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MÉDICO
Existe diferença entre os sexos na fibrose cística?
Roger Buchdahl, Andrew Bush e Nisha Verma
Há muitos anos se vem observando que as meninas com FC não crescem tanto quanto os
meninos, além de terem deficiências pulmonares. Ao chegarem à meia idade, as mulheres
que apresentam a doença têm uma qualidade de vida 4 a 5 vezes pior que a dos homens.
Em um estudo americano que amalgamou os dados da sobrevida de um grande número de
centros de atendimento a FC, podemos esperar que 50% das mulheres estejam vivas aos 25
anos de idade, em comparação com os homens, dos quais podemos esperar 50% vivos aos
28 anos. Na verdade, abaixo da idade de 20 anos, as meninas tiveram um risco de morte
60% maior em comparação com os rapazes (1). Tem havido bastante especulação sobre o
motivo dessa diferença. Existe alguma evidência que mostra que as meninas desenvolvem
infecção pulmonar por Pseudomonas aeruginosa em uma idade precoce. Outra evidência
mostra que quando as meninas as meninas chegam à adolescência, seu peso se deteriora
mais rapidamente. Isso tem sido parcialmente, mas não inteiramente explicado, por fatores
da imagem corporal.
Entretanto, um dos problemas dos estudos que analisam os resultados clínicos derivados de
observações de um grande número de centros é que eles às vezes podem ocultar diferenças
individuais entre os centros. Além disso, em um contexto internacional pode haver
diferenças na prática clínica entre os países. Na Dinamarca, por exemplo, sugeriu-se que
índices notáveis de sobrevivência e qualidade de vida podiam ser atribuídos a todos os
pacientes tratados em um centro e a todos os pacientes infectados com Pseudomonas
aeruginosa que recebessem antibiótico intravenoso regular eletivo a cada 3 meses,
independentemente do quanto eles estivessem mal. Com essa política, mais de 80% dos
pacientes sobrevivem além da 5ª. década de vida, independentemente do sexo (2).
No Royal Brompton and Harefield NHS Trust, em Londres, construímos um estudo
retrospectivo para examinar o progresso clínico de crianças e adolescentes com FC (3).
Comparamos nossa população clínica em 1993 (n=105) com a população clínica em 2002
(n=209) (estudo cross-seccional). Descobrimos que os pacientes em 2002 tinham melhor
função pulmonar comparada a 1993. Em termos do percentual previsto de FEV1: 1993 feminino 86%, masculino 84% e em 2002, feminino 93%, masculino 92% (Fig 1). Escores
padronizados de crescimento para os sexos feminino e masculino revelaram que no sexo
feminino os escores Z para estatura e peso foram pelo menos tão bons quanto no sexo
masculino (Fig 2). Em 2004 88% da população original de 1993, agora entrando na casa
dos 20 anos, estavam vivos. Dessas 2 populações selecionamos 2 subgrupos de pacientes e
rastreamos sua função pulmonar e seu crescimento durante períodos de 5 anos, o primeiro
começando em 1993 e o segundo em 1998 (o estudo longitudinal). Descobrimos que a
função pulmonar e o crescimento permaneceram relativos constantes nos períodos de 5
anos, mas o percentual geral previsto de FEV1 parecia melhor nas meninas que nos
meninos para ambas as cohorts (Fig 3).
Achamos que os números que melhoram com o passar do tempo e a impossibilidade de
encontrar uma desvantagem para o sexo feminino podem ser atribuídos às estratégias de
tratamento ativas. É nossa política, por exemplo, tratar primeiro o isolamento de
Pseudomonas aeruginosa com 3 meses de antibiótico nebulizado e ciprofloxacina oral,
similarmente à política adotada em Copenhague (4, 5). Se o organismo cresce pela segunda
vez, então aconselha-se antibiótico inalado de vida longa. Também empregamos 3 meses de
antibiótico IV regular eletivo anti-Pseudomonas em crianças com doença pulmonar mais
avançada. É difícil provar que qualquer política individual por si só explique nossos
números. Provavelmente, são os muitos fatores de diferentes tratamentos que fazem a
diferença. A tarefa de provar a significância de qualquer tratamento isolado é difícil e
controversa (6).
A mensagem geral do nosso trabalho é que não há nenhum motivo pelo qual as meninas
com FC não possam ser tão bem sucedidas quanto os meninos. Os centros onde ainda
existe uma diferença de gêneros em favor dos meninos devem direcionar e rever seus
protocolos de tratamento.
Figura 1: Análises cross-seccionais. Valores percentuais previstos de FEV1 (volume
expiratório forçado em 1segundo) para pacientes de FC, sexos feminino e masculino, dos
registros de avaliação anual em 1993 e 2002. As linhas horizontais representam os valores
da mediana.
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Figura 2: Análises cross-seccionais. Valores percentuais previstos de FVC (capacidade vital
forçada) para pacientes de FC, sexos feminino e masculino, dos registros de avaliação
anual em 1993 e 2002. As linhas horizontais representam os valores da mediana.
Figura 3: Análises longitudinais. Gráfico mostrando a tendência em valores da mediana em
percentual previsto (PP) de FEV1 (volume expiratório forçado em 1 segundo) para
pacientes de FC dos sexos masculino e feminino revistos durante 5 anos consecutivos entre
1993-1997 e 1998-2002. As barras de erro representam os valores dos quartis superior e
inferior sobre os valores da mediana.
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Referências & Leitura complementar
.
1. Rosenfeld M, Davis R, FitzSimmons S et al. Gender gap in Cystic Fibrosis Mortality.
Am J Epidemiol 1997; 145:794-803
2. Frederiksen B, Lanng S, Koch C, Hoiby N. Improved survival in the Danish centertreated cystic fibrosis patients: results of aggressive treatment. Pediatr Pulmonol.
1996;21:153-158.
3. Verma N, Bush A, Buchdahl R Is there still a gender gap in cystic fibrosis? Chest 2005;
123: 2828-34
4. Frederiksen B, Koch C, Hoiby N. Antibiotic treatment of initial colonization with
Pseudomonas aeruginosa postpones chronic infection and prevents deterioration of
pulmonary function in cystic fibrosis. Pediatr Pulmonol. 1996;23:330-335.
5. The Royal Brompton and Harefield NHS Trust: Clinical Guidelines for the Care of
Children with Cystic Fibrosis 2003. www.rbh.nthames.nhs.uk/childrencf
6. Fiel SB. Early aggressive intervention in cystic fibrosis: is it time to redefine our "best
practice" strategies? Chest. 2003; 123:1-3
Roger Buchdahl MBBCh, MD FRCP FRCPCH, obteve seu MD em Cambridge, em 1990,
com a tese “Relação entre gasto de energia em repouso, crescimento, má nutrição e doença
pulmonar na fibrose cística.” Atualmente é consultor pediátrico em Doença Respiratória
Pediátrica no Royal Brompton and Harefield NHS Trust, em Londres – dois renomados
centros mundiais para o tratamento da doença cardíaca e pulmonar. Ele também é consultor
em Pediatria Geral no Hillingdon Hospital, em Middlesex. Roger é autor de numerosos
artigos científicos no campo de doenças respiratórias pediátricas, incluindo FC, poluição do
ar e asma.
Andrew Bush MB BS(Hons) MA MD FRCP FRCPCH é Professor de Respirologia
Pediátrica no Imperial College e médico pneumologista pediátrico, consultor honorário no
Royal Brompton Hospital and Harefield NHS Trust, em Londres, Reino Unido. Ele obteve
seu MD (Cambridge) em 1987, após sua pesquisa da avaliação funcional da circulação
pulmonar em homens. É autor de escores de artigos de pesquisa em FC e tem sido
convidado a realizar palestras em muitos encontros e congressos científicos de FC. Seus
atuais interesses de pesquisa e publicações no campo da doença respiratória pediátrica
incluem o monitoramento invasivo e não invasivo da inflamação das vias aéreas e asma
grave.
Nisha Verma obteve um título de BSc em Ciência Respiratória em 2005 e atualmente é
aluna do último ano de medicina no Imperial College School of Medicine ,em London.
Temos grande esperança de que quando se formar, em junho de 2006, ela continue com seu
interesse e seus estudos de pesquisa em FC.
Artigo traduzido por: Nádia Lamas
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