Ambientes de Aprendizagem: uma abordagem hipertextual contemporânea Alício Rodrigues da Silva Neto1 (UNEB) Resumo: Abordar ambientes de aprendizagem é um desafio, uma vez que traz flexibilidade, rapidez, relação tempo‐espaço e mobilidade. Esta pesquisa objetiva compreender o papel dos ambientes de aprendizagem como espaços potenciais no campo hipertextual contemporâneo. Apresentam como pressupostos teóricos: Arnaud Lima Júnior, Pierre Lèvy, Alex Primo dentre outros, evidenciando discussões sobre as potencialidades que essas relações sociais podem proporcionar aos sujeitos. Este estudo em andamento apresenta uma abordagem qualitativa que consiste numa relação dinâmica entre realidade, sujeito, mundo objetivo e subjetividade. Palavras‐chave: Ambiente de aprendizagem, Contemporaneidade, Hipertexto. Abstract: Addressing learning environments is a challenge, since it brings flexibility, speed, time‐space ratio and mobility. This research aims to understand the role of learning environments as potential spaces in contemporary hypertext field. Present theoretical assumptions: Arnaud Lima Junior, Pierre Levy, Alex Primo among others, highlighting discussions on the potential that these relationships may provide social subjects. This ongoing study presents a qualitative approach consisting of a dynamic relationship between real subject, objective and subjective world. Palavras‐chave: learning environments, contemporary, hypertext. Para começo de conversa A sociedade, na atualidade, propõe que “refletir a tecnologia é refletir o próprio homem” (Lima Jr. 2005, p.16), onde “o ser humano está totalmente implicado na tecnologia e a tecnologia está totalmente implicada no humano” (Lima Jr. Op. cit). A relação sujeito‐objeto estabelece uma significação indissociável, pois requer a formação de pessoas críticas, com expressividade, criatividade, capacidade de trabalho em grupo, entre outras habilidades. Em conseqüência a sociedade contemporânea, as relações sociais requerem, acima de Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐1‐ tudo, ambiente “inteligente”, especialmente criado para interação, cooperação e colaboração. Estes locus de aprendizagem podem construir segundo estilos individuais uma relação de colaboração em construção coletiva. A intenção de relacionar ambientes de aprendizagem como espaço hipertextual contemporâneo requer uma análise dos processos tecnológicos e educacionais, a partir da inovação no processamento da informação e da comunicação possibilitando maior difusão das informações, novas formas de conhecer, de se comunicar e de gerar processos de virtualização. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) vão se estruturando e possibilitando a integração dos meios de comunicação como potencializadores da condição de interatividade entre pessoas, gerando mudanças culturais significativas tanto no campo social como no campo educacional. Neste cenário, e através de experiências concretas, constrói‐se sentido e significados para a realização dessas transformações através de um processo ativo e dinâmico As TIC podem levar à constituição de espaços colaborativos inovadores instrumentalizados e os ambientes de aprendizagem podem contribuir de forma significativa para a consolidação das bases tanto práticas quanto teóricas visto que permitem ampliar as zonas de atuação dos sujeitos pertencentes à práxis social em questão. A colaboração pode ser considerada uma categoria‐chave para a compreensão das novas formas de pensar o processo educativo, articulando técnica, educação, cultura. Assim, discutir as Tecnologias da Informação e Comunicação numa perspectiva dos ambientes de aprendizagem na educação requer percebê‐las não como elementos isolados na sociedade, porque toda ação tecnológica também é uma ação social, a qual é produzida em um contexto específico permitindo não somente as suas potencialidades, mas também sua predisposição em proporcionar transformações no modo de conceber a sociedade em sua organização e estrutura. A interação e o convívio em redes de computadores geram um fenômeno social tipicamente contemporâneo: “a emergência das comunidades” (PRIMO, 1997) como agregações sociais. Este espaços de sociabilidade se efetivam pelo Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐2‐ encontro de sujeitos dispostos a compartilhar informações e saberes suportados pela atual infra‐estrutura tecnológica, que desterritorializa e liberta a comunicação dos limites impostos pelas noções de tempo e espaço, implementando uma comunicação dinâmica através do seu potencial para a interatividade. Transpondo assim, os espaços “tradicionais formais” da sala de aula. As transformações sociais têm ocorrido de maneira muito rápida, a construção/ reconstrução do conhecimento faz parte da dinâmica da educação, que tem por finalidade a formação de indivíduos críticos num contexto histórico. Desta forma, o papel da informática e das técnicas de comunicação com base digital não seria “substituir o homem”, nem aproximar‐se de uma hipotética “inteligência artificial”, mas promover a construção de coletivos inteligentes, nos quais as potencialidades sociais e cognitivas de cada um poderão desenvolver‐se e ampliar‐se de maneira recíproca. (LÈVY, 1993, P. 15) A constituição de coletivos inteligentes está distribuída em toda parte, favorecendo a mobilidade, construção de competências, reconhecidas e enriquecidas em tempo real. Falar em ambientes de aprendizagem como espaço de sociabilidade é vislumbrar criatividade, construção de conhecimento, inovações, interações em lugar da unidirecionalidade, é trabalhar numa perspectiva em que todos cooperam para a coletividade do grupo, participando ativamente. Ambientes de Aprendizagem: relações hipertextuais na contemporaneidade Nossa sociedade vive momentos paradoxais do ponto de vista da aprendizagem. Por um lado, há cada vez mais pessoas com dificuldades para aprender aquilo que a sociedade exige, o que, em termos educacionais, costuma ser interpretado como um crescente fracasso escolar. Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐3‐ Contudo, ao mesmo tempo em que esse fracasso escolar cresce assustadoramente, também podemos afirmar que o tempo dedicado a aprender estende‐se e prolonga‐se cada vez mais na história pessoal e social, ampliando a educação obrigatória, impondo uma aprendizagem ao longo de toda a vida. Nunca houve tantas pessoas aprendendo tantas coisas ao mesmo tempo como em nossa sociedade atual. De fato, podemos concebê‐la como uma sociedade da aprendizagem, uma sociedade na qual aprender constitui não apenas exigência social crescente como também uma via indispensável para o desenvolvimento pessoal, cultural e mesmo econômico dos cidadãos. Enquanto num primeiro momento a imprensa tornou possível outras formas de ler e compreender o mundo, as quais, sem dúvida, mudaram a cultura da aprendizagem temos uma nova vertente, onde as tecnologias da informação estão criando maneiras de difundir socialmente o conhecimento que a sociedade está começando a vislumbrar. Esta nova forma de ter acesso ao conhecimento promove outras alfabetizações que permeiam todos os campos: literária, gráfica, informática, científica, tecnológica, etc., e que a escola não pode negligenciar. A década de 80 foi caracterizada pela popularização do computador e dos equipamentos eletrônicos. Com o advento da Internet e suas ferramentas de comunicação e interação, o computador pessoal passou de equipamento de luxo, equipamento de poucos para instrumento necessário a vida social. Em menos de quinze anos, a Internet e com ela o ambiente em rede a longa distância, surgiu como nova ferramenta de comunicação acessível a usuários domésticos e empresariais. Com os avanços tecnológicos e com a globalização outras formas de comunicação e transmissão cultural possibilitam a constituição de grupos de sujeitos ligados por vínculos formalizados ou não, os quais podem apresentar características comuns, formando agrupamentos socias comumente chamados de comunidades ou ambientes. Esses ambientes quando direcionados à área pedagógica, educacional, são denominadas como ambientes de aprendizagem. Assim, na modernidade, o conceito de ambiente de aprendizagem é costumeiramente caracterizado como Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐4‐ espaços interativos, onde os indivíduos fazem trocas simbólicas constituindo relações sociais. Compreendendo que um ambiente em rede é composto por um grupo de pessoas com características comuns ou não, além de serem formadas a partir da interação de movimentos locais, sociais e que extrapolam a delimitação do espaço geográfico, podemos perceber que a conceituação de ambiente envolve relações muito complexas entre os sujeitos. Assim, um grupo de pessoas reunido em “algum lugar da rede” (SANTOS, OKADA, 2004, 165), no ciberespaço que possui interesse em coletivizar, colaborar, construir, comunicar alguma coisa pode ser considerado um agrupamento social, potencial em um ambiente de aprendizagem os quais podem fazem trocas simbólicas. Este movimento é muito característico dos ambientes de aprendizagem. Neste contexto, podemos compreender que surgem ambientes, espaços coletivos no ciberespaço que agregam pessoas e equipamentos técnicos com a função de produzir e disseminar informações. As tecnologias (computador, internet, formas de comunicação, redes socias) facilitaram a constituição de grupos de sujeitos ligados por vínculos formalizados, os quais apresentam características comuns, formando o que a sociedade convencionou chamar de comunidades ou redes sociais, possibilitando com isso o acesso ao conhecimento sistematizado e as mais diversas mídias de interação e interatividade. Um dos que valorizam esta outra e relevante história é o sociólogo espanhol Manuel Castells que reconhece, a história da criação e do desenvolvimento da internet é a história de uma aventura humana extraordinária. Ela põe em relevo a capacidade que as pessoas têm de transcender metas institucionais, superar barreiras burocráticas e subverter valores estabelecidos no processo de inaugurar um mundo novo. Reforça também a ideia de que a cooperação e a liberdade de informação podem ser mais propícias à inovação do que a competição e o direito de propriedade. (CASTELLS, 2003, P. 25) Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐5‐ Este agrupamento social silencioso e invisível está desenvolvendo, divulgando, comentando, distribuindo, defendendo, multiplicando, em suma, viabilizando um novo ambiente de comunicação, inovação e conhecimento, a partir de trocas simbólicas entre os sujeitos participantes. As tecnologias potencializam mudanças na educação, uma vez que o processo de digitalização e o contexto da cibercultura vêm promovendo a utilização do meio digital como locus de inúmeras experiências pedagógicas, principalmente ligadas à área educacional. Diante das diversas possibilidades abertas, temos uma série de iniciativas de cursos, principalmente de graduação e formação continuada pautadas nas orientações legais vigentes, que têm como preocupação básica a construção de novos espaços de aprendizagem via internet. O filósofo Pierre Lévy, assinala logo na introdução do seu livro que “o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem”. (LÉVY, 1999, p. 5). Este novo paradigma de comunicação começou de forma intensa e promissora em pequenos ambientes inovadores e tem se alastrado para grupos maiores, já alterando e ampliando a maneira como os seres humanos se comunicam e produzem conhecimento. Mas esse ambiente em rede permite, viabiliza e deixa brechas para que este novo espaço de comunicação floresça. No entanto, ele não é nenhuma garantia de sucesso, é uma condição necessária, mas não suficiente, ou seja, estar na rede não nos faz, necessariamente, gerar inovação ou conhecimento, poderá não integrar ao mundo moderno, o que ocorre na verdade é uma possibilidade de integração. É fundamental e necessário compreender o movimento do conceito de cibercultura e suas bases para a área educacional em todos os níveis. O conceito é significativo a tal ponto, que é capaz de fecundar as práticas docentes em favor de uma nova ambiência comunicacional mediada pelas tecnologias digitais, principalmente computador e internet . Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐6‐ A cibercultura é mais do que objetos, processos, comportamentos e relações internos ao cyberspace, é uma configuração social‐histórica, uma nova realidade antropológica e política, um quase sinônimo propriamente de sociedade ou de organização social. Para Lemos, compreender a cibercultura como forma sociocultural que emerge da relação simbólica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de bases da microeletrônica que surgiram com a convergência das telecomunicações e com a informática na década de 70. (LEMOS, 2002, p. 13) A cibercultura é a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais. O movimento proclamado pela cibercultura é de tal forma imersa em nosso presente, que home‐banking, cartões inteligentes, celulares, ipad, voto eletrônico com ou sem leitura biométrica, imposto de renda via rede, trata‐se de uma representação à cultura contemporânea sendo consequência direta da evolução da cultura técnica moderna. Vale a pena também trazer para a discussão a argumentação de Pierre Lévy, para ele, “a cibercultura é o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores, que se desenvolvem juntamente como crescimento do ciberespaço” (LÉVY, 1999, p. 32). Hoje o ciberespaço requer um novo meio de comunicação que surge com a interconexão mundial de computadores, sendo um dos principais canais de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do século XXI. O ciberespaço pode ser compreendido pela metáfora do hipertexto mundial interativo, onda cada um pode adicionar, retirar e modificar partes desta estrutura telemática, como um texto vivo, um ambiente de circulação de discussões pluralistas, reforçando competências diferenciadas e aproveitando o caldo de conhecimento que é gerado dos laços comunitários, podendo potencializar a troca de competências, gerando a coletivização dos saberes. Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐7‐ Esta nova estrutura social orgânica, não tem controle social centralizado, multiplicando‐se de forma anárquica e extensa, desordenadamente, a partir de conexões múltiplas e diferenciadas, permitindo agregações ordinárias. Estar on‐line não significa estar incluído na cibercultura. O ambiente de aprendizagem não estimula o fazer do hipertexto e da interatividade próprios das mídias on‐line, sendo uma valiosa atitude de inclusão cidadã na cibercultura. Em lugar de guardião da aprendizagem transmitida, o professor, atento ao contexto cibercultura e à exigência de qualidade em educação, propõe a construção do conhecimento, disponibilizado um campo de possibilidades, de caminhos que se abrem quando elementos são acionados pelos educandos. Ele garante a possibilidade de significações livres e plurais e, sem perder de vista a coerência com sua opção critica embutida na proposição, coloca‐se aberta a ampliações, a modificações vindas da parte dos aprendizes, onde essas inúmeras possibilidades são potencialmente hipertextuais. Uma das possíveis leituras do hipertexto refere‐se ao mundo sem barreiras, os textos e as pessoas conectam‐se de maneira complexa, não havendo motivos para pensá‐lo apenas como a realização de um texto em que pequenos blocos de informações que estão conectados por links. O conceito de hipertexto de Lévy foge ao domínio informático, Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas cada uma deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto significa portanto desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quando possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira. (LÉVY, 1993, p. 33) Menos famosa do que essa, o posicionamento de Lévy, passa por dois pontos fundamentes: técnico e funcional. Do ponto de vista técnico, esta definição foge as questões da informática proporcionando uma simples conexão entre os elementos que a rede pode proporcionar. Na perspectiva funcional, a compreensão deste Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐8‐ conceito tem um caráter bastante mecânico, não passando de uma descrição de máquinas e programas que vinham sendo pesquisados na década de 1990, funcionalmente, um hipertexto é um tipo de programa para a organização de conhecimento ou dados, a aquisição de informações e a comunicação. Em 1990, sistemas de hipertexto para o ensino e a comunicação entre pesquisadores estão sendo desenvolvidos experimentalmente em cerca de vinte universidades da América do Norte, bem como em várias grandes empresas. Esses hipertextos avançados possuem um grande número de funções complexas e rodam em computadores grandes ou médios. (LÉVY, 1993, p. 33) Embora o posicionamento de Lévy considere o hipertexto a realização de uma arquitetura textual “informática”, o autor descreve o hipertexto como um modelo de funcionamento da mente em rede, revelando um conceito de “tecnologia intelectual” (LÉVY, 1996, P.38), como mecanismo de realizar externamente e de forma similar a realidade, modos de trabalho da mente de quem escreve ou lê. Com relação a este posicionamento, acrescenta que se ler consiste em hierarquizar, selecionar, esquematizar, construir uma rede semântica e integrar ideias adquiridas a uma memória, então as técnicas digitais de hipertextualização e de navegação constituem de fato uma espécie de virtualização técnica ou de exteriorização dos processos e leitura. (LÉVY, 1996, p. 49‐50) Uma tecnologia intelectual, quase sempre exterioriza, objetiviza, virtualiza uma função cognitiva, uma atividade mental, sendo o hipertexto a matriz de textos potenciais. Com esses posicionamento é possível entrever a ideia mais bem formulada de que o hipertexto seja uma tecnologia da inteligência, um modo de exteriorizar o que se passa na mente enquanto ela opera com textos. Fazendo‐se uma aproximação com os ambientes de aprendizagem, o hipertexto é extremamente potencial. Potência no sentido de nos dar possibilidades em compreender os modelos, as mais diversas formas de como se lê o mundo, a realidade ou como a mente funciona para algumas atividades. Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐9‐ Os hipertextos podem ser representados de modos diversos, visualizados de forma gráfica e diagramática, mais intuitivo, onde teríamos certas qualidades de conexões e o sujeito direcionando sua aprendizagem. Num segundo momento, podemos perceber os mais diversos caminhos e possibilidades de inclusão nos campos educacionais, proporcionando acessos a instrumentos de orientação em um domínio do conhecimento, assim o “hipertexto adequa‐se perfeitamente ao uso educativo, pois graças à sua dimensão reticular ou não‐linear, face ao material a ser assimilado. Portanto um instrumento bem adaptado a uma pedagogia ativa” (LÉVY, 1996, p. 40) Sem nos deixar seduzir pela utopia tecnológica, podemos perceber como os ambientes de aprendizagem são espaços potenciais para o uso do hipertexto, uma vez que pode influenciar a forma de atuação dos sujeitos envolvidos nos processos educacionais. Esses sujeitos deixam as bases “tradicionais”, as funções de emissor e receptor deverão ser suplantadas para uma perspectiva de interlocução, havendo trocas simbólicas e tendo como categorias básicas cooperação e colaboração, transformando assim, o locus num espaço transacional apropriado ao ensino e aprendizagem colaborativa, coletiva, mas também adequado ao atendimento das individualidades. O hipertexto e os ambientes de aprendizagem podem facilitar a aprendizagem, ressignificando a forma como acontece à apropriação da informação, não acontecendo de forma incidental e sim por descoberta, pois ao localizar as informações, os sujeitos participam ativamente de um processo de busca e construção de conhecimento como um dos possíveis produtos dessa imersão. Uma característica marcante deste processo de aproximação entre hipertexto e ambientes de aprendizagem é a autonomia. Quem aprende se apropria não apenas do conhecimento, mas também do processo pelo qual adquiriu o conhecimento. Quem aprende sabe exatamente como aprendeu. Assim, os “caminhos” aprendidos podem ser logo ensinados, numa polifonia de ações. Os sujeitos seguem trajetos diferentes para compor a riqueza que se tem ao final. Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐ 10 ‐ Essa forma de perceber a educação, utilizando estes espaços de aprendizagem e esses instrumentos, permite o diálogo evidenciado em trocas simbólicas. A tecnologia instrumental dentro de um projeto educacional inovador, facilita o processo de ensino‐aprendizagem, sensibilizam para novos assuntos, trazem informações diferentes, diminuem a rotina, ligam os sujeitos com o mundo, com outras realidades, aumenta a interação, cooperação, colaboração, permitindo a personalização e a comunicação, porque trazem para esses ambientes, linguagens e formas de interação inovadora. A formação de ambientes de aprendizagem não passa necessariamente pelos fatores territoriais físicos, mas pelo desenvolvimento do sentimento subjetivo dos participantes de construir um todo. Desta forma, há inúmeras maneiras de estar ligado pelo todo e no todo. A ideia de ambiente de aprendizagem (território simbólico) marcado pela extensão e pela interação entre os indivíduos em construir esse todo com uma natureza flexível e policêntrica da internet têm funcionado como suporte para as relações interpessoais, ajudando a superar o característico individualismo da sociedade de massa, como sugere várias reflexões sociológicas. Últimas palavras inconclusivas Muitos conhecimentos que podem ser proporcionados aos alunos atualmente não apenas deixam de ser verdades absolutas em si mesmas, saberes insubstituíveis, como passaram a ter data de validade. No ritmo das mudanças tecnológica e científica em que vivemos, ninguém pode prever quais os conhecimentos específicos que os cidadãos precisarão dominar dentro de 10 ou 15 anos para poder enfrentar as demandas sociais que lhes sejam colocadas. O sistema educacional não pode formar especificamente para cada uma dessas necessidades, porém, pode formar futuros cidadãos autônomos, dotando‐os de estratégias de aprendizagem adequadas, fazendo deles pessoas capazes de enfrentar novas e imprevisíveis demandas de aprendizagem. Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐ 11 ‐ Assim, o conhecimento é um processo que prevê a condição de reelaborar o que vem consolidado pela sociedade, possibilitando que não sejamos meros reprodutores, inclui a capacidade de novas elaborações, permitindo conhecer, reconhecer, trazer a superfície o que ainda é implícito, o que, na sociedade, está ainda mal desenhado. Para tanto, o conhecimento deve prevê a construção de possibilidades em que os sujeitos possam ter uma visão aberta, totalizante dos fatos, inter‐relacionando todas as esferas da sociedade, percebendo que o que está acontecendo em cada uma delas é resultado da dinâmica que faz com que todos interajam, dentro das possibilidades da transformação social, no momento histórico, permitindo perceber enfim, que os diversos fenômenos da vida social estabeleçam suas relações tendo como referência a sociedade como um todo. O uso efetivo de tecnologia de informação para comunicar conhecimento requer que o contexto interpretativo seja compartilhado também. Quanto mais comunicadores, sujeitos imersos em ambientes de aprendizagem, maior o compartilhamento dos conhecimentos similares, experiências e conhecimentos anteriores, maior será a eficiência da comunicação e difusão por canais de mediação digital. Essas possibilidades desenham um cenário propício à realização da interação nos ambientes de aprendizagem, pois representam alternativas para aproximar os sujeitos envolvidos disponibilizados. e Desta aumentar a exploração dos forma, o conhecimento recursos pode ser tecnológicos construído colaborativamente. É no interior do processo educacional que podemos encontrar algumas respostas para as questões que surgem a partir do uso de ambiente de aprendizagem e que remetem à transformação da prática do educador e dos educados. Neste sentido, é necessário que a escola tenha abertura e flexibilidade para relativizar suas práticas e suas estratégias do uso da tecnologia com vista a propiciar ao aluno a reconstrução do conhecimento. Para que o sujeito possa Universidade Federal de Pernambuco Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação ‐ 12 ‐ produzir conhecimento é importante que o ambiente de aprendizagem possibilite a construção de saberes e não a reprodução de informações produzidas por outrem. Referências Bibliográficas CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet. 1º ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 243 p. LEMOS, André; CUNHA, Paulo (orgs). Olhares sobre a Cibercultura. Sulina, Porto Alegre, 2003. p.11‐23 LÉVY. Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed 34, 1993. Trad. Carlos Irineu da Costa. _____. O que é virtual? São Paulo: Ed. 34, 1996. Trad. Paulo Neves. _____. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. LIMA JÚNIOR. Arnaud Soares de. Tecnologias Inteligentes e educação: currículo hipertextual. Rio de Janeiro: Quartet/Salvador: Fundesf, 2005. PRIMO, Alex Fernando Teixeira. A emergência das comunidades virtuais. 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