Dia Nacional da Consciência Negra
Na década de 70 do século passado segmentos significativos da sociedade
brasileira empenhavam-se pela redemocratização do país. Entre eles estavam
também grupos que atentavam para um aspecto pouco considerado na
discussão política – a identidade étnico-racial. Pessoas com ascendência
africana chamavam atenção para o fato de que uma verdadeira democracia
pressupõe a inclusão de todos os segmentos sociais.
O resgate da história da presença africana no Brasil, de sua dominação e
opressão, de sua resistência e luta por liberdade fez com que uma pessoa
fosse destacada – Zumbi dos Palmares. Sua personalidade foi alçada a figurasímbolo do movimento negro. Ele foi assassinado no dia 20 de novembro de
1695 após resistir a diversos ataques contra o Quilombo de Palmares. Este
espaço de resistência ao regime escravista fora fundado em 1597 na região da
Serra da Barriga (atual Estado de Alagoas).
Na década de 80 o dia 20 de novembro foi assumido nacionalmente como Dia
Nacional da Consciência Negra. Num primeiro momento foi uma resposta do
movimento negro à falsa abolição comemorada no dia 13 de maio (Lei Áurea).
Gradativamente foi assumindo um caráter afirmativo e propositivo. Sem passar
por cima da necessidade de desnudar e desmascarar a assim chamada
“democracia
racial”
brasileira,
as
organizações,
entidades,
grupos
e
movimentos de afro-descendentes procuram reforçar as suas lutas de
reivindicação por direitos sociais, econômicos, políticos, culturais e religiosos.
A discriminação real no cotidiano brasileiro se expressa numa larga e extensa
agenda de demandas concretas para milhões de brasileiros, a saber, na
necessidade de titulação de terras para comunidades remanescentes de
quilombos, melhoria na saúde, educação, trabalho e renda, acesso a bens e
serviços.
A superação da discriminação e do preconceito passa pela tomada de
consciência da sua existência. O reconhecimento subjetivo e objetivo leva a
novas posturas. A relação senhor-escravo está profundamente arraigada no
inconsciente coletivo do povo brasileiro. Posturas autoritárias e atitudes servis
acompanham o dia-a-dia.
Lembrar o Dia Nacional da Consciência Negra significa, num primeiro
momento, romper internamente com todos os mecanismos de defesa frente ao
tema e, num segundo momento, estar atento para a interpelação que vem das
pessoas que ao longo de séculos foram discriminadas por causa da cor de sua
pele.
A comunidade cristã tem um referencial importante e infelizmente muitas vezes
esquecido: “Desse modo não existe diferença entre judeus e não-judeus, entre
escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres: todos vocês são um só
por estarem em Cristo Jesus.” (Gálatas 3.28). Se isso tem validade para os
cristãos, não teria a mesma importância para a sociedade como um todo?
P. Rolf Schünemann
Publicado na edição 78 do Informativo dos Luteranos – novembro/2008
Marcelo Ackermann
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Dia Nacional da Consciência Negra Na década de 70 do