ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CAEPE 2011 MONOGRAFIA (CAEPE) Rede Brasileira de Radiocomunicação Segura: uma opção nacional Código do Tema: 14/333 Delegado de Polícia Federal José Luiz Povill de Souza JOSÉ LUIZ POVILL DE SOUZA REDE BRASILEIRA DE RADIOCOMUNICAÇÃO SEGURA: uma opção nacional Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Engenheiro Simon Rosental. Rio de Janeiro 2011 C2011 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________ Biblioteca General Cordeiro de Farias Souza, José Luiz Povill de. REDE BRASILEIRA DE RADIOCOMUNICAÇÃO SEGURA: uma opção nacional / Delegado de Polícia Federal José Luiz Povill de Souza. Rio de Janeiro: ESG, 2011. 43 f.: il. Orientador: Engenheiro Simon Rosental Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011. 1. Radiocomunicação. 2. Compartilhamento de infraestrutura de rede. 3. Gestão participativa. 4. Interoperabilidade. I.Título. Dedico esta monografia a três pessoas, minhas duas filhas Fernanda e Eloah, exemplos de dedicação ao estudo e minha esposa Roseli, exemplo de apego à família. Aos amigos da Turma Segurança e Desenvolvimento, por um ano de convivência que vale por uma vida. Aos Professores, pela oportunidade de conhecer o Brasil. Aos Funcionários da ESG, pela gentileza em todos os momentos. À Direção, pela perseverança em manter as tradições da Escola. O dom da fala foi concedido aos homens não para que eles enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem seus pensamentos uns aos outros. Santo Agostinho RESUMO A radiocomunicação constitui uma ferramenta importante para as atividades das forças de defesa social. Em situações críticas, uma equipe de salvamento ou de preservação da ordem necessita estar conectada a um centro de comando operacional para providenciar auxílio externo, se necessário, e, ao mesmo tempo, com todos os seus componentes para repassar instruções sobre os procedimentos. Ao longo dos anos, cada órgão de defesa desenvolveu suas próprias redes de radiocomunicação, seguindo um modelo de investimento proposto para a telefonia e radiodifusão, no qual a concorrência entre fabricantes e fornecedores era fator primordial à melhoria da qualidade dos equipamentos e serviços oferecidos à população. No Brasil, a independência entre as três esferas de poder definida pelo sistema federativo e o incentivo à livre concorrência, favoreceu a criação de redes isoladas a partir de tecnologias incompatíveis, o que dificulta a integração das forças em operações conjuntas. A recente estruturação da rede de radiocomunicação da Polícia Federal em âmbito nacional tornou-se um estímulo à concepção de um projeto federativo que contemple a interoperabilidade de redes, a integração dos órgãos das três esferas administrativas, o compartilhamento da infraestrutura e a gestão participativa de recursos. As soluções adotadas em diversos países servem de paradigmas e indicam as tendências para os próximos anos, considerando as novas tecnologias, os modelos de gestão apropriados ao sistema federativo e a diversidade de aplicações. Portanto, este estudo aborda aspectos históricos da radiocomunicação e propõe a criação de uma rede nacional para uso das forças de defesa social aproveitando a infraestrutura do sistema de comunicação da Polícia Federal do Brasil. Palavras Chave: Radiocomunicação. Compartilhamento de infraestrutura de rede. Gestão participativa. Interoperabilidade. ABSTRACT Radio communication is an important tool for the activities of the forces of social defense. In critical situations, a rescue team or a team for order maintenance needs to be connected to an operational command center in order to provide external aid, if necessary, and, at the same time, with all its components in order to pass instruction about the procedures. Over the years, each defense institution has developed its own radio networks, following a model of investment proposed for telephony and broadcasting, in which competition between manufacturers and suppliers was a key factor to improve equipment and services offered to the population. In Brazil, the independence between the three branches of power is defined by the federal system and incentivates free competition, favoring the creation of isolated networks based in incompatible technologies, which makes it difficult to integrate the forces in joint operations. The recent re-structure of the radio network of the Federal Police in national level became a stimulus for the design of a federal project contemplating interoperability of networks, integration of three levels of administrative organs, sharing of infrastructure and participatory management of resources. The solutions adopted in various countries serve as paradigms and indicate the trends for the next years, considering new technologies, proper management models for the federal system and diversity of applications. Therefore, this study covers historical aspects of radio and proposes the creation of a network to be used by all national defense forces infrastructures, taking advantage of the social communication system of the Federal Police of Brazil. Keywords: Radio communication. Network infrastructure sharing. Participative management. Interoperability LISTA DE ILUSTRAÇÕES QUADRO 1 Esquema da estrutura da rede de radiocomunicação segura da Polícia Federal ...................................................................................19 QUADRO 2 Esquema da estrutura da rede de radiocomunicação segura da Alemanha............................................................................................23 QUADRO 3 Esquema da estrutura da rede de radiocomunicação segura da França............................ ....................................................................26 QUADRO 4 Esquema da estrutura da rede de radiocomunicação segura da Espanha........................ .....................................................................27 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 10 2 2.1 2.2 2.3 2.4 BREVE HISTÓRICO DAS TELECOMUNICAÇÕES TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL IMPÉRIO ............................................. 11 TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL REPÚBLICA ........................................ 12 A COMUNICAÇÃO SEM FIOS: UM PIONEIRO NO BRASIL ......................... 13 MARCO LEGAL: UMA QUESTÃO DE OPORTUNIDADE .............................. 13 3 3.1 3.2 3.2.1 3.3 3.4 3.5 3.5.1 3.5.2 3.5.3 3.5.4 CENÁRIO ATUAL A RADIOCOMUNICAÇÃO NOS ÓRGÃOS DE DEFESA SOCIAL: DIVERSIDADE DE SOLUÇÕES ..................................................................... 15 REDE DA POLÍCIA FEDERAL ........................................................................ 16 Dificuldades relevantes do projeto ............................................................. 17 INICIATIVAS E PROJETOS OFICIAIS: UMA NOVA PERSPECTIVA ............. 18 PARCERIAS COMUNITÁRIAS: O PODER DA COMUNICAÇÃO................... 20 AS GRANDES REDES GOVERNAMENTAIS NO MUNDO ............................ 22 A experiência alemã ..................................................................................... 22 A experiência francesa ................................................................................. 24 A experiência espanhola .............................................................................. 25 A experiência norte-americana .................................................................... 27 4 4.1 4.2 4.3 CENÁRIO PROSPECTIVO COMARTILHAMENTO DE SISTEMAS .......................................................... 28 OPERAÇÃO CONJUNTA E COORDENAÇÃO INTEGRADA ......................... 29 REDES DO FUTURO ..................................................................................... 30 5 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.5.1 5.5.2 5.5.3 5.5.4 5.5.5 5.6 PROPOSTA DE UMA REDE BRASILEIRA DE RADIOCOMUNICAÇÃO VENCENDO AS BARREIRAS DO SISTEMA FEDERATIVO .......................... 32 PADRONIZAÇÃO TECNOLÓGICA: UMA QUESTÃO DE GOVERNANÇA .... 33 APROVEITANDO A BASE INSTALADA ......................................................... 34 ARCABOUÇO JURÍDICO-REGULATÓRIO ................................................... 35 VANTAGENS OPERACIONAIS ...................................................................... 36 Comunicação nos centros de gerenciamento de crise ............................. 36 Segurança das transmissões ...................................................................... 36 Comunicação nos centros de comando e controle integrados ................ 37 Expansão planejada do sistema .................................................................. 37 Logística de manutenção ............................................................................. 37 IMPACTOS PROVÁVEIS NA SEGURANÇA PÚBLICA .................................. 38 6 CONCLUSÃO ................................................................................................. 39 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 41 10 1 INTRODUÇÃO No ano em curso, o Departamento de Polícia Federal finalizará a instalação da rede INTEGRAPOL de radiocomunicação digital com cobertura em todas as capitais do País. Durante a implantação, foi possível perceber que diversas forças estaduais de segurança e representações regionais de órgãos federais congêneres não dispunham de sistemas com as mesmas potencialidades. A configuração da INTEGRAPOL, por sua vez, permite tanto a expansão da capacidade de cobertura, como o compartilhamento da infraestrutura com outros órgãos públicos, sem prejuízo da qualidade ou da confiabilidade das informações transmitidas. Desde que ocorram alguns investimentos de ampliação do parque tecnológico e se definam protocolos de serviços. Paralelamente, os governos de diversos países têm reforçado a integração dos órgãos de defesa social, como forma de ampliar a capacidade de resposta em situações de catástrofes naturais, agravadas pelas mudanças climáticas e ocupação intensiva do solo e, em ações de segurança pública, em face do recrudescimento do crime organizado e do terrorismo. Uma das providências comuns dos países que seguem o modelo de integração é a construção de redes seguras de radiocomunicação para seus órgãos de segurança pública, através da padronização de protocolos que garantam a interoperabilidade entre equipamentos e tecnologias, ou por meio de investimento direto em infraestrutura de rede. O objeto deste estudo consiste na identificação de fatores conjunturais que indiquem um caminho viável para a construção de uma rede nacional de radiocomunicação segura, que facilite a operação conjunta dos órgãos de segurança e, consequentemente, potencialize a capacidade do Estado brasileiro de prover segurança às pessoas e instituições, aproveitando a rede da Polícia Federal como embrião de um projeto nacional. A base de pesquisa está centrada em notícias, apresentações, discursos, normas e projetos que expressam o reconhecimento das vantagens de uma rede governamental para a segurança pública, em contraste com a ausência de iniciativas neste sentido, até agora verificada. 11 2 BREVE HISTÓRICO DAS TELECOMUNICAÇÕES A transmissão de conhecimentos por meio da fala é uma das mais antigas habilidades desenvolvidas pelo Homem. Silvana Gontijo em sua obra intitulada O Livro de Ouro da Comunicação (2004, p. 14) descreve: houve um tempo em que comunicação à longa distância era o som da voz humana ecoando pelos vales, e a tecnologia mais avançadas significava um jeito melhor de lascar a pedra. E o mundo, por mais vasto que fosse, acabava no horizonte, onde a vista alcançava. Outras formas de comunicação foram importantes para o desenvolvimento da cultura, como o gesto, o desenho, a comunicação visual e a escrita. Porém, na visão da historiadora, “a linguagem oral foi a aquisição mais valiosa de toda a humanidade” (GONTIJO, 2004, p. 15). A distância entre os interlocutores constituía o principal obstáculo à comunicação verbal. Por muitos séculos, os sinais visuais serviram como principal meio de comunicação em longas distâncias. O exemplo mais expressivo é o sistema de faróis que orientava os navegantes. Na metade do século XIX, o pintor e físico norte-americano Samuel Morse desenvolveu um código para telégrafos elétricos dando início à exploração comercial de uma descoberta tecnológica que inaugurou a era das telecomunicações por ondas eletromagnéticas. 2.1 TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL IMPÉRIO Entre 1852, ano da inauguração da primeira linha de telegrafo elétrico no Brasil ligando o palácio da Quinta da Boa Vista ao quartel da Polícia e 1870, quando o inglês Charles Bright recebeu autorização do Imperador para instalar e operar linhas que ligariam o norte ao sul do Brasil, todas as iniciativas de instalação de telégrafos permaneceram nas mãos do governo. Sob o pretexto de expandir o serviço de telegrafia, que dependia do lançamento de cabos submarinos e consequentemente de investimentos pesados e novas tecnologias, o poder público lançou mão de concessões de exploração. Porém, manteve a propriedade das linhas de transmissão. 12 Em relação à telefonia, as iniciativas de exploração experimentaram maior liberdade. Em 1879, três anos após a invenção do telefone, a empresa americana Bell Telephone Co recebeu concessão para construir e operar linhas na capital do Império. Durante os anos que se seguiram, apesar da importância comercial, o Império apenas exerceu o poder normativo sobre a rede, que por definição legal era, de fato, sua propriedade. A telegrafia no Brasil, no entanto, desenvolveu-se sobre marcos regulatórios que se alternavam. Ora o governo monopolizava a construção e a manutenção das linhas para explorar diretamente os serviços através de seus órgãos, ora terceirizava a exploração através de concessões, principalmente quando os investimentos necessários superavam a capacidade do Império. 2.2 TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL REPÚBLICA O fim da Monarquia no Brasil e o estabelecimento do sistema federativo acrescentaram novas variáveis no panorama das comunicações, sintetizadas no livro que reproduz a história da EMBRATEL: o princípio de descentralização político-administrativa, presente na Constituição de 1891, foi o principal responsável pela emergência de um conjunto de medidas referentes à área de telecomunicações, cujo traço comum era a atuação do setor privado em mercados fragmentados. Sob a égide da nova Carta, as unidades da federação passaram a dispor de políticas próprias para as telecomunicações e muitos estados reproduziram este espírito descentralizador para os municípios (BRASIL, 1998, p.11). Nas décadas seguintes, o Brasil experimentou um crescimento acelerado nas telecomunicações. A telegrafia contou com o espírito desbravador de Cândido Rondon, na vanguarda da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas, enquanto a Repartição Geral dos Telégrafos, em outra frente, projetava novas linhas ao Sul e ao Oeste. Em 1928, a rede perfazia um total de 55.859 km, com 1.350 estações. Diferente sorte acompanhou o desenvolvimento da telefonia nas primeiras décadas do século XIX. Empresas estrangeiras conduziam todo o processo de implantação da infraestrutura, concentrando os investimentos nos grandes eixos da economia, por onde os lucros eram certos. 13 Em 1929, a CTB (iniciais do nome aportuguesado da Brazilian Telephone Company, constituída da unificação das subsidiárias da Light) administrava 42.353 linhas instaladas na cidade do Rio de janeiro, 51.954 linhas no Estado de São Paulo, 5.843 linhas no Estado do Rio de Janeiro e 3.059 linhas em Minas Gerais. 2.3 A COMUNICAÇÃO SEM FIOS: UM PIONEIRO NO BRASIL Outras tecnologias de comunicação eram pesquisadas paralelamente à telefonia e à telegrafia por fios metálicos. Na radiocomunicação utilizavam-se ondas eletromagnéticas para transmissão de sinais através do ar. O Padre brasileiro Roberto Landell de Moura patenteou nos Estados Unidos da América, no início do século XX, aparelhos capazes de emitir e captar ondas eletromagnéticas, precursores do telefone e telégrafo sem fios. Em decorrência de interesses militares, a radiotelegrafia foi monopolizada pelo estado, servindo principalmente às comunicações marítimas. A radiodifusão, outra inovação da época, teve um início marcado pela transmissão de programas culturais em prol do lazer e da integração nacional. Após 1932, quando foi autorizada a propagandas comerciais dos patrocinadores, a radiodifusão transformou-se em um poderoso instrumento de divulgação de serviços e produtos de mercado. 2.4 MARCO LEGAL: UMA QUESTÃO DE OPORTUNIDADE Enfim, da leitura dos fatos históricos precedentes, é possível perceber que a expansão dos serviços de telecomunicação por meio de fios metálicos (telegrafia e telefonia) ocorreu com base em posturas governamentais distintas da expansão dos serviços associados à emissão de ondas eletromagnéticas (radiotelegrafia e radiodifusão). Em certos períodos, a falta de domínio tecnológico e a percepção do atraso em relação aos outros países pressionaram a abertura do setor à iniciativa privada, permitindo o estabelecimento de empresas estrangeiras no Brasil. Em outros, a exacerbação do poder central e a pressão popular sobre a necessidade de redução das diferenças regionais conduziram à predominância da 14 estatização do setor de telecomunicações, com a instituição de monopólios e restrições aos investimentos externos e privados. Por último, o movimento neoliberal, revitalizado na década de 90 com o fim das barreiras impostas durante o período da guerra-fria, definiu o atual modelo, calcado na livre competição e na diversidade de operadoras, como expressa a Lei Geral de Telecomunicações (BRASIL, 1997): Art. 6° Os serviços de telecomunicações serão organizados com base no princípio da livre, ampla e justa competição entre todas as prestadoras, devendo o Poder Público atuar para propiciá-la, bem como para corrigir os efeitos da competição imperfeita e reprimir as infrações da ordem econômica. Restou ao governo a regulação do setor de forma a evitar a deterioração dos serviços e o preço abusivo. Atualmente a Anatel, autarquia especial independente, regula os serviços de telecomunicações no Brasil, com a missão de promover o desenvolvimento e dotar o País de infraestrutura moderna que ofereça serviços de qualidade a preços justos. 15 3 CENÁRIO ATUAL 3.1 A RADIOCOMUNICAÇÃO NOS DIVERSIDADE DE SOLUÇÕES ÓRGÃOS DE DEFESA SOCIAL: A comunicação é uma ferramenta primordial na condução de missões de salvamento e segurança. Esta afirmação pode ser comprovada pela simples observação das rotinas operacionais. Uma equipe de campo ou um grupo de especialistas podem ser acionados através da telecomunicação, sem a necessidade de que estejam em uma base fixa, estabelecendo um canal de comunicação seguro e estável entre o local da operação e um centro de comando. Em situações de desastre ou incidente de segurança uma informação oportuna pode salvar vidas e evitar riscos comuns profissionais. A opção pelo rádio ocorreu há muitos anos, certamente em razão dos baixos custos, considerando-se, todavia, as características acima mencionadas, pois o telefone convencional traz a limitação de transmitir mensagens apenas de um ponto fixo a outro e o telégrafo, o inconveniente da necessidade de codificação e decodificação de sinais. A Lei Geral das Telecomunicações, entretanto, reproduzindo as mesmas premissas que valorizaram a competição e a diversidade de investimentos, como garantia de qualidade e preços baixos dos serviços, principalmente, após a privatização do setor, acabou por incentivar a construção de redes federais, estaduais e municipais sem o estabelecimento de um padrão tecnológico que facilitasse o compartilhamento de recursos e a integração dos órgãos de defesa social: Art. 2° O Poder Público tem o dever de: I - garantir, a toda a população, o acesso às telecomunicações, a tarifas e preços razoáveis, em condições adequadas; II - estimular a expansão do uso de redes e serviços de telecomunicações pelos serviços de interesse público em benefício da população brasileira; III - adotar medidas que promovam a competição e a diversidade dos serviços, incrementem sua oferta e propiciem padrões de qualidade compatíveis com a exigência dos usuários; IV - fortalecer o papel regulador do Estado; V - criar oportunidades de investimento e estimular o desenvolvimento tecnológico e industrial, em ambiente competitivo; VI - criar condições para que o desenvolvimento do setor seja harmônico com as metas de desenvolvimento social do País (BRASIL, 1997). 16 Estas particularidades, perceptíveis pela multiplicidade de soluções adotadas ao longo dos anos, continuam produzindo os mesmos efeitos na atualidade. Pois, alguns estados que investiram recentemente em novos sistemas de radiocomunicação, substituindo a tecnologia analógica pela digital, sequer ajustaram seus projetos, uns com os outros, ou mesmo com a União, para buscar simetrias que facilitassem as operações integradas de suas forças de defesa ou a racionalização dos custos de manutenção do sistema. 3.2 A REDE DE POLÍCIA FEDERAL Em 2005, a Polícia Federal iniciou a primeira fase da implantação de uma rede de radiocomunicação digital nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro e Distrito Federal. Adquirida dentro dos programas PROMOTEC e PRO-AMAZÔNIA, a rede INTEGRAPOL, como é chamada pelos policiais, foi concebida para substituir a rede analógica antiga, levando em conta os requisitos fixados pela Divisão de Telecomunicações da Polícia Federal, entre eles: a possibilidade transmitir dados, uso de protocolo aberto (tecnologias não proprietárias), sistema de localização de veículos, criptografia ponta a ponta, reconhecidos casos de sucesso em uso por forças de segurança e possibilidade de compartilhamento com outras instituições. A tecnologia TETRAPOL foi selecionada em processo especial que contou com a assessoria da Fundação ATECH, empresa especializada em soluções tecnológicas. As tecnologias concorrentes foram a TETRA e a APCO 25, que juntamente com o TETRAPOL integram o conjunto de protocolos empregados em sistemas profissionais de radiocomunicação. A rede INTEGRAPOL recebeu investimentos na ordem de 100 milhões de dólares americanos para a aquisição de equipamentos e serviços. Em seu formato final serão instaladas 98 estações rádio base, nove centros de controle e uma plataforma de treinamento para capacitação de técnicos brasileiros. Até o final de 2011, quando o projeto estiver concluído, 9.000 terminais estarão ativos em todo o Brasil. 17 3.2.1 Dificuldades relevantes do projeto É importante abordar as dificuldades do projeto inédito na Administração Pública Federal. A partir delas será possível a comparação das vantagens e desvantagens do compartilhamento da infraestrutura com outros órgãos de defesa social que estejam planejando implantar redes de radiocomunicação próprias nos próximos anos. As dificuldades foram relatadas pelo gerente do projeto em sua monografia de conclusão do Curso Especial de Polícia, ministrado na Academia Nacional de Polícia (CAVALLIN, 2007). Resumidamente, foram: a) Baixa precisão das informações levantadas pelas equipes de campo sobre a localização dos melhores sítios, gerando retrabalho na fase de engenharia de rádio e atrasos no cronograma. b) Dificuldades no processo de negociação com os proprietários dos sítios escolhidos, por falta de uma legislação que obrigue a cessão para fins de utilidade pública. c) Alterações constantes no projeto de rádio engenharia, devido ao insucesso da negociação de alguns sítios previamente escolhidos. d) Ausência de software adequado para predição em novos estudos de cobertura. e) Falta de mão de obra especializada em tecnologia TETRAPOL nos quadros da Polícia Federal na fase inicial da implantação. f) Interferências de outras fontes emissoras detectadas apenas na fase de implantação ou ativação. Houve neste caso a necessidade de acionamento da Agência Nacional de Telecomunicações. g) Aprovação das obras civis de adequação dos sítios que envolvem serviços de engenharia, pareceres jurídicos e autorizações de ambas as partes envolvidas na negociação. h) Instalação e configuração dos links que ligam as estações rádio base aos centros de comando, em razão da localização dos sítios e inexperiência das operadoras com os protocolos de comunicação dos equipamentos. 18 Estrutura da rede INTEGRAPOL 3.3 INICIATIVAS E PROJETOS OFICIAIS: UMA NOVA PERSPECTIVA No ano de 2006, a alta Administração Pública Federal enviou uma mensagem ao Congresso Nacional, no qual são apresentadas as metas e desafios do governo para aquele ano. Entre outras ações e projetos destacam-se alguns referentes à Segurança Pública, dentre eles os investimentos realizados na implantação da Rede de Comunicação da Polícia Federal nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília: [...] é importante lembrar, ainda, que a Rede de Radiocomunicação Digital (TETRAPOL), que está sendo implantada, atuará como base tecnológica do sistema de radiocomunicação dos órgãos de segurança pública nos Estados, permitindo transmissão de voz e dados de forma segura, integrando as polícias estaduais à Polícia Federal e Rodoviária Federal. Assim os investimentos em tecnologia de ponta realizados pela PF não atendem apenas ao órgão, mas proporcionam o desenvolvimento da base tecnológica do Sistema Único de Segurança Pública (BRASIL, 2006, p. 143). No trecho transcrito da mensagem fica evidente a intenção do governo de associar a implantação da rede da Polícia Federal ao Sistema Único de Segurança 19 Pública - SUSP, lançado em 2003, que tem como um dos objetivos a integração das ações dos órgãos de segurança pública. Em outro trecho da mensagem, o ideal de integração é reforçado com a disponibilização de ferramentas de combate à criminalidade aos estados e municípios e o incentivo à adesão ao Sistema de Integração Nacional de Informações de Segurança Pública e Justiça – INFOSEG, que disponibiliza, aos órgãos cadastrados, dados sobre inquéritos, armas de fogo, veículos roubados e mandados de prisão. Atualmente a REDE INFOSEG possui cerca de 120 mil usuários. Reunidos no Rio de Janeiro, os governadores da Região Sudeste emitiram uma carta ao Presidente da República propondo algumas providências para a melhoria dos sistemas de segurança pública nos quatro estados. Dentre elas, a “intensificação da integração dos serviços de informação federais e estaduais, com a participação ativa, além Polícia Federal, das Forças Armadas, COAF, Banco Central e Receita Federal” e complementa: repasse financeiro de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública, conforme valores solicitados e relativos a projetos concretos apresentados para o aperfeiçoamento e treinamento profissional dos policiais e aquisições de equipamentos necessários, por exemplo, para modernização da Polícia Técnica-científica e para o sistema de radiocomunicação digital (HARTUNG, 2007, grifo do autor). No texto da carta, os governadores pontuaram questões consideradas fundamentais para as políticas de segurança pública em cada um de seus estados. A integração dos serviços de informação e a modernização dos sistemas de radiocomunicação são dois dos seis itens descritos. O que deixa transparecer a percepção das vantagens do trabalho integrado dos órgãos policiais, de controle e fiscalização, bem como o senso comum de que a radiocomunicação constitui uma ferramenta de apoio valiosa para o sucesso das operações policiais e de fiscalização. Embora, a integração dos sistemas de informação e comunicação seja um tema recorrente nos discursos oficiais das Autoridades federais e estaduais, a ponto de constar como um dos princípios do Programa de Governo Eletrônico, conforme se lê, na página do Ministério do Planejamento: 20 a natureza federativa do Estado brasileiro e a divisão dos Poderes não pode significar obstáculo para a integração das ações de governo eletrônico. Cabe ao Governo Federal um papel de destaque nesse processo, garantindo um conjunto de políticas, padrões e iniciativas que garantam a integração das ações dos vários níveis de governo e dos três Poderes (BRASIL, 2011). O governo do Estado do Espírito Santo, em março deste ano, divulgou em sua página oficial um projeto de modernização do sistema de radiocomunicação que serve aos órgãos estaduais de segurança pública, de onde se destacam algumas importantes características para este estudo: O Governo do Estado investiu R$ 5.928.472,08 na atualização e ampliação do sistema integrado digital de radiocomunicação da Segurança Pública, com as aquisições de rádios transceptores digitais portáteis, estações fixas e móveis, que garantirá ao setor um sistema de comunicação moderno e de qualidade, além da garantia da segurança das informações policiais por meio dos recursos de criptografia. O objetivo do novo projeto de telecomunicações da Segurança Pública Estadual é maximizar os índices de desempenho e eficácia no atendimento direto à população. Além disso, o novo sistema irá tornar a comunicação policial, de voz e dados, completamente segura e imune à interceptação de terceiros nas suas frequências, como ainda hoje tem ocorrido. O projeto contemplou a aquisição de rádios transceptores digitais portáteis, estações fixas e móveis, o que garantirá à Segurança Pública da Região Metropolitana da Grande Vitória, no prazo de 30 dias, que todas as viaturas do policiamento ostensivo da Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros Militar a eficácia do sistema de comunicação digital (ESPIRITO SANTO, 2011) Nota-se que, apesar da previsão de interoperabilidade entre as forças estaduais, o projeto é essencialmente regional. Não há orientações para uma futura integração com outros sistemas de radiocomunicação da União ou de outro estado. 3.4 PARCERIAS COMUNITÁRIAS: O PODER DA COMUNICAÇÃO As vantagens dos sistemas integrados tornaram-se conhecidas pelas pessoas comuns e passaram a fazer parte de soluções regionalizadas para os problemas de segurança pública. Em reportagem intitulada “Cidade Universitária do Fundão sofre com sequestro-relâmpago”, publicada no site de notícias G1, o prefeito da Universidade citou como uma das medidas de segurança uma ronda de patrulhas que 21 compartilham com o batalhão de Polícia Militar da área o mesmo sistema de radiocomunicação: nós temos nossas ações, mas não são suficientes. Isso aqui não é uma ilha de tranquilidade. É impossível controlar quem entra e quem sai, afirma, enumerando as medidas adotadas pela prefeitura, como a ronda feita por seis carros da Divisão de Segurança, que circulam das 6h às 23h, com sistema de radiocomunicação integrado com o batalhão da área [...] (FREIRE, 2009, grifo do autor). A Polícia Militar de Minas Gerais seguindo o exemplo de um projeto lançado com sucesso na cidade de Recife/PE buscou, no compartilhamento de seu sistema de radiocomunicação com porteiros de condomínios, uma forma de reduzir a criminalidade local. Como explica um trecho da notícia: o chamado projeto-piloto será implantado no bairro Coração Eucarístico. Caso mostre-se eficiente, será ampliado para outras regiões. Através de uma rede de radiocomunicação interligando os condomínios e a PMMG, os porteiros, devidamente treinados, irão informar aos policiais a ocorrência de ações criminosas. Com tal auxílio, espera-se que o trabalho dos policiais torne-se ainda mais eficiente, com consequente diminuição do número de crimes nas ruas e dentro dos prédios da região (MINAS GERAIS, 2008, grifo do autor). O governo do Mato Grosso do Sul, em 2009, lançou um programa de segurança comunitária envolvendo a Secretaria de Estado de Justiça e condutores de taxi. Por meio de rádios cedidos aos taxistas de Campo Grande espera-se o estabelecimento de canais ágeis de comunicação de ocorrências e informações úteis à polícia. O Programa de Segurança Comunitária tem por finalidade propiciar imediata e instantânea radiocomunicação entre os condutores de táxi associados ou conveniados às suas respectivas entidades de classe e o Ciops da Sejusp, de ocorrências e informações que exijam atuação pronta dos órgãos de segurança pública e defesa social (PANTANAL NEWS, 2009, grifo do autor). A Secretaria Coordenadora de Justiça e Defesa Social de Alagoas inaugurou, em 2006, um sistema de radiocomunicação para intercâmbio de informações entre a rede hoteleira do litoral norte e o Batalhão de Polícia Militar de Maragogi, na expectativa de que a criação de um canal direto de comunicação entre empresários e a Polícia Militar traria mais segurança ao setor: 22 a cúpula da Secretaria Coordenadora de Justiça e Defesa Social e o comando do 6º Batalhão, situado no município de Maragogi, inauguram nesta sexta-feira, às 10 horas, o sistema de radiocomunicação, que vai permitir um intercâmbio direto entre a Polícia Militar de Alagoas e o ramo da hotelaria do litoral Norte (AGÊNCIA ALAGOAS, 2006, grifo do autor). Em todos os exemplos acima, a comunicação direta e compartilhada é citada como um fator de melhoria no policiamento e, consequentemente, da segurança em locais público e instalações privadas. 3.5 AS GRANDES REDES GOVERNAMENTAIS NO MUNDO Nas últimas décadas, vários países construíram suas próprias redes de radiocomunicação digital para uso das forças públicas de defesa social, seguindo padrões que tendem à universalização, ou melhor, a construção de redes públicas, independentes do setor privado, que permitam a integração dos órgãos de segurança a partir da convergência de tecnologias de transmissão de voz e dados e a unificação de centros de comando operacionais. Para o alcance das propostas deste trabalho, serão abordadas quatro experiências recentes de construção de redes nacionais de radiocomunicação cujas características mais se aproximaram à rede da Polícia Federal. 3.5.1 A experiência alemã Em viagem a serviço, representando a Polícia Federal nas tratativas iniciais de um acordo entre Brasil e Alemanha sobre parceria em matéria de segurança pública, o autor pôde conhecer a solução adotada pelo governo alemão que resultou a implantação de um sistema público de radiocomunicação segura. A rede de radiocomunicação da Alemanha – BOSNET - foi idealizada há dez anos para ser única, segura e integrada. Os investimentos foram repartidos entre os estados da Federação, ou seja, cada um arcou com os custos da aquisição das estações de retransmissão instaladas em seus territórios e terminais utilizados pelos órgãos locais. O contrato para fornecimento e instalação dos equipamentos foi definido processo licitatório, no qual se sagrou vencedora a empresa alemã EADS com a tecnologia TETRA. 23 O governo federal alemão criou em 2007 a BDBOS (Federal Agency for Digital Radio Of security Authorities and Organizations) para coordenar a implantação, garantir a operacionalidade e uniformidade tecnológica da BOSNET. Toda rede analógica antiga será substituída pela rede TETRA ao final do projeto em 2012, quando estarão ativadas aproximadamente 4.000 Estações Rádio Base, com cobertura de 100% do território da Federação. Está prevista a distribuição de 500.000 (quinhentos mil) rádios por todo País. Por questões técnicas, optou-se em habilitar apenas os recursos de transmissão de voz pela rede digital. Na visão dos alemães, a transmissão de dados mostrou-se pouco eficaz na prática e, por isso, os dispositivos móveis de acesso aos sistemas corporativos ou de troca de arquivos eletrônicos operam por meio dos serviços disponibilizados pelas operadoras de telefonia. Estrutura da rede BOSNET 24 3.5.2 A experiência francesa Na França, o sistema de radiocomunicação estatal está subdividido em três redes: a RUBIS que atende à Gendarmerie, força policial militar do País; a ACROPOL que atende às outras forças de segurança; e, a ANTARES que serve ao corpo de bombeiros. A duas primeiras utilizam o padrão TETRAPOL e a ANTARES, até o ano de 2008, era estruturada em tecnologia analógica, a partir de quando se iniciou um projeto de unificação com a rede ACROPOL, com o objetivo de integrar os serviços de corpo de bombeiros e de urgências médicas através de uma rede digital. À nova rede serão incluídas inovações como cobertura de sinal em túneis e linhas do metrô, uso de equipamentos móveis de última geração para transmissão de dados e localização de equipes, redundância de conexões críticas por meio de satélites, em caso de falhas na internet. A decisão de integração teve como um dos motivos o fato do governo estar investindo em duas redes distintas com sobreposição de cobertura e desperdício de recursos, pois a rede ANTARES necessitava de atualização tecnológica, de forma a atender melhor as necessidades dos bombeiros. No final do projeto, estarão utilizando a mesma rede, as autoridades governamentais, a Polícia Nacional (equipamentos móveis), a Defesa Civil, a Assistência Médica, os Serviços Penitenciários e de Gestão de Estradas. O sistema integrado terá cerca de 200 mil usuários com cobertura em 90 por cento do território francês. 25 Estrutura da rede francesa 3.5.3 A experiência espanhola No ano de 2000, o governo espanhol criou o Sistema de Radiocomunicaciones Digitales de Emergencia del Estado – SIRDEE, após concluir estudos que demonstravam que as redes públicas gozavam de pouca segurança e capacidade de transmissão, as coberturas das redes existentes eram limitadas e os centros operacionais obsoletos. A Empresa EADS Telecom fora contratada para fornecer os equipamentos na tecnologia TETRAPOL e a Empresa Telefonica de Espanha ficou responsável pela infraestrutura da rede. Após cinco anos, a cobertura atingira 550 mil Km2 do território espanhol e 180 mil km2 de mar adjacente, incluindo as Ilhas Canárias. No total, 58.090 terminais operam em todo País. O sistema oferece serviços como: chamadas em grupo, chamadas individuais, chamadas de emergência, conexão com redes de telefonia pública e redes externas digitais ou analógicas, entre outros típicos das redes digitais. O governo da Espanha tinha como meta estabelecer um modelo único de rede 26 troncalizada para uso das forças de segurança e de atendimento a emergências, com possibilidade de integrar outros sistemas e modernizar a doutrina operacional. No modelo de administração, a gestão operacional e a gestão técnicoadministrativa foram separadas em dois centros: um trata das questões operacionais, como controle de usuários e fiscalização das transmissões e outro, das atividades mais complexas, disponibilidade dos serviços. Estrutura da SIRDEE como supervisão, configuração rede e 27 3.5.4 A experiência norte-americana Os EUA há décadas estabeleceram protocolos para os sistemas de radiocomunicação das agências de governo e instituições de segurança pública com a finalidade de assegurar maior segurança às comunicações, disciplinar o uso do espectro e incentivar a competição entre empresas fabricantes de equipamentos de telecomunicação. Participaram da definição dos protocolos entidades públicas e privadas, num amplo debate entre especialistas e usuários. Com o passar do tempo, o padrão adquiriu consistência e tornou-se mundialmente conhecido por APCO 25, atualmente adotado em todo território americano. A tecnologia também é utilizada em algumas metrópoles brasileiras como São Paulo e Belo Horizonte. Uma das vantagens de se usar um protocolo aberto, acessível às empresas especializadas do ramo é a possibilidade de concorrência nas compras governamentais e, consequente, redução dos custos de implantação e manutenção das redes. Em uma reunião entre secretarias de segurança pública e o Departamento de Polícia Federal ocorrida em 2009, discutiu-se as premissas básicas para a criação do Sistema Integrado de Radiocomunicação Críticas e Emergências do Brasil – SIRCE-BR com vistas a criar condições para a interoperação das redes regionais e locais, seguindo o exemplo do APCO 25. Porém não se tem notícias sobre algum projeto posterior derivado desta iniciativa. 28 4 CENÁRIO PROSPECTIVO 4.1 COMPARTILHAMENTO DE SISTEMAS A evolução dos meios de telecomunicação no Brasil foi significativamente influenciada pela capacidade do setor gerar lucros ou servir a propósitos políticos, militares ou sociais. A alternância histórica dos marcos legais denuncia essa característica. Ora o governo tomava frente nos investimentos, com a justificativa de tornar acessível à população as novidades tecnológicas, ora abria as portas à iniciativa privada, com o argumento de que a livre concorrência seria benéfica à redução de custos e à qualidade dos serviços. Esta particularidade, de certa forma, repercutiu nos processos de desenvolvimento das redes de radiocomunicação dos órgãos de defesa social. Pois, as autoridades, ao longo das últimas décadas, não demonstraram empenho algum em estabelecer políticas sistemáticas ou padrões oficiais que facilitassem futuramente a convergência tecnológica dos sistemas, como fizeram os Estados Unidos da América. Nem mesmo, estruturaram redes públicas nacionais, como fizeram Espanha, Alemanha e França, com as tecnologias TETRA ou TETRAPOL. Entretanto, nos dias atuais, novos conceitos de governança orientam as aplicações de Tecnologia da Informação e Comunicação. Destaca-se a interoperabilidade, entendida como a capacidade de intercâmbio de informações entre sistemas distintos. Um dos requisitos vitais nos projetos de manutenção evolutiva de sistemas informatizados com fim de reduzir o retrabalho e agilizar a tomada de decisão. Neste sentido, o Decreto n. 6.932, de 11 de agosto de 2009 fixou diretrizes quanto à obrigatoriedade de compartilhamento de informações, atuação integrada e sistêmica e aplicação de soluções tecnológicas que propiciam o compartilhamento de informações, materializando definitivamente a intenção do governo em integrar ações de seus órgãos em favor do cidadão e valorizar os princípios da racionalização dos gastos públicos. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, DECRETA: o Art. 1 Os órgãos e entidades do Poder Executivo Federal observarão as seguintes diretrizes nas relações entre si e com o cidadão: 29 I - presunção de boa-fé; II - compartilhamento de informações, nos termos da lei; III - atuação integrada e sistêmica na expedição de atestados, certidões e documentos comprobatórios de regularidade; IV - racionalização de métodos e procedimentos de controle; V - eliminação de formalidades e exigências cujo custo econômico ou social seja superior ao risco envolvido; VI - aplicação de soluções tecnológicas que visem a simplificar processos e procedimentos de atendimento ao cidadão e a propiciar melhores condições para o compartilhamento das informações; VII - utilização de linguagem simples e compreensível, evitando o uso de siglas, jargões e estrangeirismos; e, VIII - articulação com Estados, Distrito Federal, Municípios e outros poderes para a integração, racionalização, disponibilização e simplificação de serviços públicos prestados ao cidadão (BRASIL, 2009, grifo do autor). Portanto, novos projetos de sistemas governamentais devem incorporar, por orientação normativa, a convergência tecnológica em favor da interoperabilidade, como condição básica para a maior integração das ações dos órgãos públicos e racionalização de custos de investimento e manutenção. 4.2 OPERAÇÃO CONJUNTA E COORDENAÇÃO INTEGRADA A percepção das vantagens da ação integrada dos órgãos de defesa social para fazer frente aos grandes problemas da Nação atingiu o ápice com o movimento de retomada de bairros cariocas do domínio de traficantes. A partir da incursão de forças federais e estaduais, civis e militares no Complexo do Alemão, as expressões “operação conjunta” e “coordenação integrada” foram consagradas definitivamente, como na reportagem abaixo: os criminosos impuseram o terror no Complexo do Alemão por quase 30 anos. Bastaram duas horas de operação da Polícia, Marinha e Exército, para o estado retomar o morro e devolver a área à população. Eram 2.700 homens das polícias, da Marinha, do Exército. Uma tropa unida e coordenada por uma central de inteligência. Com blindados da Marinha as forças de segurança surpreenderam os bandidos no Morro do Alemão (CAPUCCI, 2010, grifo do autor). Na mesma proporção, durante a operação de treinamento militar Amazônia 2011, empregaram-se os dois conceitos com semelhantes abrangências: como em uma guerra real, cerca de 4,5 mil militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica realizam, desde o dia 23 de maio, operação conjunta em sete municípios e uma comunidade indígena da Amazônia. E, nesse teatro de operações, os militares treinam também o sistema de comunicação das três Forças. Desde a sala de direção do exercício, local onde são coordenadas as 30 atividades realizadas, os militares unificam e aperfeiçoam a comunicação com a tropa (BRASIL, 2011, grifo do autor). Em campanhas nacionais ou em operações de salvamento também se verifica a preocupação com a centralização do comando operacional. Como expressam noticiários recentes: Por iniciativa do Ministério da Justiça, será lançada hoje a nova campanha nacional de desarmamento. O objetivo do Ministério e das instituições e organizações da sociedade civil que vão atuar em conjunto é recolher o maior número de armas em todo o Brasil. Para tanto, a campanha traz novidades em relação às realizadas anteriormente, como a inutilização da arma já no ato da entrega e a ampliação dos postos de recolhimento (CORREIO DO ESTADO, 2011, grifo do autor). A maior parte das aeronaves decola de um campo de futebol transformado em base aérea integrada. O comando da operação, que conta com seis helicópteros, é do major da Força Nacional de Segurança Roberto do Canto. Com 23 anos de Polícia Militar do Rio Grande do Sul, Canto reconhece que esta é a maior missão de sua carreira. „Essa missão, com certeza, é a mais complexa. A maior em termos de tragédia e a que demandou maior concentração de esforços e integração entre vários órgãos. A experiência é muito válida para que a gente possa, cada vez mais, ir aperfeiçoando a forma de atuar, em conjunto, entre inúmeras forças‟, afirmou Canto (TERRA NOTÍCIAS, 2001, grifo do autor). A atuação conjunta dos órgãos das três esferas administrativas e a unificação de centros de coordenação e comando operacional tem marcado a formulação de políticas de enfrentamento nas grandes questões públicas. Por outro lado, o avanço da Ciência da Computação e dos meios de comunicação tem facilitado a diversas soluções adotadas pelos órgãos em eventos. 4.3 REDES DO FUTURO Os países que optaram recentemente em desenvolver redes de radiocomunicação segura em seus territórios seguiram certos conceitos comuns, que indicam uma tendência mundial. Independência dos sistemas privados de telecomunicação, compartilhamento de infraestruturas, capacidade de integração de vários órgãos e cuidado com a segurança da informação são alguns deles. A evolução tecnológica dos últimos anos permite a construção de sistemas de radiocomunicação com todas as características desejadas. Entretanto, a iniciativa 31 de desenvolvê-los depende, sobretudo, da vontade política dos governos centrais e da cooperação dos governos locais. Os três padrões mais utilizados no mundo para a construção de redes governamentais: TETRA, TETRAPOL e APCO-25, foram analisados em artigo publicado pela Coordenação de Projetos da Universidade Federal de Santa Catarina, que concluiu: a escolha de um padrão de radiocomunicação digital deve levar em conta não as características técnicas disponibilizadas, mas sim quais são as características que possuem importância para o usuário da rede, bem como, a relação custo benefício do sistema, e principalmente as condições financeiras não somente para adquirir o sistema, mas principalmente, qual a previsão do custo de manutenção deste sistema; e para finalizar deve-se avaliar qual o ciclo de vida estimado para terminais e infraestrutura (SILVA, 2004, não paginado). O estudo demonstra através de análises comparativas que tecnicamente os três padrões de radiocomunicação atendem às principais necessidades dos órgãos de segurança pública. Assim, a escolha por um ou outro depende apenas das vantagens apresentadas na fase de planejamento de um projeto específico para este fim. Para cada padrão, há diversas empresas e instituições que trabalham fornecendo equipamentos e serviços técnicos, sendo comum a realização de fóruns mundiais para troca de experiências e apresentação de novos acessórios para usos especiais. Informações sobre os fornecedores e eventos podem ser obtidas nos endereços: http://www.project25.org/membership/membership-directory ; http://www.tetramou.com./PageRender/about/themembers.htm ; http://www.tetrapol.com/community/references.html Todos estes fatores apontam que as redes de radiocomunicação governamental do futuro utilizarão uma das tecnologias mencionadas, até que apareça outro padrão mais avançado e conquiste semelhante posição no mercado. 32 5 PROPOSTA DE UMA REDE BRASILEIRA DE RADIOCOMUNICAÇÃO 5.1 VENCENDO AS BARREIRAS DO SISTEMA FEDERATIVO Até pouco tempo atrás, as questões relacionadas à segurança pública eram tratadas exclusivamente nos âmbitos estaduais e municipais, com exceção daquelas em que havia interesse da União, em face do bem protegido. Esta divisão de competências, própria dos sistemas federativos favoreceu o aparecimento de variados modelos de policiamento. Assim, estados e municípios buscaram soluções de comunicação apropriadas às necessidades de seus órgãos de segurança, considerando as suas capacidades financeiras, sem seguir, contudo, nenhum modelo padronizado ou protocolo oficial. Atualmente, os métodos de controle da criminalidade e atuação em locais de desastre são orientados pelo senso comum de que, pela conjugação de esforços dos vários órgãos de defesa social, é possível obter melhores resultados, como mostram os noticiários pesquisados. Embora os discursos estejam afinados em torno das vantagens do compartilhamento dos meios logísticos disponibilizados aos órgãos de defesa, há entraves no processo decisório que dificultam a composição dos interesses políticos e financeiros em torno de projetos comuns, mesmo que estes impliquem claramente em racionalização de esforços. O reconhecimento de que a segurança pública é um fator importante para o equilíbrio da vida social e uma condição essencial ao desenvolvimento do País foi o primeiro passo rumo às recentes iniciativas do governo federal na área de segurança pública, a começar pela criação da Secretaria Nacional de Segurança Pública SENASP com a função de implementar programas, promover a integração e estimular a modernização e reaparelhamento dos órgãos de segurança pública. A SENASP conta com o apoio da Força Nacional de Segurança Pública – FNSP, criada em 2004, para socorrer os estados em questões de urgência e emergência que ultrapassem a capacidade de resposta ou mereçam ação mais rigorosa. A Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública- ENASP e o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania – PRONASCI, ambos os 33 instrumentos de controle da criminalidade e articulação de esforços dos órgãos, visam complementar as medidas do governo federal na área da segurança, em apoio aos estados e municípios brasileiros. Nesta mesma linha, a implantação da rede INTEGRAPOL da Polícia Federal pode ser percebida como outro passo para a consolidação do entendimento de que um projeto voltado à melhoria dos serviços prestados pelo Poder Público deve ser abrangente, envolvendo todas as esferas administrativas. Enfim, os motivos que inviabilizavam, até pouco tempo, o planejamento comum e a ação integrada dos órgãos de segurança, aos poucos estão perdendo força, em razão das ações do governo federal que passou a considerar a segurança da população uma responsabilidade de todos os entes federativos. 5.2 PADRONIZAÇÃO TECNOLÓGICA: UMA QUESTÃO DE GOVERNANÇA Os grandes projetos de construção de redes governamentais de radiocomunicação convergem para os três padrões estabelecidos há mais de uma década e que contam com o aporte de empresas que se especializaram em produzir bens de telecomunicação ou material de defesa. São padrões abertos, não proprietários, que podem ser utilizados por qualquer empresa que se disponha a investir em radiocomunicação digital. Uma questão a ser enfrentada é a inexistência de empresas nacionais que atuem na fabricação, instalação e manutenção da infraestrutura de redes que utilizem um dos padrões reconhecidos. Mantida a pluralidade de tecnologias analógicas e digitais, como vem ocorrendo, provavelmente não haverá um mercado consumidor atraente para as grandes de empresas do setor. Assim como ocorreu nos países estudados, a oficialização de um padrão para redes de radiocomunicação no Brasil traria a certeza de um potencial mercado consumidor, incentivando a instalação de filiais de empresas estrangeiras ou mudanças nas linhas de produção de empresas nacionais. A adoção de padrões tecnológicos nos países europeus não significou desestímulo da concorrência em benefício de determinado grupo empresarial, como poder-se-ia argumentar. Pois, pode-se notar em cada evento promovido pelas 34 organizações de usuários e fornecedores das tecnologias padronizadas, que novos equipamentos estão sendo desenvolvidos por uma variedade de empresas. A vantagem da padronização, portanto, reside em deixar claro ao empresariado quais os produtos e tecnologias são aceitáveis nas compras governamentais, com a garantia de que cada produto comercializado poderá ser adquirido e integrado na rede para ampliação da sua eficiência e cobertura. 5.3 APROVEITANDO A BASE INSTALADA A rede de radiocomunicação da Polícia Federal foi construída para operar com a tecnologia TETRAPOL, a mesma utilizada com sucesso nas redes francesa e espanhola. A INTEGRAPOL irá integrar todas as Superintendências Regionais da Polícia Federal, num um único sistema nacional. Sua estrutura está dimensionada para alcançar outras cidades distantes das capitais, assim que novos investimentos permitirem a sua ampliação. Em sua concepção inicial a rede teria a função de servir como base tecnológica para o sistema de radiocomunicação dos órgãos de segurança pública dos estados como parte do Sistema Único de Segurança Pública, conforme a Mensagem do Presidente Lula ao Congresso Nacional. Algumas situações de uso repassadas diretamente ao autor pelo chefe da Divisão de Telecomunicações - DITEL, o Engenheiro de Telecomunicações Fabiano Mendes Fernandes, que estão registradas em documentos oficiais arquivados na Polícia Federal indicam o potencial da rede para o compartilhamento e uso em missões críticas. As principais são: cobertura da visita do Papa Bento XVI; posse da Presidente Dilma Rousseff; Jogos Militares Mundiais; visita do Presidente Barack Obama; desastre na região serrana do Rio de Janeiro; 40ª reunião de Cúpula dos Presidentes do MERCOSUL, em Foz do Iguaçu; retomada do Complexo do Alemão; e, queda do voo 447 da Air France. Na apresentação da rede INTEGRAPOL para a Presidente da República Dilma Rousseff, O chefe da DITEL ressaltou que para atender às cidades sedes dos jogos da Copa do Mundo, integrando as equipes envolvidas na segurança dos atletas, autoridades e estádios, seria necessário investir em estudos de redimensionamento de tráfego; aquisição de terminais de radiocomunicação e 35 acessórios; eventual acréscimo de mais estações rádio base e canais, considerando o aumento de usuários; incremento de links de comunicação; autorização de mais frequências; treinamento dos novos usuários; e, normatização do uso da rede por várias organizações (FERNANDES, 2011, não paginado). O conjunto de discursos, programas e ações governamentais constitue, juntamente com as semelhanças entre a rede da Polícia Federal e as modernas redes estrangeiras, justificativa suficiente para o aproveitamento da base instalada da INTEGRAPOL no território nacional, como embrião de uma rede brasileira de radiocomunicação. Justificativa que se perfaz tanto pela redução dos custos, como no aproveitamento da experiência acumulada pela Polícia Federal, após uma década de planejamento e execução do projeto de implantação. 5.4 ARCABOUÇO JURÍDICO-REGULATÓRIO A adoção de um padrão tecnológico oficial que sirva de elemento integrador das redes públicas de radiocomunicação exige um ato formal de governo, cuja legitimidade resida na participação de todos os grupos interessados na definição das características ideais, considerando, sobretudo, as redes preexistentes, a topografia brasileira e as necessidades particulares dos órgãos de defesa social. Após a definição da base tecnológica por um instrumento legal, o próximo passo seria a instituição do arcabouço jurídico-regulatório, fixando-se as regras de gestão e de uso da rede. A divisão de tarefas e de responsabilidades adotada na organização das redes estrangeiras estudadas serve como paradigma, com algumas adaptações à realidade brasileira. Neste sentido, o governo federal poderia criar uma agência especial para coordenar a implantação e garantir a uniformidade tecnológica e a operacionalidade da rede, a exemplo da BOSNET alemã. Duas instâncias administrativas constituídas preferencialmente no formato de comitês, conforme o modelo da SIRDEE espanhola, poderiam tratar: uma, da gestão técnico-administrativa e outra, da gestão operacional. Estes comitês seriam compostos de servidores indicados pelos órgãos usuários. 36 5.5 VANTAGENS OPERACIONAIS 5.5.1 Comunicação nos centros de gerenciamento de crise As vantagens de uma rede nacional podem ser avaliadas por mais de um ponto de vista. A mais importante, sem dúvida, é a capacidade de facilitar a ação conjunta de diversas instituições por meio de um único serviço de comunicação. Por exemplo, no desastre ocorrido na região serrana do Rio de Janeiro várias equipes de salvamento foram formadas com componentes da defesa civil, das forças armadas, dos bombeiros e de pessoas voluntárias, que se deslocavam por terra e pelo ar. Todas estas equipes necessitavam de apoio externo para prestar socorro às vítimas e, para tanto, contavam com seus próprios sistemas de comunicação. Entretanto, uma operação com tal complexidade e envergadura requer, dentro da melhor doutrina, a formação de um centro de gerenciamento de crise, de onde as decisões sobre acionamento de ambulâncias, hospitais, perícias, resgate aéreo ou outros recursos logísticos possam ser oportunamente realizadas. A existência de uma rede comum de radiocomunicação, neste caso, facilita as atividades do centro, permitindo a distribuição de tarefas sem perda de tempo. 5.5.2 Segurança das transmissões Outra vantagem significativa está relacionada com a segurança da comunicação em operações policiais, principalmente quando estão envolvidas diferentes organizações. A ação de retomada do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro representou bem uma situação em que a comunicação segura entre forças estaduais e federais é fundamental para o sucesso da operação. Centenas de equipes poderiam receber instruções sigilosas de um centro de comando integrado. A criptografia presente nas redes digitais impede a interceptação por terceiros, evitando, portanto, que a ação policial deixe de contar com o elemento surpresa, condição primordial para evitar a reação dos criminosos. 37 5.5.3 Comunicação nos centros de comando e controle integrados A tendência mundial de integração dos centros operacionais dos órgãos de defesa social tem sido acompanhada pelo desenvolvimento de softwares que permitem o controle do posicionamento das equipes disponíveis. Pouca vantagem seria obtida, se estas equipes não pudessem ser acionadas através do mesmo centro operacional que recebe um chamado. Em um único acidente de trânsito pode ser necessário o acionamento de ambulâncias, bombeiros, guardas de trânsito e polícia judiciária. Daí outra valia do sistema único de radiocomunicação: permitir a comunicação de um operador com todas as equipes acionadas e também entre elas. A sinergia constituída pela interação das atividades dos diferentes órgãos que se complementam umas às outras está presente na maioria dos discursos de especialistas voltados à segurança pública, na atualidade. 5.5.4 Expansão planejada do sistema A padronização tecnológica também propicia um melhor planejamento para a expansão futura da rede. Esta característica é mais importante para os países que não contam com recursos suficientes para um projeto nacional abrangente. Neste caso, redes regionais implantadas posteriormente podem ser integradas à rede nacional à medida que entrem em funcionamento, sem a necessidade do uso de componentes de interconexão que, por vezes, deterioram os sinais e funcionalidades do sistema. 5.5.5 Logística de manutenção Os países que optaram por construir redes governamentais de radiocomunicação seguiram conceitos modernos de gestão de recursos de Tecnologia da Informação e Comunicação. Um destes conceitos consiste na racionalização da logística de manutenção. Um parque formado por equipamentos padronizados favorece a contratação de suporte técnico, bem como, o ganho de escala na aquisição de sobressalentes. 38 5.6 IMPACTOS PROVÁVEIS NA SEGURANÇA PÚBLICA Há algum tempo, autoridades vem demonstrando publicamente a preocupação com a crescente onda de crimes que atinge as cidades e o interior do País. Este fenômeno parece ser universal, pois tal comportamento é perceptível em outros países, indicando que a humanidade passa por uma fase de ascensão da violência. Dentre as medidas anunciadas, ao lado dos investimentos no combate direto ao trio de crimes: tráfico de drogas, tráfico de armas e terrorismo, que assolam até mesmo a soberania dos estados, há outras que são vistas com bons olhos por todos especialistas em segurança pública, ou pelo menos estão incluídas nos discursos oficiais, em face da boa repercussão que provocam. São as ações de modernização dos equipamentos disponibilizados às forças policiais. Modernizar o armamento, a viatura, os sistemas de informação e de comunicação significa, na compreensão comum, alcançar um patamar acima de qualidade, seja pela melhoria dos serviços prestados, seja pela redução dos riscos profissionais. A segurança pública, entretanto, é uma equação de muitas variáveis. Não há como antecipar resultados de uma medida isolada apenas com estudos comparativos e teóricos. Faz-se necessário o acompanhamento de um conjunto de indicadores por um tempo prolongado. Entretanto, pode-se especular que a agilidade, a segurança das comunicações e a atuação coordenada de vários órgãos otimizadas por um sistema de comunicação seguro e unificado trarão condições melhores aos estados e municípios de organizarem centros de atendimento ao cidadão contanto com a atuação integrada dos diversos órgãos de defesa social. A proposta de implantação de uma rede nacional de radiocomunicação segura no Brasil tem por base a evidente carência demonstrada nas pesquisas efetuadas, o caminho seguido por outros países e o sucesso confirmado da rede INTEGRAPOL implantada pela Polícia Federal. 39 6 CONCLUSÃO Nos últimos anos, autoridades públicas e segmentos da sociedade civil têm demonstrado crescente preocupação com os altos níveis de criminalidade, bem como, com a proporção de vítimas em desastres causados pela ação humana ou intempérie. Entre as soluções frequentemente apontadas pelos governadores e responsáveis pela segurança pública figuram a integração dos diversos órgãos que atuam na defesa social e a modernização dos equipamentos de comunicação. Seguindo na mesma trilha, diversos países optaram em construir redes governamentais de radiocomunicação independentes dos sistemas privados de telecomunicação. Este fenômeno, intensificado nas últimas décadas, em razão do desenvolvimento de novas tecnologias digitais de transmissão de sinais é um reflexo também da evolução dos conceitos de governança que valorizam o compartilhamento de recursos e a interoperabilidade de sistemas como pilares da eficiência e eficácia em projetos de Tecnologia da Informação e Comunicação. Com as informações reunidas e analisadas nesta pesquisa é possível concluir que a criação de uma rede brasileira de radiocomunicação segura, nos moldes das redes implantadas na Alemanha, França e Espanha poderá satisfazer as necessidades do Brasil relacionadas à precariedade dos sistemas de comunicação existentes em grande parte dos estados e municípios. Rede INTEGRAPOL, implantada pela Polícia Federal, possui quase todas as características e potencialidades das redes governamentais estrangeiras e poderia servir de base tecnológica para a criação de um sistema nacional de radiocomunicação. Esta era a intenção do governo federal no início do projeto e a visão de futuro que permanece presente na Polícia Federal, pelo que denota a apresentação preparada para a atual Presidente da República. Faltam, então, iniciativas que façam convergir para um único projeto os investimentos na modernização dos sistemas isolados de radiocomunicação, transformando as intenções divulgadas pela imprensa em ações concretas. Há exemplos de sucesso em diversos países que também são organizados no sistema federativo. Portanto, a independência dos estados é um óbice que pode ser vencido com projeto tenha como fundamento as vantagens operacionais e a racionalização dos custos de implantação e manutenção. 40 Enfim, a opção nacional por uma rede brasileira de radiocomunicação segura, com aproveitamento da infraestrutura instalada da rede INTEGRAPOL e do conhecimento acumulado pelos servidores técnicos da Polícia Federal, durante os últimos dez anos, pode representar um significativo avanço no relacionamento entre os entes federativos, principalmente na prestação de serviços que tenham por objetivo a proteção da vida e a preservação da ordem pública. 41 REFERÊNCIAS AGENCIA ALAGOAS. Defesa Social inaugura sistema de radiocomunicação em Maragogi, 15 dez. 2006. Disponível em: http://www.defesasocial.al.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/2006/12/defesa-socialinaugura-sistema-de-radiocomunicacao-em-maragogi/view. Acesso em: 27 jul. 2011. BRASIL. Decreto n° 5.484, de 30 de junho de 2005. 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Lei n° 9.472, de 16 de julho de 1997. Dispõe sobre a organização dos serviços de telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos institucionais, nos termos da Emenda Constitucional nº 8, de 1995. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 jul. 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L9472.htm. Acesso em: 26 jul. 2011. BRASIL. Ministério da Defesa. Operação conjunta Amazônia 2011: Forças Armadas treinam sistema de comunicação. 27 mai. 2011. Disponível em: http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?mostra=7246. Acesso em: 28 jul. 2011. BRASIL. Ministério das Comunicações. Interligando o Brasil ao Infinito: memória histórica da Embratel, 1965/1997. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 1998. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Integração das ações de Governo Eletrônico com outros níveis de governo e outros poderes. Disponível em: <http://www.governoeletronico.gov.br/o-gov.br/principios>. 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