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TERAPIA BIOLÓGICA ANTI-FNT-α NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL:
AVALIAÇÃO DA RESPOSTA TERAPÊUTICA À INDUÇÃO DE REMISSÃO E AO
FINAL DO PRIMEIRO ANO DE TRATAMENTO
Antonio Expedito Simeão Souza (aluno ICV-UFPI), Prof. Dr. Viriato Campelo (orientador,
Depto. de Parasitologia e Microbiologia/CCS/UFPI)
INTRODUÇÃO
Problemas de saúde pública em muitos países, as doenças inflamatórias intestinais (DII),
doença de Crohn (DC) e retocolite ulcerativa inespecífica (RCUI) caracterizam-se por inflamação
intestinal crônica não infecciosa e, clinicamente, por diarréia, dor abdominal e perda ponderal
(STEIDLER et al, 2000). A DC determina um envolvimento transmural e descontínuo dos intestinos,
podendo atingir todo o tubo digestivo. A RCUI provoca inflamação na mucosa do cólon e reto,
determinando friabilidade difusa e erosões sangrantes (MAGALHÃES, 1993). O tratamento
convencional muitas vezes não tem o resultado esperado. Apesar do arsenal de medicamentos
disponíveis (salicilatos, corticosteróides, antibióticos e imunossupressores), nenhuma terapia mostrou
resolução definitiva da doença e de seus surtos de exacerbação (MISZPUTEN, 2008). Com o
esclarecimento da fisiopatologia das DII, surgiu a possibilidade da utilização de drogas anti-FNTα
(contra o FNT-α, implicado na perpetuação/amplificação da resposta inflamatória da mucosa
intestinal) objetivando controlar a doença. Hoje, existem evidências científicas de que as drogas
biológicas podem mudar a história natural das DII (TARGAN et al, 1997). Este trabalho visa levantar
informações acerca da eficácia dessa nova modalidade terapêutica na condução de pacientes
acometidos por tais enfermidades.
METODOLOGIA
Esta pesquisa seguiu as diretrizes da Resolução 196/1996 do CNS, e foi submetido ao
CEP da UFPI. Estudo observacional, retrospectivo e transversal realizado pela análise de prontuários
de pacientes do Hospital Universitário da UFPI (Teresina-PI). Foram analisadas as taxas de resposta
e remissão clínica com imunobiológico (infliximabe; IFX) na semana 8, após 3 doses de 5mg/kg nas
semanas 0, 2 e 6 (indução) e nas semanas 30 e 54 (5mg/kg a cada 6-8 semanas) (PRESENT et
al,1999). Consideraram-se critérios clínicos através do nível de doença medido pelo IADC - Índice de
atividade de DC (HANAUER et al, 2002) e pelo Mayo-escore (RUTGEERTS et al, 2005) para RCUI.
Foram incluídos pacientes atendidos no Serviço de Gastroenterologia com diagnóstico de DC (CID10
K50.0) ou RCUI (CID10 K51.0) em uso de infliximabe, no período de janeiro de 2005 a julho de 2012.
Foram excluídos aqueles pacientes com prontuários incompletos, ou que descontinuaram o
acompanhamento no serviço e ainda os que não atingiram a semana 54. A análise dos dados foi
realizada com software Epiinfo 3.4.3. Foram utilizadas as freqüências e percentuais para as variáveis
qualitativas, e as médias, para as variáveis quantitativas. Os valores foram expressos como média
mais ou menos o erro padrão da média (x+ e.p.m.).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram incluídos 44 pacientes: 32 com DC e 12 com RCUI. Naqueles com DC, 18
(56.25%) eram do sexo masculino e 14 (43.75%) do sexo feminino. As principais indicações ao
tratamento com IFX foram: Falha do tratamento convencional/corticorefratariedade/intolerância
medicamentosa (25%), corticodependência (15.63%) e doença grave (IADC > 350)/doença
fistulizante (59.37%). A média dos IADC’s nas semanas 0, 8, 30 e 54 foi de 290.6 (var.: 51 a 549; DP
105.2), 142.5 (var.:30 a 483; DP 96.2), 107.0 (var.: 18 a 270; DP 63.2) e 109,4 (var.: 13 a 334; DP
87.3), respectivamente. Por sua vez, as taxas de remissão clínica nas semanas 8, 30 e 54 foram
81.25%, 78.12% e 75.00%. A terapia biológica tem sido utilizada para o tratamento da DC, devendo
ser aplicada a casos moderados e graves ou quando o paciente é insensível a outros tratamentos.
Pacientes com fístulas anais/perianais também parecem se beneficiar da terapia biológica (FIDDER
et al, 2009). Os resultados de estudos com o anticorpo contra o FNTα são promissores . O IFX
(quimérico, 75% humano) liga-se ao FNTα solúvel, inibindo seu efeito pró-inflamatório, neutraliza os
receptores de FNT bloqueando sua transdução de sinal, além de induzir apoptose de células
produtoras da citocina (PEYRIN-BIROULET et al, 2008). Em 1997, Targan e cols. avaliaram a
resposta ao IFX em infusão única em pacientes com DC ativa por 12 semanas. Na semana 4, 82%
dos pacientes do grupo IFX 5mg/kg obtiveram resposta clínica significativa versus placebo (p<0,001),
semelhante ao encontrado na semana 8 em nossos pacientes (81.25%). A redução da média dos
IACD’s na semana 4 foi de 157 pontos, superior aos 2 pontos do grupo placebo. No nosso estudo
observou-se uma queda de 148 pontos até a semana 8. O estudo ACCENT-I (HANAUER et al, 2002)
demonstrou que pacientes respondedores à dose inicial (5mg/kg) e que realizaram manutenção
(mesma dose) a cada 8 semanas, durante um ano, mostraram maior tendência a sustentar a
remissão nas semanas 30 e 54, além de suspensão de corticoesteróides. As proporções daqueles
em remissão até a semana 54 foram maiores para os grupos com IFX 5 e 10 mg/kg (25% e 33%) do
que para o grupo placebo (11%).
Para o grupo com RCUI: I) Divisão por sexo = 04 (33.3%) masculino e 08 (66.7%)
feminino. Média de idade ao diagnóstico de 33 anos (var.17 a 48). II) Indicações de imunobiológicos:
Falha do tratamento convencional/exacerbação de doença(33.3%), doença severa/colite fulminante
(25.0%) e corticodependência (41.7%). A média dos valores do Mayo-escore nas semanas 0, 8, 30 e
54 foi de 9.58 (var.: 7 a 12; DP 1.97), 4.91 (var.:3 a 10; DP 2.27), 4.0 (var.: 0 a 8; DP 2.52) e 2.5 (var.:
0 a 7; DP 2.36), enquanto as taxas de remissão nas semanas 8, 30 e 54 foram 83.3%, 54.5% e
70.00%, respectivamente. Dois ensaios clínicos multicêntricos avaliaram a eficácia do IFX no
tratamento da RCUI (RUTGEERTS et al, 2005). No ACT-I, pacientes não respondedores a
corticoesteróides+azatioprina/6-mercaptopurina foram randomizados para receberem placebo, IFX 5
ou 10 mg/Kg (seguimento até a semana 46). Na ocasião, 69% do grupo IFX 5mg/Kg e 61% daqueles
com IFX 10 mg/Kg tinham resposta na semana 8, versus 37% do placebo (p <0,001). No ACT-II, 64%
dos pacientes com IFX 5mg/Kg e 69% daqueles com IFX 10 mg/Kg tiveram resposta na semana 8,
versus 29% do placebo (p <0,001). Em ambos os estudos, as proporções dos que apresentaram
remissão na semana 30 (33.9% e 36.9% no ACT-I; 25.6% e 35.8% no ACT-II) e na semana 54
(34.7% e 34.4% no ACT-I), foram maiores nos grupos com IFX do que no grupo com placebo. No
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ACT-I, a média dos valores do Mayo-escore na semana 30 foi de 3.0, para as duas doses de IFX, e
de 3.0 (5mg/kg) e 4.0 (10mg/kg) na semana 54. Já no ACT-II, o valor foi de 4.0 e 3.0 na semana 30,
para as doses de 5 e 10 mg/kg, respectivamente. Nosso achado foi de 83.33% de resposta clínica
com indução de remissão na semana 8.
CONCLUSÃO
A terapia biológica anti-FNT-α com Infliximabe apresentou elevada eficácia terapêutica,
com taxas de indução e manutenção da remissão semelhantes aos grandes estudos de intervenção
clínica, tanto para a doença de Crohn quanto para a retocolite ulcerativa inespecífica.
APOIO: HU-UFPI/UFPI/HGV
REFERÊNCIAS
Fidder H, Schnitzler F, Ferrante M, et al. Long-term safety of infliximab for the treatment of
inflammatory bowel disease: a single-centre cohort study. Gut. 2009.
Hanauer SB, Feagan BG, Lichtenstein GR, et. al. Maintenance infliximab for Crohn’s disease:
the ACCENT I randomised Trial. Lancet. 2002.
Magalhães AFN. Doença de Crohn(CH). In: Gastroenterologia Clínica . Dani R, Castro L de
P. Rio de Janeiro.Guanabara Koogan. 1993.
Miszputen, S. J. Doença de Crohn. In: MORAES. O dia-a-dia na Gastroenterologia. RJ:
Elsevier, 2008.
Peyrin-Biroulet L, Desreumaux P, Sandborn WJ, Colombel JF. Crohn’s disease: beyond
antagonists of tumour necrosis factor. Lancet. 2008.
Present DH, Rutggerts P, Targan S. Infliximab for the treatment of fistulas in patients with
Crohn's disease. N Engl J Med. 1999.
Rutgeerts P, Sandborn WJ, Feagan BG, et al. Infliximab for induction and maintenance therapy
for ulcerative colitis. N Engl J Med. 2005.
Steidler L, Hans W, Schotte L, Neirynck S, Obermeier F, Falk W, Fiers Walter, Remaut E.
Treatment of murine colitis by Lactococcus lactis secreting interleukin-10. Science 2000.
Targan SR, Hanauer SB, Van Deventer SJH, et al. A short-term study of chimeric monoclonal
antibody cA2 to tumor necrosis factor-a for Crohn’s disease. N Eng J Med 1997.
PALAVRAS-CHAVE: Doença inflamatória intestinal. Imunobiológicos. Infliximabe.
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