MINAS K www.revistaviverbrasil.com.br ŁŤŢţťŁşŤŧ Rio Doce e Jequitinhonha Enquanto o Rio Doce aposta na união para fortalecer a economia da região, o Jequitinhonha investe na maior floresta de eucalipto plantada do mundo Tradição do Serro Patrimônio imaterial, o queijo é orgulho da economia familiar Polo de lingerie Produção emprega metade da população de Vargem Grande O SESI É UMA DAS MAIORES REDES PRIVADAS DE ENSINO DE MINAS. MAIS EDUCAÇÃO, CULTURA, SAÚDE, LAZER E ESPORTE PARA VOCÊ E PARA OS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA. Você sabe o que é o Sistema FIEMG? O Sistema FIEMG é uma organização privada, ou seja, é como se ele fosse uma grande empresa formada por mais cinco empresas: o SESI, o SENAI, a FIEMG, o CIEMG e o IEL. Todas elas trabalham juntas para desenvolver a indústria e apoiar os empresários. E também para melhorar a sua vida. Quer saber mais? Acesse www.fiemg.com.br e descubra o que o SESI tem para oferecer a você. Editorial PROMISSORAS POSSIBILIDADES É chão que não acaba mais. A Viver Minas deste mês foi primeiro à região do Rio Doce garimpar novas informações sobre a economia e o modo de viver de seus habitantes. Em Governador Valadares, cidade-polo, o fotógrafo Alexandre Mota fez um voo duplo de paraglider do pico do Ibiturana para ver lá do alto como anda a cidade. Com o instrutor de asa delta Carlos Lage, ficamos sabendo da boa iniciativa da Fiemg regional e do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) que promoveram a 2ª Revoada GV+Verde, que contou com a experiência dos pilotos de voo livre que jogaram sementes nativas da mata atlântica a fim de recuperar áreas degradadas. E o Doce, o 10º rio mais poluído do Brasil, é foco de projeto da Associação dos Pescadores e Amigos do Rio Doce (Apard) que pretende recuperá-lo. Outra iniciativa louvável vem da Agência de Água da Bacia Hidrográfica do Rio Doce e do Instituto BioAtlântica (Ibio) que criaram um pacto para a bacia do rio Doce com projetos de saneamento básico. Da presidente da Fiemg no Rio Doce, Rozani Maria Rocha, ouvimos um pedido de separação do Vale do Aço, uma declaração assumida de pobreza regional mascarada pelos indicadores econômicos da região vizinha com tradição siderúrgica. Uma quase declaração de independência ou morte. Fo- mos ainda a Vargem Grande, distrito de São João do Manteninha, conhecer o polo de lingerie que produz 1 milhão de peças por mês e tem faturamento de 2 milhões por mês. O próximo destino foi o Vale do Jequitinhonha, com seu tradicional casario colonial, saber cultural e fazer criativo. De lá, vem a receita de culinária, carne com palma, um cacto do cerrado que alimenta o gado e mata a fome, além de ser saboroso. No Serro, fomos conhecer de perto a feitura artesanal do famoso queijo, patrimônio imaterial e alvo de tanta polêmica. Fomos saber do recém-eleito prefeito de Diamantina, Paulo Célio de Almeida Hugo, sobre seus planos à frente de uma cidade histórica. E é de Turmalina que vem uma discussão importante, 3º Seminário Nacional Manejo de Eucalipto para a Indústria, promovido pelo Sistema Fiemg, com apoio da revista Viver Brasil, e parceria com a Comissão Indústria e Comércio de Turmalina (CMDIES) e o Sebrae-MG. É quando empresários, gestores das indústrias moveleira, alimentícia, farmacêutica, metalúrgica, de vestuário e construção civil, especialistas da área e autoridades vão colocar em pauta ideias para o melhor aproveitamento do potencial do eucalipto na região. Enfim, muitas informações que prometem mudar a vida dessas cidades. Ana Elizabeth Diniz, repórter [email protected] Diretor-geral Paulo Cesar de Oliveira Diretores Gustavo Cesar de Oliveira Carlos Lindenberg Diretor de redação Homero Dolabella Chefe de redação Maria Eugênia Lages Editora-executiva Silvânia Arriel Subeditora Luciana Avelino Editora-adjunta Cláudia Rezende Repórter Ana Elizabeth Diniz Revisão Maria Ignez Villela Secretária de redação Tamara de Jesus Diretora de arte Oriádina Panicali Machado Editor de arte Renato Luiz Equipe de arte Adroaldo Leal, Gilberto Silva e Luciano Cabral Fotógrafia Agência i7 Superintendente de operações Eliana Paula Gerente de marketing Monique Araki Gerente de eventos Gustavo Serpa Superintendente comercial Marco Antonio Gonçalves Assistente comercial Sumaya Mayrink Departamento comercial (31) 3503-8888 Alessandra Valente, Dária Mineiro, Jordana Melo, Hevelyne Buzatti, Rigléia Carvalho e Victor Winning [email protected] Assinaturas (31) 3503-8860 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. 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Mota/Agência i7 ROZANI ROCHA: região reivindica mesma atenção que é dada ao Vale do Jequitinhonha Independência ou morte FIEMG DO RIO DOCE REIVINDICA SEPARAÇÃO DO VALE DO AÇO ão se trata de rebelião ou revanchismo, mas de estratégia de sobrevivência. A reivindicação é o desmembramento do Rio Doce do Vale do Aço e partiu de Rozani Maria Rocha, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) regional Rio Doce. Ela entregou pessoalmente o documento ao vice-governador Alberto Pinto Coelho durante o evento Conexão Empresarial Rotas para o Futuro, que discutiu com empresários e autoridade o tema “o estado como indutor do desenvolvimento regional”. “Os números do Vale do Aço N 6 mascaram a nossa realidade e nos fazem parecer o que não somos. Somos pobres e precisamos assumir essa posição oficialmente e só conseguiremos isso se nos separarmos geograficamente e financeiramente desse grupo. Talvez assim os políticos possam nos dar a mesma atenção que dão ao Vale do Jequitinhonha”, defende Rozani com a propriedade de quem está há 27 anos na Fiemg, há três anos como presidente da regional Rio Doce, tendo sido a primeira mulher a ocupar um cargo sindical no Brasil. Entidades atuantes como a As- sociação Comercial e Empresarial de Governador Valadares, o Sindicato do Comércio Varejista de Governador Valadares (Sindicomércio) e a Fiemg têm se reunido semanalmente para traçar os destinos para a cidade polo. “Acreditamos que só com união vamos fazer a cidade acontecer. Falamos a mesma língua, temos os mesmos interesses e sabemos que o fato de fazermos parte do Vale do Aço mascara nossa real situação econômica. Ficamos em quarto lugar em Minas em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mas, se considerarmos apenas o Rio Doce, VIVER Julho 19 - 2013 caímos para a sétima colocação. Somos mais pobres que o Vale do Jequitinhonha e, no entanto, estamos esquecidos há mais de 20 anos”. A dirigente está convicta de que os dados econômicos das duas regiões estão misturados, o que gera diluição de dados de uma área desenvolvida com outra em permanente empobrecimento, gerando uma visão econômica distorcida e falta de políticas públicas de incentivo. Rozani não disfarça sua frustração com o projeto de duplicação da BR-381. “A obra vai até Belo Oriente, onde está a Cenibra, ou seja, termina a exatos 72,8 quilômetros de Valadares. Essa distância nos divide e nos priva do desenvolvimento. Uma exclusão incompreensível porque se trata de uma reta que não exige obras de complexidade, de arte e estrutural. Eles se basearam em um estudo feito há 12 anos, quando passavam por aquele trecho 5.000 carros. Hoje passam 20 mil no entroncamento da BR-381 com a BR116. Continuamos sendo deixados de lado”. Outra reivindicação que já se prolonga há dez anos é a reforma e ampliação do terminal de passageiros que está sucateado, opera com uma única empresa aérea, a Azul, tem capacidade para receber aviões de até 100 passageiros e tem as passagens mais caras do Brasil, 1.305,00 reais somente um trecho. “O governo do estado nos informou que já está disponível recurso de 3,2 milhões para o projeto de reforma que será executado em etapas. Temos que viabilizar a captação de recursos complementares para sua execução, pois é o único aeroporto da região. É preciso que o governo tenha boa vontade para começar a VIVER Julho 19 - 2013 NÚMEROS 91 municípios 1.217.180 habitantes (2010) 10.416.035,04 é o PIB (R$ 1.000,00) 97.464,1 foi a exportação (US$ 1.000,00) em 2012 49.044,10 foi a importação (US$ 1.000,00) em 2012 8.557,51 foi o PIB per capita (R$) em 2010 113 empresas, 838 empregos e 1.343,50 de ICMS (R$ 1.000,00) no setor de atividades extrativistas 1.204 empresas, 15,716 empregos e 43.283,09 de ICMS (R$ 1.000,00) na indústria de transformação 756 empresas, 7.731 empregos e 65.7949 09 de ICMS (R$ 1.000,00) na construção civil Fonte: Fiemg - Foto: Shutterstock reforma”, pondera Rozani. Governador Valadares acabou se tornando uma cidade estagnada. “A cidade parou nos últimos 25 anos. O retorno dos valadarenses dos Estados Unidos tem gerado um problema social. Eles saíram daqui jovens e estão voltando com 55 a 60 anos. Alguns não enriqueceram seu conhecimento porque ficaram no subemprego e, por isso, não conseguem trabalho. São pouquíssimos os negócios montados com dinheiro americano”, diz a dirigente. Governador Valadares não é mais uma cidade polo, não tem atrativos para as indústrias e nem o comércio, que tem caído sensivelmente. “Além disso, não somos área da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e nem do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene). Não temos incentivo do governo de Minas. Estamos buscando criar condições favoráveis para que as empresas venham para o Rio Doce, mas até isso fica difícil porque é inviável crescer sem energia elétrica. O Distrito Industrial tem sofrido piques de energia, as empresas aí instaladas não podem aumentar sua capacidade energética e a Cemig exige uma contrapartida para atender a essa demanda”, comenta Rozani. Grande parte das indústrias do distrito já está preparada para receber o gás, que não chega. “Ele deveria chegar aqui comprimido, mas como a planta está em Ipatinga isso não será possível. Não dá para entender por que as coisas não acontecem por aqui. A cidade é plana, bonita, temos o pico do Ibituruna, o rio Doce, boa logística, entroncamento rodoviário e um povo acolhedor”, desabafa Rozani. 7 VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA POTENCIAL Aposta no eucalipto EVENTO VAI DISCUTIR O USO SUSTENTÁVEL DA MAIOR FLORESTA PLANTADA DO MUNDO mpresários e gestores das indústrias moveleira, alimentícia, farmacêutica, metalúrgica, de vestuário e construção civil, especialistas da área e autoridades têm um encontro importante nos dias 28 e 29 de agosto, em Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, quando vai acontecer o 3º Seminário Nacional Manejo de Eucalipto para a Indústria, promovido pelo Sistema Fiemg, através do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Social da Indústria (Sesi), em parceria com a Comissão Indústria e Comércio de Turmalina (CMDIES) e o Sebrae-MG. O evento é uma oportunidade para empresários e profissionais ampliarem seus conhecimentos por meio E 8 de palestras com técnicos e especialistas em manejo, sustentabilidade, regularização ambiental, economia e negócios do setor. Segundo Maria Etelvina Andrade Câmara, gerente do Senai de Turmalina, “o Vale do Jequitinhonha possui a maior floresta de eucalipto artificial do mundo e esse potencial deve ser melhor aproveitado pela indústria. É preciso estimular a nossa visão empreendedora com ações de planejamento e gestão participativa, promovendo maior competitividade para as empresas da região”. Para ela, é fundamental a discussão da regularização ambiental, sustentabilidade, economia, operacionalização, qualificação de VIVER Julho 19 - 2013 Shutterstock NÚMEROS DO VALE DO JEQUITINHONHA 59 municípios 770.829 é o número de habitantes (2010) 4.575.838,44 foi o PIB (R$ 1.000) de 2010 604.791,60 foi o valor agregado da indústria (R$ 1.000) em 2010 10.194,8 foi o ICMS da indústria (R$ 1.000) em 2012 36.866,05 foi a exportação (US$ 1.000) no ano passado 188,98 foi a importação (US$ 1.000) em 2012 5.936,26 foi o PIB per capita (R$) em 2010 108 empresas, 1.656 empregos e 5.821,02 foi o ICMS (R$ 1.000) do setor extrativista Divulgação 424 empresas, 3.567 empregos e 4.356,97 foi o ICMS (R$ 1.000) da indústria de transformação 290 empresas , 2.335 empregos e 16,75 foi o ICMS (R$ 1.000) da construção civil 604,791 milhões de reais foi o valor agregado industrial, que representa 0,59% do total de Minas Gerais 4,575 bilhões é o PIB regional, que representa 1,30% do PIB de MG 10,194 milhões de reais é o ICMS industrial, que representa 0,08% do total de Minas Gerais VIVER Julho 19 - 2013 profissionais e produtores para implantarmos inovações técnicas e tecnológicas vinculadas à plantação, manejo, produção e destinação da madeira do eucalipto. “Nosso principal objetivo é buscar maior competitividade para as empresas da região e promover a geração de emprego e renda”. Em 2011, o evento atraiu cerca de 240 participantes, que puderam compreender a importância de destinar parte de sua produção de eucalipto para a indústria moveleira. “Aos poucos está havendo uma consciência de que a rentabilidade desse negócio pode abranger uma cadeia produtiva muito maior. Hoje já temos indústrias trabalhando com os móveis feitos com eucalipto, cuja procura e comercialização aumentram em 20%”, comenta Etelvina. Antônio Marum, chefe de gabinete da presidência da Fiemg, ressalta o potencial da indústria moveleira que já existe em Itamarandiba, Capelinha, Minas Novas e Carbonita. “São peças de excelente qualidade utilizando o eucalipto. Desde 2011, quando realizamos o primeiro seminário, atraímos pessoas de todo o Brasil e firmamos parceria com algumas universidades como a de Viçosa, Lavras e do Vale do Jequitinhonha e Mucuri. O que não faltam são experiências bem-sucedidas.” Marum ressalta que, paralelamente ao evento vai acontecer a 3ª Feira dos Produtos Industriais do Vale do Jequitinhonha, que vai reunir expositores nas áreas de madeira, bioenergia, agrosilício, ferramentas elétricas (motosserra, pulverizadores, motobombas), café, metálica, movelaria, mel, essências e artesanato. O evento de 2013 faz parte do programa Rotas para o Futuro, que tem parceria com o grupo VB Comunicação, Sebrae e Fundação João Pinheiro. 9 VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA ENTREVISTA O RECÉM-ELEITO PREFEITO DE DIAMANTINA NÃO QUER PERDER TEMPO PARA MODERNIZAR A CIDADE Obsessão pelo Alexandre C. Mota/Agência i7 desenvolvimento aulo Célio de Almeida Hugo (PSDB), 62, foi eleito no dia 7 de abril, com 14.706 votos, 62% dos votos, prefeito de Diamantina. O novo pleito aconteceu porque seu candidato a vice, Gustavo Botelho Júnior (PP), teve o registro de candidatura indeferido pelo Tribunal Superior Eleitoral (com base na rejeição pela Câmara Municipal das suas contas quando prefeito no município). Com isso, Paulo Célio ficou impossibilitado de assumir o executivo municipal. Médico clínico e especialista em controle de infecção hospitalar, Paulo Célio tem tentado conciliar a vida pública com a medicina, o que não está sendo fácil, e tem procurado brechas em sua agenda para não abandonar a profissão. O jeito tem sido reservar os sábados para clinicar e visitar os pacientes em casa. Na esfera política foi vice-prefeito de 1993 a 1996, na gestão de Iraval Pires, e foi o primeiro secre- P 10 tário municipal de saúde de Diamantina. Como foi para o senhor tomar posse somente em abril? Essa foi uma situação anômala, uma exceção. Nós ganhamos em outubro e ficamos impedidos de tomar posse, houve uma interinidade, voltamos a disputar em abril com outro vice e aí sim foi confirmada nossa vitória. Uma situação paradoxal porque essa interinidade (Maurício Maia, presidente da Câmara Municipal assumiu) gerou perdas e ganhos. Como pontos positivos, nessa segunda eleição obtivemos mais votos, na primeira votação tivemos 52% e na segunda, 62%, mas ao mesmo tempo perdemos um tempo de construção de equipe. Tudo isso nos prejudicou, pois já estamos em cima da hora da apresentação do Plano Plurianual (PPA) e da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Acabamos de formar a equipe, procurei pessoas com perfil muito técnico e com viés político. São muitos os desafios e nada melhor do que ter uma equipe de alta qualidade. Quais são suas prioridades de governo? Sou muito futurístico e penso que Diamantina tem um potencial enorme para se desenvolver. O desenvolvimento é uma obsessão que tenho. Veja ótimas perspectivas em relação à Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, presente há 38 anos aqui no município, e que nos próximos sete anos vai trazer mais de 10 mil alunos e, com isso, temos que pensar em obras de infraestrutura na cidade que é histórica, tem ruas tortuosas, apertadas. Temos que melhorar e duplicar as vias de acesso, expandir as áreas de construção. Queremos fomentar o turismo, criar um centro de convenções que possa ser sede de VIVER Julho 19 - 2013 eventos de grande porte. Tenho um pensamento muito intenso na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas e, por isso, temos que preparar o turismo de forma mais profissional e sair do amadorismo. Já somos referência em saúde e educação. Tudo isso nos levar a crer que o futuro de Diamantina é bastante promissor, mas temos que ter planejamento e gestão. Como compatibilizar o crescimento da cidade com a preservação do patrimônio histórico que é tombado? Essa é uma grande preocupação. No dia 28 de maio apresentei para a sociedade o planejamento estratégico municipal, pontuando as ações e metas para as secretarias nos próximos 90 dias e anunciei um fórum de discussão sobre mobilidade urbana com a presença de expositores de peso. Vamos conversar sobre nossa condição atual, onde temos muitos veículos estacionados e circulando pelas ruas estreitas, e a falta de opção de estacionamentos. Queremos fazer uma grande discussão tendo como ponto de referência o pedestre. Quais os principais problemas estruturais da cidade? Avançamos muito na saúde terciária, hoje somos referência em Minas. Somos mais de 50 mil pessoas, embora o IBGE reconheça 48 mil habitantes. Temos CTI adulto com 20 leitos, CTI neonatal com dez leitos, hemodiálise com três turnos, serviços de neurocirurgia e ortopedia de alta complexidade, somos referência materno-infantil e nos próximos três meses vamos implantar o serviço de hemodinâmica. Temos dois núcleos, um de reabilitação física e outro de auditiva, e entramos em abril obtivemos a categoria IV, o grau máximo avaliado pelo Ministério da Saúde, com o Centro de Especialidades em Reabilitação que será inaugurado, no dia 9 de agosto, no Hospital Nossa Senhora da Saúde. VIVER Julho 19 - 2013 Somos uma cidade muito hospitaleira, que é patrimônio cultural da humanidade” Somos referência de Curvelo, Sete Lagoas, Araçuaí e Corinto. Mas nosso grande desafio é a saúde básica, com alto investimento. Temos oito estratégias de saúde da família, sendo que o Ministério da Saúde recomenda 19, ou seja, temos um déficit de mais de 50%. Queremos investir em farmácia, não temos laboratório de análises clínicas próprio, ele é terceirizado. Vamos reativar um antigo laboratório, o que vai trazer um benefício enorme para a população. Na área de odontologia temos déficit de produção e somos referência no Centro de Especialidades Odontológicas, mas que está com baixa produtividade. Quero investir na vigilância epidemiológica e sanitária, que são colunas de ação preventiva na saúde. E em obras de infraestrutura, o que será feito? Dentro das obras de mobilidade urbana vamos construir pontilhões dentro da cidade, precisamos duplicar as passarelas e vias. Teremos que criar uma terceira via de acesso para o campus 2 da universidade, que está saturada. Temos graves problemas de saneamento, um no córrego do rio Grande, que corta a cidade, onde já foram investidos 22 milhões de reais em obras de saneamento pela Copasa. Temos uma Estação de Tratamento de Esgoto já construída e que, segundo técnicos da Copasa, só existem duas iguais no mundo, pela sua modernidade. Ela ainda não foi inaugurada, mas a rede coletora já está pronta. Outro problema de saneamento está na bacia do Prata, no lado oeste da cidade. E na área de educação? Temos mais de 4 milhões de m2 de extensão de escolas construídas em 10 distritos e mais de 20 povoados. A extensão do município, por si, só já é um grande desafio. Temos escolas municipais sucateados e que precisam de reformas urgentes e, infelizmente, nosso Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) está abaixo do preconizado. Já estamos elaborando um plano educacional e vamos adotar medidas para elevar esse índice. Vamos investir em infraestrutura e reformas das escolas. Outra prioridade é a modernização administrativa. Estamos motivando os funcionários e temos hoje 12 servidores fazendo o curso de gestão e empreendedorismo pela Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais com assistência da Fundação João Pinheiro. Eu também estou matriculado, quero dar o exemplo. Como estão distribuídas as atividades econômicas? Os setores de comércio e serviços são os principais, mas o turismo é forte. O agronegócio tem crescido com plantações de café e no setor minerário ainda temos 1.300 pessoas envolvidas no garimpo, sendo que a exploração de manganês está aumentando. Consideramos Diamantina a melhor cidade histórica de Minas para se viver, somos uma cidade muito hospitaleira, que é patrimônio cultural da humanidade, temos natureza exuberante e casario conservado. Diamantina é muito querida por todos nós e pelos visitantes. Temos obras do Niemeyer, somos a terra do Juscelino e da Chica da Silva, além de nomes de peso como Joaquim Felício dos Santos, Ayres da Mata Machado, Abílio Barreto e muitos outros. 11 ALI E ACOLÁ POR ANA ELIZABETH DINIZ Fotos: Alexandre C. Mota/Agência i7 Dom da benzeção “Divino Espírito Santo, encha o coração de vossos fiéis com a sua luz...” Com simplicidade e fé, Geralda das Graças Silva, a dona Du benzedeira, 63, vai cumprindo sua missão na miúda cidade de Mendanha, lá no Vale do Jequitinhonha, onde diz ter nascido “de corpo e alma” e onde sempre viveu e criou seus quatro filhos. Em uma época que perdeu a conta, seu marido chegou 12 em casa com uma oração contra picada de bichos e hemorragia que tinha achado na beira do rio. Achou curioso. Logo depois, sua vizinha Ana Eulália, chamada carinhosamente por todos de tia Aninha, 90, a chamou e disse: “ô sá dona pega lápis e papel pra mordi de copiar minhas orações porque me roubaram tudo”. Disse que ela tinha o dom da benzeção. Munida de muita fé e temor a Deus, aos poucos dona Du foi benzendo de um tudo, quebrante, sol na cabeça, mau-olhado, queimadura, espinhela caída, vento virado. Só com o nome da pessoa, ela benze. Faz garrafadas pra gripe, limpar o sangue, problemas de homem e de mulher e xarope de tanchagem, hortelã, casca de romã e assa-peixe, tiro e queda pra gripe e peito cheio. VIVER Julho 19 - 2013 Artista do couro e mais Voadores verdes Uma porta meio acanhada, mas devidamente identificada, não deixa dúvidas de que ali é a oficina de Luiz Antônio Meireles, 58, no fim de uma ruela, no bairro Arraial de Baixo, no Serro. O ofício ele aprendeu vendo o pai José Maria Meireles, que era celeiro, trabalhar. Tomou gosto, confecciona sandálias de couro cru, por encomenda, mas também vende para algumas lojas em Sabinópolis, Guanhães, Tijucal e Meireles. Diz que é preciso paciência e conhecimento para fazer um produto bem acabado. Acha bom o seu negócio porque faz com gosto, mas não consegue sobreviver apenas com ele. É ainda conselheiro tutelar e enfermeiro particular. Aeroporto sucateado Pelo segundo ano consecutivo, a Fiemg regional Rio Doce e o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) promoveram a 2ª Revoada GV+Verde. Quarenta quilos de sementes de espécies da mata atlântica como angelim, ipês amarelo e roxo foram doadas pela Universidade Federal de Viçosa e lançadas por pilotos de voo livre, no entorno do pico da Ibituruna, em Governador Valadares. Esporte com consciência ambiental e com o propósito de reflorestar as áreas degradadas. Acredita-se que pelo menos 20% das sementes lançadas irão germinar. Caminho dos escravos O aeroporto Coronel Altino Machado de Oliveira, inaugurado há 46 anos em Governador Valadares e o único que atende à região do Rio Doce, opera com uma única empresa aérea e tem 4 mil embarques por mês. Inacreditável imaginar isso em uma área totalmente pequena, saguão sem qualquer infraestrutura, banheiros precários, sem esteira e aparelhos de raio X. A negociação da reforma começou em 2009 e, no final do ano passado, o governo federal anunciou uma verba de 3,5 milhões de reais, sendo 30% do governo do estado, mas até agora nada foi feito. A Agência Nacional de Aviação (Anac) já autorizou a obra, mas a prefeitura diz aguardar licitação. VIVER Julho 19 - 2013 O bucólico Caminho dos Escravos, todo de pedra, foi construído no século 18 para escoar a produção de diamantes de Mendanha para Diamantina. Ele começa oficialmente no Mercado dos Tropeiros de Diamantina, tem 20 km e o tempo médio de caminhada é de oito horas, com nível de dificuldade médio. 13 ALI E ACOLÁ Ecologia no chiqueiro e mais Fotos: Alexandre C. Mota/Agência i7 A preocupação com o meio ambiente há muito chegou à roça. Na fazenda São Sebastião, no Serro, o produtor rural João Magno Pimenta introduziu uma alternativa de mão dupla. No espaço onde a família produz o queijo artesanal, ele criou um sistema de encanamento com tubos de PVC que leva o soro do leite diretamente até o chiqueiro. Pesquisas das Embrapa Suínos e Aves atestam que o soro pode ajudar na redução do custo da ração suinícola, tem alto valor nutritivo e palatabilidade, e ainda evita a poluição ambiental. Congado no Serro A noite tinha acabado de cair quando os festeiros carregando a imagem de Nossa Senhora do Rosário desciam as ladeiras do Serro, com estandartes coloridos, a imagem da santa, música e danças. A padroeira dos escravos do Brasil colonial é celebrada em todo o país há pelo menos 350 anos. Na 14 primeira semana de julho, os 20 mil habitantes da cidade histórica comemoram a data com missas, orações, danças e músicas africanas, relembrando a aparição da santa. Os grupos de congado seguem o ritual de seus antepassados e há um dia em que somente crianças e adolescentes participam da festa. Parque da cidade Em uma área de 403 mil m², localizada à margem do rio Doce, está sendo criado o Parque Natural Municipal de Governador Valadares, parceria entre a Vale e a prefeitura da cidade. O investimento é de aproximadamente 12 milhões de reais e vai contemplar a preservação de ecossistemas naturais e a realização de pesquisas científicas, com desenvolvimento de atividades de educação ambiental, recreação em contato com a natureza e turismo ecológico. O projeto prevê sede administrativa com auditório para 100 pessoas, estrutura coberta para exposição de trabalhos artísticos e educativos, estacionamento coberto, lanchonete, núcleo de educação ambiental, playground, horta medicinal, equipamentos para a prática de ecoturismo e esportes de aventura, deck flutuante sobre o rio, trilhas ecológicas, viveiro de mudas de essências nativas do bioma da mata atlântica, dois mirantes e pista gramada para pouso de voo livre. VIVER Julho 19 - 2013 Alexandre C. Mota/Agência i7 tenho dito... ... o melhor e o pior da minha cidade “Nasci em 1930 e moro em Couto de Magalhães, cidade que é a minha vida junto com a Pastorinha e a coroação. A gente sai pelas ruas cantando ao som do violão, da sanfona e do pandeiro. Há 60 anos preparo as crianças até 14 anos para essas manifestações. Fui rainha de Nossa Senhora do Rosário por sete anos seguidos. O que me deixa triste é que a cidade não tem fábricas e nem trabalho. Mas vivo minha vida alegre e cantando”. Inês Bernardina Lemos, 83, feirante Do que eu mais gosto em Governador Valadares é o pico do Ibituruna onde há mais de 20 anos pratico o voo livre, esporte que é meu prazer e ajuda financeira. O pico abriga várias nascentes e em seu entorno há cachoeiras belíssimas como Bretas, Porto e Jother Peres. Em alguns trechos, ainda se pode nadar e fazer canoagem no rio Doce. No entanto, o setor de saúde deixa a desejar, pois temos apenas um hospital regional que atende a mais de 80 cidades vizinhas. Nosso potencial turístico poderia ser mais bem explorado”. Carlos Lage Filho, 50, instrutor e piloto de asa delta Gosto do jeito acolhedor do povo do Serro. Aqui preservamos a história e a cultura que são muito ricas, as pessoas ainda se conhecem, a cidade é tranquila e atrai muitos turistas pelo famoso queijo e pelas festas tradicionais. Acho que poderia haver mais investimento em projetos culturais. Sinto falta de festivais, teatro e cinema itinerante”. Mendanha é um lugar tranquilo, de paz, onde as pessoas se cumprimentam e se conhecem. Temos cachoeiras, quadras de esporte e campo de futebol para os jovens. Gostaria que tivesse mais ofertas de trabalho, uma fábrica que empregasse os moradores, assim eles não teriam que viajar para outras cidades para ganhar seu sustento. Aqui o ensino só vai até a 7ª série o que obriga os estudantes a dar continuidade aos estudos nas cidades vizinhas”. Ana Beatriz Campos Nunes, 33, empresária Darcília da Conceição Cruz, 60, dona de casa VIVER Julho 19 - 2013 15 VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA PISCICULTURA Turismo de pesca Shutterstock PROJETO PREVÊ A REVITALIZAÇÃO DO RIO ATRAVÉS DA PROIBIÇÃO DA PESCA POR CINCO ANOS E A CRIAÇÃO DE TANQUES-REDE DE TILÁPIA PARA OS PESCADORES evitalizar o rio, dar dignidade ao verdadeiro pescador, aquele que sobrevive da pesca, e criar o turismo de pesca no rio Doce. Em síntese esse é o plano de um grupo de amantes da pesca, que, em 2005, criou a Associação dos Pescadores e Amigos do Rio Doce (Apard), hoje com 32 diretores escolhidos a dedo e 500 associados. A proposta é tornar o Doce um rio vivo, abundante em peixes, de forma a fazer de Governador Valadares um destino turístico de pesca. O audacioso plano está tão bem R 16 estruturado que ganhou a simpatia e o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF) que vai garantir 280 mil reais para a implantação, nos próximos dois meses, no lago da barragem de Baguari, do primeiro projeto-piloto, de 132 tanques-rede, que vão produzir 12 toneladas de tilápia por mês e gerar renda para 12 famílias de pescadores artesanais. O projeto tem apoio ainda do Banco do Brasil que vai disponibilizar um complemento de recursos, da Emater, que vai prestar assistência técnica e parceria com o Centro Integrado de Atendimento ao Trabalhador (Ciat) que têm expertise na área. Outra conquista é o termo de cooperação técnico-científica firmada entre a Apard e o Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), que já resultou no edital de pesquisa publicado em maio e que prevê 380 mil reais que serão aplicados no estudo correto do peixamento do rio (introdução de alevinos). Quem narra essa trama salvadora do rio é José Francisco Silva de Abreu, VIVER Julho 19 - 2013 Alexandre C. Mota/Agência i7 presidente da Apard. “É inegável que o rio Doce está à mingua. Pode-se ficar um dia inteiro sem fisgar nem ao menos um peixe, coisa que não acontecia há 50 anos. As causas são a poluição, as dezenas de barragens hidrelétricas que alteraram o ecossistema e não deixam os peixes subir na época da piracema, interceptando o ciclo de vida. Para isso, há solução. A Itaipu fez um desvio de rio de 14 km onde sobem peixes de 60 kg, como o surubim”, pondera. A sustentabilidade do rio está relacionada muito diretamente à pesca esportiva e não à pesca predatória, extrativista, uma realidade que só acontece no Brasil. “Fizeram um estudo nos Estados Unidos sobre quanto vale o peixe silvestre e o resultado foi que, lá no rio, ele vale seis vezes mais do que fora. A Argentina e os Estados Unidos faturam mais com o turismo de pesca do que a Disney, e centenas de lanchas se enfileiram no Golfo do México, mas o peixe é devolvido ao mar. Cinquenta e um por cento do PIB de Bariloche vem do turismo de pesca que gera renda para a cidade, hotéis e pousadas”, avalia o dirigente. Diante de todas essas possibilidades, “estamos de olho no turismo de pesca no médio rio Doce, que vai Nosso projeto tem o objetivo de transformar o pescador artesanal em piscicultor, melhorar sua vida” José Francisco Abreu MERCADO MUNICIPAL vende peixes da região VIVER Julho 19 - 2013 de Ipatinga a Aimorés, porque ele é ecologicamente correto, sustentável e preserva a natureza. É onde queremos trabalhar e fazer a vida acontecer. O rio tem uma topografia extraordinária para a regeneração da vida, e, por ser pedregoso, a água tem ótima aeração e se recupera rapidamente, se não fosse isso, ele seria uma podridão. Em uma faixa de 200 km, entre Ipatinga e Aimorés, são dezenas de corredeiras que ajudam a purificar a água”, analisa Abreu. A realidade do rio Doce é triste. “A quantidade de pescadores, hoje, é maior que o rio pode suportar e a pesca predatória está acabando com o que resta de peixe. Somente no trecho de Governador Valadares, o rio tem 53 km onde devem existir mais de 100 mil metros de rede, o que não dá chance de o peixe crescer”, pontua o dirigente. A saída encontrada pela Apard é fazer o peixamento do rio, fechar a pesca por quatro ou cinco anos e depois liberar de forma controlada. Mas como fazer com que os pescadores artesanais interrompam sua atividade? “Não queremos ser radicais porque um dos princípios da associação é o respeito ao pescador, embora eles 17 P I S C I C U LT U R A Alexandre C. Mota/Agência i7 não façam parte do nosso grupo. Criamos um projeto de piscicultura social porque queremos que eles tenham as melhores alternativas. Vamos transformá-los em piscicultores, oferecendo tecnologia, acompanhamento técnico, assistência, orientação e cursos de capacitação”, anuncia Abreu. O projeto na barragem de Baguari deve produzir a primeira safra dentro de um ano. Um alevino com 50 gramas já é considerado juvenil e com mais seis meses já está pesando 800 gramas.“Nosso projeto tem o objetivo de transformar o pescador artesanal em piscicultor, melhorar sua vida e, em contrapartida, queremos que ele se comprometa a abandonar a pesca no rio e nos ajude a fiscalizar”, ensina Abreu. A Vale cedeu em comodato uma área de dois alqueires que está sendo transformada em centro de treinamento. Uma antiga hospedaria, com 1.000 m2, vai comportar 60 pessoas, sala de informática com 20 computadores, sala de aula, cozinha e cantina. Lá, os pescadores vão aprender sobre associativismo e plano de negócio. “Vamos oferecer os tanques-rede e ração para todo o ciclo, da hora que o trabalho for iniciado até a venda da primeira safra. Cada pescador será dono do seu negócio. O dinheiro arrecadado na primeira safra será reinvestido na compra de ração, alevinos, para pagar um salário em torno de 1.500 reais para cada um, e fazer um fundo de reserva para investimento. Vamos acompanhá-los por cinco anos e acreditamos que até lá eles já tenham conhecimento, segurança, estrutura e capacidade de tocar sozinhos o próprio negócio. Esse será um grande passo”, aposta Abreu. O projeto não tem limites e pode também gerar emprego para a família. “A matemática é simples. Somente Governador Valadares consome 200 t por mês e estimamos que, no 18 De abril a agosto, é o período da entressafra. Os peixes gostam da chuva, quando a água esquenta e eles se reproduzem” Edson S. Araújo Júnior máximo, 5 t vêm do rio, capturados com aqueles 100 metros de rede. São peixinhos como cascudo, piau, que são vendidos na feira. Esse peixe não vai para o supermercado. Importamos 195 t por mês”, contabiliza o dirigente. Um quilo de tilápia, no atacado, custa 4,50 reais, no varejo, 8 reais o quilo. Se o pescador abrir o peixe e tirar o filé, ele sai a 18 reais o quilo. Um quilo de tilápia no supermercado custa 35 reais. “É uma forma de agregar valor ao produto e isso eles sabem fazer como ninguém. Queremos que eles deslanchem e o rio Doce poderá se tornar um grande produtor e exportador de pescado”, prevê Abreu. A saída do pescador do rio para a terra vai dar vida ao rio. A previsão da Apard é de que, se dentro de três anos, a pesca for proibida, três anos depois os peixes já terão retornado ao rio, isso com o peixamento e o compromisso dos pescadores de não mais pescar, e, dentro de cinco anos a situação será fantástica. Na outra ponta da cadeia de piscicultura está quem produz e distribui os alevinos. Edson S. Araújo Júnior é proprietário da Piscicultura GV Alevinos e está no mercado há 20 anos. Ele fornece filhotes de peixes para represas, tanques e lagoas. “De abril a agosto é o período de entressafra, quando a água esfria. Os peixes gostam da chuva, quando a água esquenta e eles se reproduzem”, diz ele que presta consultoria e orientação técnica para particulares e empresas. Edson fornece alevinos para 87 cidades e as prefeituras compram 99% da produção. Ele comercializa entre 3 a 4 milhões de alevinos por ano, sendo os mais procurados as carpas, matrinchã, pacu, tambaqui, lambari, tambacu e o pintado (surubim). VIVER Julho 19 - 2013 INFORME ESPECIAL N (QVLQRFHUWLÀFDGR Divulgação os Vales do Jequitinhonha e Mulas têm um padrão a ser seguido, de curi, os recursos minerais são acordo com a metodologia da escola. de importância estratégica, posO pais ganham mais tranquilidade, suindo grandes jazidas de pedras prepois os serviços serão vistoriados peciosas e semipreciosas. Mais valioso riodicamente por uma equipe de audiainda tem sido o processo educacional, tores independentes. que está alcançando índices de qualiMateus Rodrigues relata que há dade surpreendentes, conforme relata muito tempo, a qualidade é um tema Mateus Rodrigues, franqueado da AGQ relevante nas organizações. Con%UDVLOHHVSHFLDOLVWDHPFHUWL¿FDomRGH tudo, nos últimos anos, o conceito Instituições de Ensino. qualidade extrapolou o meio empre³$FHUWL¿FDomRpDFKDQFHODGDHQWLsarial e chegou a toda sociedade. GDGH&HUWL¿FDGRUD,QPHWURTXHDWHVWD Hoje, fala-se em qualidade de vida, que a Organização Educacional atende de produtos, de atendimento, qualiMatheus Rodrigues: qualidade é aos requisitos das normas ISO 9001 e dade de aula, ou seja, aprimora-se tema relevante nas organizações 15419”, informa Mateus. sempre a maneira de fazer ou prestar 2EWHU XP FHUWL¿FDGR PXQGLDOPHQWH UHFRQKHFLGR DVVH- um serviço. gura a excelência em sua área de atuação, passando aos Além da ISO9001 a UNF AGQ Brasil nos Vales do SDLVHUHVSRQViYHLVDFHUWH]DGHTXHHVWmRFRQ¿DQGRDHGX- Jequitinhonha e Mucuri implementa sistemas de gesFDomRGHVHXV¿OKRVDXPDLQVWLWXLomRVpULDHFRPSHWHQWH tão com base nas Normas ISO14001, OHSAS18001, Os professores não mudam o jeito de dar aulas, pois SA8000, ISO17025 e no Regimento SIAC do PBQP-H. cada um tem características próprias e conduz suas aulas respeitando os limites da turma, porém todas as au- www.agqbrasil.com.br É, notícia voa mesmo. Jornal Tudo. Agora também no Aeroporto da Pampulha. Inteligente, rápido e gratuito. VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA EMPREENDEDORISMO Shutterstock Retorno ao lar PROJETO CAPACITA EMIGRANTES A GERIR SUAS FINANÇAS COM MAIS EFICIÊNCIA overnador Valadares é conhecida pela migração de seus moradores, principalmente, para os Estados Unidos, desde a década de 60. O fenômeno foi intensificado na década de 80. Quem foi para lá jovem, aos 20 anos, volta à terra natal com mais de 50 anos. Muitos voltam com reservas acumuladas a duras penas, outros trazem desesperanças. Como planejar o futuro após tanto tempo longe de casa? Onde e como aplicar esse recurso? Pensando nessas pessoas, o Sebrae, em parceria com a Caixa Econômica Federal (CEF) e G 20 o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), implantou o projeto Remessas, dirigido a empresários e empreendedores brasileiros que moram ou retornaram do exterior, além de beneficiários de remessas de emigrantes. A ideia é oferecer capacitação gerencial para quem já tem ou pretende abrir uma empresa com recursos captados no exterior. Alex Amaro Pena, analista técnico do Sebrae de Governador Vaçadares, explica que o projeto já atendeu empresários de mais de 20 cidades do leste de Minas, como Governador VIVER Julho 19 - 2013 Valadares, Sardoá, Santa Efigênia de Minas, Divinolândia de Minas, Gonzaga, Virginópolis, Capitão Andrade, Engenheiro Caldas, Aimorés, São José do Divino, Nova Módica, Tarumirim e Itabirinha, entre outras. “Na verdade, buscamos capacitar os potenciais empresários que voltaram sobre gestão financeira, marketing, qualidade, vendas, estratégica, além de acesso ao crédito, de forma a potencializar o desenvolvimento de suas habilidades gerencias”. O objetivo, diz o analista, é promover condições para a melhoria do acesso ao crédito e gerar informações e conhecimento para o aprimoramento da gestão das empresas oriundas de remessas, orientar os emigrantes que retornaram ou seus beneficiários, aumentando as possibilidades de sucesso dos futuros empreendimentos. De junho de 2009 a dezembro de 2011 foram realizados perto de 1,7 mil atendimentos em cursos e palestras, além de 67 consultorias para empresas de cidades do Vale do Rio Doce, principalmente da região de Governador Valadares, e os emitentes dessas remessas que estão, sobretudo, na região metropolitana de Boston/Massachusetts, nos Estados Unidos. Em 2012, foram realizados 24 cursos, 11 oficinas e sete palestras, com atendimento a nove municípios. O total de atendimentos nessas ações foi de 1.070, sendo 810 pessoas físicas e 260 pessoas jurídicas. “O que a gente detectou foi que muitas pessoas traziam muito dinheiro, montavam negócios que não sabiam como gerir. Com pouco tempo de vida, essas empresas fechavam. Nosso trabalho é ensinar aos emigrantes como aplicar bem o seu dinheiro de forma que possam ter um retorno mais tranquilo e eficiente”, diz Alex. O foco do projeto Remessas é VIVER Julho 19 - 2013 PROJETO REMESSAS Capacitação em: zGestão financeira zMarketing zQualidade zVendas zEstratégia zAcesso ao crédito zDesenvolvimento de habilidades gerencias O projeto já atendeu empresários de mais de 20 cidades do Leste de Minas Em 2012, foram realizados 24 cursos, 11 oficinas e 7 palestras, com atendimento a 9 municípios medir a eficiência de gestão. “Com o passar do tempo estamos percebendo que os empresários, além de aprender a gestão mais eficiente de suas empresas e recursos, se fortaleceram e estão criando entidades representativas. Isso é um dado muito interessante porque mostra amplitude da boa prática administrativa”. Um pensamento típico verificado entre os emigrantes é que eles passam anos como empregados nos Estados Unidos e quando retornam querem ansiosamente se tornar empresários. “Essa é uma ótica um pouco equivocada. Temos visto pessoas com grande conhecimento operacional, mas que optam por ficar no administrativo e começam a colocar tudo a perder, pois não buscam desenvolver suas habilidades gerenciais. Quem retorna sabe melhor que ninguém como fazer a coisa acontecer”, comenta o analista. Os investimentos dos emigrantes têm sido pulverizados, mas há uma prevalência de atividades ligadas à agropecuária, ao comércio e prestação de serviços e construção civil. “Cerca de 300 mil brasileiros vivem na região do Rio Doce e são donos de 150 empresas que geram 700 empregos, 2 milhões de dólares anuais de impostos, 24 milhões de dólares para o produto regional e 40 milhões de dólares em vendas. O projeto tem sido, hoje, fator de negociação para outras ações e parcerias nos municípios atendidos”, contabiliza Alex. Através do projeto Remessas, o Sebrae MG construiu parcerias locais que viabilizaram, dentre outras ações, a aprovação da Lei Geral Municipal em nove municípios, bem como o fortalecimento da parceria com Associações Comerciais e Câmaras de Dirigentes Lojistas dos municípios. No ano passado, o projeto Remessas agregou dois importantes parceiros: Sicoob e Itamaraty. O primeiro contribuiu para a mobilização do público-alvo correto, visto que, segundo pesquisa finalizada em fevereiro, grande parte dos participantes não tinha o perfil solicitado pelo projeto. O Itamaraty disponibilizou espaço em seu portal para inserção do link do Sebrae MG com informações sobre como planejar e gerir uma empresas para brasileiros que residem no exterior e que desejam retornar e empreender no estado. 21 VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA REVITALIZAÇÃO Pacto para a bacia do rio Doce Fotos Alexandre C. Mota/Agência i7 O 10º RIO MAIS POLUÍDO DO BRASIL RECEBERÁ PROJETOS DE SANEAMENTO BÁSICO realidade não é nada estimulante. Levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta o rio Doce como o 10º mais poluído do país. As principais causas são a atividade industrial, a degradação pelos processos erosivos, o uso de A 22 pesticidas e herbicidas usados nas zonas rurais e que acabam indo diretamente para as águas do rio e a falta de tratamento do esgoto. Para mudar essa realidade foram criados, em 2011, a Agência de Água da Bacia Hidrográfica do Rio Doce e, em 2002, o Instituto BioAtlântica (Ibio), organização sem fins lucrativos, voltada à conservação ambiental e ao uso sustentável dos recursos naturais. Após edital público conjunto, o Ibio foi selecionado para exercer a função de Agência de Água Delegatária ou Equiparada (IBIO-AGB Doce). Seu diretor-geral, Carlos Augusto Brasileiro de Alencar, expliVIVER Julho 19 - 2013 ca que a bacia do Rio Doce tem nove unidades de gestão de recursos hídricos, os comitês de bacia, sendo seis em Minas Gerais e três no Espírito Santo, e um comitê de integração. “A agência é um braço executivo dos dez comitês e dela vem o apoio administrativo, financeiro e técnico”. O papel da agência é administrar os recursos arrecadados com a cobrança pelo uso da água por usuários e que devem ser aplicados integralmente na bacia onde foram gerados, em programas, projetos, estudos e ações deliberados pelos comitês e previstos no Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (PIRH-Doce) e nos Planos de Ações das Bacias de Rios Afluentes ao Rio Doce (PARHs), visando à melhoria da qualidade e quantidade da água. Cada unidade de gestão apontou prioridades para tratar os problemas hidroambientais do rio Doce. “Temos hoje, em andamento, 11 programas do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Doce: apoio ao controle de efluentes em pequenas e micro empresas, saneamento da bacia, incentivo ao uso racional da água na agricultura, produção de água, convivência com as cheias, universalização do saneamento, recomposição de área de preservação permanente e nascentes, monitoramento e acompanhamento da implementação da gestão integrada dos recursos hídricos, comunicação social, educação ambiental, treinamento e capacitação. O plano é investir 91.240 milhões de reais, repassados pelos governos federal e estadual para trabalhar de 2012 a 2015, na melhoria da qualidade e quantidade de água da bacia”, diz Brasileiro. VIVER Julho 19 - 2013 O plano é investir de 2012 a 2015 para melhorar a qualidade e quantidade da água da bacia” Carlos Brasileiro O IBIO-AGB Doce com o apoio dos comitês está visitando diversos municípios da região para identificar as necessidades de cada cidade no que diz respeito à elaboração de planos e projetos de saneamento básico. A medida tem como objetivo entregar aos municípios projetos que atendam às exigências técnicas para a liberação de verbas destinadas à melhoria da qualidade da água em toda a bacia do rio Doce. “Com esses projetos em mãos, os municípios terão condições de buscar recursos, por exemplo, junto à Fundação Nacional de Saúde (Funasa), vinculada ao Ministério da Saúde. Nossa preocupação é que esses projetos tenham qualidade e atendam às exigências da Funasa, para que não haja comprometimento do acesso do município ao recurso existente”, explica o diretor. A agência, diz Brasileiro, elabora projetos de tratamento de esgoto doméstico, otimização de sistemas de abastecimento de água, destinação final de resíduos sólidos, plano municipal de saneamento básico para os municípios, objetivando a capacitação de recursos do PAC, via Funasa. No total, o IBIO-AGB Doce desembolsou, em 2012, um montante de 2.054.954,24 de reais somados os recursos da ANA e Igam aplicados em ações de custeio e investimento, e destinados a ações, projetos, programas e estudos deliberados pelos Comitês da Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Para 2013, estão previstos recursos na ordem de 17 milhões de reais entre repasses federais e estaduais. A situação da bacia do Rio Doce é duplamente emblemática: em menos de meio século perdeu mais dos dois terços de seus ativos sociais e ambientais, principalmente devido às práticas produtivas que exauriram, em grande parte, os recursos naturais e econômicos da região. Recuperar a economia de forma sustentável e restaurar os ativos ambientais são grandes desafios, pois exigem uma mudança cultural e comportamental que resulte em um novo modelo econômico. “Entretanto, se analisarmos o valor presente da água, em face de sua demanda, o potencial de incremento de sua disponibilidade e a possibilidade de múltiplos usos, podemos concluir que o processo de revitalização da bacia é viável e atrativa financeiramente”, analisa Eduardo Figueiredo, diretor presidente do IBIO. 23 VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA CONFECÇÃO Fotos: Alexandre C. Mota/Agência i7 Polo de FÁBRICAS empregam quase metade da população lingerie VARGEM GRANDE, DISTRITO DE SÃO JOÃO DO MANTENINHA, PRODUZ 1 MILHÃO DE PEÇAS POR MÊS E TEM FATURAMENTO DE 2 MILHÕES NO PERÍODO ILZA E GENTIL MENDONÇA foram os pioneiros 24 COSTUREIRAS são 90% da força de trabalho VIVER Julho 19 - 2013 pequeno e pacato distrito de Vargem Grande, localizado a 112 km de Governador Valadares, não tem asfalto e nem telefonia celular. O telefone fixo não funciona lá essas coisas. Em uma rua empoeirada, lojas modernas exibem manequins vestindo o que há de mais sexy e colorido em tanguinhas e sutiãs. Quase metade da população de 2.500 habitantes trabalha na indústria de confecção que produz 1 milhão de peças por mês, gera de 400 a 500 empregos diretos e tem faturamento de 2 milhões de reais por mês. Realidade invejada por muitas prefeituras. O crescimento acentuado do setor vem mudando o panorama do distrito cujo faturamento conjunto é quase sete vezes maior que o orçamento da prefeitura para o mesmo período. O distrito de São João da Manteninha tem, seguramente, o menor índice de pobreza de toda a região. Vargem Grande chegou a essa situação por conta de uma iniciativa individual que deu certo, mesmo sem premeditação. A dona de casa Ilza Maria de Mendonça, 58, já costurava desde os 13 anos. Depois que se casou com Gentil Pereira de Mendonça, passou a confeccionar vestidos de crianças. Fazia para a família e por encomenda. “Um dia resolvi fazer calcinhas e, quando percebi, já estava precisando de ajuda de mais uma costureira para atender aos pedidos”, conta. Em 1985, ela e o marido criaram a primeira fábrica do distrito, a Meury Kiss Lingerie, que hoje emprega 55 funcionários, sendo 90% de costureiras e 10% nas áreas de corte e administrativa e conta com cinco representantes, sendo quatro em Minas Gerais e um no Espírito Santo, cuja divisa está a 35 km do distrito e de onde chegam semanalmente dezenas de vans com sacoleiras. Nada foi programado. “Eu não O VIVER Julho 19 - 2013 Precisamos encontrar um modo de atrair novos trabalhadores se quisermos continuar crescendo” Emerson da Silva Xavier esperava que a empresa fosse crescer tanto, que chegasse onde chegou. Isso não foi pensado. Nossa produção é de 55 mil peças por mês, entre calcinhas, sutiãs e cuecas produzidas com microfibra e lycra, 70% de tecido nacional. Setenta por cento da produção vai para Minas Gerais e 30% para Bahia, Espírito Santo, Rondônia e Mato Grosso. A fábrica foi ampliada, modernizada e a próxima meta é ampliar a loja ”, diz Gentil. Ilza e Gentil compartilharam com seus vizinhos e amigos a receita do negócio, sem egoísmo. Antigos empregados abriram seu próprio negócio, há gente que largou o emprego na roça e já está administrando pequenas fabriquetas. E, nesse caso, santo de casa faz milagre, sim. Vendo que o negócio da mãe ia de vento em popa, Elizangela Mendonça e o marido Emerson da Silva Xavier, abriram, em 2002, a Love Lyfe Lingerie. O negócio começou acanhado em uma sala, na casa da mãe e sogra. “Éramos eu, minha mulher e um funcionário. Hoje tenho 108 funcionários, sendo 65 costureiras e costureiros, fabrico 240 mil peças por mês, entre calcinhas, sutiãs e short doll confeccionados com 98% de algodão e 2% de elastano, sendo que 60% da produção vão para Minas Gerais. Os maiores compradores estão em Belo Horizonte e região metropolitana, Espírito Santo e Bahia. Tenho cinco facções em Mantena, três em Vargem Grande e uma em Cuparaque, onde mais 30 pessoas trabalham de forma terceirizada”, revela Emerson que largou a carreira de policial militar para se dedicar aos negócios. A sua fábrica é hoje a maior do distrito e ultrapassou a pioneira Meury Kiss. Ele preside a Associação dos Empreendedores da Indústria e do Comércio de São João do Manteninha (Assecom) que congrega 25 associados, sendo dois de Mantena. “A cidade tem 35 fábricas. O faturamento gira em torno de 2 milhões de reais por mês, ou seja, 24 milhões de reais em um ano. Esse é um fato muito representativo, não apenas para Minas Gerais, mas para o Brasil”, diz. No entanto, o polo de lingerie enfrenta dificuldades. Uma delas é a carência de mão de obra, que inviabiliza o crescimento. “Precisamos encontrar um modo de atrair novos trabalhadores se quisermos continuar crescendo, acompanhando a demanda por nossos produtos que é cada dia maior”, insiste Emerson. Um fator prejudicial à expansão do negócio é a estrada de terra. Outra reivindicação dos moradores de Vargem Grande é a telefonia celular. “Não faz sentido o sinal de telefone celular não chegar até nós, finaliza. 25 VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA LATICÍNIOS Queijo do Serro PATRIMÔNIO IMATERIAL BRASILEIRO É ORGULHO DA ECONOMIA FAMILIAR MINEIRA E FONTE DE RENDA 26 VIVER Julho 19 - 2013 Alexandre C. Mota/Agência i7 ma tradição de quase três séculos, herdada dos colonizadores portugueses, a produção do queijo artesanal no Serro carrega muita história, assim como a cidade. O queijo está nas mesas, nas fazendas, nos mercados, em toda parte e foi declarado primeiro patrimônio imaterial de Minas Gerais pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), em agosto de 2002, quando foi registrado no livro dos saberes. Sua preservação está ligada à prática do ofício e às especificidades do processo que o tornam tão especial. O saber foi um legado de Portugal, ainda no século 18, mas foi adaptado e reapropriado em território mineiro, o que conferiu um significado único a partir de suas relações com o lugar, identidade e tradições do povo. E tem mais. Em 2008, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) declarou o queijo do Serro como patrimônio cultural do Brasil. O produto tem também um selo de indicação geográfica concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), uma espécie de referência de procedência que permite a identificação de um produto ou serviço como originário de um local, região ou país, quando determinada reputação, característica ou qualidade possam ser vinculadas à origem particular. Ou seja, o selo atesta que o queijo é produzido no Serro e que agrega todas as especificidades do fazer regional. O produto virou tema do documentário político e poético do cineasta Helvécio Ratton, em O mineiro e o Queijo, filme que discute com produtores rurais e especialistas o fato de o queijo ser fabricado com leite cru, como os melhores queijos da Europa, e ter sua comercialização proibida fora de Minas Gerais. Quase nada mudou durante esses mais de dois séculos na forma de fazer o queijo. A forma de madeira foi substituída pela de plástico, mais higiênica, mas o processo de feitura permanece o mesmo. “O Serro nasceu junto da mineração que estava nas mãos dos portugueses que tinham a cultura do queijo. Ao longo dos veios eles foram descobrindo terras férteis onde passaram a criar gado e a fazer queijo, de forma acanhada. Ele era usado para presentar alguém. Era símbo- U VIVER Julho 19 - 2013 lo de nobreza. Com a queda do ouro, a produção foi intensificada e a produção rural passou a ser baseada na pecuária de leite e queijo”, relembra Jorge Brandão Simões, presidente da Associação dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro (Apaqs), criada em 2003, e que hoje conta com 95 associados de 11 municípios da microrregião do município. Segundo ele, atualmente são produzidas 10 toneladas de queijo artesanal, uma média de 10 mil queijos por dia, comercializados apenas em Minas Gerais por causa de uma lei federal de 2000 que proíbe sua venda em outros estados. Uma contradição porque o consumidor brasileiro consome queijos da Europa que são elaborados com leite cru. Insatisfeitos, os produtores rurais se mobilizaram e pressionaram os órgãos competentes e, no dia 30 de abril passado, foi publicada pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), a portaria 1.305, que autoriza a comercialização do queijo do Serro para outros estados desde que ele tenha 17 dias de maturação. “Evidentemente que essa foi uma grande conquista para o produtor artesanal. Aqueles que tiverem interesse em comercializar com outros estados devem aderir ao Sistema Brasileiro de Inspeção, através do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), que atesta a qualidade do queijo e autoriza sua comercialização. O IMA aplica a lei da equivalência, o que é bom para Minas é bom para o país. Por outro lado, a nova portaria exige dos produtores artesanais os mesmos critérios aplicados à indústria, o que dificulta o seu cumprimento”, avalia Jorge. Para ele, o período de 17 dias de maturação descaracteriza o queijo do Serro, porque ele vai se tornar mais amarelo, mais duro. “A medida vai exigir dos produtores um espaço maior de armazenamento, o que está fora da realidade. Por isso, precisamos batalhar para que esse prazo caia para 12 dias. A luta continua”, sentencia. Jorge é proprietário da fazenda Engenho da Serra e produz uma média de 30 queijos por dia, o que significam 300 litros por dia. Toda a produção vai para Cooperativa de Produtores Rurais do Serro, responsável pela avaliação da qualidade do queijo que é testado quanto ao sabor, sal, 27 L AT I C Í N I OS consistência e textura. Cada produtor rural ganha uma pontuação por cada lote entregue e recebe 10,20 reais pelo quilo. O cooperado que não tiver pontuação tem o queijo vetado. É a cooperativa que distribui o queijo para o mercado mineiro. Outro produtor artesanal é João Magno Pimenta, 46, proprietário da Fazenda São Sebastião. A arte de fazer o queijo artesanal passou quase que como osmose de geração para geração. “A gente cresceu solto, tirando leite de vaca, e aprendia só de ver a lida diária, entre uma brincadeira e outra aqui na roça. Meu avô e meu pai pro- JOÃO PIMENTA: “Não tem segredo não” QUEIJO DO SERRO Como ele é PORTARIA 1.305 DE 30 DE ABRIL DE 2013 (ALGUNS PONTOS) Consistência: semiduro Textura: compacta Cor: branca amarelada Sabor: brando, ligeiramente ácido Crosta: fina, sem trinca Forma e peso: cilindro de 13 cm a 15 cm de diâmetro Altura: 4 cm a 6 cm Peso: 700 gr a 1 kg NA BALANÇA z 55 toneladas z 10 a 15 reais é por mês de queijo artesanal são comercializadas z 80 toneladas por mês de queijo industrializado são comercializadas z Essa portaria trata de diretrizes para produção de queijo minas artesanal exclusivamente a partir de leite cru de vaca, de produção própria, com utilização de soro fermento (pingo), em regiões específicas do estado de Minas Gerais z Essa portaria aplica-se somente às queijarias integrantes do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal z As queijarias devem ser registradas com identificação geográfica em organismo competente z A produção de queijos elaborados a partir de leite cru fica restrita às queijarias situadas em regiões onde exista tradição histórica e cultural na produção de queijo minas artesanal z Fica definido o período de maturação do queijo minas artesanal como mínimo de 17 dias para a microrregião do Serro z A maturação deve ser realizada a temperatura ambiente z Os rebanhos das propriedades que produzem queijo minas artesanal devem estar controlados contra a brucelose e tuberculose e será permitida, por um prazo de até três anos a partir da publicação desta portaria, a adoção de protocolo de controle z As propriedades rurais onde estão localizadas as queijarias devem descrever e implementar o Programa de Boas Práticas de Ordenha e de Fabricação, incluindo o controle dos operadores, controle de pragas e transporte adequado do produto até o entreposto o preço médio do queijo z 3.200 empregos diretos z 6.960 km é a área de produção 28 VIVER Julho 19 - 2013 Fotos: Alexandre C. Mota/Agência i7 duziam queijo, esse é um fazer natural em nossa família”, diz ele enquanto mostra sua pequena produção diária de 30 queijos, todos entregues na cooperativa. “Não tem segredo não. O leite tem que ter boa qualidade e a ordenha deve obedecer aos critérios de higiene. Adicionamos o coalho, sal, pingo (fermento) e o resto é carinho”, é a receita simples do João. Hora então de conhecer a Cooperativa dos Produtores Rurais do Serro, entidade criada em 1965 e que reúne 145 cooperados do Serro, Alvorada de Minas, Dom Joaquim, Sabinópolis, Serra Azul e Santo Antônio do Itambé. Segundo seu presidente Carlos da Silveira Dumont, a cooperativa trabalha com um volume mensal de leite de 650 mil litros, tem 108 funcionários, comercializa 55 toneladas por mês de queijo artesanal e 80 toneladas por mês de queijo industrializado do tipo Minas padrão, meio cura, ricota, prato, mussarela. “A maturação de 17 dias exigida pela nova portaria do IMA é inviável. Primeiro porque ainda não temos um volume tão grande de clientes em outros estados. Esse novo mercado não é fácil, ainda deverá ser trabalhado e, além disso, precisaríamos de construir uma área imensa para armazenar tanto queijo durante tanto tempo”, diz o dirigente. Carlos ressalta a incongruência das leis brasileiras. “Elas seguem a legislação norte-americana que não tem produção de queijo com leite cru. Na Europa, sim, os queijos são fabricados como os nossos. A legislação deveria se pautar pela lei francesa, cujos queijos são reconhecidos internacionalmente”. São muitas as explicações quanto à caracterização do queijo do Serro, uns atribuíam ao capim da região, outros às bactérias lácVIVER Julho 19 - 2013 A maturação de 17 dias, exigida pelo IMA, é inviável. Esse novo mercado não é fácil” Carlos Dumont JORGE SIMÕES o queijo era símbolo de nobreza ticas regionais, mas o que se acredita hoje, é que não há uma única característica, mas um conjunto de fatores como altitude (entre 650m e 800m), clima frio, umidade do ar e o processo de alimentação das vacas, que influencia diretamente o grupo de bactérias que proporciona o sabor ao queijo. Em resumo, pode-se afirmar que o queijo do Serro é um produto cuja qualidade resulta de uma combinação de fatores físico-naturais (relevo, clima, vegetação) que propicia não apenas pastagens típicas como também o desenvolvimento de bactérias específicas de multiplicação possível apenas nos microclimas aí existentes, de fatores socioculturais que criaram um modo próprio de fazer os queijos – manipulação do leite, dos coalhos, da massa e de fatores econômicos ligados às dificuldades de escoamento da produção do leite in natura pela ausência de melhores rodovias, da necessidade de se converter o produto leite em moeda corrente, além de outras variáveis menos importantes e determinantes. 29 VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA GASTRONOMIA Saberes e sabores do Jequitinhonha GRUPO DE MULHERES DE MENDANHA, BONFIM, ALECRIM E CAPIVARI RESGATA RECEITAS DO COTIDIANO ideia é muito boa. Mulheres do Vale do Jequitinhonha foram convidadas a puxar pela memória, a resgatar do cotidiano as receitas da culinária local e anotar tudo em cadernos. O resultado são quatro livros de receitas que revelam como essas mulheres aguerridas, simples e sábias buscam nos alimentos e na natureza ideias para tornar o dia a dia mais saboroso. O projeto Ambiente Gastronô- A 30 mico do Vale é uma iniciativa do Sebrae-MG junto aos moradores do Vale mapeados pelo Programa Turismo Solidário, do sistema Sedvan/Idene, sob a coordenação de Maria Sônia Madureira de Pinho, consultora de arte e educadora que percorreu as localidades de Bonfim e Alecrim (São Gonçalo do Rio Preto), Mendanha (Diamantina) e Capivari (Serro). “Esse foi um emocionante processo de resgate de memória gus- tativa, olfativa e, principalmente, afetiva dos lugares e das pessoas que nos acolheram e com quem convivemos estreitamente. Pura história de Minas, metamorfoseada em quitandas, salgados, doces, garrafadas e infusões. São receitas de vida e de fé”, comenta Maria Sônia. As tradicionais receitas do cotidiano, para as quais muitas vezes as mulheres não davam tanta atenção, foram vindo à tona e se transformaram em livros, escritos a muitas VIVER Julho 19 - 2013 mãos, com a generosidade e a sabedoria de muitas gerações. “Logo que cheguei, comecei a ampliar o estudo. Além das receitas fui anotando tudo, os hábitos de cada casa, o horário que fazem as principais refeições, de que se alimentam e o que plantam na horta. No início não havia qualquer referência gastronômica. Percebi que as mulheres tinham um repertório que estava silenciado, talvez por não representar grandes coisas para elas mesmas. Vi que precisava da ajuda intensa delas. Cada uma tinha um potencial, algumas para doces, quitandas, outras para salgados, benze- que tinham muito a compartilhar. Aquilo que, para elas, não tinha nenhum sentido, valor, que era um gesto do cotidiano, se transformou na história de vida delas. Receitas e memórias que nunca mais serão esquecidas”, conta Maria Sônia. A consultora diz que se surpreendeu com a forte relação das mulheres com a natureza. “Elas têm muito conhecimento, sabem sobre a mudança das estações, o que plantar, combate a pragas, sabem lidar com a criação. Isso lhes dá a certeza de que vão poder contar com alguns alimentos em determinadas épocas. Vejo uma relação dire- Cada passo se traduzia em novos aprendizados para todas as mulheres. A consultora deixava claro para o grupo que os livros não sinalizam uma etapa concluída, mas que, a partir deles, poderiam passar a criar novas coisas. “Elas se encontravam e liam suas receitas. Partilhavam informações, corrigiam, interagiam e enriqueciam sua própria forma de fazer a comida. Elas ficaram muito animadas porque criaram seu próprio cardápio e se tornaram protagonistas do resgate da sua cultura, de suas tradições, dos seus rituais, escrevendo a própria história por meio das receitas ção e até lendas. O trabalho iniciado em 2008 terminou em 2010 com a publicação dos livros”, pontua a consultora. O grupo tinha 25 mulheres que já participavam do programa Turismo Solidário e que já vinham fazendo benfeitorias em suas casas para receber turistas. Acolhê-los com carinhos, receitas e conversas. “O caderno ficava nas mãos delas, que começaram a tomar notas e, de repente, se deram conta de ta entre o que elas cozinham com as memórias gastronômicas remanescentes do período da escravatura. Elas usam muita farinha misturada com outros ingredientes para engrossar a comida e alimentos que não se deterioram. Existe uma naturalidade no fazer tanto que parar para pensar no que elas faziam, rotineiramente, foi um elemento de dificuldade que acabou se tornando positivo porque elas diziam que não tinham nada”, infere a consultora. de suas famílias e do seu território. Na riqueza do convívio, em conversas e trocas, revelaram-se os hábitos do cultivar, do colher e as diferentes maneiras de criar e recriar o alimento”, diz Maria Sônia. Ao longo dos encontros, foi ficando clara a forma como elas se apropriam dos alimentos e das ervas. “A horta tem várias serventias, pode alimentar, benzer, curar, temperar. A riqueza desses saberes não tem limites”, finaliza a consultoria. VIVER Julho 19 - 2013 31 VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA PERFIL Em imagens por Alexandre C. Mota 32 RAIO-X DA REGIÃO CIDADES RIO DOCE Água Boa Águas Formosas Aimorés Alpercata Alvarenga Ataléia Bertopolis Braúnas Campanário Cantagalo Capitão Andrade Carlos Chagas Carmesia Catuji Central de Minas Conceição de Ipanema Conselheiro Pena Coroaci Crisólita Cuparaque Divino das Laranjeiras Divinolândia de Minas Dores de Guanhães Engenheiro Caldas Fernandes Tourinho Franciscopolis Frei Gaspar Frei Inocêncio Frei Lagonegro Fronteira dos Vales Galileia Goiabeira Gonzaga Governador Valadares Guanhães Ipanema Itabirinha de Mantena Itaipe Itambacuri Itanhomi Itueta Jampruca Jose Raydan Ladainha Machacalis Malacacheta Mantena Marilac VIVER Julho 19 - 2013 Materlandia Mathias Lobato Mendes Pimentel Mutum Nacip Raydan Nanuque Nova Belém Nova Modica Novo Oriente de Minas Ouro Verde de Minas Pavão Peçanha Pescador Pocrane Pote Resplendor Sabinópolis Santa Efigênia de Minas Santa Helena de Minas Santa Maria do Suaçuí Santa Rita do Itueto São Felix de Minas São Geraldo da Piedade São Geraldo do Baixio São Joao do Manteninha São Joao Evangelista São Jose da Safira São Jose do Divino São Jose do Jacuri São Pedro do Suaçuí São Sebastiao do Maranhão Sardoá Senhora do Porto Serra dos Aimorés Setubinha Sobrália Taparuba Teófilo Otoni Tumiritinga Umburatiba Virginópolis Virgolândia VALE DO JEQUITINHONHA Almenara Angelândia Araçuaí Aricanduva Augusto de Lima Bandeira Berilo Buenópolis Cachoeira de Pajeú Capelinha Caraí Carbonita Chapada do Norte Coluna Comercinho Coronel Murta Couto de Magalhães de Minas Datas Diamantina Divisópolis Felício dos Santos Felisburgo Francisco Badaró Gouveia Itamarandiba Itaobim Itinga Jacinto Jenipapo de Minas Jequitinhonha Joaíma Joaquim Felício Jordânia José Gonçalves de Minas Leme do Prado Mata Verde Medina Minas Novas Monte Formoso Novo Cruzeiro Padre Paraíso Palmópolis Pedra Azul Ponto dos Volantes Presidente Kubitschek Rio do Prado Rio Vermelho Rubim Salto da Divisa Santa Maria do Salto Senador Modestino Gonçalves Serra Azul de Minas Serro Turmalina Veredinha Virgem da Lapa 33 VIVER MINAS RIO DOCE E JEQUITINHONHA CULINÁRIA Carne picadinha com palma CACTO DO CERRADO É INGREDIENTE PRINCIPAL E SABOROSO NAS MESAS DO JEQUITINHONHA RECEITA INGREDIENTES zFolha de palma zCarne de porco ou boi zAlho zSal zCebolinha PREPARO: Limpe a palma, retire os espinhos e passe em água quente. Refogue a palma com alho, sal e cebolinha. Separadamente refogue a carne picadinha e quando a palma estiver quase cozida, misture a carne. Sirva com arroz branco, angu e feijão. Tudo bem quentinho. Fotos: Alexandre C. Mota/Agência i7 receita é simples, como o povo do Vale do Jequitinhonha que sabe driblar os desatinos dessa vida, por vezes, impiedosa. E da robustez do cerrado, a palma, um cactos antes destinado à alimentação animal migrou para a culinária e tem agradado pelo sabor e pelas qualidades nutritivas, principalmente a vitamina A, cálcio e ferro. E é do cerrado que Clarentina do Rosário Fernandes, que vive em A 34 Mendanha, criou uma receita fácil de fazer. É preciso apenas saber que a palma deve ser colhida na época da chuva, quando fica suculenta e perfeita para a culinária. É preciso retirar os espinhos, um a um, com pinça e paciência oriental e depois escaldá-la com água para retirar a baba. “A gente mistura, inventa, reinventa, coloca tudo na panela e cria receitas nutritivas, que agradam a família”, diz a chef do cerrado. Clarentina: “A gente reinventa” VIVER Julho 19 - 2013 UM PRODUTO VB COMUNICAÇÃO NÃO É SÓ DECORAÇÃO, É PARTE DO SEU ESTILO. 31 4063.8156 | 11 3512.9472 www.vbcomunicacao.com.br Também na versão IPad VB Comunicação. Para leitores exigentes, um mix completo de publicações. Conteúdo editorial para quem quer mais que informação. VB Comunicação: informação, notícia e entretenimento. www.vbcomunicacao.com.br