“Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver
meninos sem escolas, mais triste ainda é vê-los sentados sem ar, com
exercícios estéreis sem valor para a formação do homem”
(Carlos Drummond de Andrade)
Ao começar a escrever esse artigo, lembrei-me da história de um menino que,
cansado de esperar pelo dia em que o pai conseguiria tempo para dar-lhe atenção,
pergunta: “Papai, quanto você ganha por hora?” O pai, sem paciência, não dá muita
importância. Mas o filho volta a insistir e o pai resolve responder. “Ganho R$ 10 por
hora”. O filho abre a mochila do colégio, conta 10 notas de 1 real e as entrega ao
pai. “Economizei do lanche. Agora, você pode me vender uma hora do seu tempo?”
Não é de hoje que ouvimos a famosa expressão “O importante não é a quantidade,
mas a qualidade”. Mesmo assim esse dilema continua a atormentar muitos pais.
Alguns porque desejam estar mais próximos dos filhos e outros se aproveitam
dessa “máxima” para justificarem sua ausência. Afinal de contas, de quantas horas
se faz um pai ou uma mãe? É possível ser mães e pais educadores com pouco
tempo? De quanto tempo precisam os filhos? Será que o tempo de qualidade é
suficiente?
Para muitos, aguardar a chegada de um filho e planejar como criá-lo,
essencialmente é sinônimo de: “Em qual escola iremos matriculá-lo?” ou “Em qual
creche iremos deixá-lo?”. Entretanto é preciso lembrar-lhes que quando se tem um
filho (planejado ou não), torna-se obrigatório arrumar espaço para ele em sua vida
pessoal e profissional, pois a falta de tempo tem sido classificada como uma das
razões que mais desencadeia problemas emocionais durante a infância, já que é no
seio da família que os valores e a personalidade de cada um tende a se formar e
consolidar. E para que tudo transcorra de maneira benéfica, a presença dos pais é
essencial e deve ser priorizada. Dessa forma, em se tratando do processo de
educação dos filhos não se deve deixar que prevaleçam os “empecilhos”, pois vale
lembrar que o que for plantado hoje, certamente será a colheita de amanhã.
De um modo ou de outro, o certo é que vivemos um momento singular na história
da educação, pois a jornada de trabalho torna-se cada vez mais exigente; às vezes
trabalhar e educar os filhos ficam sob a responsabilidade de apenas um dos
cônjuges ou ainda o desejo de realização profissional faz com que coloquem a
atenção às crianças em segundo plano, pois imaginam que o resultado financeiro e
os bens materiais que podem oferecer legitimam a ausência dentro do lar. Ora,
colocar um filho no mundo e mantê-lo é bem mais que dar-lhe comida, roupas,
brinquedos e escola. É imprescindível que haja uma convivência afetiva, a qual
consiste em conversar, ouvir, brincar, educar... E isso tudo se constrói no dia-adia, pois diversamente do que muitos crêem ser um profissional de sucesso e pais
dedicados não são tarefas incompatíveis e somente obtêm sucesso os pais que se
propõem a disponibilizar tempo para acompanhar o desenvolvimento dos filhos,
observando atentamente sua evolução de comportamento e personalidade. Essa
presença se constitui em um elemento formador da estreita relação que deve existir
entre ambos, dos laços que devem ser edificados e fortalecidos diariamente,
portanto esta deve ser valorizada e honrada, no verdadeiro sentido da palavra, que
me perdoem o trocadilho, “enquanto há tempo”.
E querem saber mais? Temos que considerar que nem sempre são os pais que não
encontram tempo, às vezes são as crianças que não têm espaço para viverem sua
infância e estarem com seus pais, sendo sobrecarregados com inúmeras atividades
extras. Tudo bem que atualmente existe uma necessidade de agregar mais
conhecimentos aos filhos. Mas será que eles precisam aprender tudo ao mesmo
tempo? Essa sobrecarga é prejudicial tanto para os pais quanto para os filhos que
não usufruem da convivência familiar. E mais tarde, estes adolescentes que não
encontram amor e segurança “dentro de casa”, tendem a ir procurá-lo com terceiros
(nem sempre confiáveis), como forma de suprir a carência.
Muitos pais que não criam espaço em suas vidas para os filhos também sentem-se
culpados por saberem que não estão oferecendo tudo que a criança necessita,
portanto têm receio em ensinar limites e tentam compensar com presentes ao
invés de dar-lhes o que mais desejam “tempo” (leia-se amor, atenção...). É
necessário ter consciência de que a qualidade é importante sim, mas deve estar
sempre associada à quantidade. Vamos transformar essa teoria em resultados
práticos e positivos? Se a relação for afetiva, contínua e imutável, a distância será
apenas um detalhe. Mas como conseguir essa fórmula? Telefonemas, torpedos,
bilhetes, programas no final de semana, conversas no carro, durante as refeições.
Caso não seja de costume buscá-los ou deixá-los na escola, vale a pena o esforço
para fazer essa “surpresinha” de vez em quando. E tem mais: se prometeu ligar,
faça-o na hora combinada, isso é essencial para demonstrar cuidado e dedicação.
Mantenha sempre contato com o colégio e procure conhecer de perto suas
amizades... E o mais importante de tudo isso: não tenha receio de sempre deixar
muito evidente o quanto ama seu filho(a). Mesmo sendo escasso o tempo, carinho e
afeto são grandes exemplos do quanto a relação pode ser positiva. Em outras
palavras, é impossível não adequar tantas possibilidades à qualquer profissão.
Essas iniciativas e gestos tão simples, com certeza darão maiores probabilidades de
que eles cresçam mais felizes, transformando-se em adultos plenamente capazes de
conviver em sociedade e futuramente também exercerem seus papéis de pais, mães
e profissionais com total equilíbrio e harmonia.
Não quero com tudo isso dizer que criar filhos é tarefa das mais simples. Quem
nunca ouviu: “ser mãe (ou pai) é padecer no paraíso”? Ter filhos requer maturidade,
renúncia e abnegação voluntárias (com coerência, é claro!) em prol de um ser que
depende dos pais para sobreviver (em todos os aspectos). Sabemos que pais
perfeitos não existem, mas o essencial é que estejam sempre disponíveis, que sejam
de fácil acesso e diálogo. A receita ideal não existe, a gente mistura um ingrediente
daqui, outro dali... uma pitadinha disso ou daquilo. Enfim, depende de cada um,
mas é inquestionável que tempo em quantidade e qualidade estipula limites,
promove a independência, cria laços de confiança e amizade entre pais e filhos, e
isso pode significar uma família mais ajustada. Afinal de contas, criança aprende
pelo exemplo que recebe e não por frases cheia efeitos, mas vazias em significados.
É indispensável assumir também o papel de pais profissionais e não delegar esse
ofício, o qual deveria ser intransferível. A interação entre pais e filhos é preciosa,
cada minuto desse tempo é insubstituível, pois não volta atrás. Vale a pena
priorizar a família, refletir e otimizar a utilização do tempo. Essa medida poderá ser
um grande começo para uma sociedade melhor!
Christiane Lima: Assistente Social, Psicopedagoga, Especialista em Saúde da
Família e professora universitária.
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