Mª Antònia Pujol.; Núria Lorenzo; Verónica Violant (Coordinadoras) (2012)
Innovación y creatividad: Adversidad y Escuelas creativas. Barcelona: GIAD-UB
PERCEPÇÃO E RESIGNIFICAÇÃO DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM:
UM DIÁLOGO COM PRODUÇÃO ESTÉTICO IMAGINÁRIO A PARTIR DO
OLHAR DOS EDUCANDOS DO CURSO DE BIBLIOTECONOMIA, NA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE, FURG – BRASIL
Claudio Renato Moraes da Silva¹
RESUMO
Este estudo buscou estimular o diálogo entre os temas informação, meio ambiente,
imagem, produção imaginária, afetividade e sentido estético, com o intuito de ser uma
proposta de ensino centrada na constituição de pessoas1 críticas, participativa e agente
de suas próprias histórias de vidas. Para esta pesquisa foram diversos cenários, todos na
região sul do Brasil, em Rio Grande: a Ilha dos Marinheiros, na cidade do Rio Grande,
RS, a sala de estudos do Programa de Educação Continuada - PEC, junto ao Campus
Carreiro da FURG, a Estação Ecológica do Taim, Lagoa Verde, Associação de
Catadores de Lixo – ASCALIXO; em São José do Norte: Colônia de Pescadores Z2,
Reflorestadora de Pinus, Cooperativa de Tijolos São José; em Pelotas: o Projeto
Mulheres pelo Lixo, Biblioteca de Pescadores e Colônia de Pescadores Z3. Para
entender o uso da informação, independente de suportes e formatos, sobretudo pelo viés
da natureza, os alunos do Curso de Biblioteconomia, da Universidade Federal do Rio
Grande - FURG puderam redescobrir redefinir, compreender e despertar seus “afetos”
para com o meio ambiente natural e humano, a partir de aulas interativas e de processos
proximal nas relações ecologicamente humanas. As informações coletadas por meio de
observação e diálogos realizados com o grupo de acadêmicos foram transcritas sobre
forma textual, e utilizando-se para o tratamento desses dados a análise de conteúdo
(BARDIN, 1977), onde as verbalizações foram analisadas, buscando descrever os
resultados referentes ao questionamento que motivou esta investigação. A investigação
1
O autor decidiu utilizar a palavra Pessoa ao invés de sujeito de pesquisa. Isso ocorre
pela própria natureza do autor e pela temática abordada serem pautada na afetividade
humana.
1
Mª Antònia Pujol.; Núria Lorenzo; Verónica Violant (Coordinadoras) (2012)
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pretende possibilitar aos educandos, educadores e pesquisadores compreenderem
melhor os benefícios que a educação estética pode trazer para o ambiente de ensino.
1 Introdução
Em primeiro lugar, ressaltamos que a discussão gerada a seguir são reflexões
sobre uma maneira de fazer educação. Esse relato de uma experiência de pesquisa busca
mostrar como se constrói e se comportam as práticas de ensino. O corpo teórico da
pesquisa é o desenvolvimento e fechamento da disciplina Informação e Meio Ambiente,
no Curso de Biblioteconomia da FURG. O universo humano dessa pesquisa é uma
turma de trinta e sete educandos, de séries diferentes, pois uma vez que a disciplina é
optativa, dispensa qualquer pré-requisito para o ingresso. Para manter a fidelidade das
ideias que constrói cada diálogo – resposta de cada interlocutor na pesquisa optou-se
por preservar a linguagem natural coloquial dos respondentes, inclusive a ortografia
gramatical.
Como aporte para essa investigação, objetivando melhor entendimento para o
leitor, apresenta-se a seguir, a ementa da Disciplina Informação e Meio Ambiente,
Código – 10140, que integra o elenco das disciplinas optativas do quadro de sequência
lógica do Curso. A saber:
Ementa:
Mostrar os diversos graus de inter-relações entre os diversos
ecossistemas. Fundamentar o bibliotecário para uma visão
integrada do meio ambiente através de referencial teórico na
área, estimulando ações com enfoque a questões ambientais
locais. Relacionar os conhecimentos de Biblioteconomia nas
unidades em que se desenvolverá a disciplina.
Destacar o
importante papel do profissional da informação como educador
para uma ecologia consciente.
(Quadro Sequencia Lógica – QSL do Curso de Biblioteconomia,
2000).
Buscou-se eleger temas como meio ambiente, produção imaginária, afetividade e
sentido estético, para estimular o diálogo – educandos e educador. Percebe-se que o
“processo de educar” passa pela fragilidade nas relações pessoais. Imaginariamente,
2
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uma linha densa, tanto horizontal como verticalmente se interpõe nesse fazer educação.
Essa constatação é revelada e observada pelo professor-pesquisador há bastante tempo.
Na docência, no ensino superior, onde está por vinte anos, algumas vezes coordenador
do curso (quatro vezes), outras vezes em cargos de natureza administrativa, já
presenciou e interferiu no encaminhamento para soluções em muitos confrontos de
relações pessoais. Desafetos entre educando(s) e educador; educandos; educandos e
servidores na instituição. Pode-se interpretar como simples falta de educação e não uma
fragilidade nas relações pessoais. Faltar com o espírito educação não é uma tarefa que
está incorporada a efetiva ação do professor, porém, em se tratando de educador poderse-ia voltar o nosso olhar para a tal fragilidade. Se trazida de casa, da vida, isso não é o
mais importante, mas que seja observada, revelada e uma proposta para discussão e
estudo – fazer educação.
No contexto escolar a pesquisa incorpora duas vertentes: de um lado encontra-se
a fundamentação epistemológica, isto é, a investigação de como o conhecimento se
constrói em seu processo de organização, transformação e reorganização constantes.
Destacam-se os discursos dos acadêmicos do curso de Biblioteconomia, uma práxis fora
do espaço sala de aula. Pessoas envolvidas na pesquisa, o movimento que esta ação
produz nós interlocutores da investigação. De outro lado estão as ações pedagógicas, a
partir da observação e diálogos, sobre a prática efetiva dos conceitos em sala de aula,
representadas por “modos” e “posturas” de agir. Trata-se aqui da práxis docente no
cotidiano do processo de ensino, e também por aquilo que os aprendentes podem
imaginar “o que seja aprender”.
Autores como Pino (2006) e Sawaia (2006) têm se debruçado sobre as questões
da produção imaginária nas práticas docentes, nas representações do cotidiano da sala
de aula. O ensino tornou-se desafiador, à medida que permite que a criatividade e a
sensibilidade, privilégios dos homens, possam perceber um universo externo.
Para Sawaia:
“Ao inserir, reflexão sobre a constituição do sujeito, a estética, a
imaginação e os afetos, estamos reconhecendo aos homens o seu
direito de ter necessidades elevadas – a necessidade do belo, de
dignidade - que são essenciais, apesar das exigências da luta
pela sobrevivência, à cidadania e aos direitos humanos”.
(SAWAIA, 2006, p. 91).
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Cada pessoa possui uma representação interior de memórias associativas, de
pensamentos e linguagens simbólicas, nessa perspectiva Motta (1997) vem corroborar
que a simples experiência de viver dá origem às potencialidades criativas dos homens,
dando formas expressivas à linguagem verbal e não verbal. Quando se propõe trabalhar
um texto, os alunos não só desenvolvem a interpretação, mas também adquire à
compreensão de sua funcionalidade diante da variação de potencialidades de
ocorrências representativas, isso decorre das múltiplas relações com a identidade do que
está representado.
Na Biblioteconomia, não diferentemente, o caráter da compreensão das
linguagens têm se constituído a partir das necessidades em tratar e recuperar a
informação. Isso, algumas vezes, exige que a informação seja geradora de palavras
“criadas” – terminologias, para filtrar, num instante mágico, as respostas para os
questionamentos dos utilizadores/usuários.
A produção imaginária está contida no processo ensino-aprendizagem,
formalizados e direcionados são ferramentas natural/artificial que o ser tem e
desenvolve.
Para o desenvolvimento da disciplina, os ambientes são todos na região sul do
Rio Grande do Sul, Brasil.
Após o reconhecimento dos espaços de vivencia e convivência no período das
aulas, as concepções e os significados compreendidos por meio ambiente, isso por parte
dos acadêmicos, passou-se a conceber mundo real e sensível na mediação do conteúdo
formal e informal da disciplina.
Proporcionou-se o meio para criatividade e experimentos - o planejamento dos
conteúdos trabalhados na disciplina, desde a preparação das aulas, a proposta de
avaliação (participação, envolvimento, afetividade, sensibilidade e apresentação das
tarefas solicitadas – relatos, sob diferentes formas de representar), a relação entre os
conteúdos dados e a realidade do alunado que atende a revelação dos processos
proximais entre os demais docentes e disciplinas, os outros ambientes mais
formalizados para as atividades de aulas, todas essas etapas de educação é competência
criadora nos sujeitos da pesquisa.
A pergunta motivadora para realização desta pesquisa é a seguinte: - Como
ocorre na sala de aula, na Disciplina Informação e Meio Ambiente, no Curso de
Biblioteconomia da FURG, o diálogo entre os temas informação, meio ambiente,
produção imaginária, afetividade e sentido estético?
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A questão buscou correlacionar no processo de educação formal, os temas
informação, meio ambiente, produção imaginária, afetividade e sentido estético com as
vivencias dos educandos nas outras disciplinas e em outros ambientes de aprendizado,
seja escolar ou sócio afetivo.
A representação de como ocorre à mediação entre o mundo real (espaços
formais de ensino – sala de aula) e o conceito sensível (ambientes para aprender, ensino
sem a sala de aula) está nas falas dos acadêmicos da disciplina, e esse também é
objetivo no desenvolvimento desse estudo, sobretudo, a pessoa humana no contexto da
educação formal.
Para tratar sobre os temas apresentados na pesquisa, buscaram-se alguns
conceitos e definições sobre imaginário e produção imaginária, reflexões em educação,
a produção do imaginário e a formação do sentido estético, por Angel Pino (2000).
Também em Bader Sawaia (2006, p. 85-94) vamos encontrar a introdução da
afetividade na reflexão sobre a estética, como se constituem os sujeitos humanos.
O saber não está no objeto, mas pode ser descoberto a partir das marcas que
caracterizam o objeto. As marcas tornam-se presentes ao sujeito através da imagem que
nele se faz do objeto.
O que define uma criação como cultural é a significação que ela tem para seu
autor e que pode ser captada pelos outros humanos. O termo imagem remete-nos às
imagens humanas produzidas pelo cérebro humano, transformando as imagens naturais
em imagens de natureza simbólica, detentoras de significação.
Muito importante é definir o que se entende por significação, sob a ótica do
imaginário, segundo Castoriadis (1975). Significação é mostrar ao outro a ideia do que
é feito ou criado. São marcas de o seu fazer, do que ele quis e sabe fazer. As marcas
constituem os componentes semióticos que permitem captar e interpretar a significação
da obra, o que o autor quis fazer e dizer.
A imagem reproduz o objeto na sua materialidade com as suas marcas que, ao
serem captadas e interpretadas, podem dar acesso ao saber a respeito do objeto. Isso
torna a imagem a representação simbólica da coisa e o ato de saber a interpretação das
marcas captadas na imagem. Portanto, a produção das imagens humanas desencadeia no
sujeito um processo de interpretação.
O Imaginário “é criação incessante e essencialmente indeterminada [...] de
figuras, formas, imagens, a partir das quais somente é possível falar-se de alguma coisa”
(CASTORIADIS, 1975, p. 13). Criar é introduzir transformações numa realidade dada
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onde não deveriam ocorrer de forma natural e espontânea. A introdução de
transformações na realidade em si, seja esta dada naturalmente ou produzida pela ação
do homem, supõe uma intervenção externa que, pela própria definição assumida de
criação, tem o homem como ator. Ora, criar algo novo pressupõe que esse ator seja
capaz de concebê-lo antes de concretizá-lo. Isso quer dizer que na linha do pensamento
que está sendo desenvolvido aqui, o ato de criar pressupõe a ação da função imaginária.
A produção Imaginária é o resultado de qualquer tipo de atividade humana
que, nos termos de Vygotsky (1990), crie algo novo, externo ao homem – como objetos
técnicos e obras de arte – ou interno a ele – como organizações de ideias e sentimentos.
A produção imaginária é resultado da atividade criadora.
Elegemos sete alunos participantes, quatro do gênero feminino e três do gênero
masculino.
Através das aulas práticas, e pelas rodas de conversa, nossa coleta de
informações aconteceu, no espaço epistemológico da sala de aula. A questão eixo
fundamenta a discussão sobre o que está sendo trabalhado no cotidiano da sala de aula,
nas propostas de conteúdos. Nesse espaço de desafios e desgastes, onde a aceitação dos
acontecimentos tem relação direta e muito pragmática para os acadêmicos. Logo, se
questiona: qual o valor daquilo que o aluno está aprendendo no dia-a-dia?
Para os educandos o lugar da pesquisa foi construído a partir de muitos
“lugares”, por onde a disciplina Informação e Meio Ambiente transitou.
Para entender o conceito desses lugares – diversos lugares físicos para ter aulas,
sob o olhar do professor e dos acadêmicos, buscou-se em Milton Santos (1996) alguma
definição para se compreender esses espaços:
"não existe um espaço global, mas, apenas, espaços da
globalização. (...) O Mundo, porém, é apenas um conjunto de
possibilidades, cuja efetivação depende das oportunidades
oferecidas pelos lugares. (...) É o lugar que oferece ao
movimento do mundo a possibilidade de sua realização mais
eficaz. Para se tornar espaço, o Mundo depende das
virtualidades do Lugar".
Com a observação, os apontamentos e a posterior transcrição dos diálogos dos
educandos percebemos os diversos experimentos que se manifestam nos espaços
compreendidos como de sala de aula. Interpretamos com isso que há infinitas
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possibilidades de se constituir uma rede de relações sócio-históricas no contexto das
relações de ensinar-aprender-ensinar.
Pode-se verificar, pelas falas dos pesquisados que há uma preocupação em
considerar a realidade, por vezes permeada pelo sensível, algumas outras pelas
incertezas de futuro, e ainda por outras vezes vazia de concepções, conceitos,
linguagens, diálogos.
Fica evidenciado que a instituição de ensino deve ser promotora de vivências e
experiências para as pessoas, com o intuito de instigar a criticidade e a criatividade,
despertando o olhar sensível dos mesmos. Também evidencia-se que existe nas salas de
aula um largo espaço de diálogo e de construção do conhecimento, lugar esse em que
todos querem participar de experimentos e experiências em/com educação.
Esta necessidade é constatada nas verbalizações dos pesquisados, que em
conversa informal, ou seja, após o término das rodas de conversa, continuam em sala e
relatam que têm vontade e a curiosidade pelas informações que podem ser oferecidas,
servidas, compartilhadas. Por vezes, demonstram uma preocupação em “fazer um curso
de nível superior”.
Representação das falas:
“Sabe professor, eu vejo que a gente fica tão preso nas
disciplinas que a gente precisa mais e precisa tira uma nota mais
alta, e esquecemos que um curso superior é muito mais, pode ser
até muito legal. Essa tua disciplina eu só estou fazendo porque a
colega (nome) já fez, ela e o namorado dela, que nem é do nosso
curso. Eu achei que a gente só ia falar de educação ambiental,
mas percebi que se fala de tudo. E pensar que eu nem havia
pensado que todas as coisas estão ligadas, interligadas umas as
outras” (A1).
“Todo o quadro do nosso curso é interessante, eu vim pra Rio
Grande fazer Biblioteconomia por que pesquisei aqui e noutra
universidade (nome) e verifiquei que o nosso curso, hoje meu
também é o melhor que tem. Sou de uma família de
bibliotecários, uma prima ta fora do estado, ela fez o curso em
outra faculdade (nome), mas ela te conhece de quando tu
começaste com os estágios do curso pra fora de Rio Grande e
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ela também se lembra de usar um artigo2 que tu e uma das
primeiras turmas da disciplina escrevestes, acho que foi
publicado num evento de educação ambiental. Há um tempo eu
até andei pesquisando é sobre o olhar de alunos da
Biblioteconomia sobre os ecossistemas brasileiros... nem dá pra
imaginar um curso que não seja de biologia, química, geografia
ou outro mais próximo de educação ambiental, que saiba
escreve sobre meio ambiente. Imagina que legal a gente que é
responsável pela informação também autor de artigo noutra área.
Fico sempre lembrando quando tu disseste nas primeiras aulas
que a gente é maior que sete e meio por doze e meio3 (risos na
sala) por isso que eu acredito que a sensibilidade, da maneira
que a gente agir se pode levar a informação real para qualquer
lugar, cabe em qualquer espaço, só precisamos dimensionar e
direcionar qual o sentido de começar a fazer uma diferença na
vida” (A2).
“O ambiente é qualquer lugar é assim que começo a entender. O
meio onde a pessoa vive, cresce, trabalha, estuda e depois vai
desempenhar uma profissão. Eu não penso sobre a importância
das disciplinas, não tem uma mais ou menos importante. Aqui é
um curso superior, estamos na universidade, aqui nós não
podemos fazer de conta que a gente ta aprendendo ou recebendo
informações de vocês. Eu não tenho toda essa sensibilidade que
vocês tão falando aí... quando fiquei olhando pro pôr do sol lá
no Museu da Pólvora, achei legal, não sei o que isso tem a ver
com o curso, com a profissão que eu vou ser não fiquei todo
2
SILVA, Claudio Renato Moraes da, Informação e Meio Ambiente: uma visão dos
ecossistemas brasileiros por um curso de Biblioteconomia. Apresentado no I Congresso
de Educação Ambiental na Área PRÓ-Mar-de-Dentro, realizado entre os dias 17 e 20 de
maio de 2001. [aproximadamente 5 p.].
Disponível em: http://www.fisica.furg.br/mea/remea/index2.html - ISSN 1517-1256.
3
Dimensões da ficha catalográfica padrão internacional – AACR2
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emocionado, mas foi lindo. Talvez isso possa ser visto como um
avanço em mim (risos). Essa é a minha personalidade e eu estou
na disciplina porque eu preciso de optativas, mas...”(A3).
“O que está em questão é a maneira de viver e ver, daqui em
diante, sobre o planeta no contexto da aceleração das mutações
técnico-científicas e do considerável crescimento demográfico.
É muito interessante nessa disciplina a gente puder discutir essas
questões. Eu não acho que a tecnologia é má, mas também não
acho que é insubstituível, nós vivemos com outras tecnologias e
chegamos até aqui. O perigo é saber onde esses avanços poderão
nos levar, e se realmente nós iremos (risos). As finalidades são
muitas.. a do desemprego, da marginalidade opressiva, da
solidão, da ociosidade, da angústia, da neurose, ou a da cultura,
da criação, da pesquisa, da reinvenção do meio ambiente, do
enriquecimento dos modos de vida e de sensibilidade.” (A3).
A abordagem principal desenvolvida, em todas as atividades da disciplina
Informação e Meio Ambiente, assume meramente o papel de interlocutora com todos os
sentidos e sentimentos que as aulas possam provocar nos acadêmicos aprendentes. O
instrumento – disciplina, não encerra em si o processo de educar pelo ensino, mas
desorganiza uma suposta e imaginária ideia que “dão-se aulas”, quando “temos” aulas
com os nossos aprendentes.
O professor, que também é aprendente, passa a ser viés condutor para os dois
mundos do aprendizado – universo real, sala de aula física, espaço fundamental, mas
não finito e único das ações aprender-ensinar-aprender, e o universo dos sentidos, do
sensível crítico, da produção imaginária da informação, espaço da imagem e da criação
para redimensionar a concepção do estético.
“Eu fiquei pensando quando tu perguntaste pra turma o que essa
tua disciplina poderia contribuir com as outras, influencia que tu
queres saber ? Eu respondi aquela4 pergunta, mas hoje vejo
4
Pergunta: - as atividades de saídas de campo na disciplina Informação e Meio Ambiente contribuem para uma observação mais
sensível no contexto integral do Curso de Biblioteconomia?
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diferente, pode até que só esteja acontecendo comigo, mas
percebi que consigo me abrir mais nas outras aulas, com os
outros professores, acho que são as três ecologias fazendo efeito
(risos na sala). Sério mesmo, podes acreditar, essas nossas
interações como tu dizes, mesmo ainda sem fazer as
intervenções que a gente vai fazer. Já estamos na nossa sexta
aula, tu prefere que a gente diga encontro, eu estou me sentindo
mais humanizado pro curso. O cara vai ficando mexido pras
outras disciplinas”(A4).
O educando não percebeu, mas a intervenção já ocorreu. Quando nos
permitimos, a alteridade sobrepuja os estados de indiferença, ignorância, vazios, e
assume a condução do ser, fazer e deixar acontecer.
Emanuel Lévinas é um dos mais importantes autores de referência na reflexão
moral contemporânea. Lévinas (1997), na sua obra “Entre Nós: ensaio sobre a
alteridade” apresenta firmemente suas ideias básicas sobre a da alteridade, isto é,
colocar o outro no lugar do ser. “O outro não é um objeto para um sujeito. (...) tudo
começa pelo direito do outro e por sua obrigação infinita a este respeito. O humano está
acima das forças humanas."
“(...) parece que esse lance de levar tudo mais pro lado humano,
ficar pensando que a gente vai se só um bibliotecário, como tu
dizes, e reza pra ter usuários de nós é o que mais importa.
Somos só uns aprendentes e depois que receber o diploma, o
grau de bacharel em Biblioteconomia é como se tivesse
começando outro estágio de aprender” (A4 ).
“É uma disciplina agregadora, serve de bom exemplo, tanto das
relações de confiança que se estabelecem entre nós, por que
ninguém sabia nada, todos no mesmo nível de informação,
mesmo que alguns tivessem mais conhecimento, mas ainda
assim as atividades eram novas pra todos. Em minha opinião
conseguimos
levar
pras
outras
aulas
os
aprendizados,
principalmente as diferentes salas de aula que experimentamos.
Eu penso que já estamos vivenciando o conhecimento sensível.
“(A5)
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“A informação na real, nem precisa ser formal, ela tem que ter
um sentido real. Contribuir de fato com a pessoa. Quando tu nos
pergunta qual a importância da tua disciplina pro curso e se a
gente já tinha algum conhecimento dela, eu tenho observado
pelas nossas conversas aqui, que mesmo que a gente nem se
forme bibliotecário, ainda assim tá mudando o nosso jeito de
olhar pras aulas, até pra própria natureza mesmo. Isso é o
estético? Perceber essa beleza toda em plena aula é ver
diferente. Acho que aí a informação conversa com a beleza. Pra
mim é como se juntasse informação, arte, beleza, o estético, o
sentido que a gente olha. É aí que a gente muda à direção do
olhar. Eu to falando isso, por que outro dia, no trabalho do nosso
grupo, nós somos quatro que faz a tua disciplina e mais duas
gurias do terceiro ano, a gente comentava das rodas de conversa
na informação e meio ambiente. Uma delas disse isso nem
parece aula, o que vocês aprendem? E ainda uma delas disse:
acho que só serve pra passeio mesmo. A gente achou engraçada
e até o (nome) disse pra ela fazer a disciplina”. (A5).
Transcender na educação. Rever conhecimentos, atitudes, posturas no cotidiano
das ações naturais e humanas. Desafiar, para resignificar os pensamentos, os discursos,
os métodos, os procedimentos visando à mediação entre o mundo real e o conceito
sensível, primando, conjuntamente, o(s) meio(s) ambiente(s) e a informação (ões). Para
Morin (2000):
“As artes levam-nos à dimensão estética da existência e –
conforme o adágio que diz que a natureza imita a obra de arte –
elas nos ensinam a ver o mundo esteticamente. Trata-se, enfim,
de demonstrar que, em toda grande obra, de literatura, de
cinema, de poesia, de música, de pintura, de escultura, há um
pensamento profundo sobre a condição humana.”
(MORIN, 2000, p.45).
Uma grande e grata surpresa estava por emergir, e aconteceu durante as falas do
próximo educando:
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“As questões que tu estas pesquisando em nós são muito
interessantes, elas tratam da nossa constituição enquanto
sujeitos, com capacidades criadoras, muito embora, ás vezes, a
manifestação dessas fica adormecida em alguns, ainda assim
elas estão lá, falta uma sacudida pra virem e transformar, ou a
gente ou os outros, ou todos nós, ou pelo menos nos tira de um
lugar que parecia confortável e nos leva a pensar. Pensar num
monte de coisas que a gente sempre deixa pra pensar depois,
mas chega um dia que a gente precisa. Falar na utilização da
natureza para a melhoria da vida social, urbana, humana têm
tudo a ver com o que a gente está vivenciando contigo” (A6).
Nesse momento é pertinente e cabível trazer para reflexão o que preconiza a
LDB/1996: A Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº. 9394/96, em seu art. 3º enfatiza os
princípios norteadores do ensino no Brasil: I. Liberdade de aprender, ensinar,
pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; II. Pluralismo de ideias
e de concepções pedagógicas e III. Respeito à liberdade e apreço à tolerância.
“Eu não consigo gostar de aulas assim. Eu vou dizer de outra
maneira. Eu gosto de ter matéria, matéria escrita (risos) sou eu
gosto de copiar do quadro, estudar pras provas, sabe ter caderno
mesmo ficar com matéria depois que termina a disciplina. Não
sei se dessa maneira me expresso muito ignorante, mas aí tu
podes me perguntar o que eu estou fazendo aqui na tua
disciplina? É outra proposta, parece uma aula livre. Tem
matéria, tu mandas material pro e-mail da turma estou sempre
anotando o que tu fala nas saídas de campo, tudo é novidade e
os assuntos sempre interessantes, até agora eu não faltei a
nenhum, tu vê que eu viajei e não emendei o feriado, to aqui. Eu
não tinha conhecimento prévio da Informação e Meio Ambiente,
sabia que iríamos tratar das questões do ambiente, educação
ambiental, ainda mais que tu é mestre nessa área. Acho legal ter
no nosso curso uma disciplina voltada pro meio ambiente, eu
gosto de Geografia, Biologia e Psicologia. É muito interessante
nós da biblio contribuindo com projetos na área do meio
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ambiente, sendo intervenientes. São ações bem práticas que
elevam o conceito dos cursos, isso dá orgulho”. (A7)
Apontamos que a atividade criadora tem seu refúgio no ser humano, pois é este
ser humano, histórico, estético e dotado de afetividade que age sobre a natureza
concreta das coisas e as transforma, mas neste mesmo processo em que transforma,
também é transformado. Portanto, a percepção das imagens e de toda a subjetividade
que nos rodeia é permeada e permitida através da afetividade, que nada mais é, do que
percepção sensível do mundo real.
A sala de aula, o físico do lugar, o conjunto de artefatos na composição das
coisas que são concretas, tudo é mundo real, mas indiferente e não finito para se
processar e transpuser o real tangível. E neste “mundo real” o sujeito criador é per si
sujeito e objeto da sua própria atividade criadora.
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1 RESUMO Este estudo buscou estimular o diálogo entre os