AS DIFICULDADES ENFRENTADAS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS
NATURAIS EM ESCOLAS MUNICIPAIS DO SUL DE SERGIPE E O
PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA
SANTOS, Antonio Hamilton dos1 - UFS
SANTOS, Hélio Magno Nascimento dos 2 - UFS
JUNIOR, Benedito dos Santos ³ - Pio X
SOUZA, Ilvanete dos Santos de 4 - UFS
FARIA, Taciana de Lisboa5 - UFS
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: CAPES
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo analisar as principais dificuldades enfrentadas para o
Ensino de Ciências em Escolas Municipais da região sul de Sergipe, bem como analisar as
contribuições da formação continuada na visão dos professores atuantes nesta região. A
pesquisa foi realizada com 22 professores das séries inicias do ensino fundamental que
exercem suas funções em escolas municipais da região. Utilizou-se para coleta dos dados,
questionário contendo perguntas abertas e fechadas sobre o processo de ensino e formação
continuada. A análise dos resultados permitiu a construção de categorias, nas quais é possível
observar a situação em que estes professores estão inseridos, e as concepções dos mesmos,
sobre o comportamento dos alunos durante as aulas de Ciências. Também foi avaliada a
opinião dos educadores sobre a contribuição que a formação continuada propicia no
desenvolvimento do processo de ensino. No que se referem às dificuldades do ensino de
Ciências, os professores atribuem como pontos negativos a falta de interesse dos alunos com
o ensino, além das dificuldades dos discentes com a leitura. A maioria dos educadores
1
Licenciado em Química UFS / Especialista em Gestão e Educação Faculdade Pio Décimo /Mestrando em
Ensino de Ciências e Matemática (NPGECIMA) pela Universidade Federal de Sergipe - UFS / Professor da
Rede Estadual de Sergipe (SEED). Email: [email protected]
2
Licenciado em Química / UFS; Especialista em Metodologias de Ensino para Educação Básica/UFS;
Mestrando NPGECIMA/UFS; voluntário do Projeto Desempenho Escolar Inclusivo na Perspectiva
Multidisciplinar do Observatório de Educação da CAPES/UFS. Email: [email protected]
3
Licenciado em Pedagogia Pio X / Graduando em Educação Física Faculdade Estácio de Sá/FASE
4
Graduada em Pedagogia pela Faculdade São Francisco de Barreiras (2010), e Licenciada em Matemática pela
Universidade do Estado da Bahia (2012), Especialista em Educação Profissional integrada à Educação Básica na
modalidade de Educação de Jovens e Adultos - CEPROEJA pelo Instituto Federal da Bahia, Especialista em
Gestão Escolar pela Unyahna, Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Federal de
Sergipe e professora da rede municipal da cidade de Barreiras – BA. E-mail: ilvanetess@ hotmail.com
5
- Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática (NPGECIMA) pela Universidade Federal de Sergipe, Bióloga
licenciada pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected].
15394
também citou como uma dificuldade a carência de material adequado para realização de
experimentos. A partir destes resultados percebe-se a falta de reflexão dos professores sobre a
própria prática, visto que, todas as dificuldades citadas nos resultados se referem a problemas
externos a ação do professor, onde os mesmos, não conseguem atribuir dificuldades referentes
à sua ação pedagógica, se esquivando completamente da situação exposta. Já no que se refere
ao processo de formação continuada, o trabalho procurou analisar de maneira geral o nível de
formação dos professores sujeitos da pesquisa, desde sua formação inicial até a situação atual.
Os dados permitem observar que a formação continuada é avaliada como um fator
imprescindível para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem.
Palavras-chave: Ensino de Ciências. Formação de Professores. Escolas.
Introdução
O processo de ensino das Ciências naturais tem um papel relevante para o
entendimento do mundo, pois, os conhecimentos obtidos através de seus conteúdos vão desde
o entendimento de uma receita, até a mais alta tecnologia dos nanomaterias. Mas, em virtude
da forma como os conteúdos são trabalhados, a sua compreensão, por parte dos alunos, é
muitas vezes dificultada, acarretando numa série de problemas para o desenvolvimento do
processo de ensino e aprendizagem, já que, muitas vezes o professor não percebe que algumas
deficiências de sua ação pedagógica, interferem no ensino.
Para Freire (1996, p. 27)
[...] Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a
sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo
estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, as
suas inibições, um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a
ele ensinar e não a de transferir conhecimento.
As práticas de ensino existentes em muitas escolas, por vezes resultam, em
desestímulo para o aluno, e se distanciam da verdadeira função do ensino que é formar
cidadãos conscientes, e como afirma Schnetzler (1992, p. 17) “[...] O produto desta
aprendizagem se caracteriza, portanto, em memorização com um subsequente esquecimento
rápido do conhecimento aprendido [...]”, fazendo com que os alunos não percebam as
contribuições que determinado conteúdo propicia em seu cotidiano diante das necessidades de
solucionar problemas na comunidade em que vivem.
Dessa forma, a maneira como o ensino de Ciências vem sendo abordado atualmente,
pouco desperta nos alunos interesse pela busca do conhecimento, o que irá refletir
consequentemente no cotidiano dos professores, que muitas vezes em face das deficiências de
15395
sua formação inicial, e também por não serem instigados a buscar o aprimoramento de suas
ações através de formações continuadas, acabam contribuindo para o fracasso de processo de
ensino e aprendizagem de Ciências.
Portanto, ao se observar o processo de ensino realizado na maioria das escolas
brasileiras, percebe-se que os conteúdos relativos às Ciências naturais são muitas vezes
abordados de maneira superficial, fazendo com que os alunos e alunas não consigam abstrair
nestas informações, algo que vá ser concretamente utilizado em seu dia a dia.
Alem disso, apesar dos vários instrumentos de auxílio destinados a construção de uma
nova proposta pedagógica, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e as Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCNs) disponibilizadas pelo Ministério da educação, não se percebe
mudanças significativas, pois, mesmo após alguns avanços os professores “[...] agem
pedagogicamente, mais de acordo com o senso comum, do que de acordo com as teorias de
ensino e aprendizagem, por desconhecê-las na prática [...]” (MALDANER, 1997, p 186).
A partir desta visão preocupante, é necessário que haja uma junção de esforços no
sentido de que os profissionais da educação, incluindo aí professores, direções das escolas e
os órgãos responsáveis pela organização de nossos sistemas de ensino, possam se articular
para que sejam revistas algumas ações, que pouco contribui para o desenvolvimento do
sistema educacional, visto que, mudanças significativas só ocorrem através de ações
conjuntas que visem atingir não apenas os alunos, mas também a comunidade ao redor das
escolas.
Para isso, é que na proposta dos PCNs (2000), além dos conteúdos conceituais do
saber sobre os conhecimentos específicos de cada área, consideram-se os conteúdos
procedimentais, o saber fazer, e os conteúdos atitudinais, relacionados ao modo de ser, onde o
ensino de Ciências naturais não pode ser voltado para um futuro distante, e conhecer Ciências
permita ampliar a possibilidade de participação social e de desenvolvimento mental e, assim
capacitar o aluno a exercer desde já seu papel de cidadão do mundo.
Dessa forma, ao se trabalhar Ciências nas escolas, deve-se considerar que professores
e alunos precisam andar juntos para desenvolver um trabalho integrado, observando a
organização de uma sequência lógica na graduação dos conteúdos, e buscando sempre uma
aplicação prática dos conceitos teóricos formulados, favorecendo ao professor em sua ação
uma postura reflexiva e investigativa, contribuindo para a construção da autonomia de
pensamento e de ação dos envolvidos no processo.
15396
Logo, percebe-se que é fundamental para ação dos professores se engajarem no
processo de formação continuada, pois, é a partir da busca por uma formação melhor que se
encontrarão as respostas para algumas situações de sala de aula, que interferem no processo
de ensino, o que consequentemente vai influenciar na aproximação dos alunos e no empenho
dos mesmos em aprender determinados conteúdos.
A formação continuada também possibilita ao educador um melhor desempenho em
suas ações pedagógicas, fazendo com que o professor não venha a ser refém, por exemplo, do
livro didático, passando da condição de transmissor do conhecimento para construtor de
novos saberes, como afirmam Domingues, Toschi e Oliveira (2000, p. 69) “[...] este seria
compreendido como agente do currículo, e não como transmissor de uma cultura selecionada
por outros [...]”.
Diante desta situação é interessante uma reflexão sobre o próprio profissional da
educação, pois, a profissão docente exige daqueles que decidem optar por este caminho, uma
visão mais abrangente sobre a sociedade como um todo, visto que, em suas ações é necessário
refletir não apenas sobre os conhecimentos a serem transmitidos e construídos, mas também,
requer um pensar diferente sobre o ser humano, que traz consigo concepções no âmbito
social, cultural e econômico que precisam ser respeitados.
Portanto, a ação docente vai muito além do ato de transmitir conteúdos, e o processo
educacional traz ainda outras barreiras, dentre as quais Tardif (2010) cita as “[...] dificuldades
de mudança de postura na prática docente, a falta de reflexão sobre os processos de ensino e
aprendizagem, a péssima estrutura dos planos de carreira docente, que nos faz enxergar da
importância de levar em consideração a subjetividade do professor [...]”.
Sendo assim, pensar o processo de ensino de Ciências e suas dificuldades é refletir
sobre os diversos componentes deste sistema, além dos fatores que estão ligados ao processo
educacional, como a falta de infraestrutura dos estabelecimentos e a carência de recursos
didáticos, que muitas vezes o educador não consegue perceber e acaba por não considerá-los
como um interveniente do processo, incluindo-se ainda, como fatores diretos as concepções
prévias dos alunos e a dificuldade na leitura.
Para Dinucci (2002, p. 33)
[...] Tradicionalmente, em nossa sociedade a escola é moldada para ensinar
conteúdos acadêmicos, sem ter a preocupação de ensinar a ler e a escrever a partir
do contexto cotidiano dos alunos. A educação escolar pressupõe um
desenvolvimento lingüístico e uma exposição à leitura e à escrita que muitas vezes
15397
os alunos não têm em sua prática cotidiana, o que torna o ensino acadêmico
descontextualizado e sem função social para o aluno.
Deste modo, os educadores, em razão das realidades encontradas nas suas escolas e
por não ter, muitas vezes o tempo necessário para organização de sua prática pedagógica,
acabam atribuindo o fracasso na aprendizagem, como um resultado da falta de interesse do
aluno, sem perceber que o próprio aluno é também influenciado pelas precárias condições que
muitas escolas oferecem, e também, em virtude do professor ao buscar um salário digno
passar a trabalhar em várias escolas, o que lhe impede de conhecer a realidade de seus alunos
e alunas.
Logo, ao se trabalhar as dificuldades enfrentadas por professores de Ciências na
realização de sua ação pedagógica, é preciso considerar algumas situações pertinentes ao
processo, desde as deficiências de sua formação inicial e as dificuldades encontradas para
realização de uma formação continuada, passando pelas condições insuficientes que as
escolas proporcionam aos seus alunos, em relação a recursos didáticos e a estrutura física das
mesmas, além dos alunos com todas as suas concepções, incertezas e problemáticas.
Assim sendo, este trabalho configura-se como uma importante ferramenta para área da
educação básica no ensino fundamental, já que, é pertinente a necessidade de uma reflexão
sobre as dificuldades enfrentadas pela classe docente no exercício de sua ação pedagógica, e
as contribuições que o processo de formação continuada pode oferecer para melhoria do
ensino.
Portanto, o objetivo geral deste trabalho é descrever a partir das concepções de vinte e
dois professores da educação básica, mais precisamente das series iniciais do ensino
fundamental, os possíveis problemas que dificultam o processo de ensino de Ciências, como
também, fazer uma análise da importância que os docentes atribuem à formação continuada,
visto que estes estavam no momento da pesquisa participando de um programa de formação
oferecido em parceria entre as Universidades Federais do Pará e de Sergipe.
Metodologia
O presente estudo, que tem como foco o ensino de Ciências naturais e o processo de
formação continuada, é resultado da pesquisa de campo realizada através da aplicação de um
questionário a 22 professores do ensino fundamental, sobre possíveis problemas que
dificultam o processo de ensino desta disciplina em Escolas Municipais da região Sul de
15398
Sergipe, bem como analisar a importância que os docentes atribuem à formação continuada. O
questionário (anexo I) utilizado na pesquisa é composto de 11 questões.
Das onze questões respondidas pelos professores, seis eram fechadas, buscando a
partir das mesmas, informações sobre a área de formação dos docentes, sua participação em
programas de pós-graduação como Especialização, Mestrado e Doutorado, o tempo de
atuação no magistério, a quantidade de vínculos empregatícios e se estes vínculos eram
apenas na área da educação, e também a instituição na qual os docentes cursaram o nível
superior.
As outras cinco questões eram abertas, e buscou analisar quais as principais
dificuldades que o professor enfrenta para ensinar os conteúdos de Ciências, nas séries iniciais
do ensino fundamental, quais atitudes poderiam ser tomadas para melhorar este processo de
ensino, e também procurou analisar se estes professores participam de grupos de formação
continuada e caso participem que importância atribuem a esta formação.
Considerando que os professores estavam no momento da resolução do questionário
participando de uma formação continuada, também foram instigados a responder quais os
motivos que os levaram a se inscreveram naquela formação.
Resultados e Discussões
Os resultados dos questionários estão apresentados na forma de gráficos, como
também são apresentados discussões sobre estes resultados que servem para uma reflexão em
relação ao tema em questão.
Na figura1, é apresentada a situação referente ao tempo de formação dos docentes
citados como sujeitos da pesquisa, onde se percebe que a maioria dos profissionais possui
uma vasta experiência na ação docente, visto que, grande parte deles já exerce a função de
professor a mais de dez anos, o que propicia para o trabalho em questão, uma fundamentação
pautada em resultados expressados de maneira consciente.
Dessa forma, ao citar como ponto relevante o tempo de exercício da prática
pedagógica, o estudo em questão, procura mostrar que ao se trabalhar as dificuldades
enfrentadas por professores no ensino de Ciências, e também falar sobre as contribuições que
a formação continuada propicia ao cotidiano da atuação do professor, é necessário que os
sujeitos da pesquisa tenham uma visão mais aprofundada do processo educacional, algo que
só é conquistado após uma longa atuação no sistema educacional.
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22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1 à 10 anos
10 à 20 anos
Acima de 20
anos
18%
45%
37%
Figura 1: Tempo de Experiência Profissional
Fonte: Organizado pelos autores, com base nas orientações para formatar o texto
Portanto, ao se refletir sobre o processo de ensino, os educadores devem ter
consciência que a ação pedagógica vai muito além do simples fato de transmitir um
conhecimento específico. Os docentes e demais pesquisadores interessados com o processo
educacional, precisam rever alguns fatores que estão diretamente ligados ao desenvolvimento
desta prática, como as mudanças curriculares, a inclusão de novas tecnologias e a inserção dos
sistemas de avaliação de desempenho escolar como SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica), a Prova Brasil e Provinha Brasil.
É importante ressaltar também que o processo educacional é influenciado de forma
significativa pelas diversidades culturais, econômicas e sociais que os alunos e alunas trazem
consigo, deixando clara a necessidade de um ensino caracterizado pela inclusão.
Na figura 2, o presente estudo aborda a questão da formação acadêmica dos
profissionais sujeitos da pesquisa, no intuito de permitir uma reflexão sobre o fato de ainda se
encontrar em salas de aulas, profissionais que não possuem a formação específica para
atuação na educação básica, principalmente em series iniciais do ensino fundamental.
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22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Pedagogia
Matemática
Biologia
Inglês
80%
10%
5%
5%
Figura 2: Formação Acadêmica dos Professores
Fonte: Organizado pelos autores, com base nas orientações para formatar o texto.
Percebe-se a partir dos resultados expostos neste caso, que os profissionais encontramse de acordo com a situação exigida em lei, visto que, como rege a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB, nº 9394/96) é necessário que na educação básica tenhamos
educadores com a formação Pedagógica, algo imprescindível ao pleno exercício da função, e,
como é mostrado na figura 2, dos vinte e dois profissionais que responderam o questionário,
18 possuem formação superior em Pedagogia, e os quatro restantes possui a formação no
magistério do ensino médio, além da terem a formação em nível superior, sendo 2 em
Matemática, 1 em Inglês e outro em Biologia.
Sendo assim, considerando o grau e o tipo de instrução destes educadores, esta
pesquisa nos traz resultados pelos quais será proporcionada aos seus futuros leitores, uma
visão sobre a importância de termos profissionais com formação específica exercendo a
atividade docente, algo que não só permite um olhar adequado sobre o processo de ensino e
aprendizagem, como também proporciona aos discentes a possibilidade de um ensino que
busque orientá-los para exercerem de fato a sua cidadania, através de atitudes coerentes com
os possíveis problemas que surgem em sua comunidade.
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22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Graduação
Graduado com
especialização
Graduado
integrante de
grupos de estudo
63%
37%
14%
Figura 3: Professores com graduação, pós-graduação e integrantes de grupos de estudo
Fonte: Organizado pelos autores, com base nas orientações para formatar o texto.
Através da figura 3, o presente trabalho procura mostrar como se encontra a situação
de nossos docentes no que se refere ao processo de formação continuada, algo que se insere
nos dias atuais como um dos fatores que podem contribuir significativamente para o sucesso
das ações praticadas em sala de aula, visto que, é através do aprimoramento dos
conhecimentos necessários a prática docente, que o sistema educacional, mais precisamente o
processo de ensino e aprendizagem alcançará o pleno desenvolvimento.
No entanto, a partir dos resultados da figura 3, percebe-se que ainda é deficiente a
visão sobre a relevância que a formação continuada exerce, pois, menos de cinqüenta por
cento dos profissionais foram além da graduação. É importante ressaltar que o processo de
formação continuada já se insere como uma obrigação por parte dos setores que regem a
educação do país, já que, é citado no Artigo 62 inciso primeiro da LDB nº 9394/96 que a
União, o Distrito Federal, os Estados e Municípios deveram promover alem da formação
inicial, a formação continuada e a capacitação dos professores.
Desta forma, fica evidente que o processo de ensino apesar das evoluções pelas quais
vem passando, requer ainda muitos esforços, pois o ato de ensinar exige não apenas um
conhecimento disciplinar específico, mas, o ensino se faz através da interação entre o
conhecimento disciplinar e a socialização com as diversas tecnologias que surgem e que só
serão realmente significativas ao processo, quando for possibilitada aos educadores uma
formação coerente com as especificidades que a função determina.
Na figura 4, é demonstrada a partir das opiniões dos educadores sujeitos da pesquisa, a
visão que estes profissionais têm sobre as principais dificuldades enfrentadas pelos mesmos,
durante o processo de ensino das Ciências, como este item tratava de uma questão aberta,
15402
foram citadas opiniões diferentes, mas que, ao analisar estas opiniões, situamos as mesmas em
três pontos.
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20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Deficiência na leitura dos
alunos
Falta de material adequado
para realização de
experimentos
Desinteresse do aluno com o
processo educacional
22%
63%
15%
Figura 4: Dificuldades encontradas no processo de ensino de ciências
Fonte: Organizado pelos autores, com base nas orientações para formatar o texto.
Observa-se que foi atribuído como dificuldades enfrentadas, apenas fatores externos
ao professor, onde os educadores, não conseguem perceber em momento algum se há em sua
própria prática docente, deficiências que venham a interferir negativamente no processo de
ensino, e refletindo dessa forma estes profissionais não buscam soluções que possam
amenizar determinada situação.
Desta maneira, percebemos que as deficiências da formação inicial, juntamente com a
problemática da falta de tempo para preparar as aulas, em razão dos diversos vínculos que o
professor possui, a fim de ter um salário digno, contribuem para que os professores exerçam a
função pedagógica sem refletir sobre a própria ação, o que consequentemente reflete em um
processo de ensino abstrato, onde o aluno não consegue relacionar os conteúdos abordados
pelo professor com a sua vida cotidiana, tornando a sala de aula monótona.
Na figura 5, é apresentada a visão dos professores sobre o processo de formação
continuada e as contribuições que este processo proporciona aos professores na efetivação de
sua prática pedagógica, observa-se através da análise do gráfico, que os educadores atribuem
diversas expectativas quando da possibilidade de participar de momentos de formação, algo
que contribui desde já, para que estes profissionais possam rever algumas ações de seu
cotidiano e consequentemente melhorem a condução do processo de ensino das Ciências.
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20
18
16
14
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10
8
6
4
2
0
Contribui para troca de
experiência entre os
profissionais
Relevante para atualização
dos conhecimentos
Oportunidade de aprender
novas metodologias
28%
18%
46%
8%
Apenas consideram
importante, sem ressaltar algo
específico
Figura 5: Contribuição da formação continuada para prática docente
Fonte: Organizado pelos autores, com base nas orientações para formatar o texto.
É importante ressaltar nas colocações dos educadores, a relevância atribuída no
processo de formação continuada, ao que se refere à oportunidade em aprender novas
metodologias, visto que, o ato de ensinar, sobretudo nos dias atuais, em que os alunos
possuem uma enorme bagagem de informações, devido ao desenvolvimento das mídias e do
acesso a internet, faz com que o professor tenha que desenvolver novos métodos, a fim de
aperfeiçoar seu trabalho no sentido de abordar os conteúdos científicos de forma mais
significativa para o aluno.
Analisando o primeiro aspecto citado pelos educadores como ponto positivo da
formação continuada, que trata da troca de experiências entre estes profissionais, compreendese que muitos profissionais às vezes trabalhando numa mesma escola, não conseguem
dialogar e por esta razão se utilizam dos momentos de formação, para relatar suas vivências e
também suas angústias diante das situações que surgem no decorrer de sua prática.
Portanto percebe-se a partir dos relatos dos educadores que a formação continuada se
insere ao processo educacional como fator preponderante para o desenvolvimento do ensino e
da aprendizagem, pois, a busca por novos conhecimentos e o aperfeiçoamento das ações
realizadas no âmbito escolar, estimula os alunos e alunas a buscar o conhecimento científico,
já que, através de uma prática docente pautada na conscientização de que os conteúdos
trabalhados serão úteis aos discentes no seu meio social, o ensino de Ciências se revestirá de
um novo sentido.
Considerações Finais.
15404
Este trabalho nos mostra a importância da pesquisa no processo educacional, no
sentido de estimular os educadores e os agentes responsáveis pelos órgãos que regem a
educação no país, a refletirem sobre o processo de ensino e aprendizagem, e desta forma, se
conscientizar das necessidades de mudanças exigidas por este processo, visto que, o avanço
do ensino requer o aperfeiçoamento das ações pedagógicas realizadas na sala de aula.
Desta forma, cabe aos educadores a busca por novos métodos de ensino, e também
uma reavaliação da sua maneira de agir em sala de aula, fazendo com que os discentes,
sintam-se envolvidos no processo educacional não como receptores de informações
historicamente construídas pela sociedade, mas que estes possam interagir no processo de
ensino, o que consequentemente possibilitará a construção do conhecimento, a partir da
reformulação de suas concepções prévias.
Portanto, a ação de pesquisar sobre os processos de ensino, fazendo uma análise das
principais dificuldades enfrentadas pelos educadores em seu cotidiano, e também analisando a
importância que a formação continuada exerce sobre este processo, nos permite refletir sobre
o ato de ensinar, não como uma ação mecânica, mas, como um processo que se renova a cada
dia, exigindo dos educadores uma busca continua dos diversos saberes necessários ao
processo de ensino e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
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Nacionais (PCN). Ciências Naturais 2. ed. RJ: DP & A, 2000. (V. 04).
BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96.
Brasília. 1996.
DINUCCI, Eliane Porto. Letramento: algumas práticas de leitura do jovem do ensino médio.
Psicologia Escolar e Educacional. Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-38. 2002. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141385572002000100004&script=sci_abstract&tlng=p
t > Acesso em: 24 set. 2011.
DOMINGUES, José Juiz; TOSCHI, Nirza Seabra; OLIVEIRA, João Ferreira de. A reforma
do Ensino Médio: a nova formulação curricular e a realidade da escola pública. Educação e
Sociedade. Campinas, v. 21, n.70, p. 63-79. 2000. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/es/v21n70/a05v2170.pdf> Acesso em: 24 set. 2011.
15405
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à Prática Educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
MALDANER, Otavio Aloisio. A formação continuada de professores: ensino-pesquisa na
escola. 1997. 420 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas,
São Paulo, 1997.
SCHNETZLER, Roseli Pacheco. Construção do Conhecimento e Ensino de Ciências. Em
Aberto, Brasília, v. 11, n. 55, p. 17-22. 1992. Disponível em: <
http://emaberto.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/813/731> Acesso em: 10 abr.
2013.
TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. 10. ed. Petrópolis: Vozes,
2010.
Download

as dificuldades enfrentadas para o ensino de ciências naturais em