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EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA:
CONHECIMENTOS E PRÁTICAS DO ENFERMEIRO
HEALTH EDUCATION IN THE FAMILY HEALTH STRATEGY:
KNOWLEDGE AND PRACTICE OF NURSES
Regina Lopes Oliveira
Enfermeira. Graduada pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. Email:
[email protected]
Márcia Elena Andrade Santos
Mestre em Enfermagem pela UERJ. Especialista em Enfermagem de Saúde Pública pela UFMG.
Especialista em Ativação de Processos de Mudança na Formação Superior de Profissionais de
Saúde pela FIOCRUZ. Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de Ipatinga-MG. Docente do
Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. Email:
[email protected]
RESUMO
A educação em saúde é uma ferramenta importante para promoção da saúde e garantia dos direitos
humanos fundamentais. O enfermeiro realiza essa prática associada ao cuidado prestado em todas
as etapas da vida do ser humano. Objetivou-se com o estudo analisar o conhecimento e a prática de
enfermeiros que atuam na Estratégia Saúde da Família em municípios da Região Metropolitana do
Vale do Aço, quanto à educação em saúde. Foi uma pesquisa descritiva que utilizou a abordagem
quanti-qualitativa para análise dos dados. A coleta ocorreu por meio da aplicação de um questionário
semi-estruturado a dez enfermeiros dos municípios selecionados. Os sujeitos da amostra, em sua
maioria, definiram a educação em saúde como a articulação entre educação e saúde, que busca
estimular mudanças individuais e coletivas, considerando as experiências e saberes de todos os
envolvidos no processo educativo. Apontaram como principal fator facilitador deste processo,
conhecer a realidade da população e, como dificultadores, os diversos valores culturais e a falta de
adesão da população. Os enfermeiros realizavam as práticas educativas através de reuniões e
palestras. Os recursos para a execução dessas ações foram considerados insuficientes à real
demanda do serviço pela maioria deles. Conclui-se que a educação em saúde deve estar inserida
junto às ações de assistência integral e culminar na produção de saberes coletivos, propiciando ao
indivíduo autonomia e capacidade de cuidar-se, cuidar de sua família e dos que estão ao seu redor.
PALAVRAS-CHAVE: Educação em Saúde. Promoção da Saúde. Estratégia Saúde da Família.
ABSTRACT
Health education is an important tool for health promotion and guarantee of fundamental human
rights. The nurse carries out the practice associated with the care provided at all stages of human life.
The objective of the study to analyze the knowledge and practice of nurses working in Family Health
Strategy in municipalities of the metropolitan area of the Steel Valley, and health education. Was a
descriptive study that used quantitative and qualitative approach to data analysis. The collection was
through the application of a semi-structured questionnaire to ten nurses in the municipalities. The
subjects of the sample, mostly defined health education as the link between education and health,
which seeks to encourage individual and collective changes, considering the experiences and
knowledge of everyone involved in the educational process. Pointed as the main factor facilitating this
process, know the reality of the population and as hindering the various cultural values and lack of
adherence of the population. The nurses performed the educational practices through meetings and
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lectures. The resources for implementing these actions were considered insufficient real demand to
service the most. It is concluded that health education should be inserted on the actions of integral
and culminate in the production of collective knowledge, allowing the individual autonomy and ability to
take care of yourself, take care of his family and those around you.
KEY WORDS: Health Education. Health Promotion. Family Health Strategy.
INTRODUÇÃO
Educar é uma exaustiva tarefa social, emancipatória, capaz de reorientar a
humanidade. A educação transforma o homem em ser social e histórico e possibilita
formar novas gerações através da transmissão de conhecimentos, valores e
crenças. Permite o desenvolvimento de uma consciência crítica que o torna capaz
de transformar a realidade. Assim, a educação deve chegar a todos, objetivando
formar seres humanos que caminhem em busca de seus sonhos, da felicidade
individual e social, lutando por mais qualidade de vida.
Nesse contexto, um dos ramos da educação geral é a educação em saúde,
que visa garantir a dignidade da pessoa humana através da promoção da saúde e
da objetivação dos direitos humanos fundamentais, que se fazem presentes na
autodeterminação e responsabilidade pela própria vida, tendo uma visão total de sua
existência e das necessidades humanas (SHIRATORI et al., 2004).
Educar para saúde é ir além da assistência curativa, priorizando ações
preventivas e promocionais, reconhecendo os usuários dos serviços de saúde como
sujeitos portadores de saberes e condições de vida, estimulando-os a lutarem por
mais qualidade de vida e dignidade (ALVES, 2005).
As intervenções necessárias para a promoção da saúde devem estar
centradas num trabalho coletivo e garantidas através de políticas sociais que
possibilitem uma assistência humanizada e resolutiva. Essas intervenções devem
permitir o planejamento e o desenvolvimento de ações educativas onde as famílias e
as comunidades sejam o foco central da atenção à saúde (COSTA et al., 2009;
SERAPIONE, 2005).
Para promover saúde deve-se refletir sobre o objeto saúde, considerando-a
um conceito em construção que depende de valores sociais, culturais e históricos, e
que permita viver com qualidade. As ações de promoção à saúde propõem
reorientar os serviços de saúde, indo em busca de atenção integral às pessoas em
suas necessidades, visando construir saúde em seu sentido mais amplo, e lutando
contra as desigualdades através da construção de cidadania (BRASIL, 2006a).
Essas ações estão contempladas na Política Nacional de Promoção da Saúde,
aprovada pela portaria n.º 687, de 30 de março de 2006 (BRASIL, 2006b).
No intuito de fortalecer os vínculos com a população, e visando integrar
profissionais e comunidade na busca de maior atuação e atenção aos usuários, foi
criado pelo Ministério da Saúde, em 1994, a Estratégia Saúde da Família (ESF). Ela
vem estruturar os sistemas municipais de saúde pública, e tem a finalidade de
reordenar o modelo de atenção no Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2004).
Dentre as inúmeras atribuições dos profissionais da ESF estão as ações
educativas, que fazem destes, agentes de mudanças individuais e coletivas no
contexto biopsicossocial de atenção à família. Fica assim atribuído aos profissionais
da atenção à família o papel de facilitador do processo de educação em saúde
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(MACHADO et al., 2007). A ESF é uma estratégia operacionalizada por uma equipe
multiprofissional, na qual o enfermeiro está inserido e tem papel fundamental.
A ação educativa é um dos princípios norteadores das ações do enfermeiro, e
se concretiza nos vários espaços de realização das práticas de enfermagem, em
geral (ACIOLI, 2008). A imagem do enfermeiro é vista sempre associada ao papel
de cuidador e, ao cuidar, ele educa e busca criar a co-responsabilização com o
outro, aumentando a autonomia do sujeito sobre sua saúde. Sendo assim, a
educação pode ser considerada uma forma de cuidar e o cuidado uma maneira de
educar (FERRAZ et al., 2005).
Diante dessa premissa, esta pesquisa propôs como questão de estudo: Qual
é o conhecimento e a prática dos enfermeiros da ESF de municípios da Região
Metropolitana do Vale do Aço (RMVA), Minas Gerais, quanto à educação em saúde?
A disseminação do conhecimento e o ato de educar, em si só, têm um papel
importante no cotidiano das práticas em saúde, atuam como facilitadores das ações
de atenção e de promoção da saúde, como norteadores da prevenção e da redução
dos danos, podendo interferir positivamente na realidade local e fortalecer o vínculo
entre o profissional e a comunidade que ele assiste. Sendo assim, o presente estudo
buscou despertar nos enfermeiros a necessidade de refletir sobre a inserção ou
incrementação das atividades de educação em saúde na sua prática diária junto à
população adscrita da ESF.
Nesse sentido, o estudo objetivou analisar o conhecimento e a prática de
enfermeiros que atuam na Estratégia Saúde da Família em municípios da Região
Metropolitana do Vale do Aço, quanto à educação em saúde.
METODOLOGIA
A investigação caracteriza-se como descritiva e utilizou a abordagem quantiqualitativa para análise dos dados. O método escolhido foi, particularmente,
importante para o que se propôs nesse estudo, pois possibilitou associar a
estatística descritiva à investigação das relações humanas, no intuito de
compreender melhor o tema estudado e facilitar a interpretação dos dados (POLIT;
BECK; HUNGLER, 2004).
A pesquisa foi realizada em dois municípios da Região Metropolitana do Vale
do Aço (RMVA), Minas Gerais, mediante autorização prévia das Secretarias
Municipais de Saúde. Após a autorização, os enfermeiros foram contactados e os
horários para realização da investigação foram agendados, buscando respeitar a
disponibilidade do grupo e não interferir na rotina de trabalho.
A amostra foi composta por 10 dos 16 enfermeiros que atuavam na Atenção
Primária à Saúde destes municípios, pertencendo 6 a um dado município e, 4 ao
outro. Foram incluídos na amostra os enfermeiros que atuavam, exclusivamente, na
ESF dos municípios, que estavam presentes nos dias da coleta de dados e que
concordaram em participar, voluntariamente, assinando o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). O termo foi feito em duas vias de igual teor, e após
assinado pelo enfermeiro, uma via ficou de posse do mesmo e a outra, da
pesquisadora.
Os enfermeiros que não trabalhavam na ESF, ou não se encontravam
presentes nos dias da aplicação do questionário foram excluídos da amostra. Houve
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perda de um sujeito, pois o mesmo desligou-se do quadro de funcionários de uma
das cidades, nos dias da coleta.
Os dados foram coletados por meio da aplicação de um questionário
elaborado pela pesquisadora, contendo questões fechadas e abertas sobre o tema.
A coleta foi realizada nos respectivos locais de trabalho dos profissionais, no período
de 27 de agosto a 16 de setembro de 2010. Após a coleta, os resultados obtidos
foram analisados através da estatística descritiva simples e comparados com a
literatura pesquisada para sua discussão. Os sujeitos da pesquisa foram tratados e
respeitados em sua dignidade e autonomia, sendo que foi garantido o direito ao
anonimato. As respostas das questões abertas quando utilizadas no estudo, foram
identificadas pela vogal E, seguida do número do questionário correspondente.
A pesquisa atendeu, em sua totalidade, as exigências éticas e científicas
fundamentais preconizadas pela Resolução n.º 196 de 10 de outubro de 1996, do
Conselho Nacional de Saúde, respeitando e protegendo os indivíduos da amostra
(BRASIL, 1996). Estes foram devidamente esclarecidos sobre os objetivos e
possíveis riscos e/ou benefícios inerentes aos participantes e as instituições
envolvidas na pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização da amostra
A amostra constituiu-se por nove (90%) enfermeiros do sexo feminino e um
(10%) do masculino. Possuíam a idade média de 27,7 anos, sendo a mínima de 23 e
a máxima de 42 anos. A maioria dos profissionais, nove (90%), graduou-se em
instituições privadas e, somente um (10%), em instituição pública. Em relação ao
tempo de formação, dois (20%) dos enfermeiros alegaram que se graduaram há
cerca de cinco anos, seis (60%), há dois anos e dois (20%), há um ano.
Educação em Saúde: conhecimentos e práticas do enfermeiro
Em relação aos vários conceitos de educação em saúde, a TAB. 1 mostra as
opções escolhidas pelos enfermeiros da amostra.
TABELA 1 - Definição de educação em saúde na concepção dos enfermeiros da amostra. Ipatinga,
MG. 2010.
CONCEITOS
É um conjunto de práticas voltadas à promoção da saúde
É uma forma de difusão do conhecimento científico
É uma importante vertente à prevenção, e se preocupa em
melhorar as condições de vida e saúde da população
É a articulação entre educação e saúde que envolve experiências e
saberes, buscando estimular mudanças individuais e coletivas
Outros
Total
FONTE: Dados da pesquisa.
N
01
0
%
10,0
0,0
01
10,0
07
70,0
01
10
10,0
100
De acordo com os resultados da TAB. 1, sete (70%) enfermeiros optaram pela
definição de que a educação em saúde é uma “Articulação entre educação e saúde
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que envolve experiências e saberes, buscando estimular mudanças individuais e
coletivas”, um (10%) optou em defini-la como “Conjunto de práticas voltadas à
promoção da saúde”, e um (10%), que “É uma importante vertente à prevenção, e se
preocupa em melhorar as condições de vida e saúde da população”. Estes dados
corroboram com o estudo de Acioli (2008), que afirma que é necessário pensar a
educação em saúde como a articulação entre esses dois campos, abordando as
experiências e saberes dos sujeitos envolvidos neste processo, compreendendo-os
como detentores de um determinado conhecimento e não apenas receptores de
informações. Essa interação possibilita a construção compartilhada de conhecimento
e a busca individual e coletiva por mudanças.
Diante dessas considerações, vale mostrar a resposta de um enfermeiro, que
complementa as reflexões sobre a importância da prática da educação em saúde na
ESF como uma forma de criar ou ampliar o vínculo com a população adscrita.
É uma maneira de colocar os indivíduos como co-participantes e
responsáveis de todo processo saúde-doença, individual e coletivo (E1).
Quanto aos principais fatores que interferem no processo de educação em
saúde, os 10 (100%) enfermeiros que fizeram parte desse estudo consideraram
como fator facilitador “Conhecer a realidade da população”. Dentre os fatores
dificultadores da prática de educação, três (30%) optaram pelos “Valores culturais da
população”, dois (20%) pelos “Fatores político-administrativos”, três (30%) pela
“Falta de adesão da população”, e um (10%) considerou como principal fator
dificultador o “Nível de escolaridade da população”. Essa questão teve uma resposta
anulada, devido a preenchimento incorreto por parte do sujeito da amostra. A TAB. 2
apresenta esses dados.
As opiniões dos enfermeiros (TAB. 2), relativas aos fatores facilitadores,
fortalecem o que diz Alencar (2006), quando este afirma que para se atuar de
maneira efetiva perante os problemas de saúde, deve-se conhecer a realidade das
famílias, identificando os agravos e as situações de risco de cada comunidade,
possibilitando planejar e prestar assistência, favorecendo o desenvolvimento de
ações educativas. Os fatores dificultadores apontados pelos enfermeiros, e também
apresentados na TAB. 2, condizem com o estudo de Silva, Dias e Rodrigues (2009),
que consideram necessário o profissional agregar valores socioculturais às ações de
educação em saúde, com o objetivo de minimizar as diferenças, através do
reconhecimento de que as pessoas da comunidade têm valores diferentes e estes
devem ser considerados na escolha dos meios para se desenvolver as práticas
educativas cotidianas.
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011.
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TABELA 2 - Fatores que interferem no processo de educação para saúde, segundo a visão dos
enfermeiros da amostra. Ipatinga, MG. 2010.
FATORES
Facilitadores
Conhecer a realidade da população
Nível de alfabetização da população
Capacidade crítica da população
Renda da população
Total
Dificultadores
Condições demográficas da população
Valores culturais da população
Fatores político-administrativos
Adesão da população
Escolaridade da população
Resposta anulada
Total
FONTE: Dados da pesquisa.
N
%
10
0
0
0
10
100,0
0,0
0,0
0,0
100
0
03
02
03
01
01
10
0,0
30,0
20,0
30,0
10,0
10,0
100
No que se refere à percepção da educação em saúde dentro da ESF, cinco
(50%) enfermeiros a compreendem como “Atribuição de todos os profissionais da
equipe”, dois (20%) que ela “Engloba todas as ações de saúde, e deve estar inserida
na prática diária do enfermeiro”, e dois (20%) a consideraram como “Fundamental à
assistência integral e contínua às famílias”. Esses dados são apresentados na (TAB.
3).
TABELA 3 - Percepção dos enfermeiros da amostra quanto à educação em saúde dentro da
Estratégia Saúde da Família. Ipatinga, MG. 2010.
OPÇÕES
É atribuição de todos os profissionais da equipe
Engloba todas as ações de saúde, e deve estar inserida na
prática diária do enfermeiro
Vem a ser facilitada, devido ao conhecimento e contato que o
profissional possui de toda a população por ele assistida
É fundamental à assistência integral e contínua às famílias
Outros
Total
FONTE: Dados da pesquisa.
N
05
%
50,0
02
20,0
0
0,0
02
01
10
20,0
10,0
100
Os resultados acima corroboram com os estudos de Alves (2005), onde o
autor aponta que a educação em saúde deve ser vista como uma prática atribuída a
todos profissionais da ESF e incluída nas ações de assistência integral e contínua às
famílias, facilitando a identificação de situações de risco à saúde e enfrentando, em
parceria com a comunidade, os determinantes do processo saúde-doença.
Pode-se ressaltar o que um (10%) dos enfermeiros da amostra definiu como
sendo percepção sobre educação em saúde dentro da ESF:
É um dos focos da atenção à saúde, promove a orientação e inserção da
comunidade (E1).
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011.
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Considerando os resultados que a prática educativa é capaz de proporcionar
aos indivíduos, seis (60%) sujeitos da amostra acreditam que as ações educativas
são capazes de proporcionar “Novos hábitos e condutas de saúde, incluindo
melhorias no autocuidado”, um (10%), capaz de “Promover a participação popular
nos serviços de saúde”, um (10%) acredita que permite “Aprofundar as intervenções
na vida cotidiana das famílias e sociedades”, e um (10%) que a educação em saúde
é capaz de proporcionar “Formação crítica–cidadã, através de conhecimento
emancipador”. As respostas declaradas pelos enfermeiros do estudo estão dispostas
na (TAB. 4).
TABELA 4 - Resultados que a prática educativa é capaz de proporcionar, na visão dos enfermeiros
da amostra. Ipatinga, MG. 2010.
OPÇÕES
Novos hábitos de condutas de saúde, incluindo melhorias no
autocuidado
Promover a participação popular nos serviços de saúde
Aprofundar as intervenções na vida cotidiana das famílias e
sociedades
Formação
crítica-cidadã,
através
de
conhecimento
emancipador
Outros
Total
FONTE: Dados da pesquisa.
N
%
06
60,0
01
10,0
01
10,0
01
10,0
01
10
10,0
100
Segundo as respostas dos enfermeiros da amostra e os estudos de Ferraz et
al. (2005), pode-se afirmar que, uma educação em saúde bem sucedida é capaz de
estimular os indivíduos, famílias e comunidade a buscarem conhecimentos que
permitam a reflexão e conscientização, proporcionem autonomia e autocuidado, de
maneira a contemplar as necessidades dos sujeitos e de suas famílias. Deve-se,
ainda, de acordo com os autores, buscar um processo educativo através do diálogo
e da interação entre educador e educando e, não apenas, através de um simples ato
de transmitir informações.
A visão dos enfermeiros da amostra quanto ao envolvimento destes com as
ações de educação em saúde pode ser demonstrada através da (TAB. 5).
TABELA 5 - Envolvimento dos enfermeiros da amostra em ações educativas. Ipatinga, MG. 2010.
OPÇÕES
É uma forma de expressar o cuidado
Baseia-se na construção compartilhada de saúde
Fundamenta-se no vínculo e no compromisso com a população
assistida
Busca beneficiar a população para esta viver melhor
Outros
Total
FONTE: Dados da pesquisa.
N
0
01
%
0,0
10,0
04
40,0
04
01
10
40,0
10,0
100
Diante das respostas obtidas, observa-se que, quatro (40%) dos enfermeiros
consideraram que seu envolvimento “Fundamenta-se no vínculo e no compromisso
com a população assistida”, quatro (40%) na “Busca de beneficiar a população para
esta viver melhor” e um (10%) “Baseia-se na construção compartilhada de saúde”.
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011.
840
De acordo com Costa et al. (2009) a ESF é um modelo de saúde coletivo, multi e
interprofissional, que visa integrar profissionais e a comunidade, buscando
estabelecer vínculos através de práticas de saúde humanizadas para garantir maior
atuação e atenção aos usuários. A educação para saúde é uma estratégia que deve
ser utilizada pela equipe na busca da humanização das práticas de saúde junto a
população.
Em relação ao que é buscado através das práticas educativas, cinco (50%)
enfermeiros definiram que buscam “Construir, junto à população, melhores
condições de vida e saúde”, três (30%) que procuram “Interferir de maneira positiva
na realidade social de uma população, em busca de mais dignidade e saúde”. Os
resultados estão demonstrados na (TAB. 6).
TABELA 6 - O que os enfermeiros da amostra buscam através de práticas educativas em saúde.
Ipatinga, MG. 2010.
OPÇÕES
Instruir a população
Diminuir a incidência de doenças
Construir, junto à população, melhores condições de vida e saúde
Interferir, de maneira positiva, na realidade social de uma população,
em busca de mais dignidade e saúde
Outros
Total
FONTE: Dados da pesquisa.
N
0
0
05
%
0,0
0,0
50,0
03
30,0
02
10
20,0
100
Essas respostas ilustram as afirmativas de Oliveira e Gonçalves (2004) sobre
a importância da educação em saúde. Para eles a prática educativa em saúde deve
ser compreendida como uma ação essencial à prevenção, voltada para melhoria das
condições de vida e saúde da população. Relaciona-se à aprendizagem e deve
atender os indivíduos de acordo com sua realidade, provocando conflito e
oportunidades de refletir a sua cultura, fazendo com que ele próprio transforme sua
realidade.
Além dessas considerações, um (10%) enfermeiro da amostra acrescenta
pontos relevantes sobre o intuito de se realizar as ações educativas em saúde junto
à população:
Trabalhar, dentro da realidade da comunidade, a conscientização desta,
com criatividade e dinamismo, para que tais ações sejam efetivas e gerem
resultados perceptíveis, pois as ações precisam e devem surtir efeitos na
comunidade (E7).
Os principais meios utilizados, de acordo com a opinião de nove (90%)
enfermeiros, para desenvolver ações educativas foram as “Reuniões e palestras”,
conforme as respostas dispostas na (TAB. 7). Porém, de acordo com Acioli (2008),
torna-se necessário uma reorientação das ações educativas através de um processo
de planejamento dinâmico, onde o enfermeiro deve avaliar as ações a serem
desenvolvidas, observando a realidade e o interesse da população assistida para
definir o melhor método educativo. Sendo assim, as ações de educação em saúde
devem ser abordadas como expressão do cuidado em enfermagem, numa proposta
de construção compartilhada de saberes que busque interdisciplinaridade,
autonomia e cidadania.
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011.
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Silva, Dias e Rodrigues (2009) complementam as afirmativas acima ao
afirmarem que existe uma grande identificação profissional dos enfermeiros com a
pedagogia e que essa assume um papel relevante no trabalho em enfermagem.
Porém, é necessário reavaliar e aperfeiçoar as práticas educativas realizadas
atualmente, identificando suas falhas e propondo formas de melhor efetivá-las. Para
esses autores, a capacitação e educação permanente dos profissionais seria uma
opção viável para tornar as ações educativas mais adequadas às necessidades da
população.
TABELA 7 - Principal meio educativo utilizado pelos enfermeiros, e descrição da oferta de recursos
voltados para ações educativas, na concepção dos enfermeiros da amostra. Ipatinga, MG. 2010.
OPÇÕES
Meio educativo
Consultas de enfermagem
Reuniões e palestras
Visitas domiciliares
Resposta anulada
Total
Oferta de recursos
Os serviços não oferecem materiais nem condições para
execução de ações educativas
Os recursos oferecidos são insuficientes à real necessidade
O serviço oferece materiais e condições plenas para
realização de ações educativas
Outros
Total
FONTE: Dados da pesquisa.
N
%
0
09
0
01
10
0,0
90,0
0,0
10,0
100
02
20,0
05
50,0
02
20,0
01
10
10,0
100
De acordo com a TAB. 7, cinco (50%) dos enfermeiros declararam que a
oferta de recursos para ações educativas no município onde atuam são
“Insuficientes à real necessidade”, três (30%) que “O serviço oferece materiais e
condições para a realização de ações educativas”, e dois (20%) consideraram que
“O serviço não oferece materiais e nem condições para a execução de ações
educativas”. Os estudos de Souza et al. (2005), apontam desafios que os
profissionais de saúde enfrentam no dia a dia dos serviços de saúde no Brasil,
dentre esses, destacam-se a distribuição desigual de recursos material, financeiro,
físico e humano. Para os autores, diante desses desafios, torna-se necessário que a
equipe da ESF busque estratégias para superar os obstáculos e atingir um objetivo
real para desenvolver uma assistência diferenciada, que proporcione o crescimento
da comunidade e melhorias na qualidade de vida da população, garantindo
cidadania e dignidade às famílias assistidas.
CONCLUSÃO
Educar é uma maneira de construir cidadania, formar indivíduos conscientes
de seus direitos e deveres e capazes de lutar por eles. Além disso, a educação é
capaz de proporcionar ao homem a compreensão de sua realidade, permitindo-lhe
desafiá-la em busca de soluções para o enfrentamento dos problemas individuais e
coletivos.
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O presente estudo permitiu analisar o conhecimento e a prática dos
enfermeiros da ESF nos municípios selecionados, quanto às ações de educação em
saúde. Os sujeitos da amostra definiram a educação em saúde como a articulação
entre educação e saúde que busca estimular mudanças individuais e coletivas,
considerando as experiências e saberes de todos os envolvidos no processo
educativo. Apontaram como principal fator facilitador deste processo, conhecer a
realidade da população e, como dificultadores, os diversos valores culturais e a falta
de adesão da população às práticas educativas.
Os enfermeiros pesquisados compreendem a educação em saúde, dentro da
ESF, como atribuição de todos os profissionais da equipe. E que as ações
educativas devem ser realizadas com o intuito de construir, junto à população,
vínculo e compromisso, buscando beneficiá-la, de forma mais efetiva, com melhorias
nas condições de vida e saúde, através de um envolvimento fundamentado na coresponsabilização. Eles consideraram que a prática educativa é capaz de
proporcionar aos indivíduos, novos hábitos e condutas de saúde, incluindo melhorias
no autocuidado.
A prática educativa é desenvolvida pelos profissionais do estudo,
principalmente, através de reuniões e palestras. Os recursos oferecidos pelos
municípios para a execução de ações educativas, de acordo com a opinião da
maioria dos sujeitos, são insuficientes à real demanda do serviço.
Diante dos resultados encontrados e dos fatores dificultadores apontados
pelos profissionais da amostra, torna-se necessário ressaltar que as práticas
educativas em saúde nos municípios estudados, devem ser planejadas pela equipe
e gestores, devem estar inseridas junto às ações de assistência integral e culminar
na produção de saberes coletivos, propiciando ao indivíduo autonomia e capacidade
de cuidar-se, cuidar de sua família e dos que estão ao seu redor. E ainda, que a
capacitação e educação permanente dos profissionais constituem uma opção viável
para tornar as ações educativas mais adequadas às necessidades da população.
REFERÊNCIAS
ACIOLI, S. A prática educativa como expressão do cuidado em Saúde Pública.
Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 61, n. 01, p. 117-121, fev. 2008.
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2008000100019&lng= pt&nrm =iso>. Acesso em: 30 set. 2009.
ALENCAR, R. C. V. de. A Vivência da ação educativa do enfermeiro no Programa
Saúde da Família (PSF). 2006. 122f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) –
Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
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ALVES, V. S. Um modelo de educação em saúde para o Programa Saúde da
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Interface, Botucatu, v. 09, n. 16, p. 39-52, fev. 2005. Disponível em:
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Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.2 - Nov./Dez. 2011.
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