CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL BRUXISMO E SUAS IMPLICAÇÕES NO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO E NO CRESCIMENTO CRANIOFACIAL Monografia de conclusão do curso de especialização em Motricidade Oral Orientadora: Miriam Goldenberg GISELE GEBER CEZARO PORTO ALEGRE 1999 “ A origem de toda ciência está no desejo de conhecer causas e a origem de toda falsa ciência e impostura está no desejo de preferir falsas causas do que nenhuma; ou o que é a mesma coisa na relutância de admitir nossa própria ignorância”. Burke e os Frenologistas de Edinburgh RESUMO Esta pesquisa teórica tem como objetivo o estudo crítico de um hábito parafuncional denominado bruxismo. Devido às alterações musculares e dentárias geradas pelo bruxismo, busca-se descobrir se este hábito influencia na direção do crescimento craniofacial. A maioria dos autores pesquisados são unânimes em afirmar que o bruxismo pode trazer seqüelas importantes para todo o sistema estomatognático. Entretanto, são muitas as divergências e controvérsias a respeito da etiologia e tratamento dessa patologia. Alguns autores referem que o bruxismo provoca modelações ósseas inadequadas e assimetrias faciais, porém não relatam quais foram os recursos e métodos utilizados para chegarem a tais constatações. A partir desse estudo, pode-se refletir o quanto é importante para todos os profissionais que trabalham com distúrbio do sistema estomatognático, inclusive o fonoaudiólogo, o conhecimento aprofundado dessa patologia, pois dessa forma estarão contribuindo para sua prevenção, cura ou minimização das seqüelas. ABSTRACT This academic research has as a purpose the critical study of a parafunctional habit, known as bruxism. As bruxism includes excessive forces and movements applied on tooth contact, wich causes muscle and tooth disorders, scientists have been carrying on studies in order to discover if this habit influences the direction of the cranium facial growing. Most part of other investigators are unanimous in asserting that bruxism can be responsible for bringing important damages for all the stomatognatic system. However, as bruxism is a complex disorder that consists of multiple causative factors, there are controversy and diversion about the etiology and treatment of this pathology. Some authors refer to bruxism as it provokes inadequate bone formation and facial assimetry, although they don’t refer to which methods and means they have used to reach such statements. Considering this study, it is important to reflect about the necessity of further clinical researchers in order to contribute to the etiology of this disorder,its causes and treaments, so the professionals who work with disturbances of the stomatognatic system, as well as the speech and language pathologist, will be able to contribute to its prevention, healing or minimization of damages bruxism causes to people. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 1 2. DISCUSSÃO TEÓRICA................................................................................. 3 2.1. Conceito.................................................................................................. 3 2.2. Etiologia.................................................................................................. 7 2.3. Efeitos..................................................................................................... 11 2.4. Tratamento............................................................................................. 16 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 24 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 26 1. INTRODUÇÃO Como é comum as pessoas se queixarem de dores musculares, desgastes e falhas dentárias e todos os incômodos decorrentes do hábito de ranger e apertar dos dentes. Pensa-se que o fato de ser freqüente não implica que seja algo normal na vida das pessoas, pois trata-se de uma patologia, denominada bruxismo. O bruxismo provoca alterações nos dentes, articulações temporomandibulares, músculos, funções estomatognáticas e talvez, na direção do crescimento craniofacial. Supõem-se que quando este hábito se instala na infância, durante os picos de crescimento, ocorre uma alteração no crescimento craniofacial devido à hipertrofia dos músculos mastigatórios, desgaste severo dos arcos dentais e diminuição da dimensão vertical. Para um melhor conhecimento à respeito desta patologia, esse trabalho se propõe, através de achados bibliográficos, a revisar os aspectos relacionados ao conceito, etiologia, efeitos e tratamento do bruxismo. Atualmente, os fonoaudiólogos têm se ocupado, cada vez mais, no tratamento de pacientes portadores de hábitos bucais parafuncionais. No caso dos bruxômanos, entretanto, é freqüente os fonoaudiólogos, apesar de possuírem habilitação para tratar os distúrbios do sistema estomatognático, encaminharem esses pacientes para outros profissionais, isto é, odontólogos, psicólogos e fisioterapeutas. Conhecendo-se o caráter patológico e destrutivo do bruxismo, será que esse não é o momento dos fonoaudiólogos refletirem melhor sobre a sua prática clínica e sentirem-se autorizados a trabalhar com estes pacientes? Deseja-se que esse trabalho enriqueça o mundo científico e desperte o interesse em todas as pessoas que se preocupam em minimizar, curar e prevenir o aparecimento desta patologia, à execução de projetos e pesquisas no sentido de levantar novos questionamentos e trazer respostas a questões ainda não resolvidas. 2 DISCUSSÃO TEÓRICA 2.1 Conceito O termo bruxismo deriva da palavra grega “Brychein” que significa apertamento, fricção ou atrito entre os dentes, com força e sem finalidade funcional. Segundo as pesquisas de Molina (1989), em 1907, Marie e Pietkiewiez introduziram o termo “Bruxomania” para designar o hábito de cerramento de dentes e, somente em 1931, através de Frohman o termo “Bruxismo” passou a ser usado. Andrade, Ondo e Marciano (1997) classificam este hábito em dois tipos: bruxismo e briquismo. O primeiro é um ranger de dentes que ocorre durante o sono, de caráter fisiológico e rítmico; o segundo ocorre durante o dia e após o aparecimento de um atrito dental inicial. De caráter patológico, o briquismo altera e desequilibra todo o sistema estomatognático, com seqüelas permanentes. O bruxismo é o resultado de uma incoordenação neuromotora dos músculos mastigatórios e está associado a outros hábitos bucais viciosos, tais como: repetidas oclusões dentárias, como tique nervoso; projeção ou lateralização mandibular nos movimentos de abrir a boca; mastigar ou falar e estalar a articulação temporomandibular (Canongia, 1996). Para Ramfjord e Ash (1972) o bruxismo deve ser diferenciado de outro tipo de hábito que ele classifica como mordidas disfuncionais ou hábitos oclusais, que são os seguintes: morder fortemente os maxilares em posição disfuncional, morder a língua, lábios e bochechas, morder objetos como unhas, lápis, tubo de pipa e passadores de cabelo, exercer pressão com os dedos sobre os dentes e vários outros hábitos. Para os autores, quando o apertamento e fixação dos maxilares e dos dentes ocorrem em determinadas situações devido a um estresse emocional ou a uma atividade física, não deve ser considerado como bruxismo, pois consideram este como um hábito não funcional e persistente de ranger e triturar os dentes, na presença de sobrecarga psíquica. O bruxismo é uma desordem funcional dental complexa, destrutiva e de difícil identificação, porque a maioria dos pacientes não tem consciência do hábito (Pavone, 1985). Para Hanson e Barret (1995) a falta de consciência pode estar relacionada ao fato de que nem sempre ocorre ruído articular no ranger de dentes. Os autores definem o bruxismo como um trincar ou ranger dos dentes de caráter não-funcional. A expressão não-funcional se refere a toda função que não seja neurovegetativa (sucção, mastigação, deglutição, respiração e fonação). O bruxismo é uma doença psicossomática que se manifesta através dos movimentos de ranger e apertar os dentes de maneira excessiva, diferente dos contatos oclusais e dentais normais que acontecem nas funções de mastigação dependerá das tendências internas e compulsivas do paciente. Durante o dia, é pouco freqüente, porque os mecanismos corticais e mesencefálicos, que são os responsáveis pela quantidade de força colocada sobre os dentes, a tensão, contração e estiramento muscular, são reprimidos pelos mecanismos de controle consciente que protegem todos os órgãos do corpo. Durante a noite, quando o indivíduo está dormindo, não existe um controle dos mecanismos conscientes e é por isso que o bruxismo se manifesta como forma de liberar a tensão emocional que está reprimida. Esse hábito dificilmente é volitivo (Molina, 1989). Segundo Molina (1989), o ato de ranger os dentes acontece na fase do sono conhecida como paradoxal, que são as fases anteriores e posteriores ao sono profundo. O mesmo autor, classifica o bruxismo segundo a relação maxilomandibular e dental, ou seja, bruxismo cêntrico e excêntrico. Nos indivíduos com bruxismo cêntrico, ocorre apertamento dental em oclusão cêntrica1 e/ou relação cêntrica2. A contração muscular é isométrica, o que propicia o acúmulo de irritantes locais, principalmente ácido acético e ácido lático. Não apresenta facetas de desgaste dental de deslizamento, e os indivíduos, com esse tipo de bruxismo, podem apresentar contatos prematuros cêntricos com ou sem tensão emocional aumentada. Nos casos de bruxismo excêntrico, há apertamento e deslizamento dos dentes nas posições protusivas e laterais-protusivas. As facetas de desgaste são excêntricas, tanto nos dentes anteriores como nos posteriores, e os contatos prematuros podem ser cêntricos ou excêntricos. Os movimentos mandibulares são bordejantes, a contração muscular é isotônica e a musculatura elimina com maior facilidade os resíduos energéticos, ácidos e irritantes. Os indivíduos, porém, com bruxismo excêntrico apresentam dor, disfunção, hipertrofia muscular e sensibilidade à palpação. Roldan , citado por Figueiredo, Bianchini e Crivello Jr. (1997) concorda que o bruxismo cêntrico produz contração isométrica e acrescenta que os impulsos sensoriais 1 Oclusão cêntrica é a relação de contato dental não forçada, voluntária ou não, com o maior número de contatos dentais, inclusive de dentes anteriores. 2 Relação cêntrica é a posição mais retraída da mandíbula a partir da qual os movimentos mandibulares de abertura e lateralidade podem ser realizados. dolorosos causam tensão psíquica no indivíduo e agravam a hiperatividade muscular, gerando com isso, um ciclo vicioso de retroalimentação permanentemente. Para Ramfjord e Ash (1972), a contração muscular no bruxismo cêntrico não é somente isométrica, é também isotônica, porque no apertamento ocorrem pequenos movimentos do maxilar e conseqüente alteração no comprimento dos músculos envolvidos. Durante o bruxismo, forças excessivas são aplicadas aos músculos elevadores da mandíbula (masseter, temporal , pterigoideo medial e pterigoideo lateral), principalmente nos movimentos de fechamento , lateralização e protusão. Nos contatos dentais normais, realizados na mastigação, as forças musculares aplicadas são de acordo com a consistência do alimento e dos hábitos mastigatórios. Essas forças variam de 7 a 25 kg. Em bruxômanos, Molina (1989) observou forças musculares de até 150 kg. Segundo Maciel (1996), essas contrações musculares podem desenvolver forças que variam de 150 a 350 kg. de carga puntiforme, durante os períodos de bruxismo. Em indivíduos normais, os dentes ficam em contato durante duas horas no período de 24 horas do dia e de acordo com as pesquisas de Molina (1989), este contato, em bruxômanos, pode chegar até 10 horas, quando incluídos os contatos de mastigação, deglutição e apertamento dental. Para o autor, os contatos dentais decorrentes do bruxismo, além de serem contínuos e pesados para as estruturas de suporte, são também gerados em uma direção lateral, ao invés de serem dirigidos axialmente. Quando forças laterais são aplicadas ao dente e ultrapassam o limiar de resistência à adaptação periodontal, ocorre mobilidade no dente que foi submetido a essas forças. Para Molina (1995), o bruxismo pode ter origem precoce, antes mesmo da erupção dos dentes, como uma maneira de compensar a dor que é causada pelo processo de erupção dentária. O autor também observou a presença do bruxismo em dentições decíduas, mistas, permanentes e em indivíduos usuários de dentaduras. A incidência desse hábito tem crescido enormemente, 80 a 90% da população, incluindo crianças, são portadoras de sinais ou sintomas do bruxismo (Maciel, 1996). Frasca e Mezzomo (1996), acham que a incidência só tende a crescer, porque a correria do dia-a-dia associado à grande competitividade imposta pela sociedade faz com que as pessoas fiquem com estresse emocional constante, favorecendo com isso os hábitos de ranger e apertar os dentes. Para Giamarchi, Benaiche e Jasmin (1991), a porcentagem de crianças bruxômanas com dentaduras decíduas é de 7 a 7,7%; em dentição mista aumenta até os 10 anos de idade, atingindo o índice de 22%, e após tende a diminuir. Love e Clark citado por Pavone (1985), fizeram uma pesquisa sobre a incidência do bruxismo e concluíram que o percentual varia muito, segundo o critério usado para: definição de bruxismo, tipo de diagnóstico aplicado, tipo de população investigada, questionário usado e objetivos da pesquisa. 2.2 Etiologia De acordo com Pavone (1985), os fatores etiológicos do bruxismo são múltiplos e difíceis de separar. Ele classifica em psicológico, dental, sistêmico, profissional e idiopático. Acredita, porém, que os fatores dentais como tipo de oclusão, posição de dente, mobilidade de dente, padrões de movimento mandibular, morfologia dental e restaurações dentárias, desempenham um papel predominante na origem deste hábito. Mongini (1988) diverge desta opinião, para ele os fatores psicogênicos são primários a qualquer outro fator desencadeante do bruxismo. Molina (1989) e Maciel (1996) sugerem que as causas são psicológicas (tensão emocional crônica, frustração, ansiedade, medo, hostilidade reprimida) e oclusais associadas. Para Molina (1989), os fatores oclusais são os seguintes: defeitos nas superfícies oclusais dos dentes, expansão nas restaurações de amálgama, rugosidades superficiais, interferências dos dentes inclinados, dentes supra-irrompidos, dentes posteriores superiores com torque lingual das coroas, cúspides fora do plano oclusal, pontes sem anatomia dental, contatos oclusais prematuros em indivíduos com mordidas topo-a-topo na região anterior e posterior, mordidas cruzadas e dentes ou restaurações fraturadas. Além destes fatores, o autor salienta o baixo limiar proprioceptivo do indivíduo na percepção dos contatos prematuros3 e interferências oclusais4, como fator etiológico importantíssimo, porém sempre quando as dificuldades emocionais estiverem incluídas. Quando maloclusão e o estresse emocional superam o nível de tolerância fisiológica do paciente, ocorre hiperatividade muscular e colapso na estrutura que tem um nível menor de tolerância (Okeson, 1998). Hanson e Barret (1995) atribuem aos fatores psicogênicos ou de irritação local, ou à combinação de ambos, a origem do bruxismo. Dawson (1980) afirmou que mínimas interferências oclusais, em qualquer excursão, podem gerar o bruxismo, sendo que o emocional participa apenas como fator contribuinte. O autor acreditava que quando a tensão muscular era aumentada pela tensão emocional, na presença de interferências oclusais, ocorria o bruxismo. 3 Contatos prematuros são os tipos de oclusão ou contatos dentais que ocorrem antes que os outros dentes se toquem. Treze anos após, Dawson (1993) é mais reticente em suas afirmações, para ele a causa do bruxismo ainda não está totalmente determinada. Broder e Nicolis (1997) são adeptos dessa mesma teoria. Para Frasca e Mezzomo (1996), as interferências oclusais atuam mais como fator agravante, pois para os mesmos, a tensão psíquica é o fator causal mais importante desse hábito. Conforme Nor, Feldens, Witt, Sherer, Thomazi, Martins, Nunes e Araújo (1991), a etiologia do bruxismo em crianças é classificada da seguinte forma: - origem local: maloclusão, interferência oclusal, padrão de erupção alterado em decíduos e/ou permanentes, dentes perdidos, cistos dentígeros, presença de cálculo dental e reabsorção radicular. - origem sistêmica: padrão alérgico, distúrbio otorrinolaringológico, deficiências nutricionais e ou vitamínicas, imbalanços enzimáticos, distúrbios gastrointestinais, desordens do sistema endócrino (hipertireoidismo), influências de origem genética e hipercinese. - origem psicológica: estado de ansiedade e depressão, situações de stress emocional, expressão do medo ou hostilidade, crianças em fase de autoafirmação, crianças em fase de descoberta de expressão pelo vocabulário. - origem ocupacional: crianças que participam em atividades esportivas, crianças que são cobradas em demasia nas atividades escolares, crianças que atuam em atividades meticulosas e precisas. - origem ligada a padrão de desenvolvimento: tentativa de criar um plano individual, a fim de obter uma situação de repouso muscular, trazendo como conseqüência a instalação de bruxismo anterior em dentição decídua. 4 Interferências oclusais são tipos de contato que interferem com os movimentos da mandíbula e que eliminam parcial ou totalmente uma ou mais guias oclusais do paciente. Para os autores, as interferências oclusais, a maloclusão, o padrão alérgico, os distúrbios otorrinolaringológicos e os distúrbios emocionais são os fatores etiológicos mais preponderantes. As prematuridades na relação cêntrica, associada à aflição emocional, servem como gatilho para o aparecimento do bruxismo (Santos, 1987). Ackermon e Proffit (1994) são contrários à idéia de que maloclusão causa ou serve de gatilho para o bruxismo porque, para os autores, esta afirmação sugere que todo o bruxômano necessita aperfeiçoar a oclusão. Há uma estreita relação entre obstrução nasal, em crianças alérgicas, e o bruxismo. Essa relação ocorre em função do edema alérgico dos meatos acústicos, que, de maneira reflexa, propicia o aparecimento do bruxismo como esforço para abrir os meatos ( Maciel, 1996). Além deste fator etiológico, o autor acrescenta a mordida cruzada em dentes decíduos. Conforme os estudos de Mongini (1988), o uso de drogas do tipo anfetamina aumenta a incidência do bruxismo. Baseado nessa observação, o autor conclui que o Sistema Nervoso Central influi na origem desse hábito. Em indivíduos portadores de alterações músculo-esqueléticas (paralisia cerebral) e retardo mental é comum o ranger de dentes, pois para Pinkham (1996), o bruxismo é o resultado do estado mental e físico básico desses pacientes. Giamarchi, Benaiche e Jasmin (1991) constataram a presença de bruxismo em gêmeos uni e bivitelinos, o que evidencia o caráter hereditário desse hábito parafuncional. Dworkin, citado por Mongini (1988), propõe a existência de um mecanismo intermediário no bruxismo, entre reflexo sensório-motor e a combinação de estresse com predisposição genética. O autor observou que um estímulo irritante provoca uma resposta, que pode ser adequada, diminuindo ou eliminando o estímulo, ou pode ser inadequada e aumentar o estímulo sensorial, gerando um ciclo vicioso entre estímulo e reação, que tende a crescer gradativamente. Segundo o autor, esse tipo de mecanismo pode gerar o bruxismo. Além dos fatores etiológicos relacionados acima, Gallagner, citado por Hanson e Barret (1995) acrescenta o fator ocupacional, isto é, atividades profissionais que exijam um alto nível de tensão e precisão. Para concluir, Parker, citado por Felício (1994), faz uma ressalva importante, que na etiologia do bruxismo alguns profissionais tendem a priorizar aquilo que mais conhecem, ou seja, os dentistas a oclusão e os psicólogos o emocional. 2.3 Efeitos Para que ocorram alterações patológicas no sistema estomatognático do indivíduo portador de bruxismo, Molina (1989) preconiza a necessidade de três fatores: - persistência do hábito; - intensidade do hábito; - duração dos períodos de apertamento e deslizamento dental. A esses fatores Arita, Carvalho, Silva, Bataglion, Chaguri e Nunes (1990) acrescentam a idade do paciente associada à evolução do hábito. O bruxismo é um dos hábitos que mais efeitos causa à cavidade oral, porque se manifesta de forma constante, disfuncional e aplica forças excessivas nos tecidos dentais e periodontais (Molina, 1995). Segundo o autor, quando o bruxismo aparece na infância, as conseqüências sobre a dentição são profundas. Em dentições decíduas pode desenvolver uma falsa classe III, acelerar o processo de extração de dentes e com isso, retardar ou até mesmo acelerar a erupção dos dentes permanentes. Em dentições mistas pode acabar com a guia anterior5, contribuindo para o trauma dos dentes posteriores, durante os movimentos de protusão. Em dentições permanentes pode provocar o apinhamento dos dentes anteriores ou agravar um apinhamento já existente, propiciar o acúmulo de placa, formação de tártaro e, com isso, o estabelecimento da doença periodontal. Além destas, o autor inclui as seguintes alterações decorrentes do bruxismo: disfunção da articulação temporomandibular, dores de cabeça nas fibras do músculo temporal e na região lateral e posterior do pescoço, alargamento ou espessamento do ligamento periodontal e facetas de desgaste nos dentes posteriores e anteriores. O bruxismo é a principal causa de mobilidade dental (Pavone, 1985). A mobilidade dental favorece o aparecimento de diastemas dentais, impactação de comida ou acumulação de irritantes locais e fendas gengivais. Segundo o autor, em dentes móveis a oclusão dentária ideal torna-se difícil de reabilitar e manter. São os músculos elevadores, que participam no fechamento mandibular e que realizam os movimentos de lateralização e protusão, os responsáveis pelo desgaste dentário que ocorre nos bruxômanos. Molina (1997) observou que no início do aparecimento do bruxismo, o desgaste dental é percebido através do achatamento dos caninos superiores e mais tarde, em casos severos, em todo arco dental. Nor, Feldens, Witt, Sherer, Thomazi, Martins, Nunes e Araújo (1991) concordam que o maior desgaste dentário é encontrado nos caninos e ressaltam que ocorre tanto na dentição decídua como na permanente. 5 Guia anterior é o dente anterior que fornece guia para a mandíbula .Sua característica é ditada pela exata posição e relação dos dentes anteriores, o que pode ser examinado tanto horizontalmente como verticalmente. Em dentições naturais, o desgaste maior é nos dentes anteriores e em pacientes que usam próteses dentárias o desgaste é mais intenso nos dentes posteriores por causa da estabilidade e pressão que as dentaduras proporcionam aos dentes posteriores (Ramfjord e Ash, 1972). De acordo como Pinkham (1996), quando o bruxismo aparece na infância, ocorre um desgaste moderado de caninos e molares decíduos. Para o autor, raramente, com exceção de indivíduos incapacitados, esse desgaste pode expor, em demasia, a polpa dentária ao avançar com uma velocidade maior que a formação de dentina secundária. O uso excessivo dos dentes, nos períodos de bruxismo, pode gerar trauma oclusal, fratura de restaurações e disfunção temporomandibular (Broder e Nicolis, 1997). Para Maciel (1996), quando o bruxismo aparece em crianças, ele pode contribuir ou agravar apinhamentos dentários, causar modelações ósseas inadequadas e, muitas vezes relacionadas a outros fatores, desenvolver sérias obstruções respiratórias nasais e conseqüente respiração oral. Em seus trabalhos, Felício (1994) ressalta que a perda de suporte posterior e os desgastes excessivos que ocorrem no bruxismo provocam a diminuição da dimensão vertical de oclusão. A dimensão vertical de oclusão significa a distância entre as arcadas superior e inferior durante a oclusão dos dentes. Quando a dimensão vertical não é fisiológica, ocorre uma mudança anatômica no sistema muscular. Quando a dimensão vertical está diminuída, ocorre um encurtamento dos músculos na oclusão, gerando uma alteração facial, que Lopez (1996) classifica como face típica de “Popeye”. Maciel (1996) preconiza que, quando ocorre uma adaptação biológica juntamente com a remodelação óssea ou migração alveolar, ocorre a manutenção da dimensão vertical de oclusão. Para o autor a perda da dimensão vertical ocorre, somente, quando o odontoblasto responsável pelo processo adaptativo necrosou. O bruxismo aumenta o tonus muscular, gerando hipertrofia unilateral ou bilateral dos músculos mastigatórios, principalmente os masseteres. A hipertrofia e hiperfunção desse músculo podem influenciar no desenvolvimento mandibular durante o crescimento, levando a uma acentuada assimetria facial (Ramfjord e Ash, 1972). Maciel (1996) concorda com essa afirmação e alerta para o fato de que a hipertrofia crônica do músculo masseter pode gerar a obstrução do ducto parotídeo. Os sinais e sintomas desta alteração patológica são: dor facial em torno do canal auditivo externo e da articulação temporomandibular (ATM); parotidite de glândula salivar edemaciada; obstrução do canal excretor, isto é, sialodoquite recorrente e, dependendo da força de contração do conduto de Stenon, à redução de até 70% do fluxo salivar. Segundo o autor, o aumento da quantidade de água e o cateterismo do ducto são indicados no tratamento dessa alteração. Maciel (1996) cita também a doença de Thonsen, ou miotonia congênita de Thonsen, que pode ser confundida com o bruxismo por causa da hipertrofia bilateral dos músculos masseteres. Esta doença promove também uma contração prolongada crônica dos músculos das coxas, antebraços , ombros e pescoço. Apesar de não existir um tratamento específico para esta patologia o prognóstico é favorável. Enlow (1993) acredita que o bruxismo desempenha um papel importante na morfogênese do esqueleto craniofacial. Figueiredo, Biachini e Crivello Jr. (1998) observaram que os hábitos parafuncionais interferem no crescimento ósseo e no equilíbrio da musculatura facial. O osso, por ser um tecido plástico, reage a todo tipo de pressão colocado sobre ele. Em posição de repouso, há um equilíbrio entre os músculos e tecidos orofaciais. Quando ocorre um desequilíbrio nessas estruturas, por pressões anormais, acontecem alterações de velocidade e direção de crescimento craniofacial gerando desarmonias faciais e oclusais. Essas variações, na direção do crescimento facial, podem ser analisadas pela cefalometria6 através de superposições sucessivas. Molina (1995) sugere que o crescimento do arco maxilar e os ossos da face são influenciados pela força de contração da musculatura do sistema estomatognático, durante movimentos funcionais e também parafuncionais do bruxismo excêntrico. O autor ressalta ainda que, na presença de periodontite, essas alterações ósseas ocorrem mais rapidamente. Para ele, a anatomia oclusal é um fator determinante para que ocorra um equilíbrio entre ossos e músculos. O bruxismo pode causar mudanças estéticas e desconforto oral, segundo Pavone (1985). Para Dawson (1980), o desconforto oral pode ser desencadeador de tensão emocional, mais do que vice-versa. Este autor acredita que, quando o bruxismo é grave, ocorre hipertrofia dos músculos masseteres e conseqüente alteração no contorno facial. Mongini (1988) relata que este hábito altera todos os componentes do sistema estomatognático. Nos dentes gera atrito, inflamação, necrose da polpa e mobilidade. Nos músculos, dor e sensibilidade à palpação e na articulação temporomandibular podem ocorrer dores e ruídos, devido à incoordenação dos dois feixes do músculo pterigóideo lateral ou à mudança na forma das cabeças articulares. Mongini (1998) acrescenta a essas conseqüências a perda da dimensão vertical e o deslocamento mandibular em máxima intercuspidação. 6 Cefalometria é um exame radiológico usado para avaliar o crescimento craniofacial através de sucessivas sobreposições dos traçados cefalométricos que indicarão a direção geral do crescimento. Hanson e Barret (1995) relacionam ao bruxismo outros sinais e sintomas, tais como: fadiga da oclusão não mastigatória, irritabilidade e/ou sensibilidade dos dentes, episódios de mordidas nas bochechas, lábios, língua e presença de cefaléias. Mais de 50% das pessoas que apresentam dores de cabeça crônica, provavelmente, têm alterações emocionais e oclusais associadas ao bruxismo. (Molina, 1995) Para Frasca e Mezzomo (1996), esse hábito pode causar perfuração de disco articular, fratura de dentes, doença articular degenerativa, dores no pescoço e colo e má oclusão. Além dos sinais e sintomas já supracitados, Nor, Feldens, Witt, Sherer, Thomazi, Martins, Nunes e Araújo (1991) observaram a presença de edema, zumbido, vertigem e surdez. Em suas pesquisas, Okeson (1998) faz uma observação à característica mais citada por vários autores como efeito do bruxismo, ou seja, o desgaste dental. Para o autor, o desgaste dental nem sempre é sinal de bruxismo, porque alterações de sobremordida e sobressaliência correlacionadas com idade, sexo, guias de protusão, morfologia dento facial, dietas erosivas, força oclusal e fatores ambientais podem, parcialmente, explicar o desgaste dental encontrado em alguns indivíduos. Para Giamarchi, Benaiche e Jasmim (1991) as facetas de desgaste não servem como prova da existência de um bruxismo presente e sim para comprovar que tal episódio aconteceu em algum tempo e por algum motivo. 2.4 Tratamento Para Molina (1989), o tratamento do bruxismo se baseia em cinco objetivos: - reduzir ao mínimo a tensão emocional do indivíduo; - eliminar ou diminuir os sintomas e sinais musculares e articulares do indivíduo; - eliminar ao máximo os contatos prematuros e interferências oclusais do indivíduo; - melhorar os padrões de contração-estiramento-repouso alterados da musculatura; - aumentar a estabilidade oclusal. Nos casos mais severos, onde as alterações oclusais são tão importantes quanto o desequilíbrio emocional, o autor sugere um tratamento multidisciplinar, formado por psiquiatra, oclusionista, fisioterapeuta e psicólogo. A utilização e seleção de cada modalidade de tratamento vai depender da severidade dos sinais e sintomas e outras características peculiares do paciente (Molina, 1995). O mesmo sugere que, inicialmente, o paciente receba todas as informações a respeito da patologia e formas de tratamento, do profissional que irá atendê-lo. Dessa forma, ele acredita que o paciente fica mais participativo e motivado para o processo terapêutico. De acordo com o autor, existem os seguintes recursos terapêuticos para o tratamento do bruxismo: - a reabilitação oclusal com o objetivo de: redistribuir as forças oclusais sobre a maior quantidade de dentes; distribuir as forças axialmente; promover estabilidade oclusal; evitar o deslizamento mandibular; reorientar a memória proprioceptiva e promover o maior número possível de guias oclusais; - o uso de placas e férulas oclusais para: redistribuir as forças oclusais sobre ambas articulações; diminuir a intensidade das forças; proteger o esmalte e a dentina; diminuir a freqüência e/ou intensidade dos episódios do bruxismo e romper o ciclo vicioso da contração muscular sustentada; - o tratamento psicológico para resolver as questões de frustração, auto-estima, incapacidade de adaptação aos problemas do dia-a-dia, de não aceitação pessoal e auto-exigência; - o uso de medicação do tipo miorrelaxante com a finalidade de eliminar a dor e a inflamação e reduzir o espasmo muscular, e também, nos mecanismos desencadeadores de frustração, ansiedade e tensão emocional; - terapia neuromuscular para eliminar, temporariamente, os reflexos musculares e contrações musculares viciadas; - tratamento ortodôntico para fechar os espaços entre os dentes e eliminar inclinação de dentes e mordidas cruzadas anteriores; - uso de dieta mole visando diminuir a força de contração muscular e o trauma sobre os tecidos articulares inflamados; - uso de aparelhos de retroalimentação com o objetivo de reproduzir as descargas elétricas aumentadas ou diminuídas na musculatura do bruxômano e, com isso, modificar o comportamento dele; - aplicação de injeção intramuscular de anestésico local em zonas desencadeantes da dor (músculo masseter, temporal, pterigóideo lateral e o esternocleidomastóideo) com a finalidade de cortar o ciclo doloroso e de melhorar a função muscular, temporariamente; - uso do aparelho estimulador elétrico transcutâneo para promover o relaxamento, eliminar os sinais de tensão, cansaço, tensão muscular, stress, cefaléia tensional ou não tensional, enxaqueca, etc... Molina (1997) ressalta que, quando há cronicidade do hábito, o uso de placas ou férulas de mordida devem ser utilizadas por períodos mais prolongados porque, dessa forma, todos os engramas proprioceptivos viciados serão interrompidos. De acordo com Dawson (1993), o tratamento do bruxismo deve ser realizado através da eliminação das interferências oclusais em qualquer excursão. O autor enfatiza que este aperfeiçoamento da oclusão tem que ser feito minuciosamente porque o menor contato prematuro entre os dentes pode desencadear a contração dos músculos pterigóideos laterais e promover a hipercontração descoordenada no músculo elevador. Às vezes, mesmo depois de atingir a harmonia oclusal, na relação cêntrica, o ranger de dentes reaparece. Dawson (1993) justifica tal situação pela falta de métodos precisos que utilizem a manipulação da mandíbula dentro do eixo terminal de fechamento. Segundo este autor, não interessa se a origem do bruxismo é emocional ou oclusal, o que importa é que, em qualquer caso ou qualquer idade, a oclusão deve ser extremamente aperfeiçoada. Para Dawson (1993), a reabilitação pode ser feita de duas formas: diretamente, através de restaurações oclusais ou ortodontia, e indiretamente através de placas oclusais, com os objetivos de preservar o equilíbrio, que já foi conseguido pela reabilitação oclusal, e reduzir o desgaste e a mobilidade dos dentes. Tratar o paciente, entretanto, com métodos temporários (protetor de boca noturno, medicação miorrelaxante e o uso de uma esponja na boca para dormir) para diminuir os sintomas, parece para este autor, muitas vezes, desnecessário, porque gera um tempo extra de tratamento, faz com que o paciente tenha que usar aparelhos “esdrúxulos” e a ingestão de medicamentos. As abordagens de aprendizagem, usadas para ensinar o paciente a ficar com uma postura de lábios cerrados e dentes afastados servem, de acordo com Dawson (1993), como um recurso a mais para os casos de hipermobilidade de dentes, entretanto essa abordagem só pode ser usada como coadjuvante da correção oclusal. De acordo com o mesmo autor, na reabilitação do bruxômano existem dois problemas difíceis de resolver, o primeiro é quando o paciente tem sinusite crônica e o segundo quando o paciente desgastou toda a sua oclusão, deixando-a plana numa relação topo-a-topo. A sinusite crônica impede a manutenção da oclusão equilibrada, porque a pressão nos sinus provoca a mobilidade das raízes dos dentes superiores. Dawson (1993) sugere, durante essas crises, o uso de placa protetora noturna de vinil flexível. Quanto ao desgaste severo de toda oclusão, o autor acredita que a abordagem terapêutica mais adequada é a manutenção da guia anterior plana. Em alguns casos, no entanto, o paciente preocupa-se mais em manter uma estética anterior. Para melhorar a estética, a guia anterior tem que ser angulada, esta, porém, propicia os movimentos de ranger dos dentes. Para este autor, a solução desse problema é entrar em acordo com o paciente, isto é, um certo grau de bruxismo deverá ser aceito, visando melhorar a estética. Pinkham (1996) acredita que o tratamento em crianças bruxômanas deve iniciar com intervenções simples, isto é, identificar e ajustar as interferências oclusais. Se essa intervenção não for necessária ou fracassar, o autor propõe o encaminhamento para avaliação sistêmica ou o uso de protetor bucal, confeccionado de plástico mole, com o objetivo de proteger os dentes e eliminar esse hábito. Caso o bruxismo seja decorrente de problemas emocionais, encaminha-se o paciente a um especialista em desenvolvimento infantil. No entanto, Pinkham (1996) acha que esse tipo de encaminhamento raramente é necessário. De acordo com Ash, Ramfjord e Schmidseder (1998), quando o bruxismo é agressivo, deve-se usar férula oclusal com a intenção de: controlar o desgaste e as fraturas dos dentes naturais; controlar os riscos de fraturas de restaurações estéticas; controlar o desgaste exagerado de restaurações posteriores com resinas; facilitar a distribuição de carga desenvolvida durante o bruxismo e o nível e direção de suas forças. Os autores sugerem ainda que, nesse tipo de bruxismo, seja feita avaliação psicológica do paciente, pois os mesmos observaram em determinados pacientes, que fazem uso de medicação do tipo Lítio, um bruxismo extremamente agressivo. Lopez (1996) indica, além do uso de férulas oclusais noturnas, a educação do paciente, ou seja, o profissional fornece informações ao paciente sobre os efeitos nocivos de ranger e apertar os dentes, visando à eliminação dessa patologia. Okeson (1998) concorda com esse tipo de abordagem, porque dessa forma o paciente fica bem instruído a respeito de sua patologia e, através de mecanismos conscientes, ele consegue, pelo menos durante o dia, controlar o hábito. Em suas pesquisas, Mongini (1988) relata que sessões de bio-realimentação (biofeedback) podem ser benéficas no tratamento do bruxismo. O uso de retroalimentador EMG pode ser útil na reeducação da musculatura envolvida e no redirecionamento da tensão emocional. (Molina, 1997) O processo de cura do bruxismo é variável, porque depende da etiologia e sintomatologia (Giamarchi, Benaiche e Jasmin, 1991). Para os autores, esse tratamento pode ser realizado por médico generalista, fisioterapeuta, psicólogo ou, para resolver questões sintomatológicas, o cirurgião dentista. Na prática clínica, os autores observaram que, em crianças e adolescentes, dificilmente existe uma demanda para tratamento, porém caso seja necessário, eles aconselham a reabilitação oclusal e o uso de placas de vinil oclusal. Hanson e Barret (1995) são da opinião que no tratamento do bruxismo é relativamente fácil atingir progressos temporários, porém é comum a reincidência desse transtorno. Os autores propõem, além das abordagens supracitadas, o uso da hipnose e da prática negativa. Nessa última, o paciente trinca seus dentes, voluntariamente, durante várias vezes ao dia. Ramfjord e Ash (1972) são contrários ao uso da hipnose nestes casos, porque pode causar uma crise psiconeurótica. A boa compreensão da patologia do bruxismo, suas características e etiologia, proporcionam ao clínico um melhor entendimento das possibilidades e limitações que ele terá que enfrentar em nível de tratamento (Frasca e Mezzomo, 1996). Das abordagens disponíveis para eliminação do bruxismo, os autores privilegiam a psicoterapia, pois observaram que, em alguns casos, apenas a elaboração dos conflitos emocionais leva à resolução desse hábito. Para eles, a função do dentista, nesses casos, fica restrita a controlar e eliminar os danos causados pelo hábito. Segundo Besnilian, citado por Frasca e Mezzomo (1996), a melhor intervenção odontológica, é o diagnóstico precoce, pois dessa forma, evitará que esse hábito prejudique todo o sistema estomatognático. Okeson (1998), contrariando todos os autores pesquisados afirma, em publicação recente, que: “até o presente momento não há método de tratamento conhecido para eliminar permanentemente o bruxismo. Embora as placas oclusais protejam contra efeitos danosos, elas não curam o paciente com bruxismo. Na maioria das vezes, quando um tratamento a longo prazo com placa termina, o bruxismo retorna.” (pg. 274). Entretanto, para alterar o ciclo do sono e diminuir a atividade desse hábito, este autor sugere o uso de antidepressivo tricíclico, em doses muito baixas, antes de dormir. Segundo Pavone (1985), o tratamento do bruxismo é complicado porque existem várias opções terapêuticas, mas poucas evidências clínicas que uma forma de tratamento especifico é realmente efetiva. Para este autor, tratar um bruxômano representa um dos maiores desafios em odontologia clínica. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nesse estudo, compreende-se que o bruxismo é um hábito bucal de alta prevalência e prejudicial a todo sistema estomatognático. Manifesta-se através de movimentos constantes, disfuncionais e fortes da musculatura elevadora da mandíbula, com a finalidade de apertar e deslizar os dentes entre si. É dessa forma que esses músculos tornam-se hipertróficos, os dentes desgastados e, num processo acumulativo, ocorre uma diminuição vertical de oclusão, que também gera um encurtamento desses músculos, na oclusão. Sabe-se que os músculos mastigatórios, principalmente os temporais e masseteres, são os maiores responsáveis pelo crescimento craniofacial, e que os dentes são fontes de estímulo para esse crescimento. A contração muscular excessiva associada à diminuição da dimensão vertical de oclusão, decorrente do bruxismo portanto, interferem na direção do crescimento craniofacial. Segundo os autores pesquisados, o bruxismo influencia na morfogênese do esqueleto craniofacial, provoca modelações ósseas inadequadas e assimetrias faciais. Entretanto, esses autores não relatam que métodos ou recursos utilizam para chegar a estas afirmações. Para isso, sugere-se a realização de estudos longitudinais através de sobreposições de diversos traçados cefalométricos de um mesmo indivíduo em diferentes épocas do seu crescimento. Os fatores etiológicos do bruxismo são múltiplos, porém os fatores locais e emocionais são os maiores desencadeadores do hábito e também vítimas dele, pois o bruxismo pode comprometer o indivíduo como um todo, sua integridade física e emocional. Quanto ao tratamento, constatou-se que, apesar de existir muitas divergências e controvérsias , a maioria dos autores pesquisados preconizam o ajuste oclusal, o uso de placa e férula oclusal e a conscientização do paciente através de informações a respeito das características e tratamento dessa patologia. Dentre os vários profisssionais e abordagens terapêuticas citadas pelos autores, não foi sugerido o tratamento fonoaudiológico. Acredita-se que o fonoaudiólogo, inserido em uma equipe multidisciplinar, possa contribuir, através da abordagem de motricidade oral, no diagnóstico e na minimização ou eliminação dos sinais e sintomas do bruxismo. Para concluir sugere-se que, o fonoaudiólogo e todos os profissionais que se interessam por distúrbios do sistema estomatognático, aprimorem seus conhecimentos a respeito desse hábito bucal para que dessa forma realizem estudos e pesquisas direcionados à prevenção e ao diagnóstico precoce dessa patologia. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACKERMAN, J.L. & PROFFIT, W.R. Diagnóstico e Planejamento do Tratamento Ortodôntico. In: GRABER, M.T. & VANARSDALL, R.L. Jr. Ortodontia - Princípios e Técnicas Atuais. Rio de Janeiro ,Guanabara Koogan, 1994, p. 3-87. ANDRADE, C.V.; MARCIANO,M.H.G.; ONDO, T. Síndrome de Rett: manifestações orais e propostas de tratamento para o bruxismo e briquismo. Temas sobre Desenv., 6: 40-3, 1997. 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