III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
15 a 17 de Maio de 2013
Universidade do Estado da Bahia – Campus I
Salvador - BA
PENSANDO A PROSTITUIÇÃO, A PESQUISA E A MILITÂNCIA
Letícia Cardoso Barreto1
Miriam Pillar Grossi2
Claudia Andrea Mayorga3
A prostituição feminina tem sido pesquisada por áreas do conhecimento sob diversas óticas,
com enfoques antropológicos, epidemiológicos ou históricos, por exemplo. Com a emergência e
consolidação dos movimentos de prostitutas, aliado ao surgimento da AIDS e das tentativas de
controle da epidemia, as pesquisas foram se concretizando a partir de relações entre
pesquisadores/as e grupos organizados de prostitutas e entidades que realizam trabalhos com estas.
Apesar do grande volume de pesquisas e trabalhos de intervenção relativos à prostituição, pouco se
tem visto de sistematização em torno de como estes se configuram e as formas como são
estabelecidas as relações com os contextos estudados. Faltam análises que abarquem o
envolvimento de quem pesquisa, que reflitam sobre o campo de forma mais ampla, atingindo
pesquisa, militância, intervenção. Propomos aqui uma análise sob esta ótica, que tome como foco
analítico o contexto da prostituição em Belo Horizonte, estabelecendo paralelos entre este e o
material bibliográfico encontrado e trabalho de campo desenvolvido neste contexto.
Palavras-chave: Prostituicao, pesquisa, militância, epistemologia feminista
Introdução
A prostituição é uma ocupação marcada por diversidades que abrangem suas características,
as pessoas envolvidas e a forma de se referir à mesma. No senso comum é tida como a troca ou
venda de sexo por dinheiro, contudo não se reduz à relação sexual propriamente dita e por vezes
nem a inclui. Abarca trocas que vão além da financeira, como a afetiva ou a sexual, ou a permuta de
favores e presentes (PISCITELLI, 2004). Envolve uma diversidade indeterminada de práticas, nem
todas de cunho econômico ou sexual (OLÍVAR, 2010). Consideramos que abrange a negociação de
práticas eróticas e afetivas mediadas por trocas de recursos materiais e simbólicos em ambientes de
comércio sexual.
Ocorre em territórios mais ou menos circunscritos, incluindo pontos de passagem e de
perambulação (PERLONGHER, 2008), como ruas, boates, hotéis, jornais, internet, possuindo
características variáveis de organização do trabalho, da forma como profissionais percebem e se
colocam no mesmo, dentre outras. Cláudia Fonseca (1996) destaca que há uma diversidade que é
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) – [email protected]
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Professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
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Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
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fruto das características das pessoas que se prostituem, como idade, sexo, raça, classe social, e da
sua forma de inserção, variando o tempo de permanência, os objetivos. A negociação dos
programas também é variável havendo dissonâncias em relação à forma como se combina e ao que
se combina (BARRETO e PRADO, 2011; BARRETO, SILVEIRA e GROSSI, 2013; BARRETO,
2008).
A prostituição feminina tem sido pesquisada por áreas do conhecimento sob diversas óticas,
com enfoques antropológicos, epidemiológicos ou históricos, por exemplo. Com a emergência e
consolidação dos movimentos de prostitutas, aliado ao surgimento da AIDS e das tentativas de
controle da epidemia, as pesquisas foram se concretizando a partir de relações entre
pesquisadores/as e grupos organizados de prostitutas e entidades que realizam trabalhos com estas.
Apesar do grande volume de pesquisas e trabalhos de intervenção relativos à prostituição, pouco se
tem visto de sistematização em torno de como estes se configuram e as formas como são
estabelecidas as relações com os contextos estudados. Faltam análises que reflitam sobre a forma de
produção de conhecimento neste contexto e abarquem o envolvimento de quem pesquisa, que
elucubrem sobre o campo de forma mais ampla, atingindo pesquisa, militância, intervenção.
Para pensar a produção do conhecimento neste campo, se torna fundamental realizar
reflexões epistemológicas. Consideramos que o conhecimento não é feito de verdades absolutas,
mas é falível e verdades que são aproximadas e provisórias (MENICUCCI DE OLIVEIRA, 2008).
Problemas, conceitos, teorias, metodologias e verdades são produtos que trazem a marca de suas
criadoras, e que são por sua vez marcados por seu gênero, classe, raça e cultura (HARDING, 1996),
e por valores materiais e culturais (BANDEIRA, 2008). Buscamos manter uma postura de
reflexividade que permita compreender as dinâmicas que atuam nos espaços de interação e as
formas como nossos pressupostos interferem no processo de pesquisa (NEVES e NOGUEIRA,
2005), destacando inclusive a existência de privilégios por partes da elite que a realiza (SPIVAK,
1994). A construção do conhecimento esteve aliada à transformação das relações sociais, unindo
interesses da ciência e das mulheres (DAGENAIS, 1987).
Objetivamos constituir uma pesquisa que gerasse oportunidades de crescimento e de
realização para ambos os lados, buscando construir uma ciência que: deve ser comprometida com o
feminismo, a emancipação, a mudança social (HARDING, 1996); precisa buscar a eliminação de
formas de dominação e opressão (FARGANIS, 1997) através da articulação entre diversas lutas,
que não se restringem à esfera do gênero (FRASER, 2009; MOUFFE, 1996, 1999), mas
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entrelaçando categorias e não invisibilizando diferenças (FEMENÍAS, 2007); confira aos objetos de
estudos atributos de agência, autonomia e poder (KELLER, 2006); articule saber e prática, a prática
produzindo conhecimento e o saber, ação social, estabelecendo vínculo com o movimento social
através de um olhar situado (MACHADO, 1994); valorize as experiências antes desvalorizadas e a
troca das mesmas em prol da conscientização, desenvolvendo um terreno comum ou perspectivas
compartilhadas em que todos os pontos de vista são igualmente ouvidos e respeitados, gerando base
sólida para diversas lutas (BROOKS, 2007), que devem ser associadas (não se restringindo às
desigualdades de gênero) em prol de uma democracia que abranja todos os níveis, unindo
solidariedade e participação (FRASER, 2009; MOUFFE, 1996, 1999).
Consideramos que, na literatura mundial, a prostituição tem sido pensada a partir de três
eixos principais, que se fundamentam na forma como se percebe a prostituição e se age com relação
a ela. Destacamos que estes meios remetem principalmente à prostituição feminina, não
necessariamente havendo formas semelhantes de se refletir sobre a travesti ou masculina. A nossa
proposta se baseará nos quatro modelos propostos por Marjan Wijers que fundamentam diferentes
regimes legais (WIJERS, 2004), com alterações, já que propomos três eixos centrais, unindo dois
dos apresentados por Wijers (abolicionista e proibicionista).
No proibicionista, é vista como delinquente, sendo penalizada, junto com as outras pessoas
que atuam no meio; no abolicionista como vítima a ser liberta e conscientizada, enquanto os demais
envolvidos devem ser penalizada; no regulamentarista como mal social, mas que não é possível de
ser erradicado, devendo ser controlada, protegendo a sociedade e assegurando a moral, a decência, a
saúde; no laboral como mulher trabalhadora, é o único que não visa a controlar e suprimir e que é
fruto de discussões com o movimento de prostitutas, o trabalho deve ser regulamentado por
legislação laboral e civil comuns (WIJERS, 2004). Para a autora, as percepções sobre a prostituta e
a prostituição determinam as formas de agir frente à atividade, dando origem a quatro regimes
legais. Consideramos que é a partir desta concepção que se tem da ocupação e das mulheres que a
executam que se criam formas de intervenção, políticas públicas, teorias, dentre outras.
No primeiro eixo teórico, o proibicionista/abolicionista, trazemos aquelas concepções que
fundamentam práticas que visam eliminar a prostituição, vista como forma de violência, submissão
feminina, exploração, crime. Este tipo de concepção fundamenta, no âmbito feminista, posturas
contra prostituição, pornografia ou tráfico (sem diferenciar este último da migração).
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O Brasil é considerado abolicionista, tendo assinado em 1951 o Tratado Abolicionista
Internacional, da ONU, e a legislação nacional entende como legal a prostituição, mas ilegais os
empreendimentos vinculados a esta e também o rufianismo (BRASIL, 2002). Há ações de controle
e de supressão e intervenções de caráter profilático e moralizador, como destaca Cristiana Pereira
(2005). No contexto nacional podemos observar traços abolicionistas na Pastoral da Mulher
Marginalizada (PMM) e na Marcha Mundial das Mulheres (MMM), grupos presentes no contexto
de Belo Horizonte. A Pastoral, fundamentada em visões cristãs, acredita que as prostitutas devem
ser resgatadas, trabalhando sua dignidade, associada a projetos de geração de renda, que, em última
instância retirar as mulheres da prostituição. A Marcha fundamenta numa visão de que a
prostituição é uma forma de mercantilização da sexualidade feminina. Há influências de noções
marxistas, com a ideia de que a sujeita deve ser conscientizada das formas de opressão a que está
submetida, que são fruto das relações de produção, e cujas origens são obscurecidas pela ideologia,
gerando naturalização (LANE, 2007). Nestes casos é constante o uso de termos como “venda do
corpo”, associado a noções de que ao vender o corpo, a prostituta perde autonomia sobre o mesmo,
que passa ao poder do homem, que a submete a seus desejos, vontades.
No segundo eixo, regulamentarista, encontramos visões que se associam à noção de que a
prostituição é um mal necessário, devendo ser controlada, higienizada para reduzir os seus males, o
que seria associado ao regime legal regulamentarista. Em termos de políticas públicas, esta visão
pode gerar práticas de cunho higienista e também cerceador. Nos países regulamentaristas, a
prostituição é uma atividade regulamentada, mas que inclui requisitos específicos para tal que
podem abranger registro em delegacia de polícia, exames médicos obrigatórios, dentre outros.
Uma consequência deste tipo de concepção é o foco na prostituição como questão de polícia
ou de saúde, por exemplo. No Brasil, a emergência da AIDS e as tentativas de controle da epidemia
levaram à criação de projetos, políticas públicas e a financiamentos para entidades que visassem
reduzir a incidência desta nesta população específica. Consequentemente, a prostituição, em termos
de políticas públicas, foi progressivamente reduzida a questões de saúde que muitas vezes nem
abarcam a saúde da mulher como um todo, mas apenas questões reprodutivas e sexuais. O
movimento de prostitutas no Brasil teve seu início em 1979, em São Paulo, e se consolidou em
grande medida a partir das políticas de enfrentamento à epidemia que tinham nas prostitutas um dos
focos de ação, percebidas inicialmente como grupo de risco. Foram desenvolvidos alguns projetos,
normalmente em parceria com Organizações Não Governamentais (ONG), como “Maria Sem
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Vergonha” e do “Projeto Sem Vergonha” que atingiam esse público alvo, todos eles vinculados à
prevenção, embora vários também adotassem uma perspectiva de organização política (BRASIL,
2002). Os projetos foram fundamentais para a organização da categoria e para o fortalecimento da
Rede Brasileira de Prostitutas (RBP) e de outras associações regionais, contudo, acabaram
mantendo uma visão da prostituta como transmissora de doença e da prostituição como uma questão
da saúde, o que hoje em dia ocasionou que a RBP evite obter financiamentos da área da saúde,
como forma de mudança da perspectiva para uma mais laboral. Em Belo Horizonte, uma integrante
da Coordenação de DST/Aids nos relatou que a prostituição tem efetivamente estado restrita ao
âmbito de suas ações.
No terceiro eixo, laboral, encontramos a visão da prostituta como uma trabalhadora, noção
esta profundamente influenciada pela emergência destas como sujeitos políticos, muitas vezes
organizadas em torno de um movimento, mais ou menos consolidado. Se acredita que as
explorações ocorridas são frutos do estigma e do isolamento, sendo necessário lutar por melhores
condições de trabalho (OSBORNE, 2002), já que a violência estaria associada ao caráter informal e
subterrâneo da atividade (KEMPADOO, 2005).
Uma das lutas do movimento de prostitutas é por dissociar estigma e prostituição ao
enfatizar a valorização da identidade profissional. O movimento de prostitutas no Brasil,
caracterizado em grande medida pela Rede Brasileira de Prostitutas e tendo como figura de
destaque Gabriela Leite, tem gerado alterações em visões das prostitutas como violentadas ou
oprimidas, que predominaram durante longo período. A luta principal da RBP é pela percepção da
prostituição como uma forma de trabalho e não como meio de escravidão ou submissão, ao invés de
discutir sobre as prostitutas, as inclui no debate relativo a qualquer tipo de política voltada ao
trabalho do sexo, por vezes questionando o poder do Estado para regular a sua atuação (WIJERS,
2004).
Destarte, afirma-se que há, como em qualquer trabalho, uma possibilidade de escolher
livremente atuar na prostituição, mesmo que esta liberdade seja influenciada por limites históricos e
sociais, como o gênero (JULIANO, 2004), mas também a raça, muitas vezes percebida como
categoria menos importante, como destaca Kimberlé Crenshaw (2002). Visando compreender a
forma como estas e outras categorias como a classe e a geração se interagem, propomos que se
pense nas mesmas de modo interseccional, sem hierarquiza-las e buscando refletir sobre diferença e
poder, mas também em termos de capacidade de agência dos sujeitos, que negociam
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constantemente seus posicionamentos (PISCITELLI, 2008). A liberdade depende da quantidade de
possibilidades, das facilidades e dificuldades de realização destas, da importância que tenham uma
em relação à outra nos planos de vida e em relação à identidade e momento, de até que ponto estão
abertas ou fechadas, do valor que a sociedade atribui a estas possibilidades (BERLIN, 1996).
Objetivamos neste artigo compreender como se dá a produção de conhecimento sobre
prostituição em Belo Horizonte a partir de análise das articulações entre pesquisa acadêmica,
projetos e estágios universitários e da relação estabelecida com prostitutas e seus grupos. Para tal,
recorreremos a coleta de dados realizada durante quase uma década de contato com o campo da
prostituição local, fruto de inserções diversas como estagiária, profissional, mestranda e doutoranda.
Ao longo deste período foram utilizados métodos como observação participante, entrevistas semiestruturadas, registro em diário de campo. Para o artigo, realizamos ainda pesquisa nos currículos
lattes das pesquisadoras e professoras que mais se destacam localmente, visando conhecer suas
formas de atuação, influências sofridas e que ocasionam sobre o campo, recuperando também os
currículos de alguns de seus orientandos. A pesquisa se encontra em etapa inicial e objetivamos ao
final produzir uma genealogia dos estudos e intervenções sobre prostituição na cidade de Belo
Horizonte.
Produzindo conhecimento sobre prostituição em Belo Horizonte
A produção de conhecimento sobre prostituição em Belo Horizonte, tem se dado a partir de
pesquisas, estágios e projetos universitários, projetos de pesquisa e intervenção de organizações não
governamentais, entidades religiosas e outros grupos e da relação com as prostitutas e suas
diferentes formas de organização social desenvolvidas ao longo dos anos. Localizamos também a
existência de uma separação das práticas nos eixos propostos acima, embora destaquemos que estes
não são estáticos e podem se sobrepor em alguns momentos.
No início das pesquisas sobre prostituição, anteriormente ao surgimento da Aids e das
tentativas de controle desta (muitas vezes realizado por parcerias entre poder público e sociedade
civil organizada) e também de grupos organizados de prostitutas, estas se davam muitas vezes pela
inserção de pesquisador@s no campo sem um contato prévio com alguma entidade, como foi o caso
de Renan Freitas (FREITAS, 1985). Com estas mudanças, temos observado que hoje a maioria de
pesquisador@s, estudantes, profissionais, busca algum grupo ou entidade já atuante ou ainda uma
pessoa de referência para facilitar seu contato com o campo. Há ainda pessoas que fazem parte de
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algum grupo ou entidade e eventualmente procuram a universidade para continuar sua formação na
área. Existem organizações não governamentais, entidades e grupos que se alinham mais a cada
uma das três perspectivas propostas acima e o contato com uma ou outra interfere sobremaneira na
perspectiva adotada e também n@s interlocutor@s com as quais se relacionarão. É frequente ainda
que se aborde, em diversas situações, as mesmas interlocutoras, por serem lideranças ou
frequentarem os diversos espaços existentes. Apesar disso, algumas delas dão depoimentos bastante
diferentes de acordo com o contexto ou com o local em que são abordadas. Uma mesma prostituta
pode dizer, na Pastoral, que se mantém no eixo abolicionista, que quer sair da prostituição,
enquanto na Associação, que está no eixo laboral, afirme gostar do seu trabalho e não querer mudar
de ocupação. Estas questões são comumente observadas por aquelas pessoas que tem contato de
longo período com o campo, mas muitas vezes faltam análises mais aprofundadas e pormenorizadas
sobre estas questões, o que justifica a necessidade do que propomos neste artigo.
A análise inicial dos currículos lattes foi enfocada em 14 currículos de pessoas que
pesquisam ou intervêm na área. Partimos do levantamento daquelas que se destacam por suas ações
como professor@s (coordenador@s de projetos, orientador@s, supervisor@s), produtor@s de
teses/dissertações ou profissionais do campo, a seguir localizando currículos de seus orientador@s e
discípul@s. Para definir quem eram estas pessoas de destaque, partimos do nosso próprio contato
com o campo, com interlocutores e com a bibliografia local sobre o tema. Mantivemos na análise
aqueles que possuem produção relevante para o campo, excluindo currículos de alun@s que
realizaram apenas um estágio ou iniciação científica na área, mas que não publicaram artigos ou
produziram monografias sobre o tema. Foram mantidos @s orientador@s que orientaram trabalhos
sobre o tema em âmbito de mestrado, doutorado, especialização, graduação. Na análise dos
currículos, buscamos levantar informações sobre a formação dos sujeitos e sua relação com o
universo da prostituição (textos, projetos, pesquisas, etc), dados que serão posteriormente
analisados em relação à produção sobre o tema e ao contexto político local.
As pessoas que tiveram seus currículos analisados possuem pelo menos o mestrado (4),
havendo apenas uma que ainda não o concluiu, há uma alta incidência de sujeitos que concluiram
até o pós-doutorado (4). Entre os analisados, 5 são professores da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), 3 da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG0, 1 da
Faculdade Pitágoras. 7 são formados em Psicologia, 4 em Ciências Sociais, 1 em Serviço Social, 1
em Biologia. Podemos destacar, em termos da formação, que a Psicologia tem sido um dos campos
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prioritários de atuação, o que pode ser relacionado à força da Psicologia Social e Comunitária na
UFMG. 4 não são formados pela UFMG, dos quais 3 são da Psicologia e 1 do Serviço Social. Os
mestrados foram em sua maioria em psicologia (5, dos quais 1 é em Psicologia Clínica), seguidos
por Sociologia/Ciências Sociais (4), Antropologia (1), Direito (1), Administração (1). 4 tiveram a
prostituição como tema de seu mestrado, dos quais 2 são hoje professores. Dos que fizeram
doutorado, 3 foram em Psicologia (incluindo 1 em clínica e 1 em social), 3 em Sociologia/Ciências
Sociais, 1 em História da Consciência, 1 em Demografia, 1 em Antropologia Social. 4 tiveram a
prostituição como tema, sendo 1 sobre travestis e transexuais e havendo apenas uma havia optado
por tal objeto também no mestrado, demonstrando não haver continuidade de tema na maioria dos
casos.
7 participaram ou coordenaram projetos de pesquisa sobre prostituição, dos quais 1 relativo
a travestis, 2 se envolveram em projetos de extensão com mesmo tema. Sabemos, pelo contato com
o campo, que alguns deles ofereceram ou supervisionaram estágios em locais de prostituição, mas
estes dados não são disponibilizados nos lattes dos mesmos. A grande maioria, 12 pessoas,
estiveram em algum momento vinculadas, formal ou informalmente, a ONG ou a associação que
atende a esta população, embora esta informação também não esteja presente em diversos
currículos. Observamos uma grande presença de informalidade neste campo, sendo que muitos
contatos são voluntários e não são registrados, o que dificulta o mapeamento das redes de relação.
Com base nestas informações, consideramos de suma importância ampliar a análise para os
documentos produzidos pelas entidades e grupos onde será possível localizar ações nestes âmbitos.
Podemos observar, a partir desta análise bastante inicial, que a produção do conhecimento
neste campo é marcada pela presença de autor@s de diferentes origens e abordagens e que possuem
os mais diversos tipos de relação com o campo (pesquisador@s, voluntários, profissionais,
militantes) e com @s demais autor@s. Para compreender as configurações da produção do
conhecimento sobre prostituição em Belo Horizonte, mapeando influências, relações, embates, se
torna fundamental completar a análise a partir da articulação entre outros currículos lattes e as
diversas produções no campo da prostituição, abarcando relatórios, teses, dissertações, monografias,
panfletos.
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