24 jornal do commercio
Recife I 8 de março de 2012 I quinta-feira
veículos
Fotos: Alexandre Gondim/JC Imagem
www.jconline.com.br/veiculos
Elas dão bom exemplo
COMPORTAMENTO
Pernambuco tem 100
mil mulheres
autorizadas a pilotar
motos. E elas fazem
isso com muita
segurança
Edilson Vieira
[email protected]
N
ão é de hoje que as mulheres
decidiram pilotar as próprias
vidas. Por paixão, comodidade no trânsito ou como ferramenta de
trabalho a motocicleta está fazendo
parte das novas escolhas femininas.
Em Pernambuco, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (DetranPE), já são quase 100 mil mulheres habilitadas para pilotar motos. Isto representa uma mulher motociclista a cada
cinco homens habilitados. Ao mesmo
tempo, o número de acidentes entre
elas é consideravelmente menor se
comparado com as ocorrências envolvendo homens no comando das motos.
“Quando recebemos alguma mulher
acidentada em moto geralmente ela estava na garupa”, diz Bernardo Chaves,
chefe do setor de traumatologia do
Hospital da Restauração. O médico explica que o piloto tem sempre alguma
forma de antever o acidente e assim,
consegue tomar atitudes que o protegem mais na queda, já a garupa é mais
vulnerável. “Mesmo em casos de acidentes envolvendo mulheres que pilotam elas se machucam menos gravemente que os homens; elas são mais
cuidadosas”, resume Bernardo.
Para Camilla Vazquez, presidente
do único motoclube exclusivamente feminino de Pernambuco, o Mulheres
na Estrada, a garupa deveria ser uma
uma espécie de co-piloto. “Ser garupa
não significa enfeitar a moto para o homem desfilar. É preciso conhecer técnicas de pilotagem e a máquina para até
ajudar em caso de urgências”, diz a funcionária pública que acumula 30 anos
de experiência pilotando as próprias
motos. Viajando por todo Nordeste,
sempre com sua moto custom, ela pre-
No Estado existe até
um motoclube
composto apenas
por mulheres
sencia muitos absurdos cometidos pelos “não-motociclistas”, é como Camilla define quem conduz moto de maneira irresponsável. “Quem sobe numa
moto e não usa os equipamentos básicos de segurança não respeita pedestre
e nem as regras de trânsito, não respeita nem a própria vida”.
Com tantos anos de pilotagem ela só
registra dois acidentes, ambos sem gravidade. “Num deles eu estava parada
quando um outro motociclista passou
por mim em alta velocidade e esbarrou
no meu retrovisor, me fazendo perder
o equilíbrio e derrubar a moto”, diz
ela, que pilota uma Shadow 650 cilindradas, uma moto de 280 quilos. “Infelizmente são posturas como a desse
mau motociclista que prejudicam a
imagem da categoria”, diz ela. Camilla
também lamenta que algumas propagandas a pretexto de divulgar a segurança pregam que o motociclista é sempre irresponsável. “Temos 12 associadas ao motoclube Mulheres na Estrada
e posso afirmar que todas pilotam de
maneira diferenciada. Tenho também
muitos amigos homens que conduzem
a moto de maneira segura”, completa.
Novata no mundo das duas rodas, a
professora de educação física Flávia Espínola pilota moto há dois anos. No início foi difícil convencer a família que a
motocicleta seria a solução para seus
problemas de mobilidade. “Não tinha
grana para comprar e manter um carro
e estava cansada de chegar atrasada ao
trabalho e a faculdade, então resolvi
comprar a moto”. Flavia agora usa sua
Yamaha Neo 150 cilindradas para se
deslocar entre os dois empregos, e nunca se envolveu em acidentes. O segredo, segundo ela, é atenção e paciência.
“Piloto por mim e pelos outros. Sei que
os motoristas têm dificuldade em visualizar a moto então me posiciono sempre de maneira que posso ser vista e
deixo bem claro minhas intenções ao
mudar de faixa”. Flavia conta que outro dia foi abordada numa blitz de trânsito. Ao conferir os documentos e os
equipamentos de segurança o policial
comentou: “mulher anda sempre certinha”, diz sorrindo.
Prudência é a mesma receita utilizada por Ana Maria Costa. Em 10 anos
atuando como motogirl, ela se envolveu em apenas dois acidentes de trânsito, sem gravidade. Com a missão de
atender a clientes sempre exigentes,
ela diz que agilidade e pressa são duas
coisas diferentes. “Tenho sorte de trabalhar numa empresa que não exige
que a gente corra para fazer as entregas. A moto já é um veículo ágil. É só
saber andar e dá tempo de fazer tudo”,
diz Ana que pela dedicação e responsabilidade atua agora na área administrativa da empresa. Mesmo assim, ela não
dispensa a moto como transporte pessoal entre a residência e o trabalho e
continua fazendo entregas de documentos mais importantes. Para quem
quer começar na profissão de motogirl
Ana tem um conselho: seja prudente.
Pilotar bem significa ter limites.
q Mulheres falam
k Não me conformava em ser só garupa
k Sempre quis ter uma moto
k Não passo dos 60 km/h
Foi o espírito de rebeldia que levou Camilla Velazquez a
comprar sua primeira moto, no início dos anos 80. Ela não
queria apenas ser garupa, queria pilotar. Da antiga Yamaha DT
180 de trilhas à atual estradeira Honda Shadow 650 foram
muitos quilômetros rodados e inúmeras histórias vividas. “Eu
já fui do Recife até São Paulo e percorri todo o Nordeste em
cima de uma moto”, orgulha-se Camilla, fundadora do
motoclube Mulheres na Estrada, grupo pernambucano que
reúne apenas o público feminino.
A professora de educação física Flávia Espínola vem de uma
família onde todos têm carro e, por isso, ela precisou de um bom
argumento para convencer os parentes de que passaria a andar
de moto. O pai até tem carteira para pilotar motocicleta, mas
tinha receio. A justificativa dela, de que precisava chegar mais
rápido no trabalho depois de sair da faculdade, foi o mote que
precisava para ganhar o aval dos pais. Hoje, dividindo seu tempo
entre dois empregos, ela vê a moto como o transporte ideal para
facilitar a vida. “É rápida, prática e muito econômica”, diz Flávia.
Há 10 anos, Ana Maria Costa era balconista. Queria ganhar
mais e decidiu ser motogirl numa época em que a profissão era
rara entre as mulheres. Não sabia nada de moto, mas tirou a
habilitação. Teve a sorte de conseguir sua vaga numa empresa
de entregas que se preocupa com a segurança dos
trabalhadores. “Sempre me disseram que eu não precisava
correr. Isso serviu de lição e hoje não passo dos 60 quilômetros
por hora”, conta. Ela diz que nunca perdeu o medo da moto e
acha que isso é que a faz ter limites.
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