Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Águas Claras - DF – 8 a 10/05/2014
Fast Food: Um reflexo da padronização do consumo consequente da globalização
das ofertas de mercado 1
Rebeca Fernandes de Sousa SANTOS2
Sheila da Costa OLIVEIRA3
Universidade Católica de Brasília, Águas Claras, DF
RESUMO
O nicho do fast food é o celeiro onde mais facilmente se percebe o consumo
padronizado consequente da globalização das ofertas de mercado. Por isso, este artigo
tem como objetivo compreender como o mercado de fast food modula o comportamento
dos consumidores deste segmento. Para isso, utilizaram-se como ferramenta de estudo
leituras de artigos, periódicos e obras literárias de autores que também se propuseram a
estudar este mercado, além da observação de pontos de vendas e pesquisa com
consumidores desse nicho. Os resultados reforçaram ainda mais a necessidade evidente
de formar consumidores conscientes de suas ações de consumo.
PALAVRAS-CHAVE: fast food; globalização; comportamento; consumidor.
INTRODUÇÃO
Walter Benjamin4 disse muito bem que “se as mercadorias possuíssem almas,
certamente, elas buscariam em cada comprador uma morada a que melhor pudessem
ajustar-se.” (BENJAMIN, 1989, p. 52) Assim vemos acontecer no mercado globalizado.
Os produtos oferecidos de modo padronizado buscam por consumidores de
comportamentos também padronizados, a fim de se ajustarem da melhor maneira
possível à relação de oferta e lucro entre os que consomem e os que vendem.
No segmento do fast food essas características são ainda mais visíveis. De uma
maneira óbvia, os pontos de venda padronizam os ambientes, os atendimentos, a
publicidade, o cardápio e as ofertas. De modo que, o consumidor caminhe para um
comportamento robótico e, por vezes, inconsciente do que consome e de que maneira
consome.
1
Trabalho apresentado no IJ 2 – Publicidade e Propaganda do XVI Congresso de Ciências da Comunicação na
Região Centro-Oeste, realizado de 8 a 10 de maio de 2014.
2
Estudante de Graduação do Curso de Comunicação Social - Bacharelado em Publicidade e Propaganda - da
Universidade Católica de Brasília, email: [email protected]
3
Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília, email:
[email protected]
4
BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. Definição citada na obra de
FONTENELLE, Isleide Arruda. “O nome da Marca: Mc Donald‟s, fetichismo e cultura descartável. Capitulo II, item
nove,” Sanduíches de Fantasia: a construção da imagem de marca, pág. 177.
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Desse cenário da realidade observada do mercado de fast food, nasceram as
inquietações, listadas abaixo, que estimularam as pesquisas para produção deste artigo.
Entender essas questões é de imensa importância para as reflexões acerca do
comportamento do consumidor que está inserido ao mercado solidificado na
globalização.
a) O que é o nicho do fast food?
b) Como os consumidores enxergam esse segmento?
c) Como as marcas desse nicho enxergam os seus consumidores?
d) O que caracteriza o fast food e o que ele representa ao mercado
globalizado?
e) Quais são as consequências das modulações produzidas pelo mercado no
consumidor?
Diante dessas indagações, o objetivo deste artigo é compreender como o
comportamento do mercado desse segmento ajuda a modular o comportamento do
consumidor desse nicho. Este estudo se deu através da observação de três pontos de
vendas do segmento de fast food: Mc Donald‟s, Subway e Rhelk‟s, localizados
respectivamente em três cidades satélites de Brasília: Taguatinga, Samambaia e
Ceilândia. Deu-se também por meio de pesquisa realizada com dez consumidores destes
pontos de venda e da leitura das obras bibliográficas e artigos publicados em periódicos
que fazem parte das referências deste trabalho.
1. Eu sou o Fast Food
1.1 Conceituação
Antes de avançar em direção aos estudos e reflexões acerca do mercado e dos
consumidores de fast food, faz-se necessário a conceituação desse termo que pode ser
entendido de diferentes pontos de vista. Para as autoras Nilce de Oliveira e Maria do
Carmo Soares de Freitas5 o nicho fast food, pode ser compreendido do ponto de vista
nutricional, econômico e comportamental.
Do ponto de vista nutricional, OLIVEIRA e FREITAS (2008, p. 242) definem
fast food como:
Alimentação industrializada à base de sanduíches cárneos,
embutidos, queijos amarelos e molhos cremosos, capitaneado pelo
5
OLIVEIRA, Nilce. FREITAS, Maria do Carmo. Fast food: um aspecto da modernidade alimentar. Escritas e
narrativas sobre alimentação e cultura. Pág. 240. EDUFBA, Salvador 2008.
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hambúrguer e pela batata-frita, habitualmente acompanhados de
refrigerante. Trata-se de uma alimentação normalmente muito calórica
rica em gordura, carboidratos e sal, pobre em vitaminas, minerais e
fibras alimentares.
Já do ponto de vista econômico, OLIVEIRA e FREITAS (2008, p. 243)
conceituam fast food como:
Modelo de lanchonete, restaurante, estabelecimento ou loja,
onde é servido o tipo de comida pobre em nutriente e rica em calorias.
Caracteriza-se tanto pela comida, quanto pelo serviço, rápido, eficiente,
padronizado e impessoal. Estabelecimentos que integram grandes
cadeias multinacionais através do sistema de franquia. Por isso é, tal
como a comida que servem estandardizados (estrutura física,
instalações, equipamentos, embalagens, acessórios, modelo de gestão,
publicidade) visando garantir a imagem da rede.
Como uma questão comportamental, OLIVEIRA e FREITAS (2008, p. 243)
entendem fast food como:
Sistema alimentar que se configura como moderno e marcado
pelo consumo preferencial de alimentos industrializados, pelo comer
fora de casa e pelo uso de muitos eletrodomésticos na cozinha
doméstica. Uma atitude, considerada típica e tradicionalmente
americana, submete-se a mestiçagens, adaptando-se às tradições
gastronômicas e paladares em diferentes contextos.
As três definições conversam e interligam-se. O mercado do fast food é o
estabelecimento do “consumo rápido” aderido por uma geração moderna que elege
valores industrializados como maiores que os nutricionais e que, por vezes, preferem o
status ao suprimento de suas necessidades fisiológicas. Uma geração capaz de criar
novas hierarquias à pirâmide pensada por Maslow e que vive em busca dos arquétipos
de fantasias dos hambúrgueres, das batatas e dos refrigerantes. Fast Food é, portanto,
um fenômeno capaz de se sobressair diante da consciência do consumo.
Durante os dias de observação de alguns dos pontos de venda desse segmento,
viram-se nitidamente esses conceitos aplicados a uma realidade antes escondida pela
pressa do consumo. Não há dúvidas de que em nenhum ponto de venda deste segmento
haja uma argumentação maior para justificar o consumo do que a ideia do “rápido” que
por sinônimo, nesse caso, carrega a ideia de comodidade e praticidade. Nove de doze
consumidores entrevistados6 no Rhelk‟s (marca do segmento de fast food que possui um
único ponto de venda localizado na Ceilândia, cidade satélite de Brasília) disseram
6
Entrevista realizada no dia 30 de Maio de 2013, aproximadamente às 20h. Durante a visita ao ponto de venda, doze
consumidores foram questionados sobre os motivos que os levam a optar pelo fast food.
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consumir comida rápida pelas ideias de comodidade e praticidade, mesmo sabendo dos
riscos que a alimentação causa à saúde e ao bem estar pessoal e dos grupos em que
alguns deles estavam inseridos.
Essa amostragem deveria ser assustadora, mas não é. Isso porque as gerações
“Y” e “Z” procuram pelo consumo encontrado na definição comportamental para fast
food. O perfil dos consumidores desse mercado é peculiar a essas gerações que valoriza
o tempo do “agora”. Não há quem se lembre do “depois” e, pior que isso, não há
consequências que cheguem ao futuro, já que, no tempo do “agora”, ele não pode
existir.
1.2 Características, consequências, configurações e modulações
“À medida que se substitui o acarajé ou abará pelo hambúrguer,
automaticamente se estará abdicando das próprias raízes culturais.” GÓES7 (2010,
p.162) lembrou muito bem de uma das mais poderosas consequências da globalização
das ofertas de mercado: A abdicação cultural. Não há consumidor que se lembre de suas
raízes quando atraído pelo cheiro do hambúrguer com queijo cheddar na chapa e a
promessa de ingeri-lo imediatamente. É na comodidade, na negação cultural e na
ausência de consciência social que se configura esse nicho.
O mercado globalizado fast food é mais que a comida rápida, é a dominação da
cultura do Tio Sam sobre as culturas que se encantam pelo fetiche do palhaço Ronald
Mc Donald‟s. Em outras palavras, no fenômeno de globalização de ofertas, o fast food é
a cultura dos consumidores estadunidenses influenciando as demais culturas, incluindo
a brasileira. Portanto, se em uma definição denotativa fast food é “comida rápida” na
tradução da língua inglesa, o sentido conotativo leva-nos a outra “tradução”: a de
valores prontos. Engolimos uma cultura sem sequer mastigá-la, digerimos o comodismo
de consumidores que são modulados pela alienação do mercado globalizado.
Não é surpresa alguma assistir às propagandas televisionadas das redes
brasileiras de comida rápida e encontrar um cardápio com verbetes em inglês. Parece ser
mais encantador vender e consumir Hot Dog a Cachorro Quente, ou comer um Big Egg
a um Sanduíche tamanho grande contendo ovos.
7
GÓES, José Ângelo Wenceslau. Fast Food: um estudo sobre globalização alimentar. Salvador – BA, EDUFBA,
2010.
4
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Os consumidores de fast food, em especial os brasileiros, buscam pela
experiência do consumo de uma cultura que, em suas mentes pequenas, ofereça um
status maior que a cultura que vende acarajé e baião de dois. É cada vez mais claro e
evidente o comportamento de uma parcela de consumidores desse nicho que estão muito
mais interessados ao status que uma marca irá lhe trazer que a satisfação de sua
necessidade fisiológica: a fome. Talvez essa seja a hora de reorganizar a pirâmide de
Maslow, já que vivemos em uma sociedade de valores invertidos. Afinal, não é a marca
que diz quem eu sou e quem o outro é por comer no Mc Donald’s, no Subway ou no
Burger King?
O mercado globalizado padronizou as ofertas, os valores e os consumidores.
Vendem hambúrgueres com nomes e marcas diferentes, mas com mesmos ingredientes.
Usam a mesma embalagem para estampar as mais variadas logomarcas. Cria franquias
para que os consumidores pensem estar em outro lugar, quando não estão. Estimulam os
mesmo desejos e necessidades de consumo nos seus clientes. Estipulam o que é
importante do ponto de vista econômico e, convenhamos, não há algo mais importante
que o lucro para economia. E quem melhor gera lucros a uma empresa se não o
consumidor, que é escravo dos senhores da globalização?
Há quem acredite que o fast food transmite a ideia de “consumo democrático”
8
(GÓES, 2010, p.159), já que todos consomem as mesmas coisas. Mas que tipo de
democracia é essa em que os consumidores não possuem opção de escolha? Quando não
há escolha, não há democracia e sim imposição. O mercado impõe e o consumidor é
obrigado a consumir, mesmo que ele ainda não tenha consciência do que faz.
2. As padronizações: Análise de pontos de vendas
A essência do fenômeno da globalização é interligar, ou seja, tornar global as
relações entre países e pessoas. Dessa forma, a economia, a cultura e os
comportamentos peculiares a um determinado lugar ou individuo são disseminados a
vários outros lugares e indivíduos de características e configurações distintas. É durante
o caminho percorrido pelo mercado globalizado para interligar essas relações que
nascem as padronizações de ofertas e comportamentos.
A padronização foi o meio encontrado pelo mercado para facilitar o processo de
globalização das ofertas. Ora, padronizar é tornar igual ou estabelecer regras de
8
GÓES, apenas faz referência aos que justificam a ditadura do fast food com o conceito de “consumo democrático”.
Isso não implica que o autor participe desse grupo.
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semelhança9. Portanto, padronizar é facilitar a implantação de novos costumes,
mercado, oferta e comportamento em uma sociedade. Partindo do pressuposto que “em
todos os lugares” o mercado se organiza do mesmo modo, o consumidor perde a
capacidade de contestar os seus malefícios, já que quando o mercado é padronizado
(igual aos demais) até os erros tornam-se regras.
Esse
comportamento
do
mercado
é
refletido,
consequentemente,
no
comportamento dos seus consumidores. Acostumados a consumir mecanicamente em
um mercado que não muda suas ofertas, os consumidores passam a estabelecer,
inconscientemente, regras de consumo, de forma que se tornam iguais nas suas
escolhas, exigências e em seus comportamentos.
2.1 Padronização de ambientes
Cores em tons de vermelho, amarelo e em raríssimas vezes detalhes em verde.
Cadeiras desconfortáveis e mesas pequenas. Espaço físico sempre menor que a
quantidade de pessoas que circulam. Cartazes com fotografias tentadoras e surreais dos
itens disponíveis no cardápio. No balcão de atendimento há apenas um caixa que atende
uma fila, por vezes gigantesca, de consumidores e clientes.
Esse foi o cenário visto em dois (Mc‟ Donald‟s e Rhelk‟s) de três pontos de
venda de fast food observados. O terceiro (Subway) diferencia-se em alguns detalhes
(como a predominância da cor verde, por exemplo) devido à proposta da marca em
oferecer um fast food “saudável”, mas, em essência, é como os outros dois. Esse é o
cenário encontrado em 90% das redes de fast food. Os ambientes dos pontos de venda
desse nicho são tão padronizados que causam a impressão de se estar no mesmo lugar,
ou, diga-se antes, de consumir a mesma marca, sempre.
O estudo da psicologia, fisiologia e simbologia das cores10, atribui a cada uma
delas um significado, estimulo e símbolo. As cores mais frequentes nos ambientes de
fast food, vermelho e amarelo, são cores quentes que estimulam comportamentos de
inquietação, pressa e desconforto nas pessoas. As cadeiras são desconfortáveis para que
os consumidores não tenham outro pensamento além daquele que diz: “Pague e retirese.” Portanto, todo o ambiente desse nicho é minimamente pensado para que os
9
Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa.
BARROS, Lilian Ried Miller. A cor no processo criativo: Um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de Goethe. São
Paulo. Editora SENAC, 2006.
10
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consumidores sejam imediatistas e tenham pressa em deixar o ponto de venda, já que o
próprio nome diz que o consumo deve ser “fast”.
Na tentativa de mudar essa realidade, “dois jornalistas italianos Carlo Petrini e
Piero Sardo, em 1983” (GÓES, 2010, p.100) iniciaram um movimento denominado
Slow Food. Ambos encontravam-se insatisfeitos com a expansão das redes de fast food,
seus menus padronizados e com o desaparecimento dos pratos regionais. O movimento
tem como símbolo um caracol e prega a lentidão ao comer, de modo que se apreciem as
refeições e que cada uma delas seja um prazer compartilhado, se possível, com boas
companhias e conversas à mesa.
O Slow food não busca estabelecer um novo mercado que garanta lucros e saltos
econômicos, mas busca formar novos consumidores conscientes de seus hábitos.
Movimentos como esse são de extrema importância social, já que conscientizar os
consumidores é o passo inicial para construir um cenário de relações saudáveis entre o
mercado e o consumo e que reflita positivamente na economia.
2.2 Padronização de cardápios
Hambúrguer, batata frita e refrigerante, vendidos juntos ou separados,
acompanhados de brindes ou sobremesas. Esse é o cardápio das redes de fast food e não
há indícios de que exista preocupação em mudar. A ideia de um lanche rápido é regra,
portanto, mudar o cardápio seria retirar a alma do fast food.
Para atrair os consumidores mais conservadores, as empresas de fast food têm
adotado em seus cardápios o que se denomina de Snack, ou seja, refeições semelhantes
às caseiras, mas sem deixar de ser fast food. GÓES (2012, p. 162) define Snack como
sendo “Uma não refeição, uma anti-refeição”. O Snack não só atende a uma nova
necessidade do mercado para atrair um público mais velho e maduro, como também
constrói uma falsa consciência às redes de fast food, faz com que elas pareçam estar se
importando com uma refeição completa, quando não estão.
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2.3 Padronização de atendimentos
Todos uniformizados, tons claros pra que a logomarca seja a maior atração da
vestimenta. Cabelos curtos ou presos e um sorriso amarelo no rosto acompanhando da
pergunta “o que vai querer Senhor (a)?” Alguns deles vão até as mesas, outros estão
atrás dos balcões que dividem a fila da clientela da cozinha. E assim se fazem os
atendimentos dentro do fast food. O roteiro da fala, a abordagem ao cliente, o
comportamento no balcão e fora dele, tudo é minimante ensaiado e ensinado aos
funcionários das grandes redes de comida rápida. Tudo para que se já conheça a
pergunta antes que chegue a sua vez de pedir, ou para que não se demore pensando
sobre o que gostaria de consumir. Calma, paciência, espera e demora são sinônimos
que, supostamente, não possam fazer parte desses ambientes.
Padronizar o atendimento nas redes de fast food é uma configuração que vai
além da organização da empresa: é uma questão de honra ao nicho, uma vez que
atendimento padronizado, decorado, robótico e artificial é sinônimo de atendimento
rápido e consumidor pressionado ao imediatismo.
2.4 Padronização comunicacional
Comerciais tentadores, aqueles com um locutor narrando o sabor e os adjetivos
do alimento a fim de torná-lo superior ao preço cobrado. Anúncios sedutores onde o
hambúrguer é sempre maior que o real. Bandejas prontas e embalagens tão semelhantes
que parecem ser produzidas nos mesmos lugares. A única diferença está na marca
estampada.
Até mesmo a comunicação desse nicho é extremamente pensada para ser
padrão. As marcas não vendem apenas um produto de seus cardápios, elas vendem o
estilo de vida fast food. A promoção do fim de semana, os brindes para as crianças, os
personagens e arquétipos da marca, os jingles, as ações nas redes sociais (e fora delas) e
tantos outros fatores são meramente produtos fantasiosos e atrativos, tudo pensado para
que os produtos assumam um significado superior ao de “coisa”.
FONTENELLE11 (2010, p. 195) apresenta um pensamento sobre a imagem
construída pelas grandes marcas desse segmento:
11
FONTENELLE, Isleide Arruda. O nome da Marca: Mc Donald‟s, fetichismo e cultura descartável, São Paulo,
2010.
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(...) a imagem é um „complexo imaginário‟, cercada de mitos,
fábulas, que dizem respeito às representações, às fantasias, aos sonhos
de uma época. Trata-se, portanto, de um estereótipo.
2.5 Padronização de consumo
O consumidor é o que fundamenta o mercado. Não haveria sentido algum em
ofertar, vender, produzir e barganhar se não houvesse quem fazê-lo. Um bom mercado
não se faz só de ofertas, o consumidor precisa assumir seu papel de influenciador.
Afinal, o mercado estuda e reestuda os consumidores para fundamentar suas
características, pensar e repensar suas regras e organização. É nesse contexto que o
nicho do fast food trabalha. Esse segmento, antes de estabelecer qualquer uma de suas
regras e formas de se organizar, pensou seus consumidores. O trabalho de padronização
não é algo meramente particular as suas ofertas, mas é uma ferramenta de influência ao
comportamento dos seus consumidores.
O fast food como nutrição busca padronizar-se para que o consumidor não tenha
opção, criando assim a “impressão” de que o alimento ingerido não é tão ruim quanto
parece ser. O fast food como economia busca padronizar-se para que o consumidor seja
atraído por seu mundo de fantasias e falsas ideologias, para que consequentemente eles
atinjam o seu único objetivo: lucrar. O fast food como comportamento padroniza-se
para que o consumidor não perceba mais os seus malefícios sociais: a regra padrão
normaliza os maus hábitos e os fazem tão comuns a ponto de se tornarem “bons”.
3. Fast Food: Mercado rápido, consumidor inerte
Com auxilio da globalização, a rede fast food se expandiu rapidamente em todo
mundo e continua a expandir-se. O seu crescimento ágil é percebido na abertura de
várias franquias nos últimos anos, nos números significativos que produz para a
economia alimentícia, no aumento da publicidade sobre o termo e em tantos outros
fatores. Contudo, há um lado paradoxal a este mercado rápido: o posicionamento do
consumidor.
Enquanto de um lado crescem os ganhos, do outro aumentam as perdas. A
sociedade está em crise com o aumento da obesidade, das doenças provocadas pelo
sedentarismo, do excesso de consumo, da falta de consciência do consumidor e da perda
de valores. Enquanto o mercado acelera suas produções, os consumidores permanecem
inertes e acomodados ao cenário, que parece cômodo e confortável.
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A falta de educação no que diz respeito ao consumo tem tornado as pessoas
legítimos robôs, programados a consumir no modo, no tempo e na quantidade que o
mercado impõe.
CONCLUSÃO
O nicho do fast food é o reflexo de um mercado globalizado que ainda precisa
entender o que é verdadeiramente tornar algo em comum, e de um consumidor que
ainda precisa entender o que é consumir. Muito mais que vender comportamentos,
culturas, lucros e ideologias, globalizar é aproximar todas as pessoas a uma realidade
social, para juntos pensarem como melhor planejar, enriquecer, aprimorar e corrigir o
ser global. Muito mais que comprar, pagar, utilizar e descartar, consumir é pensar junto
ao mercado a melhor forma de relação entre as ofertas e as pessoas, entre os produtos e
as necessidades de cada individuo e grupo.
É preciso que se entenda e se estude ainda mais as estratégias do nicho do fast
food, para que se tenha uma visão do que o mercado tem se tornado e tem feito dos seus
clientes e consumidores. É preciso repensar as teorias, reorganizar as teses e reconstruir
as regras. Os estudos e as pesquisas estimuladas pela produção deste artigo nos
despertam para essas mudanças. Os dados coletados, todos os conceitos analisados e
interpretados, e todos os pontos de vista descritos, falam de um segmento que é o
espelho da realidade da sociedade dos indivíduos e de suas relações, em especial as de
comércio e consumo.
O consumidor tem pressa. Suas necessidades, em alguns casos, não podem
esperar e o mercado sabe disso, se não sabe, é importante que saiba. Mas, nem sempre
essa “pressa” precisa estar relacionada a um comportamento desonesto do mercado e
inconsciente do consumidor. A ideia de fast, se associada a uma relação saudável onde a
pressa seja por encontrar soluções para os problemas do consumidor ou para enriquecer
o mercado, tornar-se-ia a maior ferramenta de mudança da realidade do mercado de
comida rápida.
REFERÊNCIAS
GÓES, José Ângelo Wenceslau. Fast Food: um estudo sobre globalização alimentar. Salvador –
BA, EDUFBA, 2010.
FREITAS, Maria do Carmo Soares. FONTES, Gardênia Abreu Vieira. OLIVEIRA, Nilce.
Escritas e narrativas sobre alimentação e cultura.
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MARTINS, Maria do Céu Antunes. Globalização da Alimentação: Unidade ou diversidade?
MONTEIRO, Marcelo Affonso. Sociedade de Consumo e Massificação.
CARVALHO, Maria Cláudia da Veiga Soares. LUZ, Madel Therezinha. Simbolismo sobre
“natural” na alimentação
FONTENELLE, Isleide Arruda. O nome da Marca: Mc Donald‟s, fetichismo e cultura
descartável, São Paulo, 2010.
FONTENELLE, Isleide Arruda. O mundo de Ronald Mc Donald: Sobre a marca publicitária e a
socialidade midiática. Pontificada Universidade Católica de São Paulo.
BARROS, Lilian Ried Miller. A cor no processo criativo: Um estudo sobre a Bauhaus e a teoria
de Goethe. São Paulo. Editora SENAC, 2006.
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