XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CCSA ISSN 1808 - 6381 O FLORESCIMENTO DA CORPOREIDADE E DA LUDOPOIESE NOS SABERES DA AUTONOMIA COM O EDUCADOR GENTILEZA 1 Luciane Schulz , UFRN/PPGEd/BACOR 2 Narla Sathler Musse. , UFRN/PPGEd/BACOR 3 Rita de Cássia Araújo Alves Mendonça , UFRN/PPGEd/BACOR RESUMO Este trabalho tem por objetivo apresentar um recorte de um estudo acadêmico da corporeidade, ludopoiese e os saberes freireanos por meio de uma pesquisa qualitativa, com abordagem etnofenomenológica, envolvendo 6 doutorandos e mestrandos da Base de Estudos da Corporeidade ligada ao Programa de Pós_Graduação em Educação da UFRN, no semestre de 2009.02.A partir da Pedagogia Vivencial Humanescente que busca criar, experimentar, dialogar e socializar esse saber e da Teoria da Ludopoiese com as propriedades inerentes ao fenômeno da autoprodução da alegria de viver foi criado um personagem conceitual que representasse o querer bem dos participantes em diferentes dimensões de suas vidas pessoais, profissionais e nos projetos de vida. Este personagem denominado de “Jardineiro Gentileza”, simbolizando um educador que trabalha os saberes necessários para uma pedagogia da autonomia centrado na amorosidade e no querer bem aos educandos, enfrenta, em um primeiro momento, o desafio de romper com o modo fragmentado das práticas educativas, trazendo vida e beleza para as nossas ações no processo educacional e na nossa própria vida que se reflete em nosso fazer profissional. O personagem através de figurinos, acessórios, maquiagens e adereços foi corporalizando os saberes freireanos a cada encontro com os educadores-pesquisadores e em seus laboratórios vivenciais. Estes encontros eram locais de reflexão e produção de conhecimentos sobre a necessidade de corporalizar os saberes freirianos para a efetiva pedagogia da autonomia. O personagem foi experimentando, dialogando e socializando o querer bem aos educandos, cuidando, cultivando e querendo bem às suas flores, ou seja, metaforicamente aos educandos. Esta prática foi espontânea, diária e permeada pela ludicidade, criatividade e sensibilidade. A partir da corporalização deste personagem foi possível observar como a corporeidade floresce nos saberes da autonomia, pois como finalidade da educação, a relação ética é inseparável dos cuidados que apresenta para a valorização e o reconhecimento do ser de vida. Paulo Freire destaca que permanecendo amorosamente, estamos cumprindo o dever e lutando politicamente por seus direitos e pelo respeito à dignidade da pessoa humana. A escola deve ser um espaço ludopoietico onde o brincar e o fluir permeiam o processo educacional contribuindo com a construção de um mundo mais solidário, onde a gentileza é parte de cada um no processo educacional. Ao contemplar-se um jardim e encantar-se com o cenário de vida onde há sementes, flores, frutos, larvas, lagartas, borboletas, sol, vento, chuva, percebe-se que estes fenômenos da natureza precisam de um jardineiro. E que com amorosidade e com princípios éticos, colabora para o processo de transformação e embelezamento permanente revelados nas cores, aromas e nos sons especiais o viver. Dessa forma o personagem corporalizado pelos educadores mostra que é possível transformar uma escola apática, cinzenta e triste, num belo e encantado jardim. E nessa transformação, seu jardim encantado se fundiria com a escola, os alunos e flores se misturariam, as borboletas e pássaros visitariam e alegrariam ainda mais aquele cenário e o saber seria uma constante busca. Palavras-chave: Educação Vivencial Humanescente, Corporeidade, Ludopoiese. 1 Terapeuta Ocupacional , mestre e aluna especial em [email protected] 2 Geóloga, doutoranda em Educação. E-mail: [email protected] 3 Psicóloga, doutoranda em Educação. E-mail: [email protected]. Educação. E-mail: XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CCSA ISSN 1808 - 6381 2 INTRODUÇÃO Quando Paulo Freire discute a questão da formação docente aliada à reflexão sobre a prática educativo-progressiva em favor da autonomia do ser dos educandos (FREIRE, 1996), está configurando a temática na perspectiva da inconclusão do ser humano e de sua inserção num permanente movimento de procura. Dessa maneira, os saberes necessários para uma Pedagogia da Autonomia foram configurados em três grandes estruturas que são: Não há docência sem discência; Ensinar não é transferir conhecimento e Ensinar é uma especificidade humana. Para cada estrutura temática, foram agrupados nove saberes respectivamente. Paulo Freire mostra, através dos princípios ontológicos do ser autônomo, livre e ético que é preciso querer bem, gostar do trabalho e do educando, ter amorosidade, sendo um sujeito pleno e aberto para o ensinar e o aprender, como ser ludopoietico e capaz de experimentar novas formas de aprender e pesquisar na perspectiva da corporeidade, da pedagogia vivencial humanescente e da ludopoiese (ASSMANN, 1995; CAVALCANTI, 2006; 2008; MATURANA E VARELA, 1997; MORAES, 2008). Paulo Freire defende que “como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo” (FREIRE, 1996, p.98), assim, diante do saber “Ensinar é uma especificidade humana” preconizado pela Pedagogia da Autonomia, os integrantes da Base de Pesquisa da Corporeidade – BACOR, ligada ao Programa de Pós-graduação em Educação da UFRN, se propuseram a um desafio: corporalizar a pedagogia proposta por Paulo Freire, mais especificamente oquerer bem aos educandos. Para tal, foi utilizada a métafora do Jardineiro Gentileza, que cultivando e querendo bem às suas flores é capaz de tornar o jardim florido, acolhedor e humanescente, se tornando um local propício para que outros seres possam ser acolhidos. Uma escola como um jardim, é capaz de atrair amorosamente os alunos, professores, comunidade e todo o entorno. A vivência foi elaborada a partir do aporte teórico-metodológico da Pedagogia Vivencial Humanescente (BYINGTON, 1996; CAVALCANTI, 2006) que busca criar, experimentar, dialogar e socializar amorosamente a tarefa educacional, da Teoria da Ludopoiese com as propriedades inerentes ao fenômeno da autoprodução da alegria de viver (CAVALCANTI, 2008). Este trabalho apresenta um recorte de um estudo acadêmico da corporeidade, ludopoiese e os saberes freireanos por meio de uma pesquisa qualitativa, com abordagem etnofenomenológica, envolvendo 6 doutorandos e mestrandos da Base de Estudos da Corporeidade ligada ao Programa de Pós_Graduação em Educação da UFRN, no semestre de 2009.02. Entre os instrumentos metodológicos utilizados está o Jogo de Areia (KALFF, 2003; MARKELL, 2002; CAVALCANTI, 2008). Essa ferramenta pedagógica permite o brincar se entrelaçando com o sentir e o criar, possibilitando a reflexividade vivencial. Os participantes foram convidados a refletir sobre a forma como eles estavam vivenciando o querer bem na sua vida pessoal, o querer bem na vida profissional e as condições que estavam criando para esse querer bem. Outros instrumentos metodológicos utilizados foram as encenações teatrais, o uso do cordel e outras atividades ludopoiéticas, envolvendo a emoção e a criatividade na transformação da realidade. XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CCSA ISSN 1808 - 6381 3 JARDIM DO QUERER BEM: O NASCIMENTO DO JARDINEIRO GENTILEZA Após as reflexões iniciais, iniciaram-se as construções dos cenários no jogo de areia, usando as miniaturas e os materiais relacionados ao vivencial de cada participante. O cenário deveria mostrar o querer bem na vida profissional. Será feito um recorte de dois cenários construídos pelos membros do grupo para ilustrar o nascimento do personagem Jardineiro Gentileza e evidenciar as categorias comuns a maioria dos cenários construidos. Os cenários imagéticos construidos podem ser observados na figura 1. Na socialização dos cenários, algumas categorias se apresentaram em comum no querer bem na vida profissional. Entre elas estavam a alegria, a autonomia, o saber cuidar, a amorosidade, o se permitir às transformações e lidar e aceitar as diferenças. 1A 2A 1C 2B 1B Figura 1 – Cenários representando a vivência do querer bem na vida profissional. O cenário 1está dividido em três setores interconectados. Em 1A, o ambiente teórico do processo de aprendizagem; Em 1B o caminhar para a vivencialidade e, em 1C, a vivência do querer bem. O cenário 2 está dividido em dois setores também interligados. Em 2A, a representação da amorosidade, a alegria e o saber cuidar e, em 2B, a vivência do querer bem. Fonte: Narla Musse A partir da identificação destas categorias iniciou-se as reflexões que levariam a criação de um personagem educador que refletisse o pensamento de todos os participantes do estudo, a partir das categorias identificadas nos cenários imagéticos. Assim, um personagem conceitual que fosse capaz de manifestar os territórios, desterritorializações e reterritorializações do pensamento foi criado (DELEUZE E GUATTARI, 2000), representando o querer bem dos participantes em diferentes dimensões de suas vidas pessoais, profissionais e nos projetos de vida. Este personagem deveria refletir os saberes necessários para uma pedagogia da autonomia, permeada pela teia da corporeidade que tem como fios a reflexividade autobiográfica e vivencial, a ludicidade, a criatividade, a sensibilidade e a recursividade humanescente. No centro da Teia da Corporeidade está a Humanescência, compreendida como sendo a capacidade inerente aos seres humanos de irradiar energia positiva quando vivem e vivenciam situações e emoções que possibilitam a liberação de um fluxo energético multidirecional e multifocal para si, os outros e o entorno. (CAVALCANTI, 2006). XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CCSA ISSN 1808 - 6381 Assim, nasce o personagem denominado “Jardineiro Gentileza” pois a educação deve cuidar, cultivar, respeitar as diferenças, querer bem às suas flores, ou seja, alunos e demais membros da escola e essa prática deve ser espontânea e diária, permitindo transformações. Este personagem, simboliza um educador que trabalha os saberes necessários para uma pedagogia da autonomia centrado na amorosidade e no querer bem aos educandos. EXPERIMENTANDO, DIALOGANDO E SOCIALIZANDO O PERSONAGEM EM NOVE ATOS O personagem enfrenta, em um primeiro momento, a missão de romper com o modo fragmentado das práticas educacionais, trazendo vida e beleza para as nossas ações no processo de ensinar e aprender e na nossa própria vida que se reflete em nosso fazer profissional. Depois da criação do personagem, com as reflexões e idéias dos participantes da vivência, o “jardineiro gentileza", é chegada a hora de experimentar, dialogar e socializar os saberes da autonomia. Assim, os particiantes corporalizaram em nove atos os nove saberes referentes ao ato de ensinar como especificidade humana, propostos por Paulo Freire em diferentes encontros vivenciais. Estes encontros eram locais de reflexão e produção de conhecimentos sobre a necessidade de corporalizar os saberes freirianos para a efetiva pedagogia da autonomia. Assim o querer bem aos educandos, foi se manifestando através do cuidado e cultivo do seu jardim encantado, de forma espontânea, diária e permeada pela ludicidade, criatividade e sensibilidade. Os participantes um a um foram contribuindo com os movimentos, os gestos, as expressões e dinâmica de apresentação final para expressar o ato de ensinar como especificidade humana. Muitos ensaios foram precisos para aperfeiçoar os movimentos e manifestar beleza, poesia e a estética do “jardineiro gentileza” no ato de ensinar. Os participantes envolvidos manifestavam alegria, prazer e satisfação, possibilitando integração e fluidez, destacando o sorriso e a disponibilidade para os atos ensaiados. 1º Ato – a segurança, a competência profissional e a generosidade do Jardineiro Gentileza O grupo entrou na sala com as mãos dadas mostrando conhecimento do espaço territorializado a ser ocupado, demonstrando segurança. Em movimentos saltitantes e no centro da sala a corrente se fechou formando um círculo como uma ciranda representando a competência profissional (figura 2). Depois de uma volta inteira, as pessoas se abaixaram de mãos dadas em uma configuração de dar e receber, de generosidade, como fala Freire (1996, p. 36), “O clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o caráter formador do espaço pedagógico”. 4 XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CCSA ISSN 1808 - 6381 Figura 2 – A ciranda da segurança, competência profissional e generosidade. 2º Ato – o comprometimento do Jardineiro Gentileza Paulo Freire (1996, p. 37), destaca que “outro saber que devo trazer comigo e que tem que ver com quase todos os de que tenho falado é o de que não é possível exercer a atividade do magistério como se nada ocorresse conosco”. Para o autor, uma de suas grandes preocupações, reside na aproximação cada vez maior entre o que se diz e o que se faz, entre o que parece ser e o que realmente está sendo. Assim, dando continuidade, agora com o 2º ato o grupo continua abaixado com os braços apoiados uns nos outros em uma configuração mais coesa e uniforme entre discurso e prática, representando o comprometimento de um educador político e ético. 3º ato - Jardineiro Gentileza e a Intervenção no mundo No 3º. Ato, o grupo se levanta de mãos dadas, levanta os braços com as mãos em posição de acolhimento ao mundo, como se segurasse o planeta nas mãos (figura 3), ciente da sua prática educativo-crítica de intervenção no mundo, livre de uma prática imobilizadora e ocultadora de verdades, como diz Paulo Freire (1996, p. 38): Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa, mas não desiste. 5 XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CCSA ISSN 1808 - 6381 6 Figura 3 – Prática educativa-crítica – Performance sobre a intervenção e acolhimento. 4º ato – Liberdade e autoridade na práxis do Jardineiro Gentileza Dando continuando a experimentação, ao diálogo e socialização do Personagem Gentileza, nesse ato, os componentes do grupo executam um giro de 180 o e se afastam uns dos outros, conferindo uma abertura no circulo formado inicialmente, caracterizando a liberdade. Para Paulo Freire (1996, p. 41), “uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, e vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade”. Posteriormente retornam para uma configuração em linha reta, representando a autoridade que na fala do autor , está intimamente ligada a liberdade, pois quanto mais criticamente a liberdade assuma o limite necessário tanto mais autoridade tem ela, eticamente falando, para continuar lutando em seu nome. 5º ato – Jardineiro Gentileza e a tomada consciente de decisões Nesse ato, ainda em linha reta, os corpos param em uma posição de abertura para tomada de decisão (Figura 4), consciente da tarefa político-pedagógica da educação. Dessa forma “a raiz mais profunda da politicidade da educação se acha na educabilidade mesma do ser humano, que se funda na sua natureza inacabada e da qual se tornou consciente.” (FREIRE, 1996, p.42). Figura 4 – abertura para tomada consciente de decisões, mostrando consciência da tarefa políticopedagógica da educação. 6º ato – O saber escutar do Jardineiro Gentileza XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CCSA ISSN 1808 - 6381 Para o saber escutar Paulo Freire (1996, p. 44, grifos do autor) nos remete a seguinte reflexão: “o espaço do educador democrático, que aprende a falar escutando, é cortado pelo silêncio intermitente de quem, falando, cala para escutar a quem, silencioso, e não silenciado, fala”. A importância do silêncio no espaço da comunicação é tão fundamental como o espaço da fala, que por sua vez, como princípio freiriano se “fala com” e não se “fala para”. A performance do diálogo e socialização se deu com a primeira pessoa da fila se voltando para o colega da esquerda e colocando a mão na orelha, fazendo uma expressão de querer ouvir o outro, sabendo escutar. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele. Assim, imediatamente as outras pessoas da fila fizeram o mesmo gesto, na ida e na vinda até retornar a primeira pessoa da fila, cientes de que escutar é obviamente algo que vai mais além da possibilidade auditiva de cada um, significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro, sendo o autor. 7º ato – Jardineiro Gentileza e a ideologia da educação Ao final do ato de escutar inicia-se uma brincadeira de roda onde as pessoas passam umas pelas outras, dando-se os braços e já se soltando imediatamente, uma vez pela direita e outra pela esquerda (figura 5) possibilitando várias visões do mundo, através dos movimentos da dança ora pela direita, ora pela esquerda, onde o indivíduo faz seu próprio movimento que se harmoniza com o movimento do outro, ciente de que a educação é ideológica e que deve o educador estar advertido do poder do discurso ideológico. Paulo Freire (1996, p. 50) afirma que: É na minha disponibilidade permanente à vida a que me entrego de corpo inteiro, pensar crítico, emoção, curiosidade, desejo, que vou aprendendo a ser eu mesmo em minha relação com o contrário de mim. E quanto mais me dou à experiência de lidar sem medo, sem preconceito, com as diferenças, tanto melhor me conheço e construo meu perfil. Figura 5 – A dança da diversidade em movimentos de harmonia. 8º ato - Disponibilidade para o diálogo do Jardineiro Gentileza Posteriormente o grupo toma novamente a configuração circular e de mãos dadas se aproximam corporalizando a disponibilidade para o diálogo, tão importante nos momentos da construção do 7 XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CCSA ISSN 1808 - 6381 8 conhecimento e nas relações que se instalam na vida. Paulo Freire afirma que é no “respeito às diferenças entre as pessoas, na coerência entre o que se faz e o que se diz que há o encontro entre elas”. Para o autor, é na disponibilidade à realidade que construo a minha segurança, indispensável à própria disponibilidade. É impossível viver a disponibilidade à realidade sem segurança, mas é impossível também criar a segurança fora do risco da disponibilidade. Freire, assim como o personagem gentileza, foi um professor que através da sua vida não só procurou perceber os problemas educativos da sociedade brasileira e mundial, mas propôs uma prática educativa para resolvê-los: o dialogar, o estar com o outro e o se importar com o outro. 9ª ato – Jardineiro Gentileza e o querer bem aos educandos Na educação, a relação ética é revelada em atitudes e posturas coerentes com as práticas educativas em qualquer época da vida. Para ser ético é preciso querer bem, gostar do trabalho e do educando, um gostar de aprender e de incentivar a aprendizagem, um sentir prazer em ver o outro descobrindo o conhecimento. Dessa forma, finaliza-se a corporalização da experimentação, do diálogo e da socialização do Jardineiro Gentileza, com o ato final onde todos juntos se abaixaram e subindo com as mãos unidas gritam alto e em coro a frase: querer bem! SOCIALIZANDO O JARDINEIRO GENTILEZA COM A CRIAÇÃO DE AMBIENTES HUMANESCENTES Paulo Freire (1996) defende a autonomia de ser e de saber ser do educador e educando, assim como revela a necessidade de respeitar o conhecimento que o ser humano acumulou ao longo da vida manifestado no cenário do ambiente escolar. Dessa maneira, depois de corporalizar a experimentação, o diálogo e a socialização do personagem, deparamos com outro desafio: através da construção de cenários, criar ambientes humanescentes para socializar o personagem. Para o Jardineiro Gentileza a arte da jardinagem consiste no processo de reflexão, ação e formação que corresponde ao ato crítico-reflexivo de atitude consigo mesmo, com o outro e com o universo. Assim, depois de vivenciar o diálogo, as idéias foram fluindo, levando-se em consideração a leveza, a harmonia, o colorido e a alegria desse ambiente, dignos do querer bem do personagem para com os educandos. Dessa forma, um jardim encantado foi surgindo (figura 6), a partir da amorosidade, alegria, prazer, satisfação, integração e fluidez entre os participantes e após a corporalização dos nove atos, um cordel foi criado e entoado nesse ambiente humanescente, configurando o florescimento da corporeidade e da ludopoiese nos saberes da autonomia. Ao finalizar-se a vivência era possível observar a sensação de leveza, alegria e fluxo que tomava conta de todos. Mais, uma vez o espírito de coletividade, integração, festa, cooperação, tolerância desse grupo permitiram o fluir nesse espaço para o florescimento corporalizado do saber da autonomia como o ensinar como especificidade humana. XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CCSA ISSN 1808 - 6381 Figura 6 – O jardim humanescente do Jardineiro Gentileza. E O CUIDADO COM O JARDIM CONTINUA A partir da corporalização deste personagem foi possível observar como a corporeidade floresce nos saberes da autonomia, pois como finalidade da educação, a relação ética é inseparável dos cuidados que apresenta para a valorização e o reconhecimento do ser de vida. Paulo Freire destaca que permanecendo amorosamente, estamos cumprindo o dever e lutando politicamente por seus direitos e pelo respeito à dignidade da pessoa humana. A escola deve ser um espaço ludopoietico onde o brincar e o fluir permeiam o processo educacional contribuindo com a construção de um mundo mais solidário, onde a gentileza é parte de cada um no processo educacional. O jardineiro gentileza trouxe em si os princípios enunciados por Paulo Freire, que por excelência promoveu a inclusão de todos, semeando os princípios éticos numa escola que dignifica e respeita os educandos, compreendendo a leitura do mundo de cada um como ponte de libertação e autonomia de ser pensante, participativo e pró-ativo no seu próprio desenvolvimento. Portanto, o professor deve estar nutrido por este princípio ético mediante os cuidados e o respeito ao universo. Ao contemplar-se um jardim e encantar-se com o cenário de vida onde há sementes, flores, frutos, larvas, lagartas, borboletas, sol, vento, chuva, percebe-se que estes fenômenos da natureza precisam de um jardineiro. E que com amorosidade e com princípios éticos, colabora para o processo de transformação e embelezamento permanente revelados nas cores, aromas e nos sons especiais o viver. Dessa forma o personagem corporalizado pelos educadores mostra que é possível transformar uma escola apática, cinzenta e triste, num belo e encantado jardim. E nessa transformação, seu jardim encantado se fundiria com a escola, os alunos e flores se misturariam, as borboletas e pássaros visitariam e alegrariam ainda mais aquele cenário e o saber seria uma constante busca. REFERÊNCIAS ASSMANN, Hugo. Paradigmas educacionais e corporeidade. Piracicaba: UNIMEP,1995. 9 XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CCSA ISSN 1808 - 6381 BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho. Pedagogia Simbólica: A Construção Amorosa do Conhecimento de Ser. Rosa dos Tempos- Record, Rio de Janeiro, 1996. CAVALCANTI, Katia Brandão. Para abraçar a Humanescência na Pedagogia Vivencial. XII Endipe – Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, Recife, abril de 2006. _______. Corporeidade, Sensibilidade e Transdisciplinaridade: o desafio ludopoiético como obra de arte da vida. 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