XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
ANÁLISE DE CONVERGÊNCIA ENTRE
INOVAÇÃO E ADOÇÃO DE
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO:
ESTUDO A PARTIR DO MANUAL DE
OSLO E DOS MODELOS TECHNOLOGY,
ORGANIZATION AND ENVIRONMENT
(TOE) E DIFFUSION OF INNOVATION
(DOI)
Rodrigo Cesar Reis de Oliveira (UFBA )
[email protected]
Este ensaio tem como objetivo analisar a convergência entre as
temáticas inovação e adoção de tecnologia da informação. Nesse
sentido, são considerados o Manual de Oslo e os modelos teóricos
Technology, Organization and Environment (TOE) e Diffusion of
Innovation (DOI), referenciais relevantes em estudos de ambos os
fenômenos. Evidencia-se que há convergência entre os temas nos três
parâmetros de análise, pois, em algum momento, cada um dos modelos
e o referido manual retratam a relação direta entre eles,
transparecendo similaridade ou complementaridade. Sugere-se que
pesquisas empíricas sejam desenvolvidas para um aprofundamento do
entendimento das especificidades e fronteiras entre os fenômenos
analisados na perspectiva do presente estudo.
Palavras-chaves: Inovação; Adoção de Tecnologias da Informação;
Análise de Convergência
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Introdução
Ao vivenciar o paradigma das tecnologias da informação, cujos impactos começaram a
ser evidentes a partir da década de 80, é possível perceber que sua construção teórica tem
evoluído rapidamente. Nessa evolução, as respostas teóricas aos processos de transformação
tecnológica e organizacional não são triviais, já que são diversos os tipos de organizações
presentes no capitalismo (TIGRE, 1998).
A relevância das Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC, aqui abordadas
como sinônimo de Tecnologias da Informação – TI, leva a impactos além do nível
organizacional. O impacto das delas chega a economia e a sociedade e traz consigo novos
conceitos e práticas que passam a caracterizar novas formas de organização da produção,
além de criar novos cenários competitivos, e transformar o ambiente social e produtivo
(TIGRE, 2006).
Diante de tal relevância, um dos aspectos que permeiam as organizações é a questão
da adoção de tecnologia da informação, já que a constante inovação e rápida evolução dos
recursos tecnológicos representa considerável aumento da diversidade de opções a serem
adotadas. Desse modo, gestores precisam monitorar continuamente o ambiente, além de
verificar novas alternativas tecnológicas. Assim, é possível descobrir ferramentas de TI que
possam ser incorporadas ou mesmo substituir as utilizadas atualmente no ambiente
organizacional. Ademais, empresários devem avaliar e decidir qual a melhor opção para
adaptar à necessidade do negócio. Contudo, é preciso perceber que o processo de ADTI não é
trivial, pois envolve decisões complexas, arriscadas e incertas, com pouca ou nenhuma
garantia de sucesso (SUÁREZ; SILVA; SOUZA, 2011).
A essencialidade das TI pode ser evidenciada a partir dos investimentos realizados
para aquisição das mesmas. Os gastos são crescentes e pesquisas mostram que as
organizações brasileiras irão investir 133,9 bilhões de dólares em TI em 2013, o que
representa um aumento de 6% se comparado com a estimativa para 2012, de 126,3 bilhões de
dólares (COMPUTERWORLD, 2012).
Tal crescimento do uso das TI foi potencializado, principalmente, pelo uso crescente
da internet em atividades comerciais, o que representou novo impulso em direção à chamada
economia do conhecimento. Ao romper barreiras geográficas, as redes de computadores
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possibilitaram o surgimento de cadeias globais de suprimentos, além de aproximar
fornecedores e usuários que passaram a acessar informações on-line em qualquer localidade, o
que deu nova dimensão ao processo de transformação. Assim, fatores dinâmicos como
inovação, desenvolvimento de novas aplicações e crescente competição, combinados,
contribuem para a redução de custos, viabilizando o crescimento e expansão das tecnologias
da informação e comunicação não apenas nas nações desenvolvidas como também em países
em desenvolvimento (TIGRE, 2005).
Para Tigre (2002) apud Santos (2005, pg. 2) “o processo de inovação é incerto e, por
isso, a direção assumida pela tecnologia pode apresentar variações”. Nesse sentido, a
trajetória assumida pelas inovações depende de mudanças essencialmente sistêmicas,
particularmente pela necessidade de consolidação de uma nova infraestrutura para que seja
possível a promoção de mudanças organizacionais e a introdução de um processo de
aprendizado contínuo. A partir desse contexto, a adoção de tecnologias da informação tornase um processo complexo e dependente de inúmeras variáveis, tanto objetivas quanto
subjetivas, nem sempre conhecidas e/ou controladas.
2 Fundamentos conceituais
2.1 Tecnologia da informação
O impacto da implantação da TI pode ser evidenciado pelo argumento de Amaral
Filho (2012) que afirma que a década de 1990 assistiu ao uso intensivo das TI, por indivíduos,
empresas e governos em suas rotinas de atividades. Isso implicou na troca de informações e
imagens através das redes de computadores que gerou a relativização das distâncias espaciais.
Desse modo, emerge um novo conceito, o da proximidade organizacional, viabilizado pela
inserção de indivíduos e organizações nas redes de comunicação.
A TI pode ser entendida como a combinação estruturada de hardware, software e
redes de computadores, usados na execução de tarefas de processamento de dados, tais como:
captura, transmissão, estocagem, recuperação, manipulação e exibição de dados
(CORDENONSI, 2005). Tais tarefas têm sido essenciais às organizações, desde processos
operacionais aos estratégicos, contribuindo para melhoria dos mesmos e para tomada de
decisões mais consistentes, principalmente quando a TI é usada via sistemas de informação.
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Percebe-se um crescimento quantitativo e qualitativo na absorção da TI nas unidades
de negócio. De fato, a evolução contínua das TI tem influenciado as possibilidades de
inovação dos negócios. Para Batista (2004), a implantação de tecnologias da informação pode
resultar em sucesso apenas se os gestores souberem lidar com três perspectivas que são
inerentes ao contexto organizacional: organização, tecnologia e pessoas.
2.2 Adoção de tecnologias da informação
Apesar do aumento evidente dos investimentos em TI no Brasil, ainda existem dúvidas
entre pesquisadores e executivos sobre os tipos de benefícios proporcionados por ela. Nesse
sentido, Beltrame e Maçada (2009) argumentam que a TI não é apenas uma ferramenta para
automatização de processos existentes, mas também um facilitador das mudanças
organizacionais que podem conduzir a organização a ganhos adicionais de produtividade.
Suárez, Silva e Souza (2011) complementam os argumentos dos autores supracitados
e afirmam que o papel das TI tem mudado, a partir do cenário global inerente aos negócios.
Passam então a representar dispositivos estratégicos e competitivos de transformação das
estruturas, processos e estratégias organizacionais. Desse modo, o processo de adoção de
tecnologias da informação é considerado complexo, tornando-se necessária a adoção de
ferramentas para auxiliar os gestores na avaliação do investimento em TI, aumentando a
transparência da decisão em relação à adoção, possibilitando, por exemplo, a justificativa
sobre o investimento.
Ao revisar a literatura sobre os modelos de adoção de tecnologias da informação em
organizações, Oliveira e Martins (2011) afirmam que dentre as muitas teorias usadas na área
de sistemas de informação, as mais usadas para análise da adoção de TI são: o technology
acceptance model (TAM), a theory of planned behaviour (TPB), unified theory of acceptance
and use of technology (UTAUT), diffusion of innovation (DOI) e a technology, organization
and enviroment (TOE). Entretanto, salientam que apenas os modelos DOI e TOE são para
análise em nível organizacional, sendo os demais (TAM, TPB e UTAUT) para análises no
nível dos indivíduos.
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A Figura 1 apresenta as principais teorias usadas para análise da adoção de
tecnologias da informação, indicando seus principais autores e o nível de análise de cada
umas delas.
Figura 1: Teorias usadas para análise da adoção de TI
Teoria
Teoria da Difusão da Inovação (DOI)
Modelo de Aceitação de Tecnologia (TAM)
Teoria do Comportamento Planejado (TPB)
Teoria Unificada de Aceitação e Uso de
Principais autores
Rogers (1995)
Davis (1989)
Ajzen (1991)
Venkatesh et AL (2003)
Nível de análise
Organizacional
Individual
Individual
Individual
Tecnologia
Tecnologia,(UTAUT)
Organização e Ambiente (TOE)
Tornatzky e Fleischer (1990)
Organizacional
Fonte: Adaptado de Oliveira e Martins (2011)
2.3 Inovação
A centralidade da inovação no que se refere ao desenvolvimento de produtos e da
produtividade é evidente nos diversos cenários organizacionais. Entretanto, embora tenha
havido evolução no entendimento sobre as atividades de inovação e de seu impacto
econômico, tal entendimento ainda é deficiente. Isso ocorre, pois o processo de inovação
evolui constantemente, assim como a economia mundial (MANUAL DE OSLO, 2004).
O fenômeno da inovação pode ser visto como o principal drive do capitalismo. Nessa
visão schumpeteriana, que revoluciona a concepção da ciência econômica, cada ciclo, ou
onda de crescimento econômico é único, devido a uma variedade de inovações técnicas que
as inaugura e carrea (QUINTELLA E DIAS, 2000).
As organizações podem realizar diversos tipos de mudanças em métodos de trabalho,
fatores de produção e tipos de resultados que aumentam sua produtividade e/ou seu
desempenho. O Manual de Oslo define quatro tipos de inovações que representam um amplo
conjunto de mudanças nas atividades organizacionais, quais sejam: inovações de produto,
inovações de processo, inovações organizacionais e inovações de marketing (MANUAL DE
OSLO, 2004).
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3 Convergência entre inovação adoção de tecnologias da informação
Para analisar a convergência entre inovação e adoção de tecnologia da informação
(ADTI), foram extraídos todos os trechos do Manual de Oslo que tratam de tecnologias da
informação, pois este manual, já em sua terceira edição, desde 1992 contempla as diretrizes
para coleta e análise de dados sobre inovação. A partir dos trechos é tecida a análise do
referido manual, na busca por aspectos que ressaltam a relevância das tecnologias da
informação no contexto de análise da inovação. Vale relembrar também que neste ensaio a TI
pode ser entendida como sinônimo das TIC tecnologias da informação e comunicação,
principalmente quando considerado o uso de redes de comunicação. Em seguida, em 3.2 e
3.3, são analisados os modelos teóricos Diffusion of innovation – DOI e Technology,
Organization and Environment TOE, também buscando evidencias as relações entre ADTI e
inovação. Estes últimos foram escolhidos por serem, como evidenciado anteriormente,
modelos que são adequados a análise no nível organizacional e por serem reconhecidamente
relevantes para a análise dos dois fenômenos em pauta.
3.1 Análise do manual de oslo
O manual evidencia que a abordagem sobre inovação ou mudança organizacional
“tem sido utilizada também em análises empíricas, como a da relação entre inovação
organizacional, investimento em Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC) e
produtividade” (MANUAL DE OSLO, 2004, pg. 18). Assim, é possível perceber que o
manual inicialmente já apresenta a relevância do entendimento da interrelação entre TIC e o
fenômeno da inovação ou mudança organizacional.
No trecho abaixo, o manual reafirma a relevância das TIC. Dessa vez, é possível
perceber que para que os investimentos em tecnologia da informação (que estão dentro do
escopo da adoção de TI) tenham efeito sobre a produtividade, é necessário que sejam
realizadas mudanças organizacionais. Assim, é possível entender uma via de mão dupla entre
ADTI e inovação, ou seja, não só é necessário adotar TI para que seja possível inovar nas
organizações, mas também é necessário inovar, principalmente do ponto de vista dos
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processos organizacionais, para que a TI e seu uso seja potencializado do ponto de vista da
produtividade.
“(...) o impacto das inovações de processo pode depender de mudanças
organizacionais para tirar vantagem desses novos processos. Um exemplo
bem documentado é a importância das mudanças organizacionais para o
impacto dos investimentos em tecnologia da informação e da comunicação
(TIC) sobre a produtividade” (BRYNJOLFSSON & JITT, 2000; OECD,
2004 APUD MANUAL DE OSLO, 2004, pg. 125).
No trecho abaixo, o termo é propriamente adoção de tecnologias da informação
e comunicação, sendo relacionada ao desempenho organizacional, incorporando também a
geração de TIC. De fato, como visto anteriormente, Lunardi, Dolci e Maçada (2010),
argumentam que as organizações que planejam efetivamente a aquisição de TI possuem maior
possibilidade de potencializar o desempenho em mercados cada vez mais competitivos.
“(...) há outros meios de examinar as mudanças nas empresas que
incrementam sua produtividade e desempenho. Alguns dos investimentos
intangíveis mais relevantes são examinados: geração e adoção de
tecnologias da informação e da comunicação (TIC), biotecnologia e
gerenciamento do conhecimento” (MANUAL DE OSLO, 2004, pg. 31).
O Manual, ao definir TIC, contempla apenas hardware e software. Como visto no
tópico sobre tecnologia da informação, seria essencial que incluísse redes, já que elas são
essenciais para um entendimento atual das TIC. Por outro lado, a mesma passagem, da página
32, evidencia a relevância da difusão e consequente adoção de TIC na produção e nos
empregos, o que é fato, já que, a partir da automação de processos organizacionais, os
empregos foram transformados, principalmente com a maior especialização dos trabalhadores.
É possível evidenciar ainda, a partir do manual, que a adoção de TI pode ser entendida
em casos de incorporação de novas tecnologias, propriamente como uma inovação de
processo, pois “as inovações de processo também abarcam técnicas, equipamentos e softwares
novos ou substancialmente melhoradas em atividades auxiliares de suporte, como compras,
contabilidade, computação e manutenção” (MANUAL DE OSLO, 2004, pg. 59). É possível
ainda ratificar o argumento da adoção de TI como inovação quando extrai-se do manual que
“a implementação de tecnologias da informação e da comunicação (TIC) novas ou
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significativamente melhoradas é considerada uma inovação de processo se ela visa melhorar a
eficiência e/ou a qualidade de uma atividade auxiliar de suporte” (MANUAL DE OSLO,
2004, pg. 59).
3.2 Diffusion of innovation
Segundo Rogers (1995), difusão é um processo pelo qual uma inovação é
comunicada, através de certos canais, durante o tempo por membros de um sistema social. É
um tipo especial de comunicação, no qual o conteúdo da mensagem é composto por novas
ideias. Nesse contexto, comunicação é um processo no qual os participantes criam e
compartilham informações, de forma a tornar possível o entendimento mútuo. Ademais, o
caráter de inovatividade presente na difusão traz consigo também um certo aspecto de
incerteza. Por outro lado, traz também a possibilidade de proporcionar uma mudança social,
isso ocorre quando novas ideias são criadas, difundidas e adotadas ou rejeitadas, trazendo
certas consequências, inclusive possibilitando mudanças sociais.
Ainda de acordo com Rogers (1995), muitas das “novas ideias” analisadas no seu
livro “Diffusion of innovation”, são, na verdade, inovações tecnológicas e o mesmo afirma
que geralmente utiliza as palavras inovação e tecnologia como sinônimos. Entretanto, retrata
a dificuldade de entendimento e estudo das inovações representadas por software, pois são
intangíveis, diferentemente das representadas por hardware, pois este pode ser mensurado
facilmente.
Segundo Oliveira e Martins (2011), o modelo DOI analisa a inovação organizacional
a partir da influência das seguintes variáveis: características individuais, relacionadas à
atitude dos líderes para mudança; características internas da estrutura organizacional,
incluindo aspectos como centralização, complexidade, formalização e tamanho e
características externas da organização, relacionadas ao entendimento da mesma como um
sistema aberto. Sendo que esta teoria tem sido aplicada e adaptada em pesquisas na área de
sistemas de informação (ROGERS, 1995)
Para Fichman(1992) apud Santos (2005), são necessárias modificações e extensões
para que a teoria clássica da difusão seja aplicável ao estudo da adoção de inovações pelas
organizações, conforme descrito abaixo:
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1. algumas variáveis clássicas não se adequam ao nível de análise organizacional,
como por exemplo, as características do adotante;
2. a adoção de uma inovação por parte de uma organização não é tipicamente um
evento binário (aceitação ou rejeição), mas antes, um estágio de um processo
que se desenvolve ao longo do tempo;
3. o processo de decisão organizacional, particularmente na ausência de um
tomador de decisão individual dominante, frequentemente envolve interações
complexas entre vários agentes.
Para Rogers (1995) o processo decisório da inovação é um processo pelo qual um
indivíduo ou grupo de decisores passa que inclui cinco etapas. Primeiramente toma-se
conhecimento acerca da inovação, em seguida forma-se uma opinião sobre a inovação, assim
é possível decidir pela adoção ou rejeição. Sequencialmente, parte-se para a implementação
da nova ideia e por fim a avaliação da decisão tomada.
Assim como a inovação é vista como processo decisório, a adoção de tecnologias da
informação também pode ser vista por essa perspectiva. Santos (2005) afirma que diante das
diversas nuances relativas à adoção de TI, tal processo exige que se tomem decisões de
aquisição num contexto de riscos e incertezas, diante de tamanha diversidade de alternativas
existentes em termos de tecnologia, padrões tecnológicos e fornecedores. Ainda segundo esse
autor, a TI se apresenta como um dilema aos gestores que, de um lado, têm a TI como recurso
essencial para obtenção de diferencial competitivo e, de outro, a velocidade das mudanças
tecnológicas torna complexo o processo de tomada de decisão inerente a TI.
Ainda segundo Fichman (1992) apud Santos (2005) uma das maiores limitações da
teoria clássica da difusão é a hipótese implícita de que os indivíduos adotam inovações para
seu próprio uso, em vez de considerar que eles são parte de uma comunidade maior de
usuários interdependentes. Existem no mínimo duas formas em que uma tecnologia pode
envolver importantes interdependências entre usuários. Primeiro, a tecnologia pode estar
sujeita aos efeitos de rede, o que significa que o valor do uso dessa tecnologia, para qualquer
usuário individual, é função do tamanho da rede de usuários. Segundo, o uso da tecnologia
pode ser interrelacionada com as rotinas organizacionais, o que implica que qualquer
interação dos indivíduos com o sistema deve estar de acordo com um processo organizacional
maior. (KATZ; SHAPIRO, 1986; NELSON; WINTER, 1982 APUD SANTOS, 2005)
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3.3 Technology, organization and environment
Ao usar o modelo Technology, Organization and Environment (TOE), os estudos
incorporam a análise dos componentes do modelo tanto para a análise da adoção de
tecnologia da informação quanto para a análise do fenômeno da inovação tecnológica. Vale
ressaltar que a adoção de TI pode ser vista, em alguns momentos como sendo um processo de
inovação, mas vale ressaltar que nem sempre a adoção de TI deverá ser entendida como
inovação, pois muitas vezes adotar TI não pressupõe a aquisição de produtos ou processos
inovadores.
O TOE identifica três aspectos no contexto organizacional que influenciam o processo
pelo qual ocorre a adoção e implementação de uma inovação tecnológica, quais sejam: o
contexto tecnológico, ou seja, aspectos internos e externos relacionados a tecnologias;
contexto organizacional, refere-se a características como o escopo de atuação, tamanho e
estrutura gerencial. Por fim, o contexto ambiental é analisado considerando a arena em que a
empresa conduz o seu negócio, incluindo segmento de mercado, concorrentes e relações com
o governo (BAKER, 2012).
O TOE, desenvolvido por Tornatzky e Fleischer (1990) tem sido testado e validado por
muitos estudos e é considerado um modelo aplicável à adoção e difusão de tecnologia,
podendo ser usado inclusive para estudos em micro e pequenas empresas (RAMDANI;
KAWALEK, 2008).
Para Baker (2012), o modelo TOE representa um segmento de estudo, no contexto da
área de pesquisa em inovação tecnológica. Afirma ainda que as pesquisas existentes têm
demonstrado que o TOE possui aplicabilidade e poder explanatório em inúmeros contextos
tecnológicos, industriais, em diferentes contextos culturais e de nacionalidade. Ademais, o
TOE tem sido usado para estudos em diversos tipos de organizações, além de já ter sido
testado em contextos da Europa, América e Ásia.
4 Considerações finais
O presente estudo buscou analisar a convergência existente entre os fenômenos de
inovação e a adoção de tecnologias da informação. De fato, fica evidente a existência de tal
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convergência entre os temas que em alguns casos chegam a ser tratados como similares, mas
precisam ser, em outros momentos, diferenciados a partir de suas especificidades. Nesse
sentido, Tigre (2005, pg. 32) afirma que cabe uma analogia entre inovação e difusão de novas
tecnologias, pois “as novas ideias, a exemplo das inovações tecnológicas, não alcançam
sucesso enquanto não surgem condições econômicas, sociais e inovações complementares
adequadas à sua aceitação”. Desse modo, é preciso que o fenômeno da adoção de TI seja
devidamente conhecido e sistematizado, para que contribua também para uma difusão
consistente de novas tecnologias.
Cabe ressaltar que fica evidente a indissociabilidade entre difusão e adoção, pois uma
alimenta a outra. Nesse sentido, Tigre (2005, pg. 12) afirma que embora a inovação abra
oportunidades para empresas crescerem, criarem mercados e exercerem um poder
monopolista temporário, somente sua difusão ampla tem impacto macroeconômico.
Quando analisado o Manual de Oslo, foi possível evidenciar ainda que a adoção de TI
pode ser propriamente uma inovação de processo, nos casos de doção de novas tecnologias da
informação. Já na análise do modelo Diffusion of Innovation, a adoção é, de certo modo,
entendida como sinônimo de inovação ou complementar a ela, com ressalva para as
peculiaridades de análise para hardware e software, pois há dificuldade de mapeamento da
difusão da inovação a partir de software, devido a sua intangibilidade, diferentemente da
inovação de hardware que possibilita melhor análise de difusão. Por fim, verificou-se que no
modelo TOE também há similaridade entre o entendimento da inovação e da adoção de
tecnologias da informação,entretanto, é essencial que tal modelo seja revisitado e renovado a
partir de novas pesquisas.
Sugere-se que novos estudos sejam feitos a partir das reflexões e análises evidenciadas
neste ensaio. Nesse rumo, propõe-se que a análise de convergência seja levada a campo, para
que se verifique, em estudo empírico, o entendimento da inovação e da adoção de tecnologia
da informação, pois os dois fenômenos, em alguns aspectos, transparecem similaridade em
outros distinção, ou ainda evidenciam ser complementares.
5 Referências
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