JP2
JORNAL DO POVO
/6
POVO/6
Sábado e domingo,
21 e 22 de novembro de 2009
OSMAR
BESKOW
EDUARDO FLORENCE
[email protected]
Amada, idolatrada e sedutora
O escritor austríaco
judeu Stefan Zweig,
fugindo do nazismo,
veio cair no Brasil e
surpreendeu-se com o
pobre conhecimento
que o mundo tinha
daqui. Mais ou menos
como a informação
que temos da Colômbia, da Namibia e
Nova Zelândia. Ele
achou que o futuro
passava pelo Brasil e
aqui era o paraíso.
Não importa se Zweig
depois começou a ser
perseguido pela
polícia política da
ditadura Vargas e se,
ameaçado de extradição, acabou se suicidando em Petrópolis.
Tampouco importa
que a frase famosa de
Zweig, "Brasil, um
país de futuro", no
final de sua vida tenha
sido acrescentada das
palavras "e sempre
será". Hoje Zweig é
uma das últimas
palavras nas enciclopédias, lá no fim da
letra Z. A palavra
utopia era o título de
um livro do político e
pensador inglês
chamado Thomas
Morus. Utopia era
uma ilha no novo
mundo onde a fantasia dos homens vinha
para o mundo real.
Resta dizer que o livro
foi baseado nos
relatos de Américo
Vespúcio ao passar
pela ilha de Fernando
Noronha e pela visão
da costa brasileira.
Ficamos por séculos meio adormecidos,
mas felizes, diziam
todos, e no lugar de
um país ficamos
sendo uma lenda. Até
o poeta russo
Maiakovsky, num dos
seus poemas, escreveu: “Contam que
existe um homem feliz
no mundo. Parece que
é no Brasil”.
Sempre tivemos o
estigma da felicidade
e do exotismo. Bundas, selva, traficantes,
futebol, Carnaval,
cangaceiros,
corrupção, drogas e a
caipirinha. Um pouco
de culpa teve a tribo
dos Caetés, que na
costa de Alagoas
comeu o bispo Sardinha no primeiro
manifesto
antropofágico cultural.
Ficamos com a fama e
O Cesar inaugurando a foto conceitual. O poema
da Renate Aguiar e a foto do Cesar Roos
deitamos no berço
esplêndido. Foi um erro
de estratégia dos Caetés
e pagamos o pato por
sermos exóticos. O
filme "Cidade de Deus"
foi assistido no mundo
inteiro e quando sabem
que somos do Brasil nos
perguntam se vivemos
em favelas ou como é a
vida na selva, afinal, o
cinema brasileiro
somente filma a exceção e jamais a regra.
Neles todo brasileiro é
tarado, mas como diz a
Rita Lee: "Nem toda
brasileira é bunda".
Alvíssaras! Está
acontecendo uma
mudança na longa
jornada em busca de
um futuro ou a longa
jornada dos imbecis até
o entendimento. Quem
tem lido os jornais do
mundo ou tem viajado
para a linha acima do
Equador anda espantado com a sedução que o
Brasil está exercendo
no mundo. Caímos nas
bocas, nos olhos e no
bolso do mundo inteiro.
Mudanças políticas,
econômicas e sociais,
além da continuidade
institucional, têm sido a
chave desta sedução.
Ficamos meio
prepotentes, mas sem
soberba. Ninguém
abdicou do capitalismo
e da globalização, e sim
souberam conviver e
tirar proveito delas,
melhorando o nosso
belo quadro social.
Claro que nada é
fixo, como nos ensinavam nas aulas de
História. A era moderna começa com a queda
de Constantinopla pelos
turcos. Foi um pouco
antes que tudo começou. Em história exis-
tem causas e
consequências, pelo
menos a Bila Rangel e a
Vera Baltar assim nos
ensinavam no João
Neves. Nada começou
com ele ou aquele, e
sim com a
institucionalização da
democracia. Geração
espontânea não existe.
Unanimidade é apenas
o Machado de Assis,
Tom Jobim e Villa
Lobos. Mas estamos na
moda e deixando de ser
exóticos para entrarmos na lista dos 10
mais. A política externa
está perfeita, criando
embaixadas até no
Gabão e sendo voz
discordante quando for
preciso. A economia
segurou e levantou o
barco, a estratégia
militar é exemplar, o
Lula é popular, e não
populista, tem sal e pré-
sal, vai ter Copa e
Olimpíadas, temos
técnicos e indústrias
de fazer inveja aos
grandes paíse e somos
matriz de
corporações. Tá bom?
Claro que não. Ainda
quando abro a porta
todas as manhãs
relembro que estou na
Cidade de Deus ou na
Maré. Educação
elementar pífia e os
esgotos correm pelas
ruas do Brasil.
Será que chegou a
hora do Brasil? Será
que a utopia veio ao
mundo real? Tenho
certeza que não.
Utopia vem do grego e
quer dizer lugar
nenhum. Na utopia a
diversidade de pensamentos coexistia e os
fanáticos eram expulsos. Mas andamos
bem na foto. Simpáticos, evoluídos e
originais.
É bom demais
seduzir o mundo. Foi
um lance
mercadológico e
político perfeito. Aqui
não tem furacão, nem
vulcão, nem terremoto, nem falhas geológicas, nem nevascas,
e nunca houve guerra
nos nossos domínios.
Tiros existiram aqui
no Sul, mas também
não podíamos ficar
impávidos com os
argentinos. As distâncias sociais diminuíram e Zweig diria que
o futuro chegou.
Demarcamos fronteiras, mas construindo
pontes. Como o lema
da Escola de Samba
Salgueiro, “Nem
maior, nem pior,
apenas diferente”. A
felicidade agora sim
está batendo às portas
e não é privilégio de a
ou de b. É uma coisa
que vem do homem
cordial, dos homens
moradores da ilha de
"Utopia" que não
cediam espaço à
beligerância e nem ao
ódio. Não esquecendo
que o extermínio dos
Caetés começou no
dia que pararam de
comer sardinhas e
começaram a comer
uns aos outros, despertando ódios e
intrigas. Nem ufanistas e nem utópicos,
pela primeira vez um
pouco mais felizes e
menos exóticos.
Vendaval
Tem havido vendaval com muita chuva
na região Sul do Brasil, que resulta em
grandes prejuízos econômicos, como alagamentos, destelhamento de casas, danos em
lavouras de cereais, especialmente de arroz,
feijão, soja, trigo, milho e cevada.
O frontispício do
Jornal do Povo, em sua
edição do dia 16 de
novembro de 2009,
traz com fotografia a
seguinte notícia: “Vento derruba duas árvores sobre casa”. Há
possibilidade de enchentes enormes com
invasão de água em residências nos estados
do Rio Grande do Sul,
de Santa Catarina e do
Paraná. Impõe-se como indispensável que
haja precaução contra
esse fato antes mencionado, cautela com o
nimbo.
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Amada, idolatrada e sedutora