Parnasianismo:
A forma pela
forma
Parnasianismo: contexto
O Parnasianismo surge na França, na década de 1860.
Aproximação e
afastamento das
estéticas românticas e
realistas
Romantismo – afasta-se idealização e não apresenta as
lamúrias românticas; afasta-se do desejo de liberdade
formal do romantismo.
Realismo – aproxima-se pelo objetivismo, materialismo e
preocupação formal com o “método” (o fazer).
Interesse da classe
burguesa nessa poesia
Uma poesia acrítica, com uma abordagem superficial,
musicalidade e imagens graciosas – um texto de fácil
leitura.
Parnasianismo: aspectos formais
Objetivo dos
Parnasianos Franceses
Busca no estilo e nas técnicas poéticas um método que os
afaste do universo sentimentalista, de intensa
subjetividade e idealização.
Concepção de arte e de
sua finalidade segundo
Théophile Gautier
Procura pela forma ideal da Beleza, da Palavra,
minuciosamente escolhida, dos ritmos, dos sons, rimas, que
deveriam primar, antes de tudo, pelo rigor da forma, pelo
apuro da linguagem.
A inspiração para o
nome
O nome Parnaso é dado ao monte, onde, seguindo a lenda,
vive o deus Apólo, deus da Luz e da Beleza.
Monte Parnaso, situado na antiga
Delfos, próximo a Corinto.
Apólo
Parnasianismo: aspectos formais
Aspectos
estruturais/formais
da poesia/aspectos
clássicos
Poesia descritiva ;
Sem verbos de ação;
Muitos adjetivos;
Palavras exóticas;
Perfeição formal;
formas clássicas e renascentistas.
Segue, nos próximos slides, uma análise detalhada do soneto, sua
forma, que ajudam a esclarecer sua escolha como forma perfeita
para os parnasianos.
Estudo comparativo: soneto
Desenvolvido no sul italiano, durante a Renascença, formatado a partir da didática da “Poética”
de Aristóteles. É uma das formas mais utilizadas de poesia no Ocidente . Escolhida como a “forma
perfeita” para o Parnasianismo, por seu detalhismo de versos, rimas e metrificação.
Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Tese ou
proposição
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido lenho.
Desenvolvimento
da tese
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal que mata e não se vê;
contraposição ou
antítese
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.
Fecho de ouro
ou
Síntese
Camões, classicista (séc. XVI)
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.“
Bilac, parnasiano (séc. XIX).
• Não há tema de preferência para o soneto, mas é considerado no Classicismo uma fôrma “grave”, portanto
não deve ser aplicado aos temas satíricos.
• A dialética platônica (tese, antítese e síntese) é uma influência do pensamento neoplatônico sobre essa
forma de poesia.
Estudo comparativo: soneto italiano
• O soneto é sempre composto de 14 versos (dois quartetos e dois tercetos)..
• Cada verso é formado de 10 sílabas poéticas (contudo, os acentos nas sílabas tônicas podem variar):
1
BUS
O
2
3
qu’A mor
ra
di
4
5
NO vas
REIS ou
6
AR
VIR
7
tes
es
8
NO
TRE
9
v’en
las
10
GE
CER
nho
to
Busque Amor novas artes, novo engenho, A
Para matar-me, e novas esquivanças, B
Que não pode tirar-me as esperanças, B
Que mal me tirará o que eu não tenho. A
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo A
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, B
Que, para ouvi-las, muita vez desperto A
E abro as janelas, pálido de espanto... B
Olhai de que esperanças me mantenho! A
Vede que perigosas seguranças! B
Que não temo contrastes nem mudanças, B
Andando em bravo mar, perdido lenho. A
E conversamos toda a noite, enquanto B
A via láctea, como um pálio aberto, A
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, B
Inda as procuro pelo céu deserto. A
Mas, conquanto não pode haver desgosto C
Onde esperança falta, lá me esconde D
Amor um mal que mata e não se vê; E
Direis agora: "Tresloucado amigo! C
Que conversas com elas? Que sentido D
Tem o que dizem, quando estão contigo?“ C
Que dias há que na alma me tem posto C
Um não sei quê, que nasce não sei onde, D
Vem não sei como, e dói não sei porquê. E
E eu vos direi: "Amai para entendê-las! E
Pois só quem ama pode ter ouvido D
Capaz de ouvir e de entender estrelas.“ E
Camões, classicista (séc. XVI)
Bilac, parnasiano (séc. XIX)
Parnasianismo no Brasil
O Parnasianismo chega ao Brasil na década de 1870.
Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo
Bilac: a trindade do parnaso brasileiro.
Olavo Bilac – O príncipe dos poetas
Biografia
Olavo Bilac - jornalista, poeta, inspetor de ensino, nasceu no Rio de
Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865, e faleceu, na mesma cidade,
em 28 de dezembro de 1918. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo e à
literatura. (...) Fundou vários jornais. É o autor da letra do Hino à
Bandeira.
Profissão de Fé
Le poète est ciseleur,
Le ciseleur est poète.
Victor Hugo.
[Tradução livre: O poeta é ourives/
O ourives é poeta.]
(...)
Invejo o ourives quando
escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o
alto relevo
Faz de uma flor.
(...)
Por isso, corre, por servirme,
Sobre o papel
A pena, como em prata
firme
Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a Caia eu também, sem
imagem,
esperança,
A idéia veste:
Porém tranqüilo,
Cinge-lhe ao corpo a
Inda, ao cair, vibrando a
ampla roupagem
lança,
Em prol do Estilo!
Azul-celeste.
Torce, aprimora, alteia,
lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta
a rima,
Como um rubim.
(...)
Porque o escrever - tanta
perícia,
Tanta requer,
Que oficio tal... nem há
notícia
De outro qualquer.
(...)
A Um Poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, no silêncio e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e
sua!
Mas que na forma se disfarce o
emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica, mas sóbria, como um templo
grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
(Tarde, 1919.)
Raimundo Correia – O poeta das pombas
Biografia
Raimundo Correia (R. da Mota de Azevedo C.), magistrado, professor, diplomata e
poeta, nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo do navio brasileiro São Luís, ancorado
na baía de Mogúncia, MA, e faleceu em Paris, França, em 13 de setembro de 1911.
Em 1883, publicou as Sinfonias, onde se encontra um dos mais conhecidos sonetos da
língua portuguesa, “As pombas”. Este poema valeu a Raimundo Correia o epíteto de
“o Poeta das pombas”, que ele, em vida, tanto detestou. (...)
Em 22 de fevereiro de 1892, foi nomeado diretor da Secretaria de Finanças de Ouro
Preto. Na então capital mineira, foi também professor da Faculdade de Direito.
As Pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim
dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas,
serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas
voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
(Sinfonias, 1883.)
Alberto de Oliveira
Biografia
Alberto de Oliveira (Antônio Mariano A. de O.), farmacêutico, professor e poeta,
nasceu em Palmital de Saquarema, RJ, em 28 de abril de 1857, e faleceu em Niterói,
RJ, em 19 de janeiro de 1937.
Vaso Grego
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus
servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às
bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
(Sonetos e poemas, 1886.)
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