Texto utilizados para a elaboração das questões da prova de Sociologia do primeiro semestre
A hora da estrela
O romance narra as desventuras de Macabéa, uma moça sonhadora e ingênua, recém-chegada do
Nordeste ao Rio de Janeiro, às voltas com valores e cultura diferentes.
Macabéa leva uma vida simples e sem grandes emoções. Começa a namorar Olímpico de Jesus, que não
vê nela chances de ascensão social de qualquer tipo. Assim sendo, abandona-a para ficar com Glória
(colega de trabalho), cujo pai era açougueiro, o que sugeria ao ambicioso nordestino a possibilidade de
melhora financeira. Sentindo dores constantes, Macabéa vai ao médico e descobre que tem tuberculose,
mas não conta a ninguém. Glória percebe a tristeza da colega e a aconselha a buscar consolo numa
cartomante. Madame Carlota prevê um futuro feliz, que viria de um estrangeiro assim que a nordestina
saísse daquela casa. De certa forma, é o que acontece: ao sair da casa da cartomante, Macabéa é
atropelada por um homem que dirigia um luxuoso Mercedes-Benz e acaba morrendo. Esta é a sua "hora
da estrela", momento de libertação para alguém que, afinal, "vivia numa cidade toda feita contra ela".
Macabéa é personagem de A hora da estrela, de Clarice Lispector (1925-1977), romance publicado em
1977. Talvez a fonte inspiradora de Macabéa tenha sido o romance La dentellière, de Pascal Lainé, que
Clarice traduziu em 1975, com o título A rendeira.
Aos dezenove anos, virgem e sem estudo – cursou apenas até o terceiro ano primário, Macabéa deixou o
sertão de Alagoas para tentar ganhar a vida no Rio de Janeiro. Moradora de um quarto na rua do Acre
com mais quatro companheiras, trabalha todos os dias até a estafa. Datilógrafa medíocre, copia letra por
letra para não errar. Chegou a ser demitida por cometer muitos erros de ortografia e, ao reagir com um
pedido de desculpas, comoveu o seu chefe que, por pena e admiração, decidiu mantê-la no emprego.
Macabéa vê a vida como uma coisa que apenas é porque é: já que sou, o jeito é ser. Ela não se questiona,
sua existência é apenas ser, como um cachorro é cachorro sem o saber. Raquítica, sem vocação, sem
sonhos e sem objetivos, acredita mesmo ter sido “soprada” no mundo - como quando um cisco é soprado
do olho.
Tola, solitária, doce e obediente, alimenta a lembrança de uma infância triste e uma saudade do que
poderia ter sido e não foi. Seu único luxo é o cinema uma vez por semana e sua única paixão é "goiabada
com queijo". A única fantasia que ela se permite é ser uma estrela de cinema. Gosta de acordar bem cedo
aos domingos para ficar mais tempo sem fazer nada. No cais do porto sente o coração apertar ao chamado
do navio. Não sabe o motivo, nem isso importa, apenas experimenta um raro momento de conforto em
sua vida sem relevo, que só brilhará na hora da morte: seu único momento de verdade, decretado por um
carro que a atropela e a transforma em estrela. Finalmente, protagonista de sua própria morte, ela “é”:
“Hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci.”
Admirável mundo novo
Admirável Mundo Novo (Brave New World na versão original em língua inglesa) é um livro escrito
por Aldous Huxley e publicado em 1932 que narra um hipotético futuro onde as pessoas são précondicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e
regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas. A sociedade desse "futuro" criado por
Huxley não possui a ética religiosa e valores morais que regem a sociedade atual. Qualquer dúvida e
insegurança dos cidadãos era dissipada com o consumo da droga sem efeitos colaterais chamada "soma".
As crianças têm educação sexual desde os mais tenros anos da vida. O conceito de família também não
existe.
O personagem Bernard Marx sente-se insatisfeito com o mundo onde vive, em parte porque é fisicamente
diferente dos integrantes da sua casta. Num reduto onde vivem pessoas dentro dos moldes do passado
(uma espécie de "reserva histórica" - semelhante às atuais reservas indígenas - onde preservam-se os
costumes "selvagens" do passado (que corresponde à época em que o livro foi escrito), Bernard encontra
uma mulher oriunda da civilização, Linda, e o filho dela, John. Bernard vê uma possibilidade de
conquista de respeito social pela apresentação de John como um exemplar dos selvagens à sociedade
civilizada.
Para a sociedade civilizada, ter um filho era um ato obsceno e impensável, ter uma crença religiosa era
um ato de ignorância e de desrespeito à sociedade. Linda, quando chegada à civilização foi rejeitada pela
sociedade.
O livro desenvolve-se a partir do contraponto entre esta hipotética civilização ultra-estruturada (com o
fim de obter a felicidade de todos os seus membros, qualquer que seja a sua posição social) e as
impressões humanas e sensíveis do "selvagem" John que, visto como algo aberrante, cria um fascínio
estranho entre os habitantes do "Admirável Mundo Novo".
Aldous Huxley escreveu, mais tarde, outro livro, chamado Retorno ao Admirável Mundo Novo, sobre o
assunto: um ensaio onde demonstrava que muitas das "profecias" do seu romance estavam a ser
realizadas graças ao "progresso" científico, no que diz respeito à manipulação da vontade de seres
humanos.
Da lama ao Caos
Nação Zumbi
Posso sair daqui para me organizar/
Posso sair daqui para desorganizar/
Da lama ao caos/ Do caos à lama/
Um homem roubado nunca se engana/
O sol queimou, queimou a lama do rio/
Eu vi um Chié andando devagar/
Vi um aratu pra lá e pra cá/
Vi um caranguejo andando pro sul/
Saiu do mangue, virou gabiru/
Oh, Josué, eu nunca vi tamanha desgraça/
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça/
Peguei o balaio, fui na feira roubar tomate e cebola/
Ia passando uma véia pegou a minha cenoura/
Aí minha véia, deixa a cenoura aqui/
Com a barriga vazia / Não consigo dormir/
E com o bucho mais cheio comecei a pensar /
Que eu me organizando posso desorganizar/
Que eu desorganizando posso me organizar/
Da lama ao caos/ Do caos à lama/
Um homem roubado nunca se engana/
Morte de Marulanda é o começo do fim das Farc, diz chanceler colombiano
da Folha Online
O chanceler colombiano, Fernando Araújo, afirmou nesta segunda-feira que a morte de Manuel
Marulanda, conhecido como Tirofijo (tiro certeiro), "é o começo do fim" das Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia).
"É o começo do fim para as Farc, são golpes e incidentes que vão se sucedendo cada vez mais rápido",
disse Araújo, em Bogotá, à emissora Radioprogramas del Peru.
"O país vê com esperança o colapso desta organização narcoterrorista, que durante 44 anos tem enchido a
Colômbia de terror e dor. Já começamos a ver a luz no outro lado do túnel", afirmou.
O chanceler ressaltou que a morte de Marulanda junta-se a outros acontecimentos como a morte recente
do número dois da organização Raul Reyes --em um bombardeio a um acampamento das Farc em
território equatoriano, que deu início a um conflito diplomático entre Colômbia, Equador e Venezuela-- e
de Iván Ríos, que integrava o "secretariado" (cúpula) das Farc.
Araújo relembrou também que há duas semanas, uma importante chefe guerrilheira conhecida como
"Karina", se entregou ao governo. Segundo ele, ela teria "espalhado muito terror, durante muitos anos e
era um pouco emblemática".
Segundo o chanceler, a política do presidente Álvaro Uribe está dando resultados, com a desmobilização
de mais de 10 mil integrantes das Farc.
Líder
Segundo comunicado divulgado neste domingo (25), as Farc nomearam Alfonso Cano como novo líder.
A declaração foi divulgada junto da nota que reconheceu a morte do líder máximo do grupo Manuel
Marulanda. Cano é considerado o líder ideológico e da tendência moderada da guerrilha.
O guerrilheiro, que tem cerca de 50 anos, estudou Direito em uma universidade pública e era até então o
ideólogo político e coordenador do bloco ocidental das Farc, que atua no sudoeste da Colômbia.
Alfonso Cano entrou para as Farc após militar nos anos 70 na juventude do Partido Comunista, do qual
chegou a ser um dos principais líderes. Foi preso três vezes quando era dirigente estudantil, após uma
série de protestos na Universidade Nacional.
Grande Sertão Veredas
Riobaldo e Diadorim são personagens dos mais intrigantes da literatura brasileira. Riobaldo, ou
Taturana, Urutu-Branco é o narrador-protagonista do romance Grande Sertão: Veredas (1956), do escritor
João Guimarães Rosa (1908-1967).
Riobaldo, morador às margens do São Francisco, conta sua trajetória de vida com acentos e jeitos
sertanejos – uma inusitada invenção de linguagem, a um interlocutor que nunca se pronuncia, a quem ele
chama “Senhor” ou “Moço”. Em sua narrativa, intérprete dos segredos das veredas, Riobaldo tece a
história de sua vida – um discurso de descoberta e autoconhecimento: revelando o sertão-mundo, revelase a si próprio, como se dissesse “o sertão sou eu” para reconhecer-se. Nessa perigosa travessia,
Riobaldo confronta as forças do bem e do mal, retoma, num fluxo de memória, o fio de sua vida e narra
as grandes lutas dos bandos de jagunços, descreve os feitos e características de diversos personagens,
revelando os códigos de honra e de procedimentos do sertão.
Ex-jagunço de um bando dos “sertões das gerais” (sul da Bahia, norte de Minas Gerais e norte e nordeste
de Goiás), Riobaldo assume a liderança do bando com a morte de Joca Ramiro, seu chefe, assassinato por
Hermógenes, líder de um grupo rival. Riobaldo tenciona vingar a morte de Joca Ramiro, para ele uma
questão de honra. Nessa intenção tenta um pacto com o demônio, para obter proteção e força na vida de
jagunço.
Uma das grandes angústias de Riobaldo era sobre a existência do “Diabo”, e se verdadeira a sua condição
de pactuário. Ao final da narrativa está certo que não: “Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se
for... Existe é homem humano.” No meio de sua travessia, surge a enigmática relação de amizade e
afeição com um companheiro de pelejas, com quem dialogava todo o tempo. Ficam amigos e confidentes.
Diadorim é Reinaldo, filho do grande chefe Joca Ramiro, traído por Hermógenes.
Diadorim era sério, “não se fornecia com mulher nenhuma”. Destemido, calado, de feições finas e
delicadas, impressionava Riobaldo e exercia sobre ele grande fascínio: “Mas eu gostava dele, dia mais
dia, mais gostava. Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e
nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego”.
Diadorim tinha como objetivo vingar a morte do pai e consegue, após muitas lutas e andanças. Em
sangrento duelo, mata Hermógenes, mas é ferido mortalmente. Ao receber a notícia da morte do amigo,
Riobaldo é tomado por dor intensa e, em desespero, estarrecido, exclama: “Meu amor”, diante do corpo
desnudo a revelar o grande segredo do companheiro.
Após o trágico fim de Diadorim, Riobaldo desiste da vida de jagunço e adota um comportamento de
devoção espiritual, orientado pelo seu compadre Quelemém. Casa-se com Otacília e torna-se proprietário,
ao receber duas fazendas de herança.
Inflação de alimentos faz receita do grande varejo disparar, diz IBGE
CIRILO JUNIOR da Folha Online, no Rio
A inflação dos alimentos teve influência direta na receita nominal do setor de hiper e supermercados, que
cresceu 6,5% em março em relação ao mês anterior. Na mesma comparação, o volume de vendas nos
super e hipermercados teve elevação bem mais tímida, de apenas 0,9%. Os dados fazem parte da Pesquisa
Mensal de Comércio de março, divulgada nesta quinta-feira.
"A receita nominal do comércio foi fortemente influenciadada pelo segmento de super e hipermercados,
devido ao aumento dos preços dos alimentos. O volume comercializado nesse setor não foi significativo",
afirmou o coordenador da pesquisa, Nilo Lopes de Macedo.
A receita nominal do comércio teve incremento de 2,3% em março, na comparação com fevereiro. As
vendas do comércio varejista aumentaram 1,8% no terceiro mês de 2008. O resultado, segundo Macedo,
retoma o ritmo consolidado de crescimento do comércio, após uma variação negativa de 0,7% em
fevereiro, na comparação com o mês anterior.
"O resultado de fevereiro foi influenciado pelo carnaval, que aconteceu na 1ª semana. Gasta-se um pouco
mais no Carnaval, e isso pode ter comprometido a receita das famílias no restante do mês. O comércio
voltou ao seu ritmo normal em março", explicou.
Outro fator que influenciou o resultado de março foi a Páscoa. A data, que geralmente acontece em abril,
impulsionou as vendas em super e hipermercados. Na comparação com março de 2007, esse segmento
registrou alta de 8,5%. Super e hipermercados exercem a maior influência sobre o índice de vendas do
comércio.
Macedo ressaltou que o resultado recorde no 1º trimestre --aumento de 12% sobre o período de janeiro a
março de 2007-- surpreende um pouco, já que esperava-se índice menores, em função da alta base de
comparação após os bons resultados do ano passado. Ele disse ainda que existia a temeridade de a
esperada inadimplência, que não aconteceu, afetasse o ritmo do comércio.
"Havia o temor de que, diante das fortes vendas que vem sendo verificadas, a inadimplência aumentasse,
Isso poderia influenciar na seqüência do comércio", observou.
O economista evitou fazer projeções para o restante do ano, mas destacou que as obras do PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento) poderão ter efeito positivo no comércio, devido à geração de
empregos e renda.
Nos Estados, a maior alta do comércio foi registrada em São Paulo. Houve incremento de 17,7%, frente a
março de 2007. Na outra ponta, Roraima teve redução de 6,7%. Na comparação com fevereiro, foi
verificada alta de 7,2% na Bahia, e queda de 2% no Tocantins.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u402153.shtml>. Acesso em 26 de
maio de 2008.
"Mulheres são burras", diz diretor do departamento penitenciário
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Diretor do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), órgão vinculado ao Ministério da Justiça,
Maurício Kuehne culpa as próprias mulheres pelo fato de 62% das presas do país não receberem nenhum
tipo de visita social. "Vou usar uma explicação simplista e que me perdoem as mulheres: é que as
mulheres são burras", disse Kuehne, ao ser questionado pela Folha se há uma explicação para esse
percentual.
"Elas [mulheres] vão visitar os homens [presos], mas, quando elas são encarceradas, os homens não vão
visitá-las. É uma questão de cultura machista", completou.
Segundo o diretor do Depen, o baixo índice de visitação nos estabelecimentos para mulheres influencia
diretamente no dia-a-dia do estabelecimento. "Influencia, porque a pessoa que não tem essa relação
familiar, sua agressividade vai cada vez mais se acentuando. E a dele também, o homem agressivo nos
estabelecimentos penais é justamente por conta disso, de não ter o apoio familiar."
Segundo ele, 80% dos homens presos recebem visitas sociais. "Os que não recebem é porque a
penitenciária é distante, e a família não tem recursos [para o deslocamento]."
No ano passado, o governo federal repassou R$ 210 milhões aos Estados, para ações específicas para o
sistema penitenciário. Para 2008, estão previstos R$ 520 milhões. "[Esse valor] é um reconhecimento
explícito, por parte do governo federal, de que precisa dar mais auxílio aos Estados. Só que esse auxílio
ainda é pouco. Ele não vai resolver o problema carcerário dos Estados."
Para a juíza Dora Martins, presidente do conselho-executivo da AJD (Associação Juízes para a
Democracia), algumas burocracias também têm dificultado as visitas sociais às mulheres, como a
exigência, em alguns estabelecimentos, de que as crianças estejam acompanhadas por aquele que tem a
sua guarda. Um simples familiar, por exemplo, às vezes não é suficiente.
"Num domingo, na porta de uma penitenciária masculina e de uma feminina, você já percebe essa
diferença. É um corte de gênero. Mas dentro da administração [penitenciária] há uma série de
impedimentos. Elas [presas] se queixam de não receber a visita das crianças [filhos]", afirma a juíza
Martins. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u405471.shtm> acessado em
26 de maio de 2008.
O cortiço
O cortiço é um romance de autoria de Aluísio Azevedo e foi publicado em 1890. É um marco do
Naturalismo no Brasil, onde os personagens principais são os moradores de um cortiço no Rio de Janeiro,
precursor das favelas, onde moram os excluídos, os humildes, todos aqueles que não se misturavam com
a burguesia, e todos eles possuindo os seus problemas e vícios, decorrentes do meio em que vivem.
O autor descreve a sociedade brasileira da época, formada pelos portugueses, os burgueses, os negros e os
mulatos, pessoas querendo mais e mais dinheiro e poder, pensando em si só, ao mesmo tempo em que
presenciam a miséria, ou mesmo a simplicidade de outros.
O romance não se concentra em um personagem apenas, mas no início, a ação está mais ou menos
centrada no português João Romão, ganancioso e avarento comerciante que consegue enganar uma
escrava trabalhadeira chamada Bertoleza (Aluísio várias vezes menciona o conceito racista de que
Bertoleza era submissa e trabalhadeira por ser negra), conseguindo assim, uma empregada que trabalhava
de graça. João Romão privava-se de todo o luxo, e só gastava dinheiro em coisas que faziam-no ganhar
mais dinheiro. Foi assim que ele começou a comprar terreno e construiu o Cortiço.
Miranda, vizinho rico de Romão, e também português, que vivia no luxo, começa a questionar o modo
que conseguiu a riqueza, (Se casou com uma mulher rica, Estela, e eles se odeiam mutuamente) e a
invejar João Romão, enriquecendo por conta própria. João Romão, que continua enriquecendo, constrói
uma pedreira, e contrata o português Jerônimo para supervisionar os trabalhadores.
O que se segue é a transformação de Jerônimo, de um português forte, trabalhador e honesto em um
brasileiro malandro e preguiçoso, (Seguindo os preceitos naturalistas de que o meio determina o homem)
graças à sua atração por Rita Baiana, uma mulata que morava no cortiço. Jerônimo briga com Firmo,
namorado de Baiana, é esfaqueado e vai para o hospital. Quando sai, chama uns amigos e vai ao cortiço
vizinho, o "Cabeça de Gato", onde mata Firmo a pauladas.
Enquanto isso, João Romão começa a invejar Miranda, que acaba de conseguir um título de nobreza. E,
quando o cortiço é destruído por um incêndio, ele o reconstrói, mas desta vez, para a classe média, ao
invés da ralé que morava lá antes. Depois, ele começa a comprar coisas caras e se interessa em se casar
com a filha de Miranda, para se tornar nobre também. Mas há um problema: Bertoleza.
João Romão arma um plano para se livrar de Bertoleza. Ele avisa ao dono dela (Pois ele havia forjado a
carta de alforria) de seu paradeiro, esperando que ele a pegasse de volta. Mas, quando o dono dela vem
buscá-la, ela se mata, abrindo a barriga com a mesma faca com que cortava peixe.
O ônibus é a praia do povo
Há alguns anos, eu me pergunto o porquê dessa onda de usar roupas apertadas, seguramente de
numeração menor do que o corpo que vestem. A moda "pegou" especialmente entre as mulheres das
classes menos favorecidas, ditas trabalhadoras. Conforme se sobe na escala social, a numeração vai
aumentando. Mas isso seria assunto de sociólogo. Quer confirmar? Basta olhar em volta, no metrô ou à
espera dele, no ônibus ou à espera dele, para encontrar mulheres que não se inibem em mostrar os
recortes de seu corpo e até das partes... como as chamaremos? Depois, é só olhar a roupa dos ricos,
estampada nas revistas, na televisão: as supostas formadoras de opinião se vestem diferente. Dizer que as
roupas baratas não são feitas em números grandes não é verdade -ou, pelo menos, não justifica. Mesmo
porque as mulheres magras, do povo, também se esmeram em usar roupas agarradas. Não é questão de
tamanho nem de preço. Creio que é de classe social. O confeccionista faz o que tem mais saída. Não
estou discutindo se cavalo curto, entrando pelas reentrâncias, é bonito ou feio, se agrada ou não agrada, se
é sexy ou não. Uma coisa é certa: cavalo curto, com camiseta curta e apertada, apela para o erótico e deve
atender a algum apelo de diferenciação de gênero. Atribuo seu sucesso a Eros. Não digo que as classes
A, AA ou AAA não usem cós baixo, deixando entrever as roupas íntimas, mas a ocorrência é menor e,
em geral, restrita a adolescentes que arriscam. Com o aumento da idade, a exibição é amenizada. O que
me intriga é o seguinte: dizem que as mulheres da classe trabalhadora almejam ter acesso ao universo das
"madames"; mas, no que se refere ao cavalo curto e ao tamanho das roupas, observamos uma completa
autonomia entre as duas classes de mulheres. Quem me lê pode supor que estou criticando, mas não é
nada disso. Escrevo para expressar a minha admiração em relação à saúde e ao orgulho com que certas
mulheres menos complicadas e sofisticadas assumem seu lado erótico. Justamente pensando nisso,
ocorre-me uma idéia. Espremida entre o trabalho e todas as tarefas caseiras que lhe cabem, a mulher
trabalhadora, a mulher operária, encontra no espaço da locomoção pública o lugar onde "vê e é vista". Aí
ela se compara e pode viver sua sensualidade e seu erotismo. As colunas sociais e de fofocas estão
repletas de endereços onde as mulheres que não tomam condução, pois têm automóvel à sua disposição,
vão para "ver e serem vistas". Os clubes esportivos e sociais, os teatros, os restaurantes, o campo e a praia
constituem o espaço da paquera dos que têm acesso a esses lugares. Na falta de tempo para freqüentar
praia, clube e shopping, as mulheres da classe trabalhadora encontraram uma saída criativa. Não sendo
vergonha nenhuma ser mulher e querer agradar, usam o espaço público da urbe para paquerar -ele se
presta muito bem a isso. É verdade que são horas e horas de possível desconforto, mas "vendo e sendo
vistas". E, para tanto, a roupa que mostra sem desvelar é o ideal, já que o biquíni na cidade é impossível.
Parabéns ao instinto de vida!
ANNA VERONICA MAUTNER , psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é
autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ágora)
Disponível em: <http://www.fashionbubbles.com/2008/o-onibus-e-a-praia-do-povo/>. Acesso em 21 de
maio de 2008.
Paixão Terna
Em torno do dia 1 de novembro de 1841, Otto Beneke conheceu Marietta Banks na casa dos pais desta.
Ele tinha 29 anos, era um homem solteiro e educado, um pretendente qualificado, formado em direito e
empregado nos arquivos públicos de Hamburgo, sua cidade-estado natal; ela, aos dezoito anos,
começava a entrar para a sociedade, o que equivale a dizer no mercado matrimonial: era o fruto
encantador, recatado e sensato de uma distinta família local, uma casa aristocratica com raízes inglesas
e conexões italianas. Dois ou três dias mais tarde, Beneke tornou a encontrar-se com Marietta Banks no
Jungfernstieg, o adorável cais a beira do rio Alster projetado para caminhadas de passeio e compras e
muito apreciado pelos burgueses de Hamburgo como cenário para flertes inocentes. O cumprimento
amigável que ela lhe dirigiu, “de modo algum tão terrivelmente orgulhoso, severo, frio, gélido como
recentemente, na casa de seu pai”, provocou em Otto um prazer inesperado. Um dia ou dois depois
disso, Otto Beneke começou a compilar um registro meticuloso de seus encontros com Marietta Banks;
anotava o que ela dizia nas conversas, seus gestos, sua aparência, o tom de sua voz e seus silêncios, e
explorava o significado das respostas que ela dava as suas palavras, as suas cartas, a seus presentes.
Não conheço nenhum outro documento capaz de rivalizar com esse diário em minúcia mórbida, ao
traçar as vicissitudes do amor burguês do século XIX desde primeiro momento em que surge. Porque
não há duvida de que, desde seu primeiro encontro com Marietta Banks, Otto Beneke ficara
irremediavelmente apaixonado; percebeu que, dessa vez, era o amor verdadeiro. Sua odisséia erótica
havia chegado ao fim, sua meta erótica estava determinada - embora ainda estivesse longe de alcançala.
De um momento para o outro, era como se as outras moças não fossem nada para ele. “Deus sabe o que
há comigo” – são estas as palavras com que abre seu relato, que ao longo dos quatro anos seguintes
encheria duas caixas substanciais. “Meus pensamentos, que em outros tempos voam para Susette
sempre que se vêem livres, perdem-se constantemente em seu caminho e sempre terminam em
Mariette, sentindo-se magneticamente atraídos por ela.” Beneke não conseguia recordar o momenta em
que aquele magnetismo havia começado a atuar. “Ou bem Marietta me lançou um encanto ou antes eu
estava enfeitiçado por Susette, sob o sortilégio (magia) de Susette." Este vocabulario, tomado de
empréstimo do dominio do sobrenatural, permitia que Beneke se apresentasse como um joguete
passivo de forças que não era capaz de controlar, e nem mesmo compreender. "Agora, subitamente",
assim se livrava de Susette, “sua mágica começa a falhar”. O diário que manteria a partir de então,
devassando e dilacerando seu intimo, girava inteiramente em torno de Marietta Banks; e mais uma
ilustração da observação de Shakespeare, já banal na época de Beneke, de que o caminho do
verdadeiro amor nunca era suave.
(GAY, Peter. A paixão terna. São Paulo: Cia das letras, 1990, v.2.)
Vidas Secas
Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia são os
protagonistas do romance Vidas Secas – narrativa dos sertanejos retirantes da seca e seus dramas sociais,
publicado por Graciliano Ramos em 1938.
O casal, Fabiano e Sinhá Vitória, representa o núcleo da trama: Fabiano mantém-se fiel a seus hábitos de
vaqueiro - é uma extensão do animal, totalmente adaptado ao cavalo e à roupa de couro. No lado oposto,
Sinhá Vitória – que também guarda o poder de adaptação às piores condições materiais, mas vive
enaltecendo uma figura, para ela exemplar, o seu Tomás da bolandeira, um homem que sabia ler e tinha
uma cama de couro.
Fabiano é uma pessoa que se ligou de maneira visceral (radical) ao meio. Ele se orgulha de sobreviver à
seca e de fazer parte de uma paisagem que só admite os mais resistentes: ora exalta-se com secreta
satisfação: “Fabiano, você é um homem”; ora, se reconhece como a um animal: “Você é um bicho,
Fabiano”, e o orgulho logo passa para a dúvida - quando pensa ser uma coisa da fazenda, um traste que
possui apenas as perneiras, o gibão, o guarda-peito e o sapato de couro cru que, ao ser demitido, seria do
vaqueiro que o substituísse.
Vaqueiro, rude, curto das idéias, sem instrução e sem capacidade de entendimento, Fabiano não tem
planos e vive a procura de trabalho. Bebe muito e perde dinheiro no jogo. Sua auto-imagem varia de
acordo com a situação e seu ânimo diante da dificuldade: quando se reconhece um homem e sente
orgulho, Fabiano é a afirmação do indivíduo que se sobrepõe às dificuldades. Quando se reconhece um
animal, ganha relevância o ser impessoal de existência desumana. Ao avistar Baleia – num momento de
comunhão, envolvido na tragédia de pertencer à mesma realidade do animal, Fabiano conclui: “Você é
um bicho, Baleia”.
Fabiano tenta, mas não consegue se comunicar. Como os animais, a família de Fabiano praticamente não
tinha linguagem. Contando apenas com o instinto de sobrevivência, ele – um cabra vermelho, curtido pelo
sol, é vencido por um soldado raquítico que desafia-o para uma partida de baralho. Humilhado, Fabiano
chega a ser preso e não consegue se defender: a fragilidade de linguagem impede a possibilidade de
divulgar a injustiça que sofrera e ele lamenta viver como um bicho, sem ter freqüentado a escola.
Download

Textos utilizados nas questões da prova semestral