Meu Filho Não Come Bem
Mais de metade das crianças tem alguma dificuldade para comer, e 70% dessas mães acredita que
isso atrapalha a relação com seus filhos. Esses dados são de uma pesquisa realizada pela Ipsos, e
publicada na revista Época, com quase 1000 mães brasileiras. Ainda segundo as entrevistadas,
quase metade das crianças não come tudo que está no prato; não tem interesse pela comida; e
come sempre o mesmo alimento. Um terço das mães confessa oferecer a comida preferida do filho
para ele comer mais.
A alimentação dos filhos é uma forma do cuidado e amor das mães. Por isso, quando a criança não
come bem, algumas mães sentem-se rejeitadas, segundo a psicanalista da USP Audrey Setton de
Souza. Os pais precisam estabelecer limites de horários e de itens que fazem parte da alimentação
dos filhos. Mas isso não deve resultar em refeições tensas, o que pode ter impactos negativos na
autoestima da criança e na sua relação com o alimento.
A velocidade de crescimento e de ganho de peso, que é muito acelerada no primeiro ano de vida,
começa a decrescer a partir de então. Isso faz com que a criança passe a comer relativamente
menos. Além disso, é uma fase de maior interesse pelo ambiente ao redor, e menos pelo alimento.
A partir dos 3 anos a neofobia alimentar, que é a aversão a experimentar alimentos novos, ganha
destaque. A criança começa desenvolver também mecanismos de saciedade. Porém, quando
ultrapassado repetidamente por insistência para comer mais, a criança perde esse mecanismo, não
conseguindo mais perceber quando já está saciada.
Essa redução normal de apetite dos filhos costuma frustrar a expectativa dos pais. Na tentativa de
fazer com que a criança coma mais, os adultos adotam estratégias equivocadas. Atitudes como
liquefação dos alimentos, distrações com TV e brinquedo durante a hora de comer, substituição de
refeições por lanches, ameaças e recompensas são muitas vezes utilizadas e trazem
consequências negativas no hábito alimentar dos pequenos.
O resultado do atendimento das vontades alimentares e insistência em que a criança coma mais
são a redução da percepção de fome e saciedade, aversão por frutas e verduras, consumo elevado
de alimentos ricos em açúcar, gorduras, aditivos químicos e sal. Em longo prazo as consequências
são obesidade infantil, colesterol alto e outros distúrbios alimentares. Além disso, o momento da
refeição torna-se desgastante e é utilizado como forma de chamar atenção.
O menor interesse das crianças pelos alimentos é uma fase que deve ser passada com
tranquilidade. É esperada a regressão natural desse comportamento, sendo muito importante a
oferta repetida dos alimentos e em diferentes formas de apresentação, o exemplo de hábitos
alimentares dos pais e o estabelecimento de limites e combinados.
Tatiana Medeiros Mota – Nutricionista (CRN5 3566)
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