MINAS
K
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Rio Doce e
Jequitinhonha
Enquanto o Rio Doce aposta na união
para fortalecer a economia da região,
o Jequitinhonha investe na maior floresta
de eucalipto plantada do mundo
Tradição do Serro
Patrimônio imaterial, o queijo
é orgulho da economia familiar
Polo de lingerie
Produção emprega metade da
população de Vargem Grande
O SESI É UMA DAS
MAIORES REDES
PRIVADAS DE
ENSINO DE MINAS.
MAIS EDUCAÇÃO,
CULTURA, SAÚDE,
LAZER E ESPORTE
PARA VOCÊ E PARA
OS TRABALHADORES
DA INDÚSTRIA.
Você sabe o que é o Sistema FIEMG? O Sistema FIEMG é
uma organização privada, ou seja, é como se ele fosse uma
grande empresa formada por mais cinco empresas: o SESI,
o SENAI, a FIEMG, o CIEMG e o IEL. Todas elas trabalham
juntas para desenvolver a indústria e apoiar os empresários.
E também para melhorar a sua vida. Quer saber mais?
Acesse www.fiemg.com.br e descubra o que o SESI
tem para oferecer a você.
Editorial
PROMISSORAS POSSIBILIDADES
É chão que não acaba mais. A Viver Minas deste mês foi primeiro à região do Rio Doce garimpar
novas informações sobre a economia e o modo de
viver de seus habitantes. Em Governador Valadares, cidade-polo, o fotógrafo Alexandre Mota fez
um voo duplo de paraglider do pico do Ibiturana
para ver lá do alto como anda a cidade. Com o instrutor de asa delta Carlos Lage, ficamos sabendo
da boa iniciativa da Fiemg regional e do Instituto
Mineiro de Agropecuária (IMA) que promoveram
a 2ª Revoada GV+Verde, que contou com a experiência dos pilotos de voo livre que jogaram sementes nativas da mata atlântica a fim de recuperar
áreas degradadas.
E o Doce, o 10º rio mais poluído do Brasil, é
foco de projeto da Associação dos Pescadores e
Amigos do Rio Doce (Apard) que pretende recuperá-lo. Outra iniciativa louvável vem da Agência
de Água da Bacia Hidrográfica do Rio Doce e do
Instituto BioAtlântica (Ibio) que criaram um pacto
para a bacia do rio Doce com projetos de saneamento básico.
Da presidente da Fiemg no Rio Doce, Rozani
Maria Rocha, ouvimos um pedido de separação do
Vale do Aço, uma declaração assumida de pobreza
regional mascarada pelos indicadores econômicos
da região vizinha com tradição siderúrgica. Uma
quase declaração de independência ou morte. Fo-
mos ainda a Vargem Grande, distrito de São João
do Manteninha, conhecer o polo de lingerie que
produz 1 milhão de peças por mês e tem faturamento de 2 milhões por mês.
O próximo destino foi o Vale do Jequitinhonha, com seu tradicional casario colonial, saber
cultural e fazer criativo. De lá, vem a receita de
culinária, carne com palma, um cacto do cerrado
que alimenta o gado e mata a fome, além de ser
saboroso. No Serro, fomos conhecer de perto a
feitura artesanal do famoso queijo, patrimônio
imaterial e alvo de tanta polêmica. Fomos saber do
recém-eleito prefeito de Diamantina, Paulo Célio
de Almeida Hugo, sobre seus planos à frente de
uma cidade histórica.
E é de Turmalina que vem uma discussão
importante, 3º Seminário Nacional Manejo de
Eucalipto para a Indústria, promovido pelo Sistema Fiemg, com apoio da revista Viver Brasil, e
parceria com a Comissão Indústria e Comércio de
Turmalina (CMDIES) e o Sebrae-MG. É quando
empresários, gestores das indústrias moveleira,
alimentícia, farmacêutica, metalúrgica, de vestuário e construção civil, especialistas da área e
autoridades vão colocar em pauta ideias para o
melhor aproveitamento do potencial do eucalipto
na região. Enfim, muitas informações que prometem mudar a vida dessas cidades.
Ana Elizabeth Diniz, repórter
[email protected]
Diretor-geral
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Oliveira
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VIVER Julho 19 - 2013
Foto da capa: Alexandre C. Mota/ Agência i7
Sumário
6 Economia
22 Revitalização
8 Potencial
24 Confecção
10 Entrevista
26 Laticínios
12 Ali e Acolá
30 Gastronomia
15 Tenho dito
32 Perfil
16 Piscicultura
34 Culinária
20 Empreendedorismo
Fotos: Alexendre C. Mota/ Agência i7
VIVER Julho 19 - 2013
5
VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA
ECONOMIA
Alexandre C. Mota/Agência i7
ROZANI ROCHA: região
reivindica mesma atenção
que é dada ao Vale do
Jequitinhonha
Independência
ou morte
FIEMG DO RIO DOCE REIVINDICA
SEPARAÇÃO DO VALE DO AÇO
ão se trata de rebelião ou revanchismo, mas de estratégia
de sobrevivência. A reivindicação é o desmembramento do Rio
Doce do Vale do Aço e partiu de Rozani Maria Rocha, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) regional Rio Doce.
Ela entregou pessoalmente o documento ao vice-governador Alberto
Pinto Coelho durante o evento Conexão Empresarial Rotas para o Futuro,
que discutiu com empresários e autoridade o tema “o estado como indutor
do desenvolvimento regional”.
“Os números do Vale do Aço
N
6
mascaram a nossa realidade e nos
fazem parecer o que não somos.
Somos pobres e precisamos assumir essa posição oficialmente e só
conseguiremos isso se nos separarmos geograficamente e financeiramente desse grupo. Talvez assim
os políticos possam nos dar a mesma atenção que dão ao Vale do Jequitinhonha”, defende Rozani com
a propriedade de quem está há 27
anos na Fiemg, há três anos como
presidente da regional Rio Doce,
tendo sido a primeira mulher a ocupar um cargo sindical no Brasil.
Entidades atuantes como a As-
sociação Comercial e Empresarial
de Governador Valadares, o Sindicato do Comércio Varejista de Governador Valadares (Sindicomércio) e a
Fiemg têm se reunido semanalmente para traçar os destinos para a cidade polo. “Acreditamos que só com
união vamos fazer a cidade acontecer. Falamos a mesma língua, temos
os mesmos interesses e sabemos que
o fato de fazermos parte do Vale do
Aço mascara nossa real situação econômica. Ficamos em quarto lugar em
Minas em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mas,
se considerarmos apenas o Rio Doce,
VIVER Julho 19 - 2013
caímos para a sétima colocação.
Somos mais pobres que o Vale do
Jequitinhonha e, no entanto, estamos esquecidos há mais de 20
anos”.
A dirigente está convicta de
que os dados econômicos das
duas regiões estão misturados,
o que gera diluição de dados de
uma área desenvolvida com outra
em permanente empobrecimento, gerando uma visão econômica
distorcida e falta de políticas públicas de incentivo.
Rozani não disfarça sua frustração com o projeto de duplicação da BR-381. “A obra vai até
Belo Oriente, onde está a Cenibra,
ou seja, termina a exatos 72,8 quilômetros de Valadares. Essa distância nos divide e nos priva do
desenvolvimento. Uma exclusão
incompreensível porque se trata
de uma reta que não exige obras
de complexidade, de arte e estrutural. Eles se basearam em um
estudo feito há 12 anos, quando
passavam por aquele trecho 5.000
carros. Hoje passam 20 mil no entroncamento da BR-381 com a BR116. Continuamos sendo deixados
de lado”.
Outra reivindicação que já se
prolonga há dez anos é a reforma
e ampliação do terminal de passageiros que está sucateado, opera com uma única empresa aérea,
a Azul, tem capacidade para receber aviões de até 100 passageiros e tem as passagens mais caras
do Brasil, 1.305,00 reais somente
um trecho. “O governo do estado
nos informou que já está disponível recurso de 3,2 milhões para o
projeto de reforma que será executado em etapas. Temos que
viabilizar a captação de recursos
complementares para sua execução, pois é o único aeroporto da
região. É preciso que o governo tenha boa vontade para começar a
VIVER Julho 19 - 2013
NÚMEROS
91
municípios
1.217.180
habitantes (2010)
10.416.035,04
é o PIB (R$ 1.000,00)
97.464,1
foi a exportação
(US$ 1.000,00) em 2012
49.044,10
foi a importação
(US$ 1.000,00) em 2012
8.557,51
foi o PIB per capita (R$) em 2010
113 empresas,
838 empregos e 1.343,50
de ICMS (R$ 1.000,00) no setor
de atividades extrativistas
1.204 empresas,
15,716 empregos e 43.283,09
de ICMS (R$ 1.000,00) na indústria
de transformação
756 empresas,
7.731 empregos e 65.7949 09
de ICMS (R$ 1.000,00)
na construção civil
Fonte: Fiemg - Foto: Shutterstock
reforma”, pondera Rozani.
Governador Valadares acabou
se tornando uma cidade estagnada. “A cidade parou nos últimos 25
anos. O retorno dos valadarenses
dos Estados Unidos tem gerado
um problema social. Eles saíram
daqui jovens e estão voltando com
55 a 60 anos. Alguns não enriqueceram seu conhecimento porque
ficaram no subemprego e, por isso,
não conseguem trabalho. São pouquíssimos os negócios montados
com dinheiro americano”, diz a dirigente.
Governador Valadares não é
mais uma cidade polo, não tem
atrativos para as indústrias e nem
o comércio, que tem caído sensivelmente. “Além disso, não somos área da Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e nem do Instituto de
Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene).
Não temos incentivo do governo
de Minas. Estamos buscando criar
condições favoráveis para que
as empresas venham para o Rio
Doce, mas até isso fica difícil porque é inviável crescer sem energia
elétrica. O Distrito Industrial tem
sofrido piques de energia, as empresas aí instaladas não podem aumentar sua capacidade energética
e a Cemig exige uma contrapartida
para atender a essa demanda”, comenta Rozani.
Grande parte das indústrias do
distrito já está preparada para receber o gás, que não chega. “Ele
deveria chegar aqui comprimido,
mas como a planta está em Ipatinga isso não será possível. Não
dá para entender por que as coisas não acontecem por aqui. A cidade é plana, bonita, temos o pico
do Ibituruna, o rio Doce, boa logística, entroncamento rodoviário
e um povo acolhedor”, desabafa
Rozani.
7
VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA
POTENCIAL
Aposta no
eucalipto
EVENTO VAI DISCUTIR O USO
SUSTENTÁVEL DA MAIOR FLORESTA
PLANTADA DO MUNDO
mpresários e gestores das indústrias moveleira, alimentícia,
farmacêutica, metalúrgica, de
vestuário e construção civil, especialistas da área e autoridades têm um
encontro importante nos dias 28 e 29
de agosto, em Turmalina, no Vale do
Jequitinhonha, quando vai acontecer
o 3º Seminário Nacional Manejo de
Eucalipto para a Indústria, promovido pelo Sistema Fiemg, através do
Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai) e do Serviço Social
da Indústria (Sesi), em parceria com
a Comissão Indústria e Comércio de
Turmalina (CMDIES) e o Sebrae-MG.
O evento é uma oportunidade
para empresários e profissionais ampliarem seus conhecimentos por meio
E
8
de palestras com técnicos e especialistas em manejo, sustentabilidade,
regularização ambiental, economia e
negócios do setor.
Segundo Maria Etelvina Andrade
Câmara, gerente do Senai de Turmalina, “o Vale do Jequitinhonha possui
a maior floresta de eucalipto artificial
do mundo e esse potencial deve ser
melhor aproveitado pela indústria.
É preciso estimular a nossa visão
empreendedora com ações de planejamento e gestão participativa, promovendo maior competitividade para
as empresas da região”.
Para ela, é fundamental a discussão da regularização ambiental, sustentabilidade, economia,
operacionalização, qualificação de
VIVER Julho 19 - 2013
Shutterstock
NÚMEROS
DO VALE DO
JEQUITINHONHA
59
municípios
770.829
é o número de habitantes (2010)
4.575.838,44
foi o PIB (R$ 1.000) de 2010
604.791,60
foi o valor agregado da indústria (R$ 1.000)
em 2010
10.194,8
foi o ICMS da indústria (R$ 1.000) em 2012
36.866,05
foi a exportação (US$ 1.000) no ano
passado
188,98
foi a importação (US$ 1.000) em 2012
5.936,26
foi o PIB per capita (R$) em 2010
108 empresas,
1.656 empregos e 5.821,02 foi o ICMS (R$
1.000) do setor extrativista
Divulgação
424 empresas,
3.567 empregos e 4.356,97 foi o ICMS (R$
1.000) da indústria de transformação
290 empresas
,
2.335 empregos e 16,75 foi o ICMS (R$
1.000) da construção civil
604,791
milhões de reais foi o valor agregado
industrial, que representa 0,59% do total de
Minas Gerais
4,575
bilhões é o PIB regional, que representa
1,30% do PIB de MG
10,194
milhões de reais é o ICMS industrial, que
representa 0,08% do total de Minas Gerais
VIVER Julho 19 - 2013
profissionais e produtores para implantarmos inovações técnicas e tecnológicas vinculadas à plantação,
manejo, produção e destinação da
madeira do eucalipto. “Nosso principal objetivo é buscar maior competitividade para as empresas da região
e promover a geração de emprego e
renda”.
Em 2011, o evento atraiu cerca de 240 participantes, que puderam compreender a importância de
destinar parte de sua produção de
eucalipto para a indústria moveleira. “Aos poucos está havendo uma
consciência de que a rentabilidade
desse negócio pode abranger uma
cadeia produtiva muito maior. Hoje
já temos indústrias trabalhando com
os móveis feitos com eucalipto, cuja
procura e comercialização aumentram em 20%”, comenta Etelvina.
Antônio Marum, chefe de gabinete da presidência da Fiemg, ressalta o potencial da indústria moveleira
que já existe em Itamarandiba, Capelinha, Minas Novas e Carbonita.
“São peças de excelente qualidade
utilizando o eucalipto. Desde 2011,
quando realizamos o primeiro seminário, atraímos pessoas de todo
o Brasil e firmamos parceria com
algumas universidades como a de
Viçosa, Lavras e do Vale do Jequitinhonha e Mucuri. O que não faltam
são experiências bem-sucedidas.”
Marum ressalta que, paralelamente ao evento vai acontecer a 3ª
Feira dos Produtos Industriais do
Vale do Jequitinhonha, que vai reunir expositores nas áreas de madeira,
bioenergia, agrosilício, ferramentas
elétricas (motosserra, pulverizadores, motobombas), café, metálica,
movelaria, mel, essências e artesanato.
O evento de 2013 faz parte do
programa Rotas para o Futuro, que
tem parceria com o grupo VB Comunicação, Sebrae e Fundação João Pinheiro.
9
VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA
ENTREVISTA
O RECÉM-ELEITO
PREFEITO DE
DIAMANTINA NÃO
QUER PERDER
TEMPO PARA
MODERNIZAR
A CIDADE
Obsessão
pelo
Alexandre C. Mota/Agência i7
desenvolvimento
aulo Célio de Almeida Hugo
(PSDB), 62, foi eleito no dia 7
de abril, com 14.706 votos, 62%
dos votos, prefeito de Diamantina.
O novo pleito aconteceu porque seu
candidato a vice, Gustavo Botelho Júnior (PP), teve o registro de candidatura indeferido pelo Tribunal Superior
Eleitoral (com base na rejeição pela
Câmara Municipal das suas contas
quando prefeito no município). Com
isso, Paulo Célio ficou impossibilitado
de assumir o executivo municipal.
Médico clínico e especialista em
controle de infecção hospitalar, Paulo
Célio tem tentado conciliar a vida pública com a medicina, o que não está
sendo fácil, e tem procurado brechas
em sua agenda para não abandonar a
profissão. O jeito tem sido reservar os
sábados para clinicar e visitar os pacientes em casa. Na esfera política foi
vice-prefeito de 1993 a 1996, na gestão
de Iraval Pires, e foi o primeiro secre-
P
10
tário municipal de saúde de Diamantina.
Como foi para o senhor tomar posse somente em abril?
Essa foi uma situação anômala,
uma exceção. Nós ganhamos em outubro e ficamos impedidos de tomar
posse, houve uma interinidade, voltamos a disputar em abril com outro
vice e aí sim foi confirmada nossa vitória. Uma situação paradoxal porque essa interinidade (Maurício Maia,
presidente da Câmara Municipal assumiu) gerou perdas e ganhos. Como
pontos positivos, nessa segunda eleição obtivemos mais votos, na primeira votação tivemos 52% e na segunda,
62%, mas ao mesmo tempo perdemos
um tempo de construção de equipe.
Tudo isso nos prejudicou, pois já estamos em cima da hora da apresentação do Plano Plurianual (PPA) e da Lei
de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Acabamos de formar a equipe, procurei pessoas com perfil muito técnico
e com viés político. São muitos os desafios e nada melhor do que ter uma
equipe de alta qualidade.
Quais são suas prioridades de governo?
Sou muito futurístico e penso que
Diamantina tem um potencial enorme para se desenvolver. O desenvolvimento é uma obsessão que tenho.
Veja ótimas perspectivas em relação
à Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri, presente há
38 anos aqui no município, e que nos
próximos sete anos vai trazer mais de
10 mil alunos e, com isso, temos que
pensar em obras de infraestrutura na
cidade que é histórica, tem ruas tortuosas, apertadas. Temos que melhorar
e duplicar as vias de acesso, expandir as áreas de construção. Queremos
fomentar o turismo, criar um centro
de convenções que possa ser sede de
VIVER Julho 19 - 2013
eventos de grande porte. Tenho um
pensamento muito intenso na Copa
do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas e,
por isso, temos que preparar o turismo
de forma mais profissional e sair do
amadorismo. Já somos referência em
saúde e educação. Tudo isso nos levar a crer que o futuro de Diamantina
é bastante promissor, mas temos que
ter planejamento e gestão.
Como compatibilizar o crescimento da
cidade com a preservação do patrimônio
histórico que é tombado?
Essa é uma grande preocupação.
No dia 28 de maio apresentei para a
sociedade o planejamento estratégico
municipal, pontuando as ações e metas para as secretarias nos próximos
90 dias e anunciei um fórum de discussão sobre mobilidade urbana com
a presença de expositores de peso.
Vamos conversar sobre nossa condição atual, onde temos muitos veículos
estacionados e circulando pelas ruas
estreitas, e a falta de opção de estacionamentos. Queremos fazer uma grande discussão tendo como ponto de
referência o pedestre.
Quais os principais problemas
estruturais da cidade?
Avançamos muito na saúde terciária, hoje somos referência em Minas.
Somos mais de 50 mil pessoas, embora o IBGE reconheça 48 mil habitantes.
Temos CTI adulto com 20 leitos, CTI
neonatal com dez leitos, hemodiálise
com três turnos, serviços de neurocirurgia e ortopedia de alta complexidade, somos referência materno-infantil
e nos próximos três meses vamos implantar o serviço de hemodinâmica.
Temos dois núcleos, um de reabilitação física e outro de auditiva, e entramos em abril obtivemos a categoria
IV, o grau máximo avaliado pelo Ministério da Saúde, com o Centro de
Especialidades em Reabilitação que
será inaugurado, no dia 9 de agosto,
no Hospital Nossa Senhora da Saúde.
VIVER Julho 19 - 2013
Somos
uma cidade
muito
hospitaleira,
que é patrimônio
cultural da
humanidade”
Somos referência de Curvelo, Sete Lagoas, Araçuaí e Corinto. Mas nosso
grande desafio é a saúde básica, com
alto investimento. Temos oito estratégias de saúde da família, sendo que o
Ministério da Saúde recomenda 19, ou
seja, temos um déficit de mais de 50%.
Queremos investir em farmácia, não
temos laboratório de análises clínicas próprio, ele é terceirizado. Vamos
reativar um antigo laboratório, o que
vai trazer um benefício enorme para
a população. Na área de odontologia
temos déficit de produção e somos
referência no Centro de Especialidades Odontológicas, mas que está com
baixa produtividade. Quero investir
na vigilância epidemiológica e sanitária, que são colunas de ação preventiva na saúde.
E em obras de infraestrutura,
o que será feito?
Dentro das obras de mobilidade
urbana vamos construir pontilhões
dentro da cidade, precisamos duplicar as passarelas e vias. Teremos que
criar uma terceira via de acesso para
o campus 2 da universidade, que está
saturada. Temos graves problemas
de saneamento, um no córrego do rio
Grande, que corta a cidade, onde já foram investidos 22 milhões de reais em
obras de saneamento pela Copasa. Temos uma Estação de Tratamento de
Esgoto já construída e que, segundo
técnicos da Copasa, só existem duas
iguais no mundo, pela sua modernidade. Ela ainda não foi inaugurada, mas
a rede coletora já está pronta. Outro
problema de saneamento está na bacia do Prata, no lado oeste da cidade.
E na área de educação?
Temos mais de 4 milhões de m2 de
extensão de escolas construídas em 10
distritos e mais de 20 povoados. A extensão do município, por si, só já é um
grande desafio. Temos escolas municipais sucateados e que precisam
de reformas urgentes e, infelizmente, nosso Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica (Ideb) está abaixo do preconizado. Já estamos elaborando um plano educacional e vamos
adotar medidas para elevar esse índice. Vamos investir em infraestrutura e
reformas das escolas. Outra prioridade é a modernização administrativa.
Estamos motivando os funcionários
e temos hoje 12 servidores fazendo o
curso de gestão e empreendedorismo
pela Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais com
assistência da Fundação João Pinheiro. Eu também estou matriculado,
quero dar o exemplo.
Como estão distribuídas as atividades
econômicas?
Os setores de comércio e serviços são
os principais, mas o turismo é forte. O
agronegócio tem crescido com plantações de café e no setor minerário ainda temos 1.300 pessoas envolvidas no
garimpo, sendo que a exploração de
manganês está aumentando. Consideramos Diamantina a melhor cidade
histórica de Minas para se viver, somos uma cidade muito hospitaleira,
que é patrimônio cultural da humanidade, temos natureza exuberante
e casario conservado. Diamantina é
muito querida por todos nós e pelos
visitantes. Temos obras do Niemeyer,
somos a terra do Juscelino e da Chica
da Silva, além de nomes de peso como
Joaquim Felício dos Santos, Ayres da
Mata Machado, Abílio Barreto e muitos outros.
11
ALI E ACOLÁ
POR ANA
ELIZABETH DINIZ
Fotos: Alexandre C. Mota/Agência i7
Dom da benzeção
“Divino Espírito Santo, encha
o coração de vossos fiéis com a
sua luz...” Com simplicidade e fé,
Geralda das Graças Silva, a dona Du
benzedeira, 63, vai cumprindo sua
missão na miúda cidade de Mendanha,
lá no Vale do Jequitinhonha, onde
diz ter nascido “de corpo e alma”
e onde sempre viveu e criou seus
quatro filhos. Em uma época que
perdeu a conta, seu marido chegou
12
em casa com uma oração contra
picada de bichos e hemorragia que
tinha achado na beira do rio. Achou
curioso. Logo depois, sua vizinha Ana
Eulália, chamada carinhosamente
por todos de tia Aninha, 90, a chamou
e disse: “ô sá dona pega lápis e papel
pra mordi de copiar minhas orações
porque me roubaram tudo”. Disse
que ela tinha o dom da benzeção.
Munida de muita fé e temor a Deus,
aos poucos dona Du foi benzendo de
um tudo, quebrante, sol na cabeça,
mau-olhado, queimadura, espinhela
caída, vento virado. Só com o nome
da pessoa, ela benze. Faz garrafadas
pra gripe, limpar o sangue, problemas
de homem e de mulher e xarope de
tanchagem, hortelã, casca de romã e
assa-peixe, tiro e queda pra gripe e
peito cheio.
VIVER Julho 19 - 2013
Artista do couro
e mais
Voadores verdes
Uma porta meio acanhada, mas devidamente identificada, não
deixa dúvidas de que ali é a oficina de Luiz Antônio Meireles, 58, no
fim de uma ruela, no bairro Arraial de Baixo, no Serro. O ofício ele
aprendeu vendo o pai José Maria Meireles, que era celeiro, trabalhar.
Tomou gosto, confecciona sandálias de couro cru, por encomenda,
mas também vende para algumas lojas em Sabinópolis, Guanhães,
Tijucal e Meireles. Diz que é preciso paciência e conhecimento para
fazer um produto bem acabado. Acha bom o seu negócio porque faz
com gosto, mas não consegue sobreviver apenas com ele. É ainda
conselheiro tutelar e enfermeiro particular.
Aeroporto sucateado
Pelo segundo ano consecutivo,
a Fiemg regional Rio Doce e o
Instituto Mineiro de Agropecuária
(IMA) promoveram a 2ª Revoada
GV+Verde. Quarenta quilos de
sementes de espécies da mata
atlântica como angelim, ipês
amarelo e roxo foram doadas pela
Universidade Federal de Viçosa e
lançadas por pilotos de voo livre,
no entorno do pico da Ibituruna,
em Governador Valadares. Esporte
com consciência ambiental e
com o propósito de reflorestar as
áreas degradadas. Acredita-se que
pelo menos 20% das sementes
lançadas irão germinar.
Caminho dos
escravos
O aeroporto Coronel Altino Machado de Oliveira, inaugurado há 46
anos em Governador Valadares e o único que atende à região do Rio
Doce, opera com uma única empresa aérea e tem 4 mil embarques
por mês. Inacreditável imaginar isso em uma área totalmente
pequena, saguão sem qualquer infraestrutura, banheiros precários,
sem esteira e aparelhos de raio X. A negociação da reforma começou
em 2009 e, no final do ano passado, o governo federal anunciou uma
verba de 3,5 milhões de reais, sendo 30% do governo do estado,
mas até agora nada foi feito. A Agência Nacional de Aviação (Anac) já
autorizou a obra, mas a prefeitura diz aguardar licitação.
VIVER Julho 19 - 2013
O bucólico Caminho dos Escravos,
todo de pedra, foi construído no
século 18 para escoar a produção
de diamantes de Mendanha
para Diamantina. Ele começa
oficialmente no Mercado dos
Tropeiros de Diamantina, tem 20
km e o tempo médio de caminhada
é de oito horas, com nível de
dificuldade médio.
13
ALI E ACOLÁ
Ecologia no chiqueiro
e mais
Fotos: Alexandre C. Mota/Agência i7
A preocupação com o meio ambiente há muito chegou à roça. Na
fazenda São Sebastião, no Serro, o produtor rural João Magno Pimenta
introduziu uma alternativa de mão dupla. No espaço onde a família
produz o queijo artesanal, ele criou um sistema de encanamento com
tubos de PVC que leva o soro do leite diretamente até o chiqueiro.
Pesquisas das Embrapa Suínos e Aves atestam que o soro pode ajudar
na redução do custo da ração suinícola, tem alto valor nutritivo e
palatabilidade, e ainda evita a poluição ambiental.
Congado no Serro
A noite tinha acabado de cair
quando os festeiros carregando
a imagem de Nossa Senhora do
Rosário desciam as ladeiras do
Serro, com estandartes coloridos, a
imagem da santa, música e danças.
A padroeira dos escravos do Brasil
colonial é celebrada em todo o
país há pelo menos 350 anos. Na
14
primeira semana de julho, os 20
mil habitantes da cidade histórica
comemoram a data com missas,
orações, danças e músicas africanas,
relembrando a aparição da santa.
Os grupos de congado seguem o
ritual de seus antepassados e há
um dia em que somente crianças e
adolescentes participam da festa.
Parque da
cidade
Em uma área de 403 mil m²,
localizada à margem do rio
Doce, está sendo criado o
Parque Natural Municipal de
Governador Valadares, parceria
entre a Vale e a prefeitura da
cidade. O investimento é de
aproximadamente 12 milhões
de reais e vai contemplar a
preservação de ecossistemas
naturais e a realização de
pesquisas científicas, com
desenvolvimento de atividades
de educação ambiental,
recreação em contato com a
natureza e turismo ecológico. O
projeto prevê sede administrativa
com auditório para 100 pessoas,
estrutura coberta para exposição
de trabalhos artísticos e
educativos, estacionamento
coberto, lanchonete, núcleo de
educação ambiental, playground,
horta medicinal, equipamentos
para a prática de ecoturismo
e esportes de aventura, deck
flutuante sobre o rio, trilhas
ecológicas, viveiro de mudas de
essências nativas do bioma da
mata atlântica, dois mirantes
e pista gramada para pouso de
voo livre.
VIVER Julho 19 - 2013
Alexandre C. Mota/Agência i7
tenho dito...
... o melhor e o pior da minha cidade
“Nasci em 1930 e moro em
Couto de Magalhães, cidade que é
a minha vida junto com a Pastorinha e a
coroação. A gente sai pelas ruas cantando ao som do
violão, da sanfona e do pandeiro. Há 60 anos preparo
as crianças até 14 anos para essas manifestações.
Fui rainha de Nossa Senhora do Rosário por sete anos
seguidos. O que me deixa triste é que a cidade não tem
fábricas e nem trabalho. Mas vivo minha vida
alegre e cantando”.
Inês Bernardina Lemos, 83, feirante
Do que eu mais gosto
em Governador Valadares é o
pico do Ibituruna onde há mais
de 20 anos pratico o voo livre,
esporte que é meu prazer e ajuda
financeira. O pico abriga várias
nascentes e em seu entorno
há cachoeiras belíssimas como
Bretas, Porto e Jother Peres.
Em alguns trechos, ainda se
pode nadar e fazer canoagem
no rio Doce. No entanto, o setor
de saúde deixa a desejar, pois
temos apenas um hospital
regional que atende a mais de 80
cidades vizinhas. Nosso potencial
turístico poderia ser mais bem
explorado”.
Carlos Lage Filho, 50, instrutor e
piloto de asa delta
Gosto do jeito acolhedor
do povo do Serro. Aqui
preservamos a história e a
cultura que são muito ricas, as
pessoas ainda se conhecem, a
cidade é tranquila e atrai muitos
turistas pelo famoso queijo
e pelas festas tradicionais.
Acho que poderia haver mais
investimento em projetos
culturais. Sinto falta de festivais,
teatro e cinema itinerante”.
Mendanha é um lugar
tranquilo, de paz, onde as pessoas
se cumprimentam e se conhecem.
Temos cachoeiras, quadras de
esporte e campo de futebol para
os jovens. Gostaria que tivesse
mais ofertas de trabalho, uma
fábrica que empregasse os
moradores, assim eles não teriam
que viajar para outras cidades para
ganhar seu sustento. Aqui o ensino
só vai até a 7ª série o que obriga os
estudantes a dar continuidade aos
estudos nas cidades vizinhas”.
Ana Beatriz Campos Nunes, 33,
empresária
Darcília da Conceição Cruz, 60, dona
de casa
VIVER Julho 19 - 2013
15
VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA
PISCICULTURA
Turismo de
pesca
Shutterstock
PROJETO PREVÊ A REVITALIZAÇÃO DO RIO ATRAVÉS DA
PROIBIÇÃO DA PESCA POR CINCO ANOS E A CRIAÇÃO DE
TANQUES-REDE DE TILÁPIA PARA OS PESCADORES
evitalizar o rio, dar dignidade
ao verdadeiro pescador, aquele
que sobrevive da pesca, e criar
o turismo de pesca no rio Doce. Em
síntese esse é o plano de um grupo de
amantes da pesca, que, em 2005, criou
a Associação dos Pescadores e Amigos
do Rio Doce (Apard), hoje com 32 diretores escolhidos a dedo e 500 associados. A proposta é tornar o Doce um
rio vivo, abundante em peixes, de forma a fazer de Governador Valadares
um destino turístico de pesca.
O audacioso plano está tão bem
R
16
estruturado que ganhou a simpatia e
o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF) que vai garantir 280 mil reais para a implantação, nos próximos
dois meses, no lago da barragem de
Baguari, do primeiro projeto-piloto,
de 132 tanques-rede, que vão produzir 12 toneladas de tilápia por mês e
gerar renda para 12 famílias de pescadores artesanais. O projeto tem
apoio ainda do Banco do Brasil que
vai disponibilizar um complemento
de recursos, da Emater, que vai prestar assistência técnica e parceria com
o Centro Integrado de Atendimento
ao Trabalhador (Ciat) que têm expertise na área.
Outra conquista é o termo de cooperação técnico-científica firmada
entre a Apard e o Instituto Federal de
Minas Gerais (IFMG), que já resultou
no edital de pesquisa publicado em
maio e que prevê 380 mil reais que
serão aplicados no estudo correto do
peixamento do rio (introdução de alevinos).
Quem narra essa trama salvadora
do rio é José Francisco Silva de Abreu,
VIVER Julho 19 - 2013
Alexandre C. Mota/Agência i7
presidente da Apard. “É inegável que
o rio Doce está à mingua. Pode-se ficar um dia inteiro sem fisgar nem
ao menos um peixe, coisa que não
acontecia há 50 anos. As causas são
a poluição, as dezenas de barragens
hidrelétricas que alteraram o ecossistema e não deixam os peixes subir na
época da piracema, interceptando o
ciclo de vida. Para isso, há solução. A
Itaipu fez um desvio de rio de 14 km
onde sobem peixes de 60 kg, como o
surubim”, pondera.
A sustentabilidade do rio está relacionada muito diretamente à pesca esportiva e não à pesca predatória,
extrativista, uma realidade que só
acontece no Brasil. “Fizeram um estudo nos Estados Unidos sobre quanto
vale o peixe silvestre e o resultado foi
que, lá no rio, ele vale seis vezes mais
do que fora. A Argentina e os Estados
Unidos faturam mais com o turismo
de pesca do que a Disney, e centenas
de lanchas se enfileiram no Golfo do
México, mas o peixe é devolvido ao
mar. Cinquenta e um por cento do PIB
de Bariloche vem do turismo de pesca
que gera renda para a cidade, hotéis e
pousadas”, avalia o dirigente.
Diante de todas essas possibilidades, “estamos de olho no turismo
de pesca no médio rio Doce, que vai
Nosso projeto tem o
objetivo de
transformar o
pescador artesanal
em piscicultor,
melhorar sua vida”
José Francisco Abreu
MERCADO MUNICIPAL
vende peixes
da região
VIVER Julho 19 - 2013
de Ipatinga a Aimorés, porque ele é
ecologicamente correto, sustentável
e preserva a natureza. É onde queremos trabalhar e fazer a vida acontecer.
O rio tem uma topografia extraordinária para a regeneração da vida, e, por
ser pedregoso, a água tem ótima aeração e se recupera rapidamente, se não
fosse isso, ele seria uma podridão. Em
uma faixa de 200 km, entre Ipatinga e
Aimorés, são dezenas de corredeiras
que ajudam a purificar a água”, analisa Abreu.
A realidade do rio Doce é triste.
“A quantidade de pescadores, hoje,
é maior que o rio pode suportar e a
pesca predatória está acabando com
o que resta de peixe. Somente no trecho de Governador Valadares, o rio
tem 53 km onde devem existir mais de
100 mil metros de rede, o que não dá
chance de o peixe crescer”, pontua o
dirigente.
A saída encontrada pela Apard
é fazer o peixamento do rio, fechar a
pesca por quatro ou cinco anos e depois liberar de forma controlada. Mas
como fazer com que os pescadores
artesanais interrompam sua atividade? “Não queremos ser radicais porque um dos princípios da associação
é o respeito ao pescador, embora eles
17
P I S C I C U LT U R A
Alexandre C. Mota/Agência i7
não façam parte do nosso grupo. Criamos um projeto de piscicultura social
porque queremos que eles tenham as
melhores alternativas. Vamos transformá-los em piscicultores, oferecendo tecnologia, acompanhamento
técnico, assistência, orientação e cursos de capacitação”, anuncia Abreu.
O projeto na barragem de Baguari
deve produzir a primeira safra dentro
de um ano. Um alevino com 50 gramas já é considerado juvenil e com
mais seis meses já está pesando 800
gramas.“Nosso projeto tem o objetivo
de transformar o pescador artesanal
em piscicultor, melhorar sua vida e,
em contrapartida, queremos que ele
se comprometa a abandonar a pesca
no rio e nos ajude a fiscalizar”, ensina Abreu.
A Vale cedeu em comodato uma
área de dois alqueires que está sendo
transformada em centro de treinamento. Uma antiga hospedaria, com
1.000 m2, vai comportar 60 pessoas,
sala de informática com 20 computadores, sala de aula, cozinha e cantina.
Lá, os pescadores vão aprender sobre
associativismo e plano de negócio.
“Vamos oferecer os tanques-rede e ração para todo o ciclo, da hora
que o trabalho for iniciado até a venda da primeira safra. Cada pescador
será dono do seu negócio. O dinheiro arrecadado na primeira safra será
reinvestido na compra de ração,
alevinos, para pagar um salário em
torno de 1.500 reais para cada um,
e fazer um fundo de reserva para investimento. Vamos acompanhá-los
por cinco anos e acreditamos que
até lá eles já tenham conhecimento,
segurança, estrutura e capacidade
de tocar sozinhos o próprio negócio.
Esse será um grande passo”, aposta
Abreu.
O projeto não tem limites e pode
também gerar emprego para a família. “A matemática é simples. Somente Governador Valadares consome
200 t por mês e estimamos que, no
18
De abril a agosto, é
o período da
entressafra. Os
peixes gostam da
chuva, quando a água
esquenta e eles se
reproduzem”
Edson S. Araújo Júnior
máximo, 5 t vêm do rio, capturados
com aqueles 100 metros de rede. São
peixinhos como cascudo, piau, que
são vendidos na feira. Esse peixe não
vai para o supermercado. Importamos 195 t por mês”, contabiliza o dirigente.
Um quilo de tilápia, no atacado,
custa 4,50 reais, no varejo, 8 reais o
quilo. Se o pescador abrir o peixe e tirar o filé, ele sai a 18 reais o quilo. Um
quilo de tilápia no supermercado custa 35 reais. “É uma forma de agregar
valor ao produto e isso eles sabem fazer como ninguém. Queremos que
eles deslanchem e o rio Doce poderá
se tornar um grande produtor e exportador de pescado”, prevê Abreu.
A saída do pescador do rio para a
terra vai dar vida ao rio. A previsão da
Apard é de que, se dentro de três anos,
a pesca for proibida, três anos depois
os peixes já terão retornado ao rio, isso
com o peixamento e o compromisso
dos pescadores de não mais pescar, e,
dentro de cinco anos a situação será
fantástica.
Na outra ponta da cadeia de piscicultura está quem produz e distribui
os alevinos. Edson S. Araújo Júnior é
proprietário da Piscicultura GV Alevinos e está no mercado há 20 anos. Ele
fornece filhotes de peixes para represas, tanques e lagoas. “De abril a agosto é o período de entressafra, quando
a água esfria. Os peixes gostam da
chuva, quando a água esquenta e eles
se reproduzem”, diz ele que presta
consultoria e orientação técnica para
particulares e empresas.
Edson fornece alevinos para 87 cidades e as prefeituras compram 99%
da produção. Ele comercializa entre 3
a 4 milhões de alevinos por ano, sendo
os mais procurados as carpas, matrinchã, pacu, tambaqui, lambari, tambacu e o pintado (surubim).
VIVER Julho 19 - 2013
INFORME ESPECIAL
N
(QVLQRFHUWLÀFDGR
Divulgação
os Vales do Jequitinhonha e Mulas têm um padrão a ser seguido, de
curi, os recursos minerais são
acordo com a metodologia da escola.
de importância estratégica, posO pais ganham mais tranquilidade,
suindo grandes jazidas de pedras prepois os serviços serão vistoriados peciosas e semipreciosas. Mais valioso
riodicamente por uma equipe de audiainda tem sido o processo educacional,
tores independentes.
que está alcançando índices de qualiMateus Rodrigues relata que há
dade surpreendentes, conforme relata
muito tempo, a qualidade é um tema
Mateus Rodrigues, franqueado da AGQ
relevante nas organizações. Con%UDVLOHHVSHFLDOLVWDHPFHUWL¿FDomRGH
tudo, nos últimos anos, o conceito
Instituições de Ensino.
qualidade extrapolou o meio empre³$FHUWL¿FDomRpDFKDQFHODGDHQWLsarial e chegou a toda sociedade.
GDGH&HUWL¿FDGRUD,QPHWURTXHDWHVWD
Hoje, fala-se em qualidade de vida,
que a Organização Educacional atende
de produtos, de atendimento, qualiMatheus Rodrigues: qualidade é
aos requisitos das normas ISO 9001 e
dade de aula, ou seja, aprimora-se
tema relevante nas organizações
15419”, informa Mateus.
sempre a maneira de fazer ou prestar
2EWHU XP FHUWL¿FDGR PXQGLDOPHQWH UHFRQKHFLGR DVVH- um serviço.
gura a excelência em sua área de atuação, passando aos
Além da ISO9001 a UNF AGQ Brasil nos Vales do
SDLVHUHVSRQViYHLVDFHUWH]DGHTXHHVWmRFRQ¿DQGRDHGX- Jequitinhonha e Mucuri implementa sistemas de gesFDomRGHVHXV¿OKRVDXPDLQVWLWXLomRVpULDHFRPSHWHQWH
tão com base nas Normas ISO14001, OHSAS18001,
Os professores não mudam o jeito de dar aulas, pois SA8000, ISO17025 e no Regimento SIAC do PBQP-H.
cada um tem características próprias e conduz suas aulas respeitando os limites da turma, porém todas as au- www.agqbrasil.com.br
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VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA
EMPREENDEDORISMO
Shutterstock
Retorno ao
lar
PROJETO CAPACITA EMIGRANTES A GERIR SUAS
FINANÇAS COM MAIS EFICIÊNCIA
overnador Valadares é conhecida pela
migração de seus moradores, principalmente, para os Estados Unidos, desde a
década de 60. O fenômeno foi intensificado na
década de 80. Quem foi para lá jovem, aos 20
anos, volta à terra natal com mais de 50 anos.
Muitos voltam com reservas acumuladas a duras penas, outros trazem desesperanças. Como
planejar o futuro após tanto tempo longe de
casa? Onde e como aplicar esse recurso?
Pensando nessas pessoas, o Sebrae, em parceria com a Caixa Econômica Federal (CEF) e
G
20
o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID), implantou o projeto Remessas, dirigido a
empresários e empreendedores brasileiros que
moram ou retornaram do exterior, além de beneficiários de remessas de emigrantes. A ideia
é oferecer capacitação gerencial para quem já
tem ou pretende abrir uma empresa com recursos captados no exterior.
Alex Amaro Pena, analista técnico do Sebrae de Governador Vaçadares, explica que o
projeto já atendeu empresários de mais de 20
cidades do leste de Minas, como Governador
VIVER Julho 19 - 2013
Valadares, Sardoá, Santa Efigênia de
Minas, Divinolândia de Minas, Gonzaga, Virginópolis, Capitão Andrade, Engenheiro Caldas, Aimorés, São
José do Divino, Nova Módica, Tarumirim e Itabirinha, entre outras. “Na
verdade, buscamos capacitar os potenciais empresários que voltaram
sobre gestão financeira, marketing,
qualidade, vendas, estratégica, além
de acesso ao crédito, de forma a potencializar o desenvolvimento de
suas habilidades gerencias”.
O objetivo, diz o analista, é promover condições para a melhoria
do acesso ao crédito e gerar informações e conhecimento para o aprimoramento da gestão das empresas
oriundas de remessas, orientar os
emigrantes que retornaram ou seus
beneficiários, aumentando as possibilidades de sucesso dos futuros empreendimentos.
De junho de 2009 a dezembro de
2011 foram realizados perto de 1,7
mil atendimentos em cursos e palestras, além de 67 consultorias para
empresas de cidades do Vale do Rio
Doce, principalmente da região de
Governador Valadares, e os emitentes dessas remessas que estão, sobretudo, na região metropolitana
de Boston/Massachusetts, nos Estados Unidos. Em 2012, foram realizados 24 cursos, 11 oficinas e sete
palestras, com atendimento a nove
municípios. O total de atendimentos nessas ações foi de 1.070, sendo
810 pessoas físicas e 260 pessoas jurídicas. “O que a gente detectou foi
que muitas pessoas traziam muito
dinheiro, montavam negócios que
não sabiam como gerir. Com pouco tempo de vida, essas empresas
fechavam. Nosso trabalho é ensinar
aos emigrantes como aplicar bem o
seu dinheiro de forma que possam
ter um retorno mais tranquilo e eficiente”, diz Alex.
O foco do projeto Remessas é
VIVER Julho 19 - 2013
PROJETO
REMESSAS
Capacitação em:
zGestão financeira
zMarketing
zQualidade
zVendas
zEstratégia
zAcesso ao crédito
zDesenvolvimento de
habilidades gerencias
O projeto já atendeu
empresários de mais de
20 cidades
do Leste de Minas
Em
2012, foram realizados
24 cursos, 11 oficinas e
7 palestras, com
atendimento a
9 municípios
medir a eficiência de gestão. “Com
o passar do tempo estamos percebendo que os empresários, além de
aprender a gestão mais eficiente de
suas empresas e recursos, se fortaleceram e estão criando entidades representativas. Isso é um dado muito
interessante porque mostra amplitude da boa prática administrativa”.
Um pensamento típico verificado entre os emigrantes é que eles
passam anos como empregados nos
Estados Unidos e quando retornam
querem ansiosamente se tornar empresários. “Essa é uma ótica um pouco equivocada. Temos visto pessoas
com grande conhecimento operacional, mas que optam por ficar no
administrativo e começam a colocar tudo a perder, pois não buscam
desenvolver suas habilidades gerenciais. Quem retorna sabe melhor que
ninguém como fazer a coisa acontecer”, comenta o analista.
Os investimentos dos emigrantes têm sido pulverizados, mas há
uma prevalência de atividades ligadas à agropecuária, ao comércio e
prestação de serviços e construção
civil.
“Cerca de 300 mil brasileiros vivem na região do Rio Doce e são
donos de 150 empresas que geram
700 empregos, 2 milhões de dólares anuais de impostos, 24 milhões
de dólares para o produto regional e
40 milhões de dólares em vendas. O
projeto tem sido, hoje, fator de negociação para outras ações e parcerias
nos municípios atendidos”, contabiliza Alex.
Através do projeto Remessas, o
Sebrae MG construiu parcerias locais que viabilizaram, dentre outras
ações, a aprovação da Lei Geral Municipal em nove municípios, bem
como o fortalecimento da parceria
com Associações Comerciais e Câmaras de Dirigentes Lojistas dos municípios.
No ano passado, o projeto Remessas agregou dois importantes
parceiros: Sicoob e Itamaraty. O primeiro contribuiu para a mobilização
do público-alvo correto, visto que,
segundo pesquisa finalizada em fevereiro, grande parte dos participantes não tinha o perfil solicitado pelo
projeto.
O Itamaraty disponibilizou espaço em seu portal para inserção do
link do Sebrae MG com informações
sobre como planejar e gerir uma empresas para brasileiros que residem
no exterior e que desejam retornar e
empreender no estado.
21
VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA
REVITALIZAÇÃO
Pacto para
a bacia do
rio Doce
Fotos Alexandre C. Mota/Agência i7
O 10º RIO MAIS POLUÍDO DO BRASIL RECEBERÁ
PROJETOS DE SANEAMENTO BÁSICO
realidade não é nada estimulante. Levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE)
aponta o rio Doce como o 10º mais
poluído do país.
As principais causas são a atividade industrial, a degradação
pelos processos erosivos, o uso de
A
22
pesticidas e herbicidas usados nas
zonas rurais e que acabam indo diretamente para as águas do rio e a
falta de tratamento do esgoto.
Para mudar essa realidade foram criados, em 2011, a Agência de
Água da Bacia Hidrográfica do Rio
Doce e, em 2002, o Instituto BioAtlântica (Ibio), organização sem
fins lucrativos, voltada à conservação ambiental e ao uso sustentável dos recursos naturais. Após
edital público conjunto, o Ibio foi
selecionado para exercer a função
de Agência de Água Delegatária ou
Equiparada (IBIO-AGB Doce).
Seu diretor-geral, Carlos Augusto Brasileiro de Alencar, expliVIVER Julho 19 - 2013
ca que a bacia do Rio Doce tem
nove unidades de gestão de recursos hídricos, os comitês de bacia,
sendo seis em Minas Gerais e três
no Espírito Santo, e um comitê de
integração. “A agência é um braço
executivo dos dez comitês e dela
vem o apoio administrativo, financeiro e técnico”.
O papel da agência é administrar os recursos arrecadados com
a cobrança pelo uso da água por
usuários e que devem ser aplicados integralmente na bacia onde
foram gerados, em programas,
projetos, estudos e ações deliberados pelos comitês e previstos no
Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do
Rio Doce (PIRH-Doce) e nos Planos de Ações das Bacias de Rios
Afluentes ao Rio Doce (PARHs), visando à melhoria da qualidade e
quantidade da água.
Cada unidade de gestão apontou prioridades para tratar os problemas hidroambientais do rio
Doce. “Temos hoje, em andamento, 11 programas do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce: apoio
ao controle de efluentes em pequenas e micro empresas, saneamento da bacia, incentivo ao uso
racional da água na agricultura, produção de água, convivência com as cheias, universalização
do saneamento, recomposição de
área de preservação permanente e nascentes, monitoramento e
acompanhamento da implementação da gestão integrada dos recursos hídricos, comunicação
social, educação ambiental, treinamento e capacitação. O plano
é investir 91.240 milhões de reais,
repassados pelos governos federal
e estadual para trabalhar de 2012 a
2015, na melhoria da qualidade e
quantidade de água da bacia”, diz
Brasileiro.
VIVER Julho 19 - 2013
O plano é investir
de 2012 a 2015 para
melhorar a qualidade
e quantidade da água
da bacia”
Carlos Brasileiro
O IBIO-AGB Doce com o apoio
dos comitês está visitando diversos municípios da região para
identificar as necessidades de
cada cidade no que diz respeito à
elaboração de planos e projetos de
saneamento básico. A medida tem
como objetivo entregar aos municípios projetos que atendam às
exigências técnicas para a liberação de verbas destinadas à melhoria da qualidade da água em toda a
bacia do rio Doce.
“Com esses projetos em mãos,
os municípios terão condições de
buscar recursos, por exemplo, junto à Fundação Nacional de Saúde
(Funasa), vinculada ao Ministério da Saúde. Nossa preocupação
é que esses projetos tenham qualidade e atendam às exigências da
Funasa, para que não haja comprometimento do acesso do município ao recurso existente”, explica
o diretor.
A agência, diz Brasileiro, elabora projetos de tratamento de
esgoto doméstico, otimização de
sistemas de abastecimento de
água, destinação final de resíduos
sólidos, plano municipal de saneamento básico para os municípios,
objetivando a capacitação de recursos do PAC, via Funasa.
No total, o IBIO-AGB Doce desembolsou, em 2012, um montante de 2.054.954,24 de reais
somados os recursos da ANA e
Igam aplicados em ações de custeio e investimento, e destinados a
ações, projetos, programas e estudos deliberados pelos Comitês da
Bacia Hidrográfica do Rio Doce.
Para 2013, estão previstos recursos na ordem de 17 milhões de
reais entre repasses federais e estaduais.
A situação da bacia do Rio
Doce é duplamente emblemática: em menos de meio século perdeu mais dos dois terços de seus
ativos sociais e ambientais, principalmente devido às práticas produtivas que exauriram, em grande
parte, os recursos naturais e econômicos da região.
Recuperar a economia de forma sustentável e restaurar os
ativos ambientais são grandes desafios, pois exigem uma mudança
cultural e comportamental que resulte em um novo modelo econômico. “Entretanto, se analisarmos
o valor presente da água, em face
de sua demanda, o potencial de
incremento de sua disponibilidade e a possibilidade de múltiplos
usos, podemos concluir que o processo de revitalização da bacia é
viável e atrativa financeiramente”,
analisa Eduardo Figueiredo, diretor presidente do IBIO.
23
VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA
CONFECÇÃO
Fotos: Alexandre C. Mota/Agência i7
Polo de
FÁBRICAS empregam
quase metade da
população
lingerie
VARGEM GRANDE, DISTRITO DE SÃO JOÃO DO
MANTENINHA, PRODUZ 1 MILHÃO DE PEÇAS POR MÊS E
TEM FATURAMENTO DE 2 MILHÕES NO PERÍODO
ILZA E GENTIL
MENDONÇA
foram os
pioneiros
24
COSTUREIRAS são
90% da força de
trabalho
VIVER Julho 19 - 2013
pequeno e pacato distrito de
Vargem Grande, localizado a
112 km de Governador Valadares, não tem asfalto e nem telefonia
celular. O telefone fixo não funciona lá
essas coisas. Em uma rua empoeirada,
lojas modernas exibem manequins
vestindo o que há de mais sexy e colorido em tanguinhas e sutiãs. Quase
metade da população de 2.500 habitantes trabalha na indústria de confecção que produz 1 milhão de peças
por mês, gera de 400 a 500 empregos
diretos e tem faturamento de 2 milhões de reais por mês.
Realidade invejada por muitas
prefeituras. O crescimento acentuado
do setor vem mudando o panorama
do distrito cujo faturamento conjunto é quase sete vezes maior que o orçamento da prefeitura para o mesmo
período. O distrito de São João da
Manteninha tem, seguramente, o menor índice de pobreza de toda a região.
Vargem Grande chegou a essa
situação por conta de uma iniciativa individual que deu certo, mesmo
sem premeditação. A dona de casa
Ilza Maria de Mendonça, 58, já costurava desde os 13 anos. Depois que
se casou com Gentil Pereira de Mendonça, passou a confeccionar vestidos de crianças. Fazia para a família e
por encomenda. “Um dia resolvi fazer
calcinhas e, quando percebi, já estava precisando de ajuda de mais uma
costureira para atender aos pedidos”,
conta.
Em 1985, ela e o marido criaram
a primeira fábrica do distrito, a Meury Kiss Lingerie, que hoje emprega
55 funcionários, sendo 90% de costureiras e 10% nas áreas de corte e
administrativa e conta com cinco representantes, sendo quatro em Minas
Gerais e um no Espírito Santo, cuja divisa está a 35 km do distrito e de onde
chegam semanalmente dezenas de
vans com sacoleiras.
Nada foi programado. “Eu não
O
VIVER Julho 19 - 2013
Precisamos
encontrar um
modo de atrair
novos trabalhadores
se quisermos
continuar crescendo”
Emerson da Silva Xavier
esperava que a empresa fosse crescer tanto, que chegasse onde chegou.
Isso não foi pensado. Nossa produção é de 55 mil peças por mês, entre
calcinhas, sutiãs e cuecas produzidas
com microfibra e lycra, 70% de tecido
nacional. Setenta por cento da produção vai para Minas Gerais e 30%
para Bahia, Espírito Santo, Rondônia
e Mato Grosso. A fábrica foi ampliada,
modernizada e a próxima meta é ampliar a loja ”, diz Gentil.
Ilza e Gentil compartilharam com
seus vizinhos e amigos a receita do
negócio, sem egoísmo. Antigos empregados abriram seu próprio negócio, há gente que largou o emprego
na roça e já está administrando pequenas fabriquetas. E, nesse caso,
santo de casa faz milagre, sim. Vendo
que o negócio da mãe ia de vento em
popa, Elizangela Mendonça e o marido Emerson da Silva Xavier, abriram,
em 2002, a Love Lyfe Lingerie. O negócio começou acanhado em uma sala,
na casa da mãe e sogra. “Éramos eu,
minha mulher e um funcionário. Hoje
tenho 108 funcionários, sendo 65 costureiras e costureiros, fabrico 240 mil
peças por mês, entre calcinhas, sutiãs e short doll confeccionados com
98% de algodão e 2% de elastano, sendo que 60% da produção vão para
Minas Gerais. Os maiores compradores estão em Belo Horizonte e região metropolitana, Espírito Santo e
Bahia. Tenho cinco facções em Mantena, três em Vargem Grande e uma
em Cuparaque, onde mais 30 pessoas
trabalham de forma terceirizada”, revela Emerson que largou a carreira de
policial militar para se dedicar aos negócios. A sua fábrica é hoje a maior do
distrito e ultrapassou a pioneira Meury Kiss.
Ele preside a Associação dos Empreendedores da Indústria e do Comércio de São João do Manteninha
(Assecom) que congrega 25 associados, sendo dois de Mantena. “A cidade tem 35 fábricas. O faturamento gira
em torno de 2 milhões de reais por
mês, ou seja, 24 milhões de reais em
um ano. Esse é um fato muito representativo, não apenas para Minas Gerais, mas para o Brasil”, diz.
No entanto, o polo de lingerie enfrenta dificuldades. Uma delas é a carência de mão de obra, que inviabiliza
o crescimento. “Precisamos encontrar
um modo de atrair novos trabalhadores se quisermos continuar crescendo, acompanhando a demanda
por nossos produtos que é cada dia
maior”, insiste Emerson.
Um fator prejudicial à expansão
do negócio é a estrada de terra. Outra
reivindicação dos moradores de Vargem Grande é a telefonia celular. “Não
faz sentido o sinal de telefone celular
não chegar até nós, finaliza.
25
VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA
LATICÍNIOS
Queijo
do Serro
PATRIMÔNIO IMATERIAL
BRASILEIRO É ORGULHO
DA ECONOMIA FAMILIAR
MINEIRA E FONTE DE RENDA
26
VIVER Julho 19 - 2013
Alexandre C. Mota/Agência i7
ma tradição de quase três séculos, herdada dos colonizadores portugueses, a produção do queijo artesanal no Serro carrega
muita história, assim como a cidade. O queijo
está nas mesas, nas fazendas, nos mercados, em
toda parte e foi declarado primeiro patrimônio
imaterial de Minas Gerais pelo Instituto Estadual
do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), em agosto de 2002, quando foi registrado no livro dos saberes. Sua preservação está
ligada à prática do ofício e às especificidades do
processo que o tornam tão especial.
O saber foi um legado de Portugal, ainda no
século 18, mas foi adaptado e reapropriado em
território mineiro, o que conferiu um significado
único a partir de suas relações com o lugar, identidade e tradições do povo.
E tem mais. Em 2008, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) declarou o queijo do Serro como patrimônio cultural
do Brasil. O produto tem também um selo de
indicação geográfica concedido pelo Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), uma
espécie de referência de procedência que permite a identificação de um produto ou serviço como
originário de um local, região ou país, quando
determinada reputação, característica ou qualidade possam ser vinculadas à origem particular.
Ou seja, o selo atesta que o queijo é produzido no Serro e que agrega todas as especificidades
do fazer regional. O produto virou tema do documentário político e poético do cineasta Helvécio
Ratton, em O mineiro e o Queijo, filme que discute com produtores rurais e especialistas o fato
de o queijo ser fabricado com leite cru, como os
melhores queijos da Europa, e ter sua comercialização proibida fora de Minas Gerais.
Quase nada mudou durante esses mais de
dois séculos na forma de fazer o queijo. A forma
de madeira foi substituída pela de plástico, mais
higiênica, mas o processo de feitura permanece
o mesmo. “O Serro nasceu junto da mineração
que estava nas mãos dos portugueses que tinham
a cultura do queijo. Ao longo dos veios eles foram descobrindo terras férteis onde passaram a
criar gado e a fazer queijo, de forma acanhada.
Ele era usado para presentar alguém. Era símbo-
U
VIVER Julho 19 - 2013
lo de nobreza. Com a queda do ouro, a produção
foi intensificada e a produção rural passou a ser
baseada na pecuária de leite e queijo”, relembra
Jorge Brandão Simões, presidente da Associação dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro (Apaqs), criada em 2003, e que hoje conta com
95 associados de 11 municípios da microrregião
do município.
Segundo ele, atualmente são produzidas 10
toneladas de queijo artesanal, uma média de 10
mil queijos por dia, comercializados apenas em
Minas Gerais por causa de uma lei federal de
2000 que proíbe sua venda em outros estados.
Uma contradição porque o consumidor brasileiro consome queijos da Europa que são elaborados com leite cru. Insatisfeitos, os produtores
rurais se mobilizaram e pressionaram os órgãos
competentes e, no dia 30 de abril passado, foi
publicada pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), a portaria 1.305, que autoriza a comercialização do queijo do Serro para outros estados
desde que ele tenha 17 dias de maturação.
“Evidentemente que essa foi uma grande
conquista para o produtor artesanal. Aqueles que
tiverem interesse em comercializar com outros
estados devem aderir ao Sistema Brasileiro de
Inspeção, através do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), que atesta a qualidade do queijo
e autoriza sua comercialização. O IMA aplica a lei
da equivalência, o que é bom para Minas é bom
para o país. Por outro lado, a nova portaria exige
dos produtores artesanais os mesmos critérios
aplicados à indústria, o que dificulta o seu cumprimento”, avalia Jorge.
Para ele, o período de 17 dias de maturação
descaracteriza o queijo do Serro, porque ele vai
se tornar mais amarelo, mais duro. “A medida vai
exigir dos produtores um espaço maior de armazenamento, o que está fora da realidade. Por isso,
precisamos batalhar para que esse prazo caia
para 12 dias. A luta continua”, sentencia.
Jorge é proprietário da fazenda Engenho da
Serra e produz uma média de 30 queijos por dia,
o que significam 300 litros por dia. Toda a produção vai para Cooperativa de Produtores Rurais
do Serro, responsável pela avaliação da qualidade do queijo que é testado quanto ao sabor, sal,
27
L AT I C Í N I OS
consistência e textura. Cada produtor rural ganha uma pontuação por
cada lote entregue e recebe 10,20
reais pelo quilo. O cooperado que
não tiver pontuação tem o queijo
vetado. É a cooperativa que distribui o queijo para o mercado mineiro.
Outro produtor artesanal é João
Magno Pimenta, 46, proprietário
da Fazenda São Sebastião. A arte
de fazer o queijo artesanal passou
quase que como osmose de geração para geração. “A gente cresceu solto, tirando leite de vaca, e
aprendia só de ver a lida diária, entre uma brincadeira e outra aqui
na roça. Meu avô e meu pai pro-
JOÃO PIMENTA:
“Não tem
segredo
não”
QUEIJO DO SERRO
Como ele é
PORTARIA 1.305 DE 30 DE ABRIL
DE 2013 (ALGUNS PONTOS)
Consistência: semiduro
Textura: compacta
Cor: branca amarelada
Sabor: brando, ligeiramente ácido
Crosta: fina, sem trinca
Forma e peso: cilindro de
13 cm a 15 cm de diâmetro
Altura: 4 cm a 6 cm
Peso: 700 gr a 1 kg
NA BALANÇA
z 55 toneladas
z 10 a 15 reais é
por mês de queijo
artesanal são
comercializadas
z
80 toneladas
por mês de queijo
industrializado são
comercializadas
z Essa portaria trata de diretrizes para produção de queijo
minas artesanal exclusivamente a partir de leite cru de vaca,
de produção própria, com utilização de soro
fermento (pingo), em regiões específicas do estado de
Minas Gerais
z Essa portaria aplica-se somente às queijarias integrantes
do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem
Animal
z As queijarias devem ser registradas com identificação
geográfica em organismo competente
z A produção de queijos elaborados a partir de leite cru
fica restrita às queijarias situadas em regiões onde exista
tradição histórica e cultural na produção de queijo minas
artesanal
z Fica definido o período de maturação do queijo minas
artesanal como mínimo de 17 dias para a microrregião do
Serro
z A maturação deve ser realizada a temperatura ambiente
z Os rebanhos das propriedades que produzem queijo
minas artesanal devem estar controlados contra a
brucelose e tuberculose e será permitida, por um prazo de
até três anos a partir da publicação desta portaria, a adoção
de protocolo de controle
z As propriedades rurais onde estão localizadas as
queijarias devem descrever e implementar o Programa
de Boas Práticas de Ordenha e de Fabricação, incluindo o
controle dos operadores, controle de pragas e transporte
adequado do produto até o entreposto
o preço médio do
queijo
z
3.200
empregos
diretos
z 6.960 km é a
área de produção
28
VIVER Julho 19 - 2013
Fotos: Alexandre C. Mota/Agência i7
duziam queijo, esse é um fazer
natural em nossa família”, diz ele
enquanto mostra sua pequena produção diária de 30 queijos, todos
entregues na cooperativa.
“Não tem segredo não. O leite
tem que ter boa qualidade e a ordenha deve obedecer aos critérios
de higiene. Adicionamos o coalho,
sal, pingo (fermento) e o resto é carinho”, é a receita simples do João.
Hora então de conhecer a Cooperativa dos Produtores Rurais do
Serro, entidade criada em 1965 e
que reúne 145 cooperados do Serro, Alvorada de Minas, Dom Joaquim, Sabinópolis, Serra Azul e
Santo Antônio do Itambé.
Segundo seu presidente Carlos
da Silveira Dumont, a cooperativa
trabalha com um volume mensal
de leite de 650 mil litros, tem 108
funcionários, comercializa 55 toneladas por mês de queijo artesanal
e 80 toneladas por mês de queijo
industrializado do tipo Minas padrão, meio cura, ricota, prato, mussarela. “A maturação de 17 dias
exigida pela nova portaria do IMA
é inviável. Primeiro porque ainda
não temos um volume tão grande
de clientes em outros estados. Esse
novo mercado não é fácil, ainda
deverá ser trabalhado e, além disso, precisaríamos de construir uma
área imensa para armazenar tanto
queijo durante tanto tempo”, diz o
dirigente.
Carlos ressalta a incongruência
das leis brasileiras. “Elas seguem
a legislação norte-americana que
não tem produção de queijo com
leite cru. Na Europa, sim, os queijos são fabricados como os nossos.
A legislação deveria se pautar pela
lei francesa, cujos queijos são reconhecidos internacionalmente”.
São muitas as explicações
quanto à caracterização do queijo
do Serro, uns atribuíam ao capim
da região, outros às bactérias lácVIVER Julho 19 - 2013
A maturação de 17
dias, exigida pelo
IMA, é inviável.
Esse novo mercado
não é fácil”
Carlos Dumont
JORGE SIMÕES
o queijo era símbolo
de nobreza
ticas regionais, mas o que se acredita hoje, é que não há uma única
característica, mas um conjunto de
fatores como altitude (entre 650m e
800m), clima frio, umidade do ar e
o processo de alimentação das vacas, que influencia diretamente o
grupo de bactérias que proporciona o sabor ao queijo.
Em resumo, pode-se afirmar
que o queijo do Serro é um produto cuja qualidade resulta de uma
combinação de fatores físico-naturais (relevo, clima, vegetação) que
propicia não apenas pastagens típicas como também o desenvolvimento de bactérias específicas de
multiplicação possível apenas nos
microclimas aí existentes, de fatores socioculturais que criaram um
modo próprio de fazer os queijos
– manipulação do leite, dos coalhos, da massa e de fatores econômicos ligados às dificuldades de
escoamento da produção do leite in natura pela ausência de melhores rodovias, da necessidade
de se converter o produto leite em
moeda corrente, além de outras
variáveis menos importantes e determinantes.
29
VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA
GASTRONOMIA
Saberes e sabores do
Jequitinhonha
GRUPO DE MULHERES DE MENDANHA,
BONFIM, ALECRIM E CAPIVARI RESGATA
RECEITAS DO COTIDIANO
ideia é muito boa. Mulheres
do Vale do Jequitinhonha foram convidadas a puxar pela
memória, a resgatar do cotidiano as receitas da culinária local e
anotar tudo em cadernos. O resultado são quatro livros de receitas
que revelam como essas mulheres
aguerridas, simples e sábias buscam nos alimentos e na natureza
ideias para tornar o dia a dia mais
saboroso.
O projeto Ambiente Gastronô-
A
30
mico do Vale é uma iniciativa do
Sebrae-MG junto aos moradores
do Vale mapeados pelo Programa Turismo Solidário, do sistema
Sedvan/Idene, sob a coordenação
de Maria Sônia Madureira de Pinho, consultora de arte e educadora que percorreu as localidades de
Bonfim e Alecrim (São Gonçalo do
Rio Preto), Mendanha (Diamantina) e Capivari (Serro).
“Esse foi um emocionante processo de resgate de memória gus-
tativa, olfativa e, principalmente,
afetiva dos lugares e das pessoas
que nos acolheram e com quem
convivemos estreitamente. Pura
história de Minas, metamorfoseada
em quitandas, salgados, doces, garrafadas e infusões. São receitas de
vida e de fé”, comenta Maria Sônia.
As tradicionais receitas do cotidiano, para as quais muitas vezes as
mulheres não davam tanta atenção,
foram vindo à tona e se transformaram em livros, escritos a muitas
VIVER Julho 19 - 2013
mãos, com a generosidade e a sabedoria de muitas gerações.
“Logo que cheguei, comecei a
ampliar o estudo. Além das receitas fui anotando tudo, os hábitos de
cada casa, o horário que fazem as
principais refeições, de que se alimentam e o que plantam na horta.
No início não havia qualquer referência gastronômica. Percebi que as
mulheres tinham um repertório que
estava silenciado, talvez por não representar grandes coisas para elas
mesmas. Vi que precisava da ajuda
intensa delas. Cada uma tinha um
potencial, algumas para doces, quitandas, outras para salgados, benze-
que tinham muito a compartilhar.
Aquilo que, para elas, não tinha nenhum sentido, valor, que era um
gesto do cotidiano, se transformou
na história de vida delas. Receitas e
memórias que nunca mais serão esquecidas”, conta Maria Sônia.
A consultora diz que se surpreendeu com a forte relação das mulheres com a natureza. “Elas têm
muito conhecimento, sabem sobre a mudança das estações, o que
plantar, combate a pragas, sabem lidar com a criação. Isso lhes dá a certeza de que vão poder contar com
alguns alimentos em determinadas épocas. Vejo uma relação dire-
Cada passo se traduzia em novos aprendizados para todas as mulheres. A consultora deixava claro
para o grupo que os livros não sinalizam uma etapa concluída, mas
que, a partir deles, poderiam passar
a criar novas coisas. “Elas se encontravam e liam suas receitas. Partilhavam informações, corrigiam,
interagiam e enriqueciam sua própria forma de fazer a comida. Elas
ficaram muito animadas porque
criaram seu próprio cardápio e se
tornaram protagonistas do resgate da sua cultura, de suas tradições,
dos seus rituais, escrevendo a própria história por meio das receitas
ção e até lendas. O trabalho iniciado
em 2008 terminou em 2010 com a
publicação dos livros”, pontua a
consultora.
O grupo tinha 25 mulheres que
já participavam do programa Turismo Solidário e que já vinham fazendo benfeitorias em suas casas
para receber turistas. Acolhê-los
com carinhos, receitas e conversas. “O caderno ficava nas mãos delas, que começaram a tomar notas
e, de repente, se deram conta de
ta entre o que elas cozinham com as
memórias gastronômicas remanescentes do período da escravatura.
Elas usam muita farinha misturada
com outros ingredientes para engrossar a comida e alimentos que
não se deterioram. Existe uma naturalidade no fazer tanto que parar
para pensar no que elas faziam, rotineiramente, foi um elemento de
dificuldade que acabou se tornando
positivo porque elas diziam que não
tinham nada”, infere a consultora.
de suas famílias e do seu território.
Na riqueza do convívio, em conversas e trocas, revelaram-se os hábitos
do cultivar, do colher e as diferentes
maneiras de criar e recriar o alimento”, diz Maria Sônia.
Ao longo dos encontros, foi ficando clara a forma como elas se
apropriam dos alimentos e das ervas. “A horta tem várias serventias,
pode alimentar, benzer, curar, temperar. A riqueza desses saberes não
tem limites”, finaliza a consultoria.
VIVER Julho 19 - 2013
31
VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA
PERFIL
Em
imagens
por Alexandre C. Mota
32
RAIO-X DA REGIÃO
CIDADES
RIO DOCE
Água Boa
Águas Formosas
Aimorés
Alpercata
Alvarenga
Ataléia
Bertopolis
Braúnas
Campanário
Cantagalo
Capitão Andrade
Carlos Chagas
Carmesia
Catuji
Central de Minas
Conceição de Ipanema
Conselheiro Pena
Coroaci
Crisólita
Cuparaque
Divino das Laranjeiras
Divinolândia de Minas
Dores de Guanhães
Engenheiro Caldas
Fernandes Tourinho
Franciscopolis
Frei Gaspar
Frei Inocêncio
Frei Lagonegro
Fronteira dos Vales
Galileia
Goiabeira
Gonzaga
Governador Valadares
Guanhães
Ipanema
Itabirinha de Mantena
Itaipe
Itambacuri
Itanhomi
Itueta
Jampruca
Jose Raydan
Ladainha
Machacalis
Malacacheta
Mantena
Marilac
VIVER Julho 19 - 2013
Materlandia
Mathias Lobato
Mendes Pimentel
Mutum
Nacip Raydan
Nanuque
Nova Belém
Nova Modica
Novo Oriente de Minas
Ouro Verde de Minas
Pavão
Peçanha
Pescador
Pocrane
Pote
Resplendor
Sabinópolis
Santa Efigênia de Minas
Santa Helena de Minas
Santa Maria do Suaçuí
Santa Rita do Itueto
São Felix de Minas
São Geraldo da Piedade
São Geraldo do Baixio
São Joao do Manteninha
São Joao Evangelista
São Jose da Safira
São Jose do Divino
São Jose do Jacuri
São Pedro do Suaçuí
São Sebastiao do Maranhão
Sardoá
Senhora do Porto
Serra dos Aimorés
Setubinha
Sobrália
Taparuba
Teófilo Otoni
Tumiritinga
Umburatiba
Virginópolis
Virgolândia
VALE DO JEQUITINHONHA
Almenara
Angelândia
Araçuaí
Aricanduva
Augusto de Lima
Bandeira
Berilo
Buenópolis
Cachoeira de Pajeú
Capelinha
Caraí
Carbonita
Chapada do Norte
Coluna
Comercinho
Coronel Murta
Couto de Magalhães de
Minas
Datas
Diamantina
Divisópolis
Felício dos Santos
Felisburgo
Francisco Badaró
Gouveia
Itamarandiba
Itaobim
Itinga
Jacinto
Jenipapo de Minas
Jequitinhonha
Joaíma
Joaquim Felício
Jordânia
José Gonçalves de Minas
Leme do Prado
Mata Verde
Medina
Minas Novas
Monte Formoso
Novo Cruzeiro
Padre Paraíso
Palmópolis
Pedra Azul
Ponto dos Volantes
Presidente Kubitschek
Rio do Prado
Rio Vermelho
Rubim
Salto da Divisa
Santa Maria do Salto
Senador Modestino
Gonçalves
Serra Azul de Minas
Serro
Turmalina
Veredinha
Virgem da Lapa
33
VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA
CULINÁRIA
Carne
picadinha
com
palma
CACTO DO CERRADO É
INGREDIENTE PRINCIPAL E
SABOROSO NAS MESAS DO
JEQUITINHONHA
RECEITA
INGREDIENTES
zFolha de palma
zCarne de porco ou boi
zAlho
zSal
zCebolinha
PREPARO:
Limpe a palma, retire os
espinhos e passe em água
quente. Refogue a palma
com alho, sal e cebolinha.
Separadamente refogue a
carne picadinha e quando a
palma estiver quase cozida,
misture a carne. Sirva com
arroz branco, angu e feijão.
Tudo bem quentinho.
Fotos: Alexandre C. Mota/Agência i7
receita é simples, como o povo
do Vale do Jequitinhonha que
sabe driblar os desatinos dessa
vida, por vezes, impiedosa. E da robustez do cerrado, a palma, um cactos antes destinado à alimentação
animal migrou para a culinária e tem
agradado pelo sabor e pelas qualidades nutritivas, principalmente a vitamina A, cálcio e ferro.
E é do cerrado que Clarentina
do Rosário Fernandes, que vive em
A
34
Mendanha, criou uma receita fácil
de fazer. É preciso apenas saber que
a palma deve ser colhida na época da
chuva, quando fica suculenta e perfeita para a culinária. É preciso retirar
os espinhos, um a um, com pinça e
paciência oriental e depois escaldá-la
com água para retirar a baba.
“A gente mistura, inventa, reinventa, coloca tudo na panela e cria
receitas nutritivas, que agradam a família”, diz a chef do cerrado.
Clarentina: “A gente reinventa”
VIVER Julho 19 - 2013
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Polo de lingerie Tradição do Serro