iRAQUE
iRAQUE
CONFISSÕES
RELIGIOSAS
Muçulmanos97,3%
Cristãos1,8%
Outros0,9%
Cristãos
921.920
Católicos
301.000
Circunscrições
eclesiásticas
17
SUPERFÍCIE
438.317km2
A violência anti-cristã não parou em 2009 e na primeira metade de
2010, mas assistiu-se a períodos de relativa acalmia, alternando com
momentos de real perseguição.
“Grupos armados entram em bairros onde vivem os cristãos e matam
indiscriminadamente toda a gente que se atravessa no seu caminho”,
declarou o Monsenhor Philip Najim, representante da Igreja Caldeia
na Santa Sé. “Trata-se de assassinatos a sangue frio e em pleno dia,
perante dezenas de testemunhas, como se estes grupos quisessem
mostrar que podem agir com impunidade, que detêm o controlo da
cidade”, acrescentou.
“Nós somos o alvo de uma campanha de violência e de aniquilação
que tem objectivos políticos”, declarou o Monsenhor Louis Sako, Arcebispo Caldeu de Kirkuk.
Para o seu colega católico siríaco, Monsenhor Georges Casmoussa,
os islamistas por detrás dos ataques querem que o Parlamento iraquiano suprima a representação obrigatória das minorias nos conselhos municipais.
Na verdade, para os cristãos, não só a violência é de registar, mas também as alterações à primeira proposta da lei eleitoral das províncias.
O Artigo 50º, que foi removido, garantia a representação das minorias
nos conselhos das províncias.
Ainda assim, as minorias (incluindo os cristãos) têm garantidos oito
assentos dos 325 do Parlamento nacional.
Mossul
POPULAÇÃO
31.467.000
REFUGIADOS
35.218
DESALOJADOS
2.764.000
270
Foi em Mossul que a maioria dos ataques teve lugar. Nesta cidade
predominantemente sunita, os cristãos vivem ao abrigo da Sharia (lei
islâmica). As mulheres cristãs têm de cobrir a cabeça quando estiverem em público e o sistema de transporte público já não é misto.
Sob um reinado de terror, 1694 famílias cristãs fugiram da cidade. Tal
representa mais de 12.000 pessoas.
No início de Novembro de 2008, um gangue armado matou duas
religiosas cristãs, Lamia e Walaa Sabih, no bairro central de Alkahira.
Lamia foi assassinada a tiro em frente à casa da família, enquanto
esperava pelo autocarro para ir trabalhar. Walaa foi apunhalada dentro de casa. A sua mãe ficou ferida durante o ataque. Os assassinatos
ocorreram numa altura em que as famílias cristãs estavam a regressar a Mossul depois de terem fugido, após uma série de assassinatos
em Setembro e Outubro.
IRAQUE
No começo de Julho de 2009, uma bomba explodiu num carro perto da Igreja de Nossa
Senhora, ferindo três crianças.
No dia 26 de Novembro de 2009, outra bomba destruiu uma secção do Convento de Santa
Teresa, residência de seis religiosas dominicanas. No mesmo dia, uma outra bomba explodiu
perto da Igreja Caldeia de Santo Efrém, causando graves danos ao edifício.
No dia 9 de Dezembro, foram assassinados dois irmãos cristãos, com tiros na cabeça,
enquanto reparavam a sua carrinha numa via pública.
No dia 15 de Dezembro, um ataque à bomba foi perpetrado contra a Igreja Católica Siríaca da
Anunciação. Simultaneamente, uma bomba explodiu num automóvel perto da Igreja Ortodoxa Siríaca da Imaculada e perto de numa escola cristã, matando cinco cristãos, incluindo
um bebé recém-nascido. Cerca de quarenta pessoas ficaram feridas.
No dia 23 de Dezembro, uma carrinha armadilhada explodiu perto da Igreja Ortodoxa Siríaca
de São Tomás, matando duas pessoas e ferindo cinco. Uma bomba foi lançada contra a Igreja
Caldeia de São Jorge. Três pessoas foram mortas: um cristão e dois muçulmanos,
No dia de Natal de 2009, uma bomba foi lançada contra um autocarro que transportava passageiros cristãos. Pelo menos onze morreram. No dia 30 de Dezembro de 2009, um diácono
foi assassinado a tiro.
Nos dias 12, 15 e 17 de Janeiro de 2010, três lojistas cristãos, Hikmat Sleiman, Amjad Hamid
Abdulhallah e Saadallah Youssif Jorjis, foram assassinados. O segundo foi morto a tiro na rua
durante a entronização do Monsenhor Emile Shimoun Nona como novo arcebispo caldeu,
em substituição do Monsenhor Rahho.
Num período de apenas dez dias, entre 14 e 25 de Fevereiro de 2010, foram assassinados mais
nove cristãos. Dois comerciantes, Rayan Salem Elias e Mounir Fatoukhi; dois estudantes, Ziya
Toma e Ramsen Shmael, que eram primos; e um quinto cristão, Wissam George, foram mortos a tiro na rua. Um sexto foi sequestrado.
No dia 21 de Fevereiro, Adnan al-Dahan, um cristão ortodoxo, foi encontrado morto. Fora
sequestrado uma semana antes.
Um pai católico siríaco e os seus dois filhos foram assassinados em casa perante o olhar da
mãe e da irmã dos rapazes.
Finalmente, um outro crime dizimou a família Mazen, que incluía um filho que era padre.
Três jovens muçulmanos assassinaram o clérigo e dois dos seus irmãos na sua residência. O
P. Mazen fora sequestrado em 2008, tendo sido mais tarde libertado após o pagamento de
um resgate.
No dia 2 de Maio de 2010, foram assassinadas quatro pessoas e 171 ficaram feridas num ataque à bomba contra uma coluna de autocarros que transportava estudantes de uma zona
predominantemente cristã, Qaraqosh, para a Universidade de Mossul. Alguns acreditam que
o ataque possa ter sido uma resposta ao facto de ter sido erigida na cidade vizinha de alHamdaniya, no dia 10 de Abril, uma estátua com quatro metros de altura do Cristo Redentor,
inspirada pela do Rio de Janeiro (Brasil).
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IRAQUE
Os três bispos de Mossul, Gregorios Saliba (ortodoxo siríaco), Georges Casmoussa (católico
siríaco) e Emile Nona (caldeu), apelaram às autoridades locais, denunciando “um plano premeditado para pressionar as Igrejas”. Para eles, “Estes ataques repetidos levam-nos a acreditar que não nos querem na cidade que ainda é a nossa casa”.
Mar Ignace Joseph III Younan, o Patriarca Católico Siríaco, apelou ao primeiro-ministro Noury
al-Maliki, afirmando que “Ninguém em Mossul pode conscientemente aceitar esta falta de
segurança, onde se tornou legal matar pessoas inocentes e indefesas. Estamos surpreendidos com as razões citadas pelos funcionários do Governo e pelo seu fracasso. Apenas podemos deduzir que eles são cúmplices no processo de esvaziar Mossul dos seus residentes cristãos, que habitam na cidade há séculos”.
Bagdade
No dia 6 de Janeiro de 2008, vários edifícios religiosos ficaram sob ataque: a Igreja Caldeia de
São Jorge, no bairro de Ghadir, onde o Cardeal Emmanuel III Delly tinha acabado de celebrar
missa; uma igreja graco-católica; e o Convento das Irmãs Caldeias, no bairro de Zaafraniya.
No dia 5 de Abril de 2008, o P. Youssef Adel Aboudi, padre na Igreja Ortodoxa Siríaca, que era
responsável pela Igreja de São Pedro, foi assassinado por homens armados. Foi morto perante
a sua mulher e filhos. Director de uma escola mista com alunos cristãos e muçulmanos, tinha
recebido ameaças e passara por actos de intimidação que pretendiam forçá-lo a desistir, o
que nunca fez. Na semana anterior, três cristãs foram assassinadas.
Em meados de Julho de 2009, uma série de ataques à bomba atingiu simultaneamente seis
igrejas em Bagdade, matando quatro cristãos e deixando trinta e duas pessoas feridas. Um
destes ataques teve como alvo a Igreja de Nossa Senhora onde o Monsenhor Shimoun Wardouni, Bispo Auxiliar do Patriarca Caldeu, tinha acabado de celebrar missa.
No dia 15 de Dezembro de 2009, uma bomba explodiu em frente a uma igreja católica siríaca,
matando quatro cristãos.
Os membros de outras minorias não-muçulmanas foram também violentamente atacados.
Em Agosto de 2009, alguns muçulmanos assassinaram a tiro Wael Lazim Qarar, um joalheiro
mandeísta cuja comunidade venera João Baptista.
Nos últimos anos, o número de mandeístas no Iraque caiu de aproximadamente 100.000
para menos de 5000 por causa da emigração.
Vários bairros na capital foram abandonados pelos seus habitantes cristãos. Este é o caso
de Dora, uma área predominantemente sunita de Bagdade. De acordo com o Monsenhor
Wardouni, “de quase 20.000 caldeus que viviam aqui antes da guerra, apenas restam 2500”.
O mesmo se passa na predominantemente xiita Bagdade Jadidat. De acordo com um chefe
de família, Issa, “neste momento, 75% dos cristãos deixaram o bairro. Alguns vendiam álcool,
mas foram impedidos de o fazer”.
Joseph Yacoub, professor universitário em Lyon (França) e um especialista no Iraque, condenou o Governo iraquiano pela sua incapacidade absoluta de proteger os cristãos. “De cada
vez que deputados cristãos tentaram levantar a questão, os seus esforços tiveram vida curta.
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Deveria ser criada uma comissão internacional de inquérito; caso contrário, o país poderá
acabar por perder a sua população cristã”.
Os Cristãos são também vítimas crescentes de discriminação, especialmente nos campos
da educação, da administração e do emprego. O Monsenhor Casmoussa denunciou certas
formas de injustiça. “A lei não deveria forçar o cônjuge e os filhos de um cristão que se converte ao Islão a fazer o mesmo. Os estudantes cristãos em escolas públicas não deveriam ser
obrigados a assistir a cursos sobre o Islão”.
Curdistão
IRAQUE
Muitos cristãos encontraram refúgio no Curdistão iraquiano, uma região autónoma cujo
Governo mostrou maior abertura para com o seu dilema. O anterior ministro das Finanças
local, Sarkis Aghajan Mamando, é cristão; ele encarregou-se do realojamento das pessoas
deslocadas. Mandou construir 150 aldeias com cerca de 10.000 casas assim como também
muitas igrejas. Os Dominicanos de Mossul encontraram aqui uma nova casa. Criou também
“comités de autodefesa cristãos” armados, pagos pelo erário público.
Os curdos parecem estar a tentar atrair tantos cristãos quanto possível para o seu território
e para a planície de Nineve, que separa o território curdo de Mossul, apresentando-se como
seus protectores.
Porém, alguns dos que sobreviveram a episódios de violência em Mossul acusaram “alguns
elementos curdos” de organizar os massacres de Outubro de 2008 para forçar os cristãos
já instalados no Curdistão, ou que habitem perto, a manifestarem solidariedade para com
os curdos e a juntarem-se a partidos políticos curdos cujo objectivo é criar uma zona cristã
autónoma na Planície de Nineve ou aumentar o território que eles controlam.
Ao mesmo tempo que agradece o tratamento que os Cristãos receberam no Curdistão, o
Monsenhor Shimoun Wardouni declarou que “Não deveria haver nenhuma condição política
associada a esta ajuda”. Além disso, para ele, a ideia de incorporar os Cristãos no Curdistão
é algo “muito perigoso” para estes últimos. “A nossa história é nacional; não podemos viver
num gueto. Queremos depender, como todos os iraquianos, do Governo central em Bagdade.”
Os cristãos que vêm para o Curdistão enfrentam também uma barreira de idioma (a maioria fala árabe, não curdo) e têm dificuldade em arranjar trabalho. Do mesmo modo, os cristãos ainda não receberam do Governo curdo os terrenos confiscados pelo regime de Saddam
Hussein durante a campanha de 1998 contra os curdos que se tinham revoltado contra o
Governo central. Naquela altura, foram destruídas cerca de 400 aldeias cristãs.
Dito isto, existe uma completa liberdade religiosa no Curdistão onde qualquer um pode
mudar de religião sem medo das consequências. Os Cristãos não estão porém totalmente
seguros.
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Kirkuk
No dia 9 de Janeiro de 2008, duas igrejas foram alvos de carros armadilhados: a Catedral
Caldeia do Sagrado Coração e a Igreja Católica Siríaca de Santo Efrém.
No dia 18 de Agosto de 2008, um pediatra, Sameer Georges Youssif, foi sequestrado em Kirkuk.
A família recebeu um pedido de resgate no valor de 500.000 dólares norte-americanos. Foi
libertado após vinte e nove dias de tortura.
Nineve
No dia 26 de Setembro de 2008, uma médica cristã foi sequestrada na aldeia de Bartella,
tendo sido depois libertada. Outra médica cristã, uma ginecologista, Mahasin Bashir, foi
sequestrada em Bashiqa, perto de Bartella.
Bassorá
O Sul do Iraque não assistiu a violência anti-cristã. Porém, mesmo antes do Natal de 2009, o
Monsenhor Iman el-Banan, o Bispo Caldeu de Bassorá, onde residem 5000 cristãos, pediu a
todos os crentes para “não celebrarem publicamente a Festa da Natividade, nem receberem
convidados em casa”.
É uma questão, declarou o bispo num comunicado oficial, “de mostrar respeito pelos muçulmanos, especialmente os xiitas, por ocasião do Muharram”. Este dia comemora o assassinato
do Imã Hussein, filho de Ali e pai do Islão xiita, que foi morto na Mesopotâmia no ano de 680.
Dada a existência de tantos actos de injustiça, o Monsenhor Jean-Benjamim Sleiman, Arcebispo Católico Romano de Bagdade, declarou que “A situação da população cristã do Iraque
é a de uma comunidade que perdeu a fé no seu próprio país. Esta é a razão pela qual a emigração se transformou num êxodo, numa fuga. O medo domina todos os aspectos da vida e
qualquer episódio de violência transforma-se numa ameaça mortal”.
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