designed by: Pedro Figueiras ESTÓRIAS Nº Quinze por: J.P. Gil A CORRIDA DO SECULO por: J.P. Gil Conduzir “à Fangio”, é uma expressão que, por vezes se ouve amiúde quando presenciamos alguma demonstração mais ousada de condução, mas, o que quase se perdeu nos corredores do tempo, foi um dos factos mais notáveis, que ocasionou o nascimento de tão propalado comentário. No dia 4 de Agosto de 1957, acontecia o Grande Prémio da Alemanha, no longo e difícil, circuito de Nurburgring. No “Nordschleife”, o circuito perfazia 22 kms, dentro do apelidado “inferno verde”, recheado de 172 curvas, que faziam a vida negra aos pilotos e ás máquinas. Fangio, que se tinha sagrado campeão no ano anterior, ao volante do célebre Lancia-Ferrari D-50, incompatibilizara-se uma vez mais com o feitio difícil do “Comendattore”, e, regressara à Maserati, voltando a pilotar o modelo 250-F, agora numa versão um pouco mais evoluída, mais baixo, mais longo, e mais suave, o “T-2” ou “Superleggera”, um modelo com uma mecânica tradicional de 6 cilindros em linha, com 270 cavalos ás 8.000 rpms, alimentado por duas velas por cilindro, e três carburadores Weber 45 DCO 3. Por seu turno, a Ferrari, corria com o modelo “801”, com 8 cilindros em V, e, cerca de 275 cavalos ás 8.400 rpms, alimentado por duas velas por cilindro, e, dois carburadores Solex 40 PIL. O Maserati de Fangio estava equipado com uns, muito macios, pneus Pirelli, que, agarravam o carro ao asfalto, mas, possuíam o inconveniente, de se degradarem mais rapidamente, enquanto que, os Ferrari estavam equipados com pneus Englebert, com um composto mais duro, que, naturalmente, aguentavam toda a corrida. Perante tais condicionantes, Fangio, sabendo que os pneus não iriam aguentar toda a corrida, decidiu partir com apenas meio tanque de combustível, contando fazer uma paragem a meio da corrida, para troca de pneus e reabastecimento. Por sua vez, os Vanwall, utilizavam motores de origem Norton, com 4 cilindros apenas, alimentado por injecção, e com 275 cavalos ás 7.300 rpms, tendo este modelo, a vantagem de ter travões de disco, ao contrário dos seus opositores. Os BRM P 25, utilizavam também motores de 4 cilindros, alimentados por dois carburadores Webber, e desenvolviam 275 cavalos ás 8.000 rpms, e tinham ainda travões de disco à frente. Fangio que obteve a “pole”, com 9,25s, fez, no entanto, uma partida modesta, e, Mike Hawthorne, e A CORRIDA DO SECULO por: J.P. Gil os dois Ferrari já se encontravam na frente, e, a mais de 30 segundos de distância. Peter Collins, respectivamente, ambos em Ferrari, assumiram a liderança da prova. Contudo, o Maserati de Fangio era notoriamente mais rápido, e, à terceira volta, Fangio já estava na frente dos dois Ferrari. Tudo se complicou, quando, à 12ª volta, Fangio, que já trazia cerca de 30 segundos de avanço sobre Mike Hawthorne, entrou nas boxes para fazer então a sua estratégica mudança dos pneus, reabastecer e... beber uma limonada. Os mecânicos demoraram mais do que o previsto a cumprir tais tarefas, e, como se isso não bastasse, uma das porcas de fixação das rodas escorregou para debaixo do carro, obrigando-os a perderem mais tempo, criando a convicção de que a corrida estaria perdida. Quando Fangio regressou à corrida, cerca de 50 segundos depois, De seguida, Fangio iniciou a maior recuperação da história da F-1, e, volta após volta, pilotando que nem um louco, bateu, por 9 vezes o recorde de volta, sacando mais de 8 segundos, ao tempo que tinha feito nos treinos, a uma média de 147 km/hora, travando nos limites, e curvando muito para além destes, desafiando as mais elementares leis da física...e, recuperando cerca de 5 segundos por volta a Mike Hawthorne, atingindo o culminar de tal recuperação, à 20ª volta, na qual recuperou 11 segundos aos seus adversários...!!! Referem as crónicas que, na curva que sucede à recta principal, existia uma lomba, onde os pilotos desaceleravam, mas que Fangio a passava, a fundo, não tirando o pé do acelerador, a mais de 240 km/hora, fazendo o carro levantar o chão, aterrando depois numa nuvem de poeira e de faíscas! Na penúltima volta, Fangio, que estava a cerca de 6 segundos de Hawthorne, ultrapassou Collins, que, ainda assim, recuperou o seu segundo posto. À entrada para a última volta, Fangio estava ainda em terceiro lugar, e Mike Hawthorne liderava. Mas, Fangio estava determinado a não baixar os braços, e continuou a apertar o seu andamento, e, na curva norte, passou Collins por dentro, e, lançou-se ao ataque de Hawthorne. Na descida que antecede a curva Breidscheid, Fangio encostou literalmente o seu Maserati ao Ferrari do lider, que, apercebendo-se da sua súbita aproximação, e temendo o pior, se desviou, libertando a fúria de Fangio que, ficava a partir desse momento, na frente da corrida. Mike Hawthorne disse mais tarde, que, sentira que, se não se tivesse desviado naquele momento, Fangio, certamente lhe teria passado por cima! A CORRIDA DO SECULO por: J.P. Gil não mais o voltaria a fazer. O Argentino, por sua vez, disse que o deveria ter surpreendido, pois, mal o inglês deu por ele, colocou-se logo de lado, para que o passasse...! Fangio, com um rasgado sorriso na cara, passou pela bandeira de xadrez, vencendo a corrida com cerca de 3 segundos de vantagem sobre Mike Hawthorne, levando ao rubro as 200 mil pessoas que, assistiam, ao vivo, a tamanha loucura. Era a terceira vez que Fangio vencia em Nurburgring. Mais atrás, em 4º lugar, ficou Luigi Musso, em Ferrari; em 5º lugar ficou Stirling Moss em Vanwall, e, em 6º lugar, Jean Behra, em Maserati, este, a 35 minutos do vencedor! Fangio diria mais tarde, que, conduziu como um louco, tendo feito coisas impensáveis, ultrapassando os seus próprios limites, e que, Foi assim, que o GP da Alemanha, de 1957, ficou registado como “ a corrida do século”. Para Fangio, esta foi a sua última vitória em GP, tendo-se sagrado, nesse ano também, e, pela 5ª vez, e quarta consecutiva, campeão do mundo. Cumpre relembrar que, no mo- mento desta proeza, Fangio já contava 46 primaveras! Juan Manuel Fangio, sagrou-se Campeão mundial, por 4 marcas diferentes, Alfa Romeu; Mercedes; Ferrari e Maserati, tendo obtido, ao longo da sua carreira, 24 vitórias, em 52 grande-prémios, tudo isto aliado ao facto de...ter conduzido cerca de 50 anos... antes de lhe ter sido concedida a carta de condução!!! Fangio, ou o “Maestro”, como lhe chamavam, era, na verdade, o melhor entre os pilotos da época. Sir Stirling Moss, dizia que, ele tinha sempre os melhores carros, simplesmente porque era...o melhor piloto! E, mesmo Enzo Ferrari, que nunca lhe perdoara a sua saída para a Maserati, em 1957, disse um dia, que, Fangio, iria para a marca que tivesse o melhor carro! As suas qualidades como piloto eram surpreendentes, pois, além de muito cauteloso, tendo registado muito poucos acidentes na sua carreira, e passado incólume, as temporadas mais perigosas da competição automóvel, coisa que, muito poucos se podem gabar, era muito rápido, e eficiente, detestando as manobras de “power slide”, se bem que, as controlasse magistralmente, quando elas surgiam, antes preferindo as trajectórias limpas. A CORRIDA DO SECULO por: J.P. Gil A tal ponto ele era eficiente, que, por vezes se levantavam suspeitas relativas aos carros que lhe eram entregues. Em 1954, nos treinos para a prova de SPA Francorchamps, na Bélgica, o piloto da Maserati, John Claes queixou-se que o seu Maserati era mais lento do que o de Fangio, tendo-lhe pedido que o pilotasse. Para espanto de todos, Fangio levou-o exactamente a idênticos tempos de volta que fazia com o seu Maserati. Anda incrédulo, Claes perguntou-lhe como tal teria sido possível, ao que, Fangio, respondeu-lhe com a sua natural simplicidade: “ Less brakes...more accelerator...”! Não admira pois, que, na sua época, e mesmo nos “60s”, houvessem milhares de pessoas que, nos países latinos, nasciam “Juan Manuel”, ou “João Manuel”, em homenagem, e, para cristalizar, aquele herói, que, foi, sem qualquer dúvida, Juan Manuel Fangio. Toda esta temporada épica das corridas dos 50s nos leva a belas reproduções destes modelos, que, hoje, fazem recrear nas pistas de slot, as proezas de então. A Cartrix é uma das marcas que, na actualidade, com maior perfeição, fabrica as mais famosas máquinas da altura, nas quais se incluem, naturalmente, o famoso Maserati 250 F T-2 de Juan Manuel Fangio, unidade esta que, foi vendida em edição limitada a 1500 unidades, todas elas devidamente numeradas, à semelhança de todos os modelos da marca, e ainda os Maseratis de Francisco Godia Sales e de Masten Gregory, este em azul, com lista branca. A perfeição e o pormenor dos seus acabamentos, é notável. Conjuntamente com este modelo, a Cartrix reproduziu com inigualável perfeição, outros modelos da época, como o Vanwall de 1958, de Moss e Shell; os BRM P 25 de Stirling Moss, num verde-claro, lindíssimo, e, em “BRG”, o de Jo Bonnier e o de Harry Shell; os Lotus 16 de Graham Hill e de Cliff Allison; os Ferrari 355 “ Supersqualo”, de Nino Farina, Umberto Maglioli e de Eugénio Castelotti; os Mercedes W 196 de Juan Manuel Fangio; Stirling Moss e de Karl Kling; os Gordini T-32 de Robert Manzon e de H. da Silva Ramos; o Bugatti T-251 de Maurice Tritignant; Os Kurtis-Kraft - Offenhauser de Alan Parsons, e, mais recente- mente, o lindissimo Lancia-Ferrari com que Peter Collins correu, em 1956, também ela limitada a 1.500 unidades. Esta marca prima pela superior fidelidade dos modelos, e ainda por uma apresentação ímpar, numa caixa de latão, com expositor inclinado, e, aprimorado com uma flanela da marca e ainda com um pequeno historial da viatura. Quanto às motorizações, elas são compostas, na sua maioria, por um motor, colocado na posição central, em linha, e, de baixa rotação, entre 13.000 rpms e 15.000 rpms, e ainda, nalguns casos, por um motor designado por “TX-Experimental”, que, embora atinja as 20.000 rpms, tem um comportamento algo irregular. De um modo geral, os modelos Cartrix são bastante equilibrados, e não carecem de grande preparação para se tornarem competitivos. A Scalextric inglesa, possui também belas reproduções de modelos desta época, com a especial particularidade de possuírem o motor colocado na posição original dos veículos, ou seja, os Maserati 250-F, de Juan Manuel Fangio; Jean Behra e de Francisco GodiaSales, que se apresentam também, muito bem pormenorizados, pos- A CORRIDA DO SECULO por: J.P. Gil suem um motor de caixa curta, que atinge as 18.000 rpms, colocado à frente, em cima do eixo dianteiro, e, com um respectivo veio de transmissão, o que atribui algum cunho de realismo ao seu comportamento, fazendo aumentar o interesse do modelo. Esta marca possui também uma bela reprodução do Ferrari 375 de Froilan Gonzalez, de 1951, que foi o primeiro piloto a obter uma vitória em F-1 para a Ferrari. Este modelo, também possui o motor colocado na posição frontal, à semelhança do Maserati. Além destes modelos, a Scalextric inglesa possui ainda, uma magnifica reprodução dos Vanwall de Moss e de Tony Brooks, tam- bém com o motor colocado na posição dianteira. Para finalizar, resta também salientar que, esta marca reproduziu também, o famoso Cooper Climax T- 53, de Jack Brabham, com motor central, de caixa longa, do tipo “Slim line”, que atinge as 20.000 rpms, em que, uma das reproduções, com o “nº2”, representa o carro com que este piloto correu no G.P. de Portugal, no Porto, em 1960. Os comportamentos dinâmicos destes modelos, apesar de serem algo delicados, face até aos compostos relativamente duros das borrachas dos pneus, obrigando a alguma atenção, proporcionam um grande gozo de pilotagem. José Pedro Gil