ser complementado por
estudos posteriores, segundo os interesses e necessidades da instituição que o demanda.
2. OBJETIVOS
O objetivo geral da pesquisa é elaborar um diagnóstico preliminar e geral do
Pólo Coroadinho que, para ser atingido, deverá corresponder aos seguintes objetivos
específicos:
- estabelecer as delimitações geográficas do Pólo Coroadinho e das várias vilas
e aglomerados urbanos que o compõem;
- recuperar o histórico de ocupação urbana da área;
- reunir dados estatísticos e estabelecer estimativas relativas à população da
região (população absoluta, número de famílias, faixas etárias, sexo,
escolaridade);
- levantar quantitativos de hospitais e postos de saúde, escolas, centros
comunitários, igrejas, postos policiais e demais presenças institucionais.
- levantar as redes sociais (primárias e secundárias) que atuam na região;
- levantar as organizações sociais locais e suas lideranças.
3. MÉTODO DE TRABALHO
O trabalho de pesquisa será constituído de dois procedimentos básicos: a coleta
de dados secundários e o trabalho in loco.
A coleta de dados secundários será realizada em instituições públicas como:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Programa Saúde da Família
(PSF), Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e Educação, Secretaria Municipal
de Terras e Urbanismo, Universidade Federal do Maranhão, Universidade Federal do
Maranhão. Os dados secundários serão utilizados no estabelecimento das delimitações
geográficas da área de estudo, na recuperação de seu histórico de ocupação, na
obtenção de dados populacionais, no levantamento de instituições públicas e privadas
que tenham agências locais.
O trabalho in loco será feito através de visitas à área de estudo, seleção de
informantes e realização de entrevistas. Visará reunir informações sobre as redes
sociais que atuam na região, as organizações sociais locais e suas lideranças. Visará,
também, compatibilizar os dados secundários obtidos com a realidade local e esclarecer
dúvidas que possam surgir no exame destes dados.
4. CRONOGRAMA
ATIVIDADE
18-31 out
1º-15 nov
16-30 nov
1º-15 dez
16-31 dez
X
X
X
X
X
X
X
X
1º-16 jan
Elaboração do
Projeto
X
Formação da
Equipe
X
Planejamento do
Trabalho
X
Levantamento de
dados secundários
X
Trabalho
in loco
Sistematização
dos dados obtidos
Elaboração do
relatório
Desembolsos
X
X
X
5. ORÇAMENTO
Elemento de despesa
Quantidade
Valor unitário Valor Total
(em R$)
(em R$)
Material de consumo
Fita para gravador microcassete
50
Papel para impressão
12 resmas
Reprografia
2.000 cópias
Pilhas para gravador
10 pacotes
5,00
15,00
0,15
4,00
250,00
180,00
300,00
40,00
Bolsas para estudantes
02
1250,00
2500,00
Diárias
Estudantes
20
70,00
1400,00
Despesas contábeis
01
330,00
330,00
Total
X
5.000,00
O orçamento total da pesquisa é de R$ 5.000,00 e será financiado pelo Instituto
de Cidadania Empresarial do Maranhão ICE-MA. Deverá ser desembolsado, mediante
nota fiscal, em duas parcelas: uma primeira parcela, correspondente a R$ 2.500,00, no
dia 07/11/2005 (correspondendo às despesas do início da pesquisa) e outra parcela,
também de R$ 2.500,00, no dia 16/01/2006, coincidindo com a entrega do produto final
(o relatório) da pesquisa.
6. EQUIPE
1. Prof. Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior – doutor em Ciências Humanas
(Sociologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor do
Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-Graduação
em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão.
2. Ana Caroline Pires Miranda – discente dos cursos de Ciências Sociais e Direito
da Universidade Federal do Maranhão.
3. Bartolomeu Rodrigues Mendonça – discente do curso de Ciências Sociais da
Universidade Federal do Maranhão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Adriana Alves Santos. Estado Atual de Conservação do Parque Estadual
do Bacanga, São Luís – MA, Brasil. VI Congresso de Ecologia do Brasil. Volume I
Biodiversidade, Unidades de Conservação, Indicadores Ambientais Fortaleza, 2003
BACHELARD, Gaston – A formação do espírito científico; contribuição para uma
psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 2ª ed. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1998.
GOFFMAN, Irving. Estigma: la identidad deteriorada. Buenos Aires: Tallers Gráficos
Color, 1998.
FRÓES, Joseane Ferreira. Impactos sócio-urbanos no alto curso do rio das bicas:
contextualizando o bairro do Coroadinho. São Luís: UFMA, 2004. Monografia de
Conclusão do Curso de Geografia.
MOTA. Antonia da S. Coroadinho: Histórico de ocupação de terras desde a década de
40 até os dias atuais. – São Luís: UFMA, 1990. Monografia de Conclusão do Curso
História. Monografia de Conclusão do Curso
Superintendência de Meio Ambiente. Parque Estadual do Bacanga: Atualização do
Plano de Manejo. São Luís, 2002.
WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento nas Ciências Sociais. In: CONH,
Gabriel (Org.). Max Weber: Sociologia. 7ª Ed. São Paulo: Ática, 2004. pp. 79-127.
(Col. Grandes Cientistas Sociais).
_________ . Economia e sociedade: fundamentos da Sociologia Compreensiva. 4ª ed.
Trad. Regis Barbosa e Karen E. Barbosa. Brasilia: Ed. Universidade de Brasília; São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. vol. I
http://www.jornalvejaagora.com.br. (Acessado em 14 de setembro de 2005).
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