Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 ESTUDO SOBRE A AMPLIAÇÃO DA JORNADA ESCOLAR NO ENSINO FUNDAMENTAL Adriana M. L. Campos Faculdade de Educação Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas CCHSA [email protected] Resumo: O estudo realizado teve como objetivo o levantamento da produção científica sobre a ampliação da permanência da criança na escola de ensino fundamental, tendo em vista a aproximação com o conhecimento já produzido. Caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, e os dados empíricos trabalhados foram os artigos científicos publicados no periódico Educação & Sociedade, que, no período de 2006 a 2011, discutiram sobre a questão da jornada/permanência da criança na escola de ensino fundamental. Os descritores do estudo foram: ensino fundamental, ensino fundamental de nove anos, escola de tempo integral; educação integral; jornada integral e permanência na escola, os quais nortearam a seleção dos artigos, que foram classificados e analisados segundo os conteúdos abordados, localidade, universidade de origem e nível de formação dos autores. Com esse levantamento bibliográfico verificouse a pouca produção do tema no periódico em questão, porém, produziu-se um conhecimento teórico sobre as concepções da escola de tempo integral, suas propostas e principais críticas, além do aprofundamento das questões pertinentes relacionadas ao grande desafio da política educacional brasileira: o dever de garantir a qualidade no ensino fundamental. Palavras-chave: ensino fundamental de nove anos, escola de tempo integral, política educacional. Área do Conhecimento: Grande Área do Conhecimento – Ciências Humanas. Sub-Área do Conhecimento – CNPq- Educação 1. INTRODUÇÃO Diante dos resultados de estudos investigativos sobre os benefícios da ampliação do ensino fundamental para 9 anos, observa-se que tal ampliação tem instigado o debate sobre o processo de escolarização da criança e as funções sociais da escola, no que diz respeito à discussão atual no campo educacional sobre a ampliação da jornada escolar. Objeti- Vera Lúcia de Carvalho Machado Grupo de Pesquisa: Política e Prática Pedagógica Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas CCHSA [email protected] vou-se nesse estudo, realizar o levantamento da produção científica sobre a escola de tempo integral, aproximando esse estudo com os conhecimentos já produzidos, identificando também, as concepções sobre a educação integral, escola/jornada de tempo integral. 2. DESENVOLVIMENTO Iniciou-se o trabalho com a leitura do artigo de Calderón e Borges (2011), publicado na revista Ensaio, para o contato inicial com uma pesquisa de verificação, que utilizou a investigação de revisão bibliográfica, que visa inventariar, sistematizar e avaliar a produção em determinadas áreas do conhecimento. Em seguida, realizou-se a leitura do texto - “Gênero de trabalho científico e tipos de pesquisa” - de Megid Neto (1999), para ampliar o conhecimento sobre métodos e tipos de pesquisas. Posteriormente, direcionaram-se os estudos ao periódico Educação & Sociedade, que atualmente é considerada como uma das mais importantes e influentes publicações da área da Educação do país. Pesquisou-se sobre sua origem e periodicidade. Segundo um editorial nacional e internacional, as categorias de suas publicações são: Artigos, Revisão & Síntese, Análise das práticas Pedagógicas, Formação de Profissionais da Educação, Debate & Polêmicas, Imagens & Palavras. Optou-se em fazer um recorte e realizar a revisão bibliográfica sobre o tema da pesquisa considerando as categorias: Artigos e Análise das Práticas Pedagógicas no período de 2006 a 2011, considerando os seguintes descritores: ensino fundamental; ensino fundamental de nove anos, educação integral, jornada integral, permanência na escola, escola de tempo integral. A partir da seleção dessas publicações, delineou-se a revisão bibliográfica pela leitura de resumos e textos considerando a área de interesse da pesquisa e os objetivos do plano de trabalho. 3. RESULTADOS Observou-se que no período de 2006 a 2011 foram publicados 202 Artigos e 17 Análises de Práticas Pe- Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 dagógicas, distribuídas entre 24 números de revistas editadas, conforme demonstra tabela I. Tabela I – Distribuição de artigos e análises de práticas pedagógicas, ambos publicados na Revista Educação & Sociedade, entre os anos de 2006 a 2011. Ano 2006 2007 2008 2009 Volume 27 28 29 30 2010 31 2011 32 TOTAL Artigos sobre os temas Ano Total de Artigos 2006 32 Nº 02 2007 38 03 2008 28 01 Nº da revista Total de Artigos Total de Análise das Práticas Pedagógicas 94 06 - 95 03 - 2009 24 01 96 17 - 2010 97 06 02 44 02 98 05 - 2011 99 03 - 36 202 0 09 100 25 - 101 05 03 102 07 01 103 04 - 104 12 - 105 05 03 106 08 01 107 - - 108 11 - 109 05 01 110 08 02 111 112 113 114 115 116 117 03 17 16 09 06 12 09 01 01 01 01 24 202 17 Fonte: Autores (2012). Constatou-se que do total desses 202 Artigos publicados, apenas 09 (4,45%) estão relacionados aos objetivos do estudo e, das 17 publicações de Análises das Práticas Pedagógicas, nenhuma disserta sobre o tema da pesquisa, como aponta a tabela II. Tabela II – Quantidades de publicações de Artigos e Análises de práticas Pedagógicas relacionadas ao tema do estudo. Total Fonte: Autores (2012). % 6,25 % 7,90 % 3,57 % 4,16 % 4,54 % 0 4,45 % Total de Análise das Práticas Pedagógicas Análise das Práticas Ped. sobre os temas 02 Nº - % - 03 - - 04 - - 02 - - 03 - - 03 17 - - Verificou-se que dos 09 artigos que abordam os temas propostos no plano de trabalho, 4 são específicos sobre a escola de nove anos, 4 discutem temas diversos sobre aspectos da educação, mas também abordam o Ensino Fundamental e, apenas 1 deles trata, especificamente, sobre os temas da escola de tempo integral, da educação integral, da jornada integral e permanência na escola. Tabela III - Quantidade de artigos publicados relacionados aos temas: ensino fundamental, ao ensino fundamental de nove anos e sobre a escola em tempo integral. Artigos publicados Ensino FunEns.Fund. Escola de Sobre Ano os damental de nove tempo temas anos integral Nº % Nº % Nº % 2006 02 02 100% 2007 03 02 66,67% 01 33,33% 2008 01 01 100% 2009 01 01 100% 2010 02 02 100% Total 09 04 44,44% 04 44,44% 01 11,11% Fonte: Autores (2012). Dentre os artigos que abordam o Ensino Fundamental de 9 anos, encontra-se o de autoria de Kramer (2006) - “As crianças de 0 a 6 anos nas políticas educacionais no Brasil: Educação Infantil e/é fundamental”. Em seu texto a autora faz a discussão, entre outros aspectos, sobre a articulação indissociável entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental como processos pertinentes da democratização da Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 escola brasileira. Essa articulação será garantida por meio da “experiência com a cultura” (KRAMER, 2006, p.810). Outro artigo que discuti a escola de nove anos, Santos e Vieira (2006), “Agora seu filho entra mais cedo na escola: a criança de seis anos no Ensino Fundamental de nove anos em Minas Gerais”, ressalta a obrigatoriedade e implementação antecipada da escola de nove anos no estado de Minas Gerais em 2004. O artigo procura mostrar como se deu essa implementação, a decisão governamental que, segundo autoras, gerou adesão das famílias, as razões demográficas, financeiras, políticas e pedagógicas que embasaram essa decisão de antecipar o ingresso da criança de seis anos nesse nível de ensino. Ainda sobre a escola de nove anos, Dantas e Maciel (2010) em seu artigo - “Ensino Fundamental de nove anos e a inserção de crianças de seis anos na escolarização obrigatória no Distrito Federal: estudo de caso”- refletem sobre a consolidação do Ensino Fundamental de nove anos no Distrito Federal, questionando as especificidades das crianças de seis anos nesse contexto escolar. O último artigo sobre o Ensino Fundamental de nove anos é de autoria de Santos (2010) e denominado: “Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino Fundamental de 9 anos e o Plano Nacional de educação: abrindo a discussão”. Tendo como objetivo o levantamento de características do “processo de elaboração do Parecer e do e do Projeto de resolução das Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino Fundamental de 9 anos” e, ao mesmo tempo, estabelecendo um diálogo entre o Plano Nacional de Educação (PNE). (SANTOS, 2010, p.834). Ao levantar dados sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino Fundamental de 9 anos (parecer CNE/CEB n.11/2010), Santos (2010) em seu texto argumenta brevemente sobre o aumento da jornada escolar e a escola de tempo integral. Retomando sobre os 9 artigos encontrados e analisados, 4 deles tratam de aspectos diversos da educação, porém abordando questões sobre o Ensino Fundamental, entre eles está o artigo de Romualdo Portela de Oliveira docente da Universidade de São Paulo: “Da universalização do ensino Fundamental ao desafio da qualidade: uma análise histórica” (2007). Nele, o autor faz a discussão sobre a universalização do Ensino Fundamental e como esse fator influência na dinâmica da qualidade do ensino. O artigo de Franco, Alves e Bonamino (2007), denominado “Qualidade do Ensino Fundamental: políticas, suas possibilidades, seus limites”, discute e examina sobre “quatros gerações de agendas políticas educacionais”, como sendo um “conjunto relativamente articulado de medidas, relacionadas com seu contexto social e político” (FRANCO; ALVES; BONAMINO, 2007, p.989 e 992). Nesse sentido, os autores descrevem brevemente as gerações de políticas educacionais, iniciando pela década de 1970. Em seguida, descrevem a redemocratização e a renovação das políticas educacionais após a vitória sobre o governo militar. Continuam pela exposição da política educacional no governo de Fernando Henrique Cardoso e a gestão de Paulo Renato de Souza e, por fim, dissertam sobre a política educacional do governo de Luis Inácio Lula da Silva, nas questões recorrentes à continuação e aprofundamento das avaliações em larga escala (prova Brasil, IDEB e ENEM), a criação do FUNDEB e o Plano de desenvolvimento da Educação. O artigo de Thereza Adrião - “Oferta do Ensino Fundamental em São Paulo: um novo modelo” trata das medidas educacionais da reorganização das escolas do ensino Fundamental da rede estadual de São Paulo e política de municipalização de EF por meio da realização de convênios, ambas adotadas durante o governo de Mario Covas (1995-1998). O artigo de Ireni M. Zago Figueiredo (2009), “Os projetos financiados pelo Banco Mundial para o Ensino Fundamental no Brasil”, discute que a educação em meio à crise econômica, é entendida como parte das reformas econômicas. Classificação dos Artigos Mediante Localização, Universidade de Origem, Níveis de Formação e Conteúdos Abordados. Para mapear as produções desses conhecimentos, verificamos as procedências dos Artigos, classificando suas localidades, universidades de origem e níveis de formação dos autores, conforme demonstrado nas tabelas IV, V e VI. Em seguida traçamos um paralelo entre os temas dos artigos, localidades de origem e ano da publicação, demonstrado na tabela VII. Tabela IV – Distribuições dos artigos pela localização dos Estados, Municípios e ano de publicações. Origem dos Artigos Quantidade Ano das publicações de Artigos Estado Municípios Dist. Federal Minas Gerais Paraná Rio de Janeiro Brasília Belo Horizonte 01 01 2010 2006 01 2010 Cascavel Rio de Janeiro 01 01 2009 2006 02 01 01 2007 2007 2008 São Paulo São Paulo São Paulo Rio Claro Fonte: Autores (2012). Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 Tabela V – Distribuições dos Artigos por Universidades. Nº Ano Universidades UNB – Universidade de Brasília. 01 2010 UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais 01 2006 01 2010 UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná. UFRJ – Universidade Federal do Rio Janeiro 01 2009 01 2007 PUC-RJ - Pontif. Univ. Católica do RJ 01 2006 PUC-RJ e UFRJ (em conjunto) 01 2007 USP - Universidade de São Paulo 01 2007 UNES-Universidade Estadual Paulista 01 2008 Fonte: Autores (2012). Tabela VI – Níveis de formação dos autores. Formação dos autores Nº Doutorado em Educação, docente na universidade e na Pós-Graduação da UNIOESTE. Doutorado em Psic. e docente de Pós-graduação do Instituo de Psicologia da UNB. Doutorado em educação e docente na UFRJ. Doutorado em educação e docente na UFMG. Doutorado em educação e docente na UNESP. Doutorado em educação e docente na PUC-RJ Pós-doutoranda em Planejamento Urbano e Regional pela UFRJ Livre-docente em educação e professor na USP Pós-doutorado em educação pela universidade de Londres e docente na UFMG Doutoranda em Educação pela Universidade de Paris e docente na UFMG Mestranda em Psic. pelo Instituo de Psic. da UNB. 01 01 01 01 01 03 01 01 01 01 01 Fonte: Autores (2012). Tabela VII - Distribuição pelo conteúdo em relação à localização e ano do artigo. Estados Ensino Fundamental de nove anos Nº Ano Ensino Fundamental Escola de Tempo Integral Nº Ano Nº Ano _ _ _ _ Minas Gerais 01 2006 01 2010 Brasília 01 2010 _ _ _ _ Rio de Janeiro 01 2006 01 2007 01 2007 São Paulo _ _ 01 2007 01 2008 _ _ Fonte: Autores (2012). Verificou-se que a maioria dos artigos advém do Rio de Janeiro capital, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RJ, 2 artigos são originários da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, da Universidade Federal de Minas Gerais. Observou-se também que entre os 4 artigos que tratam sobre o Ensino Fundamental de 9 anos, 2 deles vêm do estado de Minas Gerais. Com relação ao Ensino fundamental, é do estado de São Paulo que advém a maioria das produções. Nota-se que, os artigos que discutem o Ensino Fundamental têm em comum a reflexão sobre o desafio da obtenção da qualidade da educação brasileira. O artigo específico sobre a escola de tempo integral tem origem no Rio de Janeiro justificada pelas experiências anteriores dos Centros Integrados de Educação Pública - Cieps. (CAVALIERE; COELHO, 2005). Retomando um dos objetivos específicos do plano de trabalho, qual seja, de identificar as concepções de educação/escola/jornada de tempo integral e conhecer experiências desenvolvidas sobre a temática, aprofundou-se no artigo de Cavaliere (2007) – “Tempo de Escola e Qualidade na Educação Pública”, no qual a autora aborda essas questões privilegiando as reflexões entre o “tempo de escola e a qualidade do trabalho que se realiza dentro dela”, bem como “as diferentes concepções que dão suporte às propostas pedagógicas e administrativas de tempo integral” (CAVALIERE, 2007, p. 1015). O foco principal do texto é a ampliação do tempo escolar com relação à permanência do aluno na escola. Nesse sentido, Cavaliere (2007) expõe que a ampliação da permanência diária na escola, geralmente é justificada para o alcance de melhores resultados das ações escolares, ou para adequar a escola às necessidades da vida urbana contemporânea, ou ainda, como mudança da concepção de educação escolar na vida e na formação dos alunos. Esta é apontada por Cavaliere (2007) como a concepção que envolve mais reflexão, englobando as demais. Considerando o tempo relacionado à escola, Cavaliere (2007) argumenta que alguns dos fatores que marcaram a gestão do tempo escolar advêm da obrigatoriedade escolar, das exigências de escolaridade em altos níveis, da formação profissional dos professores, da padronização dos sistemas escolares brasileiros, da escolarização em massa (século XX) e do ingresso das mulheres no trabalho. Nesse sentido, “o tempo de escola é sempre função de diferentes interesses e forças que sobre ele atuam”. (CAVALIERE, 2007, p. 1018). Segundo a autora, pesquisas demonstram que o aumento do tempo na escola apresenta aspetos positivos com relação aos rendimentos do aluno, porém o Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 efeito contrário foi vivenciado devido ao empobrecimento da jornada integral com rotinas escassas de atividades diversificadas e as reproduções da escola convencional no turno adicional, consequentemente, ocorreram o esvaziamento e a inadaptação dos alunos à jornada integral (Ex.: do Cieps). Nesse sentido, Cavaliere (2007) argumenta que “a ampliação do tempo de escola somente se justifica na perspectiva de propiciar mudanças no caráter da experiência escolar”. Para tanto, a autora reflete sobre os conceitos de Dewey, revelando que “toda a prática social que seja vitalmente compartilhada é, por sua natureza, educativa”. (p.1021). Cavaliere (2007) a partir do Censo Escolar de 2006 analisa as tendências de ampliação da jornada escolar, seus números e legislações nos estados brasileiros e o crescimento, nos últimos cinco anos, de projetos de maior permanência na escola, desenvolvidos nos âmbitos federais, estaduais e municipais. Mediante um estudo realizado ao longo de dez anos, Cavaliere (2007) identifica quatro concepções de escola de tempo integral, que muitas vezes se encontram imbricadas nos projetos de desenvolvimento do país. Entre elas, a predominante é a tendência de cunho assistencialista, com a visão de que, as escolas de tempo integral destinamse ao atendimento aos menos favorecidos, sem ênfase no conhecimento. Outra concepção é a autoritária, cuja visão de escola de tempo integral é de uma instituição para prevenir o crime, que enfatiza a formação para o trabalho e a rigidez nas rotinas. A concepção democrática tem a visão de que a escola de tempo integral possa assumir um papel emancipatório, proporcionando uma educação efetiva relacionada à cultura, ao “aprofundamento do conhecimento, do espírito crítico e das vivências democráticas” portando a ampliação da permanência na escola seria garantia de melhor desempenho escolar, sendo este um instrumento à emancipação. (Ibidem, 2007, p. 1029). Segundo a autora, recentemente há outra concepção identificada por ela como “concepção multissetorial de educação integral”, que compreende que a “educação pode e deve se fazer também fora da escola”, sendo assim, não há necessidade da centralização do tempo integral na escola. (Ibidem, 2007, p.1029). Cavaliere (2007) aponta que esta concepção tem sido defendida, a partir de 2003, por alguns projetos governamentais de escola de tempo integral. Nesse sentido, o tempo integral tanto pode, como deve ser oferecido em outros locais, ou seja, a orientação é ofertar o tempo integral para o aluno e não organizar ou estruturar uma escola de tempo integral. Segundo Cavaliere (2007), a fragmentação da oferta de atividades educativas fora do contexto escolar pode se tornar um problema, pois “a manu- tenção de uma referência tanto para o aluno, como para a proposta pedagógica fica, na prática, muito dificultada”. Nesse sentido, Cavaliere (2007) questiona sobre a qualidade pedagógica dessas políticas e sobre a participação de profissionais não-docentes nos trabalhos educativos. Segundo ela, “aumenta a responsabilidade de planejamento, controle e avaliação, caso contrário pode-se transformar perigosamente o sistema de ensino em terra de ninguém”. A autora defende a instituição escolar como locus do aluno e para o aluno, adquirido como direito constitucional. Nele o aluno é prioridade nas ações e na organização escolar, formando com os docentes e gestores um “corpo social” que compartilham objetivos. Nesse sentido, mesmo que algumas atividades sejam realizadas fora do ambiente escolar, este permanecerá como centro de referência. No entanto, a autora não descarta as contribuições da participação de organizações da sociedade civil ou de outras instâncias, pois elas podem ser enriquecedoras, “desde que não represente uma nova modalidade de privatização daquilo que deve, por determinação constitucional, ser público”, desse modo defende o fortalecimento da escola e a análise de cada realidade, para a construção de propostas pedagógicas para a escola de tempo integral. (CAVALIERE, 2007, p. 1032). 4 - CONSIDERAÇÕES Com relação à revisão bibliográfica da produção de conhecimento do periódico Educação & Sociedade, mesmo sendo esta revista um meio importante de comunicação de trabalhos científicos na área de Educação, as publicações que discutem questões sobre o Ensino Fundamental e a Escola de tempo integral, atingem apenas 4,45% do total de artigos publicados no período. Embora o Ensino Fundamental seja o nível de maior duração dentro da Educação Básica e a Educação Integral uma discussão recente no campo educacional brasileiro, considera-se que são poucos os artigos científicos publicados pela revista Educação & Sociedade que discutem sobre esses aspectos. Ainda com relação à Escola de tempo integral os números apontam uma preocupante escassez de discussões, com apenas uma publicação de artigo. No entanto, conclui-se que o estudo realizado contribuiu para o aprofundamento sobre as concepções da escola de tempo integral e de como projetos dessa natureza poderiam contribuir para uma educação de qualidade, a partir de prática de atividades diversificadas, do fortalecimento da instituição escolar, no sentido de reflexões e mudanças na concepção de educação e de sua função em uma sociedade contemporânea. Propiciar mudanças de qualidade das experiências escolares, a fim de con- Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 tribuir na formação humana e na produção e transmissão do conhecimento e da cultura e, desse modo emancipar democraticamente os alunos e toda comunidade escolar. A participação de outras entidades pode ser uma alternativa no oferecimento de estruturas que são parcas na escola pública, no entanto a manutenção da organização, planejamento e avaliação devem ser rigorosas para que não se perca a referência das propostas pedagógicas. Por isso, concordamos com Cavaliere que a centralidade da educação de tempo integral deva ser a escola. 5 - REFERÊNCIAS ADRIÃO, Theresa. Oferta do Ensino Fundamental em São Paulo: um novo modelo. Educação & Sociedade, Campinas, v. 29, n. 102, abr. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br> Acesso em 17 fev. 2012. BORGES, Regilson M.; CALDERÓN, Adolfo I. Avaliação educacional o estado do conhecimento da Revista Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. Ensaio: Avaliação. Política Pública em Educação, Rio de Janeiro, v 19, nº 70, p.42-56, 2011. CAVALIERE, Ana Maria. Tempo de Escola e Qualidade na Educação Pública. Educação & Sociedade. Campinas, v. 28, n. 100, out. 2007. Disponível em <http://www.scielo.br>. 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