Curso Panamericano FIE de
formação de Mestres de Esgrima
Especialidade Florete
Professora Gabriella Rodrigues
Porto Alegre, RS
2013
SUMÁRIO
I. INTRODUÇÃO................................................................. 2
II. ASPECTOS TEÓRICOS .................................................... 3
II.I. O FLORETE E O ATAQUE......................................................................... 3
II.II. A BIOINFORMAÇÃO ......................................................................... 3
II.III. A BIOENERGIA................................................................................ 4
II.IV. AÇÕES DA ESGRIMA ........................................................................ 5
II.V. QUESTÕES TÉCNICAS/TÁTICAS DA ESGRIMA ...................................... 6
II.VI. CARACTERÍSTICAS DE UM ESGRIMISTA DE ALTO NÍVEL ...................... 7
III. ASPECTOS TÉCNICOS/PRÁTICOS ................................ 7
III.I. A GUARDA......................................................................................... 7
III.II. O TOQUE ........................................................................................... 9
III.III. A PARADA ...................................................................................... 9
IV. SCOUT DO COMBATE ................................................ 10
V. CONCLUSÃO ................................................................ 11
ANEXOS .......................................................................... 12
I. Introdução
A Esgrima é um esporte vantajoso no que diz respeito à sua prática, pois
diferentemente de outros esportes, a seleção física (peso, estatura, e/ou idade)
não é um fator tão determinante para o desempenho do praticante. Contudo, é
um esporte no qual será desenvolvido, além de aspectos físicos (agilidade,
coordenação, controle corpóreo, resistência, entre outros) aspectos cognitivos
(perspicácia visual, tomada de decisão, entre outros). Portanto, mesmo sendo
um esporte que proporciona a prática para distintos indivíduos, a Esgrima exige
dedicação e desejo de progressão.
O Florete é uma das armas da Esgrima, no qual é necessária destreza,
já que sua área válida de toque é restrito (tronco). Além disso faz-se necessário
um entendimento teórico sobre esta arma, pois há a regra de prioridade do
toque, no qual o floretista deve estar com seu repertório físico/tático aprimorado
para valer-se positivamente desta regra.
Ao passo que esta arma exige comprometimento em relação ao
entendimento de suas técnicas, este trabalho pretende apresentar aspectos
teóricos e práticos sobre o ensino do Florete, através do conhecimento
adquirido durante o Curso Panamericano FIE de formação de Mestres de
Esgrima Especialidade Florete, realizado no período de 19 de maio a 03 de
junho de 2013, em San Salvador – El Salvador. A intenção do presente
trabalho é de auxiliar, na atualidade e no futuro, a disseminação deste esporte
em nosso país.
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II. Aspectos Teóricos
A Federação Internacional de Esgrima (FIE) está desenvolvendo cursos
de formação de mestres de Esgrima com a intenção de melhorar a
possibilidade de resultados na América (Central e do Sul), pois na história da
Esgrima mundial, somente Europa, EUA e China possuíam resultados
significativos em competições internacionais. Além disso, a FIE pretende
disseminar o esporte em toda América através destes cursos.
Sobre a iniciação de um esgrimista, é de extrema importância
estabelecer regras de segurança desde o primeiro momento do aluno em uma
sala de esgrima.
II.I. O florete e o ataque
O florete é uma das 2 armas que possuem convenção (a outra arma que
também possui convenção é o sabre), ou seja, existe a prioridade do ataque.
Um bom ataque é executado quando o toque ocorre antes que o pé da
frente chegue ao solo.
Um toque não válido (luz branca) é um ponto/ataque perdido, ou seja, há
perda de energia e/ou oportunidade.
II.II. A Bioinformação
Há 20 anos atrás a antecipação do braço ao realizar um afundo era um
problema por questões biomecânicas. Atualmente a Esgrima passa por outras
formas de discussões, como por exemplo, a bioinformação.
A bioinformação é a maneira que o nosso corpo interpreta de forma
rápida todos os estímulos recebidos/produzidos: intrínsecos, proprioceptivos
(extrínsecos – movimento/espaço-temporal) e a externocepção (os sentidos).
O esquema abaixo reproduz a hierarquia dos dados que nosso corpo
interpreta através da bioinformação:
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CÉREBRO
INFORMAÇÃO
RESULTADO
percepção
decisão
execução
Quando há necessidade de fazermos uma decisão com um intervalo de
tempo simples, por exemplo, apertar um botão quando uma luz branca acende,
o tempo de reação em nosso cérebro é de 180/200 milissegundos. Porém
quando há uma decisão mais complexa, por exemplo, apertar um botão
quando uma luz branca acender enquanto há também uma luz vermelha, o
tempo de reação passa a ser de 350/400 milissegundos. Na esgrima,
especificamente, utilizamos a seguinte “equação” para entendermos estes
processos supracitados:
Tempo de resposta = tempo de reação + tempo de movimento
II.III. A Bioenergia
Na Esgrima há esforços alternados, ou seja, durante um combate
diversas valências físicas são exigidas do atleta:
AERÓBICA
potência aeróbia (deslocamentos em alta intensidade
durante um período de 10 segundos, em 10 repetições com intervalo de 10
segundos entre as repetições).
ANAERÓBICA
Alática (0 = 6 >*15’’)
Lática (15’’
**3’)
*15 segundos **3 minutos
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SABRE 3’’
FLORETE 5’’
ESPADA 10’’
Tempo de duração de uma Frase D’armas
Se há disponibilidade de tempo para treino por parte do atleta (± 40
h/semana) pode-se treinar técnico e físico, porém se não há tempo disponível,
deve-se priorizar o treinamento técnico de Esgrima.
II.IV. Ações da Esgrima
Divisão tática das ações da Esgrima:
AÇÕES DA ESGRIMA
Preparatórias
Efetivas
Ofensivas
Defensivas
Ataque
Ofensiva-defensiva
Parada
Resposta
Ponta em linha
Esquiva
Contra-resposta
Contra-ataque
Distância
Remessa
Repetição de Ataque
Redobrar
Contra-tempo
Premeditado
Semi-premeditado
Espontâneo
(há troca da ação que era premeditada)
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II.V. Questões técnicas/táticas da Esgrima
Eixo técnico-tático
INCERTEZAS*
INCERTEZAS
TÉCNICA
TÁTICA
SINAIS
SINAIS
*INCERTEZAS: como, onde, quando e porque.
SINAL
PARA O
TOQUE
MESTRE
ALUNO
Apenas a mão
Ataque
Mão 1º + Perna 2º
Parada
Mão + Pernas (juntos)
Ataque sobre a preparação
Corpo + Pernas
Contra-ataque
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II.VI. Características de um esgrimista de alto nível
Inteligência emocional
Coordenação
Autocontrole
Paciência
Decisão/confiança
Oportunismo
Velocidade
Velocidade na Esgrima
Velocidade de Reação
Velocidade Pernas e Pés
Velocidade mão+arma
Influência
Depende da arma
Neurológica
Frequência
Força
Adaptação
Amplitude
Ritmo
Força
Endurance
Técnica
Dinâmica
Coordenação
Genética
Dinâmica
Condução
Movimento
da ponta
de punho
Tempo de resposta
Tempo de movimento
III. Aspectos Técnicos/Práticos
III.I. A guarda
Recomenda-se iniciar a Esgrima com 6 anos de idade, porém utilizar
material adaptado para tal idade. Independentemente da idade ou experiência
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motora do futuro esgrimista, o primeiro passo que um esgrimista deve aprender
para manter-se equilibrado para o desenvolvimento de suas ações, é a guarda.
Esta é a única posição no qual o esgrimista estará preparado para desenvolver
qualquer ação durante seu combate. Abaixo temos algumas sugestões de
exercícios para trabalharmos a guarda:
Trabalho de equilíbrio na guarda (percepção auditiva):
Exercício 1: Ao comando do professor o aluno realizará o movimento
relativo ao número:
Número 1: em guarda, no lugar, sem deslocamento, executar o
movimento de extensão do joelho da perna da frente.
Número 2: retornar a perna da frente para a posição inicial de
guarda.
Número 3: realizar o movimento de meio-romper (afastar a perna
de trás).
Número 4: retomar a perna de trás para posição inicial de guarda.
Exercício 2: Realizar deslocamento simples (marchar) com diferentes
tempos de desenvolvimento (3 tempos – perna/calcanhar, planta do pé e
perna de trás; 2 tempos - perna/calcanhar e chegada da perna de trás
ao mesmo tempo do pé). No primeiro momento realizar estes
deslocamentos fazendo barulho com os pés, e em seguida, realizar sem
nenhum barulho para trabalhar o controle corporal.
Variação: realizar este exercício com os olhos fechados para perceber a
coordenação do movimento e para manter o equilíbrio da guarda.
É importante ressaltar que classificamos os tipos de exercícios da
Esgrima em dois grupos: 1) Exercícios Reais; 2) Exercícios Complementares;
os Reais são aqueles que realizamos para simular os acontecimentos do
combate, e os Complementares, são aqueles que não são exatamente a
simulação do combate, porém agregam ao treinamento do atleta.
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III.II. O toque
Para alunos iniciantes o professor deve realizar o sinal para o toque com
o movimento de braço e não somente da arma.
É necessário salientar ao aluno que no movimento do toque deve haver
liberação dos dedos na empunhadura, e o movimento em si realizado pela
extensão do cotovelo, auxiliado pelos músculos do ombro responsáveis pela
flexão horizontal.
III.III. A parada
A parada é uma ação defensiva. Nomeia-se com a posição equivalente
(parada de 6ª, parada de 4ª, etc.).
Existem 4 tipos de paradas – lateral, semi-circular, circular e diagonal.
Quando a lâmina do adversário está próxima da minha lâmina, realizar
parada circular; quando a lâmina do adversário está mais afastada da minha
lâmina, realizar a parada lateral.
A parada deve ser realizada com as seguintes partes da lâmina: parte
forte ou parte média, representadas na figura abaixo pelos números 3 e 2
respectivamente:
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IV. Scout do combate
A palavra scout é de origem inglesa, no qual podemos encontrar
diversas traduções para o português. A tradução mais fidedigna ao esporte
seria: observar/explorar. Este é o principal objetivo de um trabalho de scout,
explorar as diversas possibilidades de ações de um adversário, encontrando
pontos fortes e fracos deste atleta, assim como analisar tais dados para
definição estratégica de jogo do seu próprio atleta.
O esquema abaixo demonstra, de forma prática, como realizar um scout
de jogo:
Atleta A
Atleta B
APRo
BCAx
BCAo
APCRo
1º passo: determinar siglas para as ações da esgrima (ex.: Ataque – A;
Parada Resposta – PR; Contra Ataque – CA, etc.).
2º passo: nomear uma letra/número para cada atleta (A ou B; 1 ou 2).
3º passo: em cada toque (válido ou não), descrever a ação em uma linha
que estará logo abaixo do esquema que representa a pista, e realizar esta
descrição a cada toque, ou seja, no final do combate, basta verificar quantas
linhas existem para saber quantas ações ocorreram durante o jogo. Ainda sobre
esta anotação, é interessante realizá-la justamente na área da pista em que
ocorreu o toque.
4º passo (este passo é simultâneo ao anterior): descrever tanto no
desenho que representa a pista quanto ao lado da sigla que foi descrita na linha
uma letra “o” para toque válido e uma letra “x” para toque não válido.
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Para análise tática mais apurada, sugere-se realizar tais anotações em
um programa Excel, pois pode-se programar as fórmulas e definir-se a
efetividade de cada atleta (toques válidos versus toques não válidos).
Outro detalhe importante é determinar um asterisco (*) para as ações no
qual houve dúvida sobre a decisão do árbitro, para que não ocorre injustiça ao
realizar a interpretação do scout.
Basicamente deve se realizar o scout de forma que aja entendimento
das partes no qual há interesse por esta análise (técnicos, assistentes a até
mesmo o próprio atleta), não se deve realizar uma descrição muito complexa,
pois neste momento da análise o sucinto pode facilitar bastante o trabalho.
Contudo, não podemos ser negligentes na descrição das ações e muito menos
não descrever a realidade para “favorecer” nosso atleta, pois o scout deve ser
uma ferramenta de análise tática e sempre que não realizarmos as descrições
com a realidade irá prejudicar o nosso próprio trabalho.
V. Conclusão
Este trabalho foi desenvolvido através de uma pequena parcela de
conhecimento da Esgrima, mais precisamente, o Florete. Entretanto, o
conhecimento adquirido e repassado por este trabalho, é um alicerce para a
uma futura construção total do ensino/prática do Florete.
Acredito que através deste trabalho possa-se obter um entendimento
maior sobre este esporte, além de proporcionar a motivação para a busca de
outros aspectos importantes para o desenvolvimento da Esgrima em nosso
país, através de um número maior de praticantes e a adesão destes, pois é
importante a prática, porém a permanência na Esgrima é ainda mais relevante,
visto que este esporte requer aprendizado progressivo.
Por fim, agradeço à todos que proporcionaram esta grande oportunidade
de disseminar o aprendizado adquirido, e principalmente àqueles que se
disponibilizaram em ler este trabalho.
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ANEXOS
Trabalho de batida
1) Batida com reação: 2 batidas (em partes diferentes da lâmina) + afundo.
Variação: 1 batida.
Variação: engaja e após realiza batida 2x + afundo.
Trabalho de toque
1) Mestre: levanta a ponta, o aluno engaja, sinal para o toque (abre a linha
e se aproxima do aluno para toque em distância de à pé firme).
Variação: toque em desengajamento (mestre busca a lâmina), com
outras distâncias.
2) Mestre: lâmina neutra, então o mestre posiciona a lâmina (em alguma
posição 6ª, 4ª, 7ª, 8ª) e o aluno deve realizar a batida equivalente à tal
posição e fazer o toque em afundo, por golpe direto.
3) Mestre: lâmina reta → Aluno: golpe direto.
Mestre:
lâmina
em
diagonal
(a
ponta
para
fora)
→
Aluno:
desengajamento.
Variação: com batida + mestre mantém lâmina reta e braço reto (aluno
realiza golpe direto) se mestre recolhe o braço (aluno realiza
desengajamento).
Mestre: lâmina neutra → se subir = aluno desengaja
→ se aproximar do copo do aluno = coupé
4) Toque em desengajamento ou golpe direto, precedido de batida (se
mestre reagir, o aluno desengaja; se não reagir, aluno realiza golpe
direto). Na primeira batida, toque em marcha; na segunda batida , toque
em afundo.
*Mestre rompe nos 2 momentos (na batida e na reação).
Variação: salto a frente ao invés da marcha (para encurtar o tempo de
ação do aluno).
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Trabalho de parada e resposta
1) Mestre: se a lâmina do mestre aproximar-se da lâmina do aluno, o aluno
deve realizar parada de contra de 6ª; se a lâmina estiver mais afastada,
o aluno deve realizar parada de 4ª.
Resposta à pé firme, somente ao sinal do mestre (convite).
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Relatório do Curso Pan-Americano FIE de formação de Mestres de