EIXO TEMÁTICO A LITERATURA BRASILEIRA E OUTRAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS
Tema 2: Estilos de época na literatura brasileira e em outras manifestações culturais.
Tópico 4: Parnasianismo
Habilidade 43.0. Ler textos e obras representativos do Parnasianismo brasileiro, produtiva e autonomamente.
Por que ensinar o tópico
Numa postura anti-romântica, o Parnasianismo baseava-se na objetividade temática e no culto da forma. A
objetividade temática surge como negação ao sentimentalismo romântico, numa tentativa de atingir a impassibilidade
e a impessoalidade. Essa estética se opõe ao subjetivismo, daí resultar uma poesia carregada de descrições
objetivas e impessoais.
O traço mais característico do Parnasianismo foi, sem sombra de dúvida, o culto à forma, apresentada na predileção
pelos sonetos decassílabos e alexandrinos, perfeitos, com a presença constante de rimas ricas, raras ou preciosas.
A poesia parnasiana pretendia ser universal. Por isso, utilizava uma linguagem objetiva, que buscava a contenção
dos sentimentos e a perfeição formal. Seus temas eram igualmente universais: a natureza, o tempo, o amor, objetos
de arte e, principalmente, a própria poesia, como se pode constatar em “Profissão de fé”, de Olavo Bilac, poema que
pode ser considerado como uma espécie de plataforma teórica do movimento parnasiano no Brasil. Em seus versos
pode ser encontrado o projeto estético de seu autor.
Vistos pelos modernistas como retrógrados, passadistas e artificiais, os parnasianos sofreram ataques de todos os
lados e que repercutem até hoje. Entretanto, há de se notar que a extrema preocupação da elaboração técnica e do
apuro formal parnasianos, embora duramente criticados, iriam projetar influências e novas formas de conceber a
poesia em muitos poetas modernistas, como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, por exemplo.
Condições prévias para ensinar
Para muitos, o Parnasianismo seria a manifestação em versos do Realismo. Entretanto, enquanto essa estética se
propunha a analisar e compreender a realidade social e humana, o Parnasianismo se distanciava da realidade e se
voltava para si mesmo. O autor realista critica a burguesia e seus valores, já o poeta parnasiano mantém-se
indiferente frente aos dramas do cotidiano, isolando-se na sua “torre de marfim”. Nesse sentido, os parnasianos
apropriam-se do preceito latino de que a arte é gratuita, que só vale por si própria, não tendo, portanto, nenhum
sentido utilitário, distanciando-se, nessa medida, de qualquer tipo de compromisso. Para aos parnasianos, a arte
seria auto-suficiente, sendo justificada apenas por sua beleza formal. Desse modo, a reflexão acerca do social, a
referência ao prosaico, o interesse pelas coisas comuns que envolvem a sociedade, enfim, seriam matérias impuras
a comprometer o texto.
Nessa perspectiva, o Parnasianismo revelou-se como uma estética preocupada com a “arte pela arte”, com seus
poetas à margem das grandes transformações do final do século XIX e do início do XX. Cabe destacar que o
Parnasianismo manifestou-se a partir do final da década de 1870, prolongando-se até a Semana de Arte Moderna.
O que ensinar
TÓPICO E SUBTÓPICOS DE CONTEÚDO
43. Parnasianismo
HABILIDADES
43.0. Ler textos e obras representativos do Parnasianismo
brasileiro, produtiva e autonomamente.
43.1. Reconhecer a importância do Parnasianismo brasileiro
para a formação da consciência nacional e o desenvolvimento
da literatura brasileira.
43.2. Identificar, em textos literários do Parnasianismo, marcas
discursivas e ideológicas desse estilo de época e seus efeitos de
sentido.
43.3. Relacionar características discursivas e ideológicas da
poesia parnasiana brasileira ao contexto histórico de sua
produção, circulação e recepção.
43.4. Reconhecer e caracterizar a contribuição dos principais
autores parnasianos nacionais para a literatura brasileira.
43.5. Estabelecer relações intertextuais entre textos literários
parnasianos e outras manifestações literárias e culturais de
épocas diferentes.
43.6. Identificar efeitos de sentido da metalinguagem e da
intertextualidade em textos literários parnasianos.
43.7. Posicionar-se, como pessoa e como cidadão, frente a
valores, ideologias e propostas estéticas representadas em
obras literárias parnasianas.
43.8. Elaborar, produtiva e autonomamente, textos orais e
escritos de análise e apreciação de textos literários
parnasianos..
Como ensinar (como trabalhar o tópico)
O professor poderá, num primeiro momento, recorrer à origem da palavra “Parnasianismo”, mostrando a sua
associação ao Parnaso grego, que, segundo a lenda, era um monte da Fócida, na Grécia central, consagrado a
Apolo e às musas. A escolha do nome, desse modo, já comprova o interesse dos parnasianos pela tradição clássica.
Nessa perspectiva, verifica-se a retomada da Antigüidade Clássica, com seu racionalismo e formas perfeitas.
Contudo, a presença dos elementos clássicos, para muitos críticos, não ia além de algumas referências a
personagens da mitologia e de um enorme esforço de equilíbrio formal. O professor poderá exemplificar esse ponto
de vista acerca da poesia parnasiana, por meio de poemas como “Vaso grego”, de Alberto de Oliveira, que apenas
reproduz mecanicamente a descrição de um objeto decorativo.
Esta, de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se de antiga lira
Fosse a encantada música das cordas
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.
O estudante deverá compreender que as alusões, citações e referências ao mundo clássico, muitas vezes, como
ocorre no poema anterior, não passavam de um verniz que revestia artificialmente essa arte, como forma de garantirlhe prestígio entre as camadas letradas do público consumidor brasileiro.
Mas cabe ressaltar que a preocupação quase exclusiva com a técnica e com a forma poética não deve ser vista
apenas como superficialidade, uma vez que essa preocupação irá revelar uma reação às excessivas confissões
sentimentais dos poetas românticos. Há de se salientar que no excessivo, e às vezes gratuito rebuscamento de
muitos dos poemas do já citado Alberto de Oliveira ou de Raimundo Correia ou ainda do principal poeta dessa
estética entre nós, Olavo Bilac, podem-se vislumbrar os princípios de uma consciência artística do artesanato
poético.
Embora vistos pela crítica como poetas frios e distantes, o professor há de salientar que Raimundo Correia, por
exemplo, foi um consumado artesão do verso. Há em seus poemas um efeito plástico em suas descrições da
natureza: à frieza descritivista de um “Vaso grego”, por exemplo, contrapõe-se uma certa emotividade que
humanizava a paisagem, como se pode observar no soneto abaixo, “Anoitecer”:
Esbraseia o Ocidente na agonia
O Sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de oiro e de púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...
Delineiam-se, além, da serrania
Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia...
Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua...
A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
Essa emotividade, em outros poemas, por vezes adota uma conotação melancólica, de caráter filosófico, para se
falar do fracasso dos sonhos, como ocorre em seu mais célebre poema: “As pombas”:
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
Dentro dessa estética, o professor há de destacar a produção de Olavo Bilac. A exemplo de quase todos os
parnasianos, Bilac escreveu poemas com motivos greco-romanos, que evidenciam sua grande habilidade técnica,
como pode ser constatado em “A sesta de Nero”. Mas a poesia de Bilac também se utilizou da temática amorosa sob
duas óticas: uma platônica e outra erótica/sensual. Quase todos seus textos amorosos tendem à celebração dos
prazeres da carne, como se pode observar de forma bastante evidente, em seu livro Sarças de fogo, em que se
sobressaem beijos ardentes e abraços lascivos, como exemplificam os versos iniciais de “Beijo eterno”:
“Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,
Beija-me assim!”
Em contrapartida, em um conjunto de sonetos intitulado Via Láctea, Bilac utiliza-se da temática amorosa numa
concepção platônica, como se pode constatar em um de seus mais famosos sonetos desse conjunto, o de número
XIII:
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
Paralelamente a essas temáticas, o poeta, fortemente identificado com o nacionalismo ufanista, acabou por se situar
como intelectual a serviço do sistema. Compondo poemas laudatórios, inventou um país de heróis, cantando e
enaltecendo a “Língua portuguesa”:
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Bilac também compôs versos aos símbolos pátrios como a bandeira. Cabe lembrar que o hino à bandeira brasileira é
de sua autoria.
Como avaliar
O contato com a poesia parnasiana pode apresentar para o aluno, num primeiro momento, uma série de dificuldades,
particularmente no que concerne à linguagem, repleta de citações e alusões clássicas à história e à mitologia,
inversões sintáticas e outros tipos de rebuscamentos. Por isso, seria interessante se o professor incentivasse os
alunos a pesquisar sobre temas e personagens mitológicos que aparecem em vários poemas dessa estética. Como
sugestão, o professor poderia trabalhar com o poema “Profissão de fé”, de Olavo Bilac, que, além de conter rico
material para esse tipo de atividade, poderá suscitar uma boa discussão sobre a questão do fazer poético para o
parnasiano.
O professor ainda poderá enfatizar que, embora a poesia parnasiana nem sempre alcançasse uma visão profunda
sobre o homem e sua condição, Olavo Bilac foi o mais jovem e mais bem-acabado poeta parnasiano brasileiro. Seus
poemas, principalmente os sonetos, apresentam uma perfeita elaboração formal, como o seguinte:
Vila Rica
O ouro fulvo do acaso as velhas casas cobre;
Sangram, em laivos de ouro, as minas, que a ambição
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
E cada cicatriz brilha como um brasão.
O ângelus plange ao longe em doloroso dobre.
O último ouro do sol morre na cerração.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,
O crepúsculo cai como uma extrema unção.
Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu...
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,
Como uma procissão espectral que se move...
Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu...
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.
Nesse soneto, o professor poderá pedir aos alunos para, primeiramente, reestruturar seus versos na ordem direta, o
que facilitará a sua leitura, assim como consultar o dicionário, para averiguar o significado das palavras ainda
desconhecidas por eles.
O professor, em seguida, poderá discutir sobre as qualidades técnicas deste poema, atentando para as sugestões
sonoras, as sugestões cromáticas do ouro: luz do sol e do ouro das minas, e do negro da noite, do passado e do
próprio nome da cidade. Ainda devem ser notadas as oposições existentes no texto, que reforçam o contraste entre
passado e presente, riqueza e pobreza, o passado glorioso e o presente humilde, dia e noite.
O poema ainda faz uma alusão à literatura árcade, também de feição clássica como a parnasiana: “Soluça um verso
de Dirceu”. Esse “soluçar” do verso de Dirceu, na última estrofe, lembrando o choro, sugere os sofrimentos de Marília
e Dirceu e dos inconfidentes mineiros. Nessa perspectiva, o professor poderá chamar atenção para o traço
nacionalista e, de certo modo, ufanista da poesia de Bilac, uma vez que Dirceu, o poeta Tomás Antônio Gonzaga, foi
um dos inconfidentes.
Leituras recomendadas
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 3ª edição. São Paulo: Cultrix, 1989.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. 7 ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1993.
PEIXOTO, Sérgio Alves. A consciência criadora na poesia brasileira: do barroco ao simbolismo. São Paulo:
Annablume, 1999.
Orientação Pedagógica: Tópico 43. – Parnasianismo
Currículo Básico Comum - Língua Portuguesa Ensino Médio
Autor(a): Gilberto Xavier da Silva e Luiz Carlos Junqueira Maciel
Centro de Referência Virtual do Professor - SEE-MG/2009
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Numa postura anti-romântica, o Parnasianismo baseava