Expo-PIBID, UFPE, 2014
UMA PROPOSTA LÚDICA PARA O ESTUDO DE LIGAÇÕES QUÍMICAS
Paula Nascimento da Silva (PQ)3, Elisa Maria da Silva (IC)1, Rayssa Suane de Araújo Lima
(IC)1,Gleyvison Cesar Felix Paixão (IC)1,Maria Iraísis Tainá Costa e Silva (IC)1, Anderson
Rodrigues da Silva (IC)1, Cintia Vieira da Silva (IC)1, Júlia Hellen Freires de Lima (IC)1,
Arnaldo Rabelo Carvalho (MQ)1, Marília Gabriela de Menezes (DQ)2, Daniela Maria Ferra
do Amaral Navarro (DQ)1.
1
Universidade Federal de Pernambuco/UFPE– Departamento de Química Fundamental/DQF.
Universidade Federal de Pernambuco/UFPE – Centro de Educação/CE.
3
Escola Estadual EREM Joaquim Távora, Rua Real da torre, s/n,Madalena -Recife -PE, Brasil.
2
INTRODUÇÃO
Alguns aspectos do jogo educativo, descritos por Kishimoto (1994), nos levam à Grécia
e Roma antigas. Onde em alguns de seus textos, Platão menciona a importância de se
aprender brincando. Mais a frente é possível ver entre os Romanos a utilização de jogos na
preparação dos soldados para as guerras e invasões romanas. No decorrer da história, os jogos
educativos foram vistos apenas como atividade recreativa.
Nos últimos anos, tem se percebido muitas mudanças nas propostas de ensino
aprendizagem, principalmente nas áreas das ciências exatas, onde por conter conteúdos
abstratos, proporciona um desinteresse do alunado, como por exemplo, no estudo de ligações
químicas, objeto de nossa pesquisa. Por isso, atribuir um caráter lúdico à aprendizagem tem
sido importante para despertar o prazer e o interesse do aluno pelo conhecimento. Uma das
várias formas diferenciadas de ensinar consiste na aplicação de jogos didáticos, já que este
tem o papel de aliar o aprendizado à atividade lúdica, despertando assim um maior
engajamento pelo assunto abordado.
Segundo Kishimoto (1994) e Soares (2008) o jogo didático tem como finalidade o
equilíbrio de duas funções: a lúdica e a educativa. Se somente uma das funções for trabalhada,
o jogo perdera seu sentido real. Ao trabalhar apenas a função educativa, ele se tornará
enfadonho passando a ser visto como outro instrumento de ensino qualquer e se apenas o
aspecto lúdico for trabalhado, retira-se o ensino, sobrando apenas a brincadeira. Contudo, para
que o jogo didático alcance essa finalidade, é preciso também que o professor esteja atento à
coerência e organização durante a aplicação do jogo. De acordo com Tahan (1968), ''para que
os jogos produzam os efeitos desejados é preciso que sejam de certa forma, dirigidos pelos
educadores''. Assim o professor deve assumir o papel de mediador do conhecimento,
facilitando a aprendizagem ao executar as funções de organizar a ação, estabelecer regras e
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garantir o cumprimento das mesmas, além de auxiliar a comunicação entre o aluno e o
conteúdo abordado.
É interessante o uso do jogo na escola segundo Kishimoto (1994), esta relata que o jogo
estimula à investigação e as possíveis resoluções de problemas, criando assim um clima
favorável à aprendizagem, já que o aluno fica isento de pressões. Neste contexto, o aluno vê a
superação do erro, como um meio de progredir no jogo, ou seja, ao errar ele entende que é
preciso reformular suas ideias nessa busca de soluções. Portanto, os jogos didáticos
apresentam o erro como um dos meios para a aprendizagem. Além disso, Ciscato e Beltran
(1991) afirmam ser essencial a vivência de situações em que os alunos tenham a oportunidade
de observar os fenômenos e elaborar explicações para os mesmos. Também é possível
observar essa discussão nos PCN’s (1997), onde se afirma que existem competências e
habilidades cognitivas e afetivas que devem ser desenvolvidas no ensino de Química, e que
estas deverão capacitar os alunos a tomarem suas próprias decisões diante das situações
problemáticas, contribuindo assim para o desenvolvimento desses alunos também como
cidadãos.
Então, por meio da elaboração, aplicação e análise de um jogo didático sobre ligações
químicas, objetivamos explorar a utilidade do mesmo como estratégia didática complementar
e facilitadora do processo de ensino aprendizagem. Procurando facilitar o entendimento do
conceito de ligações químicas de forma divertida, além de permitir aos alunos uma melhor
compreensão em que situações estas ligações se formam, assim como se diferenciam, aliando
o lúdico ao ensino, e despertar a motivação e o interesse do aluno pelo conhecimento
químico, de uma forma mais prazerosa e relevante na vida do mesmo.
METODOLOGIA
O PIBID Química da Universidade Federal de Pernambuco - Campus Recife propôs a
aplicação de um jogo didático, elaborado pela professora supervisora Paula Nascimento, que
contribuísse para o processo de ensino aprendizagem do conteúdo de ligações químicas. O
jogo, denominado “Jogo das Bolas de Gude”, foi aplicado a alunos do 1° ano do Ensino
Médio (PAEM) da escola pública estadual EREM Joaquim Távora. Com este jogo pretendeuse tornar a aula de ligações químicas mais lúdica e motivadora.
A fim de proporcionar uma maior efetividade do jogo como estratégia didática, foram
realizadas duas etapas anteriores a sua aplicação. Estas tinham o objetivo de introduzir e
analisar se os conceitos envolvidos estavam de alguma forma presente nos conhecimentos
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prévios dos alunos, além de confirmar uma das dificuldades já encontradas pelos mesmos,
como no caso uso de abstração na Química. Estas etapas constituíram-se de etapa1: Aula
Expositiva de Ligações Iônicas e Covalentes e etapa 2: Exercícios de elaboração das fórmulas
de Lewis para compostos Iônicos e covalentes.
A etapa 3 fundamentou-se na aplicação do jogo, que é constituído de: bolas de gude,
tecido em TNT ou qualquer material antiderrapante, já que o intuito é não deixar as bolinhas
deslizarem, cartões em folha de ofício coladas em papel guache com os símbolos dos
elementos e seus respectivos números atômicos. Para a aplicação do jogo didático separou-se
os alunos em grupos de 4, onde cada grupo teve acesso a um kit com os materiais acima.
Logo após a entrega do kit, os alunos foram orientados pelos bolsistas do PIBID quais
os compostos seriam formados por cada equipe na estrutura de Lewis. Isso foi feito com base
na aula expositiva, os alunos teriam que explicar qual a ligação química presente e o motivo
da mesma, estas foram as regras do jogo. Em seguida os monitores circularam pelos grupos
para dar orientações e pedir explicações para o resultado de cada composto. Um dos intuitos
no desenvolvimento do jogo foi o de não criar entre os grupos uma expectativa de
“ganhador”, mas fazer reinar o interesse dos alunos em aprender sobre o assunto. Isso foi
posto em prática a partir do momento em que os alunos não tiveram acesso ao andamento da
atividade realizada pelos outros grupos, preocupando-se apenas com a conclusão de sua parte.
Após a finalização de todos os grupos realizou-se a abertura de um breve debate sobre as
dificuldades encontradas, fazendo assim com que toda a turma soubesse do desenvolvimento
de cada grupo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na primeira etapa da sequência didática, os alunos tiveram o primeiro contato com o
conceito de ligações iônica e covalente através de uma aula expositiva. Nesta etapa foram
discutidos os conceitos e as relevâncias do conteúdo de ligações químicas.
Na etapa seguinte, a aplicação dos exercícios referente ao conteúdo abordado,
compreendeu o desenvolvimento dos conceitos através de resoluções de questões, o processo
se deu de forma mediada pelo professor. As dificuldades foram refletidas ao longo da aula, a
partir das dúvidas expostas pelos alunos, devido à abstração que alguns destes conceitos
detêm, e por isso, produziu-se uma defasagem na assimilação do conteúdo pelos alunos. Isso
provocou um efeito desmotivador já que há uma limitação em o estudante expressar ideias
abstratas em um papel. Esta comprovação das incompreensões por parte dos alunos revela
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uma tendência coletiva dos estudantes, onde a disciplina é rotulada como “difícil” de ser
compreendida. A evidenciação destes fatos sugere que o professor precisa se adequar as
dificuldades dos alunos, buscando novos recursos didáticos para facilitar o aprendizado. Por
isso Neves (2008) afirma que, utilizar apenas explicações teóricas nas aulas de Ciências, não é
suficiente para se promover uma compreensão e um aprendizado dos conteúdos abordados.
Segundo esta perspectiva de uma estratégia didática diferenciada, onde o jogo se
enquadra, a terceira etapa da metodologia foi desenvolvida. Ao iniciarmos as atividades
propostas, os alunos de cada grupo começaram a elaborar táticas para encontrar a
representação correta das ligações químicas entre os elementos disponíveis. Inicialmente
temos que uma parte significativa de tempo foi dedicada à recapitulação dos assuntos. Neste
momento, os alunos iniciaram discussões que se estenderam por assuntos anteriormente
estudados, como as teorias atômicas, propriedades da tabela periódica, representações das
estruturas de Lewis, teoria do octeto e suas respectivas exceções.
Ainda neste terceiro momento os alunos começaram a fazer as primeiras
movimentações com as bolas de gude. Assim, as primeiras dúvidas surgiram e fez-se
necessária a intervenção dos bolsistas do PIBID, com o intuito de relembrar alguns conceitos
e direcionar os alunos. Após as dúvidas serem sanadas, os alunos entenderam o que norteia as
tendências das ligações químicas, apoiados sobre as concepções de que elementos com
poucos elétrons na camada de valência teriam maior probabilidade em perder seus elétrons
mais externos, e elementos mais eletrovalentes deteriam uma probabilidade de ganhar mais
elétrons, afim de ambos completarem suas camadas de valência. Essas conclusões à medida
que foram obtidas se relacionaram com as ideias de eletronegatividade e eletropositividade, e
trouxeram bastante significância para os alunos na compreensão do assunto de ligações
químicas. Estas experiências proporcionaram a possibilidade do professor reconhecer os erros
e corrigi-los, durante a aplicação do jogo. Este terceiro momento foi caracterizado pelo
engajamento dos estudantes em dar continuidade ao jogo, representando as ligações com um
melhor manejo, e identificando com mais precisão as tendências dos elementos químicos para
formar ligações. Nesta última etapa, temos que os alunos já demonstravam um maior domínio
sobre os conteúdos, atrelados a uma perceptividade maior do jogo.
Por apresentarem o erro como um dos meios à aprendizagem, os jogos didáticos surgem
como alternativa para suplementar a abordagem expositiva. Ao utilizar uma estratégia
facilitadora da aprendizagem, o professor permite que o aluno construa seu próprio
conhecimento, estimulando a investigação e as possíveis resoluções de problemas, criando
assim um clima favorável à aprendizagem, já que o aluno fica isento de pressões.
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Neste contexto Ciscato e Beltran (1991) afirmam ser essencial a vivencia por parte do
aluno de situações onde ele tenha a oportunidade de observar os fenômenos e elaborar
explicações para os mesmos. Nessa perspectiva o jogo didático, além de ser eficaz no ensino
de qualidade, na sua aplicação o aluno vê a superação do erro como um meio de progredir, ou
seja, ele entende que é preciso reformular suas ideias na busca de soluções, portanto os jogos
didáticos apresentam o erro como um dos meios para a aprendizagem. Assim eles vêm
contribuir para o desenvolvimento cognitivo e social do aluno, ajudando na formação de
cidadãos críticos, que sejam capazes de formular sua opinião e que tenham total liberdade na
resolução de problemas. Além de permitir uma maior liberdade ao aluno em errar, ou seja, as
pressões diminuem, permitindo que ele erre e mesmo assim continue motivado a chegar ao
fim.
Vale destacar que durante o jogo não houve entre os grupos uma expectativa de
“ganhador”, mas predominou o intento dos alunos em aprender sobre o assunto. Alguns
estudantes conseguiram atingir o objetivo mais rapidamente que outros, mas de uma forma
geral todos contribuíram juntamente em uma atividade participativa, caracterizada pelo
entendimento consistente do assunto.
CONCLUSÃO
Numa perspectiva prática, concluímos que todos os alunos buscaram entender a
dinâmica das ligações iônicas e covalentes, pois se sentiram mais motivados a participarem da
aula. Com isso percebemos que o uso do jogo como estratégia didática possibilitou aos alunos
um momento complementar e diferenciado das aulas teóricas comuns, desta forma, eles
procuraram compreender os conceitos trabalhados para poder aplicá-los no jogo e mostrandose mais familiarizados com estes. Foi possível perceber durante o jogo um aumento na
interação entre os alunos e deles com os bolsistas.
Assim o jogo faz com que a relação aluno-professor, deixe de ser horizontal, onde o
professor é o detentor do conhecimento e o aluno apenas um simples receptor, passando a ser
uma relação vertical onde ambos têm a contribuir na construção do conhecimento, ou seja, o
aluno comporta-se como sujeito ativo nesta construção e o professor como mediador desta.
Na aplicação deste jogo, vale ressaltar que não houve entre os grupos uma competitividade, já
que o intuito maior, era fazer com que cada grupo individualmente montasse a estrutura de
Lewis, explicasse a ligação formada e o motivo dela para todos os compostos propostos ao
grupo, mas predominou o intento dos alunos em aprender sobre o assunto.
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Alguns estudantes conseguiram atingir o objetivo mais rapidamente que outros, mas de
uma forma geral todos alcançaram o objetivo de compreender os conceitos envolvidos no
tema de ligações químicas. Desta forma, com a aplicação do “jogo das bolas de gude”, foi
possível confirmar a importância da atividade lúdica, na motivação e interesse dos alunos,
concluindo-se que os jogos didáticos podem e devem ser utilizados como recurso didático nas
aulas de Química.
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Uma proposta lúdica para o estudo de ligações químicas